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ética da oab-Aula 3

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Aula 3 - Atividade advocatícia
O exercício da advocacia decorre de um contrato de mandato, um vínculo que confere poderes para que um profissional, devidamente habilitado na OAB, possa praticar atos ou administrar interesses em nome de seu constituinte, reforçada pelo art. 103 do CPC, segundo o qual a parte será representada em juízo, por advogado regularmente inscrito na OAB (art. 3º do EOAB).
Sabemos que a lei processual exige a capacidade postulatória e que o bacharel em Direito somente a adquire quando regularmente inscrito no quadro de advogados da OAB de sua Seccional. As suas obrigações resultam dessa relação jurídica que lhe confere poderes. Neste ponto, o artigo 5º do EOAB estabelece que “O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato”.
A prova deste contrato está na procuração. A procuração é um instrumento desse contrato de mandato em que são explicitados os poderes da representação.
O parágrafo 1º, do art. 5º do EOAB, estabelece uma exceção quando permite a atividade advocatícia sem procuração, em caso de urgência.
Neste caso, o prazo para apresentar o instrumento é de quinze dias, prorrogável por igual período. Observa-se que a declaração de urgência feita pelo advogado é dotada de presunção legal de veracidade (ver art. 104, § 1º do CPC).
Sobre este ponto, Gonzaga, Neves e Beijato Jr. (2016, p. 19) observam que:
Assim, o instrumento que o habilita postular em juízo é a procuração com cláusula ad judicia.
Esta cláusula o habilita a praticar todos os atos processuais previstos no art. 105, CPC, salvo aqueles mencionados, considerados como poderes especiais, tais como: receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir dentre outros (Procuração ad judicia et extra).
Art. 5º EOAB (...)
§ 1º - O advogado, afirmando urgência, pode atuar sem procuração, obrigando-se a apresentá-la no prazo de quinze dias, prorrogável por igual período.
§ 2º - A procuração para o foro em geral habilita o advogado a praticar todos os atos judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que exijam poderes especiais.
O contrato entre o cliente e o seu advogado difere dos demais mandatos regulados pela lei civil por causa de sua especificidade, encontra-se em lei especial, a lei 8.906/94
Princípio da informação
Neste ponto do EOAB precisamos combinar com o conteúdo do Código de Ética de 2015, no capítulo que trata das relações com o cliente. E o primeiro artigo que inaugura este capítulo é o art. 9° do CED em que se observa a regra do princípio da informação segundo o qual o advogado tem o dever de informar o cliente, de modo claro e inequívoco, os eventuais riscos da sua pretensão, e das consequências que poderão advir da demanda.
Acrescenta a regra que deve, também, esclarecer, desde logo, a quem lhe solicite parecer ou patrocínio, qualquer circunstância que possa influir na resolução de submeter-lhe a consulta ou confiar-lhe a causa. Vejamos o referido artigo:
Art. 9º CED. O advogado deve informar o cliente, de modo claro e inequívoco, quanto a eventuais riscos da sua pretensão, e das consequências que poderão advir da demanda. Deve, igualmente, denunciar, desde logo, a quem lhe solicite parecer ou patrocínio, qualquer circunstância que possa influir na resolução de submeter-lhe a consulta ou confiar-lhe a causa.
Sobre este dever pode-se destacar que o advogado que ocultar informações com a finalidade de “iludir” ou “seduzir” o cliente poderá sofrer processo ético disciplinar (GONZAGA; NEVES; BEIJATO Jr., 2016, p. 264).
Princípio da lealdade
Outra regra importante é a expressa no art. 10 do CED em que o se observa que a relação entre advogado e cliente é uma relação e fidúcia e maculada essa confiança recíproca há a possibilidade de rompimento através da figura da renúncia, revogação ou substabelecimento sem reservas de poderes, conforme veremos mais adiante.
