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1 2 Atitude e comportamento alimentar Como e onde comer. Cuidado Algumas publicações avaliam o comportamento, na verdade, apenas consideram a compra e consumo de alguns grupos de alimentos. A nutrição carece de definições homogêneas sobre construtos. Comportamento alimentar envolve: Métodos; Reações; Maneiras de proceder com o alimento. Conceito Definição Consumo alimentar Ingestão de alimentos. Consumo nutricional Ingestão de energia, macro e micronutrientes. Comportamento alimentar Consumo; Modo de comer; Outras questões relacionadas. 3 Padrão alimentar Analise sobre os alimentos verdadeiramente consumidos. Estrutura Alimentar Horários, tipo e regularidade das refeições. Comportamento alimentar Como se come. Ações em relação ao ato de se alimentar. Atitude Alimentar Crenças, pensamentos, sentimentos, e ações. Habito alimentar Costumes e modo de comer de uma pessoa ou comunidade. Geralmente inconsciente. Escolha alimentar Seleção e consumo de alimentos que consideram aspectos do comportamento alimentar. Prática alimentar Forma com que os indivíduos se relacionam com a alimentação em diferentes âmbitos. Atitudes alimentares Refere-se à ingestão alimentar que independe dos estados de fome e saciedade, ou seja, não atende ás necessidades fisiológicas. É regulado pelo inconsciente, irracional, por emoções. São determinadas pelas qualidades sensoriais dos alimentos (sabor, cheiro, textura e aparência). Difere da nutrição, ou comportamento nutricional, á medida que esta é racional, cognitiva. Refere-se á adequação quantitativa e qualitativa da alimentação. Comportamento Alimentar Relaciona-se diretamente ao controle da ingestão alimentar -> como e de que forma se come. Conduz às escolhas. Harmonização entre informações do ambiente externo (sabor, familiaridade, textura, entre outras) e informações fisiológicas (ações de neurotransmissores e hormônios, taxa metabólica, sistema gastrointestinal, entre outras). 4 FOME, APETITE E SACIEDADE: Quando falo em informações fisiológicas: fome e saciedade são fundamentais na regulação da fisiologia do comportamento alimentar. FOME: necessidade fisiológica de comer, privação de energia. Não tem relação de especificidade com nenhum alimento. Fome não é sinal reativo de emoção. APETITE: fome hedônica, desejo de comer algo. Intimamente ligada ao prazer e satisfação. Não está relacionado a fatores biológicos. Provoca emoções. SACIEDADE: após ingestão de determinado alimento, sinais sensoriais, hormonais, nervosos: informações chegam ao cérebro. FOME + APETITE + SACIEDADE: dependem de um complexo sistema biopsicossocial que exige alto grau de interação: corpo e ambiente. Pacientes com problemas alimentares tem dificuldade em identificar sinais de fome e saciedade. Hábito de fazer dietas: incentiva fome, ignorar sinais, regras rígidas não internas regulam a alimentação. Dieta e compulsão: desregulação explica compulsão alimentar e transtornos alimentares, em pessoas suscetíveis. Eixo fisiológico: defesa do organismo: dietas nos levam a peso abaixo do nosso ponto de ajuste de ingestão e manutenção de peso. ECA: tentativa do organismo em restaurar peso adequado. Efeito sanfona; Desregulação: aumento de fome física (em resposta a estímulos visuais e olfativos – aumento de salivação e motilidade e diminuição da liberação de insulina e leptina – intimamente ligados aos sinais de fome e saciedade). Não se pode descartar fatores psicológicos: privação física e emocional. 5 Construção de um modelo comportamental Comportamento: maneira de se comportar ou se conduzir (condutas, procedimentos, conjunto de ações do individuo). Também é o conjunto de reações do individuo diante das interações meio ambiente e circunstâncias. Psicologia: diversas abordagens englobam as interações ambiente – social. Cada uma com sua premissa. Técnica Cognitiva (behaviorismo – analise do comportamento): principal Teorias e princípios da aprendizagem: Condicionamento clássico (Pavlov): Foi no estudo com animais em laboratório, em especial a digestão de cães, que Pavlov percebeu que alguns estímulos provocavam a salivação e a secreção estomacal no animal, o que deveria ocorrer apenas quando o animal ingerisse um alimento. A partir disso, ele percebeu que o comportamento do cão estava condicionado a esses estímulos, normalmente aplicados poucos instantes antes do cão se alimentar (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010). Por exemplo, acionando-se uma campainha antes de alimentar o cão, Pavlov percebeu que as reações no animal já se faziam presentes. Assim, o estímulo campainha provocou reflexos alimentares no cão (resposta) mesmo sem a presença do alimento. Constatou ainda, que o cão não podia ser enganado por muito tempo. Os reflexos sumiam se a comida não fosse dada ao cão logo (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010). Tipo de condicionamento é importante para explicar a associação (positiva ou negativa) que um consumidor faz de uma marca, por exemplo. O condicionamento 6 clássico também possibilita o entendimento de coisas comuns do nosso dia a dia, como o barulho de um despertador, que por si só não significa nada, mas nós relacionamos aquele barulho ao objetivo de acordar em um determinado momento. Condicionamento Operante (Skinner): Skinner foi o teórico behaviorista que mais influenciou o entendimento do processo ensino-aprendizagem e a prática escolar. No Brasil, a influência da pedagogia tecnicista remonta à segunda metade dos anos 50, mas foi introduzida mais efetivamente no final dos anos 60 com o objetivo de inserir a escola nos modelos de racionalização do sistema de produção capitalista (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010). A concepção skinneriana de aprendizagem está relacionada a uma questão de modificação do desempenho: o bom ensino depende de organizar eficientemente as condições estimuladoras, de modo a que o aluno saia da situação de aprendizagem diferente de como entrou (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010). O objetivo do behaviorismo skinneriano é o estudo científico do comportamento: descobrir as leis naturais que regem as reações do organismo que aprende, a fim de aumentar o controle das variáveis que o afetam. Os componentes da aprendizagem - motivação, retenção, transferência - decorrem da aplicação do comportamento operante. Segundo Skinner, o comportamento aprendido é uma resposta a estímulos externos, controlados por meio de reforços que ocorrem com a resposta ou após a mesma: "se a ocorrência de um comportamento operante é seguida pela apresentação de um estímulo (reforçador), a probabilidade de reforçamento é aumentada" (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010). Aprendizagem Social (Bandura): A Teoria da Aprendizagem Social é uma ferramenta teórica importante, já que trata da aprendizagem de novos comportamentos a partir da observação de modelos comportamentais. O meio social em que vivemos determina de forma significativa o desenvolvimento humano. Capacidade de reproduzir um comportamento observado. 7 Distingue-se de outros tipos de aprendizagem por basear-se na imitação. Construção do modelo e o papel do nutricionista: Identifica comportamento disfuncional e habitual; Modifica cognições; Ensina novas estratégias de mudança comportamental. Não desconsiderar que o comportamento alimentar reflete interações entre estado fisiológico, psicológico e ambiental. Foco da mudança é nos comportamentos inadequados e disfuncionais: Mentalidade de dieta; Hábitos; Prazer; Ingestão alimentar e suas escolhas. Exemplo: Propor modificações do consumo, estrutura e atitudes alimentares. Encorajar o paciente para tentar novas atitudes e experiências; trabalhar com exposição (combinadase programadas com o paciente, é um estratégia para situações de aversão e/ou fobias). Relacionar aspectos psicológicos e nutricionais: Os atributos importantes: um amplo conhecimento da ciência da nutrição, habilidade no aconselhamento educacional e comportamental e uma atitude empática e de não julgamento. Deve estabelecer, juntamente com o paciente, metas individuais de acordo com a necessidade específica de cada paciente. MUDANÇA DE COMPORTAMENTO: nutricionista não deve se prender a regras rígidas, como a prescrição de dietas. 8 Metas devem atender às necessidades mais urgentes do paciente, mas que também devem levar em conta a capacidade do paciente alcançá-la naquele momento. Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) A Terapia Cognitiva desenvolvida por Aaron Beck, na Universidade da Pensilvânia no início da década de 60. Uma ferramenta para trabalhar a mudança de comportamento Princípio: emoções e comportamentos são determinados pela forma que interpretamos a realidade. Nutricionista: não aprofunda a análise das emoções: Técnicas TCC adaptadas à nutrição; Parte do aconselhamento nutricional; Ajudar a resgatar os sinais internos de fome, saciedade e o prazer em comer. Abordagem sistemática para lidar com problema, doença ou condição irregular. É uma integração das abordagens: Cognitiva: tudo que passa por nossa mente (sonhos, lembranças, imagens, pensamentos). Comportamental: o que se faz o que se diz como resolve seus problemas, como age como evitar situações. 