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Análise de Impacto Regulatório (AIR) Prof. Marcos Vinicius Pó marcos.po@ufabc.edu.br Regulação e Agências Reguladoras no Contexto Brasileiro Análise de Impacto Regulatório (AIR) • Ferramenta sistemática utilizada para examinar e medir os benefícios, os custos e os efeitos prováveis de uma regulação. • Instrumento que: ► Provê informações sobre a necessidade e as consequências de uma regulação. ► Verifica se os benefícios potenciais da ação regulatória excedem os custos gerados para a sociedade . ► Avalia se, entre alternativas possíveis, a regulação é a que maximiza os benefícios líquidos. ► Auxilia no aperfeiçoamento da eficácia e da eficiência da atividade regulatória. • Parte de um processo de fortalecimento da governança regulatória. Prof. Marcos Vinicius Pó 2 Origens da AIR • Embora utilizada, em vários formatos, há décadas em alguns países, a AIR se difundiu a partir de meados dos anos 1990, ligada aos princípios de governança regulatória e à doutrina normativa do que é a “boa regulação” (better regulation; smart regulation...) • O uso do ferramental tem sido objeto de análise e crítica, o que vem contribuindo para aperfeiçoar metodologias e instrumentos, assim como para evitar distorções tais como a utilização de AIR para ratificar decisões tomadas. • A AIR não é, por si só, uma base suficiente para a tomada de decisões, mas pode ser bastante útil como um guia para melhorar a qualidade do processe decisório, tanto em termos políticos quanto administrativos, ao mesmo tempo em que reforça aspectos como abertura, participação e accountability. Prof. Marcos Vinicius Pó 3 Pressões sobre a regulação e a AIR • Pressões ► Preocupação com os custos regulatórios (impacto nos negócios, tamanho do Estado...) ► Ferramenta para proteger os valores sociais ► Impacto da regulação em outras áreas e setores ► Complexidade de atores, tarefas, interesses... • AIR como resposta às pressões, visando atingir quatro objetivos principais: ► Melhorar o entendimento do impacto da ação governamental; ► Integrar objetivos múltiplos nas políticas públicas; ► Melhorar a transparência e os processos consultivos; ► Melhorar a accountability governamental. Prof. Marcos Vinicius Pó 4 Metodologias de tomada de decisão • Expertise: tomadas por experts com base em seu conhecimento e julgamento profissional. • Consenso: baseadas no equilíbrio e compromisso dos interesses de um grupo de stakeholders. • Política: tomadas por representantes políticos com base em questões partidárias e na sua importância para o processo político. • Benchmarking: se baseiam em modelos externos, como exemplos de outros países ou em regulações internacionais. • Empírica: se baseiam na busca de dados e fatos e na sua análise, tendo seus parâmetros definidos de acordo com critérios estabelecidos. • As decisões regulatórias são uma mistura desses métodos, variando conforme a cultura local, tradições políticas, estilos administrativos e do tema em questão. Prof. Marcos Vinicius Pó 5 Timming da AIR • Um ponto fundamental para o sucesso de uma AIR é o timming da sua introdução. • Ela deve ser introduzida o mais cedo possível para poder trazer mais alternativas aos tomadores de decisão ► Para isso pode-se utilizar consultas públicas e diálogo com a sociedade. • Se a AIR inicia-se em um momento avançado do processo decisório acaba se configurando como uma justificativa para a decisão já tomada ► Nesse caso, é melhor não fazer, pois será um desperdício de recursos públicos. Prof. Marcos Vinicius Pó 6 Guia de boas práticas segundo a OCDE 1. Garantir o comprometimento político com a AIR. 2. Alocar responsabilidades cuidadosamente para o cumprimento das etapas da AIR. 3. Treinar os reguladores. 4. Utilizar um método analítico consistente, porém flexível. 5. Desenvolver e implementar estratégias de coleta de dados. 6. Concentrar esforços em objetivos precisos. 7. Integrar a AIR nos processos de elaboração de políticas, dando início o mais cedo possível ao processo de tomada de decisão. 8. Dar publicidade aos resultados. 9. Envolver o público extensivamente. 