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analise do discurso- apostila

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Disciplina 
Análise do Discurso 
 
 
Coordenador da Disciplina 
Prof. Nelson Barros da Costa 
 
 
5ª Edição 
 
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, 
transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. 
 
Créditos desta disciplina 
 
Coordenação 
Coordenador UAB 
Prof. Mauro Pequeno 
Coordenador Adjunto UAB 
Prof. Henrique Pequeno 
Coordenador do Curso 
Prof. Claudete Lima 
 
Coordenador de Tutoria 
Prof.ª Pollyanne Bicalho Ribeiro 
 
Coordenador da Disciplina 
Prof. Nelson Barros da Costa 
 
Conteúdo 
Autor da Disciplina 
Prof. Nelson Barros da Costa 
Setor TecnologiasDigitais - STD 
Coordenador do Setor 
Prof. Henrique Sergio Lima Pequeno 
 
Centro de Produção I - (Material Didático) 
Gerente: Nídia Maria Barone 
Subgerente: Paulo André Lima / José André Loureiro 
Transição Didática 
Dayse Martins Pereira 
Elen Cristina Bezerra 
Elicélia Lima Gomes 
Enoe Cristina Amorim 
Fátima Silva Souza 
Hellen Paula Pereira 
José Adriano Oliveira 
Karla Colares 
Kamille de Oliveira 
Viviane Sá de Lima 
 
Formatação 
Camilo Cavalcante 
Cícero Giovany 
Elília Rocha 
Emerson Mendes Oliveira 
Francisco Ribeiro 
Givanildo Pereira 
Sued de Deus 
 
Publicação 
João Ciro Saraiva 
Design, Impressão e 3D 
André Lima Vieira 
Eduardo Ferreira 
Gleilson dos Santos 
Iranilson Pereira 
Luiz Fernando Soares 
Marllon Lima 
Onofre Paiva 
 
 
 
Gerentes 
Audiovisual: Andrea Pinheiro 
Desenvolvimento: Wellington Wagner Sarmento 
Suporte: Paulo de Tarso Cavalcante 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Aula 01: Caracterização Inicial da Análise do Discurso ....................................................................... 01 
 Introdução ............................................................................................................................................... 01 
 Tópico 01: O que é a Análise do Discurso ............................................................................................. 03 
 Tópico 02: "Análise do Discurso": O que nos diz o Título da Disciplina.............................................. 08 
 Tópico 03: Discurso: Uma Palavra, Dois Conceitos .............................................................................. 15 
 
Aula 02: Contexto e Discurso ................................................................................................................... 21 
 Tópico 01: Contexto: Uma Palavra, Múltiplos Sentidos........................................................................ 21 
 Tópico 02: Materialidade Linguística E Contexto ................................................................................. 25 
 Tópico 03: O ethos ................................................................................................................................. 31 
 Tópico 04: Da Cena de Enunciação ....................................................................................................... 37 
 
Aula 03: Contexto Interdiscursivo........................................................................................................... 44 
 Tópico 01: Polifonia e dialogismo ......................................................................................................... 44 
 Tópico 02: Intertextualidade, Interdiscursividade e Metadiscursividade ............................................... 51 
 