Vejamos o referido artigo:
Art. 10 CED. As relações entre advogado e cliente baseiam-se na confiança recíproca. Sentindo o advogado que essa confiança lhe falta, é recomendável que externe ao cliente sua impressão e, não se dissipando as dúvidas existentes, promova, em seguida, o substabelecimento do mandato ou a ele renuncie.
Princípio da independência
No exercício do mandato conferido em procuração, o advogado atua como patrono da parte, seu cliente, e, nesse mister, deve imprimir à causa orientação que lhe pareça mais adequada, sem se subordinar a intenções contrárias do cliente, mas, antes, procurando esclarecê-lo quanto à estratégia traçada.
Por quê?
Porque possui o conhecimento da ciência e a consciência do melhor caminho. Essa recomendação está expressa no art. 11 do CED.
Acrescente-se a importância do princípio da informação porque inexistindo subordinação numa relação de fidúcia, é importante esclarecer as estratégias para atender os interesses do cliente.
Vejamos o referido artigo:
Art. 11 CED. O advogado, no exercício do mandato, atua como patrono da parte, cumprindo-lhe, por isso, imprimir à causa orientação que lhe pareça mais adequada, sem se subordinar a intenções contrárias do cliente, mas, antes, procurando esclarecê-lo quanto à estratégia traçada.
Ainda nesse sentido, o art. 24 do CED reforça a tese da independência técnica quando observa que o advogado não se sujeita à imposição do cliente que pretenda ver com ele atuando outros advogados, nem fica na contingência de aceitar a indicação de outro profissional para com ele trabalhar no processo.
Vejamos o referido artigo:
Art. 24 CED. O advogado não se sujeita à imposição do cliente que pretenda ver com ele atuando outros advogados, nem fica na contingência de aceitar a indicação de outro profissional para com ele trabalhar no processo.
Prestação de contas
O dever de prestação de contas expresso no art. 12 do CED que assevera:
A conclusão ou desistência da causa, tenha havido, ou não, extinção do mandato, obriga o advogado a devolver ao cliente bens, valores e documentos que lhe hajam sido confiados e ainda estejam em seu poder, bem como a prestar-lhe contas, pormenorizadamente, sem prejuízo de esclarecimentos complementares que se mostrem pertinentes e necessários. Parágrafo único. A parcela dos honorários paga pelos serviços até então prestados não se inclui entre os valores a ser devolvidos.
A prestação de contas é um dever e direito do advogado, sob pena de ação de exigir contas, na forma do art. 550 a 553, do CPC, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, prevista no art. 34, inciso XXI do EOAB.
Se a prestação do serviço advocatício chegou ao fim, deve-se restituir os documentos, prestar contas de eventuais valores recebidos em seu nome, despesas realizadas no curso do processo, sem prejuízo de outros esclarecimentos. Vejamos algumas decisões do Conselho Federal da OAB:
RECURSO N. 49.0000.2016.004652-2/SCATTU. (...) Recurso ao Conselho Federal. Locupletamento e ausência injustificada de prestação de contas. Levantamento de alvará e retenção indevida dos valores devidos ao cliente. A prestação de contas é obrigação legal imposta ao advogado, que somente se aperfeiçoa com a efetiva entrega dos valores devidos ao cliente, não sendo suficiente a mera apresentação de cálculos. Para sua configuração, desnecessária qualquer manifestação prévia do cliente, pois decorre de obrigação legal imposta ao profissional, que tem o dever de tomar a iniciativa de prestar as contas ao seu cliente. Recurso parcialmente provido, apenas para excluir da condenação a multa acessoriamente cominada. Brasília, 29 de agosto de 2016. Renato da Costa Figueira, Presidente em exercício e Relator para o acórdão. (DOU, S.1, 05.09.2016, p. 120).
A extinção do mandato
A extinção do mandato ocorre com o término da prestação do serviço conforme estabelece o art. 13 do CED:
“Concluída a causa ou arquivado o processo, presume-se cumprido e extinto o mandato”.
