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Trabalho de Aborto 2

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Aborto de Feto Anencéfalo: ADPF Nº54 INTERPOSTA PELA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES DA SAÚDE. 
 
 O relator do caso, ministro Marco Aurélio, citou dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), referentes ao período entre 1993 e 1998, segundo os quais o Brasil é o quarto país no mundo em incidência de anencefalia fetal, atrás de Chile, México e Paraguai. Conforme o ministro Gilmar Mendes, dos 194 países relacionados na Organização das Nações Unidas (ONU), 94 possibilitam o aborto quando são identificadas a ausência parcial ou total de cérebro no feto. 
 Estimativas médicas indicam para uma incidência de aproximadamente um caso a cada mil nascidos vivos no Brasil. Cerca de 50% dos fetos anencéfalos indica parada dos batimentos cardíacos fetais antes mesmo do parto, morrendo dentro do útero da gestante, de acordo com dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
 A argumentação tem como objetivo ver declarada inconstitucional qualquer interpretação do Código Penal Brasileiro, no sentido de penalizar o que a entidade denominou de “antecipação terapêutica de parto de fetos anencéfalos” e, em decorrência, admitir o direito da gestante de antecipar o parto nos casos de gravidez de feto anencefálico, adequadamente diagnosticado por médico habilitado, sem a necessidade de autorização judicial prévia.
 O pedido formulado na argumentação seria o Descumprimento de Preceito Fundamental, interposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, teve como fundamento a violação dos preceitos constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, IV), da liberdade e autonomia da vontade (art. 5º, II) e do direito à saúde (art. 6º, caput, e art. 196), todos da Constituição Federal. A autora indicou como ato do Poder Público causador da lesão o conjunto normativo representado pelos arts. 124, 126, caput, e 128, I e II, do Código Penal.
 
Conforme o Dr.Pedro Lazarini Neto: 
A anencefalia (do grego an= sem; enkepalos= cérebro), ou seja, “sem cérebro”, é anomalia congênita, uma anormalidade do desenvolvimento do embrião e do feto, constituindo-se, pois, em gravíssimo problema do sistema nervoso, advindo assim uma anomalia resultante de um defeito do tubo neural do embrião. Essa anomalia, letal, ocorre entre o 20º e o 28º dia após a concepção, entre a terceira e a quarta semana do desenvolvimento do feto. Todas as funções do cérebro são comprometidas. Ainda conforme o Dr. Pedro é impossível a vida extra-uterina, bem como qualquer tipo de tratamento. O quadro é fatal em 100% dos casos.
 A maioria dos anencéfalos mantém-se vivo por um período de no máximo 48 horas,em alguns casos o defeito do tubo neural pode ser parcial ocorrendo a existência de uma pequena parte cerebral nesse caso o anencéfalo acaba permanecendo alguns dias ainda vivo.
 Na anencefalia, o que falta é o cérebro com seus hemisférios e o cerebelo: Uma criança com anencefalia nasce sem o couro cabeludo, calota craniana, meninges, mas contudo o tronco cerebral é geralmente preservado (Müller 1991).
 Muitas crianças com anencefalia morrem intra-útero ou durante o parto. A expectativa de vida para aquelas que sobrevivem é de apenas poucas horas ou dias, ou raramente poucos meses, e que o tecido cerebral restante é protegido somente por uma fina membrana.
 Não se sabe ao certo as causas desta patologia. Sabe-se apenas que fatores nutricionais, genéticos e ambientais podem influenciar indiretamente para a ocorrência da anencefalia, assim como: a exposição da mãe durante os primeiros dias de gestação a produtos químicos e solventes; irradiações; deficiência materna de ácido fólico; alcoolismo e tabagismo. A causa mais freqüente é a deficiência de ácido fólico, um dos componentes vitamínicos do complexo B.]
 A maior ocorrência de casos de anencefalia em fetos é de gestantes diabéticas (em que há uma probabilidade seis vezes maior), muito jovens ou com idade avançada. E, o mais interessante: a anencefalia ocorre com maior repetição em fetos do sexo feminino, isso porque essa patologia parece estar relacionada ao cromossomo X. A anencefalia é incurável, o feto não tem desenvolvimento do cérebro e o problema é que o cérebro é o responsável por todos comandos do corpo, é ele que regula os sistemas vitais do corpo, tais como o sistema respiratório e o sistema cardiovascular. Se o feto não tem cérebro, não há como manter funcionando esses sistemas vitais, por isso ele morre pouco tempo após o parto, e em 65 % dos casos de anencefalia. 
 Apesar de incurável, a anencefalia pode ser prevenida. Como a maior ocorrência dessa patologia é em decorrência de insuficiência de ácido fólico, um dos componentes vitamínicos do complexo B, no organismo da mãe, os médicos recomendam às gestantes que tomem o ácido fólico um mês antes e durante os dois primeiros meses de gestação. Não é uma técnica 100% segura, mas previne cerca de 30 a 50% dos casos de anencefalia. 
De acordo com o art.3º da lei 9434/97 que diz que a morte acontece no momento de parada da atividade encefálica.
 Vejamos o referido artigo da Lei 9.434/97 :
 
Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.
 Ao falarmos de feto anencéfalos podemos ressaltar que por terem uma anomalia no córtex cerebral eles também possuem muitos dos seus órgãos internos modificados portanto é inviável a retirada de seus órgãos para doação.
 Esse feto por ter apenas uma parte do córtex funcionando consegue manter alguns órgãos em funcionamento até final da gestação mas não poderão ouvir, sentir dor e enxergar ou seja apenas uma vida vegetativa num curto espaço de tempo.
 O diagnóstico pode ser dado com total precisão pelo exame de ultrassom e pode ser detectado em até três meses de gestação.
 Mas e quanto a mãe? Para os pais de crianças que sofrem de doenças fatais, o luto começa no momento em que lhes comunicam o diagnóstico. O sentimento começa com uma fase de inércia muitas vezes interrompida por explosões de raiva. 
 A seguir, vem o período de dúvida da autenticidade do diagnóstico e especialmente dos prognósticos e como conseqüência a tentativa de conservar o filho provando que os médicos estão errados.
 Mas muitas mulheres ao saberem do diagnóstico preferem não passar por tal sofrimento tendo uma recuperação sentimental bem maior do que uma mãe que prefere levar a gestação até o final.
 Impor que a grávida, em tais circunstâncias, conduza a gestação até o seu termo final, sem que lhe seja propiciada a escolha, redunda, nos termos da tese ora defendida, é arruinar diretamente a dignidade da pessoa humana, o qual é defendida pelo manto constitucional.
 Diante de tudo isso a gestante que se encontrar em gestação em que existe comprovação médica da inviabilidade de vida extra-uterina por ser o feto anencéfalo, caso realize o aborto, não deve ser criminalizada, pois, para nós, sua conduta configura CRIME IMPOSSÍVEL POR ABSOLUTA IMPROPRIEDADE DO OBJETO (art. 17 do Código Penal Brasileiro), pois as manobras abortivas recaem sobre objeto sem vida, pelo menos para o Direito. Conforme o art.3º da lei 9434/97 que dispõe que a morte ocorre com a parada da atividade encefálica. Sendo assim estamos falando de um ser que jamais viveu. Podendo ser caracterizado pelo Direito como crime impossível.
 Podemos então declarar que as manobras abortivas recaem sobre objeto sem vida para o nosso Ordenamento Jurídico, tendo como aspecto o de crime impossível (que exclui a tipicidade da conduta), em consequência de uma análise técnica e uma interpretação sistemática do nosso Ordenamento, visto que se para o Direito amorte ocorre com o fim da atividade encefálica e o feto anencéfalo necessita desta, conclui-se que é impossível lançar a existência daquilo que para o Ordenamento Jurídico jamais esteve vivo.
 Mais uma vez ressaltando que, se em casos de estupro o aborto é permitido, por quê não seria permitida a antecipação terapêutica do parto em casos de anencefalia, sendo que o feto anencéfalo não tem chances de viver, já o feto, em caso de estupro, pode vir a ser perfeito e saudável? 
 Assim, não há que se falar em conflitos de princípios fundamentais, porque apenas uma das partes é considerada pessoa detentora de direitos, a outra parte, nem vida possui. 
 
 É injusto que o Direito Penal venha exigir que a gestante que tenha a devida comprovação médica da inviabilidade de vida extra-uterina por ser o feto anencéfalo continue a gestação, sob pena de cometimento do crime de aborto, pois após o “nascimento” , a gestante, infelizmente, só terá a opção de chorar e enterrá-lo. Não temos dúvida que tal exigência é inequívoca violação do princípio da dignidade da pessoa humana.
 
 Desse modo, como dissemos em nossa pequena obra “Crimes Contra a Vida”[5]:
Mais uma vez reforçamos que a gestante que tenha a comprovação médica da inviabilidade de vida extra-uterina por ser o feto anencéfalo, caso venha a interromper a gravidez, para nós, está amparada pelo crime impossível, pois não é possível matar aquilo que para nosso Ordenamento Jurídico nunca viveu. 
 O conteúdo apresentado no julgado difundiu a necessidade de ser feita uma reflexão entre o direito à vida, a impossibilidade de vida extra uterina, os riscos provenientes da gestação à grávida e, neste padrão, a necessária proteção que se deve garantir à integridade física e psíquica da gestante.
 LAZARINI NETO, Pedro. Código Penal Comentado e Leis Penais Especiais Comentadas. 3.ed. São Paulo: Primeira Impressão, 2008.p.381.
Constituição Federal 1998.
VELLOSO, Carlos. “O aborto do feto anencéfalo”. Folha de São Paulo. Ed. do dia 04 de novembro de 2004.
TESSARO,A. Aborto Seletivo:descriminalização e avanços tecnológicos da medicina contemporânea. Curitiba:Juruá,2005
FAZOLLI. Anencefalia e aborto. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/5444/anencefalia-e-aborto Acesso em 02/06/2017
 VIEIRA SEGUNDO, Luiz Carlos Furquim. Crimes Contra a Vida. São Paulo: Memória Jurídica, 2009. p.83
FRANCO, Albeto da Silva. Anencefalia: breves considerações médicas, bioéticas, jurídicas e jurídico-penais. Revista dos Tribunais n. 833, março de 2005.

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