9 CRENÇAS: Desenvolvidas ao longo da vida. Incorporadas como verdades absolutas não acessadas pelo cérebro de maneira consciente. Crença central negativa: Desemparo: certeza (inconsciente) de que é incompetente/fracasso. Desamor: certeza (inconsciente) de que será rejeitado. Desvalor: certeza (inconsciente) de ser inaceitável e sem importância. Objetivos da TCC: Compreender os processos que mantem a condição do sofrimento emocional. Identificar ideias, memorias, pensamentos e comportamentos prejudiciais. Refletir e testar novos paradigmas de pensamento e comportamento. Princípio 1 A terapia cognitiva se baseia em uma formulação em contínuo desenvolvimento do paciente e de seus problemas em termos cognitivos: Identificar o pensamento atual que ajuda a manter a dor emocional; Os comportamentos problemáticos; Os fatores precipitantes; Crença central Crença intermediária Pensamento automático Resposta Emocional Comportamental Psicológica 10 Os eventos chaves (fatores predisponentes); E os padrões duradouros de interpretação (crenças). Princípio 2 A terapia cognitiva requer uma aliança terapêutica segura: Cordialidade; Empatia; Atenção; Respeito genuíno e competência. Princípio 3 A terapia cognitiva enfatiza a colaboração e a participação ativa: Encorajar o paciente a ver o tratamento como um trabalho em equipe. Princípio 4 A terapia cognitiva é orientada em meta e focalizada em problemas: Desde a primeira sessão procura-se enumerar os problemas e estabelecer metas específicas. Princípio 5 A terapia cognitiva inicialmente enfatiza o presente Iniciar com o exame de problemas no aqui-agora, independentemente do diagnóstico e da história passada. A atenção volta-se para o passado em três circunstâncias: 1. Quando o paciente expressa uma forte predileção a fazer isso; 2. Quando o trabalho voltado em direção a problemas atuais produz pouca ou nenhuma mudança cognitiva, comportamental e emocional; 3. Quando o terapeuta julga que é importante entender como e quando as ideias disfuncionais importantes se originaram e como essas ideias afetam o paciente hoje. 11 Princípio 6 A terapia cognitiva é educativa, visa a ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção da recaída: Educar o paciente sobre a natureza e o desenvolvimento do seu problema, sobre o processo de tratamento e o modelo cognitivo (como os pensamentos influenciam as emoções e os comportamentos) e a manter um registro de sua evolução, inclusive dificuldades e estratégias de enfrentamento utilizadas. Princípio 7 A terapia cognitiva visa a ter um tempo limitado: O tempo do tratamento é o tempo do paciente. Enquanto alguns pacientes resolvem seus problemas em dois meses outros precisam de dois anos ou mais. Princípio 8 As sessões de terapia cognitiva são estruturadas: Não importa qual o diagnóstico ou estágio do tratamento, o terapeuta cognitivo tende a aderir a uma estrutura estabelecida em cada sessão. Seguir um formato tende a tornar o processo de terapia mais compreensível, facilitando a aprendizagem do papel de auto terapeuta. Princípio 9 A terapia cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças disfuncionais: Para tal, o terapeuta ajuda o paciente a focalizar um problema específico; identificar seu pensamento disfuncional; avaliar a validade do seu pensamento e projetar um plano de ação. 12 Três técnicas importantes são utilizadas para esse princípio: Questionamento Socrático: consiste em fazer perguntas contínuas sobre o que o paciente pensa, levando-o a novas descobertas sobre seus próprios pensamentos. Empiricismo Colaborativo: consiste em experimentar o comportamento para verificar seus pensamentos e emoções. Descoberta Orientada: processo em que o terapeuta questiona o paciente sobre o sentido dos seus pensamentos a fim de lhe revelar as crenças subjacentes (atitudes, suposições ou regras) que mantém em relação a si mesmo, ao mundo e as outras pessoas. Princípio 10 A terapia cognitiva utiliza uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, o humor e o comportamento: O terapeuta seleciona técnicas com base em sua formulação de caso e seus objetivos em sessões específicas. Bases Metodológicas e Conceituação Cognitiva A terapia cognitiva baseia-se no modelo cognitivo, que levanta a hipótese de que as emoções e os comportamentos das pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos. Não é uma situação por si só que determina o que as pessoas sentem, mas sim, o modo como elas interpretam essa situação. Por exemplo: a leitura de um livro; a apreciação de um filme; a avaliação de uma aula. Cada indivíduo tem uma resposta emocional diferente para cada uma dessas situações com base no que está passando por suas cabeças naquele momento. 13 O modo como as pessoas se sentem está associado ao modo como elas interpretam e pensam sobre uma situação. Comer com atenção plena Mindful Eating A tradução aceita para o português é atenção plena, definida como capacidade de internacional de atenção ao momento presente, sem julgamentos ou críticas, onde há abertura e curiosidade. O comer consciente abrange ambos os processos internos e ambientes externos; O comer consciente é estar atento aos seus pensamentos, emoções, sensações físicas no momento atual; Com prática, o comer consciente cultiva a possibilidade de libertar-se dos padrões reativos, habituais de pensar, sentir e agir; O comer consciente promove o equilíbrio, a escolha, a sabedoria e a aceitação do que é; Permitindo-se a tornar-se ciente do positivo e nutrir as oportunidades que estão disponíveis através da seleção de alimentos e preparação, respeitando a sua própria sabedoria interior. Usando todos os seus sentidos na escolha para comer comida que seja satisfatória para você e nutritivo para o seu corpo. Reconhecendo respostas para alimentos (gostos, desgostos ou neutro), sem julgamento. Se conscientizando das indicações de fome e saciedade físicas para orientar suas decisões para começar e terminar de comer. 14 Princípios do mindful eating Aquele que come de forma consciente: Reconhece que não há nenhuma maneira certa ou errada para comer, mas diferentes graus de consciência em torno da experiência de comida; Aceita que suas experiências alimentares são únicas; É um indivíduo que, por escolha, direciona sua atenção para comer em uma base de momento a momento; Ganha consciência de como eles podem fazer escolhas que suporte a saúde e bem estar; Torna-se consciente da interligação da terra, os seres vivos e as práticas culturais e o impacto de suas escolhas alimentares nesses sistemas. 15 Comer Intuitivo - Intuitive eating Foi criado por duas nutricionistas americanas Evelyn Tribole e Elyse Resch. Tem como objetivo ensinar as pessoas as confiar na sua habilidade de distinguir suas sensações físicas e emocionais e desenvolvam a sabedoria corporal que atenda as suas necessidades. Essa abordagem não encoraja o uso de dietas como possibilidade de mudança de comportamento. A proposta é que os indivíduos mantenham uma sintonia com a comida, a mente e o corpo. Sinais costumam ser ignorados, p.e. Sinais de fome e saciedade. “Intuição” definição: Conhecimento imediato e claro, sem recorrer ao raciocínio. Busca interpretar sinais físicos e trazer consequência ao escutar nosso corpo. Autoconhecimento: extremamente importante na mudança do comportamento alimentar. 16 As pessoas que seguiram os princípios do Comer Intuitivo tiveram um menor IMC, maior sensação de bem estar e conseguiram manter o peso e as mudanças de comportamento por mais tempo. 17 Entrevista Motivacional Colóquio entre pessoas em local combinado, para obtenção de esclarecimentos, avaliações, opiniões, etc. • Técnica de aconselhamento em saúde; • Objetivo: motivações intrínsecas do paciente para mudança de comportamento por meio do diálogo profissional-paciente; • 1983: dependentes de álcool: aumentar motivação; • Orientações alimentares: consumo, frequência, parâmetros bioquímicos, atividade física, transtornos alimentares; • Alterações corporais, ganho ou perda de peso. Motivação: • Atingir objetivos • Comportamento incentivado, estimulado, energizado. Motivação é essencial para a vida, para entender o comportamento humano e para compreender o que faz com que alguém aja de determinada forma. Tema pouco explorado; Publicações com foco em DQ; Resultados questionados. 18 Motivação é um processo individual. Como motivar meu paciente? Motivação Intrínseca: Força interior. Pode mudar ao longo do tempo e sofrer influências internas e externas. Motivação Extrínseca: Gerada pelo ambiente. Pode tornar-se mais autônoma ou autodeterminada quanto mais internalizada e assimilada for. Aprender Superar-se Estímulo prazer Regulação externa Regulação introjetada Regulação identificada Regulação integrada 19 REGULAÇÃO EXTERNA Comer de determinada maneira para não levar bronca do nutricionista ou outra pessoa ou porque será recompensado caso fizer. Prêmios e coação, menos reconhecida como controle e considerada a forma menos autônoma de motivação. REGULAÇÃO INTROJETADA Comer de determinada maneira apenas para evitar sentimentos de culpa ou comer para melhorar autoestima, sentir orgulho (sentimentos de valor). Evita a culpa, o que é considerada outra forma pouco autônoma de motivação. REGULAÇÃO IDENTIFICADA Comer algum alimento apenas por acreditar que faz bem para a saúde, mesmo sem prazer (por recomendação nutricional, p.e.). Indivíduo faz pelo comportamento ser valorizado e aceito, com boa vontade mesmo sem ter prazer. REGULAÇÃO INTEGRADA Aceitar a inclusão de determinado alimento agregando valores culturais, memoria, sabor, satisfação, vontade e não só seu valor nutricional ou calórico. Mais próximo da motivação intrínseca, assimila completamente o comportamento sugerido externamente. Deve-se estimular incentivar e impulsionar o motivo de nossos pacientes. A motivação para realização de qualquer mudança se dá pela consciência, e depende do momento de vida da pessoa – desejo, confiança e prontidão para mudar. EM Espírito da EM: conceitos que norteiam a técnica e que embasam todas as habilidades e estratégias. Estilo da EM: elementos chave: respeito, empatia, colaboração, escuta. Habilidades da EM: maneira de conduzir à mudança. 20 Respeito Reconhecer e aceitar que o paciente tem autonomia sobre sua própria saúde. Cada um faz suas próprias escolhas sobre sua vida. O nutricionista pode informar orientar, advertir. Reconhecer que o paciente tem liberdade para fazer suas escolhas, é isso que torna a mudança possível, por mais contraditório que pareça. Empatia Capacidade de deixar seus julgamentos de lado e colocar-se no lugar do outro para entender sua situação. Escutar com empatia é o meio mais utilizado para entender as motivações do paciente. Colaboração Relação profissional-paciente. Busca parceria entre ambos, entendendo que os dois têm conhecimentos. O nutricionista deve fazer com que o paciente tenha papel ativo. 21 Etapas da EM segundo Berg-Smith 1. Iniciar a conversa: qual o motivo da procura profissional? Seja sutil. Você tem ideia de por que seu médico pediu para me procurar? Como você imagina que posso ajudar? Iniciar a conversa Construir e fortalecer a motivação Explorar a ambivalência Evitar o reflexo de consertar as coisas Planejar o próximo passo Finalizar a conversa Explorar a prontidão para a mudança Meu médico mandou 22 Como começou seu desejo de emagrecer? O que o fez desejar isso agora? O que exatamente você pensa em melhorar? Quais partes da sua alimentação você acredita que precisam ser melhoradas? O que exatamente você pensa em melhorar? Quais partes da sua alimentação você acredita que precisam ser melhoradas? Quero emagrecer Quero melhorar minha alimentação Preciso de uma dieta 23 2. Negocie a agenda Organize o planejamento terapêutico. Quais serão as metas. Defina junto com o paciente o que será trabalhado em cada encontro, uma organização da ordem cronológica das metas a serem trabalhadas. 3. Construa e fortaleça a motivação IMPORTANTE! Buscar as razões e argumentos para a mudança de determinado comportamento. Momento colaborativo nutri-paciente, porém focado. É o momento de trazer a tona os motivos intrínsecos da pessoa para a mudança. O fortalecimento do paciente significa dar voz para ele, para que ele tenha papel ativo na consulta, que consiga falar e ser escutado, onde a sua alimentação é discutida. 4. Evite o reflexo de consertar as coisas Muito comum em profissionais da saúde. Trabalhe a escuta. Paciente é resistente a persuasão. Comportamento “errado”, não “ideal”. O papel do nutricionista não é o de consertar as coisas! As pessoas sabem o que comer, o papel do nutricionista é reconhecer e aceitar os indivíduos como eles se apresentam - STATUS QUO. Status QUO: o jeito em que ele se encontra no momento. 5. Explore a ambivalência Coexistência de dois sentimentos, ideias opostas ou contraditórias entre si. Existe o lado pró-mudança e o lado contra mudança. Paciente fica paralisado ante a ambivalência. Nutricionista pode trazer a tona a motivação intrínseca e ser “imparcial” na escolha dos lados. 24 Você já teve experiências bem ruins com as verduras e acredito que já tenham recomendado muitas vezes que você as comesse. Você se importaria de compartilharum pouco como foi isso? Você se preocupa em melhorar seu diabete, mas tem algumas coisas que te impedem, e a dor para aferir a glicemia é uma delas. Como é essa dor? Como você se sente? O sal parece ser um ingrediente importante para você sentir o gosto da comida e é fundamental para você que ela seja bem temperada, porém você se depara com varias orientações para reduzir o sal da comida. Como foram suas experiência em relação a isso? Eu já tentei comer salada, mas elas não têm gosto Quero melhorar meu diabete, mas aferir a glicemia dói Eu sei que preciso reduzir o sal, mas é tão gostoso comida bem temperada Preciso comer menos, mas é tão gostoso comer o tempo todo 25 A comida perece um problema para você, pois você acredita que come muito. O que o faz pensar que come muito? A exploração da ambivalência sempre começa com uma reflexão, ou seja, devolve para a pessoa alguns pontos do que ela disse e que o nutricionista considera importante aprofundar. Inicia a conversa sobre determinado tema, para assim emergirem soluções, problemas, angustias, facilitadores e pontos a serem mais profundamente discutidos. Empatia. 6. Explorar a prontidão para a mudança Paciente está realmente pronto para a mudança proposta por vocês? Escala de zero a dez, assim o paciente consegue identificar melhor quanto está pronto, mas independente do grau de prontidão, é importante o nutricionista explorá-lo. Prós e contras podem ajudar. 7. Compartilhar informações No decorrer da consulta pode surgir a necessidade do paciente de informações sobre as metas que estão sendo trabalhadas. O entrevistador pode compartilhar informações que podem ser dadas a partir de falas do próprio paciente. Dados importantes, situações passadas. Fazer de maneira efetiva e respeitosa. “Você se importa se eu compartilhar com você alguns fatos?” “Posso compartilhar com você essas informações?” “Tudo bem para você se eu te falar o que sabemos desse assunto?” “As pesquisas/estudos sugerem/demonstram...”. “Outros pessoas/pacientes/clientes tiveram benefícios com...”. “O que nós sabemos é que...”. “O que nós geralmente recomendamos é...”. “Alguns pacientes na sua situação...”. 26 8. Planejar o próximo passo Explore metas, planeje com será feita a mudança. Conduza o paciente de maneira a tornar a mudança viável. 9. Finalizar a conversa Resumo da consulta, reforçando pontos principais e metas definidas para a próxima consulta. Discurso de apreciação e confiança no paciente. Algumas vezes pode-se ter a sensação de que algo não está bem no atendimento profissional, seja por falta de motivação do paciente, falta de interesse do profissional, falta de empatia e conexão entre as partes. Confira na tabela possíveis situações e possíveis soluções: SENTIMENTO OU SITUAÇÃO COMO CONSERTAR? Você sai do atendimento coma sensação de que repetiu várias vezes a mesma coisa, que se gravasse o que falou e repetisse nos próximos atendimentos seria exatamente a mesma coisa. Repensar suas estratégias de atendimento. Procurar ouvir se interessar realmente pelo paciente para descobrir as reais motivações dele. O paciente se mostra estar entediado, não olha para você, boceja, responde de forma monossilábica. Prestar atenção ao que o paciente está falando, olhar nos olhos, estar presente de corpo e alma, demonstrando curiosidade. O paciente responde as perguntas de forma pontual, sem explorar os sentimentos e pensamentos sobre o assunto. Evitar interromper a fala do paciente, deixando-o falar, e escutar com atenção e curiosidade. Você preenche um formulário enorme com perguntas fechadas sobre a saúde do seu paciente (papel ou computador). O ideal é ouvir seu paciente e fazer poucas anotações, pois o contato inicial é muito importante para criar vínculo. Quem é ouvido tende a estar mais apto para a mudança. 27 Durante o atendimento, só você fala, e o tempo todo você passa muitas informações de forma autoritária, julgando os comportamentos dos paciente, direcionando para o que você considera certo e saudável. Ouvir mais do que falar, explorar a motivação do paciente e sua possível ambivalência. Questionar o que ele quer mudar, o que já tentou antes, o que deu certo errado e quais são suas ideia no momentos para concretizar suas metas. Resumindo: a EM trabalha mudança de comportamento. Oferece um guia para condução da conversa, o que auxilia no trabalho de aconselhamento nutricional, e não a consulta prescritiva de nutrição. Vínculo e contrato com paciente. Ensina o nutricionista a focar no COMO em vez de simplesmente O QUE. É uma técnica de auxilio para o nutricionista. Modelo Transteórico de Mudança Terapia Transteórica: uma prática mais integrada e compreensiva. Teoria de mudança que explique como as pessoas mudam por si mesmas. Maioria das pessoas não faz terapia e, mesmo as que o fazem, se encontram em sessão por um breve espaço de tempo, mesmo em processos psicoterápicos de longa duração. Grande parte da mudança se dá nos intervalos entre as sessões e uma mínima parte no decorrer delas e, em vários casos, a ajuda a ser prestada está relacionada a uma melhoria da qualidade de vida da pessoa, em que não necessariamente se encontram envolvidos processos psicopatológicos. São os seguintes os estágios empiricamente definidos: pré-contemplação, preparação, contemplação, ação, manutenção e término. 