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AULA 4 A RESISTÊNCIA À ESCRAVIDÃO RELIGIOSIDADE

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4: A RESISTÊNCIA À ESCRAVIDÃO - RELIGIOSIDADE 
RESISTÊNCIA
A resistência foi uma constante na vida de índios e africanos escravizados. Ainda que as formas, tidas como clássicas, de resistir à escravidão passem pela luta aberta ― que muitas vezes levavam ao embate físico. A instauração do sistema escravista na colonização da América portuguesa (e sua manutenção no Império do Brasil) acabou abrindo flanco para outras formas de resistências; formas essas que, muitas vezes, utilizavam as instituições coloniais como muleta.
Para a grande maioria, a resistência ao cativeiro se fazia dia a dia, da hora em que se levantava para trabalhar até o momento de se recolher para dormir. Onde quer que tenha existido escravidão também houve resistência escrava. E tal resistência foi experimentada em diferentes níveis durante toda a história da escravidão no Brasil.
No caso indígena, uma das formas mais frequentes de resistência foi o isolamento. Depois dos primeiros anos de contato, das mortes volumosas por epidemias vindas do Velho Continente, da catequização e da escravização, muitas sociedades indígenas decidiram rumar para regiões de difícil acesso, guiando-se pelos cursos dos rios. Contudo, conforme anunciado, muitos índios resolveram ir para a luta aberta e fizeram da religião uma importante arma.
RELIGIOSIDADE
Antes do contato com os portugueses, a maior parte dos povos indígenas tinha um homem responsável pelos cultos religiosos.
Tal homem recebia o título de pajé ou de xamã e, graças à sua relação com forças sobrenaturais, ele gozava de posição de prestígio entre os seus, o que fazia deles um dos principais inimigos do movimento de catequese. 
Ainda que os missionários tentassem acabar com os poderes (simbólicos e políticos) que os pajés tinham, eles não conseguiram desconstruir o panteão e os rituais religiosos de muitas sociedades indígenas com as quais entraram em contato.
Do sincretismo entre os dizeres e propósitos cristãos com as crenças e práticas religiosas indígenas originou-se a “Santidade” (nome dado pelos portugueses). Esse fenômeno era um culto sincrético e messiânico, no qual os índios questionavam o Deus católico e posicionavam-se contra os senhores brancos. 
Segundo Schwartz e Vainfas, esse movimento era uma combinação de crenças dos tupinambás no paraíso terrestre, com a hierarquia e os símbolos do cristianismo. Havia o culto em ídolos com poderes sagrados feitos de cabaça e pedra que, segundo os seguidores, dotariam os fiéis de força para lutar contra os brancos.
Esses “santos” teriam ainda poder de vitalizar os idosos ou fazer as enxadas trabalhares sozinhas. Para tanto, era necessário entoar cantos e realizar cerimônias que podiam durar dias seguidos (regados do alto consumo de bebidas alcóolicas e infusão de tabaco), muitas vezes levando os fieis ao estado de transe. 
O mais interessante é reconhecer as contribuições católicas deste movimento.
Além dos ídolos receberem o nome de santos, os líderes do movimento proclamavam-se como “papas”, chegando a nomear bispos e organizar os “missionários”, que tinham a incumbência de difundir o culto em outras localidades. Houve até mesmo um caso no qual os seguidores da Santidade criaram uma igreja destinada ao culto de “Maria”.
(SCHWARCTZ:1993, 54-55)
A “Santidade” foi muito comum durante o século XVI, demonstrando como os índios que entraram em contato com os portugueses souberam reler os interesses e crenças cristãos sob uma nova ótica. Visão que lhes favorecia e que questionava as bases do sistema colonial que estava sendo montado. 
Com o passar dos anos, a morte crescente por epidemias e a entrada cada vez mais volumosa de africanos escravizados, a “Santidade” foi perdendo parte de seus seguidores, dando lugar a outras formas de resistência indígena, que serão abordadas na próxima aula.
AS IRMANDADES RELIGIOSAS
Não foram apenas os índios que souberam usar preceitos do catolicismo na luta contra a escravidão e a catequese. Os africanos escravizados e seus descendentes também criaram uma série de práticas, aparentemente inofensivas ao sistema escravista, que visava resistir à escravidão por meio de releituras religiosas.
Uma alternativa que muitos escravos encontraram não só para construir suas famílias extensas, mas também para lutar pela liberdade, se deu através da filiação às Irmandades Negras criadas no Brasil.
A história das Irmandades Religiosas remonta à Idade Média ― período no qual devotos de determinados santos criaram, com o aval da Igreja Católica, organizações, cujo principal objetivo era fazer caridade e ampliar a fé cristã. 
As irmandades negras, criadas desde o período colonial, seguiam os mesmos preceitos religiosos das demais: todos os membros deveriam efetuar o pagamento da taxa anual ― dinheiro que seria revertido em festas, rituais fúnebres e missas das igrejas. 
