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José Rildo UFMT HOMICÍDIO PRIVILEGIADO E A HONRA

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HOMICÍDIO PRIVILEGIADO E A HONRA 
 
O Código Penal Brasileiro, escrito na década de 1940, momento no 
qual a sociedade trazia consigo o conceito de honra de forma mais ainda 
relacionada à vergonha do que ao próprio caráter do indivíduo, teve inserido em 
seu texto, que tipifica penalmente a conduta de “matar alguém” como crime, uma 
causa de diminuição de pena em razão de o agente estar impelido por motivo de 
relevante valor social ou moral, ou ainda sob o domínio de violenta emoção em 
razão à injusta provocação da vítima. Vejamos: 
Homicídio simples 
 Art. 121. Matar alguém: 
 Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
 Caso de diminuição de pena 
 § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo 
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta 
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode 
reduzir a pena de um sexto a um terço. 
 
Tal instituto foi denominado pela doutrina como sendo o homicídio 
privilegiado. O texto legal traz três hipóteses capazes de reduzir a pena diante 
das circunstancias do crime. As duas primeiras, relevante valor social e moral, 
estão ligadas à razão de ser do crime. Social por se referir aos interesses de 
todas uma coletividade (ex.: indignação com um traidor da pátria). Moral quando 
se refere a interesses individuais, sentimento pessoais do agente (ex.: 
eutanásia). 
Já o terceiro motivo requer três requisitos concomitantemente: 1) 
domínio de violenta emoção, que não deve ser leve ou momentânea; 2) reação 
imediata logo após a conduta da vítima; 3) injusta provocação, que quer dizer 
condutas incitantes, desafiadoras e injuriosas por parte da vítima. 
Vê-se, do dispositivo em comento, que, por vezes, a aplicação do tipo 
penal ao caso concreto traduz a utilização da força por parte do agente ativo que, 
utilizando-se do seu poder de autotutela, se imagina legitimado à realizar sua 
conduta tendo em vista a afetação à sua honra ou imagem. 
Tal instituição trouxe à baila novas teses dentro do tribunal do júri. A 
principal delas foi denominada “legítima defesa da honra” e era aplicada em 
casos de pura violência doméstica, por parte de homens, em tese, traídos por 
suas esposas. Tal interpretação da norma foi aceita durante algum tempo nos 
tribunais do júri no Brasil. Isso porque aquele que estavam incumbidos de julgar 
o caso concreto, também compreendiam a ânsia de vingança que se revelou no 
cometimento do crime a fim de se defender a honra do marido. 
A interpretação da causa de redução da pena requer uma análise 
sistemática. A modernização do direito, principalmente, com a reafirmação de 
direito humanos, estes, especialmente no que se refere às mulheres e também 
às minorias, ensejou a mitigação de teorias que, em tese, legitimavam agentes 
a matarem suas vítimas em defesa de sua honra. 
A análise do crime de homicídio privilegiado, à luz do texto abordado 
no presente trabalho, se revela adequada quando em relação aos exemplos de 
assassinatos de mulheres cometidos no Mediterrâneo em razão de suas 
condutas. Tais exemplos são puramente a inversão de valor que caracteriza-se 
pela falsa impressão de legitimidade da conduta em virtude da defesa da honra 
particular do indivíduo. 
Assim, apesar da explícita causa de diminuição de pena do Código 
Penal, tal instituto deve ser concebido atualmente de maneira relativa, pois nem 
sempre a defesa da honra pode dar ensejo a relativização do maior bem tutelado 
por nosso sistema punitivo, a vida.

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