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AULA 4 - SER-AÍ NO MUNDO

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HISTÓRIA E EXISTÊNCIA: O SER-AÍ NO MUNDO
Prof. Marcelo José Caetano
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“Somos todos confrontados ao longo de nossas vidas com decisões agonizantes, escolhas morais. Algumas são em grande escala, a maioria é sobre pontos menores. Mas nós nos definimos pelas escolhas que fizemos. Somos, na verdade, a soma total de nossas escolhas. Acontecimentos se desdobram de maneira tão imprevisível, tão injusta. A felicidade não parece ter sido incluída no design da criação. Somos apenas nós, com nossa capacidade para amar, que damos sentido ao universo indiferente. E mesmo assim, a maioria dos seres humanos parecer ter a habilidade de continuar tentando e inclusive encontrar alegria nas coisas simples, com suas famílias, seu trabalho, e na esperança de que gerações futuras possam compreender mais.” (Woody Allen – Crimes e pecados).
PONTO DE PARTIDA
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O homem, como tensão dialética, é um ser dotado de liberdade e, ao mesmo tempo, submetido a leis deterministas; 
Por que escolher?
O que escolher?
Como escolher?
O homem é um ser único em sua individualidade (ou indivisibilidade) e, como pessoa, se diferencia do sujeito biológico, do eu social e do sujeito do conhecimento – o homem como ser individual – ser pessoa; 
A experiência e o pensamento revelam o homem como ser que se procura traduzir como vida/consciência que experimenta o mundo;
O homem vive e se realiza temporalmente na história. Ao mesmo tempo, no entanto, transcende definitivamente a materialidade histórica, definindo-se como bipolaridade essencial.
DE VOLTA À QUESTÃO INICIAL
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“Todo objeto, seja qual for a sua origem, é, enquanto objeto, sempre condicionado pelo sujeito, e assim essencialmente uma representação do sujeito” (Schopenhauer):
Impenetrabilidade do real, enquanto coisa em si, ao nosso conhecimento; 
Não podemos conhecer o real, mas somente representá-lo;
A vontade é a substância íntima, o núcleo de toda coisa particular e do todo: é aquela que aparece na força cega e aquela que se manifesta na conduta racional do homem. 
A vida não é, como pretende Hegel, racionalidade e progresso. São injustificáveis o finalismo e otimismo [a história é acaso cego].
O HOMEM COMO VONTADE E REPRESENTAÇÃO
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Quando percebemos e consideramos a existência e a atividade de qualquer criatura natural, por exemplo um animal, isso nos parece essencialmente um mistério inescrutável. Apesar de tudo o que apreendemos em zoologia e anatomia comparada. Mas, por que a natureza se recusa sempre a responder a nossas perguntas? Com certeza, como tudo o que é grande, ela é aberta, comunicativa e até ingênua. Por que, então, se recusa a responder tais perguntas? (Parerga e Paralipomena, seção 65)
O HOMEM COMO VONTADE E REPRESENTAÇÃO
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O homem é, ou deveria ser, conforme Nietzsche, a aliança entre o dionisíaco e o apolíneo. Em outras palavras, a reconciliação entre duas pulsões estéticas da natureza. Por um lado, ele é embriaguez, força vital, alegria e excesso: É a força instintiva e da saúde; é a embriaguez criativa e paixão sensual, é o símbolo de uma humanidade em plena harmonia com a natureza.
[http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital&op=loadVerbete&palavra=dionis%EDaco] registra DIONISÍACO como:
1. Ref. a Dioniso, divindade grega (entre os romanos, Baco) dos ciclos vitais, da alegria e do vinho
2. De natureza agitada e desinibida (como a de Dioniso); ESPONTÂNEO; NATURAL
3. P.ext. De caráter vibrante, entusiasmado
4. P.ext. Que é anárquico, confuso; DESORDENADO
5. P.ext. Que tem caráter criativo, inspirado
6. P.ext. Ref. ao campo, à terra; CAMPESTRE
O DIONISÍACO (DESORDEM) E O APOLÍNEO (ORDEM)
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Por outro lado, o homem é medida, ordem e equilíbrio: É a tentativa de expressar o sentido das coisas na medida e na moderação, explicitando-se em figuras equilibradas e límpidas.
