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Estudos sobre família

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1 
 
Estudos Sobre Família 
 
FAMÍLIAS - MARCAS DO TEMPO 
 
FAMÍLIA! 
 
De quem é a responsabilidade de sua manutenção? E do papel do terapeuta ao responder às 
normas e realidades sociopolíticas em modificação? A perspectiva do ciclo familiar vê os sintomas e 
as disfunções em relação ao funcionamento normal ao longo do tempo, e vê a terapia como 
ajudando a restabelecer o momento desenvolvimental da família. 
 
A família na visão dos autores é mais do que a soma das partes. O ciclo de vida individual 
acontece dentro do ciclo de vida familiar, que é o contexto primário do desenvolvimento. 
 
A FAMÍLIA - UM SISTEMA QUE MOVE-SE ATRAVÉS DO TEMPO 
 
O estresse familiar é geralmente maior nos pontos de transição de um estágio para o outro no 
processo de desenvolvimento familiar. Os sintomas tendem a aparecer mais quando há interrupções 
ou deslocamentos no ciclo de vida familiar. 
 
Nos estudos sobre família Durval (1977), separou o ciclo de vida familiar em estágios, todos 
referentes a momentos de transição da família: casamento, nascimento e educação dos filhos, saída 
dos filhos do lar, aposentadoria e morte. 
 
Hill (1970) enfatizou três aspectos geracionais do ciclo de vida, descrevendo os pais dos filhos 
casados como formando uma ponte geracional, entre as gerações mais velhas e as mais novas da 
família. Para ele, cada estágio do ciclo de vida existe um complexo de papéis distintos para os 
membros da família, uns em relação aos outros. 
 
Embora as famílias tenham papéis e funções, o seu principal valor são os relacionamentos, 
que são insubstituíveis. Se um progenitor vai embora ou morre, outra pessoa pode ser trazida para 
preencher uma função paterna, por exemplo, mas essa pessoa jamais substituirá o progenitor em 
seus aspectos emocionais. 
 
A família compreende todo o sistema emocional de pelo menos três, e agora freqüentemente 
quatro gerações. Esse é o campo emocional operativo. Pagamos um preço pelo fato da família 
moderna ser caracterizada pela escolha nos relacionamentos interpessoais: com quem casar, onde 
viver, quantos filhos terá, como dividir as tarefas. 
 
Exemplos: 
 
No passado, a manutenção dos relacionamentos familiares era compreendida como 
responsabilidade das mulheres: elas cuidavam das crianças, da casa, dos homens, dos idosos e 
doentes. Os filhos tinham a responsabilidade de cuidar dos mais velhos, dos pais. 
 
Embora o processo familiar seja, de modo algum linear, ele existe na dimensão linear do 
tempo. Numa perspectiva multigeracional, não existe nenhuma tarefa unificadora. 
 
 
TEORIAS E “TEORIAS” DE FAMÍLIA 
Heloísa Szymanski 
 
O objetivo deste texto é refletir sobre as sistematizações do pensamento sobre família – as 
Teorias – e a articulação das idéias sobre família no viver cotidiano – as “teorias” – e seu papel no 
desenvolvimento de modelos. Restringindo o campo de reflexão, vamos nos ater ao tratamento que 
a psicologia tem dado à família. 
 
Desde Freud, família e, em especial, a relação mãe-filho, tem aparecido como referencial 
explicativo para o desenvolvimento emociona da criança. A descoberta de que os anos iniciais de 
vida são cruciais para o desenvolvimento emocional da criança. 
 
2 
 
 
A descoberta de que os anos iniciais de vida são cruciais para o desenvolvimento emocional 
posterior focalizou a família como o lócus potencialmente produtor de pessoas saudáveis, 
emocionalmente estáveis, felizes e equilibradas, ou como o núcleo gerador de inseguranças, 
desequilíbrios e toda sorte de desvios de comportamento. 
 
Sem desconsiderar a inegável influência das inter-relações pessoais na infância e 
adolescência, gostaria de focalizar a família a que se está referindo acima. Ela tem uma forma. Qual 
é ela? Não tenho dúvidas de que a família que se está visualizando é composta por pai, mãe e 
algumas crianças vivendo numa casa. Essa imagem corresponde a um modelo, que é o da família 
nuclear burguesa. 
 
As interpretações das inter-relações passaram a ser feitas no contexto da estrutura proposta 
por aquele modelo e, quando a família se afastava da estrutura do modelo era chamada de 
“desestruturada” ou “incompleta”' e consideravam-se os problemas emocionais que poderiam advir 
da “desestruturação” ou “incompletude”. O foco estava na estrutura da família e não na qualidade 
das inter-relações. 
 
Pode-se supor que, ao se aceitar o modelo de família burguesa como norma e não como um 
modelo construído historicamente, aceita-se implicitamente seus valores, regras, crenças e padrões 
emocionais. 
 
Segundo Aries, até o século XV a família era 
 
“...uma realidade moral e social mais do que sentimental. A família quase que não existia sentimentalmente 
entre os pobres, e quando havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento 
provocado pelas antigas relações de linhagem. (Ariés, 1985:231).” 
 
Com o surgimento da escola, da privacidade, a preocupação de igualdade entre os filhos, a 
manutenção das crianças junto aos país e o sentimento de família valorizado pelas instituições 
(principalmente a igreja), no início do século XVIII começa a delinear-se a família nuclear burguesa. 
 
Ainda no século XIX, na Europa, a população mais pobre e mais numerosa “...vivia como as 
famílias medievais, com as crianças afastadas das casas dos pais” (Ariès, 1975:271). Esta 
população vivia de forma semelhante aos agregados da casa-grande patriarcal do Brasil da mesma 
época. 
 
Poster “...ressalta de sua análise a conclusão de que a história da família é descontínua, não 
linear e não-homogênea: consiste, isto sim, em padrões familiares distintos, cada uma com sua 
própria história e suas próprias explicações” (Poster, in: Bruschini, Cadernos de Pesquisa, 
1981:100). 
 
Mas, com o tempo, “a vida familiar estendeu-se a quase toda a sociedade, a tal ponto, que as 
pessoas esqueceram de sua origem aristocrática e burguesa” (Ariés: 1975:271). 
 
Esqueceram, também, da origem da história dos valores crenças e normas inerentes a esse 
modelo de família. Aceitaram, como verdade estabelecida, a relação baseada na “...hierarquia e 
subordinação, poder e obediência...” (Maturana, 1993:35), com a autoridade masculina no topo e 
conseqüente relações entre desiguais. Aceitaram fixar o mundo externo como espaço masculino e a 
casa, como feminino. 
 
Fora desse contexto, as famílias são consideradas “incompletas” e “desestruturadas”. Essas 
são as mais responsabilizadas por problemas emocionais, desvio de comportamento do tipo 
delinquencial e fracasso escolar. 
 
Do lado das famílias, esse mesmo viés é repetido. Supõe-se ou aceda-se, irrefletidamente, 
um modelo imposto pelo discurso das instituições, da mídia e até mesmo de profissionais, que é 
apresentado não só como o jeito certo de se viver em família, mas também como um valor. Isto é, 
indiretamente, transmitido e captado, o discurso implícito de incompetência e de inferioridade, 
referindo-se àqueles que não “conseguem” viver de acordo com o modelo. Essa sensação de “ser 
 
3 
 
diferente”, “menos de que” e “incompetente” aparece no discurso daqueles que se desviam da 
norma (Gomes, 1988). 
 
A mensagem do “discurso oficial” sobre a família é perfeitamente captada pelas pessoas. É 
expressa no seu discurso – a família pensada – e pode ser sinteticamente descrita corno se segue: 
 
Uma união exclusiva de homem e mulher, que se inicia por amor, com a esperança de que o 
destino lhes seja favorável e que ela seja definitiva. Um compromisso de acolhimento e cuidado para 
com as pessoas envolvidas e expectativa de dar e receber afeto, principalmente em relação aos 
filhos. Isso, dentro de uma ordem e hierarquia estabelecida num contexto patriarcal de autoridade 
máxima que deve ser obedecida, a partir do modelo pai-mãe-filhos estável (Gomes, 1988). 
 
Além disso, o mundo familiaré palco de múltiplas interpretações. Produz “teoria” ambíguas e 
incompletas que descrevem aquele mundo particular de relações. Exemplos de tais generalizações: 
“mulheres são...", “os filhos devem...”, “só existe amor se... houver concordância irrestrita”, ou “...se o 
afeto for demonstrado de tal e tal, maneira”, ou, “se eu for sempre boazinha, concedendo sempre”, 
“casamento é...”, e assim por diante. Esse discurso vai sendo construído em cada mundo familiar, 
dando-lhe uma feição própria, mesmo que sob um só modelo. 
 