Este artigo deve ser lido com o art. 18 do CED que observa que o mandato não se extingue pelo decurso de tempo, salvo se expresso no instrumento de mandato.Esta questão é importante porque a OAB em exames antigos indagava com frequência se a procuração, comoinstrumento do mandato, teria prazo de validade. Assim, podemos responder com tranquilidade que não, sua vigência está vinculada à presunção do art. 13, salvo situação de renúncia, revogação ou substabelecimento sem reservas de poderes.
ATENÇÃO
Ocorre que este artigo deve estar relacionado, também, ao sentido do art. 14 do CED porque em certas ocasiões o advogado poderá receber convites de potenciais clientes para assumir uma causa que já tem, em verdade, patrono constituído nos autos. Esse tipo de convite deve ser analisado com muita cautela. É possível verificar situações em que a parte confunde a demora no andamento processual com a desídia de seu patrono e, por desconhecer as regras deontológicas da advocacia, procura novo patrono sem, no entanto, dar ciência de sua insatisfação e desejo de romper o contrato com o patrono constituído.
Recomenda-se que o advogado verifique e converse com o patrono constituído nos autos antes de qualquer ato, salvo se estiver diante de medidas reputadas inadiáveis e urgentes. Há o princípio do coleguismo e solidariedade reforçado no art. 14 do CED em que se lê: “O advogado não deve aceitar procuração de quem já tenha patrono constituído, sem prévio conhecimento deste, salvo por motivo plenamente justificável ou para adoção de medidas judiciais urgentes e inadiáveis”.
Os dois artigos do CED são importantes porque fazem parte do cotidiano do mandato advocatício e aceitar a procuração de quem já tenha patrono constituído, sem a ciência deste, sem ser uma situação excepcional para medidas urgentes, poderá ensejar infração ético disciplinar.
Gonzaga, Neves e Beijato Jr. (2016, p. 271) fazem uma observação importante, a esse respeito:
O art. 13 determina que o advogado não aceite procuração de quem já tenha advogado constituído, sem lhe dar ciência prévia. Caso, contudo, estejamos já diante de causa concluída ou de processo arquivado, por se presumir extinto o mandato, nos termos do art. 12, não será necessário dar ciência prévia ao advogado anteriormente constituído.
Os princípios da fidelidade e diligência
O art. 15 do CED observa que o advogado não deve deixar ao abandono ou ao desamparo as causas sob seu patrocínio, sendo recomendável que, em face de dificuldades insuperáveis ou inércia do cliente quanto a providências que lhe tenham sido solicitadas, renuncie ao mandato.
A bem da verdade, mais uma vez, não podemos confundir a desídia do advogado com a demora no trâmite processual. Para configurar a desídia deverá existir a situação de abandono sem justo motivo.
Conforme prelecionam Gonzaga, Neves e Beijato Jr. (2016) o justo motivo poderia ser motivo de saúde do advogado.
Vejamos este julgado do Conselho Federal em que se observa uma hipótese de abandono na qual o advogado deixou o feito, sem comunicar o fato ao cliente em flagrante descaso:
RECURSO N. 49.0000.2013.008382-9/OEP. (...) não há nos autos documentos enviados aos seus clientes ou ao procurador destes noticiando a renúncia. Ciência da desistência do patrono por meio de intimação do juízo, após um ano e três meses do seu protocolo no Judiciário. Abandono de causa caracterizado tanto pela ausência de notificação como pelo período em que o processo ficou paralisado. Brasília, 30 de novembro de 2015. Claudio Pacheco Prates Lamachia, Presidente. Pedro Paulo Guerra de Medeiros, Relator ad hoc. (DOU, S.1, 11.12.2015, p. 202-203)
É importante acrescentar a conduta do advogado que muda de endereço inviabilizando contado do constituinte e deixa o cliente em desamparo, sem realizar ato algum processual. Esta situação difere daquele que por esquecimento não informa o novo endereço, mas continua diligente realizando atos necessários para o andamento processual.