28 Pré-contemplação Indivíduo não pretende mudar num futuro próximo! “A resistência em reconhecer ou modificar um problema é a marca da pré- contemplação”. Não aceita que precisa mudar, embora muitas vezes os outros ao seu redor procurem alertá-la ou pressioná-la à mudança. “- Talvez você devesse diminuir a quantidade de refrigerante”. - Deixa comigo, eu sei o que estou fazendo... Eu diminuo quando eu quiser!” “- Não seria bom você fazer um regime? - Para quê? Eu me sinto bem assim como estou!” Contemplação À medida que começa a admitir que tem um problema e a considerar a necessidade de enfrentá-lo, mas sem chegar realmente a fazê-lo, diz-se que ela está no estágio de contemplação. Prochaska: “Isto é contemplação: saber para onde você quer ir, mas ainda sem estar preparado para ir para lá”. Na prática diária são inúmeras as situações em que a passagem da intenção ao ato pode demorar meses, anos, ou mesmo nunca se concretizar. Preparação Quando se verifica alguma tentativa de mudança, mas ela não chega a ser bem- sucedida ou a persistir, fala-se que a pessoa se encontra no estágio de preparação. É, por exemplo, o caso do regime retomado toda segunda-feira, mas abandonado na quarta, porque se ficou nervoso com alguma coisa, ou porque a sobremesa do almoço era irrecusável. 29 Ação Há situações em que se é capaz de tomar decisões e realmente modificar os comportamentos, atitudes ou padrões relacionais: Este é o estágio de ação. Do ponto de vista prático, deve ocorrer uma mudança bem-sucedida com a realização de um objetivo e a evidência de que há um esforço real para isto. Manutenção Se há a persistência dessas atitudes ao longo de um período em que se pode verificar um esforço para impedir recaídas e consolidar os ganhos obtidos, configura-se o estágio de manutenção. Esforço para não retornar aos padrões de comportamento anteriores: o estagio de manutenção é visto como um processo ativo de mudança. A manutenção é evidente, por exemplo, num relacionamento em que após a superação de dificuldades, continua-se atento à necessidade de cuidar para que este não se deteriore e não se perca a qualidade do vínculo (re) conquistado. Término Quando os padrões de conduta resultantes da mudança encontram-se suficientemente estáveis, por não se ter motivo derecaída ou de retrocesso, pode-se falar em estágio de término. São os tradicionais casos de “cura”. Pré- contemplação Não pensa em mudar agora, não há motivação para mudança (“não está pronto, apresenta resistência”). Construir uma base, estabelecer um relacionamento e limitar confrontos. Investigar e estimular a motivação. Incentivar maio consciência sobre a decisão de mudar. Aumentar a percepção do paciente sobre os riscos e problemas do comportamento atual. Pensa a respeito, mas é ambivalente, pois tem motivos para mudar e para não mudar (fase de preparo e consciência). Identificar os problemas e fazer aconselhamento com base no encorajamento e nas vantagens e 30 Contemplação desvantagens de mudar. Reduzir os “contras” da mudança e começar a pensar em metas. Preparação Pretende fazer mudanças (estado de prontidão, antecipação) também chamada fase de “decisão”. Estruturar um plano para mudança. Construir auto eficácia. Oferecer ajudar para que o paciente encontre uma estratégia de mudança ou um objetivo que seja aceitável, apropriado e realizável. Proporcionar treino e assistência. Identificar passos e habilidades necessárias para a mudança gradual. Ação Tem alterações de comportamento (estado de entusiasmo e mudança). Provocar uma mudança na área do problema. Desenvolver plano de ação e compromisso de mudança, assistir, reforçar, encorajar, trabalhar a solução de problemas. Manutenção Mantém e sustenta as mudanças. Evitar recaídas e consolidar ganhos obtidos durante a fase de ação. Reforçar o novo comportamento. Esclarecer que lapsos e recaídas são normais e aproveitar para identificar o que o fez retomar os comportamentos de risco. Propor um plano de seguimento, suporte e fortalecimento. Explorar estratégias de superação. Término Embora se espere a progressão da mudança da pré-contemplação até o término, a prática mostra que a evolução não é necessariamente linear, já que inúmeros retrocessos podem ocorrer. Além disso, dificilmente acompanha-se o paciente até o estágio de término de um processo de mudança. 31 Por isso, faz-se importante ter atenção às técnicas de EM a fim de melhorar o prognóstico e aderência ao tratamento. Técnicas de Coaching e Neurolinguística para Mudança do Comportamento Alimentar PNL A PNL surgiu no início da década de 70. O objetivo era identificar padrões linguísticos e comportamentais utilizados por profissionais e poder aplica-los, e posteriormente ensiná-los, obtendo os mesmos resultados extraordinários. Conjunto de modelos, técnicas e princípios e deram o nome de Programação Neurolinguística (PNL): Programação: mecanismos ou esquemas inconscientes, rotinas instaladas; Neuro: fisiologia, emoção, sensação, 5 sentidos, representações internas; Linguística: estrutura linguística, pensamentos, crenças, valores. Ferramenta de trabalho para profissionais do comportamento humano. Pode ser usada em atendimentos individuais ou trabalhos em grupo. Desenvolvimento de um modelo de comunicação clara, assertiva, influenciadora e empática. Muito procurada também para o desenvolvimento de liderança, treinamentos na área de vendas e para gerenciamento eficiente de conflitos. Embora não existam estudos sistemáticos e rigorosos para verificar a validade das hipóteses sobre as quais se alicerça a PNL, os conceitos que ela propõe se harmonizam com outras abordagens. Pressupostos: As pressuposições da PNL são princípios sobre os quais se fundamenta sua aplicação. São eles o seguintes: As pessoas respondem à sua interpretação da realidade, não à realidade em si. Ter uma escolha ou opção é melhor do que não ter. 32 As pessoas fazem a melhor escolha que podem no momento. As pessoas funcionam perfeitamente. Todas as ações têm um propósito. Todo comportamento possui intenção positiva. A mente inconsciente contrabalança a consciente; ela não é maliciosa. O significado da comunicação não é simplesmente aquilo que você pretende, mas também a resposta que obtém. Já temos todos os recursos de que necessitamos ou então podemos criá-los. Mente e corpo formam um sistema. São expressões diferentes da mesma pessoa. Processamos todas as informações através de nossos sentidos. Modelar desempenho bem-sucedido leva à excelência. Se quiser compreender, aja. Coaching Coaching é uma palavra em inglês que indica uma atividade de formação pessoal em que um instrutor (coach) ajuda o seu cliente (coachee) a evoluir em alguma área da sua vida. A palavra coaching vem da palavra inglesa "coach" e significa treinador. Esse treinador tem o objetivo de encorajar e motivar o seu cliente a atingir um objetivo, ensinando novas técnicas que facilitem seu aprendizado. Pessoal ou coaching de vida (life coaching): objetiva a capacitação das pessoas na sua auto realização, pelo alcance de suas metas, alinhando-as para uma vida equilibrada com seus valores, missão e propósito de vida. A meta a ser trabalhada pode estar em qualquer área da vida da pessoa, como saúde, relacionamentos, espiritualidade, finanças, carreira, administração do tempo, família, etc. Definição da meta, na estratégia para alcançar os resultados almejados e também na superação dos desafios que aparecerem ao longo do caminho. “Coach de emagrecimento”: Difere do papel do nutricionista? Valorização da profissão. 33 PNL e Coaching Mudança de comportamento; Relacionada a alimentação: estratégias baseadas em alteração de comportamento alimentar; Estudos científicos não existem. Características comportamentais do paciente obeso Obesidade não é um Transtorno Alimentar. Pode estar associada a outras doenças psiquiátricas: DEPRESSÃO: 5,3 – 7,4 % em obesos não graves; 15,5 % em obesos grau II; 19,3 % em obesos grau III. Transtornos Alimentares (“oficiais” ou “não oficiais”) mais associados a obesidade: TCAP; Síndrome da alimentação noturna (SAN) Nocturnal Eating Syndrom – NES. Desordem da composição corporal definida por um excesso relativo ou absoluto de gordura corporal, provocado por desequilíbrio nutricional associado ou não a distúrbios genéticos ou endócrino-metabólicos. Homens: maior prevalência no meio urbano e na região Sul e menor no Nordeste. Aumenta com a renda. Mulheres: maior prevalência no meio rural (exceto no Nordeste) e maior na região Sul e menor no Norte. Maior em classes intermediárias de renda. (população adulta): Obesidade: 22,9% (1988-1994) vs. 30,5% (1999-2000) 34 Distribuição da Gordura: Dobras cutâneas Bioimpedância US/TC/RNM Relação circunferência abdominal/ quadril Circunferência Abdominal: Risco de complicações metabólicas Homem Mulher Aumentado ≥ 94 cm ≥ 80 cm Aumentado substancialmente ≥ 102 cm ≥ 88 cm (população adulta da cidade do Porto): obesidade: 26,1 % das mulheres e 13,9% dos homens. Taiwan (população adulta): 21,1 % de sobrepeso e 4% de obesidade. Turquia (população adulta): obesidade: 27,4% das mulheres e 10,7% dos homens. 