Aula 04: Reflexões Discursivas sobre o Ensino do Português ............................................................... 68 
 Tópico 01: O Ensino da Língua enquanto Prática Discursiva ............................................................... 68 
 Tópico 02: Uma Visão Discursiva do Ensino da Língua ....................................................................... 75 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO
A Análise do Discurso foi fundada nos anos sessenta do século passado, 
década que ficou na história por concentrar acontecimentos de grande 
relevância para a Humanidade e que levaram a transformações políticas e 
comportamentais decisivas no mundo ocidental. 
É na década de 60 que se dá o auge da chamada “guerra fria”, tensão 
gerada pela disputa de hegemonia entre dois grandes blocos mundiais de 
poder. (os países organizados em torno da OTAN e aqueles pertencentes ao 
Pacto de Varsóvia) Também nesse período eclode uma série de movimentos 
de categorias que se sentiam marginalizadas ou oprimidas na sociedade da 
época. Na França, por exemplo, no mês de maio de 1968, ano de fundação da 
AD, os estudantes confrontaram a polícia criando barricadas e verdadeiras 
trincheiras de guerra nas ruas de Paris. 
Todo um status quo cultural e social foi questionado: o excessivo 
disciplinamento das crianças em escolas francesas; o lugar inferior da 
mulher diante do pai, do marido, dos filhos homens; o preconceito e a 
discriminação dos homossexuais, diagnosticados pelos médicos como 
doentes, etc. Alguns anos antes, as colônias francesas na África lutavam 
contra a dominação encontrando grande apoio e simpatia nesses 
movimentos. Esses movimentos se aliaram também aos sindicatos operários 
e intelectuais promovendo grandes manifestações e propagando ideias 
libertárias em todo o Ocidente que inauguraram novas maneiras de pensar 
as liberdades civis democráticas, os direitos das minorias, a igualdade entre 
homens e mulheres; brancos e negros; heterossexuais e homossexuais; 
velhos, jovens e crianças.
PARADA OBRIGATÓRIA
Sendo assim, nesse momento histórico, a Análise do Discurso nasce 
sob o signo da polêmica. A ideia original é que ela pudesse servir como um 
instrumento político capaz de desmascarar as estratégias de manipulação 
ocultas por trás dos textos. 
Acreditando que a linguagem encobria interesses e ideologias 
inconfessáveis, a AD é proposta como recurso metodológico capaz de por a 
nu tais interesses e ideologias. Com o tempo, ao se distanciar dessa época de 
grande acirramento ideológico, a AD supera esse finalismo para se tornar, 
sem perder seu caráter crítico, uma reflexão sobre a discursividade e a 
linguagem que pode, dependendo da perspectiva, se apoiar em uma 
ferramenta metodológica de leitura textual mais ou menos rigorosamente 
formulada. 
A história de como a disciplina evoluiu de uma posição que tinha essa 
meta de modo mais unificado, nos anos 60, para se multiplicar, nos dias de 
hoje, em uma série de propostas diferentes, dentre as quais a que 
ANÁLISE DODISCURSO
AULA 01: CARACTERIZAÇÃO INICIAL DA ANÁLISE DO DISCURSO
1
apresentamos aqui, está contada em muitos textos, aos quais remetemos o 
leitor:
LEITURA COMPLEMENTAR
COSTA, Nelson Barros da. “O primado da prática: uma quarta época 
para a Análise do Discurso” In: COSTA, Nelson Barros da (org.). 
PRÁTICAS DISCURSIVAS: EXERCÍCIOS ANALÍTICOS. p. 17-48. Campinas: 
Pontes, 2005.
MUSSALIN, Fernanda. “A Análise do discurso”. In MUSSALIN, F.; 
BENTES, Anna Christina. INTRODUÇÃO À LINGÜÍSTICA 2 – DOMÍNIOS
E FRONTEIRAS. p. 101-142. São Paulo: Cortez, 2001.
PÊCHEUX, Michel. “A Análise de Discurso: três épocas (1983)”. In: 
GADET, F.; HAK, T. (orgs.). POR UMA ANÁLISE AUTOMÁTICA DO
DISCURSO - UMA INTRODUÇÃO À OBRA DEMICHEL PÊCHEUX. p. : 311-
319. Campinas: Ed. da Unicamp, 1990. 
POSSENTI, S. APRESENTAÇÃO DA ANÁLISE DO DISCURSO. São 
José do Rio Preto: Glota, 1990.
OLHANDO DE PERTO
Partiremos, portanto, de uma perspectiva mais contemporânea da 
Análise do Discurso, advertindo o aluno/leitor de que se trata de uma 
dentre muitas outras abordagens que podem ser encontradas no atual 
quadroacadêmico brasileiro e mundial.
FÓRUM 01
Já encontra-se aberto o Fórum 01, onde você pode discutir com o 
tutor os conteúdos gerais da disciplina.
Responsável: Professor Nelson Barros da Costa
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
2
TÓPICO 01: O QUE É A ANÁLISE DO DISCURSO
MULTIMÍDIA
Ligue o som do seu computador!
OBS.: Alguns recursos de multimídia utilizados em nossas aulas, 
como vídeos legendados e animações, requerem a instalação da versão 
mais atualizada do programa Adobe Flash Player©. Para baixar a versão 
mais recente do programa Adobe Flash Player, clique aqui! [1]
Utilizaremos, para nos aproximarmos de uma definição da Análise do 
Discurso, de princípios e procedimentos da própria disciplina:
a. Como qualquer outra disciplina, ela será encarada como um discurso, 
ou seja, um dizer e uma ação sobre o real. Numa palavra: uma prática. 
Não se pretende uma verdade sobre a realidade discursiva, mas uma 
interpretação desta realidade sob óculos peculiares. Por outro lado, esta 
realidade, tal como a realidade não-discursiva, não é um mundo estável, 
