Buscar

MONTENEGRO ARTIGO UECE 2014

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Reitor 
José Jackson Coelho Sampaio 
 
Diretora do Centro de Humanidades 
Letícia Adriana Pires Ferreira dos Santos 
 
Vice-Diretor do Centro de Humanidades 
Eduardo Jorge Oliveira Triandópolis 
 
Coordenador do Curso de Filosofia 
Eduardo Nobre Braga 
 
Vice-Coordenador do Curso de Filosofia 
Ruy de Carvalho Rodrigues Júnior 
 
 
 
 
III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS: 
Ressonâncias contemporâneas de Michel Foucault 
 
Comissão de Organização 
Cristiane Maria Marinho (UECE); Kácia Natalia de Barros 
(UECE); Roberta Liana Damasceno (UFC); Raquel Rocha 
(UECE); Osmar Melo (UECE); Nathanael Barbosa 
(UECE); Emilson Lopes (UECE); Kácia Natalia de Barros 
(UECE); Jamilly Fonseca (UFC); Tainan Garcia (UECE); 
Rafaella Nunes (UECE); Anna Maria Pontes (SEDUC/CE); 
Elias Alex Pereira de Sousa (UECE); Paulo Victor 
Fernandes (UNIFOR); Raquel Vasconcelos (UFC); 
Dorgival Fernandes (UFCG). 
 
Comissão Científica 
Cristiane Maria Marinho (UECE); Diany Mary Falcão 
(UECE); Dorgival Fernandes (UFCG); Elias F. Veras 
(UFSC); Raquel Vasconcelos (UFC); Roberta Liana 
Damasceno (UFC); Ursino Neto (UFC); Ivan Melo 
(UNILAB). 
 
Caderno de Programação 
Anna Maria Pontes (SEDUC/CE); Elias Alex Pereira de 
Sousa (UECE); Paulo Victor Fernandes (UNIFOR). 
 
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO p. 08
ALGUMAS RESSONÂNCIAS DAS REFLEXÕES DE FOUCAULT NOS ES-
TUDOS PÓS-COLONIAIS p. 09 
Alessandra Estevam da Silva
Universidade Federal do Ceará 
A COMPLEXIDADE DA CULTURA DE SI p. 22
Hedgar Lopes Castro
Universidade Estadual do Ceará
A NOÇÃO DE MODERNIDADE NA OBRA AS PALAVRAS E AS COISAS DE 
MICHEL FOUCAULT p. 38
Hipácia Rocha Lima 
Universidade Estadual do Ceará
A FACE FEMININA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: ESPAÇOS E 
VIVÊNCIAS p. 54 
Régia Maria Prado Pinto
Universidade Estadual do Ceará
A DIMENSÃO POLÍTICA DO ÉTHOS PARRHESIÁSTICO p. 66
Rogério Luis da Rocha Seixas 
Universidade de Barra Mansa
A RELAÇÃO CORPO-ALMA COMO FORMAÇÃO HUMANA: UM PARA-
LELO ENTRE SPINOZA E FOUCAULT p. 80
Carlos Wagner Benevides Gome
Universidade Estadual do Ceará 
A TEORIA HUMEANA A LUZ DA EPISTÉMÊ CLÁSSICA DE MICHEL FOU-
CAULT p. 92 
Eliene Cristina P. Fernandes 
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
Marcos de Camargo Von Zuben
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
AS RELAÇÕES DE PODER NO PENSAMENTO DE MICHEL FOUCAULT 
p. 103 
Janine Honorato de Aquino
Universidade Estadual do Ceará
O CONTROLE E A DISCIPLINA DOS CORPOS: UM DIÁLOGO ENTRE 
FOUCAULT E DELEUZE p. 113
Assis Daniel Gomes
Universidade Federal do Ceará
 
SUMÁRIO
“DE OUTROS ESPAÇOS”: O LUGAR DA HETEROTOPIA p. 126
Raquel Bernardes Campos
Universidade de Brasília
CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO DE MICHEL FOUCAULT PARA OS 
ESTUDOS QUEEER p. 131
Francisco Valberdan Pinheiro Montenegro
Universidade Federal do Ceará
Pablo Severiano Benevides
Universidade Federal do Ceará
Heloísa Oliveira do Nascimento
Universidade Federal do Ceará
MICHEL FOUCAULT: UM PENSAMENTO QUE AGE p. 145
Emanuel Santos Sasso
Universidade Estadual do Ceará 
É O VALE QUE DIZ O CURSO OU SÃO OS DISCURSOS QUE DIZEM O 
(QUE) VALE? A IDENTIDADE DA ILHA-PÁTRIA (LIMOEIRO DO NORTE) E 
OS RI(S)OS DE FOUCAULT p. 156
José Wellington de Oliveira Machado
Universidade Federal do Ceará
GENEALOGIA, HISTÓRIA, DISCURSO: CONTRIBUIÇÕES DE FOUCAULT 
PARA UM PROJETO CRÍTICO DA CULTURA p. 174
Karliane Macedo Nunes
FORMAÇÃO DISCENTE-DOCENTE E O CUIDADO DE SI: APRENDIZA-
GENS EM PESQUISA p. 182
Késsia Fayne Barbosa Cavalcante
 
