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Ghost Bikes: como elas podem ser 
educativas? 
 
(Foto: Olof Werngren/Flickr) 
As Ghost Bikes são bicicletas brancas instaladas em locais de acidentes fatais com 
ciclistas, como memoriais em homenagem aos que perderam suas vidas no trânsito. Um 
de seus objetivos é alertar e conscientizar motoristas, contudo ainda se trata de uma 
iniciativa da sociedade civil, muito restrita aos grupos de ativistas. Infelizmente, porém, o 
propósito da iniciativa – a conscientização social – não vem sendo concretizado, pois há 
desconhecimento do tema por parte de muitos motoristas e leigos, de uma forma geral. 
A ação é realizada em todo o mundo e também no Brasil. A primeira bicicleta-homenagem 
desse tipo foi implantada em 2003 nos Estados Unidos. Em São Paulo, a primeira Ghost 
Bike foi instalada em 2007 e, desde então, os cicloativistas já implantaram pelo menos 
outras 15 ghost bikes na cidade. Segundo a associação Vá de Bike, as ghost bikes podem 
ser montadas por qualquer pessoa, sendo necessário pintar uma bicicleta de branco e 
afixar no local. Para desestimular o furto, é recomendável retirar todas as peças que 
viabilizem a sua utilização, tais como: câmaras, cabos, freios, câmbio, paralamas, 
bagageiro, manetes de freio, passadores de marchas e refletivos. Embora a associação Vá 
de Bike afirme que “as bicicletas brancas servem como um alerta aos condutores de 
automóveis para que tomem mais cuidado com as vidas que pedalam pelas ruas, 
lembrando que um ciclista é uma pessoa e não um obstáculo, com família, amigos, filhos, 
amores e sonhos”, ainsa são poucas as pessoas da sociedade civil que têm conhecimento 
acerca dessa intervenção urbana. 
Em outubro de 2015 realizamos uma pesquisa em meio virtual com pessoas diversas, 
incluindo técnicos da área de trânsito e transportes, ciclistas e leigos no tema. A pesquisa 
foi realizada com o objetivo de identificar qual conhecimento a sociedade tem acerca 
das ghost bikes e foi divulgada em redes sociais e em grupos de e-mails. Foram obtidas 
85 respostas, entre as quais 81 (95,3%) afirmaram não saber o que são ghost bikes. Além 
disso, dentre as pessoas familiarizadas com o conceito, todas se identificaram como 
ciclistas. Trata-se, portanto, de uma ação marginalizada e restrita ao conhecimento de 
ativistas e especialistas no tema. Em relação aos motoristas que responderam a pesquisa, 
nenhum sabia sobre o assunto. Importante ressaltar ainda que 28,2% dos entrevistados se 
identificaram como ciclistas, e que muitos, mesmo fazendo parte dessa realidade, não 
tinham conhecimento acerca das ghost bikes. Com o objetivo de melhor compreender a 
ação de implantação de ghost bikes e trocar informações com profissionais da área em 
diferentes contextos sociais e econômicos, elaboramos um questionário sobre a temática e 
enviamos para especialistas e ativistas de diferentes nacionalidades. 
Colin Hughes, Diretor de Políticas Nacionais e Avaliação de Projetos do ITDP em 
Washington, acredita que, embora sejam bons memoriais às vidas perdidas e promovam a 
preocupação quanto à segurança, as ghost bikes podem contribuir para uma imagem 
negativa do ciclismo. O especialista sugere que as ghost bikes estejam acompanhadas de 
sinalização que informe a quantidade de ciclistas pedalando diariamente e a quantidade de 
ciclistas mortos em média, para que as pessoas possam ter a real dimensão do risco, ao 
mesmo tempo em que se sintam encorajadas a ter uma conduta adequada e segura em 
seus trajetos. 
Daniel Valença, coordenador geral da Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande 
Recife (Ameciclo), afirmou que “a ideia de homenagear e de chamar atenção para o poder 
público e transeuntes sob a violência no trânsito é necessária”. Quanto ao risco de 
desestímulo de pedalar que pode ser promovido com a implantação das ghost ikes, ele 
esclarece que há a possibilidade de se acontece, mas não invalida o processo. Na visão 
de Harsha Dijk, representante da TNO (Organização Holandesa para Pesquisa Científica 
Aplicada) no Brasil, a existência de muitas ghost bikes na extensão de uma mesma rota 
diária certamente pode desencorajar alguns ciclistas. 
Hillie Talens, Gerente de Projeto na plataforma tecnológica CROW, explica que não acha 
que esses monumentos irão desencorajar o uso da bicicleta. Ao contrário, ela acredita que 
pessoas terão mais um motivo a pedalar, lembrando que a perda de um amigo foi sem 
propósito e que, utilizando constantemente a bicicleta, mostra-se respeito ao amigo 
perdido, ao companheiro ciclista. Segundo a especialista, “felizmente ainda há muito mais 
ciclistas chegando vivos ao seu destino do que ciclistas mortos no trânsito”. Na concepção 
de Talens, as ghost bikes tornam as pessoas cientes do fato de que os ciclistas são 
vulneráveis e todos devem ser cuidadosos no trânsito. Ineke Spapé, professora de 
mobilidade integrada e planejamento urbano na Breda University of Applie Science, na 
Holanda, considera que, uma vez que as ghost bikes têm grande impacto, devemos tentar 
basear a campanha partindo de elementos positivos. 
Por fim, Aline Cavalcante, cicloativista e idealizadora do projeto oGangorra, explica que um 
ponto importante sobre a implantação de ghost bikes é “não deixar os mais vulneráveis no 
trânsito serem esquecidos, aparados e virarem só estatística” e que “o objetivo é criar uma 
memória dos crimes de trânsito, não deixar as pessoas serem apagadas com a limpeza do 
lugar”. Sobre a possibilidade de desestímulo a novos ciclistas, ela avalia que, para 
esclarecer a existência das ghost bikes, sempre que possível é recomendável deixar uma 
carta-manifesto junto à ghost bike, explicando o motivo de sua existência e lembrando que 
somos vítimas da violência no trânsito. 
Todos os especialistas entrevistados afirmaram que as ghost bikes devem ser iniciativa da 
sociedade civil. Sobre a apropriação da intervenção pelo poder público, Daniel Valença 
considera que, uma vez que essa manifestação foi criada “para lembrar ao poder público 
de que ele não cuidou da segurança no trânsito daquele local”, “o Poder Público se 
apropriar dessa ideia pode ser válido, mas não no mesmo formato”. 
Como resultado das entrevistas e pesquisas realizadas, propomos quem sejam pensadas 
ferramentas que informem, por meio de ícones, a localização de ghost bikes e transmitam 
mensagem educativa via notificação e alerta. O interessante seria que essa ferramenta 
fosse incorporada a um aplicativo de mapas e rotas existentes. 
 
(Foto: Thirteen Of Clubs/Flickr) 
*** 
Luiza Maciel e Stephanie Fantoni 
Pesquisa realizada em 2015 no curso de Pós Graduação em Transporte e Trânsito do 
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais