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OS ACHADOS ARQUEOLÓGICOS DE KESEL: PORQUE JÚLIO CÉSAR TEMIA AS TRIBOS GERMANAS DOS USÍPETES E TENCTERES?

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OS ACHADOS ARQUEOLÓGICOS DE KESEL: PORQUE JÚLIO CÉSAR TEMIA AS TRIBOS GERMANAS DOS USÍPETES E TENCTERES?
Renan do Amarante Gonçalves
Graduando em História pela UFSM
E-mail: renan.a.g.2.9@gmail.com
RESUMO
	Este trabalho objetiva apresentar algumas considerações sobre os achados arqueológicos encontrados próximo à cidade de Kesel, na atual Holanda, que coincidem com um episódio de conflito entre germanos e romanos durante as campanhas gálicas, empreendidas sob o comando do General Júlio César em 58 a. C. Esse episódio ficou marcado pelo extermínio de duas tribos germanas, os usípetes e tencteres, que pediram asilo aos romanos devido à ameaça constante que sofriam dos suevos, a mais forte e violenta tribo germana liderada pelo rei Ariovisto, o que, no entanto, como vemos, não aconteceu por parte dos romanos. Para compreendermos melhor nosso objeto de estudo utilizamos como fontes as obras Comentários sobre a Guerra Gálica, escrita pelo próprio General Júlio César, algumas informações arqueológicas sobre o achado e informações adicionais analisadas a partir da obra Germânia, do historiador romano Públio Cornélio Tácito. A principal informação que os achados arqueológicos nos apresentam é que as tribos usípetes e tencteres foram exterminadas em massa pelos romanos comandados por Júlio César. Diante disso, ao analisar a documentação escrita pelos próprios romanos, buscaremos responder às questões: Por que Júlio César temia tais tribos germanas a ponto de exterminá-las totalmente? Por que Júlio César e seus soldados preferiram o extermínio a negociações e inserção de tais tribos no Império Romano?
PALAVRAS-CHAVES: História e Arqueologia; Guerras Gálicas; Extermínio; Júlio César; Commentarii de Bello Gallico.
INTRODUÇÃO
No ano 58 a. C, Júlio César, militar e político romano da República Romana, investe em uma campanha de anexação da Gália, território que corresponde atualmente à França. Como sabemos, naquele contexto, a Gália era dividida em três partes: em uma delas viviam os povos belgas, em outra os aquitanos e por último os chamados celtas ou galos pelos romanos. Os belgas vizinhavam dos povos germânicos, por sua vez, viviam além do rio Reno e em contínua guerra com os vizinhos (CÉSAR, Júlio). A seguir um mapa da região em questão:
Imagem I: As divisões da Gália romana. Disponível em: http://www.quickiwiki.com/pt/Guerras_da_G%C3%A1lia Acesso em: 02/02/2016
No dia 20 de dezembro de 2015 foi noticiado aqui no Brasil, pelo Site do Yahoo, que arqueólogos da Universidade de Amsterdã encontraram diversos artefatos como esqueletos, lanças, espadas, cintos e elmos, na região próxima à cidade de Kessel. Além disso, os estudos indicaram que os corpos foram recolhidos, juntos as suas armas, e depositados no leito do rio. Estes achados correspondem a um massacre efetuado pelas legiões romanas contra as tribos germanas dos tencteres e dos usípetes, fato este que foi relatado pelo próprio General Júlio César, idealizador das guerras gálicas. Segundo o Gen. romano, cerca de 430 mil pessoas foram aniquiladas, em sua maioria mulheres e crianças, entretanto, nenhuma prova foi encontrada para tornar verídico esse episódio. Segundo todos os dados já colhidos na história até então, pode ter sido esta a primeira invasão romana em território germânico. De acordo com o arqueólogo Nico Roymans da Universidade de Amsterdam, conforme a matéria, é possível se questionar se a ação do General romano não tenha sido um ato de genocídio.
Imagem II: Achados arqueológicos na cidade de Kessel. Disponível em: https://br.noticias.yahoo.com/arque%C3%B3logos-encontram-local-onde-j%C3%BAlio-c%C3%A9sar-152948202.html. Acesso em: 02/02/2016
Segundo o que consta na reportagem, as tribos citadas, ao que parece, não vinham com intenções bélicas em direção aos romanos, justamente pelo contrário, eles pediam asilo a estes, pois sofriam ameaças da tribo dos suevos, a maior e mais poderosa da Germânia, liderada por Ariovisto, o rei dos Suevos.
Diante do que foi exposto, surgem algumas questões aos historiadores: Quais razões levaram o General Júlio César a exterminar estas duas tribos germanas que não ofereciam perigo aos romanos? Por que os romanos lhes negaram asilo? Teria Júlio César evitado um confronto contra eles e sua ferocidade? Ou o massacre teria sido apenas mais uma jogada política para seu destaque no cenário romano?
Buscando levantar possíveis respostas para estas questões, a melhor fonte a ser utilizada é Commentarii de Bello Gallico, cujo título é traduzido comumente como Comentários sobre a Guerra Gálica, livro composta pelo próprio Júlio César durante suas investidas na Gália. A obra é composta por oito livros, sendo sete deles escritos por Júlio César e o oitavo por Aulo Hircio, um de seus generais. Comentários sobre a Guerra Gálica tem por intuito descrever aquilo que Júlio César estava presenciando no momento. 
Além de ser considerado um dos maiores Generais da história, Júlio César também é um dos mais importantes historiadores latinos da Antiguidade, acompanhado de Caio Crispo Salústio e Tito Lívio, um trio de escritores do período clássico e grandes componentes da literatura latina. Sóbrio e preciso, claro e metódico, brilhante e sem alardes, Júlio César escreveu esta obra sem a assistência de pessoa alguma, são escritos originais compostos por ele, relatando a história que ele viveu, buscando enaltecer seus feitos e enaltecer a grandeza de Roma.� 
A riqueza de detalhes descrita por César vai desde a geografia local até a cultura e costumes das tribos que compunham a Gália, as batalhas travadas, personagens célebres como Vercingentorix e Ariovisto, as condições em campo de batalhas, estratégias utilizadas contra e pelos inimigos e os discursos para elevar a moral de suas tropas, estão todas contidas nos Comentários sobre a Guerra Gálica.
Passemos, então, para a descrição do confronto entre romanos e germanos em questão e para análise da obra de Júlio César, buscando responder as perguntas acima propostas em torno do confronto entre os soldados romanos e as tribos germânicas dos tencteres e dos usípetes. Para nosso estudo neste texto nos apoiaremos fundamentalmente na análise documental do material legado por Júlio César, uma vez que não foram encontrados textos historiográficos que tratassem especificamente de tal conflito, talvez pela natureza recente dos achados arqueológicos.
Capítulo I: Romanos e Germanos, diferentes culturas ambições em comum
Antes de nos aprofundarmos mais sobre o extermínio das tribos dos tencteres e usípetes, devemos contextualizar os fatos anteriores a este. É preciso entender as ameaças que os germanos estavam causando na Gália e evidenciar nesse momento os fatores que levaram o General Júlio César a preocupar-se com as tribos do além Reno e tomar essa atitude radical sob os tencteres e usípetes.
Os primeiros contatos entre romanos e as tribos germânicas, segundo Comentários Sobre a Guerra Gálica, foi em uma tentativa de invasão a Roma. As tribos dos cimbrios e dos teutões confrontaram os romanos, que foram liderados pelo General Caio Mano. Este, por sua vez, conseguiu repelir a ameaça das tribos germanas. Agora era a vez de Júlio César confrontar Ariovisto, o rei da tribo dos suevos, considerada a maior e mais violenta de todas as demais tribos da Germânia. 
	Ariovisto competia territórios com outras tribos da Germânia, forçando-as a emigrarem em busca de terras para a criação de seus gados, as tribos dos tencteres e usípedes, foram umas dessas vítimas. Mas antes disso, os germanos estavam interessados em outro território, a Gália. Diviciaco, um gaulês da tribo dos heudos, fiel a Júlio César, conta, aos prantos, para o General, a ameaça que se aproximava as suas fronteiras:
Que em duas facções estava a Gália toda dividida, de uma das quais tinham os heduos o principado, e da outra os arvernos e, disputando-se elas a supremacia muitos anos, acontecera socorrerem-se os arvernos e sequanos de germanos mercenários; e, passando destesprimeiramente o Rim uns quinze mil, depois mais, quando em sua barbaria e ferocidade foram tomando gosto a fertilidade da terra, polícia e abundâncias dos gauleses, existiam ora na Gália cerca de cento e vinte mil [….] — Mas ainda pior sucedera aos sequanos vencedores do que aos heduos vencidos, porque o rei dos germanos, Ariovisto, em suas fronteiras deles fizera assento, ocupando-lhes a terça parte das terras, as melhores da Gália, e os mandava agora sair de outra terça parte, por lhe haverem chegado vinte e quatro mil harudes, aos quais era mister preparar terras e mansão — Que dentro em poucos anos aconteceria serem expulsos da Gália todos os gauleses, e passarem o Reno todos os germanos, pois nem o terrão germano era para comparar em bondade com o gaulês, nem este com aquele bárbaro costume de viver (JÚLIO CÉSAR, De Bello Gallico, Livro I, XXXI).
Após estes relatos, começa, então, a narração sobre a investida de Ariovisto e seu interesse de tomar a Gália. As descrições que Diviciaco passa para Júlio César sobre o suevo são a de um bárbaro, violento e impiedoso:
Que, depois de vencer os gauleses em Magetobria, se tornara Ariovisto tão soberbo e tirano, que exigia em reféns os filhos dos mais nobres, e os castigava com todo gênero de tormentos, quando não obedeciam a seu menor aceno ou vontade; e era bárbaro, iracundo, violento, a ponto de não poder seu jugo ser mais tempo suportado (JÚLIO CÉSAR, De Bello Gallico, Livro I, XXXI).
Começa a aparecer, a partir daí, a imagem que os germanos vêm causando aos povos aliados de Júlio César e ao próprio general. Ariovisto é descrito como um ser impiedoso, violento e cruel, imagem essa que se consolidará, mais adiante, com o restante das tribos germanas.
Os gauleses foram forçados a tomarem rumo, caso contrário, Ariovisto faria o que bem entendesse com os reféns no qual foi exigido das tribos vencidas por ele. No final, Diviciaco pede a Júlio César, que prestasse atenção aos germanos, pois estes seriam capaz de tomar a Gália para si e também em tornar uma ameaça aos romanos.
Júlio César percebe que a ameaça do suevo é comprometedora, não somente as tribos aliadas aos romanos, mas poderia corromper a estabilidade do local e se ignorado, Ariovisto poderia em poucos anos tomar a Gália para os germanos. Portanto era um confronto inevitável, pois ambos os lados tinham como intenção ter para si a posse da Gália. 
Por mais que Roma ganhasse em vantagem bélica, a batalha contra as tribos germânicas deveria ser tomada com uma cautela, pois nunca Júlio César e suas legiões, haviam enfrentado uma tribo de guerreiros famosos por tamanha barbárie e violência, aos olhos dos romanos, e, até mesmo, seus aliados galos, os temiam como se fossem bestas.� Portanto, Júlio César e suas legiões partem ao encontro de Ariovisto, o rei dos suevos.
Capítulo II: Antes das batalhas, a negociação
Diplomaticamente, Júlio César manda ao rei dos suevos, embaixadores com o qual pudessem marcar encontro para um diálogo entre eles. Seguindo na narração, Ariovisto responde:
Que se ele necessitasse o que quer que fosse de César, iria procurá-lo; assim, se César lhe queria alguma coisa, viesse ter com ele — Demais, não ousava ir sem exército às partes da Gália ocupadas por César, nem podia reunir exército sem grande abastecimentos e aparatos — Muito se admirava, porém, que tivesse ou César ou o povo romano de ver absolutamente com a sua Gália por ele conquistada (JÚLIO CÉSAR, De Bello Gallico, Livro I, XXXIV)
César responde mandando novamente embaixadores, agradece aos elogios que Ariovisto o dá e que o vê como amigo devido ao título de Rei que o Senado romano o deu, mas, mesmo assim, cobrava algumas exigências por parte dele:
[…] primeiro, não passar mais aquém do Rim multidão alguma de homens para a Gália; depois, restituir os reféns que tinha dos heduos, e permitir aos sequanos restituírem livremente os que dos mesmos também possuíam; nem empecer, nem fazer guerra aos heduos e seus aliados — Que, se nisso viesse, César e o povo romano teriam com ele perpétua paz e amizade: senão, não havia César desprezar os agravos dos heduos, pois decretara o Senado no consulado de Marco Messala e Marco Pisão, que todo o que tivesse o governo da província da Galia, protegesse os heduos e mais amigos dos romanos, quando fosse possível fazê-lo sem gravame da República (JÚLIO CÉSAR, De Bello Gallico, Livro I, XXXV).
A resposta de Ariovisto foi simples. Alegou que não consentiria a nenhuma solicitação do General, e que nada era mais justo, do que o direito dos suevos explorarem suas vitórias e imperar sobre o vencido, pois estes escolheram lutar e tentar a sorte com as armas e por isso deveriam ser tributários seus. E grande injustiça cometia Júlio César em intervir em assuntos desse tipo, pois se Roma tivesse feito o mesmo era direito dos romanos fazerem o mesmo que Ariovisto fizera. Ainda neste diálogo o suevo profere palavras de tom ameaçador aos romanos, caso ousassem querer testá-los:
E quanto a dizer César, que não desprezaria os agravos dos heduos, ninguém combatera com ele sem ficar destruído; experimentasse-o, quando quisesse, e conheceria qual era o valor dos germanos invencíveis e adestrados nas armas, a ponto de se não abrigarem debaixo de teto por espaço de quatorze anos (JÚLIO CÉSAR, De Bello Gallico, Livro I, XXXVI).
Ao mesmo tempo em que a mensagem fora transmitida ao general, se aproximaram dele embaixadores dos heuduos e dos trevicos. Aqueles se queixavam que nem mesmo com reféns conseguiram comprar a paz de Ariovisto, e que os haraudes já atravessaram o Reno e assolavam suas fronteiras, já estes acamparam a margem do rio Reno, com intenções de adentrar em território suevo.
Preocupado com a situação, Júlio César decide que não havia mais tempo a ser perdido, pois a ameaça dos germanos crescia cada vez mais, e se as antigas tropas de Ariovisto se reunissem ao novo contingente, um enxame de suevos assolaria a Gália. Às pressas, o general romano dirige uma grande marcha contra o exército germano que ameaçava toda a Gália, conforme suas intenções anunciadas anteriormente.
Pela análise da documentação, percebemos a esta altura que os germanos eram uma ameaça aos planos de Júlio César, e se não fossem combatidos a tempo poderiam tomar para si a Gália, ou, pelo menos, parte dela, e quando muito poderiam ameaçar as fronteiras da Itália, podendo invadi-la também. As tribos germânicas estavam adquirindo um status de perigo em relação aos romanos. Portanto, ao que nos parece, uma guerra contra esse povo era inevitável e necessário para a hegemonia romana. Essa é nossa análise sobre o confronto cujos materiais arqueológicos foram encontrados recentemente, intrigando os pesquisadores sobre as razões para o extermínio já que os tencteres e usípetes, outras tribos germanas perseguidas pelos Suevos, não ofereciam ameaça alguma. Mas, será mesmo que não eram ameaças? Essa é uma resposta que buscaremos também na análise da obra de Júlio César.
Capítulo III: Sem trato, à guerra!
Os germanos eram conhecidos por sua ferocidade e habilidades em campo de batalha, até mesmo os romanos reconheciam isso. Tácito, (55 – 120 d. C), senador romano que viveu na Gália quando esta já havia se tornado uma província romana, dedicou uma obra inteira sobre os povos do além Reno. Germânia, escrita por volta de 98 d. C trás as maiores e melhores informações sobre as tribos que viviam por lá. Por mais que nesse período as Guerras Gálicas já tivessem terminado e a Gália já tivesse sido anexada por Júlio César, as descrições sobre os germanos permanecem as mesmas feitas pelo antigo general que combateu contra os gauleses, o que é um fato até curioso.
O próprio significado do nome germano já fazia jus ao seu povo: GUERRE = guerra, MANN= homens, ou seja, HOMENS DE GUERRA (TÁCITO, Publios Cornelius, GERMANIA) Segundo as descrições de Tácito na Germânia (Germânia, cap. IV), os germanos, “possuem uma perfeita analogia de figura entre eles, ainda que tão numerosos; são de olhos azuis e selvagens,de cabelos ruivos, corpo avantajado e forte só para o ataque violento, mas não suportam com resignação os trabalhos e as fadigas, metem-lhes medo o calor e a fadiga, todavia toleram a fome e o frio por afeitos à avareza e à inclemência do clima.”
Seguindo a descrição de Tácito, a Germânia aparentava ser um território muito ingrato, terras poucas férteis, frios extremos, poucas árvores frutíferas, e o máximo de abundância que se conseguia eram alimentos eram grãos e carne de caça. A terra também não parecia os favorecerem em minérios, pois suas armar de ferro eram delgadas, como as frâmeas, uma espécie de dardo composta com ferro, curto porém agudo e de fácil manejo que podia ser empregada nas batalhas corpo a corpo ou como escaramuça.
O general Júlio César também dá as suas descrições sobre os germanos, que não diferem muito as do historiador Tácito sobre esses mesmos povos, apesar do intervalo de tempo que separa estes dois romanos. E por estas características que Júlio César tem de saber lidar com o medo que assolava suas tropas, segundo ele (De Bello Gallico, Livro I, passagem XXXIX,): “[...] os germanos de grande corpulência, incrível esforço e exercício em armas, a ponto de não poderem os gauleses suportar-lhes no combate nem a catadura nem o olhar sequer, apoderou-se tal terror do exército, que não pouco perturbava o entendimento e ânimo a todos.” 
Portanto, eram esses os inimigos que César teria de enfrentar, um exército não muito bem equipado belicamente, mas cuja ferocidade, violência, resistência e força compensavam a ausência de armas tecnicamente bem elaboradas.
No decorrer de três dias da marcha das tropas romanas rumo ao encontro de Ariovisto, este estava tomando rumo para conquistar a cidade de Vesonção, a maior e mais abundante cidade dos sequanos, que possuía todos os víveres para saciar as tropas, e também os germanos já haviam ganhado três campanhas, além de suas fronteiras.
Dos primeiros conflitos realizados entre romanos e germanos, o resultado, conforme as descrições da obra, foi um grande pânico por parte das tropas de Júlio César. Os gauleses que combateram Ariovisto recuaram e fugiram, pois não aguentavam tamanho horror e medo que esses bárbaros causavam, um terror causado por eles assolavam as tropas romanas. Tribunos dos soldados e prefeitos pediam a César afastamento da guerra alegando causas justas, mas não conseguiam esconder em suas feições o medo que possuíam dos germanos e a vergonha de terem que se humilhar diante ao general, os mais corajosos alegavam que o terreno era inapropriado para a batalha contra o inimigo, outros diziam que os viveres não eram o suficiente para a campanha. O horror foi se alastrando de tal maneira aos romanos e seus aliados que até mesmo os centuriões e a cavalaria romana evitou o confronto contra Ariovisto.
Júlio César reúne seus oficiais e permite a participação dos centuriões de todas as graduações. Com sua oratória treinada, elaborou um discurso de motivação as suas tropas afirmando que possuíam sim condições de guerrear contra Ariovisto, pois, no passado de Roma, Caio Mano havia antes vencidos as tribos dos cimbrios e dos teutões e dos escravos germânicos, usando as táticas militar pelos romanos aprendido. O abastecimento não era um problema, pois os sequanos, leucos e lingones os forneciam trigo já maduro. E mesmo assim, se as tropas não obedecessem a Júlio César, ele partiria solo acompanhado somente da 10° legião, que o serviria como corte pretoriana. Logo após o discurso do General, os soldados ali presentes se tranquilizaram e motivaram-se em seguir em frente com a batalha.
Ariovisto sabendo da aproximação de Júlio César enviou embaixadores para exigir um encontro sem tropas, somente acompanhados da cavalaria. César vendo um momento oportuno aceita o convite e é acompanhado da 10° legião, a de sua maior confiança. A conversa entre os dois, no início fora a mesma, os romanos exigiam de Ariovisto o que fora pedido na primeira vez, acrescentando os benefícios que o senado poderia oferecer ao suevo, pois recebera o título de rei por parte deles e era visto como amigo. O rei suevo não parece ter se importado com o que foi dito, ele continuou negando as exigências. Alegou que não fora ele o causador da guerra, pois os gauleses, acompanhados de todas as cidades da Gália, os atacaram e tiveram de revidar. Essas numerosas tropas de gauleses foram por ele destroçadas e vencidas em uma batalha. Ao concluir, Ariovisto diz:
Que o ter César exército na Gália com capa de amizade, suspeitava ser para oprimi-lo, e se dali se não retirasse com o exército, havia tê-lo em conta, não de amigo, mas de inimigo; pois faria, se o matasse, coisa agradável a muitos nobres e principais de Roma, como sabia dos mensageiros que lhe os mesmos enviavam, e podia com isso comprar a proteção e amizade de todos eles: - ele porém, se César se retirasse, deixando-lhe a livre posse da Gália, havia remunerá-lo, fazendo sem trabalho nem risco do mesmo César todas as guerras que quisesse feitas (JÚLIO CÉSAR, De Bello Gallico, Livro I, XLIV).
Durante o diálogo entre os dois líderes, a cavalaria de Ariovisto se aproxima de César e começa a arremessar dardos e pedras em sua direção, um ato de extrema grosseria em um encontro organizado para o diálogo e não para o confronto. Júlio César pede a sua cavalaria para não revidar, pois estavam em menor número e não valia por em risco a legião que o acompanhava, com isso a conferência foi encerrada. O resultado foi que a notícia da arrogância de Ariovisto se espalhou entre os soldados romanos, então o clamor à guerra apoderou-se do exército.
	Depois de lida essa parte do texto, chegamos a seguinte dúvida: As relações diplomáticas entre ambas as culturas foram em vão, a eles não cabia o caminho da paz, ou seria a rendição? Se Ariovisto se rendesse as exigências de Roma, o seu poderio bélico investido até o momento perderia o ritmo e seu povo, com certeza, se aborreceria contra seu rei. Se o suevo aceitasse as ofertas do Senado provavelmente a tribo teriam se tornado um estado cliente, assim como os heudos, e teria de fornecer soldados como auxiliares e suplementos a Roma, portanto estava em jogo a liberdade e hegemonia da tribo germânica na Gália. Já César, além de uma campanha de anexação da região, estava também investindo em uma jogada política para se manter como líder em Roma, em hipótese alguma se passou em sua narrativa outra proposta mais branda ao inimigo, o General estava focado e determinado que a aquele terreno deveria ser de Roma, e não a um povo bárbaro. Portanto, romanos e suevos se preparavam para uma batalha.
 Capítulo IV: A luta, uma vitória sem dificuldades por motivos religiosos
O que demorou em diplomacia e ameaças se fez ao contrário em batalha. Seguidas vezes Júlio César posicionou suas tropas com a intuição de provocar Ariovisto, que estava em seu acampamento. Porém, os germanos apenas revidavam com escaramuças a cavalo, arremessando dardos, o que era estranho, pois eram famosos por sua ferocidade e violência em batalha nas representações romanas.� Mesmo assim, o General continuou seguindo a mesma estratégia. Novamente César coloca suas tropas em posição oferecendo uma oportunidade de batalha, e, mesmo assim, não revidam. Mais tarde, Ariovisto envia parte de suas tropas para atacar os pequenos arraiais romanos. Ali houve uma sanguinária batalha, mas após terem causado e recebido grandes danos, todos retornam as suas bases.
Mais tarde os romanos descobre as razões de Ariovisto evitar tanto o conflito, o motivo era que uma mulher da tribo aconselhara não atacar os romanos antes da lua nova, como os germanos levavam muito a sério o que as mulheres de suas tribos diziam, era mister do rei suevo não desobedecer esse conselho, mas ele fracassa. Não aguentando as provocações do General romano, Ariovisto decide atacá-lo, coloca todas as tropas fora dos quarteis, seu exército era composto por várias tribos, dentre elas os harudes, marcomanos, triboces, vangiones, nemetes,sedusios e, por último, os suevos. Posicionaram suas carroças para evitar fugas em campo, onde ficavam as mulheres aos prantos dizendo para não retrocederem da batalha e que não as deixassem serem escravas dos romanos.