Marconildo Soares e Silva
 
Dorgival Gonçalves Fernandes
Universidade de Campina Grande
FOUCAULT, A PARRESIA E O USO CORAJOSO DA PALAVRA p. 189
Luiz Celso Pinho
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 
O CORPO E SUA RELAÇÃO DE PODER NO UNIVERSO DA CAPOEIRA 
p. 201 
José Olímpio Ferreira Neto
Universidade de Fortaleza
Francisco Montenegro
Destacar
SUMÁRIO
O PROBLEMA DO CORPO EM BENEDICTUS DE SPINOZA E MICHEL 
FOUCAULT NAS OBRAS ÉTICA E VIGIAR E PUNIR p. 213
Adriele da Costa Silva
Universidade Estadual do Ceará
Henrique Lima da Silva
Universidade Estadual do Ceará
PRÁTICAS EDUCATIVAS COM AS JUVENTUDES ESCOLARES SOBRE 
SEXUALIDADES: PROBLEMATIZANDO O CUIDADO DO ENFERMEIRO 
NOS ESPAÇOS VIRTUAIS p. 222 
Raimundo Augusto Martins Torres
Universidade Estadual do Ceará
Gislene Holanda de Freitas
Universidade Estadual do Ceará
Samuel Ramalho Torres Maia
Universidade Estadual do Ceará
Sayonara Oliveira Teixeira 
Universidade Estadual do Ceará
REFERÊNCIAS AO TEMPO NA VIDA HUMANA EM KANT E FOUCAULT 
p. 235
Maria Veralúcia Pessôa Porto
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
Iraquitan de Oliveira Caminha
Universidade Federal da Paraíba
A SERPENTE BESLICOU O FALO DE ADÃO: SILÊNCIO, DISCIPLINA E OS 
ORGASMOS DOS CORPOS p. 246
Assis Daniel Gomes
Universidade Federal do Ceará
UM OLHAR FOUCAULTIANO SOBRE A LITERATURA DE AUTOAJUDA: 
RELAÇÕES DE PODER E AGENCIAMENTO DE SUBJETIVIDADES 
p. 260
Geilson Fernandes de Oliveira
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
Marcília Luzia Gomes da Costa Mendes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SERVIDÃO E PODER: O PROBLEMA DO CORPO EM BENEDICTUS DE 
SPINOZA E MICHEL FOUCAULT NAS OBRAS ÉTICA E VIGIAR E PUNIR 
p. 274
Henrique Lima da Silva 
Universidade Estadual do Ceará
Adriele da Costa Silva 
Universidade Estadual do Ceará
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 131 
CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO DE MICHEL FOUCAULT 
PARA OS ESTUDOS QUEEER 
Francisco Valberdan Pinheiro Montenegro
*
 
Universidade Federal do Ceará 
danmont@ymail.com 
 
Pablo Severiano Benevides
**
 
Universidade Federal do Ceará 
pablo_severiano@yahoo.com 
 
Heloísa Oliveira do Nascimento
***
 
Universidade Federal do Ceará 
helooliveira@gmail.com 
 
 
No pensamento contemporâneo referente às questões de gênero uma dada 
vertente tem ganhado cada vez mais espaço, aqui a chamaremos de EstudosQueer. A 
palavra queer (de origem norte americana), conforme Louro (2004), constitui-se na 
expressão pejorativa com que são denominados os sujeitos de sexualidades periféricas, 
além de servir para indicar o que é incomum ou bizarro. Sendo assim, o queer possui 
um histórico de abjeção. 
Esse termo, nas palavras de Louro (2004), com toda a sua carga de estranheza e 
de deboche, é assumido por uma vertente dos movimentos homossexuais para 
caracterizar uma perspectiva de oposição e contestação. Tendo como alvo tanto a 
heteronomatividade quanto o movimento homossexual ou LGBT hegemônico. Nesse 
sentido, o queer representa a diferença que não que ser assimilada. Constitui-se como 
um empreendimento intelectual pós-identitário uma vez que, em suas formulações o 
foco sai da identidade para a cultura (LOURO 2004). 
 
