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Comunicação e Expressão Unidade 3: No mundo da fala Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo No mundo da fala Nesta unidade, você vai encontrar situações em que as pessoas precisam se expressar oralmente, mas que não são do cotidiano. Para tanto, será preciso discutir os seguintes temas: ouvinte; tema; sequência e técnicas para uma boa apresentação. Falar em nome da turma? A festa de formatura de Eduardo estava chegando. Um de seus professores lembrou a classe que um aluno precisava ser o orador. Eduardo foi o escolhido pelo grupo. A orientação que recebeu foi a seguinte: seria preciso fazer uma retrospectiva dos 3 anos de Ensino Médio, recapitulando os grandes acontecimentos vividos pelo grupo; fundamental também era agradecer aos familiares, funcionários e gestores de sua escola, enfim. Eduardo era um ótimo aluno, escrevia textos excelentes, mas nunca precisou escrever um discurso para apresentar diante de centenas de pessoas. Ele estava inseguro, pois não sabia bem o que dizer e nem como dizer... A situação vivida por Eduardo revela um ponto importante da comunicação: a oralidade. Muitas pessoas acham que falar bem é um dom, algo espontâneo que alguns privilegiados conseguem fazer com maestria. Esse dom fica especialmente ressaltado se a fala estiver prevista para ser apresentada diante de um grande público, como é o caso de Eduardo. É evidente que alguns indivíduos têm facilidade para se comunicar oralmente; no entanto, da mesma forma que escrever ou ler, falar bem, independente do tamanho do público, é uma competência que todos podem desenvolver, de forma satisfatória. Mais do que isso: é uma necessidade humana. Há muitas situações pessoais e profissionais em que somos obrigados a falar diante de outras pessoas. Essa fala pode ser produzida a partir de uma situação de improviso ou de um evento previamente marcado. Se tivermos a oportunidade de preparar nossa apresentação oral, ela poderá ter um êxito maior frente a nosso público. “Falar em público” não é uma habilidade natural de alguns. Acreditamos que as apresentações orais, como qualquer outro gênero textual, podem ser preparadas por qualquer falante, que chegará a um bom resultado. A falta de preparo e o medo de enfrentar um público são elementos que, normalmente, interferem na apresentação oral, de tal forma que, muitas vezes, mesmo possuindo um bom conhecimento do assunto a ser tratado (elemento fundamental para o bom desempenho), as pessoas sentem imensa dificuldade em falar para uma plateia. O que é uma apresentação oral? Para Dolz, Schneuwly, Pietro e Zahnd A exposição ou apresentação oral é um discurso que se realiza numa situação de comunicação específica que poderíamos chamar de bipolar, reunindo o orador ou expositor e seu auditório. Assim, a exposição pode ser qualificada como um espaço- tempo de produção onde quem fala dirige-se ao destinatário, por meio de uma ação de linguagem que veicula um conteúdo referencial. Mas, se esses dois atores encontram-se reunidos nessa troca comunicativa particular que é a apresentação, a assimetria de seus conhecimentos sobre o tema a ser exposto os separa: um, por definição, representa o “especialista”; o outro é mais difícil de caracterizar, mas, pelo menos, apresenta-se como alguém disposto a aprender alguma coisa. Podemos definir pois a exposição oral como um gênero textual público, relativamente formal e específico, no qual um expositor especialista dirige-se a um auditório, de maneira explicitamente estruturada, para lhe transmitir informações, descrever-lhe algo ou lhe explicar alguma coisa. (Dolz, Schneuwly, Pietro e Zahnd, 2011, p. 185) Uma boa preparação pode contribuir, de maneira significativa, na superação do medo de falar diante dos outros. Inicialmente, vamos pensar em três aspectos: o que falamos, com quem e de que modo. Com quem estamos falando? Como em qualquer ato comunicativo, é importante sabermos sobre o público a quem nos dirigimos. Por que estão ali? Que expectativas têm? Outro ponto importante é acompanhar a fala de acordo com as reações dos ouvintes: as expressões faciais, postura corporal, entre outros aspectos, podem auxiliar para um melhor direcionamento do que estamos