10. Aplicar a AIR tanto a novas propostas como à revisão de regulação existente. Prof. Marcos Vinicius Pó 7 Análise custo – benefício (ACB) • É o método analítico mais utilizado, dado sua clareza em justificar a escolha regulatória. ► Análise econômica por excelência, que passa pela ponderação de ganhos e perdas potenciais, inclusive os futuros, e pela estimação desta diferença. • Na ACB devem ser incluídos e explicitados os impactos da regulação, independentemente de serem quantificáveis. ► Necessário fugir do viés economicista e abranger benefícios incertos e difusos, assim como custos não quantificáveis • Início nos EUA: 1974, com o presidente Ford. Avançou sistematicamente a partir de 1981, com o presidente Reagan. Prof. Marcos Vinicius Pó 8 Princípios da ACB • Incluir todos os custos e benefícios significativos da regulação, independente de serem quantificáveis. • Explicitar quais custos e benefícios podem ou não ser monetizados. • Concentrar os esforços nos custos e benefícios mais significativos. • Explicitar ao máximo possível quem recebe os ônus e os bônus da regulação. • Se houver incerteza significativa sobre o impacto de uma alternativa regulatória, estimar a sensibilidade dos resultados com relação a mudanças em variáveis importantes. • Identificar os custos de compliance. • Considerar benefícios e custos dinâmicos (Ex.: inovação, aprendizado...). Prof. Marcos Vinicius Pó 9 Limitações da ACB • Manipulação dos resultados: supervalorizar benefícios ou custos intangíveis ou deixar de incluir questões na análise. • Dados: disponibilidade, confiabilidade e custo de obtenção. • Utilização de pressupostos viesados, previsões não realistas, dupla contagem e exclusão de variáveis. • Custos e benefícios bem arrolados, consistentes, descritos são mais adequados que estimativas que usam aproximações irrealistas, mas com resultados “exatos” (falsa precisão) ► Evitar aspectos genéricos como “promoção da concorrência” buscar informar como e por que determinado benefício será positivo ou custo será negativo. ► Remédio: explicitar os pressupostos em termos quantitativos e qualitativos, permitindo críticas consistentes • Desafio: incorporar benefícios potenciais em eficiência ou quantificar benefícios dinâmicos da concorrência. Prof. Marcos Vinicius Pó 10 Análise custo-benefício branda • Experiências de AIR vem mostrando a necessidade de integração sistemática e sofisticada entre análise quantitativa e qualitativa, reconhecendo a complexidade da análise social. • Tentativa de abandonar o viés economicista e buscar compatibilizar de efeitos qualitativos e quantitativos. ► Benefícios são relativamente simples de se quantificar em unidades físicas, porém são normalmente difíceis de serem monetizados uma vez quantificados. • A ACB branda admite a impossibilidade de uma completa monetização dos custos e benefícios. Dessa forma, algumas das limitações inerentes à ACB são suavizadas. Prof. Marcos Vinicius Pó 11 Análises parciais • Utilizadas quando determinada medida atinge de forma desproporcional um público específico. ► Nesse caso pode ser desejável analisar estes impactos separadamente (Ex.: pequenas empresas, população de baixa renda) ou focar em alguns aspectos, como o efeito sobre a concorrência. ► Essas análises devem ser aplicadas de forma paralela e complementar à análise global • Problemas:► Dificuldade de orientar o regulador a mensurar o impacto distributivo em setores específicos, sem especificar como isto será feito. ► Mensuração do impacto macroeconômico, gerado por intervenções microeconômicas, dadas as complexas interações da economia. ► Fazer apenas análises parciais ou utilizar métodos que percebam impactos seletivos, sem determinar sua integração à estrutura analítica mais ampla. Prof. Marcos Vinicius Pó 12 Testes de limiar • Ideia central: só se deve dar prosseguimento a uma AIR caso se verifique um dano ou benefício significativo. ► Princípio da proporcionalidade, economicidade e eficiência. • Dados os custos, os testes de limiar podem ser utilizados para avaliar se é possível dispensar a AIR análise ou reduzir a extensão desta, para casos em que a regulação gera impactos relativamente pequenos ou quando não há alternativa política apropriada à regulação. • Os limiares de podem ser quantitativos e qualitativos. ► Quantitativo: indica a realização da análise para regulações que tenham custos estipulados maiores do que determinado valor. ► Qualitativo: estabelece exigências quanto à natureza da regulação. Prof. Marcos Vinicius Pó 13 Cost-effectiveness analysis • Ferramenta alternativa à ACB e forma de adquirir expertise. • Comparação de custos entre regulações que geram ou devem gerar benefícios semelhantes. ► Comparação dos meios. • Útil também quando a monetização dos benefícios é inviável ou muito complexa, assim como para afastar questões morais