*
Cursa psicologia na UFC e é bolsista do PET. danmont@ymail.com 
**
Doutor em educação pela UFC e professor do mestrado em psicologia da UFC. 
pablo_severiano@yahoo.com 
***
Cursa psicologia na UFC e é bolsista de iniciação científica pela FUNCAP. helooliveira@gmail.com 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 132 
No âmbito da teoria o queer pode ser entendido como “uma coleção de 
compromissos intelectuais com as relações entre sexo, gênero e desejo sexual” 
(SPARGO, 2006, p. 8). Relação que tem sido problematizada por autor@s como Butler 
(2014); Preciado (2011); Sedgwick (2007); Miskolci (2007); Louro (2001) e 
Halberstam (2012). Sobre a apropriação da palavra queer por este pensamento 
Miskolci, textualmente, nos diz que: 
A escolha do termo queer para se autodenominar, ou seja, um xingamento 
que denotava anormalidade, perversão e desvio, servia para destacar o 
compromisso em desenvolver uma analítica da normalização que, naquele 
momento, era focada n sexualidade. Foi em uma conferência na Califórnia, 
em fevereiro de 1990, que Teresa de Laurentis empregou a denominação 
Queer Theory para contrastar o empreendimento queer com os estudos gays e 
lésbicos (2009, p. 151-152). 
Apesar de se encontrar acompanhado do termo teoria em grande parte dos 
estudos alinhados com o “modo queer de pensar” (SILVA, 2005, p. 107) e na maioria 
das referências aqui citadas o queer – ao contrário do que sugere a palavra teoria – não 
se configura como um mapa conceitual homogêneo e unitário, por essa razão optamos 
por denominar este campo de “Estudos Queer”. Sobre a polissemia e influências das 
produções queer diz Seidman (1995, p. 125 apud LOURO, 2004, p. 39): 
Os/as teóricos/as queer constituem um agrupamento diverso que mostra 
importantes desacordos e divergências. Não obstante, eles/elas compartilham 
alguns compromissos amplos – em particular, apóiam-se fortemente na teoria 
pós-esturuturalista francesa e na desconstrução como um método de crítica 
literária e social; põem em ação, de forma decisiva, categorias e perspectivas 
psicanalíticas; são favoráveis a uma estratégia descentradora ou 
desconstrutiva que escapa das proposições sociais e políticas programáticas 
positivas; imaginam o social como um texto a ser interpretado e criticado 
com o propósito de contestar os conhecimentos e as hierarquias sociais 
dominantes. 
Nesse sentido, o que atualmente chamamos de queer, em termos tanto políticos 
quanto teóricos, surgiu como um impulso de crítica à ordem sexual contemporânea 
(MISKOLCI, 2012). Isto é, um movimento de crítica, contestação e denúncia das 
estratégicas pelas quais as “normas regulatórias da sociedade” (BUTLER, 2010) atuam 
ou como são produzidas nas relações de poder. Os queer, tal como nos diz Louro 
(2009), são homens e mulheres que recusam a normalização e a integração 
condescendente: 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 133 
Dessa forma, os estudos queer se diferenciariam dos estudos de gênero,vistos 
como indelevelmente marcados pelo pressuposto heterossexistada 
continuidade entre sexo, gênero, desejo e práticas, tanto quanto dos estudos 
gays e lésbicos, comprometidos com o foco nas minorias sexuaise os 
interesses a eles associados. Cada uma dessas linhas de estudo tomaria,como 
ponto de partida, binarismos (masculino/feminino, 
heterossexual/homossexual) que, na perspectiva queer, deveriam ser 
submetidos a umadesconstrução crítica. Queer desafiaria, assim, o próprio 
regime dasexualidade, ou seja, os conhecimentos que constroem os sujeitos 
comosexuados e marcados pelo gênero, e que assumem a 
heterossexualidadeou a homossexualidade como categorias que definiriam a 
verdade sobre eles (MISKOLCI; SIMÕES, 2007, p.10-11). 
Para empreender sua “analítica” (SOUZA e CARRIERI, 2010) e ensaiar 
resistências às práticas hegemônicas de poder os queer pensam com uma pluralidade de 
autores, destacadamente, entre eles estão Foucault e Derrida. De acordo com Louro 
(2009) as ideias de Foucault constituem uma das condições de possibilidade para a 
construção de um modo queer de ser, partindo dessa proposição nos dispomos aqui a 
falar das ligações e/ou contribuições de Michel Foucault para os Estudos Queer. 
Tendo em vista a – já referida - pluralidade de autores que fundamentam os 
Estudos Queer, faremos esta reflexão cientes de que trata-se de um uso do pensamento 
de Foucault que não pretende nem considerá-lo a origem, o fundamento ou a base dos 
Estudos Queer e nem, por outro lado, considerar que os Estudos Queer representam o 
destino, a finalidade ou a versão mais acabada do pensamento de Foucault (SPARGO, 
2006). 
Em síntese, o que queremos aqui é compreender de que modo o pensamento 
queer, nas palavras de Miskolci (2009), se apropria da analítica foucaultiana do poder e 
empreende uma analítica da normalização. Sem, no entanto, pretender abarcar a 
totalidade da questão que é múltipla e frutífera comportando assim diversos aspectos 
que seremos incapazes de contemplar. Para tratar da influência de Foucault no quadro 
teórico do queer Louro (2009) afirma que ele, o queer, se liga a vertentes 
contemporâneas do pensamento que problematizam noções clássicas de sujeito, de 
identidade e de agência dentre as quais situa-se a analítica foucaultiana. Sendo assim 
podemos dizer que: 
De Foucault, os queer incorporaram a analítica do poder, daí em suas obras o 
poder não ser algo que se possui ou se delimita, mas que se exerce ou ao qual 
se é submetido em uma situação permanentemente dinâmica em termos 
históricos e culturais (MISKOLCI, 2011, p. 53). 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 134 
Essa apropriação se dá, no entanto, de forma seletiva e diferenciada 
(MISKOLCI, 2009) evidenciando afinidades e tensões entre a obra do filósofo e os 
Estudos Queer. No entender de Miskolci, predomina uma afinidade entre sua obra e o 
empreendimento de trazer ao presente a analítica da normalização: 
Em comum, tanto Foucault quanto os queer enfatizam a maneira como o 
poder opera por meio da adesão dos próprios sujeitos às normas sociais. Ao 
invés de reprimidos, constrangidos ou vitimizados, mostram como os sujeitos 
costumam participar da ordem que os subjulga em uma forma de análise mais 
sofisticada e menos compassiva para com aqueles que se “apaixonam” pelo 
poder (2009, p. 325). 
É a negação da hipótese repressiva, elemento a partir do qual Foucault 
desenvolve no primeiro volume de História da Sexualidade, A vontade de saber, suas 
ideias sobre o que chamará de dispositivo da sexualidade e ainda seus apontamentos 
sobre a construção discursiva da sexualidade. As análisesde Foucault presentes neste 
primeiro volume de História da Sexualidade serão referências de grande repercussão e 
impacto no pensamento queer. Segundo Spargo (2006), o modelo geral da construção 
discursiva da sexualidade – este que rejeita a hipótese repressiva e argumenta pela 
proliferação de discursos sobre a sexualidade que, na verdade, a produzem - serviu 
como principal catalisador inicial para os Estudos Queer. 
Foucault rejeita a hipótese repressiva, segundo a qual a sexualidade seria um 
aspecto natural da vida humana que vinha sendo reprimido pela cultura desde o século 
XVII. Ele afirma: 
Trata-se, em suma, de interrogar o caso de uma sociedade que desde há mais 
de um século se fustiga ruidosamente por sua hipocrisia, fala prolixamente 
de seu próprio silêncio, obstina-se em detalhar o que não diz, denuncia os 
poderes que exerce e promete liberar-se das leis que a fazem funcionar 
(FOUCAULT, 2012, p. 15; grifos nossos) 
Ora, o que Foucault quer dizer com isso é que, ao contrário do que supunha a 
hipótese repressiva, a sexualidade não é proibida, mas sim produzida por meio de 
discursos. O que chamamos de sexualidade, quando pensamos com Foucault, pode ser 
entendido como um dispositivo
1
 histórico, capaz de produzir verdades sobre os sujeitos. 
 
1
 Foucault entende o dispositivo como “um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, 
instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, 
enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os 
elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode tecer entre estes elementos (Foucault, 2014, 
p. 244). 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 135 
Nas palavras de Spargo (2006), a sexualidade em Foucault não é uma 
característica ou fato natural da vida humana, mas uma categoria construída na 
experiência que não possui origens biológicas e sim históricas, sociais e culturais. Isto é, 
a sexualidade é um dispositivo histórico: 
 
Não se deve concebê-la como uma espécie dado da natureza que o poder 
tenta pôr em xeque, ou como um domínio obscuro que o saber tentaria, pouco 
a pouco, desvelar. A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo 
histórico (FOUCAULT, 2005, p. 100). 
É partindo dessa ideia de sexualidade que autor@s como Butler (2014) e 
Preciado (2011) desenvolvem, fazendo uma apropriação singular do pensamento de 
Foucault, conceitos como “matriz heterossexual” e “sexopolítica”, respectivamente. 
Spargo (2006) argumenta que, uma das afirmações mais provocativas de 
Foucualt, a de que o homossexualidade moderna é de origem comparativamente 
recente, funcionou como catalisadora para o desenvolvimento dos Estudos Queer. 
Quando afirma isso Foucault não está dizendo que as relações entre pessoas do mesmo 
sexo não existiam. 
O que ele nos mostra com isso é que - tendo a homossexualidade, nascido em 
um contexto particular no século XIX – a categoria sexualidade, de um modo geral, 
“deveria ser vista como uma categoria de saber construída em vez de uma identidade 
descoberta” (SAPARGO, 2006, p. 16). Ou ainda, “Ao expor e analisar a invenção do 
homossexual, ele mostrou que identidades sociais são efeitos da forma como o 
conhecimento é organizado e que tal produção de identidades é „naturalizada‟ nos 
saberes dominantes” (MISKOLCI, 2007, p. 153). 
É no livro “Problemas de Gênero” que Butler (2014) se apoiará nas noções 
foucaultianas de sexualidade e poder – em diálogo com vários outros autores - para 
construir sua argumentação em torno de ideias como, gênero performativo, matriz 
heterossexual e heterossexualidade compulsória. Este livro, no qual Butler faz uma 
apropriação singular do pensamento de Foucault, é uma das mais importantes obras já 
escritas no campo dos Estudos Queer. 
Butler deixa claro, no primeiro capítulo de “Problemas de Gênero” intitulado 
“Sujeitos do sexo/gênero/desejo”, a concepção de poder – neste caso, especialmente na 
sua forma jurídica - de que se apropria para empreender uma discussão sobre o sujeito 
do feminismo: 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 136 
Foucault observa que os sistemas jurídicos de poder produzem os sujeitos que 
subsequentemente passam a representar [...] O poder jurídico “produz” 
inevitavelmente o que alega meramente representar; consequentemente, a 
política deve se preocupar com essa função dual do poder: jurídica e 
produtiva. Com efeito, a lei produz e depois oculta a noção de “sujeito 
perante a lei”, de modo a invocar essa formação discursiva como premissa 
básica natural que legitima, subsequentemente, a própria hegemonia 
reguladora da lei (2014, p. 18-19). 
Partindo dessa compreensão de poder, Butler empreende uma discussão sobre os 
feminismos e a política identitária na qual endereça uma série de críticas aos 
feminismos que adotam um modelo essencialista de sujeito. Aqueles que advogam pela 
“mulher” enquanto sujeito do feminismo, uma vez que, o feminismo “Deve 
compreender como a categoria das “mulheres”, o sujeito do feminismo, é produzida e 
reprimida pelas mesmas estruturas de poder por intermédio das quais busca-se a 
emancipação” (BUTLER, 2014, p. 19; grifos nossos). Para Butler, tanto quanto para 
Foucault, não há um sujeito estável, natural e dotado de essência; se ele existe é 
enquanto fábula que ampara estruturas de poder específicas. 
Olhando por esta perspectiva Butler reflete sobre a produção de sujeitos de 
sexo/gênero/desejo dentro da matriz heteroressexual. Para tanto ela trabalha com a 
noção de práticas reguladoras as quais regulariam não apenas as relações de gênero, mas 
todas as relações de uma sociedade heteronormativa. 
As práticas reguladoras, diz Butler, “geram identidades coerentes por via de uma 
matriz de normas de gênero coerentes” (2014, p. 38). Sobre a produção e regulação das 
identidades de gênero pelas normas reguladoras do gênero dentro de um sistema de 
sexo/gênero/desejo Butler tece a seguinte reflexão: 
Enquanto a indagação filosófica quase sempre centra do que constitui a 
“identidade pessoal” nas características internas da pessoa, naquilo que 
estabeleceria sua continuidade ou auto-identidade no decorrer do tempo, a 
questão aqui seria: em que medida práticas reguladorasde formação e 
divisão do gênero constituem a identidade, a coerência interna do sujeito, e, a 
rigor, o status auto-idêntico da pessoa? E como as práticas reguladoras 
quegovernam o gênero também governam as noções culturalmente 
inteligíveis
2
 de identidade? Em outras palavras, a “coerência” e a 
“continuidade” da “pessoa” não são características lógicas ou analíticas 
da condição de pessoa, mas ao contrário, normas de inteligibilidade 
socialmente instituídas e mantidas (2014, p. 38; grifos nossos). 
 
2
 Os gêneros inteligíveis, diz Butler, “são aqueles que, em certo sentido, instituem e matêm relações de 
coerência e continuidade entre sexo, gênero, prática sexual e desejo” (2014, p. 38). 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 137 
Esta matriz de inteligibilidade é a matriz heterossexual a qual demanda 
linearidade e coerência entre sexo-gênero-desejo e práticas sexuais (MISKOLCI, 2011). 
Para Butler, assim como para Foucault, o poder
3
 possui um caráter produtivo e não de 
mera opressão. Sendo assim, ele atua na construção das subjetividades. Isto é, o sujeito 
sexuadoe dotado de gênero é produzido a partir de uma matriz heterossexual 
instauradora de uma heterossexualidade compulsória. No entanto, no dizer de Arán e 
Peixoto Júnior: 
Diferentemente de Foucault, Butler considera que as regulações de gênero 
não são apenas mais um exemplo das formas de regulamentação de um poder 
mais extenso, mas constituem uma modalidade de regulação específica que 
tem efeitos constitutivos sobre a subjetividade. As regras que governam a 
identidade inteligível são parcialmente estruturadas a partir de uma matriz 
que estabelece a um só tempo uma hierarquia entre masculino e feminino e 
uma heterossexualidade compulsória. Nestes termos o gênero não é nem a 
expressão de uma essência interna, nem mesmo um simples artefato de uma 
construção social. O sujeito gendrado seria, antes, o resultado de repetições 
constitutivas que impõem efeitos substancializantes. Com base nestas 
definições, a autora chega a afirmar que o gênero é ele próprio uma norma 
(2007, p. 133). 
Butler adota claramente a noção foucaultiana de poder, segundo a qual as 
relações de poder são formativas e produtivas. De modo que, o gênero enquanto norma 
ou matriz normativa é tecido nas malhas do poder, os sujeitos de sexo-gênero são 
formados nas complexas espirais do poder. 
Em suma, podemos dizer que Butler no seu esforço intelectual (especificamente 
em “Problemas de Gênero) incorpora o argumento da sexualidade construída 
discursivamente, de Foucault, e o amplia para incluir o gênero (SPARGO, 2006). 
Para explicar como nos tornamos sujeitos gendrados Butler recorre a ideia de 
performatividade do gênero: 
Ela considera o gênero um efeito performativo experimentado pelo indivíduo 
como uma identidade natural, argumentando contra a suposição de que a 
categoria de identidade “mulher” possa ser a base das políticas feministas, 
pois tentativas de desenvolver qualquer identidade como um fundamento irão 
irremediavelmente, ainda que inadvertidamente, sustentar as estruturas 
normativas binárias das atuais relações de sexo, de gênero e de libido 
(SPARGO, 2006, p. 49-50). 
 
