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DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

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CONCEITOS HISTÓRICOS
Nas primeiras civilizações a religião era importante fator de coesão social, como o estrangeiro em geral, possuía religião diferente, não lhes eram reconhecidos direitos, tal como ocorreu na Antigüidade Oriental e Clássica, sendo assim, eles não tinham direitos a uma nacionalidade local.
Já no feudalismo, o estrangeiro deveria jurar lealdade ao senhor feudal, sob pena de ser reduzido a servo. Nessa época, os judeus, símbolos de estrangeiros, eram bastante discriminados. (CF. CELSO MELLO, ob. cit; 994 e 995)
E gradativamente, os estrangeiros passaram a adquirir alguns direitos, sobretudo em razão do estreitamento das relações comerciais entre os povos.
Mas com o Iluminismo e a Revolução Francesa, as idéias de liberdade, igualdade e fraternidade, ligadas ao Racionalismo da época, contribuiriam para melhorar a situação jurídica do estrangeiro. Conforme  esclarece a citação seguinte:
(...) A interferência dos ideais religiosos introduzidos no Direito Internacional pela Igreja Católica, trazendo a liberdade, a igualdade e a fraternidade, contribuiu para a nova concepção do nacional.Com o advento da Revolução Francesa, da Constituição Americana e das declarações dos Direitos do Homem, a nacionalidade consolidou-se em novas bases, deixando para trás as valorações pejorativas atribuídas aos estrangeiros. Nesse contexto, movidos pelo nacionalismo, muitos Estados promoveram a sua unificação, como França, a Itália e a Alemanha (...) (RUBEN; O que é nacionalidade, 1987, p. 28)
Já no século XIX, os direitos privados são reconhecidos aos estrangeiros.
E por fim no século XX, a Declaração Universal dos Direitos do Homem serviu para assentar a idéia de respeito de um padrão mínimo de direitos aos estrangeiros, em razão de serem pessoas humanas.   as mesmas tradições comuns, etc..."
1.2.1 DEFINIÇÃO DA NACIONALIDADE
A definição de nacionalidade está vinculada ao conceito de povo, que consiste no aglomerado de indivíduos ou comunidades e a nação que provêm do aglomerado de territórios e comunidades, ligados por valores culturais e morais ao território em que vivem, e a um Estado, embora este, não seja necessariamente obrigatório. Este conceito foi criado recentemente, nos sécs. XVIII e XIX, pela burguesia, com a finalidade de substituir a relação arcaica do povo, do território e do Estado. 
Anteriormente ao conceito de nação e até mesmo ao termo súdito o conceito existente vinculado aos homens da comunidade e aos direitos e valores que detinham estava dentro do conceito antigo de cidadania. O cidadão era o indivíduo nascido e oriundo nas cidades-estados, como Atenas e Roma, por exemplo, ligado a valores, crenças e costumes desta cidade.
Então cidadania é o direito de intervir no processo governamental, sobretudo pelo voto, diferindo da nacionalidade, que é um status individual cujo conteúdo só se esclarece por contraposição ao do estrangeiro.
E dentro da visão jurídica atual a cidadania vincula-se ao gozo dos direitos políticos e institucionais em um país - a nação que é a somatória do povo mais o território - exercidos pelos indivíduos que tenham nacionalidade vinculada ao determinado país, ou seja, o conceito moderno de cidadania está implícito no conceito de nacionalidade que tem como base o ideal de nação.
Segundo PONTES DE MIRANDA, "nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da dimensão pessoal do Estado". (PONTES MIRANDA, Nacionalidade, 1935, p. 53.)
Porém ALUÍSIO DARDEAU DE CARVALHO nota a falta de juridicidade do termo nacionalidade, que partindo da idéia de nação, englobaria somente os indivíduos, que pertencessem a determinado grupo ligado pela raça, religião, hábitos e costumes. (GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da Republica Portuguesa, 2000, p. 83)
E para JOSÉ FRANCISCO REZEK, “Nacionalidade é o vinculo político entre Estado soberano e o indivíduo, que faz deste um membro da comunidade constitutiva da dimensão pessoal do Estado. Importante, portanto no direito das gentes, esse vínculo político recebe, entretanto uma disciplina jurídica de direito interno (...)”.
Então o direito de nacionalidade, ou seja, a possibilidade do indivíduo estar inserido em um Estado significa a ligação, de caráter jurídico e político, que une a pessoa a este Estado determinado colocando-a, dentro da sua dimensão pessoal, lhe conferindo os direitos de proteção e impondo-lhe os deveres advindos desta ordem estatal.
1.3 AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE
A nacionalidade pode ser adquirida por diferentes formas. Levando-se em consideração o tempo, pode-se classificar a nacionalidade em duas categorias: nacionalidade originária e nacionalidade derivada, também chamada de secundária ou, impropriamente, adquirida.
Para a atribuição da nacionalidade originária, aquela se alcança pelo nascimento, pode-se apontar dois sistemas legislativos: jus soli e jus sanguinis. Ressalte-se, contudo, que esses sistemas não são adotados de forma inflexível, admitindo-se temperamentos.
O sistema do jus soli, é outro grande princípio de atribuição da nacionalidade embasado nos ordenamentos jurídicos. Consiste na concessão da nacionalidade em função do local do nascimento, é o direito do solo. ”Quem Nasce no território do Estado, desse Estado é nacional” (DEL’OLMO,Dir Inter. Público, 2002, p. 229). Logo, não importa a nacionalidade dos pais. Trata-se de sistema largamente usado durante a Idade Média,mais certamente no período feudal, época em que a terra, o solo, era o centro de gravidade da economia, e da sociedade, senhores feudais e servos, da época. Na América, o jus soli, também tem grande aplicação, sendo pai que recebe muitos imigrantes,propiciando a integração destes, sendo conveniente para os Estados dessa região, por meio desse critério, evitar a formação de minorias estrangeiras sob a proteção de outros Estados. É o sistema adotado de forma flexível, admitindo-se temperamentos. A firma GARCIA:
“ Analisando o problema sem paixão, chega-se a uma conclusão lógica: o sistema jus soli é o mais justo, porque permite ao ser humano, desde que nasce, identificar-se com o meio ambiente em que nasceu, se criou, foi educado e vive com seus compatriotas ou concidadãos, trabalhando e perseguindo os mesmos ideais de engrandecimento da terra que o viu nascer. Ademais, livre da influência ideológica, política ou religiosa de seus antepassados, converte-se em verdadeiro  cidadão, solidário com o destino de sua pátria, a terra em que nasceu, estudou, trabalhou e prosperou”. ( GARCIA, Manual de Dir. Inter. Público, 2002 p. 271.)
Pelo sistema do jus sanguinis, a nacionalidade originária obtém-se de acordo com a dos pais, à época do nascimento. Trata-se de nacionalidade obtida de acordo com a filiação. Se os pais tiverem nacionalidades diferentes, prevalecerá a do pai. Se o filho for natural, ou de pai desconhecido, seguirá a nacionalidade da mãe. Se ambos os pais forem desconhecidos, não será possível a adoção do jus sanguinis, fixando-se a nacionalidade pelo critério do jus soli.  O critério do jus sanguinis foi adotado na Antigüidade Clássica e Oriental. Posteriormente, com a Revolução Francesa, movimento que pôs fim ao Antigo Regime e, com ele, lembranças do feudalismo, passou a ser mais utilizado. Simetricamente ao que acontece com o sistema do jus soli, o jus sanguinis é adotado pelos países de emigração, sobretudo os europeus, que desejam manter vínculos com seus nacionais. Destaca Del’Olmo:
”(...) que não se conhece caso atualmente de Estado que esteja adotando o jus sanguinis de forma absoluta”. (DEL’OLMO,Curso de direito Internacional Público. 2002, p.229.)
Acerca do jus soli, afirma Del’Olmo  ainda  que este surgiu, ou pelo menos se consagrou, no período feudal, no qual a idéia dominante era manter o indivíduo preso à terra.
(...) o sistema jus soli é mais justo, porque permite ao ser humano, desde que nasce, identificar-se com o meio ambiente em que nasceu, se criou, foi educado e vive com seus compatriotas ou cidadãos, trabalhandoe perseguindo os mesmos ideais de engrandecimento da terra que viu nascer. Ademais, livre da influência ideológica, política ou religiosa de seus antepassados, converte-se em um verdadeiro cidadão, solidário com o destino de sua pátria, a terra em que nasceu, estudou e prosperou. (GARCIA apud DEL’ OLMO, Curso de Direito Internacional Público. 2002, p.230.)
1.3.1               A NACIONALIDADE ORIGINÁRIA  
No Brasil em relação às hipóteses de aquisição da nacionalidade originária previstas pelo Texto Constitucional o legislador constituinte adotou como regra o critério do "jus soli" e, no entretanto, previu hipóteses em que adotou o critério do "jus sanguinis" mitigado.
Outra possibilidade de aquisição da nacionalidade originária prevista na Carta Maior (art.12, inciso I, c), é a chamada nacionalidade potestativa, consistente em considerar nacionais os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileiro, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, a qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. Imperioso notar que neste dispositivo as exigências para a aquisição do direito de ser nacional são maiores. Com efeito, exige-se além do aspecto da consangüinidade, a residência no território brasileiro e, ainda, a declaração unilateral de vontade, a qualquer tempo, confirmativa da opção pela nacionalidade originária brasileira.
O conceito da aquisição originária de nacionalidade segundo o critério jus soli, são alencados na Constituição em seu artigo 12, da seguinte forma:
"São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil II - naturalizados:
c) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
§1° - Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas; VII - de Ministro de Estado da Defesa.
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I – tiver cancelado sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: 
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civil;
Os titulares da nacionalidade originária também chamada, primária ou de origem, são os brasileiros natos. As formas de aquisição originária de nacionalidade são de competência do legislador constitucional, não se admitindo que lei infra-  constitucional constitua novas hipóteses de sua ocorrência. 
O critério de atribuição da nacionalidade pelo jus sanguinis reinou quase que absolutamente na maior parte da história, estando ainda presente em muitos países. Sua prevalência atualmente ocorre entre os Estados mais populosos.
Destaca DEL’OLMO, ”[...] que não se conhece caso atualmente de Estado que esteja adotando o jus sanguinis de forma absoluta”.         
Criou-se, portanto, ao arrepio do art. XV,1 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, uma possibilidade de filhos de brasileiros no exterior serem considerados heimatlos, apátridas. Tal ocorreria, por exemplo, quando um casal de brasileiros tivesse um filho na Itália, pais que adota o jus sanguinis. Tendo em vista essa situação, tramita, no Congresso Nacional, proposta de emenda constitucional que visa empedí-la.