estanque e imune à própria discursividade produzida pela Análise do 
Discurso.
b. Partindo do princípio de que o advento de qualquer discurso só existe 
se posicionando em um campo já habitado, procuraremos indicar em que 
a disciplina se aproxima e se diferencia de outras conforme suas diversas 
dimensões.
c. Supondo que os títulos das disciplinas não são nem inteiramente 
transparentes ao objeto das mesmas nem rótulos inocentes e alheios a 
seus modos de dizer e fazer, iremos submeter a expressão Análise do 
Discurso a uma análise discursiva.
• As múltiplas dimensões da Análise do Discurso e sua relação com 
disciplinas concorrentes
Podemos dizer que a Análise do Discurso tem múltiplas dimensões. De 
um lado trata-se de uma disciplina que se dedica a um modo de leitura de 
textos. Nesse sentido, ela se filia a uma linhagem de disciplinas que 
historicamente vêm se dedicando a essa prática, como a Hermenêutica, a 
Filologia e a Teoria Literária.
Hermenêutica: (do grego “ermēneutikē”), trata-se de disciplina que 
tem por fim a interpretação correta e objetiva de textos religiosos ou 
filosóficos, especialmente das Sagradas Escrituras. Hermes, deus 
grego da comunicação e do entendimento humano, é o patrono da 
hermenêutica.
A FILOLOGIA (do grego antigo Φιλολογία, “amor ao estudo, à 
instrução”) – disciplina que estuda a língua, a literatura e a cultura de 
ANÁLISE DODISCURSO
AULA 01: CARACTERIZAÇÃO INICIAL DA ANÁLISE DO DISCURSO
3
um povo numa perspectiva histórica a partir de documentos escritos. 
Por vezes, o termo pode também denominar o estudo científico da 
história de uma língua ou família linguística, porém esse estudo é mais 
apropriadamente chamado hoje de Linguística Histórica. Assim, os 
filólogos propriamente ditos se dedicam ao estudo material e crítico dos 
textos. São ramos da filologia a Ecdótica (arte de descobrir e corrigir os 
erros de um documento escrito, preparando-lhe uma edição em que se 
procura estabelecer o texto perfeito), a Crítica Textual (estudo dos 
textos antigos e da sua preservação ou corrupção ao longo do tempo), a 
Crítica Genética (investiga a gênese da obra literária através do estudo 
dos mecanismos de produção e caminhos seguidos pelo escritor na 
preparação dos originais de sua(s) edição(ões)), Paleografia (estuda 
textos manuscritos antigos e medievais; estuda também a origem, a 
forma e a evolução da escrita) e a Epigrafia (estuda as inscrições 
antigas, ou epígrafos, gravados em material sólido visando decifrar, 
interpretar e classificar as inscrições.
Teoria Literária: Disciplina que tem como objeto o texto literário, 
que vai ser estudado ao nível das suas propriedades, da sua ligação com 
outros textos similares, do papel do autor e do gênero. A Teoria 
Literária ou Teoria da Literatura trabalha em conjunto com a História 
da Literatura tentando integrar os diversos textos numa corrente 
literária. Enquanto ciência, deve produzir conceitos, hipóteses 
explicativas, métodos e instrumentos de análise que vão lhe permitir 
obter um conhecimento profundo sobre uma obra, tendo em conta o 
gênero, a corrente e a linguagem literária em que se insere.
Quanto à Hermenêutica, entendida como disciplina preocupada com a 
leitura “correta” dos textos ou com o estabelecimento da melhor 
interpretação de um texto, a distância se dá pelo fato de AD não pretender a 
busca do Sentido, isto é, a revelação do verdadeiro sentido de um texto. Ao 
contrário, a Análise do Discurso pretende liberar os múltiplos sentidos de 
um texto porque segundo seus princípios, conforme veremos adiante, todo 
texto é sempre legível de múltiplas formas. Embora a AD pretenda, sim, 
efetuar uma interpretação de textos, interpretação que se pretende rigorosa, 
na medida em que amparada em sua materialidade, esta não se pretende o 
desvelamento do Sentido do texto. Um ponto crucial, portanto, marca o 
distanciamento entre as duas disciplinas: uma vez que não considera o texto 
como uma unidade fechada, mas sempre aberta a múltiplas interpretações, a 
AD está sempre atenta à possibilidade de que o sentido pode ser sempre 
outro.
VERSÃO TEXTUAL
Como qualquer disciplina do campo da cientificidade, a AD deve 
rejeitar uma leitura normativa, se recusando a tentar responder 
questões como "qual a melhor maneira de se descobrir o que 
realmente este texto quis dizer?", "como atingir o real sentido de um 
4
texto?", etc. Interessa para a AD o que de fato foi dito, os múltiplos 
sentidos liberados, o como foi dito...
Quanto à Filologia, podemos dizer que não se trata para a AD de ler o 
texto com o pretexto de estabelecer ou compreender seu contexto cultural. 
Isso pressuporia uma visão do contexto de um texto como uma moldura, 
numa relação de exterioridade, como se o contexto de um texto fosse uma 
realidade constante, muda, indiferente e pré-existente ao texto. Veremos 
que, para a AD, todo texto supõe seu contexto. Ele tem sempre marcas desse 
contexto e nele interfere diretamente.
VERSÃO TEXTUAL
Embora muitos analistas estabeleçam objetivos diversos para a 
análise e, de algum modo, um certo finalismo tenha marcado a própria 
origem da disciplina, a AD deve rejeitar a ideia de pretexto, pois esta 
supõe uma secundarização da análise em função de fins ou objetos 