3
 Sobre o caráter produtivo do gênero Butler diz que “O poder, ao invés da lei, abrange tanto as funções 
ou relações diferenciais jurídicas (proibitivas e reguladoras) como as produtivas (initencionalmente 
generativas) (2014, p. 54). 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 138 
Ao questionar o intento feminista de instaurar a categoria identitária como 
sujeito da política feminista Butler realiza um esforço intelectual que se aproxima 
daquele operado por Foucault quando afirma ser a homossexualidade uma invenção da 
modernidade. 
Em “Problemas de Gênero” ela argumenta pelo gênero performativo4, no 
entanto, não se preocupa em ser didática e pouca explica sobre o deslocamento que 
opera para explicar o funcionamento das normas de gênero. É Louro que nos ajuda a 
compreender que apropriação a autora faz do conceito: 
Judith Butler toma emprestado da lingüística o conceito de performatividade, 
para afirmar que a linguagem que se refere aos corpos ou ao sexo não faz 
apenas uma constatação ou uma descrição desses corpos, mas, no instante 
mesmo da nomeação constrói, “faz” aquilo que nomeia, isto é, produz os 
corpos e os sujeitos. Esse é um processo constrangido e limitado desde seu 
início, uma vez que o sujeito não decide sobre o sexo que irá ou não assumir; 
na verdade, as normas regulatórias de uma sociedade abrem possibilidades 
que ele assume, apropria e materializa (2004, p. 44). 
Desse modo, o gênero não é o correspondente cultural do sexo e muito menos 
um dado, uma essência; é uma continua prática discursiva. Estruturada no binarismo 
masculino/feminino, homem/mulher. 
Na leitura que faz do primeiro volume de História da Sexualidade e da Biografia 
de Herculine Barbin prefaciada por Foucault, Butler apresenta uma ressalva em relação 
à concepção de corpo que Foucault aparenta esboçar: 
Butler retorna a Foucault e descobre que em seu argumento geral há uma 
constante metáfora ou figura do corpo como uma superfície na qual a história 
escreve ou imprime valores culturais. Isso parece implicar, para Butler, o fato 
de que o corpo tem uma materialidade que precede a significação, o que ela 
considera problemático (SPARGO, 2006, p. 51). 
Butler sugere que, embora postule a ideia da identidade como ficção regulatória 
Foucault acaba por abraçar a compreensão de um corpo como elemento fundacional. 
Como alternativa à compreensão foucaultiana, diz Sapargo, ela “procura uma maneira 
de ler o corpo como uma “prática significante” (2006, p. 51). 
 
4
 Sobre o gênero performativo o que Butler mais se aproxima de propor como definição é isto: “Nesse 
sentido, o gênero não é um substantivo, mas tampouco é um conjunto de atributos flutuante, pois vimos 
que seu efeito substantivo é performativamente produzido e imposto pelas práticas reguladoras da 
coerência do gênero. Consequentemente, o gênero mostra ser performativo no interior do discurso 
herdado da metafísica da substância – isto é, constituinte da identidade que supostamente é. Nesse 
sentido, o gênero é sempre um feito, ainda que não seja obra de um sujeito tido como preexistente à obra 
(BUTLER, 2014, p. 48). 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 139 
Butler encontra a possibilidade de desenvolver a análise de Foucault para 
além de suas próprias fronteiras e limites, bem como de explorar o corpo 
como uma fronteira mediadora que divide o interno e o externo para produzir 
a experiência de ser um sujeito estável, coerente. Em vez de estar além da 
análise, o corpo, assim como a sexualidade, pode ter uma genealogia 
(SPARGO, 2006, p. 51-52). 
Dessa maneira, Judith Butler – tanto quanto os demais queer – faz uma 
apropriação singular e seletiva do pensamento de Michel Foucault. Tal forma de 
apreender as ideias do filósofo estão presentes, notadamente, na teorização de Beatriz 
Preciado (atualmente uma das mais influentes pensadoras queer) que trabalha com foco 
na noção foucaultiana de biopoder e biopolítica. 
Para Foucault a partir do século XVIII, nós no ocidente, conhecemos profundas 
transformações nos mecanismos de poder. Do poder soberano, aquele que mata ou deixa 
viver, passamos a experimentar “um poder que gera a vida e a faz se ordenar em função 
de seus reclamos” (FOUCAULT, 2012, p. 128). É a vida humana que entra nos cálculos 
do poder e na ordem do saber: 
O homem ocidental aprende pouco a pouco o que é ser uma espécie viva num 
mundo vivo, ter um corpo, condições de existência, probabilidade de vida, 
saúde individual e coletiva, forças que se podem modificar, e um espaço em 
que se pode reparti-las de modo ótimo. Pela primeira vez na história, sem 
dúvida, o biológico reflete-se no político; o fato de viver não é mais esse 
sustentáculo inacessível que só emerge de tempos em tempos, no acaso da 
morte e de sua fatalidade: cai, em parte, no campo de controle do saber e de 
intervenção do poder (FOUCAULT, 2012, p. 134). 
Ora, Foucault está falando do biopoder, o poder da biopolítica. Um poder que 
incide diretamente sobre a vida dos sujeitos, um poder que ocupa-se muito mais da vida 
do que decidir sobre a morte e, por isso, é capaz de apropriar-se dos processos 
“biológicos”. De modo que, para Foucault: 
Se pudéssemos chamar de „bio-história‟ as pressões por meio das quais os 
movimentos da vida e os processos da história interferem entre si, 
deveríamos falar de „biopolítica‟ paradesignar o que faz com que a vida e 
seus mecanismos entrem no domínio dos cálculos explícitos, e faz do poder-
saber um agente de transformação da vida humana(2012, p. 134). 
É este mapa conceitual que influência a agenda teórica de Preciado que 
comporta um vocabulário provocativo no qual encontram-se termos como sexopolítica, 
subversão e contra-sexualidade. É no texto “Multidões queer: notas para uma política 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 140 
dos „anormais‟” que Preciado nos apresenta de forma sintética sua agenda teórico-
política. Ela inicia o texto com a proposição de sua sexopolítica: 
A sexopolítica é uma das formas dominantes da ação biopolítica no 
capitalismo contemporâneo. Com ela, o sexo (os órgãos chamados “sexuais”, 
as práticas sexuais e também os códigos de masculinidade e feminilidade, as 
identidades sexuais normais e desviantes) entra no cálculo do poder, fazendo 
dos discursos sobre o sexo e das tecnologias de normalização das identidades 
sexuais um agente de controle da vida (PRECIADO, 2011, p. 11). 
Contudo a apropriação que faz, Preciado, da noção foucaultiana de política não 
se dá em termos de incorporação absoluta, uma vez que a “noção de toma Foucault 
como ponto de partida, contestando, porém, sua concepção de política, segundo a qual o 
biopoder não faz mais do que produzir as disciplinas de normalização e determinar as 
formas de subjetivação” (PRECIADO, 2011, p. 12). 
Essa contestação é feita com base na distinção que Preciado adota entre biopoder 
e potência de vida “podemos compreender as identidades dos anormais como potências 
políticas, e não simplesmente como efeitos das disputas sobre o sexo” (2011, p. 12), diz 
ela. Na sequência Preciado endereça outra crítica ao pensamento e postura do filósofo 
em relação a política de identidade, referindo-se a Foucault ela diz: “Sua rejeição à 
identidade e ao ativismo gay levá-lo-à a forjar uma retroficção à Sombra da Grécia 
Antiga” (PRECIADO, 2011, p. 13). 
Para ela, as identidades são um lugar estratégico da ação política, Preciado chega 
a alertar o movimento feminista-queer sobre as “armadilhas conceituais e políticas de 
Foucault”, uma delas (Preciado elenca duas) é a possibilidade de pensar a “multidão 
queer”5 como um reservatório da transgressão em oposição às estratégias identitárias (é 
uma proposição complexa que não poderemos desenvolver aqui). 
Preciado dá às questões políticas da identidade um lugar de destaque. Ao 
advogar pelo caráter estratégico da identidade vislumbra condições de possibilidades 
para o uso dos recursos políticos da produção performativa das identidades, embora ao 
contrário de Butler, considere que o gênero está além do performativo
6
. 
 
5
 Sobre a noção de multidão queer Preciado nos diz que “A sexopolítica torna-se não somente um lugar 
de poder, mas, sobretudo, o espaço de uma criação na qual se sucedem e se justapõem os movimentos 
feministas, homossexuais, transexuais, intersexuais, transgêneros, chicanas e pós-coloniais... As minorias 
sexuais tornam-se multidões. O monstro sexual que tem por nome multidão torna-se queer” (2011, p. 14). 
6
 Ver PRECIADO, 2011. 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 141 
É partindo deste lugar de preocupação com questões relativas à política 
identitária que Preciado publica em 2000 o seu “Manifeste Contra-sexuel” (em tradução 
literal “Manifesto Contra-sexual", ainda não publicado em português). Segundo Pereira 
(2008) a escolha do termo “contra-sexualidade” se inspira em Foucault, para quem a 
forma mais eficaz de resistência à produção disciplinar da sexualidade seria a 
contraprodutividade. Em síntese, com o conceito de contra-sexualidade elaborado no 
seu “Manifesto Contra-sexual” Preciado objetiva: 
A intenção é promover uma análise crítica da diferença gênero-sexo produto 
do contrato social heterocentrado, cujas performatividades normativas vêm 
sendo inscritas nos corpos como verdades biológicas. Esse contrato 
heterocentrado deve ser substituído por outro, o contra-sexual, no qual 
“corpos falantes” buscariam estabelecer procedimentos que possibilitem 
escapar da sujeição heteronormativa. Além de criticar a naturalização do sexo 
e do sistema de gênero, o contratocontra-sexual propõe uma sociedade de 
equivalência, de sujeitos falantes queestabeleçam relações de forma 
contratual – a elaboração desse contrato, assim,deve muito ao saber prático e, 
também, contratual das comunidades sadomasoquistas (PRERIRA, 2008, p. 
500- 501). 
Beatriz Preciado, tal como Butler e outros autores, apropria-se do pensamento 
foucaultiano para elaborar proposições muito ousadas e originais. Assim, o uso que faz 
do pensamento de Foucault é marcado pela criatividade e criticidade; ela não se importa 
em discordar do filósofo ou fazer aproximações aparentemente improváveis entre 
múltiplas vertentes do pensamento crítico contemporâneo para lançar um olhar peculiar 
sobre os agenciamentos biopolíticos dos nossos tempos. 
Preciado e Butler postulam e carregam uma não ortodoxia própria do modo – 
contestatório – queer de ser e pensar. O queer, como já mencionado, é aquele que está 
sempre em confronto com a norma, é aquele que desafia pela complexidade, pela 
confusão, pela diferença. 
Diante do exposto, consideramos então que o pensamento queer – neste caso, o 
de autor@s como Butler e Preciado – apropria-se das ideias de Michel Foucault de 
forma singular, seletiva e diferenciada. Existem, portanto, nesta relação convergências e 
tensões como aquelas aqui demonstradas. Nesse sentido, é mister considerar os Estudos 
Queer um uso muito específico do pensamento de Foucault, isto é, não se configura 
enquanto uma proposta de continuidade das ideias de Foucault. Ora, é como diz Spargo 
“As ideias de Foucault claramente pavimentaram o caminho para uma abordagem 
diferente das relações entre sexo, sexualidade e poder” (2006, p. 25). 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 142 
 