35 Comparação dos pesos e tamanhos corporais, de 1950 a 1990: Mulheres americanas: aumento de peso; Homens americanos: aumento de peso; Miss América: diminuição do peso; Mulheres da Playboy: peso estável (permaneceram com baixo peso); Homens da Playgirl: aumento de peso, na forma de massa muscular. (Spitzer et al., 1999) Redução da relação cintura/quadril das modelos; Aumento das matérias sobre dieta e perda de peso; Redução das receitas de culinária; Saúde passou a ser menos citada do que a estética em matérias de nutrição e fitness. (Guillen & Barr, 1994) 36ESTIGMA: um atributo que é profundamente desacreditado e que desqualifica uma pessoa da completa aceitação social (Goffman, 1963). Televisão: obesos são objetos de piadas, têm menos chance de representar protagonistas de relacionamentos românticos e são mais frequentemente mostrados comendo fora de controle (Greenberg et al, 2003). Mulheres ingressantes em uma academia de ginástica em Curitiba: 55% das mulheres entre 20 e 30 anos desejavam redução de peso, somente 17% delas realmente necessitavam. (Filardo & Leite,2001) Só 2% das mulheres de todo o mundo se acham bonitas (Instituto Dove) 31,6% das estudantes espanholas com IMC <20,1 kg/m2 queriam perder peso. (Ortega et al., 1996) 37 Crianças de 9 anos associaram as seguintes características a figuras de crianças obesas: têm menos amigos, são menos amadas por seus pais, vão pior na escola, estão mais infelizes com suas aparências e querem ser mais magras (Hill & Silver, 1995). Apresentação a crianças e adultos de fotos de crianças obesas, ou com deficiência física, desfiguradas, cegas = fotos dos obesos são as mais rejeitadas (Giancoli & Nieimeyer, 1983). Achado acima foi verificado em 1961 e em 2001: aumento de 41% na rejeição aos obesos (Latner & Stunkard, 2003). Pessoas obesas são tidas como sem de força de vontade, preguiçosas, descuidadas, incompetentes, emocionalmente instáveis, e até pessoas defeituosas (Puhl et al, 2004). Obesos são menos aceitos nas faculdades e recebem menos bolsas de estudo (Crandall 1994; Canning & Mayer, 1966; Crandall 1991). Obesos são mais rejeitados em entrevistas de emprego (Larkin & Pines, 1979; Rothblum et al., 1990). Quando empregados, obesos recebem menores salários e menos promoções (Averett & Korenman, 1996). “É notável que nos últimos anos medidas legais e normas sociais tenham diminuído a estigmatização de grupos raciais, religiosos ou de gênero, enquanto que o preconceito contra obesos continua sendo tolerado e até socialmente aceito” (Stunkard & Sobal, 1995). Visão do nutricionista sobre pessoas com sobrepeso e obesidade: N = 187 nutricionistas inglesas 38 Obesos seriam piores trabalhadores. As pessoas se sentiriam desconfortáveis em se associar a obesos. Obesos não poderiam levar uma vida normal. Obesos são responsáveis pelo seu estado. Principais causas da obesidade: sedentarismo, comer muito dos alimentos errados, mudanças de humor que levam ao exagero alimentar, prática de dietas, influência da família e de pares, falta de força de vontade. Quanto menos o nutricionista aceitava a obesidade, menor era o tempo utilizado para dar conselhos sobre aspectos sociais e psicológicos e para desenvolver uma boa relação com o paciente. Os nutricionistas que mais acreditavam que a prática de dietas causava a obesidade mais aconselhavam sobre atividade física e aspectos sociais e psicológicos, mais valorizavam a atualização científica, se sentiam mais confiantes nas suas capacidades de aconselhamento e menos prescreviam dietas. Conclusão: preconceito pode também atrapalhar o tratamento nutricional! Características comportamentais do paciente obeso Fatores Emocionais; Genética; Sedentarismo e Alimentação; Fatores Neuroendócrinos; Ambiente. Genética Poligênica: + de 127 polimorfismos identificados Risco de Obesidade: Um dos pais obeso: 50%; Pai: 40%; Mãe: 60%; Nenhum dos pais obeso: 9%; Ambos os pais obesos: 80%; 39 40% a 70% da diferença peso podem ser explicada pela carga genética; Entre 15 e 40% da variação de padrão alimentar também pode ser justificada por influências genéticas; Síndrome de Prader Willi e a de Bardet-Biedl. Fatores Neuroendócrinos Insulina/Glucagon; Grelina/Obestatina; Leptina; α-MSH (hormônio melanocítico estimulante- gene agouti); PYY; Oxintomodulina; PP (polipeptídeo pancreático); Amilina; GLP1 – GLP2 (receptores do glucagon); Somatostatina (SMT); NPY, AgRP, CART, CRH, TRH; Sistema endocanabinóide; Receptores de histamina H3. Ambiente Ambiente “obesogênico” em indivíduos geneticamente predispostos: Índios Pima: > obesidade e DM; Aborígenes australianos: > obesidade, DM e hipertrigliceridemia. 40 Estresse: hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófiseadrenal → progressivo desequilíbrio → associado ao ↑acúmulo de gordura visceral (Matos et al, 2003; Rosmond et al, 1998). Medicamentos (benzodiazepínicos, corticosteroides, antipsicóticos, antidepressivos tricíclicos, antiepiléticos, sulfonulreias, insulina) (Cheskin et al, 1999). Abandono do tabagismo (Jorenby et al, 1999). Determinantes do desequilíbrio energético ↑ da ingestão alimentar; ↓ do gasto energético; Maior capacidade de estocar gordura; Oxidação de gorduras deficiente. Sedentarismo e Alimentação Aumento da ingestão alimentar: Fisiológicos: Sensação de fome (que leva um animal a procurar e ingerir alimentos); Sensação de prazer (que leva a continuar com uma refeição); Sensação de saciação (que leva a interromper uma refeição); Sensação de saciedade (que o leva a adiar a refeição seguinte). Causas pré-deglutição: Papel do Inconsciente. Satisfação Saciedade 41 Não guardamos com precisão o que comemos (Booth & Freeman, 1995; Lowe, 2005). 31% das pessoas que saem de um restaurante italiano não se lembram qual quantidade de pão comeram e 12% dos comedores de pão negam ter comido um único pedaço (Linder &Wansink, 2003). Não somos capazes de estimar o tamanho das refeições (Lansky e Brownell, 1982; Barbara et al., 2003; Toozze et al., 2004). Eutróficos => estimaram 20% menos; Obesos => 30 a 40% menos. Entretanto, um estudo mostrou que os indivíduos – eutróficos ou obesos – subestimam os níveis calóricos com previsibilidade matemática (Chandon e Wansink, 2007). Alimentos pequenos (300kcal) - subestimavam 10%; Alimentos maiores (900kcal) - subestimavam 40%. As pessoas não ingerem calorias, ingerem volume (Rolls B, 2005). Topografia da mesa: É o “tamanho da refeição” que determina a precisão com que estimamos quanto comemos, e não o “tamanho da pessoa”. Papel do Tamanho das Porções Alimentares: 42 Porções cada vez maiores, principalmente de alimentos ricos em lipídios, açúcares e, consequentemente, energia. Aspecto cultural: satisfação dos clientes com “mais comida por menos dinheiro” (Young & Nestlé, 2002). Consumo calórico diário 12% maior que em 1985 (300kcal/dia): 46% grãos refinados; 24% gorduras; 23% açúcares; 8% frutas e vegetais; Redução 1 % carnes e laticínios. Papel da frequência de ingestão alimentar: Crença popular: comer entre as refeições engorda? 2000 8kcal/dia acima do GET → 10kg em 30 anos. Lanches entre refeições “Beliscar” 43 Chapelot et al. (2006): verificaram efeito de acrescentar ou omitir uma refeição (vespertina) na alimentação, respectivamente, de pessoas que ingeriam três e quatro refeições diariamente. 3 refeições diárias → + 1 refeições vespertina → sem efeito; 4 refeições diárias → - 1 refeições vespertina → aumento de massa gorda (possível causa: maior consumo de gordura nas outras refeições). Outros fatores: Relação entre horas de TV, carros por domicílio e Obesidade. Estudos tem demonstrado relação inversa (Drummond et al., 1996) ou falta de relação (Summerbell et al., 1996; Crawley & Summerbell, 1997) entre frequência alimentar e peso corporal. 44 Fome física x Fome emocional - Gatilhos alimentares e emocionais Situar alimentação: O QUE NOS LEVA A COMER ALÉM DA FOME? Relação entre alimento e corpo: alimento é responsável diretopela manutenção do corpo. Contexto atual: Valorização da magreza como símbolo de beleza, atratividade, poder e sucesso; Enorme disponibilidade de alimentos/ aumento da obesidade/ transição nutricional; COMER Simbolismos Prazer Lembranças Relações com algo ou alguém 45 Aumento da incidência de transtornos alimentares. Comer apenas com fome. • De que maneira? Como fazer? Como saber? • Fome ou Vontade? Fome física ou emocional? A alimentação é uma atividade central e necessária. É de extrema complexidade por envolver aspectos psicológicos, fisiológicos e socioculturais. As atitudes em relação à comida pautam-se em um aprendizado que se inicia bem cedo, reforçado por adultos afetivamente poderosos. Por ser uma atividade constante, envolve uma rotina de aprendizado calcada entre tantas questões no reforço positivo e na satisfação frente aos comportamentos. Cenário atual: As informações sobre Nutrição e Alimentação são divulgadas não só por profissionais capacitados. Restrições alimentares severas: “única” opção para quem quer se alimentar melhor e alterar o peso. Alimento “Ameaça” Comer Prazer da alimentação 46 Dieta é gatilho? Dieta para perda de peso: • Causam pensamentos obsessivos para com os alimentos e o peso corporal; • Não melhoram a auto estima e nem significam disciplina ou auto controle; • Causam irritabilidade, letargia e mau humor. • Levam ao reganho de peso; • A restrição diminui o metabolismo e o organismo é obrigado a funcionar com menos energia; • Podem desencadear episódios de descontrole e compulsão. 47 Experiências adversas são gatilhos? Abuso sexual, trauma e estímulos negativos, como comentários depreciativos recebidos ao longo do desenvolvimento podem ser fatores importantes. Fatores socioculturais são gatilhos? • Mudanças na disponibilidade e no significado dos alimentos; • Mudanças no conceito de beleza e supervalorização da magreza. 48 Fome física X Fome emocional – Gatilhos alimentares e emocionais: Sinais físicos, graduação, especificidade, momento, frequência, planejamento, sentimento. Fome física • Fome; • Vontade genuína; • Prazer. Fome emocional • Social; • Sentimento; • Emoção. 49 Gastronomia - Mãe, o que tem hoje para se nutrir? Nutrir-se Ato individual e fisiológico Comer Ato simbólico e social 50 Cozinhar Cozinhar com fogo poupar tempo de digestão desenvolvimento físico + transformações sociais. Agricultura familiar + caça socialização da comida > refeição em conjunto. Processamento industrial/Não Cozinhar poupar tempo para outras atividades. Industrialização individualização da comida e do comer. 51 Mais uma vez a nutrição comportamental está totalmente de acordo com o novo guia alimentar, que propõe que para se orientar uma alimentação saudável, não é suficiente apenas dizer O QUE as pessoas devem comer, mas é importante também garantir outras coisas, como incentivar que as pessoas DESENVOLVAM, EXERCITEM E PARTILHEM HABILIDADES CULINÁRIAS. Gastronomia X Culinária Cozinha e culinárias: Técnicas de sobrevivência, gestos e gostos estabelecidos, identidades familiares, étnicas, regionais. Gastronomia: Passado concepção médica e filosófica de uma dietética como regra de bem viver. 52 Século XIX expressão como forma de arte e distinção social. Nos dias de hoje: espécie de alta-cultura da cozinha, diferente da cozinha cotidiana, caseira. PRAZER DE COMER! Investigação das alterações comportamentais Importância de uma boa avaliação nutricional: prezar a individualidade. A elucidação dos padrões dietéticos tem implicações no tratamento e conhecimento da variabilidade clínica dos indivíduos. Instrumentos padronizados X entrevistas clínicas: não é necessário usar instrumentos prontos para avaliação do paciente → instrumentos são melhores para pesquisa. Na prática clínica, é melhor desenvolver sua própria anamnese. • Dados básicos: – Idade, estado civil, filhos, escolaridade, profissão, com quem mora e como, indicação para tratamento. • Dados antropométricos: coletar – Peso e altura (IMC), peso desejado/habitual/mínimo/máximo, circunferências, dobras cutâneas, bioimpedância, etc; – Dados de saúde: ESCUTA 53 – Dados de saúde (doenças pregressas e atual, tratamentos já realizados ou em andamento, medicamentos, suplementos, qualidade do sono) devem ser coletados: – Exame físico. • Histórico do peso, da alimentação: – Não são indicadas anamneses estruturadas, com muitas perguntas fechadas, pois elas não dão chance para o paciente contar sua história e apresentar suas questões únicas e particulares; – Recomenda-se que não faça perguntas diretas; – Iniciar a entrevista com perguntas indiretas, como “Como era sua alimentação e peso na infância?”; – Anotar os dados, atentando para momentos importantes; – Levantar o histórico, prestando atenção em momentos importantes, como infância, adolescência, reação às mudanças corporais da puberdade e gestações, mudanças do padrão ou consumo alimentar, etc. – Avaliação clínica e bioquímicas e exames complementares. • Aspectos atuais: – História alimentar simplificada, com rotinas e horários, abordando o que o paciente costuma comer normalmente; – R24h não é recomendado enorme variação de consumo de um dia para o outro. Exemplos de compulsão e frequência; • Alimentação habitual durante semana e finais de semana; – Métodos inadequados para controle de peso; – Aversões e preferências alimentares; – TA. 54 Atitudes Alimentares Pensamentos Sentimentos Crenças Comportamento Americanas Francesas Paradoxo alimentar francês 55 Patologias do sistema nervoso e doenças psiquiátricas /comportamentais Esqueçam os estereótipos: Transtornos alimentares - Etiologia São doenças psiquiátricas que se caracterizam por profundas alterações no comportamento alimentar e nos comportamentos que visam controle de peso e forma corporal, levando o organismo a um funcionamento debilitado e inúmeras complicações. Não há uma causa específica responsável pelos TA. Acredita-se que o modelo multifatorial contribua no seu aparecimento, com participação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, socioculturais e familiares. Anorexia Nervosa Não come Bulimia Nervosa Vomita Compulsão 3 bombons Gordo Come muito Compulsivo 56 Fatores genéticos Pesquisas indicam maior prevalência de transtornos alimentares em algumas famílias, sugerindo uma agregação familiar com possibilidade de um fator genético associado. Fa to re s Genéticos Biológicos Socioculturais Familiares Psicológicos 57 Estudos com gêmeos monozigóticos e dizigóticos também apontam a genética como possível participante etiologia dos transtornos alimentares. Fatores biológicos Alterações nos neurotransmissores moduladores da fome e da saciedade como a noradrenalina, serotonina, colecistoquinina e diferentes neuropeptídios têm sido postuladas como predisponentes para os transtornos alimentares. Existem dúvidas se tais alterações acontecem primariamente ou são decorrentes doquadro. Fatores socioculturais A obsessão em ter um corpo magro e perfeito é reforçada no dia-a-dia da sociedade ocidental. A valorização de atrizes e modelos, geralmente abaixo do peso, em oposição ao escárnio sofrido pelos obesos, é um exemplo disso. 58 Fatores familiares Dificuldades de comunicação entre os membros da família, interações tempestuosas e conflitantes podem ser consideradas mantenedoras dos transtornos alimentares. Fatores psicológicos Algumas alterações características como baixa autoestima, rigidez no comportamento, distorções cognitivas, necessidade de manter controle completo sobre sua vida, falta de confiança podem anteceder o desenvolvimento do quadro clínico. 59 Fatores predisponentes Experiências adversas como abuso sexual, trauma e estímulos negativos, como comentários depreciativos recebidos ao longo do desenvolvimento podem ser fatores importantes na etiologia. Fatores Psicológicos: Personalidade: Traços comuns na Anorexia Nervosa são os obsessivos, perfeccionistas, dificuldade em expressar sentimentos e introversão; Em relação à Bulimia Nervosa, traços impulsivos, instabilidade afetiva e sociabilidade são comuns. Baixa autoestima é um fator de risco comum a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa. Autoestima não está restrita a imagem corporal. A autoestima depende de estímulos positivos e negativos recebidos, principalmente da família, ao longo do desenvolvimento. Fatores predisponentes Sexo feminino História familiar de TA Baixa autoestima Perfeccionismo Dificuldade em expressar emoções Fatores precipitantes Dieta Separação, perda Alterações na dinâmica familiar Expectativas irreais (escola, profissão, pessoal) Menarca (AN) Fatores mantenedores Alterações neuroendócrinas Distorção da Imagem corporal Distorções cognitivas Práticas purgativas 60 Fatores Socioculturais: Mudanças na disponibilidade e no significado dos alimentos. Mudanças no conceito de beleza e supervalorização da magreza. Fatores Biológicos: TA e doenças psiquiátricas associadas, como depressão e abuso de substâncias, são comuns em uma mesma família, porém, ainda é incerto o tamanho da contribuição da genética para os TA. Alterações nos sistemas de neurotransmissão são frequentes em pacientes com TA, principalmente nos sistemas serotoninérgico (importante regulador do comportamento alimentar) e noradrenérgico (papel no controle do humor, impulso e obsessividade nos TA). Fatores Familiares: A família é a estrutura básica da formação das pessoas. É dentro dela que se forma a personalidade e se desenvolve a vida no âmbito do cotidiano como um processo contínuo. 61 Família é determinante no processo de incorporação de padrões sociais e culturais e na aprendizagem de como conviver com as demais pessoas. A condição psicológica de uma pessoa é diretamente relacionada com a estrutura do grupo do qual faz parte (família). O distúrbio psiquíquico tem muitas vezes raízes no papel inconscientemente imposto pela família. Características comuns: • Perfeccionismo – bom comportamento extremamente valorizados (especialmente na AN); • Hipercontrole/ rigidez, resultando em infantilização (especialmente na AN). • Superproteção – atraso no desenvolvimento da autonomia pessoal (especialmente na AN); • Ligação simbiótica – relação mãe e filha. (especialmente na AN); • Pouco espaço da individualização – papéis se misturam, posições familiares não claras (funcionamento em “bloco”) (especialmente na AN); • Controle estrito das emoções (especialmente na AN); • Comunicação prejudicada – dificuldade em elogiar = baixa autoestima; • Preocupação exagerada com o peso e dietas, valorização excessiva da aparência física (especialmente por parte da mãe). Membro obeso é geralmente criticado e humilhado; • Dinâmicas caóticas – ausência de regras, limites e autoridade dos pais; desorganização (especialmente na BN); • Dificuldade em lidar com impulsos e descargas emocionais (especialmente na BN); • Não raro histórico de abuso de drogas, álcool e transtornos psiquiátricos; • Filhos de mães com TA possuem mais de 50% de chance de desenvolver um transtorno psiquiátrico. 