Para que o filho de brasileiro ou brasileira, nascido no exterior, possa adquirir a nacionalidade brasileira, deverá vir residir no Brasil e optar, a qualquer tempo, por ela. No caso, adota-se o critério da filiação, acrescido de mais dois requisitos: residência no Brasil e opção pela nacionalidade, a qualquer tempo.
Manifestada a opção, não se pode recusar o reconhecimento da nacionalidade, por isso que se trata de nacionalidade potestativa. A aquisição da nacionalidade depende apenas da vontade do interessado, amparada por direito subjetivo público.
Interessante discussão gira em torno de se saber como deve ser tratado o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, que venha a residir no Brasil, enquanto não opte, o que pode fazer a qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira.
Com efeito, havendo prazo, a opção não é constitutiva da nacionalidade, porém atesta sua definitividade, a opção teria efeitos retroativos. Nesse caso, a nacionalidade ficaria suspensa, enquanto o optante não se definisse. Expirando o prazo, não incidiria mais a nacionalidade potestativa.
1.3.2 A NACIONALIDADE DERIVADA  
A nacionalidade derivada é comumente chamada de naturalização. Sua concessão, em regra, é feita discricionariamente pelo Estado, segundo suas conveniências. Desse modo, ainda que preenchidos determinados requisitos, por não haver, em princípio, direito público subjetivo à naturalização, pode ao estrangeiro ser negada a aquisição da nacionalidade brasileira. No Brasil, a concessão da naturalização é de competência exclusiva do Poder Executivo, da esfera administrativa.
Quando a naturalização ocorre de forma voluntária, o naturalizado perde a nacionalidade anterior, constituindo-se manifestação do direito de renúncia, que, em algumas legislações, pode ser tácita. Para a concessão pelo Estado da naturalização, além da vontade daquele que busca outra nacionalidade, influem o jus domicilii e o jus laboris. (LEI 6815/80, art 113, III e art 114, II.)
Para Accioly, a naturalização pode ser por benefício da lei ou por permissão da lei (CF, MELLO, p. 934 e 935) No primeiro caso, a pessoa, caso não deseje mudar de nacionalidade, deve manifestar-se. No segundo, a manifestação volitiva é indispensável à conservação da nacionalidade.
A nacionalidade originária depende da vontade do Estado, e a nacionalidade derivada, depende da vontade do homem: a primeira é uma nacionalidade de atribuição, a segunda uma nacionalidade de eleição. 
Num aspecto mais global podemos citar alguns países e suas características neste aspecto, da naturalização:
Encontramos o casamento como um modo de aquisição da nacionalidade para a mulher na Alemanha, Bélgica, Bulgária, Costa Rica, Finlândia, Grã-Bretanha, Grécia, Guatemala, Haiti, Espanha, Holanda, Hungria, Mônaco, Nicarágua, Portugal, Peru, Romênia, Suíça, Turquia e Venezuela.
Há, ainda, os Estados em que à nacionalidade pode, além dos modos acima mencionados, ser adquirida:
a) Por efeitos da naturalização do chefe de família, como na Inglaterra, Bélgica, Bulgária, Estados Unidos, China, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Holanda, Hungria, Itália, Japão e Noruega;
b) Por legitimação, como na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Finlândia, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Noruega, Romênia e Suíça;
c) Por adoção, como na China, Japão e Polônia;
d) Pelo jus laboris ou atividade profissional, acompanhada de residência durante um certo tempo, como no Haiti, Panamá, Rússia e Uruguai;
e) Por aceitação de emprego público ou pensão do Governo, como na Alemanha, Guatemala, Haiti, Itália, El Salvador e Sri Lanka;
f) Por prestação de serviço militar, como na Alemanha, Argentina e Itália;
g) Por prestação de serviços relevantes ao país em queo estrangeiro está domiciliado, como na Argentina, Egito e Uruguai;
h) Por meio de reaquisição da nacionalidade perdida, como na Bélgica, Bolívia, Brasil, Bulgária, Chile, China, costa Rica, Cuba, Dinamarca, Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Guatemala, Haiti, Itália, Nicarágua, Noruega, Paraguai, Panamá, Irã, El Salvador, Suécia, Turquia, Uruguai e Venezuela.
A legislação de Israel também é bastante curiosa, estabelecendo que a nacionalidade israelense pode ser adquirida:
-  Pelo simples retorno do imigrante judeu a Israel;
-  Pela residência do ex-súdito palestino em Israel, observadas certas condições;          -  Pela filiação: filhos de país ou mãe israelita;
-  Por naturalização, uma vez preenchidas as condições da lei;
- Por efeito da aquisição da nacionalidade do pai, em relação aos filhos melhores de 18 anos.
Na Itália adquire-se a cidadania itálica pela filiação (filizione), ius sanguinis, pelo nascimento em território italiano, ius solis, mediante o casamento, ius conubii                              (MARKY, Elementos do Direito Romano, 1995, p. 34), por meio de concessão, ato específico do Estado (Decreto do Presidente da República), ius publicum (MARKY,1995, p. 34), bem como pela naturalização, que trataremos mais especificamente no Capítulo II.
2 CLASSIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS DE CONEXÃO
Como exposto anteriormente, há diversos critérios para aplicação da norma ao caso concreto sob o plano do direito internacional, contudo, no presente estudo, limitar-se-á analisar os elementos de conexão de maior relevância e incidência nas relações privadas.
São eles: domicílio, nacionalidade, lexfori, lex rei sitae, lex loci delicti comissi, lex loci executions, locusregitactum e autonomia da vontade.
2.1 Das conexões pessoais
2.1.1 Domicílio
O domicilio ou lex domicilli é o elemento de conexão, atualmente, adotado no Brasil e na maioria dos países da América Latina.
 