REFERÊNCIAS 
ARAN, Márcia; PEIXOTO JUNIOR, Carlos Augusto. Subversões fazer Desejo:. Sobre 
Gênero e Subjetividade los Judith Butler Cad. Pagu , Campinas, n. 28, junho de 
2007.Disponível a partir 
de<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
83332007000100007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 de outubro de 2014. 
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332007000100007. 
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. 
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: Louro, 
Guacira Lopes. (Org.). O corpo educado pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: 
Autêntica, 2010. 
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro: 
Graal , 2012. 
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. São Paulo: Paz & Terra, 2014. 
LOURO, G. L. Pedagogias da sexualidade. In: ______. (Org.). O corpo educado: 
pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 
Halberstan, Judith. Repensando o sexo e o gênero. In: MISKOLCI, Richard; PELÚCIO, 
Larissa. (Orgs.). Discursos fora de ordem: sexualidades, saberes e direitos. São Paulo: 
Annablume; Fapesp, 2012. 
LOURO, Guacira Lopes. Teoria estranha.: Uma Política Pós-identitária Pará uma 
Educação Rev. Estud. Fem. , Florianópolis, v. 9, n. 2, 2001. Disponível a partir de 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104026X2001000200012ln
g=en&nrm=iso>. Acesso em 30 de outubro de 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2001000200012. 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 143 
LOURO, Guacira Lopes. Foucault e os estudos queer. In: RAGO, Margareth; VEIGA 
NETO, Alfredo. (Orgs). Para uma vida não facista. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. 
MISKOLCI, Richard. Abjeção e desejo. Tensões entre a obra de Michel Foucault e a 
Teoria Queer. In: RAGO, Margareth; VEIGA NETO, Alfredo. (Orgs). Para uma vida 
não facista. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. 
MISKOLCI, Richard. A Teoria Queer e a sociologia: o desafio de uma analítica da 
normalização. Sociologias, Porto Alegre: PPGS-UFRGS, n. 21, p. 150-182, 2009. 
MISKOLCI, Richard; SIMÕES, Júlio Assis. Apresentação. Cadernos Pagu, Campinas: 
Núcleo de Estudos de Gênero Pagu-UNICAMP, n. 28 p. 9-19, 2007. 
MISKOLCI, Richard. Não ao sexo rei: da estética da existência foucaultiana à política 
queer. In: L. A. F. SOUZA; T. T. SABATINE; B. R. MAGALHÃES(ORG.). São 
Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. 
MISKOLCI, Richard. Um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica; 
Editora UFOP, 2012. 
PEREIRA, Pedro Paulo Gomes. Corpo, sexo e subversão: reflexões sobre duas teóricas 
queer. Interface (Botucatu), Botucatu , v. 12, n. 26, Sept. 2008 . Available 
from<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414328320080003000
04&lng=en&nrm=iso>. access on 30 Oct. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-
32832008000300004. 
PRECIADO, Beatriz. Multidões queer: notas para uma política dos "anormais". Rev. 
Estud. Fem., Florianópolis , v. 19, n. 1, Apr. 2011 . Available from 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104026X2011000100002&
lng=en&nrm=iso>. access on 30 Oct. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-
026X2011000100002. 
SEIDMAN, Steven. “Deconstructing Queer Theory or the Under-Theorization of the 
Social and the Ethical”. In: NICHOLSON, Linda; SEIDMAN, Steven. (ORGS.) Social 
ANAIS – III COLÓQUIO DE ESTUDOS FOUCAULTIANOS - GEF/LAPEF/UECE – SET 2014 
 ISSN - 2358-0720 
 
 
 
 
 144 
Postmodernism. Beyond identity politics. Cambridge: University Press, 1995. P. 116-
141. 
SEDGWICK, Eve Kosofsky. A epistemologia do armário. Cad. Pagu, Campinas , n. 
28, June 2007 . Available from 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
83332007000100003&lng=en&nrm=iso>. access on 30 Oct. 2014. 
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332007000100003. 
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do 
currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. 
SPARGO, Tamsim. Foucault e a Teoria Queer. Rio de Janeiro: Pazulin; Juiz de Fora: 
Editora UFJF, 2006. 
SOUZA, Eloisio Moulin de; CARRIERI, Alexandre de Pádua. A Analítica estranha e 
Seu rompimento com a Concepção binaria de Gênero. RAM, Rev. Adm. Mackenzie 
(Online) , São Paulo, v. 11, n. 3, junho de 2010. Disponível a partir de 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167869712010000300005&l
ng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 de outubro de 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S1678-
69712010000300005.

Outros materiais