62 Principal: Dieta para perda de peso: Acontecimentos estressores, como perdas, separações, doenças, menarca e gravidez por provocarem desorganização e reforçar sentimentos de insegurança e insatisfação. Falando em dieta... 8 milhões de pessoas sofrem de TAs nos EUA; 9 em cada 10 mulheres está insatisfeita com seu corpo. Pelo menos 6 fazem dieta para perder peso; 78% das meninas americanas de 17 anos está infeliz com seu corpo; Ideal de magreza apresentado pela mídia é alcançado por menos de 5% da população feminina; 80% das meninas de 10 anos nos EUA já fizeram alguma dieta; Apenas 4% das mulheres no mundo se consideram bonitas; Em sua vida 50.000 pessoas morrerão como resultado direto dos TAs; Americanos gastam mais de 40 bilhões de dólares por ano com dietas e produtos relacionados a perda de peso. “Nem toda dieta resulta em transtorno alimentar, mas todo transtorno alimentar começa com uma dieta.” Risco Relativo de desenvolver um Transtorno Alimentar: Dietas restritivas em 18X; Dietas moderadas em 5X; 63 É necessária a interação de diversos fatores de risco para o aparecimento de um TA, portanto, a prática de dieta, como um comportamento isolado, não desencadeia um TA. Trazem pensamentos obsessivos para com os alimentos e o peso corporal. Não melhoram a autoestima e nem significam disciplina ou autocontrole. Causam irritabilidade, letargia e mau humor. Levam ao reganho de peso. A restrição diminui o metabolismo e o organismo é obrigado a funcionar com menos energia. Podem desencadear episódios de descontrole e compulsão. 64 Fatores Mantenedores • Alterações neuroendócrinas em decorrência da privação alimentar; • Distúrbio da imagem corporal; • Distorções cognitivas; • Práticas purgativas; • Dinâmica familiar; • Ganhos secundários com a doença; • Outros fatores que contribuem para a perpetuação do TA são as alterações psicológicas e os fatores socioculturais. Prevalência ANOREXIA NERVOSA A anorexia nervosa tornou-se uma importante preocupação na área de saúde pública no mundo ocidental. Há discussões sobre o aparente crescimento da incidência da AN e também sobre o seu reconhecimento em outras culturas não ocidentais (FLEITLICH et al., 2000). 65 Prevalência BULIMIA NERVOSA A Bulimia Nervosa é uma perturbação do comportamento alimentar caracterizada por compulsões alimentares recorrentes, comportamentos compensatórios que previnem o ganho ponderal e uma autoestima por de mais alicerçada na autoimagem corporal (PINHO, 2016). 1 – 1,5% 0,6% 3 : 1 3 : 1 66 Prevalência transtorno da compulsão alimentar Com 18 anos ou mais 1,6% de casos 0,8% em homens 30% a 40% em obesos grau III 1 : 1 67 Incidência Anorexia Nervosa Incidência Bulimia Nervosa Grupos de risco 8 por 100 mil individuos. 0,5 por 100 mil individuos. População pareada 13 por 100 mil individuos Estudantes de nutrição e nutricionistas. 68 Atletas competitivos:Estudantes de educação física e educadores físicos. Ginastas Jóqueis Boxers Lutadores 69 Bailarinas Dançarinas Ginástica artística Modelo 70 DM tipo 1: maior incidência de AN e BN. DM tipo 2: maior incidência de TCAP. Fisiopatologia – Anorexia Nervosa Mortalidade: 20% morrem – Desnutrição; 50% melhoram; 30% cronificam. Pode ser concomitante ou preceder à perda de peso, pode resistir mesmo após a recuperação de peso mínimo. Pode ser acompanhada de: regressão dos ovários para estágios pré-puberais, regressão do tamanho mamário, redução útero, infertilidade. Atores (“celebridades”) Amenorreia 71 Osteopenia e osteoporose. ↓ Testosterona: em pacientes AN do sexo masculino; ↓ T3 e T4: mecanismo adaptativo à desnutrição: o Sintomas de hipotireoidismo: constipação, intolerância ao frio, bradicardia etc. Hipercolesterolemia (redução dos níveis de T3 e da globulina carreadora de colesterol e/ou da diminuição da excreção fecal de ácidos biliares e colesterol); Pele e fâneros: Queda de cabelos; Lanugo (penugem fina) → Pode ocorrer em consequente da redução da atividade da enzima 5-alfa redutase e/ou do hipotireoidismo; Alterações hidroeletrolíticas: o Hiponatremia → Pode ser consequência de grande ingestão de água ou de flutuações do ADH; o Hipofosfatemia → Consequência da desnutrição ou da síndrome de realimentação; o Hipocalemia (↓potássio): K<3,5mmol/L → decorrência de métodos compensatórios purgativos, como uso de vômito, abuso de diuréticos e laxantes → risco de arritmia. Hipotensão arterial: em até 85% dos pacientes AN (depleção crônica do volume circulante): o Sintomas de tontura e desmaios → reposição hídrica; Atrofia do músculo cardíaco: na AN, consequência da desnutrição; Retardo no esvaziamento gástrico: o Pacientes queixam-se de sensação de plenitude pós-prandial e distensão abdominal; o Pacientes queixam-se de dor → limita volume de alimentos a serem ingeridos e atrapalha a terapia nutricional. 72 Fisiopatologia – Bulimia Nervosa Mortalidade: 3%; Grande variação de peso; Práticas constantes de restrição e purgação (abuso de laxantes e diuréticos) → estado hipovolêmico → estímulo do sistema renina-angiotensina-aldosterona → estímulo à retenção de fluidos; Condição persiste temporariamente mesmo após a cessação das práticas purgativas → Edema; Lesão do dorso da mão: “Sinal de Russell”. Alterações hidroeletrolíticas: - Hipocalemia (↓potássio) → Causas: vômito, desnutrição e abuso de diuréticos e laxantes; - Sintomas: fraqueza, confusão, náusea, palpitações, arritmias cardíaca, poliúria, dor abdominal e constipação. Alterações cardíacas: - Arritmias cardíacas → risco de morte súbita, especialmente no caso de hipocalemia → causa mais comum de morte nos TAs; Alterações renais: Nefropatia por abuso de diuréticos. 73 Alterações gastrointestinais: – Vômitos frequentes levam ao relaxamento do esfíncter esofagiano inferior; – Esofagite: comum na BN e também na AN subtipo purgativo; o Pode variar de branda a grave, podendo haver herniações ou até trazer risco de morte se houver ruptura. – Constipação: tanto na BN quanto na AN, decorrente do uso de laxantes → danos irreversíveis ao cólon intestinal (cólon catártico) e perda da função peristáltica normal; – Pacientes que abusam de laxantes devem deixar de fazê-lo gradativamente, concomitantemente ao aumento do consumo de fibras e água. Alterações dentárias e bucais: – Erosão do esmalte dentário (incisivos e caninos); – ↑ Cáries; – Perda de dentes; – Hipertrofia bilateral das parótidas (por hiperestimulação de secreção): um dos poucos achados físicos indicativos de BN: o Consumo excessivo de carboidratos: ↑ amilase; o Regurgitação do conteúdo ácido do estômago. 74 - Sobrepeso e obesidade; - Síndrome Metabólica e outras condições clínicas associadas à obesidade: – Diagnóstico por médico psiquiatra; – DSM V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais; • APA: Associação Americana de Psiquiatria; – CID 10: Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde; • OMS: Organização Mundial de Saúde * 11ª edição. Instrumentos de investigação Cientistas e clínicos utilizam-se de mensurações como uma forma de compreender, avaliar e diferenciar características de pessoas e objetos. Na psiquiatria, instrumentos ou escalas de avaliação são questionários, entrevistas ou testes, elaborados para realizar essas mensurações na avaliação dos transtornos mentais e, dentre eles, dos transtornos alimentares (TA). 75 Investigação e avaliação • Importância de uma boa avaliação: pessoas com TAs não são um grupo homogêneo; • A elucidação dos padrões dietéticos tem implicações no tratamento e conhecimento da variabilidade clínica nestes pacientes; • Instrumentos padronizados X entrevistas clínicas: não é necessário usar instrumentos prontos para avaliação do paciente → instrumentos são melhores para pesquisa; • Na prática clínica, é melhor desenvolver sua própria anamnese. Instrumento e Escalas: forma de compreender, avaliar e diferenciar características de pessoas. Para os TAS: 1) Instrumentos autoaplicáveis: Instrumentos autoaplicáveis possuem uma série de vantagens: são fáceis e rápidos de administrar, não envolvem treinamento, são eficientes, econômicos, e são capazes de revelar um comportamento que, por ser considerado vergonhoso, poderia ser omitido em uma entrevista. Possuem desvantagem de não avaliar com exatidão alguns conceitos mais complexos, como o da compulsão alimentar periódica que, em geral são melhores investigados por instrumentos semiestruturados, como as entrevistas clínicas. Sendo assim, os questionários autoaplicáveis não devem ser utilizados para diagnósticos. 2) Entrevistas clínicas padronizadas: A entrevista clínica padronizada tem sido o método primário de colher informações de forma sistemática em TA. Quando comparada ao questionário 76 autoaplicável, ela tende a ser mais precisa em identificar sintomas ambíguos, como os episódios bulímicos, podendo, em vista disso, ser utilizada como instrumento diagnóstico. Entre as desvantagens, tem o fator tempo, pois a entrevista clínica padronizada demanda mais tempo para a avaliação e o avaliador precisa estar treinado. Resumo: • Entrevistas clínicas padronizadas: informações de forma sistemática. • Mais precisa que questionários autoaplicáveis. • Desvantagens: tempo de avaliação e necessidade de entrevistador treinado. • Maioria validada em originalmente em inglês. • Maior parte é apenas uma sessão de outro instrumento diagnóstico de transtornos psiquiátricos mais amplos. • EDE: Diagnóstico e psicopatologia de TAs. Avalia restrição dietética e episódios bulímicos, grande riqueza de detalhes (episódios bulímicos objetivos, subjetivos, hiperalimentação objetivas, subjetivas). Cooper et al., 1989. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO • EAT: Rastreamento de TA, Gross et al., 1986. • ChEAT: Rastreamento de TA em crianças, Maloney et al., 1988. • BITE: Rastreamento de BN, avalia C. Alim. Henderson e Freeman, 1987. • BES: Rastreamento de TCAP, avalia C. Alim. Gormally et al., 1982. • QEWP-R: Rastreamento de TCAP na pop geral. Spitzer et al., 1993. • BSQ: Avalia distúrbios de Imagem Corporal. Cooper et al., 1987. • Escala de Figuras de Stunkard: Avalia distúrbios de Imagem Corporal. Stunkard et al., 1983. • BAQ: Avalia distúrbios de Imagem Corporal. Ben-Tovin e Wlaker, 1991. • TFEQ: Avalia controle sobre o C. Alim. Stunkard e Messick, 1985. • RS: Avalia C. Alim.Herman e Mack, 1975. 77 • NKS: Avalia conhecimentos sobre a importância da alimentação para a saúde. Harnack et al., 1997. • DEAS: Avalia atitudes alimentares. Alvarenga et al., 2010. • EEICA: Avalia distúrbios de imagem corporal. Conti et al., 2009. Existem diversos instrumentos para TAs. É necessário especificar exatamente qual o que se quer medir, em que tipo de estudo e com qual objetivo. Deve-se privilegiar instrumentos que tenham tido suas propriedades psicométricas testadas em amostras semelhantes à população de estudo. Instrumentos devem complementar, e não substituir, a escuta na prática clínica. Comorbidades psiquiátricas Define-se comorbidade como a ocorrência conjunta de dois ou mais transtornos em um mesmo indivíduo avaliado clinicamente. Em psiquiatria as comorbidades são comuns, e alguns estudos sugerem que 50% dos pacientes psiquiátricos recém mais de um diagnóstico. Algumas interpretações são possíveis diante de dois transtornos comórbidos: 1) O transtorno A predispõe ao transtorno B ou, de alguma forma, causa B; 2) O transtorno B predispõe ao transtorno A ou, de alguma forma, causa A; 3) A e B são influenciados por um fator subjacente C (predisponente ou causal); 4) A aparente associação de A e B é um resultado casual decorrente de serem relativamente frequentes na amostra estudada ou por outros fatores ao acaso. 78 Obesidade: A obesidade não é um TA nem uma doença psiquiátrica embora alguns autores incluam-na didaticamente nesta categoria pelo seu funcionamento semelhante. Podem existir perturbações no comportamento alimentar, associadas a questões psicológicas, necessitando apoio psiquiátrico e/ou psicológico. Doença que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que pode aumentar o risco de desenvolvimento de doenças, principalmente crônico-não- degenerativas. Comorbidades psiquiátricas são mais vistas em indivíduos que buscam tratamento para perda de peso (hipótese: estes sofrem mais com a associação do quadro de obesidade X transtornos psiquiátricos e buscam ajuda). Estas comorbidades podem dificultar o diagnóstico e alterar o curso natural da doença e sua abordagem terapêutica. Portanto, são necessárias estratégias de tratamento diferenciadas e de profissionais da área da saúde que conheçam estas comorbidades. Estudo americano com 2.436 pacientes com TA internados apresentou uma incidência de 94% de comorbidades psiquiátricas. 79 Comorbidades mais frequentes nos TAs e na Obesidade: Doenças Anorexia Nervosa Bulimia Nervosa TCA Obesidade Transtornos de Humor Depressão Depressão Depressão Depressão atípica Transtornos Ansiosos TOC TOC, fobias e síndrome pânico Ansiedade Ansiedade Abuso de Substâncias Psicoativas Álcool, maconha, cocaína e anfetamina Álcool, maconha, cocaína e anfetamina Transtornos de Personalidade Anancástico Trans. emocionalmente instável e borderline, histriônico Trans. emocionalmente instável e borderline, histriônico Trans. emocionalmente instável e borderline, histriônico Conclusão Devido a complexidade dos casos de TA com comorbidades, o tratamento exige acompanhamento multidisciplinar com no mínimo psiquiatra, psicólogo e nutricionista. A existência da comorbidade não pode ser ignorada pelo nutricionista, sob o risco da não obtenção de resultados. A com comorbidades tem inúmeras complicações clínicas que devem ser identificadas ao longo do tratamento. O curso do TA comórbido difere do TA isolado, os indivíduos com comorbidades, são, em geral, mais resistentes. Os pacientes com comorbidades psiquiátricas são mais 80 a regra que a exceção, e o atendimento destes mostra-se mais difícil e requer conhecimento técnico e específico. Imagem corporal As questões relacionadas à imagem corporal (IC) vêm recebendo cada vez mais atenção. O terapeuta nutricional deve estar preparado para lidar com essa questão, pois ela afetam o relato do consumo alimentar, os hábitos alimentares, a motivação para mudanças comportamentais, além de serem sintomas de algumas doenças que exigem tratamento nutricional, destacando-se, entre essas, os transtornos alimentares (TA). Os distúrbios de IC são alterações graves e persistentes em qualquer componente da mesma (perceptivo e atitudinal), trazendo sofrimento e/ou prejuízos sociais, físicos e emocionais. Eles podem ocorrer nos dois componentes, de maneira independente ou simultânea. “Figura que temos em nossas mentes do tamanho e forma dos nossos corpos, e os nossos sentimentos associados a tais características e às partes que constituem nosso corpo.” Não é apenas a forma como um indivíduo vê seu corpo. 81 Componentes da Imagem corporal (IC): Componente perceptivo Componente atitudinal Exemplos de distúrbios de IC Os distúrbios de IC são alterações graves e persistentes em qualquer componente da mesma (perceptivo ou atitudinal) trazendo sofrimento e/ou prejuízos sociais, físicos e emocionais. Eles podem ocorrer nos dois componentes, de maneira independente ou simultânea. Como a pessoa vê seu corpo. Sentimentos sobre a imagem, importância da aparência física, o quanto a pessoa se sente atraente fisicamente, satisfação corporal, depreciação do próprio corpo, ações feitas em prol da aparência física, preocupação com o corpo. Distúrbio de imagem corporal: Perturbação séria e persistente em qualquer um dos componentes da imagem corporal. 82 Se a pessoa se vê de forma diferente daquela que ela é (por ex. mais gorda), pode-se dizer que ela tem distúrbio no componente perceptual da imagem corporal ou uma distorção de imagem corporal. Se a pessoa é extremamente insatisfeita com seu corpo ou dá muita importância à aparência física, pode-se dizer que ela tem um distúrbio no componente atitudinal da imagem corporal. Distúrbios de IC em Bulimia Nervosa Nem todas as pacientes com BN superestimam seu tamanho corporal; Pacientes com BN têm profunda insatisfação e depreciação para com seus corpos, comparados a controles; Bulímicas são mais insatisfeitas do que anoréxicas; O peso tem importância central na vida; Insatisfação corporal prediz a persistência dos sintomas bulímicos ao longo da vida. Distúrbios de IC em Anorexia Nervosa Mais comuns: pavor mórbido de ganhar peso e hipervalorização da aparência física. Distorção da imagem corporal (superestimar o peso e o tamanho do corpo). – Comum, porém não universal; – Quem tem essa distorção também tem índices mais elevados de depressão, ansiedade, introversão e pior prognóstico; Brasil: fatores que prediziam pior resposta ao tratamento: insatisfação corporal, depreciação corporal, importância pessoal do peso e das formas corporais. 83 – Distorção é instável e intermitente e pode ter “gatilhos”, como emoções negativas, achar que comeu muito ou ver imagens de mulheres magras. Ideal de corpo mais magro e rígido do que na BN. Menor insatisfação do que na BN, pois já se encontram em seu peso “ideal”. O acompanhamento da evolução pode ser feito por meio de escalas e questionários validados: • BSQ (Body Shape Questionnaire), Cooper et al. 1987; Di Pietro e Silveira 2008; Conti et al. 2009: avalia preocupação com peso e formas corporais, “sentir-se gordo”. • Escala de Figuras de Stunkard, Stunkard et al. 1983, Scagliusi et al. 2006: avalia percepção do tamanho corporal e insatisfação corporal. • BAQ (Body Attitudes Questionnaire), Ben-Tovim e Walker 1991, Scagliusi et al. 2005: avalia sentimentos relacionados a adiposidade corporal, depreciação corporal, relevância do peso e forma corporal, achar-se fisicamente atraente, percepção de gordura nos membros
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