A conduta ilibada e sigilo profissional
Os princípios da conduta ilibada e do sigilo profissional expressos no art. 21 e 22 do CED observam a hipótese de sigilo profissional ao postular em nome de terceiros, contra ex-cliente ou ex-empregador. Bem como abster-se de patrocinar causa contrária à validade ou legitimidade de ato jurídico em cuja formação haja colaborado ou intervindo de qualquer maneira e situações similares.
O que se observa é a situação de o advogado utilizar informações recebidas em razão da profissão contra o próprio ex-cliente. Não há consenso sobre o prazo mínimo entre a extinção do mandato e a possibilidade de advogar contra ex-cliente, em algumas Seccionais encontramos a sugestão de prazo de dois anos.
Sobre o art. 22 do CED, Gonzaga, Neves e Beijato Jr. (2016, p. 284) oferecem uma lúcida observação:
O advogado que atua para a constituição de determinado ato jurídico não pode, após constituído o ato, impugnar-lhe a validade ou legitimidade, uma vez que tal ato iria de encontro a sua atuação anterior, violando o próprio sigilo da relação mantida anteriormente. (...) é dever do advogado revelar tais circunstâncias ao ser procurado, declinando seu impedimento ético, portanto.
Advogado ou Preposto
Existe a expressa proibição que o advogado funcione, no mesmo processo, ao mesmo tempo, como patrono e preposto do empregador ou cliente, conforme estabelece o art. 25 do CED, porque são duas figuras diferentes: “o preposto é o sujeito nomeado para representar outro em juízo, ao passo que o advogado representa tecnicamente seu cliente, exercendo sua capacidade postulatória”
(GONZAGA; NEVES; BEIJATO Jr., 2016, p. 287).
Conflito de interesses
O art. 19 do CED observa um princípio ético importante segundo o qual é vedada ao advogado ou sociedade de advogados a representação de clientes com interesses opostos.
O presente dispositivo poderá ser analisado em conjunto com a norma expressa no art. 355, parágrafo único do Código Penal, em que se observa o crime de tergiversação ou patrocínio simultâneo.
Acrescente-se que sociedade de advogados ou escritório de advocacia, não pode estar, simultaneamente, no polo passivo e ativo, numa mesma causa judicial.
Com base neste princípio ético, o art. 20 do CED assevera que nas hipóteses de conflitos de interesse entre constituintes e não conseguindo o advogado harmonizá-los, caber-lhe-á optar, com prudência e discrição, por um dos mandatos, renunciando aos demais, resguardado sempre o sigilo profissional. Essa poderá ser a hipótese de litisconsórcio ou a hipótese de divórcio consensual, por exemplo. Se não há mais concordância entre os constituintes deve-se optar um por um deles.
Não há causa criminal indigna de defesa
O art. 23 do CED estabelece que:
“É direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem considerar sua própria opinião sobre a culpa do acusado”.
E no seu parágrafo único: “Não há causa criminal indigna de defesa, cumprindo ao advogado agir, como defensor, no sentido de que a todos seja concedido tratamento condizente com a dignidade da pessoa humana, sob a égide das garantias constitucionais”.
No Estado Democrático de Direito, todos possuem o direito à ampla defesa e ao contraditório, uma garantia constitucional. A advocacia tem, por conseguinte, papel fundamental na defesa dos direitos fundamentais, direitos humanos, pugnar pelo cumprimento da Constituição, por isso não há causa criminal indigna de defesa.
Da Renúncia ou Revogação do Mandato
Art. 5º, EOAB
§ 3º - O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for substituído antes do término desse prazo.
O cliente ou advogado podem encerrar o contrato de mandato a qualquer tempo. Para tanto, temos a figura da revogação ou renúncia, ou ainda o advogado pode substabelecer sem reservas de poderes a outro advogado, desde que haja prévio consentimento do cliente.
O que temos que respeitar é a recomendação da OAB no sentido de que o advogado não deve abandonar a causa ou desamparar seu cliente (art. 15, CED) e que em qualquer caso, seja renúncia, seja revogação, a outra parte deverá ser cientificada.