apresentando. Do que estamos falando? Uma apresentação oral deve ser organizada em torno de um tema. No caso de Eduardo, ele precisa fazer uma retrospectiva da turma, apontando os principais pontos da trajetória do grupo que ele representa, dando especial atenção aos que ajudaram para que eles chegassem até ali. Ter clareza do tema, portanto, é a base de organização da apresentação. Qual é a sequência? O modo como conduzimos uma apresentação é fundamental para seu sucesso: • Apresentação da proposta: é preciso cumprimentar o público, se apresentar, bem como o tema ser tratado. Além disso, para facilitar o entendimento, pode- se sintetizar, antes do início propriamente dito, o caminho que será percorrido. Nada impede, também, que, durante a apresentação, a cada novo momento que se inicia, você avise seus ouvintes de que outro tópico será destacado. • Fio de raciocínio: uma fala deve ter um fio, previamente estabelecido. Ao compor uma apresentação, organizamos uma série de informações sobre um dado assunto. Portanto, tão importante quanto dominar o assunto é saber como apresentá-lo. • Leituras: devem ser evitadas, especialmente de longos trechos. Quando necessário, fazê-las de modo que possam ser acompanhadas pelo público (em transparência, data show ou cópia entregue a cada participante). E agora, Laura? Uma grande empresa está realizando entrevistas para o cargo de recepcionista. Primeiro, é feita uma dinâmica em grupo, na qual o responsável pelo RH pede que todos se apresentem (dizer nome, idade, quais seus objetivos dentro da empresa, por que a escolha daquela empresa e como se imaginam daqui a 5 anos). Laura, que é muito tímida, acabou de entrar na faculdade, tem pouca experiência com entrevistas, percebe que suas concorrentes são mais velhas que ela. Ela está insegura. O que Laura pode fazer para viver momentos como esse de forma mais segura? Laura está vivendo uma situação muito comum: ela precisa falar em público, mas não se sente capaz. Está envergonhada, intimidada, não sabe o que dizer nem de que modo. Essa sensação parece estar paralisando a moça. De acordo com o especialista Reinaldo Polito, “Nós temos internamente dois oradores distintos: um real e outro imaginado. O real é o verdadeiro, aquele que as pessoas veem efetivamente. O imaginado é fruto da nossa imaginação, aquele que nós pensamos que as pessoas veem quando falamos. Esse orador imaginado é construído principalmente pelos registros negativos que recebemos — os momentos de tristeza, de derrota, de cerceamento que passamos ao longo da vida. Esses registros formam uma autoimagem negativa, distorcida, diferente da imagem verdadeira que possuímos”. Na tentativa de superar esses problemas, vamos apresentar algumas técnicas para apresentação oral, que podem nos auxiliar a persuadir nossos interlocutores. O que é persuasão? De acordo com Citelli (2000), todo texto tem algum grau de persuasão, uma vez que, de alguma forma, a pessoa que fala ou escreve sugere, de forma explícita ou implícita, ideias, valores, visões de mundo em seu texto. No entanto, há formas de expressão em que a tentativa de convencer o outro sobre algo é direta, clara, com argumentos que sustentam uma dada forma depensar. É o caso das palestras e apresentações orais. Por vezes, por outro lado, é possível transmitir algumas ideias de forma mais indireta. Por exemplo, se alguém, em dada situação, apresenta uma imagem, uma música e diz a seu interlocutor “quero que esse texto lhe ajude a pensar no que dissemos”, a persuasão é mais implícita, pois o leitor vai ter alguma abertura no modo de interpretar a imagem ou o que a música sugere. Isso não significa, por outro lado, que ser implícito é menos persuasivo. Isso depende de cada situação comunicativa e dos interlocutores envolvidos. • É preciso ensaiar: em qualquer comunicação oral mais formal, devemos chegar preparados. Saber o que vamos dizer, em linhas gerais, em quanto tempo, de que modo. Para tanto, ensaiar a situação, diante de pessoas conhecidas, pode nos auxiliar a superar o medo de falar diante dos outros. • Cuidado com a aparência e postura: uma vestimenta adequada à situação, bem como postura e posicionamento corporais, interferem na recepção do público. Mesmo se a comunicação oral