[http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital&op=loadVerbete&pesquisa=1&palavra=Apol%EDneo] registra APOLÍNEO como:
1. Ref. a Apolo, deus da mitologia grega.
2. Que possui grande beleza, tal como Apolo; 
3. Que tem como característica o equilíbrio, a sobriedade.
O PRINCÍPIO DIONISÍACO (DESORDEM) E O PRINCÍPIO APOLÍNEO (ORDEM) - NIETZSCHE:
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O marxismo pensa o homem como sujeito de sua história, ou seja, ele entende que o ser humano não se afirma no mundo somente em pensamentos. Na verdade, ele o compreende na sua atividade, prefigurando-o na autoconsciência de um ser social que viceja solucionar o “enigma da alienação”. 
 “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstância de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (O 18 Brumário de Luís Bonaparte). – Tradição, condições históricas – determinação – “pesadelo dos vivos”.
CONCEPÇÃO MATERIALISTA-DIALÉTICA DO HOMEM
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RAIZ COMUM – CATEGORIA EXISTÊNCIA: 
O que é comum a todas as reflexões e/ou concepções existencialistas é o uso da categoria existência como determinante dos estudos sobre o ser humano e a compreensão de que o “dasein” (ser-aí) se define em suas relações com o mundo, com os outros e com a morte.
PREOCUPAÇÃO DAS FILOSOFIAS EXISTENCIALISTAS:
O existencialismo dirige sua atenção para um homem finito, “jogado no mundo”, imerso e dilacerado em situações problemáticas ou absurdas. Os existencialistas falam sobre o homem na individualidade de sua existência. A possibilidade é o modo constitutivo da existência, pois o ser humano é o que decide ser. Em outras palavras, o homem é um “PODER-SER”, um sair fora (ex-sistere) para a decisão e a autoplasmação. 
EXISTÊNCIA E (PRE)OCUPAÇÃO:
“Viver não é apenas um ocupar-se, mas também um preocupar-se, pois ao voltar-se para si mesmo, o homem descobriu a intimidade (que garantia sua plenitude), revelou suas fraquezas e as brechas em suas originais tranquilidade e segurança e sentiu o próprio desamparo e sua nudez” (Arruda, 1978)
CONCEPÇÃO EXISTENCIALISTA DO HOMEM
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Sören Kierkegaard (1813 – 1855) - Problematização da existência cristã como existência do indivíduo que manifesta a sua singularidade irredutível à explicação lógica ao lançar sua liberdade no salto absurdo da fé.
Angústia e desespero: 
O homem é o que ele escolhe ser, é o que se torna. Isso quer dizer que o modo de ser da existência não é a realidade ou a necessidade, e sim a possibilidade. A angústia e o futuro estão conjugados. A angústia caracteriza a condição humana [na sua relação com o mundo]: quem vive no pecado, se angustia pela possibilidade do arrependimento. quem vive, tendo-se libertado do pecado, vive na angústia de nele recair. O que verdadeiramente importa (...) é dar boas-vindas à angústia, fazê-la entrar no espírito, deixar que o perquira e permitir-lhe esmagar “todos os pensamentos finitos e mesquinhos”. E é desse modo que “Deus, que quer ser amado, desce, com a ajuda da inquietude, caça do homem”.
O desespero é próprio do homem na sua relação consigo mesmo. Para Kierkegaard, o desespero é a culpa do homem que não sabe aceitar a si mesmo em sua profundidade.
Saída do desespero? Somente colocando disponível para o amor de Deus, desacreditando em si mesmo e crendo somente em Deus, pode o homem se salvar da angústia e do desespero. Contudo, a partir daí, ele entra em sério conflito com o mundo, pois compreende que o objetivo da existência terrena é ser levado ao mais alto grau de tédio da vida.
MATRIZ KIEKERGAARDIANA
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Nietzsche (1844 – 1900) – O que é o homem? Recolocação da pergunta na perspectiva do devir: o que foi o homem? O que o homem não é? O que o homem pode ser?
Plano metafísico: vontade em vista do poder e retorno eterno do mesmo (lógica do absurdo)
Plano da crítica da cultura – niilismo como diagnose da cultura ocidental, genealogia da moral e dos contra-valores.
Anúncio do super-homem.