Por esse elemento, nas palavras do insigne doutrinador Portela (2011, p. 566) “(...) aplica-se aos conflitos de leis no espaço a norma do domicilio de uma das partes (...)”. Ou seja, havendo conflito na aplicação de normas ao caso em concreto, a direito a ser aplicado será a do local em que as partes possuem domicílio.
 
O elemento de conexão do domicílio, no ordenamento jurídico brasileiro, vem estabelecido no artigo 7º, caput da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que diz: “(...) A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”.
 
A título de exemplo da aplicação do elemento de conexão do domicilio no Brasil, o artigo 7º, § 1º da Lei de Introdução ao Código Civil prevê que quando um casamento for realizado no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
 
Ressalte que, para a aplicação do elemento de conexão do domicílio aos conflitos entre normas, exige-se a sua conceituação pela lex fori em que será regulada a situação concreta.
 
No direito brasileiro, o domicílio é conceituado como o local em que a pessoa natural se estabelece com ânimo definitivo, nos termos do artigo 70 do Código Civil.
 
Note-se ainda que, o direito internacional privado, apenas reconhece a existência de apenas um domicílio. Assim, ainda que o lex fori permita e garanta a pessoa natural o direito a mais de um domicílio, tal situação não será permitida nas relações internacionais.
2.1.2 Nacionalidade
Por esse elemento de conexão, conforme definição especifica de cada lexfori, será aplicado aos conflitos de leis, a norma do Estado em que a pessoa possui nacionalidade. Nas palavras de Del'Olmo (2011, p. 44)
 
(...) a nacionalidade é definida pela lex fori, que se pode basear no direito constitucional do estrangeiro, no do foro, no do lugar no nascimento da parte interessada ou de seu pai, ou, ainda, o critério que parecer lógico, contanto que se proceda à qualificação (...).
Com a entrada em vigor da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro no ordenamento jurídico pátrio, a nacionalidade deixou de ser adotada como principal critério de elemento de conexão, passando a ser aplicável a do domicílio.
No entanto, o critério da nacionalidade ainda possui bastante incidência nos países europeus e de outros continentes e, inclusive, ainda é empregado na ordem jurídica brasileira.
2.2 Lex fori
Observa-se que existem diferentes mecanismos de qualificação quanto a aplicação correta da norma jurídica, seja quanto ao foro, ao sujeito ou objeto, assim podemos destacar a lex fori, “lei do foro”, significa que, em um conflito de qualificações, o juiz deve utilizar a qualificação dada pelo direito do seu próprio país.
 
Verifica-se que a lex fori é a mais utilizada e a mais correta, também. Não é lógico você recorrer ao direito de outro país para qualificar uma questão que já está qualificada no direito interno. Assim seria ineficaz a existência de leis nacionais quanto ao estrangeiro, em que sua aplicação seria vedada ou substituída por lei teoricamente alienígena.
 
Desta forma, a qualificação é feita justamente para saber qual será o direito aplicável. Sendo assim, não há porque recorrer ao direito de outro país sem nem antes saber se ele será aplicável ou não. Podemos destacar que a jurisprudência brasileira, por exemplo, em relação à qualificação feita ao caso da venda de imóveis e fiança de maridos estrangeiros sem o consentimento da esposa.
 
Assim o Supremo Tribunal Federal teve que decidir se o consentimento da esposa era uma questão de capacidade, que será regida pela lei do nacional, que não exigia consentimento da esposa, ou se tratava de uma questão substancial do contrato, que se regeria pela lei brasileira, já que o contrato foi aqui celebrado. O STF qualificou como sendo apenas como substância do contrato e decidiu que a lei aplicada era a da nacionalidade do estrangeiro, validando assim, o contrato.
 