supostamente mais nobres.
À Teoria Literária a AD deve bastante...
Esta disciplina tem grande influência nas práticas de leitura e 
interpretação de textos em ambiente escolar, sendo praticamente, hoje em 
dia, no Brasil, a responsável quase isolada pelas práticas analíticas voltadas 
para o texto e para o discurso com as quais os usuários leigos da língua têm 
contato durante a infância e a adolescência. O estudo dos textos literários 
historicamente desenvolveu importantes conceitos hoje apropriados pela 
Análise do Discurso, como gênero, intertextualidade e posicionamento. É 
clara, no entanto, a diferença entre as duas disciplinas em diversos aspectos. 
Em primeiro lugar, a apreensão da AD pretende-se muito mais abrangente, 
podendo inclusive tomar o próprio discurso da Teoria Literária e seu objeto 
como objetos de análise. No entanto, e este é o segundo lugar, a abordagem 
discursiva, mesmo a de textos literários, não será estética. Ou seja, sem 
pretender substituir e sem que o aspecto estético seja negligenciado, o texto 
literário não será examinado com o objetivo de apreender sua literariedade, 
não será julgado em suas qualidades artísticas através de conceitos como 
“belo” ou “bom gosto”, mas como uma enunciação (como tantas outras) que 
funciona ligada a uma instituição discursiva específica.
Poroutro lado, a Análise do Discurso é uma disciplina preocupada com 
a formulação de uma teoria geral da linguagem, uma vez que a prática de 
leitura que realiza pressupõe um modo de conceber o processo que tornou 
possíveis os textos de que se ocupa.
E aí, por esse aspecto, a Análise do Discurso é também uma teoria do 
discurso, o que a aproxima das disciplinas científicas voltadas para a 
compreensão teórica da linguagem, como a Linguística (Linguística: Setor 
das Ciências Humanas cujo objetivo é descrever e explicar cientificamente as 
línguas naturais humanas, tanto do ponto de vista dos sistemas subjacentes 
(mentais ou sociais) quanto do ponto de vista dos processos históricos que 
5
conduzem à mudança desses sistemas. Pode também investigar os processos 
de aprendizagem, produção, processamento e transposição material e 
variação social da linguagem verbal humana. 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%C3%B3tica)) e a Semiótica (Semiótica: 
(do grego semeiotiké ou “a arte dos sinais”) - ciência geral dos signos, estuda 
os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de 
significação. Ocupa-se do estudo do processo de significação ou 
representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da ideia. Mais 
abrangente que a Linguística, a qual se restringe ao estudo dos signos 
linguísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem 
por objeto qualquer sistema sígnico.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%
C3%B3tica)) . Sem entrar na questão do modo como compreendem a 
linguagem e o discurso, podemos afirmar que a AD comunga com esses 
campos de saber no sentido não abrir mão de princípios universais de 
cientificidade tais como a busca da universalidade, a validação prática de 
suas descobertas, crenças e criações, a investigação metódica, etc. 
Diferentemente dessas disciplinas, porém, na medida em que a AD pretende, 
mais do que propor modelos de análise, verificar os condicionamentos sócio-
históricos da produção linguística concreta, ou ainda, investigar os nexos que 
condicionam as formas linguísticas, ela esclarece e contribui para a 
emancipação crítica do falante-ouvinte. Além do mais, a AD não separa o 
produto do processo de produção. Para ela, a exterioridade é constitutiva do 
texto, isto é, o falante (escritor), o ouvinte (leitor) e o contexto social e 
histórico no qual estão inseridos, bem como as próprias formulações 
linguísticas fixadas na memória discursiva, são levados em conta na sua 
prática. Dessa forma, ela procura evitar tanto o distanciamento presente nas 
ciências, quanto o pragmatismo inerente ao senso comum, procurando 
descrever, explicitar e problematizar a discursividade. Diante desta, o 
procedimento da AD é, portanto, de reflexão crítica, pois procura 
problematizar continuamente as evidências e explicitar seu caráter político-
ideológico (ORLANDI, 1987). Note-se que a AD não se pretende colocar 
como uma alternativa para a Linguística e a Semiótica - ciências positivas 
que pretendem descrever e explicar a linguagem verbal humana, mas como 
proposta crítica que pretende problematizar as formas de reflexão 
estabelecidas (ORLANDI, op. cit.).
Um aspecto importante dessa diferença entre a Análise do Discurso e as 
outras perspectivas elencadas diz respeito à forma de encarar o objeto 
linguagem. A AD olha seu objeto como parte da totalidade social e histórica, 
procurando articular aquilo que a olho nu aparece como desarticulado: a 
linguagem, a história, a sociedade, os sujeitos. Daí o caráter interdisciplinar 
da Análise do Discurso que não hesita em buscar de outras áreas do saber 
elementos para tentar compreender a linguagem.
De outra parte, consideramos que a Análise do Discurso se aproxima do 
saber filosófico acerca da linguagem. Naturalmente que essa aproximação 
tem grande relação com o fato de serem filósofos alguns de seus precursores 
