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LEI É LEI, MORAL É MORAL. E PONTO FINAL - Atividade 2

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO - UNINOVE
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
HISTÓRIA DO BRASIL REPUBLICANO: O LIBERALISMO OLIGÁRQUICO
PROFESSOR RESPONSÁVEL: MS. GERALDO JOSÉ ALVES
ATIVIDADE 2
PATRICK GIULIANO TARANTI - RA 2515201547 – TURMA 5B2 (EAD)
LEI É LEI, MORAL É MORAL. E PONTO FINAL
A presente análise busca abarcar questão social da moral e dos costumes do início do século XX, apresentada na crônica de Lima Barreto “A Lei”, datada de 1915.
O autor, simpatizante dos movimentos socialistas que afloravam à época, declaradamente anarquista, e reconhecedor da aplicabilidade efetiva dos princípios revolucionários franceses, propõem-se a induzir o leitor a reflexões acerca da serventia das leis no atual sistema político-social brasileiro. Fato este cristalino quando da primeira linha de sua crônica:
“Este caso da parteira merece sérias reflexões que tendem a interrogar sobre a serventia da lei.” (BARRETO, 1915, s.p.)
Lima Barreto, atento observador social de sua época, de origens humildes e sendo mulato, sentia na pele os reflexos sociais vivenciados pela maioria dos cidadãos brasileiros e, como tal, aponta um fato corriqueiro desta sociedade, a aplicabilidade dos costumes em detrimento das leis e a aplicabilidade das leis em detrimento da moral, isto, quando tal fato é conveniente a sociedade, que nitidamente é machista, herança de um período não tão distante.
Ressaltamos, como visto dantes, a crônica é ambientada em 1915, período este que estavam em debates a estruturação de um Código Civil, lei esta conclusa e promulgada no ano seguinte (Lei n° 3.071, de 1º de janeiro de 1916), sendo o principal jurista coordenador dos trabalhos Clóvis Beviláqua. Fato este que demonstra a importância e repercussão da crônica de Lima Barreto.
Eis que a crônica orbita a questão de ser mulher em uma sociedade machista e as consequências desta condição, envolto em um enredo tabu, tanto quanto a primeira, que é a questão do aborto o os motivos contestatórios. É neste cenário que o autor, Lima Barreto, questiona a validade moral da lei e suas consequências quando da aplicabilidade.
Observa-se que é apresentada na crônica duas situações distintas, porém, igualmente singulares, que indicam a continuidade e permanência de uma mentalidade social e jurídica plenamente machista, a qual tolhem toda e qualquer pretensão de ascensão social feminina, colocando as mulheres em uma categoria de cidadãos de segunda classe, as quais para o exercício da cidadania dependem do aval e anuência de seus pais ou maridos quando for o caso, fato este que refletiu e permaneceu vigente no Código Civil de 1916 em seu Capítulo III - Dos Direitos e Deveres da Mulher.
Barreto (1915, s.p.) traduz tal questão social nas seguintes palavras:
Uma senhora, separada do marido, muito naturalmente quer conservar em sua companhia a filha; e muito naturalmente também não quer viver isolada e cede, por isto ou aquilo, a uma inclinação amorosa.
O caso se complica com uma gravidez e para que a lei, baseada em uma moral que já se findou, não lhe tire a filha, procura uma conhecida, sua amiga, a fim de provocar um aborto de forma a não se comprometer.
Vê-se aqui, na primeira situação, a imposição moral-social de que uma mulher separada é espúria da sociedade e para não ser discriminada abertamente vê-se obrigada a manter “comunhão”. Já na segunda situação, observa-se que para uma mulher grávida que se separa, para não ver sua prole retirada de seu convívio busca uma solução radical, pois uma mulher desquitada sem filhos é menos recriminada e, toma a decisão do aborto à revelia da letra da lei pois a imposição social-moral é maior e de grande impacto no cotidiano.
Pois bem, eis que o autor introduz um elemento complicador, a morte da gestante pelas mãos de uma parteira. E, neste ponto reflete-se a aplicabilidade da lei, mas não pela morte, mas sim pelo fato de ter provocado o aborto de um possível feto do sexo masculino. Como bem destaca o autor: “Acontece que a sua intervenção foi desastrosa e lá vem a lei, os regulamentos, a polícia, os inquéritos, os peritos, a faculdade e berram: você é uma criminosa! você quis impedir que nascesse mais um homem para aborrecer-se com a vida!” (BARRETO, 1915, s.p.)
Observa-se que a modernidade o progresso aclamado com a república em nada avançou na seara social, onde constata-se uma continuidade da mentalidade monárquica e normativa. Tem-se, portanto, que a modernidade é concebida para o alcance de interesses de elites que detém o poder, elites estas que demandam de renovação de sua mão-de-obra, onde o elemento masculino da sociedade se faz imperativo, e assim o tem para a manutenção do poder, visando a transmissão deste quando da herança.
Visando a proteção deste complexo engendrado propósito oligárquico da elites políticas e econômicas do país, valem-se estes de elementos repressivos legalizados que visam a manutenção da mentalidade coletiva social, conforme nos demonstra Lima Barreto (1915, s.p) – “Berram e levam a pobre mulher para os autos, para a justiça, para a chicana, para os depoimentos, para essa via-sacra da justiça, que talvez o próprio Cristo não percorresse com resignação.”
Eis que por consequência da aplicabilidade destes instrumentos de controle social, estes acabam por levar a um dilema, conservar os mais excelsior valores morais de fraternidade, igualdade e lealdade, ou ceder a uma moral condicionante repressiva, eis o dilema ficar com a cruz ou a espada, se exaltar os primeiros valores pesa-lhe a espada, se com os segundos, a cruz, pois em que pese a obediência moral social, a consciência lhe assombra. E é neste aspecto que o autor nos informa o desfecho da crônica: “A parteira, mulher humilde, temerosa das leis, que não conhecia, amedrontada com a prisão, onde nunca esperava parar, mata-se.” (BARRETO, 1915, s.p.)
Visando tentar uma pretensa mudança legislativa a ser imprimida no Código Civil, Barreto deixa no ar os seguintes questionamentos, os quais acabaram por perecer ante a uma moral condicionante: “Reflitamos, agora; não é estúpida a lei que, para proteger uma vida provável, sacrifica duas? Sim, duas porque a outra procurou a morte para que a lei não lhe tirasse a filha. De que vale a lei?” (1915, s.p.)
Observa-se que o autor se preocupava do cotidiano vivenciado por ele, e ainda mais, propõem mudanças sociais visando uma nova abordagem para a mulher e seu papel, procura apontar um azimute para evitar situações conflitantes entre a moral mais pura e transparente frente a criação e aplicabilidade das leis. Sobretudo, aponta aspectos degenerativos sociais que permanecem subsistem ainda com a república, demostrando nitidamente uma continuidade das estruturas do poder e suas aspirações, à revelia da vontade social.
REFERENCIAL
BARRETO, Lima. A Lei, 1915. In: _____. Vida Urbana, 2015. Biblio.com.br. Disponível em: <http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/LimaBarreto/cronicas/alei.htm>. Acesso em: 25 jun. 2017.
BRASIL. Lei Nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm>. Acesso em: 25 jun. 2017.

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