Ariovisto ataca, gritantes correm os germanos em direção as tropas romanas que também iam ao seu encontro, a fúria desses era tamanha que alguns soldados saltavam por cima das tropas romanas e arrancavam os escudos com as próprias mãos, assim ferindo o seu alvo. Porém, a ala esquerda fraqueja e desertam do campo de batalha, à direita se fortificava causando danos aos romanos, mas Publio Craso, general da cavalaria, envia a terceira linha para o reforço, os germanos não conseguindo manter a posição recuam e fogem, correm até a margem do Reno e atravessam a nada ou a barcos que se encontravam por lá. Ariovisto se aproveita de um barco a remos que se encontrava à margem e foge para o outro lado do rio, os que não puderam se salvar foram trucidados pela cavalaria romana.
Encerrada a batalha, os germanos são afastados e mandados de volta para o outro lado do rio Reno. A Germânia, assim, recolhe Júlio César as suas tropas para o quartel de inverno, um pouco antes do que requeria a estação.
A guerra acabou com os germanos, Ariovisto não é mais uma ameaça e as tribos germânicas se recolheram novamente às suas terras. Porém, por mais que a batalha tenha sido rápida, segundo afirma o general, os germanos causaram certos problemas aos romanos. A ferocidade e corpulência que a eles é colocada a todo momento era uma preocupação aos romanos, pois eram povos guerreiros que aprendiam a caçar desde sua infância e a viver em terreno extremamente hostil aos olhos dos romanos. Não se podia ignorar que sim, os germanos eram uma afronta a Roma.
Apesar de tudo isso, os suevos não foram exterminados, apenas foram expulsos da região da Gália e ainda persistirão na história. Nas invasões bárbaras da Antiguidade Tardia formarão um reino germano na Península Ibérica, na região da Galícia no séc. V d.C. (FRIGHETTO, 2012). Mesmo Ariovisto estando longe, no outro lado da margem do rio Reno, ele continuava causando pânico às outras tribos presentes pela Germânia, inclusive, às tribos dos usípetes e tencteros.
Capítulo V: Usípetes e tencteros, o dilema de duas tribos.
Os usípetes e tencteres resistiram bem aos ataques dos Suevos, devido as suas fortificações. Porém, os ataques frequentes de Ariovisto fez com que estas duas tribos enfraquecessem acabando na submissão dos Suevos que os coibiam a lavrar a terra. A solução para isso foi a migração. Durante três anos vagaram pela Germânia, indo parar na margem do rio Reno. Nesta mesma região, já habitavam os Menápios, tribo gaulesa que ocupava o local citado, que ocupavam as duas margens do rio e, tendo avistado a tamanha quantidade de pessoas se aproximando, os gauleses se recolheram para a margem oposta a chegada dos imigrantes germanos, que fadaram na tentativa de atravessar o rio. Assim, simularam uma retirada de volta a Germânia e, tendo os Menápios certeza de que os povos invasores haviam se retirado, retomaram à outra margem do rio. Três dias depois, Usípetes e Tencteres realizam uma investida surpresam e tomaram os barcos para si, cruzando o Reno em enorme quantidade de pessoas.
Informado desse acontecimento, Júlio César providencia seus estoques de trigo e reúne a melhor cavalaria auxiliar, marcha com seu exército em direção aos novos invasores germanos. Já passara por situação delicada com certo povo provindo de terras da mesma região, logo não era um povo a se confiar.
Passado poucos dias de marchas, embaixadores dos Usípetes e Tencteres, se aproximam dos romanos para uma tentativa de negociação com Júlio César. Seus discursos se resumiram em estas palavras:
Que nem os Germanos atacariam primeiro os Romanos, nem recusariam tão pouco medir-se com eles, se fossem provocados, pois observavam o costume, transmitido por seus maiores, de resistir, sem recorrer às súplicas, a quem quer que lhes fazia guerra — Era porém de saber terem vindo contra sua vontade, e expulsos da pátria; — se os Romanos lhes quisessem a aliança, seriam bons amigos; mas nesse caso, ou lhes assinassem terras, ou lhes consentissem ocupar as que possuíam pelas armas; — que só aos Suevos, aos quais nem os mesmos deuses imortais podiam ser parelhos, cediam o passo; e mais ninguém havia no mundo, a quem não pudessem vencer (JÚLIO CÉSAR, De Bello Gallico, Livro IV, VII).
Nota-se nesse fragmento, que a intenção última dos Usípetes e Tencteres é o conflito com os romanos, pois já vinham sofrendo há anos a pressão dos Suevos. Os embaixadores deixam claro também as intenções de quererem firmar uma aliança com os romanos em troca de um lugar para ocupar. Uma atitude inesperada comparada com a de seus conterrâneos Suevos, liderados por Ariovisto.