A renúncia porparte do Advogado é um ato unilateral e implica omissão do motivo (art.16 do CED). Trata-se de uma das formas de extinção do mandato. Por conseguinte, o advogado renunciante deverá cientificar seu cliente para que constitua outro profissional no prazo de 10 dias. Observa-se que o advogado deve comprovar haver cientificado o seu cliente, uma vez que o termo inicial para a contagem do prazo de 10 dias, em que continua a representá-lo, se conta a partir da data da notificação. Nesse sentido, deverá notificar seu cliente, preferencialmente, por meio de carta com aviso de recebimento e, em seguida, comunicar o juízo (art. 6° RGOAB e art. 112, CPC).
A revogação tácita é aquela que ocorre quando há simples outorga de nova procuração sem ressalvar a procuração anterior. Postura que deve ser evitada. Sabemos que nessa hipótese o cliente será orientado por novo advogado que, por sua vez, deverá observar a recomendação ética de não aceitar procuração de quem já tenha patrono constituído nos autos.
O novo patrono deverá esclarecer ao cliente potencial que este deverá, em primeiro lugar, revogar a procuração anterior dando plena ciência ao advogado da sua intenção e ajustar honorários proporcionais pelos serviços prestados até a data da revogação. A parte ficará obrigada a comunicar a revogação ao antigo mandatário, conforme estabelece o art. 111, CPC.
Neste ponto, observar Gonzaga, Neves e Beijato Jr. (2016, p. 275): “ao renunciar ao mandato, deve o advogado comunicar formalmente ao seu cliente, a fim de que este possa constituir outro causídico. Caso não comunique, o advogado permanecerá responsável pelo feito”.
Poderá ocorrer a contratação de novo patrono antes de findar o prazo de 10 dias, nesta hipótese o advogado renunciante ficará liberado antecipadamente. O cliente poderá optar por revogar o mandato conferido em procuração, com omissão de motivo. Há a possibilidade de revogação voluntária do mandato, podendo ser tácita ou expressa.
Ressalte-se que revogação por vontade do cliente ou renúncia por parte do advogado não desobriga o pagamento dos honorários devidos até o momento da prestação dos serviços advocatícios, ou seja, proporcionais ao trabalho realizado, inclusive os honorários de sucumbência calculados na proporção da efetiva atuação do advogado (art. 17, CED).
Do substabelecimento com ou sem reservas de poderes
O Código de Ética e Disciplina de 2015 esclarece em seu art. 24 que o advogado não é obrigado a aceitar a indicação de outro advogado para atuar com ele no processo. Assim, além da renúncia temos a possibilidade de substabelecer com ou sem reservas de poderes a outro advogado.
Dois tipos de substabelecimento diferentes. Vamos conhecê-los:
O primeiro tipo é o substabelecimento com reservas de poderes em que o advogado que está na procuração outorgada, transfere alguns poderes se reservando a condição de patrono do cliente. Trata-se de ato pessoal do advogado e não exigirá o conhecimento do seu cliente, uma vez que o advogado permanece como patrono da causa (art. 26, caput do CED). Recomenda-se nesta hipótese ajustar os honorários, pois somente o advogado substabelecente poderá levantar os honorários (art. 26, § 2° do CED). Por que um advogado substabelece com reservas de poderes? Porque precisa da colaboração de outro colega para atuar na causa, precisa ainda da colaboração do estagiário na forma do art. 29, § 1º do RGOAB.
O segundo tipo de substabelecimento é o substabelecimento sem reservas de poderes. Este tipo romperá o contrato de mandato e deve ser feito com a devida cautela, pois o advogado está obrigado a cientificar previamente o seu cliente. Por quê? Porque quando substabelece sem reservas de poderes está transferindo todos os poderes recebidos em procuração para outro advogado, imediatamente e, se a relação é de fidúcia, só poderá fazê-lo se autorizado pelo cliente.