que podem advir da quantificação de benefícios como vidas e redução de acidentes • É particularmente interessante quando o objetivo regulatório já está definido pelo legislador, cabendo apenas avaliação da alternativa menos custosa para atingir aquele objetivo. Prof. Marcos Vinicius Pó 14 Participação da sociedade • Meio de ► Dar publicidade aos resultados ► Envolver o público ► Mapear efeitos que poderiam não ser percebidos a princípio ► Colaborar com a legitimação e aceitação da decisão • Consulta Pública ► Processo pelo qual as partes interessadas informam o regulador a respeito de uma potencial política. ► Ferramenta útil para aumentar a transparência, a eficiência e a efetividade da regulação. ► Tem maior utilidade para a AIR se for utilizada como subsídio para análise, não apenas como um procedimento burocrático. • Fadiga da consulta: os grupos de interesse se sentem sobrecarregados pelo extenso número de matérias sobre as quais têm de fornecer informação, o que pode reduzir o nível de qualidade dos comentários. Prof. Marcos Vinicius Pó 15 Decreto nº 4.176, de 28/03/2002: normas e diretrizes para a elaboração, a redação, a alteração, a consolidação e o encaminhamento ao Presidente da República de projetos de atos normativos de competência dos órgãos do Poder Executivo Federal – Anexo I 1. Deve ser tomada alguma providência? 1.1. Qual o objetivo pretendido? 1.2. Quais as razões que determinaram a iniciativa? 1.3. Neste momento, como se apresenta a situação no plano fático e no plano jurídico? 1.4. Que falhas ou distorções foram identificadas? 1.5. Que repercussões tem o problema que se apresenta no âmbito da economia, da ciência, da técnica e da jurisprudência? 1.6. Qual é o conjunto de destinatários alcançados pelo problema, e qual o número de casos a resolver? 1.7. O que poderá acontecer se nada for feito? 2. Quais as alternativas disponíveis? 2.1. Qual foi o resultado da análise do problema? Onde se situam as causas do problema? Sobre quais causas pode incidir a ação que se pretende executar? 2.2. Quais os instrumentos da ação que parecem adequados para alcançar os objetivos pretendidos, no todo ou em parte? 2.3. Quais os instrumentos de ação que parecem adequados, considerando-se os seguintes aspectos: o desgaste e encargos para os cidadãos e a economia; o eficácia (precisão, grau de probabilidade de consecução do objetivo pretendido); o custos e despesas para o orçamento público; o efeitos sobre o ordenamento jurídico e sobre metas já estabelecidas; o efeitos colaterais e outras conseqüências; o entendimento e aceitação por parte dos interessados e dos responsáveis pela execução; o possibilidade de impugnação no Judiciário. Prof. Marcos Vinicius Pó 16 Decreto nº 4.176, de 28/03/2002: normas e diretrizes para a elaboração, a redação, a alteração, a consolidação e o encaminhamento ao Presidente da República de projetos de atos normativos de competência dos órgãos do Poder Executivo Federal 12. Existe uma relação equilibrada entre custos e benefícios? 12.1. Qual o ônus a ser imposto aos destinatários da norma (calcular ou, ao menos, avaliar a dimensão desses custos)? 12.2. Podem os destinatários da norma, em particular as pequenas e médias empresas, suportar esses custos adicionais? 12.3. As medidas pretendidas impõem despesas adicionais ao orçamento da União, dos Estados e dos Municípios? Quais as possibilidades existentes para enfrentarem esses custos adicionais? 12.4. Procedeu-se à análise da relação custo-benefício? A que conclusão se chegou? 12.5. De que forma serão avaliados a eficácia, o desgaste e os eventuais efeitos colaterais do novo ato normativo após sua entrada em vigor? Prof. Marcos Vinicius Pó 17 18 • Próxima semana: Regulação no federalismo brasileiro • Texto base: Olivieri, Cecília. Agências regulatórias e federalismo: a gestão descentralizada da regulação no setor de energia. Rev. Adm. Pública v.40 n.4 Rio de Janeiro jul./ago. 2006 • Material disponível em http://perguntasaopo.wordpress.com/disciplinas/ragcb/ Grupos Diurno •Grupo 1: energia elétrica ► Caio; Daniel; Jonas; Leonardo*; Priscila •Grupo 2: educação superior ► Arlete; Marta; Rafael; Renan* •Grupo 3: Transportes ► Arnaldo; Aron; Barbara*; Karimi Noturno • Grupo 4: telecomunicações ► Beatriz; Daniel*; Juliana; Natália; Ronaldo; Silas • Grupo 5: recursos hídricos ► Luana; Lucas; Lucca; Léo; Mariana*; Marcelo • Grupo 6: saúde ► Gabriel; Paulo*; Thiago; Túlio • Grupo 7: aviação civil ► Carla; Débora; Igor; Rafael; Samara*