se dará apenas entre duas pessoas – por exemplo, um médico e seu paciente – é preciso causar uma boa impressão. • Interaja com a plateia: o olhar e a fala para a plateia também auxilia na interação com o público. Perceber suas reações, prever momentos em que as pessoas poderão fazer perguntas, provocar os ouvintes com questionamentos. Todos esses recursos colocam ao favor do apresentador uma característica básica da comunicação oral: estar diante de seu interlocutor. • Uso de recursos audiovisuais: quando usar transparência ou data show é fundamental que o texto esteja legível e sirva como apoio. Esses recursos, por si mesmos, não produzem a apresentação, servindo, apenas, como fonte de apoio. Além disso, espera-se que não apresentem erros (ortografia, acentuação, diagramação, etc.). • Atenção à Língua Portuguesa: a fala, devido à situação de interlocução, mostra-se, às vezes, um pouco menos formal do que a escrita. No entanto, opte, sempre, pelos usos do português padrão, sem exageros (você não precisa parecer erudito, tampouco deve usar gírias). • A citação de fontes: devem citar-se as fontes dos dados e informações que serão apresentadas na fala. Além disso, sempre que um elemento for mencionado literalmente, deve aparecer com a notação bibliográfica. • Apresentação programada: toda apresentação tem um tempo de duração. Portanto, é fundamental estabelecer como a fala será distribuída no tempo. Assim, seguindo o fio de raciocínio, deve-se estabelecer o tempo de duração de cada parte da fala. • Interação (falas em grupo): em algumas situações, uma apresentação é feita por um grupo. Nesses casos, é importante organizar previamente a ordem e o momento de fala de cada um. Um recurso complementar nessa organização é o “passar a palavra”, quando houver troca de orador; isso evita a sobreposição de falas, situação que deve ser evitada por poder gerar confusão de entendimento, demonstrar desorganização, insegurança etc. • Fale com emoção: é importante demonstrar aos ouvintes que você acredita no que está falando. Sem ser caricato ou piegas, em situações de comunicação oral é preciso se expressar de modo a transparecer que se acredita no que se diz e que aquele momento ali está sendo importante para o apresentador. Testando Leia as afirmações a seguir e observe a relação entre elas. Em seguida, com base nas explicações dadas na unidade, selecione a alternativa correta. Iniciar uma apresentação com uma imagem síntese do que se quer dizer pode ser um bom recurso persuasivo PORQUE Dependendo da situação comunicativa, uma sugestão implícita do que se quer transmitir pode ser tão ou mais eficiente do que dizer de forma clara e objetiva o que se quer transmitir. a) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa. b) A primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira. c) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda justifica a primeira. d) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda não justifica a primeira. e) As duas afirmações são falsas. Feedback: De acordo com o conteúdo instrucional, as duas afirmações estão corretas e há uma relação de causa e consequência entre elas. Resumo da unidade Nesta unidade, focamos nossa atenção no gênero “apresentação oral”, entendendo algumas de suas características. Acima de tudo, defendeu-se a ideia de que falar com os outros, para um público pequeno ou grande, em situação mais formal, não deve ser visto como uma situação espontânea. Falar bem exige preparação, para que o efeito de persuasão que se deseja seja alcançado. Referências bibliográficas CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 2000. Dolz, Schneuwly, Pietro e Zahnd. A exposição oral. In: Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2011. POLITO, Reinaldo. “Vença o medo de falar em público”, artigo publicado em 23/02/2007. http://noticias.uol.com.br/economia/carreiras/artigos/polito. Sites http://www.reinaldopolito.com.br/portugues/default.php – no site do professor Polito você encontra muitas informações para preparar sua apresentação oral. Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=G6yf3lT-HDo – Aqui você encontra algumas informações sobre apresentações orais.
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