A resposta que Júlio César deu aos germanos foi um pouco desoladora: não havia terras desocupadas na Gália que os servissem devido à imensa quantidade de pessoas que compunham as tribos, ainda mais terras fronteiriças. Além disso, uma aliança com os usípetes e tencteres de nada acrescentaria aos romanos, pois estes não foram capazes de defenderem suas terras, jamais conseguiriam defender a fronteira gálica. Aos refugiados restavam a proposta de pedir auxílio aos úbios, que nesse momento estavam sofrendo ameaças, novamente, dos Suevos.
Os embaixadores afirmaram que levariam as propostas ao conhecimento de suas tribos e que dentro de um prazo de três dias dariam aos romanos uma resposta ao que fora conversado. As tropas de César continuaram marchando até o local, mesmo depois do diálogo. Os embaixadores, então, suplicam para que ele cessasse a caminhada e lhes dessem tempo. César consente com o pedido, mas envia a tropa de cavalaria para ir em frente caso avistassem as tribos germânicas, e que permanecessem em guarda, mas se fossem atacados pelos mesmos, que revidassem.
Dito e feito, a cavalaria romana havia encontrado um grupo germano de tencteres e usípetes forrageando o local, estes, assustados pelos homens armados resolveram atacar, causando grandes perdas à cavalaria romana, inclusive um esforçadíssimo varão, Pisão, o Aquitano, de linhagem nobre, cujo avô havia sido nomeado rei na sua cidade pelo Senado romano.
Nessa altura pode-se imaginar que este grupo, que forrageava a região, não fora informado sobre a intenção de fechar um acordo amistoso com os romanos, ainda que boa parte da Germânia já sabia das boas novas sobre Júlio César ter derrotado Ariovisto, que intimidava toda a região do além Reno. Portanto, deparando-se de frente com o exército que derrotara os suevos, resolvem atacar bravamente.
Júlio César decide, então, jamais confiar nas palavras dos germanos, pois com a boca propunham a paz, mas faziam guerras traiçoeiras e ataques inesperados. As tropas são mandadas de imediato ao local do assentamento germano, que sem perceber e despreparados, notam a sua chegada e armam-se de imediato, mas de maneira desorganizada. Os que podiam pegar em armas defendem as mulheres e crianças que juntos vieram na travessia do rio Reno, mas estes foram pegos pela cavalaria ordenada por Júlio César. Vendo que não podiam mais combater contra as tropas romanas, usipites e tencteres largam suas armas e insígnias para fugirem do campo de batalha, assoberbados do terror, do cansaço e a forte corrente do Reno, muitos padecem na tentativa de atravessar ao outro lado da margem.
O resultado de tudo isso fora um grande genocídio, as intenções dos romanos eram claras, eliminar de vez os tencteres e usípetes na preocupação de que novamente outros germanos causassem estragos como fora com Ariovisto e os suevos. Foram mortos quatrocentos e trinta mil germanos, enquanto isso não houve nenhuma baixa e poucos feridos do lado romano.
Mas mesmo tendo realizado esse massacre, isso não bastava a César, que toma a decisão de atravessar o Reno para poder, ainda, eliminar os poucos que conseguiram sobreviver depois de tudo isso. O alvo eraa cavalaria dos usípetes e tencteres que saíram para forragear na região do Mosa, estes se absteram em participar da batalha a pouco empregada e se juntaram aos sugambros. Júlio César exige destes a entrega dos acolhidos que fizeram guerra a ele e a Gália. O pedido é negado. Nesse meio tempo, embaixadores úbios chegam até o General e solicitam apoio, pois novamente estavam sendo fortemente atacados pelos suevos, e tão grande se tornara o nome de César, e tal reputação adquirira o seu exército, que estariam seguros somente com uma aliança com o povo romano. Prometeram um grande número de embarcações para o transporte das tropas romanas para o curso do rio Reno.
Com as causas mencionadas pelos embaixadores úbios, Júlio César decide atravessar o rio de vez, mas por embarcações seria perigoso, pois o rio era largo e profundo, então, o General decide construir uma ponte, para que houvesse segurança na travessia. A ponte é construída e marcham as tropas e direção a Germânia, muitos embaixadores foram enviados até o General para firmar um tratado de paz, respondendo com a oferta de reféns aos romanos. Os sugambros, alertados pelos tencteres e usípetes, abandonam suas fronteiras fugindo para os bosques levando o que possuíam.
Demorado poucos dias em suas fronteiras, depois de incendiar os suplementos das tribos, Júlio César se retira e assegura aos úbios que tudo fora resolvido. Os romanos se recolhem à Gália e cortam a ponte que construíram para atravessar o Reno. Enfim, estão afastados os germanos da Gália e exterminada qualquer forma de ameaça que poderia eclodir contra Roma. César preocupava-se agora com uma investida na ilha da Bretanha para evitar as resistências celtas que partiam de lá. Mas essa já é outra história.
