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Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância EEnnssiinnoo àà DDiissttâânncciiaa Apostila Curso: TTééccnniiccaass PPssiiccoollóóggiiccaass ee CCoommppoorrttaammeennttaaiiss ppaarraa oo NNuuttrriicciioonniissttaa Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância PSICOLOGIA DO SENSO COMUM X PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA Todos nós usamos o que poderia ser chamado de psicologia de senso comum em nosso cotidiano. Observamos e tentamos explicar o nosso próprio comportamento e o dos outros. Tentamos predizer quem fará o que, quando e de que maneira. E muitas vezes sustentamos opiniões sobre como adquirir controle sobre a vida (Ex: o melhor método para criar filhos, fazer amigos, impressionar as pessoas e orientar os pacientes no tratamento nutricional). Entretanto, uma psicologia construída a partir de observações casuais tem algumas fraquezas críticas. Bases do Comportamento Alimentar Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância O tipo de psicologia do senso comum que se adquire informalmente leva a um corpo de conhecimentos inexatos por diversas razões. O senso comum não proporciona diretrizes sadias para a avaliação de questões complexas. As pessoas geralmente confiam muito na intuição, na lembrança de experiências pessoais diversas ou nas palavras de alguma autoridade (como um professor, um amigo, uma celebridade da TV). A ciência proporciona diretrizes lógicas para avaliar a evidência e técnicas bem raciocinadas para verificar seus princípios. Em consequência, os psicólogos geralmente confiam no método científico para as informações sobre o comportamento e os processos mentais. Perseguem objetivos científicos, tais como a descrição e a explicação. Usam procedimentos científicos, inclusive observação e experimentação sistemática, para reunir dados que podem ser observados publicamente. Tentam obedecer aos princípios científicos. Esforçam-se, por exemplo, por escudar seu trabalho contra suas distorções pessoais e conservar-se de espírito aberto. Ainda assim, os cientistas do comportamento não estão de acordo quanto aos pressupostos fundamentais relacionados aos objetivos, ao objeto primeiro e aos métodos ideais. Como outras ciências, a psicologia está longe de ser completa. Existem muitos fenômenos importantes que não são ainda compreendidos. As pessoas não devem esperar uma abordagem única do objeto da psicologia ou respostas para todos os seus problemas. AS 3 PRINCIPAIS TEORIAS DA PSICOLOGIA MODERNA Os seres humanos, como conhecemos hoje, apareceram na Terra há cerca de 100.000 anos atrás. Desde então têm estado provavelmente tentando compreender-se a si mesmo. Aristóteles (384-322 a.C.), o filósofo grego, e considerado o Pai da Psicologia. Entretanto, a especulação sobre assuntos psicológicos não começou com este pensador grego. Centenas de anos antes de Aristóteles, os primeiros filósofos de que se tem notícia já lidavam com esses assuntos. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância BEHAVIORISMO OU COMPORTAMENTALISMO John Watson criticava o estruturalismo e o funcionalismo se queixando sobre o fato de que os fatos da consciência não podiam ser testados e reproduzidos por todos os observadores treinados, pois dependiam das impressões e características de cada pessoa. Watson sentiu que os psicólogos deviam estudar o comportamento observável e adotar métodos objetivos. Em 1912, nasceu o behaviorismo e dominou a psicologia americana por trinta anos. Os psicólogos behavioristas estudavam os eventos ambientais (estímulos), o comportamento observável (respostas) e como a experiência influenciava o comportamento, as aptidões e os traços das pessoas mais do que a hereditariedade. Frederick Skinner vai além do behaviorismo de Watson e com ele nasce o behaviorismo radical que também considera os eventos ambientais, o comportamento observável (ações do indivíduo), mas também considera os comportamentos internos ou privados (pensar, sentir, etc). Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância GESTALT A Psicologia da Gestalt pode ser também vista como a Psicologia da forma. Os gestaltistas estão preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na realidade. Max Wertheimer (1880-1943) fundou o movimento da Gestalt. "O todo é diferente da soma das partes", este é o slogan do movimento da Gestalt. O que a pessoa é (o todo) são junções de várias características próprias dela (as partes). Aos gestaltistas interessa muito saber sobre os significados que os seres humanos impõem aos objetos e acontecimentos de seu mundo, a percepção, a solução de problemas e o pensamento. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância PSICANÁLISE Para quem nunca estudou psicologia, é provável não ter ouvido falar de Watson, Skinner ou Max Wertheimer, entretanto, provavelmente já ouviu falar de Sigmund Freud (1856-1939), o médico vienense que se especializou no tratamento de problemas do sistema nervoso e em particular de desordens neuróticas. Freud adotou a hipnose para ajudar as pessoas a reviverem as experiências traumáticas do passado que pareciam associadas com seus sintomas atuais. Entretanto, nem todos podiam atingir um estado de transe e a hipnose parecia resultar em curas temporárias, com o aparecimento posterior de novos sintomas. Freud então desenvolveu o método da associação livre no qual os pacientes deitavam num divã e eram encorajados a dizer o que quer que lhes viesse à mente (desejos, conflitos, temores, pensamentos e lembranças), sendo também convidados a relatar seus sonhos. Freud tratava dos seus pacientes tentando trazer à consciência aquilo que estava inconsciente. Insistia que todos os detalhes se ajustam perfeitamente entre si. A personalidade é formada durante a primeira infância. A exploração das lembranças dos primeiros cinco anos de vida é essencial ao tratamento. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância PSICÓLOGOS, PSIQUIATRAS E PSICANALISTAS Psicólogos clínicos, psiquiatras e psicanalistas muitas vezes ocupam empregos semelhantes. Todos os três profissionais podem trabalhar em campos ligados à saúde mental, diagnosticando e tratando de pessoas com problemas psicológicos leves e graves. A grande diferença entre esses especialistas deriva de sua formação. Os psicólogos clínicos geralmente passam cerca de cinco anos na faculdade aprendendo sobre comportamento normal e anormal, diagnóstico (inclusive aplicação de testes) e tratamento. Os psiquiatras, ao contrário, completam a faculdade de medicina e dela saem com um diploma de doutor em medicina. Em seguida, para se qualificarem como psiquiatras servem aproximadamente três anos como residentes em uma instituição de saúde mental, mais comumente um hospital. Aí recebem treinamento para detectar e tratar de distúrbiosemocionais, utilizando métodos psicológicos, bem como drogas, cirurgia e outros processos médicos. Em teoria, qualquer pessoa pode tornar-se psicanalista graduando-se por uma instituição psicanalítica e submetendo-se à psicanálise. Na prática, a maioria das escolas de formação aceita apenas médicos psiquiatras e psicólogos que irão estudar as teorias da personalidade e métodos de tratamento introduzidos por Freud. HEREDITARIEDADE X MEIO AMBIENTE Como são as pessoas e o que as faz serem assim? As pessoas são muito variadas. Diferem quanto ao tamanho, religião, sexo, idade, inteligência e educação. Diferem ainda quanto às características sociais, econômicas e morais. A individualidade é o resultado de características biológicas ou herdadas (hereditárias) e é ainda influenciada pelo meio ambiente onde vivem. Na realidade o que faz uma pessoa ser aquilo que é resulta da combinação dos fatores herdados e do seu meio ambiente. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Características herdadas: Fatores relacionados com a aparência física são geralmente considerados herdados; A não se que haja trauma cefálico ou doença, o intelecto e a altura são determinados biologicamente; A não ser que haja tratamento medicamentoso ou raios luminosos externos, a cor da pele também é predeterminada; A não ser que haja ferimento ou operação plástica, a forma do nariz e orelhas é predeterminada. Herda-se, enfim, a maioria dos caracteres relacionados a aparência. Características ambientais: O meio ambiente abrange muitas influências. O meio químico pré-natal: drogas, nutrição e hormônios O meio químico pós-natal: oxigênio e nutrição As experiências sensoriais constantes: os eventos processados pelos sentidos inevitáveis a qualquer indivíduo como sons de vozes humanas, contato físico com as pessoas, etc. Todos passam por essas experiências. As experiências sensoriais variáveis: eventos processados pelos sentidos e que diferem de um animal para outro da mesma espécie, dependendo das circunstâncias particulares de cada indivíduo. Nem todos passam por essas experiências. O melhor argumento a favor da influência ambiental na formação da personalidade encontra-se no estudo desenvolvido com gêmeos idênticos, que são criados em lugares diferentes por diferentes pessoas. Podem ser encontradas diferenças quanto à estatura e seus Q.I., conceito social, pessoal e metas de trabalho. O meio ambiente desempenha importante papel nessa diferenciação. A hereditariedade e o meio interagem continuamente, influenciando o desenvolvimento. A hereditariedade programa as potencialidades humanas das Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância pessoas, o meio faz essas potencialidades se desenvolverem ou não, para mais ou para menos. Não é relevante a discussão a respeito se a hereditariedade ou o meio é mais significativo, pois ambos são absolutamente essenciais. Cada ser humano é diferente, pois cada um traz diferentes experiências de vida e, portanto, é emocional, intelectual e socialmente diferente dos demais. Saber como as pessoas desenvolvem as ideias e quais são as suas necessidades é fundamental para a formação de um bom profissional da área de saúde; mas é igualmente fundamental que este profissional se conheça muito bem. O profissional da área de saúde interage com pessoas diferentes umas das outras. A maior dificuldade em lidar com essas pessoas – médicos, enfermeiras, parentes dos doentes e os próprios pacientes – está em que nunca duas pessoas reagirão de maneira idêntica. Qual a solução para esse problema? A melhor solução é estar bem consciente da própria maneira de agir, como pessoa, da reação dos outros às suas iniciativas e continuar a ganhar experiência nesses aspectos. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância O paciente como ser biopsicossocial Uma pessoa não pode ou não deve perder sua dignidade e direitos como pessoa porque está doente. Para May (1977), em Beland e Joyce, o fundamental da Psicologia humanística é compreender o homem como um ser, ou seja, atingir o aspecto mais íntimo de cada pessoa. E para que possamos atingir esse aspecto é preciso considerar a pessoa e seu ambiente como uma unidade composta de fatores interdependentes; é preciso compreender a maneira de pensar, sentir e fazer que o próprio homem desenvolveu como parte de seu ambiente e ainda ter consciência de que o bem-estar só é alcançado quando as necessidades estão sendo supridas satisfatoriamente. Qualquer doença altera a atuação interpessoal e social do indivíduo e tanto maior será essa alteração conforme for o valor físico, emocional e intelectual que a doença representa para o paciente e seus familiares, sem esquecer que o doente poderá minimizar ou exacerbar tal alteração. A base da profissão de um profissional da saúde deve ser a crença no valor da pessoa através do respeito ao atendimento das necessidades básicas do paciente e, para tanto, é imprescindível identificar seus problemas tendo amplas e atualizados conhecimentos fisiopatológicos e psicossociais, sem os quais sua atuação será desnecessária e, muitas vezes, prejudicial. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância APRENDIZAGEM Nosso comportamento quando adultos é em grande parte determinado pelo que aprendemos nos primeiros anos de vida. Toda aprendizagem se relaciona com a adaptação a novas situações e problemas. Existem muitas formas de aprendizagem, dentre elas estudaremos as seguintes: Condicionamento Clássico ou Pavloviano: O fisiólogo russo Ivan Pavlov foi o primeiro a fazer um estudo detalhado dos reflexos condicionados, embora se soubesse há muito tempo que dois acontecimentos que ocorrem ao mesmo tempo tendem a se tornar associados na mente. Pavlov estudou os reflexos não-condicionados nos cães, principalmente o reflexo que leva a saliva a pingar dos lábios quando se coloca carne na boca do cachorro. Ele descobriu que quando outro estímulo – uma luz ou uma campainha – era dado juntamente com a carne, várias vezes sucessivas, o cachorro mais cedo ou mais tarde produziria saliva apenas com este estímulo, sem a carne. A luz ou campainha tornou-se assim um estímulo condicionado e a salivação que se seguia ficou conhecida como reflexo condicionado. O estímulo condicionado tinha que ser reforçado de vez em quando, combinando-o com comida, pois do contrário o reflexo condicionado tenderia a desaparecer. Watson, um psicólogo americano, declarou que uma criança nasce somente com uns poucos reflexos simples e que essas respostas reflexas se ligam a novos estímulos pelo condicionamento, tornando-se paulatinamente mais complexas. Ele acreditava que, através de um condicionamento adequado, qualquer criança poderia ser criada para ser aquilo que se quisesse, seja um médico, um craque de futebol ou um lixeiro. Não que todo o processo de comportamento e aprendizagem do homem possa se explicado simplesmente com base nos reflexos condicionados. Entretanto, o condicionamento pode dar uma explicação aceitável para uma parte deles. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Aprendizagem por ensaio e erroou condicionamento operante ou instrumental: Consiste em recompensar e/ou punir alguns atos e não outros, dirigindo dessa maneira o comportamento numa certa direção (modelagem de comportamentos). É baseada na lei do efeito de Thorndike a qual afirma que "as ações que resultam em satisfação tornam-se mais fortes ao passo que aquelas que não causam satisfação são enfraquecidas e, eventualmente, ignoradas". A aprendizagem operante pode se basear num sistema de recompensa (reforçamento) ou treinamento de punição. Qualquer mãe ou criança conhece o princípio do condicionamento operante, a recompensa do "bom" comportamento, a punição do "mau" comportamento. Ele constitui a base da criação, treinamento e educação de crianças, de como elas aprendem a se comportar e adquirem habilidades simples. A recompensa não precisa ser necessariamente material. A aprovação de alguém que a criança ama e respeita pode ser algo tão bom ou até melhor do que recompensas materiais. Aprendizagem por imitação ou por observação: Uma pessoa pode até estar saciada de determinado estímulo, mas por ver que aquilo é reforçador para a outra pessoa ela também passa a imitá-la para talvez conseguir o mesmo reforço. Acontece com as pessoas que jogam na Sena. Nunca ganham, mas por ver que as outras pessoas ganham continuam jogando. Acontece também com crianças que, pela falta de experiência, passa a observar como as pessoas conseguem comida, água, atenção, etc e imita o comportamento da pessoa observada. Outro exemplo são as pessoas que imitam os astros de TV por desejarem ter o mesmo reconhecimento e fama que eles. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância PRÁTICAS ALIMENTARES NA INFÂNCIA Desenvolvimento do Paladar De entre todos os alimentos possíveis no mundo, porque escolher em particular alguns para comer? Porque é que pessoas de diferentes culturas comem alimentos diferentes? Porque é que duas pessoas, com a mesma cultura e origens semelhantes, têm diferentes preferências alimentares e, portanto, dietas diferentes? As respostas para estas questões estão longe de ser simples. Comer proporciona nutrição e supre as nossas necessidades biológicas, mas também é uma fonte de prazer e conforto, refletindo e transmitindo informações sobre o status social e familiar. A escolha de alimentos, como qualquer comportamento humano complexo é um produto de diversas influências, tais como biológicas, psicológicas, económicas, sociais e culturais. É um fato conhecido que existem diferenças substanciais nas preferências alimentares entre pessoas. No entanto, a origem das preferências e aversões a Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância determinados sabores e alimentos em seres humanos tem suscitado muita especulação e ainda permanece em mistério. A Genética e a Fisiologia dos Sabores As escolhas alimentares individuais são baseadas em fatores fisiológicos, nutricionais, ambientais e socioculturais. No entanto, as qualidades sensoriais da comida são determinantes das preferências alimentares e o sabor pode ser o determinante mais importante nestas escolhas. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Os receptores sensoriais do paladar são as papilas gustativas. São constituídas por células epiteliais, localizadas em torno de um poro central, na membrana da mucosa basal da língua. Na superfície de cada uma das papilas gustativas observam-se prolongamentos, finos como pêlos, projetando-se em direção da cavidade bucal: microvilosidades. Estas estruturas fornecem a superfície receptora para o paladar. As papilas podem ser circunvaladas, foliáceas, fungiformes e filiformes e podem estar localizadas na língua, palato, faringe, laringe e esófago superior. O sentido gustativo e olfativo são chamados de “sentidos químicos”, porque os seus receptores são excitados por estimulantes químicos, capacitando-nos para separar alimentos indesejáveis, e até mesmo letais, dos que são nutritivos. Ambos os sentidos estão fortemente ligados a funções emocionais e integrantes primitivos do nosso sistema nervoso. A percepção do sabor é iniciada quando as moléculas químicas, provenientes dos alimentos, interagem com as microvilosidades localizadas na zona apical dos receptores das células gustativas (transmissão parácrina). Os receptores ativam as sinapses, promovendo a libertação de neurotransmissores, que causam excitação das fibras nervosas. Os sinais são transmitidos ao cérebro, onde se processa a informação, resultando na percepção do sabor (transmissão neurócrina). A percepção do paladar é um elemento chave para a determinação das preferências e hábitos alimentares, uma vez que nos permite selecionar alimentos de acordo com os nossos desejos e, muitas vezes, de acordo com as nossas necessidades metabólicas. Sabemos que uma pessoa consegue percepcionar, literalmente, centenas de sabores diferentes, que supostamente são combinações de sensações elementares. A distribuição dos quatro receptores gustativos na superfície da língua não é homogénea, associando-se a região apical da língua ao doce, as laterais ao salgado e azedo e a posterior ao amargo. No entanto, atualmente sabe-se que todas as papilas gustativas possuem um determinado grau de sensibilidade para cada uma destas sensações primárias. Diferenças individuais na percepção do sabor amargo, doce, umami, azedo ou salgado podem influenciar hábitos alimentares, afetando o estado nutricional e condicionando Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância a expressão do risco individual de doenças crónicas. Para além destes cinco sabores tradicionais, tem surgido um novo sabor, denominado de fat taste, que será oportunamente abordado. Embora a base molecular para alguns destes sabores ainda permaneça relativamente obscura, a percepção de cada um parece ser mediada por um mecanismo diferente. Sabores salgados são detectados pelos membros da família dos receptores do canal iónico, enquanto a proteína G veicula o sabor amargo, umami e doce. Os genes codificadores de vários desses receptores foram identificados, e incluem a família dos genes TAS2R para amargo, a família TAS1R para doce e umami e PKD2L1 e PKD1L para o sabor azedo. A modulação da função sensorial pode ajudar os animais à adaptação necessária a uma mudança do ambiente externo e interno. Através da imuno-histoquímica, da bioquímica e de pesquisas comportamentais, descobriu-se que a hormona GLP-1 e o seu receptor (GLP-1 R) estão expressos nas papilas gustativas em mamíferos. Parece que o GLP-1 de sinalização, desempenha um papel importante na modulação do sabor doce e umami. Está também envolvido numa ampla gama de funções fisiológicas, como a regulação da homeostasia da glicose, da ingestão alimentar, o controle do peso Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância corporal, a regeneração neuronal do sistema nervoso central, a aprendizagem e memória, a função cardíaca e ainda a reabsorção óssea. Será seguidamente abordada a fisiologia de cada sabor. Sabor Amargo O sabor amargo é o sabor mais estudado. Compostos com sabor amargo são omnipresentes na natureza e são estruturalmente diferentes a nível molecular. Muitos destes compostos são de origem vegetal, estimando-se que 10% contêm glicosídeos tóxicosou alcalóides. Os alcalóides incluem muitos dos agentes usados em medicamentos, como quinina, cafeína, estricnina e nicotina. Algumas substâncias que, de início, dão a sensação de doce provocam uma sensação final de amargo. Isto acontece, para a sacarina, tornando-a desagradável para algumas pessoas. Outras substâncias amargas são geradas durante o processamento, aquecimento, fermentação e envelhecimento dos alimentos. A tolerância para o sabor amargo varia com a idade, sendo menor nas idades extremas (infância e velhice). Existe uma tendência inata para rejeitar alimentos azedos e amargos, com origem nos primórdios do Hommo Erectus. Efetivamente, muitas substâncias com sabor amargo são nocivas, e o desenvolvimento desta percepção provavelmente evoluiu visando evitar o consumo de toxinas vegetais e proteger a espécie. Tal fato pode ter contribuído para antipatia generalizada a produtos hortícolas entre as crianças e adultos. Existem, no entanto, fontes alimentares nutricionalmente importantes, que justificam sobejamente a sua utilização na dieta, tais como brócolos, espinafre, couve-flor, repolho, agrião e rúcula. Fitoquímicos (como por exemplo, polifenois, metilxantinas, isoflavonas, sulfamidas) presentes em alguns alimentos como, queijos, produtos de soja, uva, cerveja, chá verde e café conferem-lhes sabor amargo, no entanto são importantes na proteção contra uma série de doenças. O paladar amargo é uma característica variável, e a sua base genética foi identificada há 75 anos, através de uma série de estudos sobre as respostas individuais à feniltiocarbamida (PTC). A PTC e os compostos relacionados com o propiltiouracilo (PROP) são membros das tiouréias e contêm uma molécula de tiocianato. Muito Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância embora a PTC e o PROP não ocorram naturalmente nos alimentos, eles estimulam o sabor amargo em alguns indivíduos, pelo que frequentemente são utilizadas em estudos para avaliar a relação entre a genética e a percepção do sabor amargo. A variabilidade da resposta à sua aceitação correlaciona-se com a sensibilidade gustativa para outras substâncias amargas presentes nos alimentos e permite classificar os indivíduos em 3 grupos: super sensíveis = Super-tasters; moderadamente sensíveis = Tasters; ligeiramente ou não sensíveis = Non-tasters. A proporção de Non-Tasters varia entre as populações. Efetivamente, cerca de 70% de indivíduos caucasianos nos E.U.A e Europa Ocidental acham estes compostos (tiouréias) moderada a intensamente amargos (Tasters) e destes, uma pequena percentagem são altamente sensíveis, sendo classificados como Super-Tasters. Os restantes 30% da população percepcionam apenas um sabor ligeiramente amargo ou completamente sem sabor - Non-Tasters. Já na África Ocidental, a prevalência de ser Non-Taster é de 3%, na China os valores variam entre 6%-23%, sendo que na Índia têm sido relatados valores superiores a 40%. Desde a idade pediátrica, uma maior sensibilidade ao PROP tem sido associada a uma menor aceitação de alimentos da família das crucíferas e outras hortaliças, salada de frutas e a uma variedade de outros alimentos incluindo café amargo, queijo cheddar, tofu e chá verde. Tendo por base os resultados previamente referidos, a aceitação dos alimentos amargos, baseada na percepção do paladar, terá uma base genética. Efetivamente, parece que a percepção do sabor amargo é mediada pelo receptor T2RS, uma família de proteína G acoplada a receptores gustativos, com sete domínios trans-membranares e um curto terminal N extracelular. Os T2RS estão localizados dentro das papilas circunvaladas e foliadas, em menor quantidade nas papilas fungiformes e estão ainda presentes no palato e epiglote. Nos seres humanos, os T2RS são codificados por cerca de 25 genes funcionais (TAS2R) localizados nos cromossomos 5, 7 e 12. O haplótipo TAS2R38 foi identificado como o gene para a sensibilidade ao PTC, composto utilizado em estudos de paladar previamente descritos. Curiosamente, o genótipo Taster TAS2R38 parece associar-se a uma preferência por alimentos de sabor doce em crianças, mas não em adultos. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Efetivamente, indivíduos com maior sensibilidade ao sabor amargo, tendencialmente, evitam vegetais ricos em antioxidantes, consumindo em alternativa doces e gorduras, com consequente aumento potencial do risco de doença cardiovascular, entre outras. Existe uma associação entre a sensibilidade ao sabor amargo e as preferências alimentares, facto que, em última instância, tem implicações na saúde. Sabor Doce Tal como acontece com o sabor amargo, o sabor doce, não é causado por qualquer classe isolada de agentes químicos, mas contrariamente ao sabor amargo, as substâncias doces são percepcionadas como agradáveis, possivelmente refletindo as pressões evolutivas para selecionar os alimentos ricos em energia. Está bem estabelecido que as substâncias de sabor doce provocam reflexos cefálicos e, portanto, receptores de sabor doce na língua e palato podem ser importantes para iniciar a pré- resposta metabólica de absorção alimentar. Células sensíveis ao doce, nomeadamente as integrantes das papilas gustativas, possuem um receptor para a leptina. O aumento da leptina plasmática, associado ao aumento do armazenamento de energia no tecido adiposo, suprime respostas ao sabor doce. Desta forma, parece que a leptina modula a percepção do sabor doce, com variação diurna em seres humanos. Esta modulação influencia as preferências individuais, tendo assim um papel importante na regulação da homeostasia energética. Reconhece-se que os seres humanos, apresentam diferenças inter-individuais nos limiares de detecção do sabor doce. Um estudo recente, com gémeos monozigóticos (MZ) e dizigóticos (DZ), mostra que a contribuição genética aditiva para a discriminação e para o agrado da intensidade de uma solução doce foi respectivamente de 33% e 49%. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Sabor Umami A palavra umami é usada para descrever o sabor da carne e dos salgados, e vem de um termo japonês que significa "bom gosto" ou "delicioso". Como acontece com o sabor doce, os animais são atraídos pelo sabor umami. A principal substância que fornece sabor umami em seres humanos é o L-glutamato, um aminoácido encontrado em abundância em alimentos e que muitas vezes ocorre sob a forma de glutamato monossódico (MSG). Também o L-aspartato é responsável pelo sabor umami em humanos. O sabor umami do MSG e do L-aspartato é reforçado pelos nucleotídeos 5-monofosfato purina inosina (IMP) e 5-monofosfato de guanosina (GMP). Estes compostos são encontrados naturalmente numa grande variedade de vegetais, como tomate, batata, cogumelo, cenoura e algas diversas, bem como no peixe, marisco, carne e queijo. A aceitação generalizada do umami como um sabor distinto ocorreu lentamente. Sabor Azedo A percepção do sabor azedo é provocada por ácidos, isto é, pela concentração de hidrogénios. Estes estimulam as células gustativas, provocando despolarização induzida pela entrada de cálcio no receptor destas células. Acredita-se que a percepção do gosto azedo possa ajudar a prevenir o consumo de alimentos estragados, ou servir como um indicador de maturação do fruto. Fontes de sabor azedo incluem moléculas inorgânicas (ácido clorídrico) e compostos orgânicos, tais como os ácidos acético, cítrico, láctico e tartárico. Normalmente,estes compostos são produtos naturais da fermentação e podem ser encontrados na maioria das frutas e produtos hortícolas, em produtos de origem animal e ainda no vinho. Concluímos que, quanto mais ácido o alimento, mais forte é a sensação de azedo. Sabor Salgado A fonte mais abundante, na dieta, do sabor salgado, é o cloreto de sódio (NaCl). Outros tais como amónia, potássio e lítio, também obtêm respostas de sabor salgado, muito embora estes últimos, ao invés de meramente salgado, parecem estar associados Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância a um sabor amargo, ácido ou de adstringência. O NaCl e o cloreto de potássio (KCL), bem como o sódio e o potássio da dieta, são determinantes da manutenção de processos fisiológicos, nomeadamente sinalização nervosa e muscular, transporte activo trans-membranar, manutenção do volume celular, pH, concentração celular e regulação de outros como o cálcio, demonstrando a importância do consumo de alimentos com sabor salgado na dieta. Apesar de não estar presente ao nascimento, a preferência pelo sabor salgado aparece por volta dos 4 meses de idade. Esta situação talvez ocorra devido à exposição a alimentos com sal. Parece que lactentes mostram preferências por sal quando lhe são oferecidos cereais sem adição deste, muito embora o leite humano apresente baixos teores de sal. Fat Taste A atração inata de mamíferos por alimentos gordurosos levantou a possibilidade da existência de um novo sabor dedicado à percepção da gordura. Durante algum tempo pensava-se que os lípidos dietéticos eram apenas detectados pelo trigémeo (responsável pela percepção da textura), olfato retronasal e efeitos pós-ingestivos. Sob uma perspectiva evolutiva, a percepção do fat taste pode ter evoluído no sentido de detectar alimentos de alto valor energético e selecionar os alimentos que contêm vitaminas lipossolúveis e ácidos graxos essenciais. Fisiologicamente, a detecção de gordura, na fase cefálica, pode ajudar na preparação do sistema digestivo para o metabolismo lipídico. É sabido que em situações de livre escolha, há uma tendência natural para o consumo de gordura. Os mecanismos de orientação de detecção da gordura têm sido tradicionalmente atribuídos à textura e ao olfato. Alguns resultados sugeriram que o receptor CD36 na língua estaria envolvido no fat taste, receptor este determinante para a detecção oral de ácidos gordos livres. O receptor CD36 é ativado através de uma cascata clássica envolvendo: (i) um lípido que medeia o aumento dos níveis de cálcio em células purificadas para CD36- positivas, (ii) o envio de sinais gerados pela gordura através do nervo glossofaríngeo e da corda do tímpano, (iii) a ativação da área gustativa do NST no tronco cerebral. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Conexões nervosas entre NST, cérebro e trato digestivo podem explicar a preferência pela gordura. Influência genética nas preferências alimentares Existem boas razões para suspeitar que a genética influencia as escolhas alimentares, dado que esta determina preferências e condiciona a sensibilidade ao sabor. Poucos estudos na área das preferências alimentares foram realizados, com amostras suficientemente grandes, para detectar hereditariedade moderada, sendo que a maioria tem apenas usado um pequeno número de alimentos. As correlações intra-familiares (mãe - criança) geralmente são modestas, no entanto tendem a ser mais fortes entre irmãos, talvez devido à proximidade de idades. Uma prova da forte influência genética sobre as preferências alimentares é fornecida através de estudos com gêmeos. Foi encontrada alta hereditariedade Treino do Paladar: marcadores precoces de uma alimentação saudável para a vida para alimentos com proteína e moderada hereditariedade para frutas, vegetais e sobremesas. Esta variação genética na percepção do sabor, poderá contribuir para diferenças nas preferências alimentares, especialmente para frutas e legumes. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Neofobia e Pickiness A neofobia alimentar caracteriza-se pelo medo ou relutância em comer novos alimentos, levando à sua evicção numa etapa determinante do desenvolvimento infantil. Ocorre tipicamente entre os 18 e 24 meses. Tem sido associada a traços de personalidade como a emotividade e ansiedade, que têm forte substrato genético, sugerindo que a neofobia em si pode também ser hereditária. Por outro lado, as preferências alimentares específicas muito embora modestamente hereditárias, são também influenciadas pelo ambiente familiar. Assim, as preferências alimentares são o produto de uma interação entre fatores genéticos e ambientais, resultando em substanciais diferenças individuais, que condicionam comportamentos de suspeita, exigência, gosto e aversão a determinados alimentos por parte das crianças. A maleabilidade das preferências alimentares, nos seres humanos, é considerada uma vantagem, uma vez que o desagrado por determinado alimento pode ser reduzido ou mesmo revertido por modelação e exposição a sabores, assunto que será oportunamente desenvolvido. Rozin & Fallon (1981) propuseram três principais razões para a rejeição de um alimento: (a) aversão às características sensoriais, (b) perigo ou medo das consequências negativas de comer e (c) nojo, com base em ideias sobre a natureza ou origem de um alimento. Em contraste, crianças pickiness (exigentes/esquisitas), são geralmente definidas como crianças que consomem uma variedade inadequada/insuficiente de alimentos, devido à rejeição de uma quantidade substancial de alimentos que tanto podem ser familiares como desconhecidos para elas. Parece que crianças com esta característica necessitam de muitas exposições para a aceitação de um novo alimento, comparativamente a crianças com neofobia, que ao fim de 15 exposições parecem reduzir o seu grau de rejeição. Neofobia e pickiness parecem estar intimamente ligados, e a tendência de rejeitar novos alimentos vai de mãos dadas com a tendência para rejeitar alimentos menos palatáveis, mas familiares. Os pais de crianças com essas características, preocupados com o consumo total de energia dos seus filhos “exigentes”, podem Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância "ceder" e servir os alimentos que estas mais preferem, reforçando e perpetuando este comportamento. A relutância em consumir novos alimentos parece, no entanto, mudar ao longo da vida. Durante os primeiros 4 meses de vida, as crianças tendem a aceitar facilmente até mesmo as fórmulas de sabor amargo, mostrando níveis moderados de neofobia alimentar até cerca do 1,5 - 2 anos de idade, seguindo-se um aumento significativo até aos 5 anos de idade, com uma consequente diminuição gradual nos anos seguintes. Modificação das Preferências do Sabor Embora os seres humanos estejam predispostos a preferir certos sabores e a suspeitar de novos alimentos, também estão predispostos a aprender com a experiência e, portanto, os fatores ambientais têm um papel de extrema importância nas preferências alimentares. Esses fatores podem variar com a disponibilidade de alimentos ou com a publicidade a que uma criança é exposta. No entanto, na vida de uma criança, os fatores mais importantes são aqueles relacionados com os pais e com o ambiente familiar. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para oNutricionista Ensino à Distância Psicologia e Nutrição Estas são áreas do conhecimento separadas pela tradição da estrutura acadêmica, mas que inevitavelmente se unem no contexto da saúde pública, particularmente quando se observa o tratamento da obesidade. Escolher uma alimentação saudável não depende apenas do acesso a uma informação nutricional adequada. A seleção de alimentos relaciona as preferências desenvolvidas, o prazer associado ao sabor dos alimentos, as atitudes aprendidas desde muito cedo na família, e a outros fatores psicológicos e sociais. É necessário, portanto, compreender o processo de ingestão do ponto de vista psicológico e sociocultural e conhecer as atitudes, crenças e outros fatores psicossociais que influenciam este processo de decisão com o objetivo de se tornarem mais eficazes as medidas de educação para a saúde e de se melhorarem os hábitos e os comportamentos. A aplicação dos conhecimentos de psicologia colabora com o nutricionista, pois este se encontra em uma posição favorável para motivar a mudança nos hábitos alimentares do paciente. O processo de mudança é árduo, pois a pessoa pode até saber o que comer, mas se sente muitas vezes, incapaz de fazê-lo. Então, se o profissional de Fatores Psicológicos, Emocionais e Comportamentais em Nutrição Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Terapia Cognitiva Comportamental nutrição tem a sensibilidade de captar quais são as razões que levam o paciente a ter determinado comportamento alimentar, pode com isto, ajudá-lo a lidar com as mudanças propostas. A motivação, no entanto, não é o único recurso no processo de adaptação as mudanças, por isso é preciso deixar explicito que para ter sucesso no tratamento é necessária a adesão do paciente e que este tenha consciência da responsabilidade sobre suas atitudes. A fim de otimizar e garantir a adesão dietética, o profissional nutricionista pode inserir técnicas baseadas na terapia cognitiva comportamental. A terapia cognitiva foi desenvolvida por Aaron T. Beck, na Universidade da Pensilvânia no início da década de 1960, como uma psicoterapia breve, estruturada, orientada ao presente, para depressão, direcionada a resolver problemas atuais e a modificar os pensamentos e os comportamentos disfuncionais. Desde aquela época, Beck e outros vêm adaptando com sucesso essa terapia para um conjunto surpreendentemente diverso de populações e desordens psiquiátricas. Essas adaptações mudaram o foco, a tecnologia e a duração do tratamento, porém os pressupostos teóricos em si permaneceram constantes. Resumidamente, o modelo cognitivo propõe que o pensamento distorcido ou disfuncional (que influencia o humor e o comportamento do paciente) seja comum a todos os distúrbios psicológicos. A avaliação realista e a modificação no pensamento produzem uma melhora no humor e no comportamento. A melhora duradoura resulta da modificação das crenças disfuncionais básicas dos pacientes. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância AS CRENÇAS Começando na infância, as pessoas desenvolvem determinadas crenças sobre si mesmas, outras pessoas e seus mundos. Suas crenças mais centrais ou crenças centrais são entendimentos que são tão fundamentais e profundos que as pessoas freqüentemente não os articulam, sequer para si mesmas. Essas ideias são consideradas pela pessoa como verdades absolutas, exatamente o modo como as coisas “são”. Por exemplo, um paciente que pensa o quanto é difícil emagrecer, poderia ter a crença central “Eu não consigo”. Essa crença pode operar apenas quando ele está em um estado diante do alimento ou pode estar ativada grande parte do tempo. Quando a crença central está ativada, o paciente em questão interpreta as situações através da lente dessa crença, embora a interpretação possa, em uma base racional, ser patentemente uma inverdade. O paciente, no entanto, tende focalizar seletivamente informações que confirmam a crença central, desconsiderando ou descontando informações que são contrárias. Desse modo, ele mantém a crença mesmo que ela seja imprecisa e disfuncional. As crenças centrais são o nível mais fundamental de crença; elas são globais, rígidas e super-generalizadas. Os pensamentos automáticos, as palavras ou imagens reais que passam pela cabeça da pessoa, são específicos à situação e podem ser considerados o nível mais superficial de cognição. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Pensamentos automáticos Um grande número dos pensamentos que temos a cada dia faz parte de um fluxo de processamento cognitivo que se encontra logo abaixo da superfície da mente totalmente consciente. Esses pensamentos automáticos normalmente são privativos ou não-declarados, e ocorrem de forma rápida à medida que avaliamos o significado de acontecimentos em nossas vidas. Clark e colaboradores (1999) usaram o termo pré-consciente ao descrever os pensamentos automáticos, pois essas cognições podem ser reconhecidas e entendidas se nossa atenção for voltada para eles. Pessoas com transtornos psiquiátricos, como depressão ou ansiedade, frequentemente vivenciam inundações de pensamentos automáticos que são desadaptativos ou distorcidos. Esses pensamentos podem gerar reações emocionais dolorosas e comportamento disfuncional. No caso de pacientes em reeducação alimentar, pensamentos sabotadores muito comuns são: Não tem problema se eu comer isso, porque... Comer isso não vai fazer diferença. É muito injusto eu não poder comer o que quero, ter nascido assim. Já que exagerei um pouco, não adianta continuar, vou comer o que eu quiser o resto do dia. Não posso desperdiçar alimentos. Não adianta fazer dieta, tenho tendência a engordar. Minha amiga vai pensar que sou mal educada se não comer o bolo que ela fez. Não suporto estar com fome, nem ver algo delicioso na minha frente sem comer. Cabe ao paciente identificá-los e a cada pensamento sabotador identificado, temos que tirar da manga uma resposta mais funcional e adaptativa. E repeti-la a cada situação, com persistência, pensando sempre nos motivos que se tem para perder peso. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Adesão e Motivação Revisando a literatura sobre a falta de adesão de pacientes e os processos sociais e psicológicos que permeiam a relação médico paciente, houve relato que 38% dos pacientes deixam de seguir um tratamento agudo recomendado (por exemplo, uso de antibióticos); 43% dos pacientes não aderem a um tratamento crônico (por exemplo, tratamento antihipertensivo), 75% dos pacientes não seguem as recomendações médicas relacionadas às mudanças no estilo de vida, como restrições alimentares, abandono do fumo e outros. As pessoas que persistem numa dieta de valor energético muito baixo, podem perdem até 20kg em média em 12 a 16 semanas. A maioria destes indivíduos, contudo, recuperam o peso dentro de um curto período de tempo. Muitos deles então reiniciam o processo de dieta e recomeçam o ciclo. Apesar dos termos complacência e adesão serem utilizados invariavelmente na literatura, dando a impressão que têm o mesmo significado de adesão, eles apresentam uma diferenciação: Complacência tem sido definida como a extensão na qual o comportamento alimentar e os alimentos consumidos pelo pacientecoincidem com as recomendações e prescrições dietéticas. Neste caso, o “conselheiro” é quem decide autoritariamente o que seria melhor para o indivíduo, que é passivo e complacente. A palavra adesão pode sugerir maior participação do cliente na resolução dos problemas e tomada de decisões sobre as mudanças alimentares, que são comportamentos voluntários. A motivação pode ser conceituada como alguma coisa que faz uma pessoa agir, ou o processo de estimular uma pessoa a agir. A palavra é frequentemente utilizada para Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância descrever aqueles processos que instigam um comportamento; fornecem direção e propósito ao comportamento; permitem a persistência do comportamento; conduzem às escolhas ou preferências de um determinado comportamento. A motivação é complexa e muitas variáveis intrínsecas e extrínsecas, influenciam o processo em determinado momento. As influências motivacionais de hoje podem ser diferentes do amanhã, e metas a curto prazo podem preceder sobre as de longo prazo. O problema é que, tornar-se ou permanecer saudável, ou aprender o que alguém precisa para um cuidado apropriado em saúde e estética, envolve metas a longo prazo, enquanto comer uma torta de chocolate, “só desta vez”, satisfaz uma meta a curto prazo de prazer. A motivação intrínseca surge do indivíduo, pertence aos seus desejos, necessidades, direções ou metas. Um indivíduo que recentemente sofreu um ataque cardíaco pode estar intrinsecamente motivado a mudar sua prática alimentar. Fatores externos ou extrínsecos podem suplementar positiva ou negativamente esta motivação. Exemplos de fatores externos que atuam positivamente, incluem o suporte familiar, o prazer e as recompensas materiais. Uma motivação pessoal em seguir as recomendações dietéticas, pode ser prejudicada em ocasiões sociais, ou devido a falta de suporte familiar e de amigos. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Entrevista Motivacional No controle de peso, a manutenção pode ser definida como uma perda de peso que será mantida ao longo do tempo. Ao contrário, a recaída é a subsequente recuperação do peso perdido. Não existe um acordo geral de como quantificar estes constructos e a literatura contém várias definições utilizadas por diferentes investigadores: • Perdedores bem sucedidos: indivíduos que perderam 9kg ou mais e mantiveram a perda por um ano ou mais; • Recuperadores: indivíduos que perderam peso, mas recuperaram 20% ou mais; • Mantenedores: indivíduos que recuperaram menos de 20%; • Maus mantenedores: indivíduos que recuperaram mais de 50% do peso previamente perdido; • Bons mantenedores: indivíduos que recuperaram menos de 20% do peso previamente perdido. Na verdade, tão importante seja compreender como ocorre a mudança comportamental associada ao objetivo de perda de peso, como conhecer os seus processos (cognitivos, comportamentais, emocionais) e etapas. Destaca-se, ainda, que a intervenção terapêutica na redução e no controle do peso depende da capacidade de mobilização, da motivação em adotar, a longo prazo, um estilo de vida que permita atingir os objetivos estabelecidos. Motivação essa que é o combustível de todo o processo de mudança. O terapeuta tem um papel importante neste processo motivacional e, com base em algumas técnicas facilitadoras, pode facilitar os processos comportamentais. Uma das propostas mais sustentadas pela literatura como efetiva em termos motivacionais para a cessação de comportamentos patogênicos é a entrevista motivacional. A entrevista motivacional foi inicialmente descrita por Miller, tendo evoluído de forma empírica no contexto de tratamento de problemas relacionados com o consumo Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância de álcool. Trata-se de um conjunto de estratégias relacionais que, em contexto de intervenção terapêutica, tem revelado ser eficaz e efetiva para a promoção e adoção de comportamentos de saúde. Autores descrevem a entrevista motivacional como sendo um modelo de intervenção constituído por duas fases: na primeira, a ênfase é posta na promoção de motivação intrínseca e, na segunda, a tônica é colocada no compromisso com a mudança. Pretende-se que seja o paciente a entender como relevante, para si mesmo, a mudança em causa. Os princípios desta intervenção são (a) reflexão empática, (b) desenvolvimento de discrepância, (c) acompanhamento da (em vez de combate à) resistência, e (d) promoção de auto-eficácia. A entrevista motivacional integra os princípios da terapia centrada no paciente com outras estratégias de intervenção mais diretivas (nomeadamente, dos modelos cognitivo-comportamentais), utilizadas em função do estádio de mudança em que se encontra. A entrevista motivacional é mais direta e orientada para o objetivo de mudança, dando maior ênfase à resolução de discrepâncias e à promoção de motivação para a mudança. Um conceito central deste modelo de intervenção é a ambivalência (que pode ser entendida como relutância à mudança), encarada como uma experiência humana normal e não como uma patologia ou como resistência terapêutica (esta última designando uma atitude defensiva e/ou desafiante perante as tentativas de apoio do terapeuta à mudança). Entende-se que é essencial trabalhar a ambivalência associada ao processo de mudança para conseguir a mudança desejada (por ambos – paciente e terapeuta). Na entrevista motivacional, o conceito de resistência é entendido como um processo interpessoal/relacional que surge no contexto da relação terapêutica e que implica necessariamente uma atitude pró-ativa por parte do terapeuta no sentido de resolver o impasse. Verbalizações como “tento fazer tudo como me tem dito, mas não estou a emagrecer... o Dr. tem de encontrar outra solução para o meu problema” ou “ainda não fiz a dieta como me propôs porque esta semana tive uma série de jantares de trabalho”, mais do que ilustrativos das dificuldades em mudar no dia-a-dia, mostram ambivalência Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Comportamento Alimentar em aderir verdadeiramente a comportamentos promotores do cumprimento dos objetivos terapêuticos. Nestas circunstâncias, e na perspectiva da entrevista motivacional, há resultado em qualquer intervenção de redução ou controle de peso, se houver um investimento terapêutico no sentido de ultrapassar a ambivalência. Um aspecto central da entrevista motivacional é a prontidão para a mudança. O comportamento é entendido como uma função conjunta de fatores filogenéticos, que operam durante o processo de evolução de uma dada espécie, e de fatores ontogenéticos, que operam nas interações de um dado organismo dessa espécie com seu ambiente. Cada espécie, em geral, e cada indivíduo, em particular, está sujeito a fatores genéticos na escolha de que tipos de alimentos consumir e da quantidade. Tem-se demonstrado que o papel dos genes é cada vez mais importante na determinação das relações palatabilidade – ingestão. Há evidências de que os genes podem estar na determinação de fatores tão gerais como preferências e responsividade a alimentos, ingestão, nível metabólico basal, atividade física, e gastos energéticos. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Certamente em humanos a questão da ontogenia assume primordial importância uma vezque, dentre todos os animais, o bebê humano é o que mostra maior dependência em relação aos seus genitores tendo, portanto, um longo período de socialização. Por outro lado, características essencialmente humanas permitiram o surgimento da cultura, fator este que não deve ser negligenciado no comportamento alimentar. Desta forma, poderíamos então falar de determinantes psico-biológicos para nos referirmos a essa multi determinação da conduta alimentar. O comportamento alimentar humano refletiria interações entre o estado fisiológico, o estado psicológico e as condições ambientais de um dado indivíduo. Assim, a capacidade para controlar a ingestão requer mecanismos especializados para harmonizar informações fisiológicas do meio interno com informações nutricionais do ambiente externo. As informações do meio interno dizem respeito a neurotransmissores, hormônios, taxa metabólica, estados do sistema gastrointestinal, tecidos de reserva, formação de metabólitos e receptores sensoriais. As informações do meio externo dizem respeito a características dos alimentos (sabor, familiaridade, textura, composição nutricional e variedade) e características do ambiente (temperatura, localidade, trabalho, oferta ou escassez de alimentos, assim como crenças sociais, culturais e religiosas). Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Os fatores biológicos da determinação do comportamento alimentar tiveram precedência como assunto de investigação científica e, hoje, dispomos de uma vasta literatura a respeito do assunto. Somente mais tarde surgiu o interesse por outros fatores que podem estar na gênese do comportamento alimentar. Dentre eles merecem destaque os fatores sócio-culturais (renda, regionalismo, tabus alimentares) e fatores psicológicos (aprendizagem, motivação, emoção). Ainda com relação aos fatores sócio-culturais merece destaque a questão ligada à propaganda de alimentos e à influência da mídia na determinação da dieta dos indivíduos. Talvez a mais remota influência do ambiente no comportamento alimentar seja ainda durante a gestação. Tem-se demonstrado, tanto em animais como em humanos, que o filho tende a consumir alimentos que foram consumidos pela mãe durante a gestação e lactação. Mais tarde este comportamento tende a se repetir com o consumo de alimentos que os adultos de seu grupo social consomem. Este comportamento provavelmente tem razões evolutivas uma vez que animais de diferentes espécies ingerem diferentes itens alimentares. Entretanto, desde logo se observam influências ambientais que participam na escolha de alimentos pelos jovens de uma dada espécie. Sabe-se que para uma alimentação adequada o indivíduo necessita de uma variedade de alimentos presentes em seu ambiente e que, muitas vezes, seu comportamento exige uma habituação a alimentos novos. Essa habituação se constitui em um dos processos mais simples de Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Modelo Transteórico aprendizagem mostrando que, desde muito cedo, a experiência tem um papel fundamental na formação dos padrões de aceitação ou recusa de certos alimentos. Desta forma, relações genes-ambiente determinarão, em grande parte, os itens alimentares normalmente procurados e consumidos, o que caracterizaria o que chamamos hábito alimentar ou comportamento alimentar do organismo. Deve-se ressaltar, entretanto, que o hábito alimentar não é sinônimo de “preferências alimentares”, uma vez que o termo “preferência” diz respeito somente ao fato de um dado organismo consumir os alimentos de que mais gosta quando lhe é dada a oportunidade da escolha. Utiliza estágios de mudança para integrar processos e princípios de mudança provenientes das principais teorias de intervenção, o que explica o prefixo “trans” de sua nomenclatura. Frequentemente, é também denominado modelo de estágios de mudança de comportamento. De acordo com esse modelo, as alterações no comportamento relacionado à saúde ocorrem por meio de cinco estágios distintos: pré- contemplação, contemplação, decisão, ação e manutenção. Cada estágio representa a dimensão temporal da Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância mudança do comportamento, ou seja, mostra quando a mudança ocorre e qual é seu grau de motivação para realizá-la. No estágio de pré-contemplação, a mudança comportamental ainda não foi considerada pelo indivíduo ou não foram realizadas alterações no comportamento e não há intenção de adotá-las num futuro próximo (considerando-se, geralmente, seis meses). Tal situação pode ser decorrente da falta de informações corretas sobre as consequências de seu comportamento ou refere-se à situação na qual o indivíduo já realizou diversas tentativas frustradas de alterar suas atitudes e atualmente não acredita mais em sua capacidade para modificá-las de forma efetiva. Ou seja, os indivíduos nesse estágio reconhecem a solução, mas não reconhecem o problema. Estes tendem a apresentar maior resistência, pouca motivação e são classificados como não prontos para os programas de promoção de saúde. Em relação ao comportamento alimentar, este estágio corresponde àqueles que não reconhecem suas práticas alimentares inadequadas ou não dispõem da motivação necessária para alterá-las. No estágio de contemplação, o indivíduo começa a considerar a mudança comportamental. Isto é, pretende-se alterar o comportamento no futuro, mas ainda não foi estabelecido um prazo para tanto. O indivíduo, portanto, reconhece que o problema existe, está seriamente decidido a superá-lo, mas ainda não apresenta um comprometimento decisivo. Nesse estágio, há conhecimento dos benefícios da mudança, mas diversas barreiras são percebidas, as quais impedem a ação desejada. Refere-se, por exemplo, ao indivíduo que reconhece que tem um padrão alimentar pouco saudável, mas acredita que a falta de tempo, o preço ou o sabor desagradável de alimentos tidos como saudáveis não possibilitam a adoção de uma dieta adequada. O indivíduo em decisão, estágio também denominado preparação, pretende alterar seu comportamento num futuro próximo, como no próximo mês. Geralmente, após ter superado tentativas anteriores frustradas, são realizadas pequenas mudanças e um plano de ação é adotado, ainda sem assumir um compromisso sério com o mesmo. Considerando-se uma mudança no comportamento alimentar, sugere-se que uma expressão característica desse estágio seja manifestar o seguinte desejo: “na próxima segunda-feira, começarei a dieta”. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Já os indivíduos em ação correspondem àqueles que alteraram de fato seu comportamento, suas experiências ou seu ambiente de modo a superar as barreiras antes percebidas. Tais mudanças são visíveis e ocorreram recentemente, como nos últimos seis meses. Trata-se de um estágio que exige grande dedicação e disposição para evitar recaídas. Por exemplo, um indivíduo que reduziu seu consumo de alimentos gordurosos, visando à melhora do perfil lipídico, e passa a reconhecer os primeiros benefícios da modificação de suas práticas anteriores poderia ser classificado em ação. No estágio de manutenção, o indivíduo já modificou seu comportamento e o manteve por mais de seis meses. O foco daqueles assim classificados é prevenir recaídas e consolidar os ganhos obtidos durante a ação. Cabe ressaltar que não se trata de um estágio estático, tendo em vista que há uma continuação da mudançade comportamento iniciada no estágio anterior. Em relação à alimentação, poderia corresponder a um adulto que passou por uma reeducação alimentar e adotou uma dieta saudável há mais de um ano. Há uma tendência de analisar os estágios de mudança de comportamento como uma sequência estática e linear. Contudo, observa-se que frequentemente indivíduos Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância classificados em ação não conseguem manter suas estratégias na primeira tentativa, o que promove uma nova classificação do indivíduo em estágios anteriores. Isto é, a ocorrência de recaídas é comum e leva a uma evolução dinâmica e a um delineamento em espiral do modelo de estágios de mudança. Uma abordagem holística é imprescindível para enfrentar o desafio de motivar os indivíduos para a adoção de uma alimentação saudável. Portanto, a ampliação do conhecimento sobre os inúmeros determinantes do comportamento alimentar é uma importante ferramenta para superar o desafio de transformar informações científicas de nutrição em mudanças reais das práticas alimentares. Sugestões de questões a inserir na anamnese: Qual sua percepção de alimentação saudável? Como você pensa sobre sua própria alimentação? Qual a imagem que tens de seu corpo? Quais são seus principais objetivos na nutrição? Sabe a diferença entre emagrecer e se manter magro? Qual seu grau de motivação? Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Imagem do profissional frente à escolha dos pacientes Felizmente o senso crítico das pessoas bem como a postura diante dos seus direitos vem tomado um rumo muito favorável e a civilidade agradece. O fato de o profissional da saúde ser cuidadoso, educado, oferecer informações com clareza e cumprir com suas obrigações de profissional da saúde, diante do cenário atual – o senso crítico mais apurado – já é de grande valia. Mas, se você é cortês, carinhoso, atencioso e, principalmente, detêm a confiança do seu paciente você está diante de um cenário que muito lhe favorece. E para que essas variáveis permaneçam a seu favor é indispensável a sua atenção em relação a alguns princípios ligados à imagem que se pretende projetar. Marketing Pessoal Profissional Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância É importante ressaltar que existe uma grande diferença entre trabalhar a imagem de um produto e trabalhar a imagem de uma pessoa, pois a imagem de uma pessoa (relacionada ao serviço que oferece) vai sendo construída à medida que o serviço é prestado, então, controlar esse processo exige muito mais rigor já que a construção da imagem é concomitante ao consumo. Alguns atributos como a estrutura física aliada às conveniências, identidade visual aliada à decoração, atendimento personalizado, mecanismo de contato com o paciente, dentre outros, formam os diferenciais competitivos que andarão lado a lado da construção e consolidação de uma imagem que favorece a relação profissional da saúde-paciente. A observação de alguns princípios ajudará o profissional da saúde a trabalhar essa construção permanente e benéfica. Assim, falaremos de alguns fatores que devem ser priorizados: A Estrutura Física aliada às Conveniências A Identidade Visual aliada à Decoração A Indicação do Paciente O Atendimento Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância A Estrutura Física aliada às Conveniências Quando falamos de estrutura física chamamos atenção fundamentalmente para a localização e, mais especificamente, para a sala de espera. É importante estar atento à relação entre a localização e o público o qual se atende. A localização da clínica ou do consultório agrega, sem dúvida algum, um valor para o serviço, portanto preocupe-se com o local onde os seus serviços serão oferecidos. As pessoas vão estar atentas à facilidade de acesso, estacionamento, conveniências oferecidas pelo local. E se você dispõe desses facilitadores não hesite em divulgá-los caso tenha a oportunidade ou mesmo num comunicado formal aos pacientes. Já na sala de espera é ali que o paciente tem suas primeiras impressões sobre o profissional. Pequenos cuidados tornam o ambiente mais funcional e atenuam a ansiedade do paciente, tais como: uma recepção organizada, confortável, agradável e bem sinalizada, disponibilização do toalete, água e periódicos. A Identidade Visual aliada à Decoração A disposição dos móveis, a luz, as cores, os sons, a organização da sala de espera (o estado que se encontram os periódicos), a higiene, tudo isso vai agregando valor à Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância imagem do profissional da saúde que presta o seu atendimento naquele local, ocasionando assim, um ambiente harmonioso. E para se estabelecer essa harmonia alguns fatores devem ser cuidadosamente levados em conta. São exemplos disso a exclusão de objetos que dificultam o acesso dos pacientes às outras salas e a produção de ruídos na sala de espera, pois os pacientes esperam e merecem um ambiente tranquilo. Quanto à decoração recomenda-se evitar o branco total nas paredes, pois lembra ambiente hospitalar. Também é importante manter alguma distância entre os sofás preservando a privacidade mínima do paciente. Vale lembrar que amontoar as pessoas remete à ideia de SUS. Poltronas, revistas de entretenimento e música ambiente acalmam as pessoas enquanto a TV, apesar de muitos adeptos, pode agitá-las ainda mais. A Indicação do Paciente Uma vez que o paciente opta por um determinado profissional ele já fez a sua escolha com base numa série de atributos os quais o levarão a recomendar à outra pessoa aquele profissional da saúde. Cabe ressaltar que determinados pacientes, que possuem um senso crítico mais aguçado, se dispõem a enfrentar congestionamentos, ir até mais longe, e inclusive até pagar mais caro para um serviço do qual se teve uma indicação. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância O Atendimento Nesse item falaremos de três tipos de atendimento: pessoal, telefônico e profissional. 1. Atendimento Pessoal Para qualquer que seja o atendimento é preciso estar atento às necessidades emocionais dos pacientes. Só o fato de ele estar ali na sala de espera já é motivado por um problema. Quando mencionamos atendimento pessoal devemos adotar como princípio que as pessoas que trabalham na linha de frente são os primeiros contatos que o paciente tem com o profissional da saúde, por isso, devem tentar passar a melhor impressão possível. Assim sendo, evidencia-se a necessidade do profissional da saúde ou da pessoa responsável pelo gerenciamento dos atendentes de estar atento a algumas características destes profissionais da linha de frente, como: 1. Gostar de gente – pois segundo especialistas, esta é a maior motivação para um profissional de atendimento assim como gostar de tratar bem as pessoas e de ter prazer em ser solícito. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância 2. Ter boa apresentação e postura fazendo uso de uniforme e crachá, maquiagemleve, adereços discretos, possuir uma postura profissional e estar munido de respostas para as dúvidas mais frequentes. 3. Conhecer suficientemente o serviço/ profissional da saúde com o qual trabalha. Cabe aqui tipo de formação acadêmica do profissional da saúde, feitos e obras, exames realizados e meios de contato entre profissional-paciente (e-mails e telefones). 4. Respeitar o momento do paciente e demonstrar interesse pelo problema apresentado. Essa deveria ser uma premissa básica no ambiente do paciente, pois ser paciente pressupõe que só o fato dele estar ali já é motivado por um problema. E tratar o paciente com o devido respeito ao seu momento já cria uma situação mais favorável. Vale ressaltar que pacientes menos estressados cooperam mais e estão mais propensos a se sentirem melhor depois da consulta. Os responsáveis pelo atendimento devem estar sempre atentos aos desejos, necessidades e solicitações implícitas do paciente antecipando-se e indo além delas. Devem ainda demonstrar interesse fazendo o paciente sentir-se especial adotando alguns critérios: Chame-o pelo próprio nome; Receba-o bem; Ouça-o atentamente; Ofereça-o água, café e o que mais dispor; Indique o toalete; Seja simpática (o); Pergunte se precisa de algo mais; Ofereça-se para marcar a consulta com o profissional da saúde para o qual foi indicado. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância É muito importante lembrar que os pequenos detalhes fazem toda a diferença para o paciente. 2. Atendimento Telefônico O atendimento telefônico é um mecanismo de grande potencialidade e sua boa utilização depende de um diálogo que envolve perguntas e respostas dinâmicas e imediatas, refletindo assim, uma imagem favorável da empresa. E para isso é preciso compreender o sentido de saber falar e escutar. Um bom atendimento transmite uma mensagem de profissionalismo, causa uma boa impressão podendo até conquistar um “cliente” que estiver em dúvida com relação a um serviço ou a credibilidade do profissional, imprimindo, através de uma mensagem clara e segura, uma ideia de qualidade e presteza. Atendendo com presteza ao telefone o funcionário agiliza os processos para o paciente. Se não puder, naquele momento, resolver o problema dele solicite o numero do telefone e retorne a ligação com a informação mais precisa possível. Agindo assim, além de não deixar o paciente esperando não congestiona a linha. E para conseguir prestar um atendimento de qualidade é importante dispor de linhas telefônicas que deem conta da demanda. Alguns critérios devem ser considerados, como: Disponibilizar aparelhos adequados para a função; Atender ao telefone no primeiro toque ou no máximo até o terceiro; Padronizar o atendimento; Tratar as pessoas como Sra. ou Sr. independente da idade. Exceto crianças; Atender com simpatia; Ter domínio dos programas utilizados pelo profissional para cadastro de pacientes; Possuir um sistema de agendamento de consultas eficiente; Utilizar espera telefônica musical; Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Ser pró-ativo – procurar resolver ao máximo os problemas dos pacientes informando números de telefone de outros lugares que fazem os exames que a sua clínica/consultório não faz. 3. Atendimento Profissional Não há como negar o peso da palavra do profissional da saúde. A impressão que temos é a de que com ele encontraremos as respostas e resolveremos grande parte de nossas inquietações. Porém, mesmo diante dessa considerável vantagem vivenciada pelos profissionais da saúde – a de a profissão, por si só, carregar um valor – deve-se levar em conta que o senso crítico das pessoas, de um modo geral, anda atingindo níveis mais elevados. Sendo assim, e considerando os princípios do atendimento de qualidade, é preciso estar atento a alguns cuidados específicos criando um diferencial no seu atendimento: Procure ouvir atentamente seu paciente, pois muitas vezes ele só precisa mesmo conversar; Procure não atrasar: os compromissos dos seus pacientes são tão importantes quanto os seus; Marque horários e dias menos tumultuados para pacientes que demandam uma atenção maior; Esteja atento ao papel social da nutrição; Capriche na apresentação pessoal (competência e profissionalismo têm a ver com a roupa); Cuidar do visual representa disciplina, dinamismo, disposição, seriedade, respeito aos outros e a si mesmo; Abeque a sua linguagem aos pacientes – ele vai se sentir extremamente desconfortável ao ter que dizer que não está entende o que o nutricionista está dizendo; Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância Tenha um toque de bom humor; Seja simpático; Seja ético; Coopere; Cumpra promessas; Atenda aos telefonemas dos seus pacientes; Responda seus e-mails; Retribua presentes, cartões e convites. Evite: 1. Chegar atrasado – campeão das reclamações; 2. Estar despreparado (não ter os objetos e recursos que necessita – caneta, papel, relógio, agenda, cartão de visitas, no momento em que aquele item é indispensável); 3. Reclamar excessivamente das coisas; 4. Cometer erros do tipo ortográficos, de somar, de desatenção com horários. Os nutricionistas, de fato, fazem com que os outros se sintam melhor. Mas qual o problema dos prestadores de serviços em investir cada vez mais nessa relação? Ambos os lados tendem a ganhar e usufruir, de uma forma significativa, desse entrelaçamento. O paciente, porque além de sentir amparado se sentirá seguro, bem quisto e especial, enquanto o profissional da saúde, além de prestar um atendimento de qualidade, de estar exercendo seu compromisso social estará garantindo a fidelidade e o retorno dos seus pacientes. Apostila Curso Técnicas Psicológicas e Comportamentais para o Nutricionista Ensino à Distância O pós-atendimento fidelizando seu paciente Nesse tipo de atendimento – o atendimento do profissional da saúde – “não existe nada mais importante que a relação profissional-paciente. É no consultório, quando a pessoa paga para ouvir nossa opinião, que a nossa profissão se faz presente como ciência e arte. A dignidade de um profissional da saúde está na preservação dessa relação”. Então, crie mecanismo de contato e/ou de aproximação com o seu paciente: Cause a primeira boa impressão: tenha algum informativo que fale sobre a formação do profissional da saúde, feitos publicações, trabalhos voluntários para pacientes que estejam indo ao seu consultório/clínica pela primeira vez. Institua datas comemorativas: evite o final do ano (muitos já fazem) e priorize aquilo que acredita que seja mais importante para o seu paciente, isso é mais personalizado e menos convencional. Tenha um programa eficiente de marcação de consultas: junção de dados importantes para estar trabalhando com os mesmo futuramente. Institua um cartão de retorno de consultas: reforça a imagem e ajuda o paciente a se lembrar da consulta Tenha uma papelaria com identidade visual: denota organização e profissionalismo Envie uma carta agradecendo ao paciente a indicação a outro paciente Institua uma tabela de preços especiais. Ex.: Pacientes que não têm convênio e que pretendem continuar o tratamento. Envie uma carta de boas vindas ao paciente de primeira
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