como Mikhail Bakhtin, Louis Althusser e Michel Foucault, além de ser 
filósofo seu próprio fundador oficial, Michel Pêcheux. Mas seria redutor 
creditar unicamente a esse fato, certamente relevante, a “aura” filosófica da 
6
Análise do Discurso. Pensamos que isso tem a ver com uma postura 
reflexiva, crítica e de não-neutralidade, a nosso ver irredutível, diante de seu 
objeto e do mundo. Diante, por exemplo, da descoberta de estratégias de 
manipulação do leitor/ouvinte ou de mascaramento de determinados 
mecanismos de poder, o analista não pode deixar de se posicionar e de 
denunciar. Mas não apenas isso. Além dessa dimensão ética, pensamos que 
outra herança do discurso filosófico incorporado pela AD compõe um 
aspecto de seu instrumental metodológico baseado na reflexão sobre seu 
objeto em oposição a uma linguagem meramente descritiva, que se 
pretenderia transparente, reflexo do real. Mais do que desvendar a realidade 
discursiva, o discurso da Análise do Discurso pretende problematizá-la. Essa 
problematização passa por um uso da linguagem que problematiza ela 
própria a linguagem comum das ciências positivas da linguagem. Daí o uso 
de metáforas, alegorias, aparentes paradoxos, construções inusitadas, de um 
código de linguagem aberto à visita da subjetividade, mas sempre preso ao 
rigor e avesso à especulação.
QUADRO COM SÍNTESE
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.adobe.com/products/flashplayer/
2. http://www.adobe.com/go/getflashplayer
3. http://www.adobe.com/go/getflashplayer
Responsável: Professor Nelson Barros da Costa
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
7
TÓPICO 02: "ANÁLISE DO DISCURSO": O QUE NOS DIZ O TÍTULO DA DISCIPLINA
Fonte [1]
Michel Pêcheux - (1938-1983): uma 
das figuras mais importantes da 
Análise do Discurso.
A denominação “Análise do Discurso” dá poucas pistas para uma 
compreensão mais precisa dos objetivos da disciplina, diferentemente de 
outras e de outros segmentos do campo de saber da Linguística:
OBSERVAÇÃO
Como se pode perceber, mesmo que não se tenha uma visão completa 
do que tratam as disciplinas acima, seus títulos dão alguma ideia de seus 
assuntos. Sabe-se, a partir do título Psicolinguística, por exemplo, que ela 
relaciona de alguma maneira “mente” e “linguagem”. E o que se sabe da 
Análise do Discurso a partir de seu título? Pouca coisa!
Diante da palavra “análise”, pode-se perguntar: que tipo de análise? 
Linguística? Estética? Crítica? Ideológica? Independente do sentido que se 
possa atribuir à palavra “análise”, antecedendo a palavra “discurso”, o leitor 
pode supor que exista um objeto passível de análise: o “discurso”, do mesmo 
modo que outros objetos, como a sintaxe, a morfologia e a fonologia. Porém, 
em nenhuma dessas “análises” o objeto toma a forma substantiva 
definitivada (A <strong>definitivação</strong> é a utilização de uma 
expressão seguida de artigo definido. Este recurso dá à expressão um caráter 
de informação já conhecida.) como em “análise do discurso”. Não são 
conhecidas as expressões “análise do sintagma”, “análise do fonema” ou 
“análise do morfema” enquanto títulos de disciplinas ou setor de disciplinas. 
Noutras palavras, a expressão “análise do discurso” não se enquadra 
com sucesso no paradigma abaixo:
“Análise fonológica” = análise da fonologia de uma língua
“Análise morfológica” = análise da morfologia de uma língua
“Análise sintática” = análise da sintaxe de uma língua
“Análise do discurso” = análise do discurso de uma língua” ?
Assim, a expressão “análise do discurso” é obscura no tocante a dizer o 
que realmente a disciplina consiste nos limites do que um título pode dizer 
do que consiste uma disciplina.
ANÁLISE DODISCURSO
AULA 01: CARACTERIZAÇÃO INICIAL DA ANÁLISE DO DISCURSO
8
Isso se agrava pelo fato deque, diferentemente dos termos “fonologia”, 
“morfologia” e “sintaxe”, que são mais técnicos, o termo “discurso” é 
saturado nos seguintes sentidos:
A) PELO SENSO COMUM: RETÓRICA, PALAVRAS VAZIAS, FALA EM SITUAÇÃO SOLENE
Estes sentidos NÃO são, naturalmente, os do termo “discurso” que está 
no título de nossa disciplina, embora eles devam ser considerados pela 
Análise do Discurso, uma vez que fazem parte, como qualquer palavra da 
língua, de um campo de produção de sentido, nesse caso, o que se tem 
chamado discurso do cotidiano.
B) PELO SENTIDO DICIONARIZADO:HOUAISS: VERBETE DISCURSO
N substantivo masculino 
1 mensagem oral, ger. solene e prolongada, que um orador profere 
perante uma assistência
Ex.: d. De posse, de despedida, de formatura etc.
2 rubrica: literatura.
Peça de oratória ger. para ser proferida em público, ou escrita como 
se fosse para esse fim; sermão, oração
Ex.: Rui Barbosa ficou famoso por seus discursos.
3 série de enunciados significativos que expressam formalmente a 
maneira de pensar e de agir e/ou as circunstâncias identificadas com um 
certo assunto, meio ou grupo
Ex.: 
4 rubrica: literatura. Diacronismo: obsoleto. Texto em que se trata 
com profundidade algum assunto; estudo, tratado, dissertação
Ex.: o professor aconselhou a leitura do discurso do método, de 
Descartes
5 rubrica: filosofia.
Raciocínio que se realiza por meio de movimento seqüencial que vai 
de uma formulação conceitual a outra, segundo um encadeamento lógico 
e ordenado
obs.: p. opos. A intuição
6 derivação: por metonímia.
A exposição do raciocínio assim conduzido; pensamento discursivo
7 rubrica: lingüística.
9
A língua em ação, tal como é realizada pelo falante [para muitos 
lingüistas, a palavra discurso é sinônimo de fala e figura em igualdade de 
sentido na dicotomia língua/discurso.
obs.: cf. fala
8 rubrica: lingüística.
Segmento contínuo de fala maior do que uma sentença
obs.: cf. Análise de discurso
9 rubrica: lingüística.
Enunciado oral ou escrito que supõe, numa situação de comunicação, 
um locutor e um interlocutor
10 rubrica: lingüística.
Reprodução que alguém faz das palavras atribuídas a outra pessoa 
Obs.: cf. discurso direto, discurso indireto, discurso indireto livre
Como se pode ver, o verbete do dicionário (tomamos HOUAISS (2001), 
mas o mesmo vale para qualquer outro dicionário) já reflete a multiplicidade 
de sentidos do termo, ao mesmo tempo em que opera uma seleção e uma 
fixação, cujos critérios não são explicitados, desses sentidos. Em que medida 
poderemos indicar o dicionário como um auxiliar na compreensão da 
expressão “análise do discurso” tal como queremos explicitar aqui? Em 
nenhuma medida, como esperamos que se torne claro aqui. 
Deixando de lado os sentidos do senso comum, da literatura, da filosofia 
e da psicanálise, colocados em primeiro plano pelo dicionário em questão, 
mas que podemos descartar, consideremos aqueles que foram reservados 
pelos 4 últimos verbetes para a Linguística, sendo que em um deles a 
expressão “análise do discurso” entra como exemplo de emprego do termo.
Fonte [2]Ilustração do livro “Curso de Linguística Geral”, de Ferdinand de Saussure
O primeiro deles, de número 7, assimila o conceito a fala, opondo-o a 
língua, evocando a célebre dicotomia saussureana. Evidentemente, discurso 
não se confunde com fala. Se Análise do Discurso equivalesse a análise da 
fala, no sentido que Saussure dá a esse termo, aquela não passaria de um 
dispositivo técnico de análise da materialidade dos sons. Isso porque, para 
Saussure, a fala é o mecanismo psicofísico de execução da língua. Em suma, 
conforme a 7ª definição de Houaiss para discurso, a Análise do Discurso 
seria o mesmo que análise fonética, o que absolutamente não bate com a 
realidade (os próprios foneticistas não se diriam praticando análise do 
discurso). 
10
Ferdinand de Saussure (1857-1913)
Na oitava definição, temos a consideração do discurso, mais uma vez, 
como objeto relacionado à fala. Ele é identificado como “maior do que a 
sentença”. Vale ainda dizer que esse sentido do dicionário, que inclusive dá 
como exemplo o nome de nossa disciplina, advém certamente do que é 
considerada a primeira utilização da expressão “análise do discurso”: 
“Discourse analysis” (em português “Análise do discurso” ou “Análise de 
discurso”) foi o título de um artigo do linguista norte-americano Zellig 
Sabbetai Harris, publicado no número 28 da revista Language, em 1952, 
traduzido para o francês e publicado no número 13 da revista francesa 
Langage, em 1969, apenas um ano após a fundação oficial da Análise do 
Discurso francesa. Visando aplicar a descrição sintática da frase ao texto, 
Harris considera discurso o conjunto articulado de sentenças. Assim, para 
Harris, do mesmo modo que, na frase, a análise sintática procede verificando 
as regras de articulação entre os elementos constituintes (nomes, verbos, 
preposições, artigos, etc.), a análise do discurso deveria proceder verificando 
as regras de articulação entre as frases em um texto. Desse modo, o discurso 
é definido como um conglomerado de frases articuladas e, portanto, como 
diz o dicionário, maior do que a sentença. De fato, o discurso como realidade 
empírica tem natureza diferente da sentença. Porém não em relação ao 
tamanho, mas à sua própria condição de existência. Enquanto que o discurso 
é uma realização concreta de uma interação entre sujeitos, a sentença é a 
realização de uma estrutura linguística. Nesse sentido, o discurso pode ser 
menor (ex.: “bom, eu... ”) ou maior (ex.: um romance), não sendo, portanto, 
o tamanho que os diferencia. Voltaremos mais adiante a essa questão. Para 
aprofundar essa discussão sugerimos o artigo “Zellig Harris: 50 anos depois”, 
de Carlos Alberto Faraco Zellig Harris: 50 anos depois [3], de Carlos Alberto 
Faraco.
Passemos à definição de número 10, para depois nos voltarmos para a 9. 
O sentido 10 aponta para um uso muito específico da palavra discurso: 
“discurso direto, discurso indireto, discurso indireto livre”. A rigor, trata-se 
de esquemas de reportação (Ação de trazer em um enunciado fragmento de 
um enunciado supostamente de outro. Deriva: “reportar” e “reportado”.) , de 
enunciados ou de recortes de enunciados. Ou seja, fórmulas usadas para o 
encaixamento de trechos da enunciação alheia. São fartamente conhecidos 
não apenas por ser procedimento comum na enunciação, mas também por 
serem muito trabalhados na escola. Embora seja um fenômeno 
importantíssimo para a AD, como veremos na aula 03, não é esse o sentido 
de discurso tomado pela AD, uma vez que será preferível tomar como 
discurso o enunciado reportador, não o reportado nem o esquema da 
reportação. Ainda mais se considerarmos que o “discurso” no discurso é 