A grande diferença dessas irmandades estava na condição de seus membros (a maioria eram escravos e/ou libertos) e o fato delas adorarem santos negros, como Nossa Senhora do Rosário, Santos Elesbão, Santa Ifigênia e São Benedito.
Muitos senhores e a própria Igreja Católica viam com bons olhos a formação das irmandades negras, pois acreditavam que essa era mais uma forma de controlar a população escrava e liberta, já que esses homens negros passariam a compartilhar a mesma religião que seus proprietários ou ex-senhores ― religião que defendia a escravização de negros crioulos ou escravos.
Negras novas a caminho da Igreja para o batismo
Contudo, embora tivessem a mesma fé religiosa que seus senhores, as irmandades negras foram importantes espaços de sociabilidade para negros cativos e alforriados. 
Os membros de uma mesma irmandade criavam laços de amizade, parentesco e, sobretudo, solidariedade: muitas vezes, o padrinho de um recém-nascido era escolhido dentro da irmandade que os pais da criança faziam parte.
Casamentos entre escravos ou de cativos com libertos também ocorriam nessas organizações. As irmandades negras ainda garantiam enterro e cortejo fúnebre digno para todos os seus membros.
Além disso, em alguns casos, as irmandades negras ou irmandades de “homens pretos” eram formadas por africanos escravizados da mesma origem. Escravos e libertos angola ou congo se reuniam e formavam uma irmandade, reforçando, assim, identidades oriundas do outro lado do Atlântico.
Em determinadas situações, esses escravos também cultuavam entidades religiosas africanas ou atribuíam as mesmas características de deuses da sua terra de origem a santos católicos, como a forte relação estabelecida entre São Jorge e o orixá Ogum.
Mais do que ampliar as redes de parentesco, as irmandades negras tiveram papel importante na luta pela liberdade de muitos escravos. Diversos escravos africanos e crioulos conseguiram obter sua liberdade graças à poupança feita por seus “irmãos” de credo. Assim que comprava a alforria de um membro, a irmandade começava uma nova poupança para ajudar outra pessoa.
Anualmente, cada irmandade fazia a festa para seu santo padroeiro. Esse era o momento mais importante de cada irmandade. Tal comemoração era composta por uma longa procissão, missa solene e grande festa com muita música, dança e batuque. 
Também era nessa festa que a irmandade coroava seu rei e sua rainha. Para os escolhidos, esse era um momento de grande prestígio frente a seus companheiros.
A devoção de escravos e libertos fez com que algumas irmandades negras ganhassem muito prestígio e se transformassem em organizações com muito dinheiro. Um exemplo disto está no fato de que, no Rio de Janeiro, tanto a Igreja de Nossa Senhora do Rosário como a Igreja de São Elesbão e Santa Efigênia terem sido construídas na região central da cidade.
Durante o período em que estava em transe, a pessoa entrava em contato com a força divina e, muitas vezes, conseguia resolver os problemas que lhe afligiam. Muitos escravos e libertos faziam isso. 
Aos poucos, a crença nos orixás foi se desenvolvendo e, no século XIX, deu origem ao Candomblé. Essa religiãoera formada por “irmãos de fé” ― pessoas que acreditavam nos orixás e que se reuniam em torno a uma mesma casa ou terreiro. 
Nesse espaço, comandado por uma mãe de santo ou um pai de santo, além de realizar suas cerimônias religiosas, entrar em contato com seus deuses e buscar repostas por meio de jogos de adivinhação (como o jogo de búzios), muitos escravos e libertos conseguiram formar outra família, que muito se assemelhava com as grandes linhagens existentes em diversas localidades africanas.
Outros cultos e religiões com matriz africana também surgiram durante o período escravista e foram fortemente combatidas, como o caso da Umbanda. Os especialistas não sabem ao certo a origem da Umbanda (que mistura cultos religiosos de matriz africana, indígena e kardecista), mas as pesquisas levam a crer que os primeiros cultos surgiram no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX.  
Juca Rosa ― liberto e filho de uma escrava da Costa ocidental africana ― é apontado pela historiografia como um dos possíveis fundadores dos cultos que, mais tarde, daria origem à Umbanda. Tido como feiticeiro, Juca Rosa era visitado não só por escravos e libertos, mas também por muitas pessoas ilustres da Corte do Império do Brasil que recorriam às suas “feitiçarias” para curar doenças do corpo e da alma.
Sua fama logo ganhou a cidade e Juca Rosa passou a ser perseguido pelas autoridades. Assim como Juca Rosa, outros homens e mulheres negros fizeram da religião não só uma ferramenta de construção de identidade, mas também uma forma de lutar contra uma sociedade escravista.
http://cap-dep.blogspot.com/2009/12/historia-do-feiticeiro-juca-rosa.html

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