Ressalte-se, por fim, que o advogado que respeita as regras deontológicas estabelecidas pela OAB não aceita procuração de quem já tenha patrono constituído, sem o prévio conhecimento do colega de profissão.
Na eventual hipótese de ser procurado para patrocinar causa em que já exista patrono constituído, deve-se em primeiro lugar examinar os autos, em seguida procurar o advogado para saber se renunciará ou se prefere substabelecer sem reservas. Jamais atravesse uma procuração antes da renúncia ou substabelecimento sem reservas do advogado da causa (art. 14, CED).
Advocacia Pública
O EOAB estabelece que os inscritos na OAB são denominados advogados e possuem capacidade postulatória (Art.3º, EOAB). Nesse sentido, como Lei em sentido formal e material, estabelece que exercem a atividade de advocacia os integrantes da Advocacia Geral da União, Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e fundacional (Art.3º, §1º, EOAB).
O RGOAB observa, também, que os advogados públicos são elegíveis e podem integrar qualquer órgão da OAB (art. 9º, RGOAB). Como inscritos sujeitam-se ao regime do EOAB, RGOAB, CED, inclusive quanto às sanções disciplinares como os advogados privados, sem prejuízo do regime próprio a que se subordinem (art. 10, RGOAB).
Provimentos do CFOAB n° 114/2006
O Provimento 114/2006 dispõe sobre a Advocacia Pública. O relator foi o Conselheiro Federal da OAB representante do Piauí, Nelson Nery Costa e resulta dos estudos implementados por uma comissão criada na OAB — Comissão Especial da Advocacia Pública (Fonte: Associação Nacional dos Procuradores Municipais – ANPM). Assim, após a leitura do art. 3º, § 1º EOAB devemos analisar o Prov. 114/2006 com as regras específicas para a carreira.
No art. 1º, do Provimento 114/2006, encontramos a definição para “advogado público”. A OAB estabelece que “A advocacia [pública] é exercida por advogado inscrito na OAB, que ocupe cargo ou emprego público ou de direção de órgão jurídico público, em atividades de representação judicial, de consultoria ou de orientação judicial e defesa dos necessitados”.
Carreiras da advocacia pública
O art. 2º, Prov. 114/2006, apresenta o rol das carreiras da advocacia pública e devemos combinar este artigo com os seguintes artigos 131, 132 e 134 da CRFB/1988, bem como o art. 75 do CPC. Assim, podemos afirmar que exercem a advocacia:
Inscrição na OAB
O advogado público deve ter inscrição principal perante o Conselho Seccional da OAB em cujo território tenha lotação (art. 3º Prov. 114/2006). Se o for transferido para o território de outra Seccional, ficará dispensado do pagamento da inscrição no território da nova Seccional, desde que já tenha efetuado o pagamento da anuidade na Seccional primitiva (art. 3º, parágrafo único, Prov. 114/2006).
A aprovação em concurso para cargo da advocacia pública não afasta a obrigatoriedade de aprovação em exame de ordem (art. 4º do Prov. 114/2006). Ocorre que o advogado público deve ter inscrição principal perante o Conselho Seccional da OAB em cujo território tenha lotação ou domicílio.
Independência técnica do advogado público
É dever do advogado público a independência técnica, exercendo as atividades de acordo com suas convicções profissionais e em estrita observância aos princípios constitucionais da administração pública (art. 5º, Prov. 114/2006), a saber: 
O novo Código de Ética e Disciplina da OAB de 2015 inovou ao trazer um capítulo específico para a advocacia pública e, nesse sentido, no capítulo II, encontramos o art. 8º que estabelece a obrigatoriedade de cumprimento dos preceitos éticos estabelecidas pela OAB, reforça a independência técnica e destaca o dever de urbanidade.
Assim, vejamos o dispositivo em comento:Art. 8º, CED. As disposições deste Código obrigam igualmente os órgãos de advocacia pública, e advogados públicos, incluindo aqueles que ocupem posição de chefia e direção jurídica.
§ 1º O advogado público exercerá suas funções com independência técnica, contribuindo para a solução ou redução de litigiosidade,sempre que possível.
§ 2º O advogado público, inclusive o que exerce cargo de chefia ou direção jurídica, observará nas relações com os colegas, autoridades, servidores e o público em geral, o dever de urbanidade, tratando a todos com respeito e consideração, ao mesmo tempo em que preservará suas prerrogativas e o direito de receber igual tratamento das pessoas com as quais se relacione.
Impedimento para advogar
Os advogados públicos advogam na categoria de advogados impedidos, ou seja, advogam com restrição, na forma do art. 30, I, EOAB. Todos são advogados, inscritos, também, na OAB, mas em razão do exercício da advocacia pública há uma diminuição da amplitude do exercício. Essa restrição cessará com a aposentadoria (art. 7° do Prov. 114/2006).
Temos a restrição geral prevista no art. 30, inciso I, do EOAB, mas não impede que a instituição estabeleça restrição ainda maior como é o caso da AGU e da Defensoria Pública, por exemplo, em que o advogado não poderá advogar privadamente.
O advogado estrangeiro ou brasileiro formado no exterior, exceto o português, não poderá atuar no procuratório nacional em nenhuma hipótese. Atuará apenas como consultor em Direito de seu país de origem. É o que estabelece o art. 1° do Prov. 91/2000 que dispõe sobre a atividade de consultores e sociedades de consultores em direito estrangeiro no Brasil.
Art. 1º. O estrangeiro profissional em direito, regularmente admitido em seu país a exercer a advocacia, somente poderá prestar tais serviços no Brasil após autorizado pela Ordem dos Advogados do Brasil, na forma deste Provimento.
§ 1º. A autorização da Ordem dos Advogados do Brasil, sempre concedida a título precário, ensejará exclusivamente a prática de consultoria no direito estrangeiro correspondente ao país ou estado de origem do profissional interessado, vedados expressamente, mesmo com o concurso de advogados ou sociedades de advogados nacionais, regularmente inscritos ou registrados na OAB:
I - o exercício do procuratório judicial;
II - a consultoria ou assessoria em direito brasileiro.
O referido art. 1° em seu parágrafo 2° estabelece também que a sociedade de advogados e os consultores estrangeiros não podem aceitar procuração, ainda que a mesma seja restrita para fins de substabelecimento de poderes.
§ 2º. As sociedades de consultores e os consultores em direito estrangeiro não poderão aceitar procuração, ainda quando restrita ao poder de substabelecer a outro advogado.
Em razão desta restrição, o advogado ou sociedade estrangeira precisará solicitar sua inscrição nos quadros da OAB, no local em que pretende exercer atividade na categoria de consultor em direito estrangeiro de seu país de origem, cumprindo requisitos estabelecidos no art. 2° do provimento 91/2000, a saber:
Deferida a autorização, o advogado estrangeiro poderá fazer sua inscrição na OAB e prestará o compromisso na forma do art. 2°, § 3° do Provimento 91/2000.
A sociedade de advogados estrangeiros seguirá mesma restrição com a aprovação e arquivamento dos atos constitutivos na sede da Seccional em cujo território for escolhido para sede social da sociedade. Somente será integrada por advogados estrangeiros já habilitados na OAB na qualidade de consultores e sua razão social deverá usar obrigatoriamente a expressão “Consultores em Direito estrangeiro” (art. 3° e art. 4° do prov. 91/2000).
Fonte: Franck Boston / Shutterstock
Advogados portugueses
O advogado de nacionalidade portuguesa, em situação regular,
Assim, observará os requisitos do Art. 8º, do EOAB, com a dispensa do Exame de Ordem porque já o fez em Portugal — Exame Final de Avaliação e Agregação — art. 192, EOAP. É importante observar, também, que um advogado português, se desejar, poderá atuar comoconsultor em direito estrangeiro na forma do prov. 91/2000.

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