sempre modificado de alguma maneira, nunca se conservando tal qual ele 
11
aconteceu, diferentemente do que a expressão “discurso direto” sugere. Em 
poucas palavras, podemos dizer que o discurso reportado não é de fato um 
discurso no sentido privilegiado pela AD.
Por fim, analisemos a definição 9: “enunciado oral ou escrito que supõe, 
numa situação de comunicação, um locutor e um interlocutor”. É a que mais 
se aproxima de um dos sentidos preferenciais de discurso que a AD se utiliza, 
ainda que incompleto. Ela é criticável nos seguintes aspectos:
ASPECTO 1
a) define discurso utilizando a palavra “enunciado”, sem definir a 
própria palavra “enunciado”;
ASPECTO 2
b) adota o conceito de “comunicação” de modo acrítico. Veremos que a 
AD manifesta reservas a esse conceito;
ASPECTO 3
c) na prática, é redutor falar-se apenas em “um locutor e um 
interlocutor”. A interlocução é sempremúltipla e sempre co-enunciativa. 
Ou seja, há sempre muitas “vozes”, muitos sujeitos “falando” em qualquer 
enunciado, ao mesmo tempo em que, na maioria das vezes, a enunciação 
sempre envolve mais de um enunciador, que co-enunciam junto com o 
enunciador.
C) PELA LINGUÍSTICA: DISCURSO = TEXTO
Nas últimas décadas, a Linguística tem se dedicado cada vez mais aos 
estudos da interação linguística. Trata-se de um grande avanço, porque, no 
início da disciplina, a proposta era o estudo das formas, funções e regras do 
sistema linguístico. A partir da proposta de Ferdinand de Saussure, os 
linguistas europeus e americanos de grande parte do século 20 tomaram 
como encargo sobretudo a descrição dos sistemas linguísticos analisando 
sua estrutura fonológica, morfológica e sintática, considerando apenas 
esses níveis passíveis de sistematização. Os sistemas linguísticos que 
possibilitam a comunicação eram estudados independente dos usuários e 
do contexto de uso, seguindo a máxima de Saussure que recomendava que 
a Linguística deveria ter “como único e verdadeiro objeto a língua em si 
mesma e por si mesma”. No entanto, aproximadamente a partir da metade 
do século vinte, influenciada por estudos de outras áreas das ciências 
humanas e da filosofia, essa proposta estruturalista vai gradativamente se 
abrir não apenas para a consideração do uso linguístico, mas também para 
a análise de unidades que não se restringem ao campo da sintaxe. Começa 
um interesse maior pela semântica (A <strong>semântica</strong> (do 
grego σημαντικός, derivado de sema, sinal) refere-se ao estudo do 
significado, em todos os sentidos do termo. A semântica opõe-se com 
frequência à sintaxe, caso em que a primeira se ocupa do que algo significa, 
enquanto a segunda se debruça sobre as estruturas ou padrões formais do 
modo como esse algo é expresso.) , pela pragmática
(<strong>Pragmática:</strong> Ramo da Linguística que se interessa 
pelas relações entre os signos e os usuários considerando a influência sobre 
12
aqueles do contexto situacional, da cultura dos falantes e das regras 
sociais.) , pela conversação, pela enunciação e pelo texto.
Fonte [4]
A Análise do Discurso, campo desde o início já interdisciplinar, que se 
desenvolve independentemente da Linguística, vai tanto receber influências 
como influenciar tais estudos. Não discutiremos no curto espaço desse curso 
essa influência mútua. Queremos apenas chamar atenção para o uso que 
muitos dos ramos pós-estruturalistas da Linguística têm feito da expressão 
“discurso” e de como esse uso se distancia do principal sentido de discurso 
trabalhado pela AD. Tanto a chamada Teoria da Enunciação (Teoria da 
Enunciação: Perspectiva, atribuída a Émile Benveniste, voltada para a 
análise dos mecanismos formais que possibilitam o uso da língua pelos 
sujeitos.) , quanto a Pragmática (Pragmática: Ramo da Linguística que se 
interessa pelas relações entre os signos e os usuários considerando a 
influência sobre aqueles do contexto situacional, da cultura dos falantes e 
das regras sociais.) , bem como a Análise da Conversação (Análise da 
Conversação: Ramo da Linguística que pretende descrever e analisar como 
as regras da fala são estrutural e socialmente (co)construídas no decorrer da 
interação face-à-face.) , foram muito influenciadas por uma concepção de 
discurso explicitada por Émile Benveniste , quando ele opõe enunciados 
ancorados na situação de enunciação (“discurso”) e enunciados recortados 
de sua situação de enunciação (“história” ou “narrativa”). Nos primeiros, 
próprios das situações de conversação, há a clara manifestação dos 
elementos de subjetividade seja dos agentes da enunciação (como “eu”, 
“mim”, “comigo” - e derivados: “tu”, “te”, “contigo” -, formas verbais 
correlativas, etc.), seja dos elementos temporais e espaciais que tomam por 
referência esses agentes partir da enunciação do “eu” (“agora”, “hoje”, 
“ontem”, “aqui”, “lá”, “acolá”, etc.). O não-discurso seria, para Benveniste, 
formado por aqueles enunciados em que tais marcas estão ausentes, como no 
caso dos textos científicos, narrativos, historiográficos, etc.
Embora esses estudos sejam preciosos para a AD, eles não contemplam 
o seu objeto em sua integridade, pois não dão conta nem da discursividade 
como um todo, que não se resume às trocas verbais situacionais, nem dão 