MATRIZ NIETZSCHIANA
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Situação-limite:
atitudes existenciais suscitadas no seio das visões de mundo;
Clarificação (esclarecimento) da existência: a existência empírica do homem (dasein – ser-aí) é a manifestação concreta de sua unicidade irredutível. Contudo, ele precisa se confrontar com as estruturas de sua existência, com as cifras de sua transcendência (existenz), ou seja, com aquilo que o faz além de si mesmo e em si mesmo (outro, mundo e a morte).
KARL JASPERS (1883 – 1969)
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Analítica existencial do dasein (existente humano) a partir de uma análise fenomenológica que recoloque o problema da existência:
RELAÇÕES COM O OUTRO – Intersubjetividade: para Heidegger, filósofo alemão, o existente (dasein) implica imediatamente uma existência com os outros.
Os homens se relacionam com outros homens. Convivem com outros seres humanos no mundo e se reconhecem nestas relações. Homem algum é uma ilha, pois seu corpo se “...estende, e como árvore se relaciona com tudo o que o cerca. Isso o faz ser no mundo e com o mundo” (BUZZI, 192: p. 246).
 RELAÇÕES COM O MUNDO – Mundanidade: O mundo é o lugar da convivência e das ocupações:
O homem é um SER-AÍ no mundo, ou seja, ele se encontra sempre em situação. O mundo, isto é, o “AÍ” é uma condicionante daquilo que ele é, ou seja, um elemento estrutural de sua existência. Vejamos alguns sentidos da palavra MUNDO a fim de verificarmos o caráter condicionante do SER-AÍ:
Etimologicamente, significa a ideia de ordem que preside o conjunto dos elementos e/ou seres, fazendo deles uma unidade;
MARTIN HEIDEGGER (1889 – 1976)
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Filosoficamente, designa o conjunto dos seres finitos considerados na sua unidade e totalidade;
Existencialmente, é uma das estruturas da existência, que acompanha e afeta o ser humano. Constitui a condição originária da atividade humana.
 RELAÇÕES COM A MORTE - Mortalidade ou finitude: conforme Heidegger, a Morte é um modo de ser do existente, ou seja, é aquilo que o define como um ser para o fim (ser-para-a-morte). “Somos crianças na estação do mundo. Nessa estação, como atentos passageiros, estamos sempre perguntando que horas são! Como que para lembrar nessa metáfora que nosso destino é partir” (BUZZI, 1992: p. 149).
Estrutura ontológico-existencial da morte:
a existência; a efetividade; a dejeção.
Os enunciados da morte:
ser para o fim; possibilidade da impossibilidade; angústia como revelador existencial.
MARTIN HEIDEGGER (1889 – 1976)
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Descrição fenomenológica do ser:
O homem está CONDENADO A SER LIVRE, estamos sozinhos e sem desculpas. Todos os valores existem porque o homem existe. O homem é o DEMIURGO de seu próprio futuro: “o homem inventa o homem”.
A NÁUSEA é o sentimento que nos invade quando descobrimos a contingência essencial e o absurdo do real. O essencial é a contingência. 
MODOS fundamentais DA EXISTÊNCIA: a coisa (SER-EM-SI) e a consciência (SER-POR-SI)
O homem, isto é, o ser-para-si é, também, SER PARA OS OUTROS. O outro revela-se nas experiências em que ele invade o campo de minha subjetividade e, de sujeito, me transforma em objeto de seu mundo. 
JEAN-PAUL SARTRE (1905 – 1975)
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 ... o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio. E no entanto livre, porque uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo quanto fizer. 
[...]
O homem não é senão o seu projeto, só existe na medida em que se realiza, não é portanto nada mais do que o conjunto dos seus atos, nada mais do que a sua vida. (SARTRE, J-P. O existencialismo é um humanismo, Lisboa: Presença, 1962. p. 207).
JEAN-PAUL SARTRE (1905 – 1975)
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A ANGÚSTIA e ALIENAÇÃO da vida no século XX receberam articulação plena quando os existencialistas dedicaram-se às preocupações mais cruas e fundamentais da existência humana: sofrimento, morte, solidão, medo, culpa, conflito, vazio espiritual, insegurança ontológica, o deserto de valores absolutos ou contextos universais, a impressão de um absurdo cósmico, a fragilidade da razão, o trágico impasse da condição humana. . TARNAS, Richard. A epopéia do pensamento ocidental; para compreender as ideias que moldaram nossa visão de mundo. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1999. p. 415-417. 