Portanto, o mecanismo jurídico para a resolução de conflitos decorrentes do Direito Internacional Privado, deve observar a identificação do conflito, qualificação da questão jurídica, e posteriormente a essas verificações determinará qual o direito aplicável. Desta forma a lex fori é a aplicação da norma conforme o foro e o fato concreto.
2.3 Lex rei sitae
A lex rei sitae, por sua vez determina a aplicação da lei em que esteja situada determinada coisa e seu objeto – bem corpóreo –, portanto, é o regime jurídico geral dos bens, que se destina à aquisição, posse, direitos reais entre outros.
 
Observa-se que este elemento está estampado no art. 8° da LINDB, cuja qualificação dos bens é territorial, assim será aplicada a lei do local onde se encontra situado o bem; assim a lex rei sitae é técnica, uma vez que a sede das relações jurídicas está no local da situação da coisa como limite imposto pela ordem pública.
 
Vale ressaltar que tudo que for relativo ao regime da posse, da propriedade e dos direitos reais sobre coisa alheia nenhuma lei poderá ter competência maior do que a do território onde se encontrarem os bens, que constituem seu objeto. Desta forma, a lei do local em que se situa o objeto se sobrepõe às demais. 
2.4 Lex loci delicti comissi 
Compete orientar a devida obrigação de indenizar as pessoas lesadas no caso de prática de crime, e a lei empregada será aquela do lugar da prática do fato.
2.5 Lex loci executionis ou lex loci solutionis 
Determina que a lei a ser empregada seja a da jurisdição de execução de um contrato ou de uma obrigação. Lex loci solutionies - a norma a ser aplicada será a do local em que as obrigações devem ser cumpridas. 
2.6 Locus regit actum ou lex loci contractus (lugar de constituição da obrigação)
Pode-se dizer que o lugar da conclusão do contrato é um dos critérios de conexão mais populares, sendo conceituado por Toigo (2010) como “declaração de validade de ato que satisfaça as condições formais previstas legalmente e, conseqüentemente, todo ato constituído quanto áforma extrínseca nos termos da lei local será válido em qualquer país”.
Trata-se da forma como é exteriorizada a vontade, sendo previsto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB, no art. 9º, caput: “para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”.
A lex loci actus ou ius loci contractus regula a obrigação, mesmo se for condicional quanto sua forma externa. Neste caso se sujeitará às normas do país em que se constituir, pouco importando aonde irá se verificar a condição. Portanto, um ato celebrado no exterior poderá ter eficácia em outro país se foi observada a forma do lugar de sua celebração. Aplica-se, portanto, a lei do local de constituição do ato negocial.
2.7 Autonomia da vontade 
Se dois contratantes escolherem reger sua relação contratual pela lei de determinado país, seja esta escolha manifestada expressa ou tacitamente, é evidente que desejaram aplicar a lei inteira por eles conhecida e escolhida, não fazendo sentido indagar-se se o Direito Internacional Privado deste país indica a aplicação de outro sistema jurídico.
A autonomia da vontade é expressa como um acordo entre as partes das condições que serão estabelecidas na negociação, sendo formalizada pelo contrato, e assim conceituada por Victor Eduardo Rios Gonçalves (2010, p. 103):
 