CONCLUSÃO
Em nossa análise, os motivos que levaram o general romano a tomar essas medidas contra os usípetes e tencteres, que extraímos de reflexões a partir da obra Comentários das Guerras Gálicas, somadas com reflexões sobre os achados arqueológicos na região próxima de Kessel, na Holanda, pode ter sido uma prevenção contra uma ameaça futura. As tribos germanas, em especial a dos suevos, causaram muitos danos e medo na região da Gália, e poderiam tomar para si aquela região, pois eram considerados pelos romanos como guerreiros assíduos e valentes. Mas, nesse caso em específico, quando as tribos dos tencteres e usípetes buscavam firmar um tratado de aliança com Júlio César, parece que o que acarretou o conflito foi uma falha no circuito de informação com outra parte das tribos, no caso dos forrageiros que encontraram com a cavalaria romana na região do rio Mosa. Tendo já os germanos uma reputação arredia nas representações dos romanos, Júlio César decide, pelo que pudemos analisar, “cortar o mal pela raiz”, antes que esses povos se alastrassem, novamente pela Gália, região conquistada pelos romanos e posse do poderoso Império de Roma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fontes documentais:
CÉSAR, Júlio. Livo I. In:______ Comentários sobre a Guerra Gálica. Tradução de Francisco Sotero dos Reis. São Paulo: Cultura, 1941. cap. 1, p. 41 – 80.. 
TÁCITO. Germânia. Tradução de João Penteado Erskine Stevenson. São Paulo: Brasil Editora S.A, s/d.
Fontes Bibliográficas:
FRIGHETTO, Renan. Antiguidade Tardia. Roma e as monarquias romano-bárbaras numa época de transformações. Séculos II-VIII. Curitiba: Juruá Editora, 2012.
GUARINELLO, N. L. Roma, O Poder e a História. In: SILVA, G.; NADER, M. B.; FRANCO, S. P. (orgs.). As identidades no tempo: ensaios de gênero, etnia e religião. Vitória: Edufes, 2006.
HARTOG, F. Memória de Ulisses. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2004.
SCHUSTER, J. Retórica e representação: os lugares-comuns na caracterização do modo de fazer guerra de celtas e bretões do norte. Dissertação de Mestrado defendida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2016.
Sites da internet:
YAHOO NOTÍCIAS. Arqueólogos encontram local onde Júlio César exterminou mais de 100 mil germânicos. [S.L]. s/d. Disponível em: http://yahoonoticias-redacao.tumblr.com/post/135573819862/arque%C3%B3logos-encontram-local-onde-j%C3%BAlio-c%C3%A9sar Acesso em: 22 abr 2015.
�	 Não caberia no objetivo deste artigo levantar as diferenças de estatuto sobre a história/historiografia da Antiguidade romana das atuais concepções sobre o fazer historiográfico, mas sobre este tema não podemos deixar de mencionar o caráter enaltecedor da historiografia romana sobre o poder de Roma, o que fica perceptível neste texto de Júlio César. Mais informações sobre essa ideia, indicamos a leitura de: GUARINELLO, N. L. Roma, O Poder e a História. In: SILVA, G. NADER, M. B. FRANCO, S. P. (orgs.). As identidades no tempo: ensaios de gênero, etnia e religião. Vitória: Edufes, 2006.
�	 A criação do conceito de bárbaro (βαρβαρος - barbaros) surgiu entre os gregos antigos. Já nas obras atribuídas ao poeta Homero, Ilíada e Odisseia, possivelmente do século VIII a.C., temos a percepção do que era ser bárbaro, embora a identidade grega em si estivesse pouco definida em tal contexto (HARTOG, 2004). Do modelo de bárbaro de Homero, Heródoto e Tucídides, as representações desse outro chamado de bárbaro foram sendo estendidas para todos que fossem diferentes da cultura grega e romana, como podemos ler nas obras de escritores do período imperial, como em Tácito (Germânia), por exemplo. Bárbaros (gentes barbarorum) passam a ser, em geral, aqueles que não compartilham da paideia grega e/ou da humanitas latina, modelos de formação e cultura das elites imperiais de Roma e das províncias. 
�	 Em sua Dissertação de Mestrado, defendida em 2016 na UFRGs, a historiadora Juliet Schuster defende a ideia de que se construíram lugares-comuns retóricos na caracterização do modo de fazer guerra de celtas e bretões do norte nas obras de escritores romanos. Assim, muitos autores romanos não chegaram nem a conhecer os povos “bárbaros” que representavam, mas tinham deles uma imagem preconcebida por esses lugares-comuns. Segundo Schuster (2016, p. 60): “Essa constatação se sustenta porque, segundo alguns acadêmicos, existia aos olhos dos romanos um arquétipo bárbaro e que todos os indivíduos e grupos a quem os romanos catalogavam como bárbaros respondiam a esse arquétipo”. Assim sendo, a realidade do povo representado podia se diferir muito da representação em si na literatura latina, o que nos parece cabível de reflexão sobre a informação dada nessa informação sobre Ariovisto e seus guerreiros.
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