Meu MUNDO é este mundo onde sou e estou, de que fala Heidegger, e cujas análises recentes têm mostrado como ele está fortemente aderido a mim e quantos diversos semblantes me poderia oferecer, conforme as intenções com que o encaro. Sua descrição é a primeira tarefa de uma fenomenologia. FOLHA DE SÃO PAULO. Jaspers e o mundo. (Folha de São Paulo, 16 de abril de 1978).
O HOMEM É um ente que se distingue dos demais pelo fato de COMPREENDER E SIGNIFICAR O MUNDO. A expressão ‘SER-NO-MUNDO’ REFERE-SE AO ENTE QUE NÓS MESMOS SOMOS E IMPLICA que, em sendo, estamos sempre junto ao mundo e SIGNIFICAR O MUNDO. Isto quer dizer que O HOMEM É SER-EM E SER JUNTO AO MUNDO. Com o conceito de ser-no-mundo Heidegger pretendia caracterizar a simultaneidade de mundo e homem, mostrando que a existência do homem recebe seu sentido da sua relação com o mundo e que este obtém sua significação através do homem. FERREIRA, Acylene Maria Cabral. O destino como serenidade. In: http://www.ppgf.ufba.br/producao/O_destino_como_%20serenidade.pdf, acesso em 20 de agosto de 2011.
REFLEXÕES (1)
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SER É ESCOLHER-SE: Para a realidade humana, ser é escolher-se: nada lhe vem de fora, nem tão-pouco de dentro, que possa receber ou aceitar. Está inteiramente abandonada, sem auxílio de nenhuma espécie, à insustentável necessidade de se fazer ser até ao mais ínfimo pormenor. Assim, a liberdade não é um ser: é o ser do homem, quer dizer, o seu nada de ser. (...) O homem não pode ser ora livre, ora escravo; ele é inteiramente e sempre livre, ou não é. Jean-Paul Sartre, in 'O Ser e o Nada‘
A EXISTÊNCIA BASEADA EM JUSTIFICAÇÕES: Ninguém aqui gera mais do que a sua possibilidade espiritual de viver; pouco importa que dê a aparência de trabalhar para se alimentar, para se vestir, etc.; com cada bocada visível uma invisível lhe é estendida, com cada vestimenta visível uma invisível vestimenta. Está nisso a justificação de cada homem. Parece fundamentar a sua existência com justificações ulteriores, mas essa é apenas a imagem invertida que oferece o espelho da psicologia, de facto erege a sua vida sobre as suas justificações. É verdade que cada homem deve poder justificar a sua vida (ou a sua morte, o que vem dar no mesmo), não pode furtar-se a essa tarefa. Franz Kafka, in 'Meditações‘
SE PENSO, EXISTO: Se penso, existo; se falo, existo para os outros, com os outros. A necessidade é o lugar do encontro. Procuro os outros para me lembrar que existo. E existo, porque os outros me reconhecem como seu igual. Por isso, a minha vida é parte de outras vidas, como um sorriso é parte de uma alegria breve. Breve é a vida e o seu rasto. A posteridade é apenas a memória acesa de uma vela efémera. Para que a memória não se apague, temos que nos dar uns aos outros, como elos de uma corrente ou pedras de uma catedral. A necessidade de sobrevivência é o pão da fraternidade. O futuro é uma construção colectiva. António Arnaut, in 'As Noites Afluentes'
REFLEXÕES (2)
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ARRUDA, Elso. A angústia e o nada, In.: Kriterium, n.71, jan. a dez., vol. XXIV, Belo Horizonte, UFMG, 1978.
BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
FROMM, Erich. Conceito marxista do homem. 4ª. ed., Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. 223 p.
HUISMAN, Denis. Dicionário dos Filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia (dos pré-socráticos à Wittgenstein). Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
MARX, Karl. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (col. Os Pensadores).
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia (vol. III). São Paulo: Paulus, 1991.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 1991.
SARTRE, J-P. O existencialismo é um humanismo, Lisboa: Presença,1962.
STRATHERN, Paul.
Schopenhauer. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
VAZ, Henrique Cláudio Lima. Antropologia Filosófica I. São Paulo: Loyola, 1991.
REFERÊNCIAS
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