A liberdade das partes para negociar, celebrando contratos, nominados ou inominados, sem qualquer intervenção governamental. Essa autonomia, porém, não é absoluta, esbarrando nos limites da ordem pública, uma vez que não se pode conferir às partes liberdade para confrontarem o Estado de Direito. Além disso, é necessário que se respeitem a moral e os bons costumes.
Segundo Araújo (apud TEIXEIRA, 2009, p. 128) os elementos da autonomia da vontade podem ser vistos em três planos: “de uma parte, o princípio da autonomia aparece como o meio privilegiado de designação da lei estatal aplicável a um contrato internacional. De outro lado, o principio permite às partes subtraírem o seu contrato ao direito estatal. Finalmente, a autonomia da vontade seria um instrumento de aperfeiçoamento do direito por causar a eliminação do conflito de leis, pois suas normas reguladoras emudeceriam em razão da liberdade internacional das convenções.
Na doutrina brasileira existem três correntes distintas de pensamento: a primeira, daqueles enfaticamente contrários à autonomia da vontade; a segunda, daqueles que são a favor, desde que limitada às regras supletivas, excluindo-se, portanto, a possibilidade de sua aplicação ao contrato como um todo; e finalmente a terceira, daqueles favoráveis a teoria de forma mais ampla.
3. CONCLUSÃO
Ante o exposto, concluímos que os elementos de conexão possuem função ímpar na órbita das relações internacionais, tendo a função de solucionar o aparente conflito de leis no espaço internacional, definindo qual lei deve ser aplicada à relação jurídica internacional privada.
Ao ato jurídico internacional se aplica a lei de um país, todavia, ele possui ligação com outro Estado. Assim, um ato jurídico praticado no Brasil e em julgamento no Brasil pode vir a ter alguma ligação com a lei estrangeira, bem como um juiz brasileiro, decidindo uma questão no Brasil, pode vir a consultar e aplicar, em nosso País, a lei de outro Estado. Tais situações somente podem vir a ocorrer porque existe um elemento constitutivo desse ato, cujos efeitos têm reflexos em um outro. Em razão desse elemento de conexão, o ato fica adstrito a dois ou mais sistemas jurídicos.
Há elementos que conectam a lei brasileira à lei de outro País, quando aplicado em determinado fato ou ato em concreto. Tais elementos são denominados de “elementos de conexão”. Assim são chamados por constituírem um fato vinculado a um ato que, apesar de se localize no Brasil, estabelece uma conexão com outro País.
 ‘’Teoria Dualista e Munista’’
A doutrina formulou duas teorias acerca da relação entre o Direito Internacional e o Direito Interno. 
Defende a teoria dualista que o Direito Internacional e o Direito Interno são dois sistemas jurídicos distintos e independentes, regulando o último as relações entre os Estados e, por conseguinte, não originando obrigações para os indivíduos. 
Já a teoria monista determina que o Direito é único tanto nas relações do Estado para com a sociedade, quanto nas relações entre Estados. Esta teoria ainda divide-se em duas correntes. A denominada Monismo internacionalista prevê que, existindo dúvida entre a aplicação de normas do Direito Internacional face o Direito Interno a norma internacional prevalecerá sobre a interna. A outra, chamada de Monismo nacionalista defende que nesta mesma situação, a primazia será do direito Interno sobre o Direito Internacional. 
A Constituição Federal é silente quanto à teoria adotada pelo Brasil. Contudo, o Supremo Tribunal Federal se posicionou no sentido da aplicação da Teoria Dualista moderada, recebendo o Tratado Internacional status de Lei Ordinária, por disposição constitucional, salvo os casos de Tratados sobre Direitos Humanos, cujo 2º do artigo 5º da CF lhes atribui eficácia de norma supralegal. 
Os monistas acreditam que tanto o Direito Internacional quanto o Interno, Nacional, constituem o mesmo sistema jurídico, isto é, há apenas uma única ordem jurídica que dá nascimento às normas internacionais e nacionais. É o entendimento desposado por Hans Kelsen, por exemplo, conforme se depreende do seguinte trecho da ?Teoria Pura do Direito?: "Se esta norma, que fundamenta os ordenamentos jurídicos de cada um dos Estados, é considerada como norma jurídica positiva- e é o caso, quando se concebe o direito internacional como superior a ordenamentos jurídicos estatais únicos, abrangendo esses ordenamentos de delegação- então a norma fundamental- no sentido específico aqui desenvolvido, de norma não estabelecida, mas apenas pressuposta- não mais se pode falar em ordenamentos jurídicos estatais únicos, mas apenas como base do direito internacional". 
O monismo dará margem, por sua vez, à outra cisão: em havendo origem comum para as normas nacionais e internacionais, como será possível escaloná-las? Pode-se propugnar pela supremacia do Direito Interno, reconhecendo, in casu, o Direito Internacional como mero desdobramento do Direito Interno; pode-se defender a tese da supremacia das normas internacionais, considerando então que a autonomia estatal encontra seu limite no ordenamento internacional; e, por fim, há a chamada corrente do monismo moderado, que vê equivalência entre as normas nacionais e internacionais, devendo possível conflito ser suprimido mediante critérios próprios, como o da revogação da lei mais antiga pela mais recente. 
Do lado oposto, como vimos, há a teoria dualista. Aqui, enxerga-se uma distinção clara entre os dois ordenamentos, o Interno e o Internacional, de sorte que a ordem jurídica interna compreende a Constituição e demais instâncias normativas vigentes no País, e a externa envolve tratados e demais critérios que regem o relacionamento entre os diversos Estados. Seria possível tal distinção, segundo os dualistas, pois ambas as normas, internas e externas, atuam em esferas distintas, tendo origens e objetos diversos. A norma externa, logo, só teria aplicabilidade no Direito Interno caso fosse recepcionada pelo mesmo, não havendo assim conflito. O descumprimento pelo Estado da incorporação em seu ordenamento interno de uma norma externa com a qual houvesse se comprometido ensejaria apenas sua responsabilidade internacional, não podendo haver jamais imposição por parte dos demais signatários.