Cada família circula sob um modo particular de emocionar-se, criando uma “cultura” familiar 
própria, com seus códigos, com uma sintaxe própria, para comunicar-se e interpretar comunicações, 
com suas regras, ritos e jogos. Além disso, há o emocionar pessoal e o universo pessoal de 
significados. 
 
Tais significados, no cotidiano, não são expressos. O que se tem são ações que são 
interpretadas num contexto de emoções entrelaçadas com o crivo dos códigos pessoais, familiares e 
culturais mais amplos. Tais emoções e interpretações geram ações que vão formando um enredo 
cuja trama compõe o universo do mundo familiar. 
 
Esta é a família que emerge da análise da observação do cotidiano familiar – a família vivida – 
que sinteticamente pode ser descrita da seguinte forma: 
 
Um grupo de pessoas, vivendo numa estrutura hierarquizada, que convive com a proposta de uma ligação 
afetiva duradoura, incluindo uma relação de cuidado entre os adultos e deles para com as crianças e idosos 
que aparecem nesse contexto (Gomes, 1998). 
 
Essa concepção foi construída a partir da observação do cotidiano vivido por algumas famílias 
que diferia muito quanto à estrutura, história, modos de comunicação e expressão de emoções. 
Procuraram-se os elementos comuns presentes em todas as famílias e chegou-se à concepção 
acima. 
 
Assim, as pessoas que convivem numa ligação afetiva podem ser um homem e uma mulher e 
filhos biológicos, ou uma mulher, sua afilhada e um filho adotivo, ou qualquer arranjo. “Duradouro” 
não significa “definitivo”, e as emoções envolvidas numa relação que pode vir a terminar, são 
diferentes daquelas que emergem em situações definidas e definitivas. Relação de cuidado pode 
significar um compromisso em que todos estão envolvidos, e, com a possibilidade de mudanças de 
protagonistas na estrutura de família, cessa a especialização de funções. 
 
Sem dúvida, a aceitação desse modo de ver a família traria profundas modificações nas 
relações interpessoais, especialmente nas relações entre os gêneros. 
 
O que se observou, entretanto, não foi a reflexão sobre as possibilidades de se viver outra 
proposta de família (Gomes,1988), mas um sentimento de inadequação. A família se construiu, a 
vivida, apareceu como um caminho indesejado, com um caráter de “não escolhido”, mas de 
“imposto” ela vicissitudes da vida. 
 
Concluindo, observou-se que, tanto nas teorias e práticas de atendimentos familiar como nas 
representações das famílias, aparece, de forma irrefletida, o viés do modelo de família nuclear 
burguesa com conotação normativa. 
 
 
Felizmente, a tendência atual em teoria clínica na área de família é distanciar-se das 
propostas rígidas de modelos e, conseqüentemente, de prescrições preestabelecidas. Essa proposta 
é influenciada pela crítica da Teoria da Construção Social da Realidade, que levou os estudiosos da 
área de família a contestarem tanto os modelos de família como a presunção de neutralidade no 
atendimento. 
 
Lynn Hoffman chaga mesmo a propor que: 
 
O terapeuta pós-moderno vem para a família sem qualquer definição de patologia, sem qualquer idéia de 
quais estruturas disfuncionais vai procurar e sem qualquer idéia estabelecida sobre o que deve ou não mudar 
(1990:10). 
 
Trata-se de uma diretriz, um alerta para as tendências dogmáticas. 
 
A família tem sido vista como um sistema lingüístico construído “onde significado e 
compreensão são sociais e intersubjetivamente construídos” e onde... “mudanças é a evolução de 
novos significados através do diálogo” (Anderson & Goolisshian, 1988:372). 
 
O mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de formas de organização, com 
crenças, valores e práticas desenvolvidas na busca de soluções para as vicissitudes que a vida vai 
trazendo. Desconsiderar isso é ter a vã pretensão de colocar essa multiplicidade de manifestações 
sob a camisa-de-força de uma única forma de emocionar, interpretar, comunicar.

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