Posto isso, exsurge a dúvida acerca do critério utilizado na Constituição de 1988. Apesar de haver entendimento no sentido monista, com base no art. 5º §2º (?Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte?), entendo ser mais correta a posição dualista.Afinal, para que o tratado ingresse em nosso ordenamento, é necessário que passe por todo o procedimento previsto na Carta Magna. Deve haver, então, a celebração do tratado pelo Presidente da República, conforme dispõe o art. 84, VIII; então, tal tratado deve passar pelo crivo do Congresso Nacional, que deve emitir decreto legislativo (art. 49, I), devendo por fim ser promulgado pelo Presidente da República, mediante decreto. Apenas após todo esse trâmite o tratado externo terá vigor no País, tendo status de lei ordinária (salvo se tratar de direitos e garantias fundamentais), sendo suscetível inclusive de controle de constitucionalidade.
Então, entendo claro que há, primeiro, a distinção entre o ordenamento pátrio e o externo, nos moldes da corrente dualista, e, segundo, a supremacia do Direito Pátrio sobre o Externo.
Conceito de contrato internacional
Inicialmente, a palavra contractus significa unir, contrair. É, por assim dizer, um negocio jurídico em que se celebra o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, nos limites da função social do contrato e nos princípios de boa-fé e probidade, destinados a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, até chegarem ao momento culminante, que é a conclusão do mesmo.
O contrato internacional, objeto inebriante do nosso tema, é um acordo de vontades que visa a colimar um objetivo das partes. Na verdade, tal contrato é a conseqüência do intercambio entre Estados e pessoas, no sentido amplo, cujas características são diversificadas dos mecanismos conhecidos e, usualmente, utilizados pelos comerciantes.
O presente estudo dará, portanto, prioridade à questão da lei aplicável aos contratos internacionais, categoria em que se encontram os contratos internacionais do comércio. De tal arte, a natureza de um contrato como internacional ou não é feita a partir de uma perspectiva interna, cada país adotará seus critérios de interpretação. Sendo assim, um contrato pode ser considerado internacional em um país, e interno em outro.
Neste passo, para que um contrato esteja potencialmente sujeito a dois ou mais ordenamentos jurídicos, há que se identificarem os elementos de estraneidade e sua relevância jurídica. Para o direito brasileiro, um exemplo relevante de estraneidade é o domicílio das partes contratantes. Ad exemplum, um contrato de locação será internacional se celebrado entre uma pessoa domiciliada no Canadá e outra aqui no Brasil, mesmo que ambas sejam brasileiras e que o objeto do contrato se encontre em solo nacional. 
Ortodoxamente, o elemento de estraneidade é selecionado pela autoridade judiciária para apontar o ordenamento jurídico a ser aplicado no caso concreto que funciona, verdadeiramente, como uma seta sugestiva do direito aplicável. Sua importância é imensa, devido à proliferação dos contratos internacionais do comércio, que por sua natureza, não restringem seus vínculos a um único e exclusivo sistema legal.
Tal elemento tem função indicativa, isto é, mostrar que o direito intervém com função subordinante, apontado pela expressão variável, que é utilizável de acordo com as circunstâncias que fixam o elemento vinculativo, podendo ser a nacionalidade, a residência, o domicílio, o lugar da situação dos imóveis, do local da obrigação dos contratos (STRENGER, 1973, p. 24).
A diferença fundamental entre os contratos nacionais, regidos pelo Código Civil Brasileiro, Lei nº 10.406 de 2002, nos art. 421 e seguintes, é que no contrato internacional as cláusulas concernentes à conclusão, capacidade das partes e o objeto se relacionam a mais de um sistema jurídico vigente. Ambos os direitos, internacional e nacional, tem campos de atuação distintos, sendo, no entanto, difícil, às vezes, demarcar quando começa um e quando o outro termina. 
Portanto, frisa-se que, quando os elementos constitutivos do contrato, como as partes, objeto, local, se originam e se realizam dentro dos limites geográficos e político de um único país, está-se diante do âmbito interno das obrigações. Inversamente, quando as partes contratantes tenham nacionalidades diversas ou domicílio em países diferentes, quando o objeto do contrato seja entregue ou prestado de forma extraterritorial, ou quando os lugares de celebração e execução das obrigações contraídas também não coincidem, estaremos diante dos contratos internacionais empresariais (STRENGER, 2003, p. 33).
Seguindo a finalidade primordial do Direito Internacional Privado, que é a de indicar o direito aplicável às diversas situações jurídicas conectadas a mais de um sistema legal, serão analisados neste estudo os elementos de estraneidade, que auxiliam a autoridade judicial na escolha da norma mais benéfica a ser aplicada.
II – A escolha do foro competente 
Assim, sendo o contrato de cunho internacional, a ação seguirá ao procedimento de um determinado foro, onde atua um juiz, que confere em nome do Estado e mediante provocação da parte legítima e interessada, uma determinada prestação jurisdicional justa e digna, fundamentada nos princípios que norteiam do Direito Internacional.
Sobre o tema, salta aos olhos a conceituação de Castro (1956, p. 175) sendo o foro “o lugar onde se encontram as manifestações de vontade que determina o direito mais próprio para colocar as partes em situação de manifestar livremente seu consentimento e fornecer boas regras de exegese dessa manifestação.”
O magistrado, em contato com a ação, é obrigado aplicar a lei nacional, ou seja, a lei do país onde desempenha sua função jurisdicional. Esse princípio da compulsoriedade de aplicação da norma jurídica nacional é universal.
Dúvidas nenhuma surgirão quando um contrato trouxer o foro escolhido pelas partes, pois elas podem eleger o foro onde tramitará a ação judicial oriunda do contrato que celebraram, sendo esta uma das formas de manifestação da autonomia da vontade. Normalmente, essa escolha é inserida no texto original do contrato. 
Entretanto, há hipóteses que operacionalizam entraves quando o contrato não indicar o local onde a eventual ação judicial deve ser proposta.
De tal arte, existem três possibilidades de contemplação de foro no contrato a ser definida pelas partes, como a escolha do foro do país onde se localiza o vendedor ou prestador de serviços; escolha do foro do país onde se localiza o comprador ou tomador de serviços; escolha de um terceiro país, inconfundível com o foro dos países das partes envolvidas.
Muitas vezes, por questões práticas, os contratantes elegem como foro o país de um deles. No entanto, no plano fático, essa opção acabou gerando problemas relativos à confiabilidade e, principalmente, imparcialidade das decisões judiciais.
Ad argumentandum tantum, em nosso direito interno, os artigos 88 e 89 do Diploma Processual Civil, dispõem sobre a competência da autoridade brasileira sobre questões internacionais, pois não é em todos os casos que as autoridades brasileiras estão hábeis a praticar o direito nacional.
Existem hipóteses em que a escolha do foro estrangeiro será ineficaz, ainda que resulte de expressa manifestação da vontade das partes, pois o art. 89, do respectivo diploma processual, contempla as hipóteses da competência absoluta da autoridade brasileira.
Esses dispositivos do Código de Processo Civil não cuidam da lei aplicável, mas sim da competência jurisdicional (concorrente ou exclusiva) do juiz brasileiro na apreciação de causas conectadas com mais de um Estado. No direito interno, a ordem pública é o conjunto de princípios, tidos como fundamentais e integrantes do sistema jurídico que não podem ser derrogados.
Princípios do direito internacional
Diversos são os princípios que regem o Direito Internacional Privado, merecendo destaque os seguintes:
a) Princípio da obrigatoriedade (pacta sunt servanda)
Trata-se da necessidade do cumprimento do acordo de vontade que fora previa e livremente pactuado pelas partes, uma vez que o contrato é lei individual, com plena eficácia e poder de vinculação.
Cumpre ressaltar que o cumprimento da obrigaçãoassumida é tão dominador que nem mesmo o Estado pode intervir na relação jurídica entre as partes. 
No entanto, o princípio da obrigatoriedade encontra exceções, como em eventuais alterações contratuais em caso de mudança no equilíbrio do contrato (hardship), na qual a parte que se encontra em desvantagem pode solicitar à outra parte que renegocie os termos originais do contrato. 
b) Princípio da autonomia das partes
Refere-se à liberdade concedidas as partes no tocante a celebração do contrato para determinar o seu conteúdo. Contudo, tal autonomia não é absoluta, sendo limitada por questões de interesse público, já que o interesse coletivo deve prevalecer o interesse privado. 
Ademais, tal princípio é limitado primeiramente às normas imperativas do direito aplicável ao contrato, assim, obrigarão as partes apenas na medida em que não afetem as normas sobre as quais não podem dispor livremente e também terão prevalência às normas a respeito de foro ou mesmo de um terceiro Estado que sejam imperativas e aplicáveis à obrigação assumida pelas partes. 
c) Princípio da boa-fé
O princípio da boa-fé é o alicerce das obrigações, sendo que todos os contratantes devem agir com lealdade e confiança recíprocas. 
Alípio Silveiro esclarece como sendo o princípio da boa-fé:
“princípio da equidade e humanidade, suprindo e sanando vícios; como critério de moralidade, refletindo no dever de agir com lealdade tanto na celebração do contrato como no cumprimento das obrigações avençadas; e como princípio interpretativo da norma jurídica e da vontade das partes.” [5]
d) Princípio da independência nacional
Referido princípio consiste na soberania polícia e econômica de determinado país que deve prevalecer, repudiando qualquer intervenção direta ou indireta de outros Estados.
e) Princípio da autodeterminação dos povos
Intimamente ligado ao princípio da independência nacional está o princípio da autodeterminação dos povos, no qual o povo de um Estado tem a prorrogativa de tomar as atitudes que lhe são convenientes, tais como o seu destino e a forma da qual será dirigido. 
f) Princípio da não intervenção nos assuntos internos dos Estados
Em regra, cada país se desenvolve da maneira que escolher, sendo soberano. No entanto, tal princípio admite exceções como no caso de prévia autorização de intervenção pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. 
g) Princípio da igualdade soberana dos Estados
Todos os Estados possuem um governo, um território e um próprio povo, de modo que nenhum deles é superior no cenário internacional para justificar eventuais desigualdades entre os mesmos. Assim, o exercício pleno de todos os direitos e garantias fundamentais pertencem a todas as pessoas, independentemente de sua raça, religião, credo, ou qualquer elemento diferenciador. 
h) Princípio da solução pacífica dos litígios entre os Estados
Para a solução de conflitos existentes entre os Estados, deve-se utilizar de meios pacíficos, estes subdivididos em: diplomáticos, políticos, jurídicos e jurisdicionais. 
i) Princípio do dever de cooperação entre os povos
Para atingirem um bem maior, tal qual a paz, a humanidade deve cooperar entre si.

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