conta do sentido mais amplo do discurso, isto é, das ordens ou campos 
discursivos que são o contexto em que se dá qualquer tipo de troca verbal. 
No caso da Linguística Textual, que, por conta de reformulações 
recentes, tem sido chamada também de “Linguística de Texto”, a 
problemática do uso do conceito de discurso se dá de modo diferente. É 
interessante notar o caminho inverso que essa disciplina seguiu em relação 
ao daquelas elencadas acima. Isso porque ela parte da noção de texto (termo 
fortemente habitado pela ideia da escrita) para tentar extrapolá-la para os 
13
enunciados não-escritos. No entanto, há uma forte tendência entre os 
adeptos dessa disciplina em assimilarem a noção de texto a discurso, o que 
se dá em detrimento do sentido de discurso como instância mais ampla de 
produção simbólica, dentro da qual os textos adquirem sentido. A 
denominação “gênero textual” substituindo a de “gênero do discurso”, tal 
como propusera Bakhtin, é um exemplo dessa elisão da dimensão do 
discurso, inaceitável para a AD. 
Logo:
O fato de estarem combinadas as palavras “análise” e “discurso”, pela 
locução gramatical “do”, não implica que o sentido de “análise do 
discurso” seja igual à soma sintático-semântica de tais termos (“análise 
do discurso é uma disciplina que tem por objetivo analisar o objeto 
discurso”);
O sentido dos termos da expressão “análise do discurso” não pode ser 
compreendido sem a verificação do que na prática é a análise do discurso;
Assim, “análise”, “do” e “discurso”, têm seus sentidos “reciclados” pelo 
novo contexto pragmático que o simples uso combinado desses termos 
adquire em determinado momento histórico;
Em síntese, os conceitos expressos pelos termos em questão não são 
dados previamente, mas construídos por uma prática científica situada 
histórico e socialmente.
É preciso que se diga, aliás, antes de começar qualquer discussão, que a 
análise do discurso é dilacerada por uma grande variedade de perspectivas. 
Algumas vão até divergir quanto ao título da própria disciplina. Umas vão 
preferir análise DO discurso, outras análise DE discurso, outras análise DE
discursoS e outras ainda análise CRÍTICA DO discurso ou análise DO discurso 
CRÍTICA. O fato de termos analisado apenas a primeira denominação já 
indica nossa opção por uma dessas perspectivas. Mas mesmo aqueles que 
concordam com essa denominação se dividem em variadas linhas conforme 
alguns critérios. Devido à exiguidade de tempo, não exploraremos essa 
questão, limitando-nos a explicitar nossa concepção.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.ple.uem.br/geduem/img/pecheux.jpg
2. http://www.infoamerica.org/teoria_imagenes/saussure_a.gif
3. http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/letras/article/viewFile/2889/2371
4. http://www.arbredor.com/vmchk/cours-de-linguistique-generale
Responsável: Professor Nelson Barros da Costa
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
14
TÓPICO 03: DISCURSO: UMA PALAVRA, DOIS CONCEITOS
Agora vejamos o que é o discurso a partir da ótica da Análise do 
Discurso ou, pelo menos, do que seria a ótica da Análise do Discurso sob a 
nossa ótica. No discurso científico tradicional, é normal a preocupação com a 
univocidade dos termos técnicos. No entanto, em AD, podemos identificar 
pelo menos dois importantes conceitos de discurso. O primeiro está 
relacionado à noção deacontecimento e enunciado. Vejamos:
ACONTECIMENTO
Trata-se de um evento de interação simbólica.
ENUNCIADO
Algo dito (não necessariamente através da oralidade) por um sujeito 
concreto em um momento histórico concreto, em oposição ao conceito 
abstrato de frase. 
Conforme Maingueneau (2001), mais do que um objeto diferenciado, 
trata-se do resultado de um modo novo de conceber a linguagem. Por essa 
perspectiva, o discurso nunca se repete, porque são sempre diferentes as 
condições de sua produção. Assim, tomemos os enunciados “eu só quero é 
ser feliz” abaixo:
Fonte [1]
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
(...)
ANÁLISE DO DISCURSO
AULA 01: CARACTERIZAÇÃO INICIAL DA ANÁLISE DO DISCURSO
15
(“Rap da Felicidade”, Julinho Rasta/Kátia - veja o clip: 
http://www.youtube.com/watch?v=MXU4Ph9zZWQ [2]
Veja o leitor que, do ponto de vista gramatical, trata-se da mesma frase, 
pois em ambos os casos a estrutura é exatamente a mesma. No entanto, do 
ponto de vista discursivo, trata-se de dois enunciados ou discursos 
diferentes. O primeiro se encontra em um blog, encabeçando um texto que 
enquadra uma foto. A sua veiculação se deu através da Internet, de modo 
escrito. O ambiente em que ele está é colorido e as letras da expressão têm 
cor diferente do restante do texto. Ao passo que o outro, embora esteja 
apresentado por escrito aqui, tem veiculação oral, na forma melódica de uma 
canção, e encabeça uma estrofe que se repete várias vezes no que se costuma 
chamar de “refrão”. 
DÚVIDA
O aluno poderia questionar: os exemplos em questão não são 
adequados, pois não são enunciados autônomos, sendo na verdade parte 
de enunciados maiores. Porém, pode-se retrucar: existem realmente 
enunciados autônomos? É possível encontrar expressões que não sejam 
partes de um contexto, partes de enunciados maiores?
Se alguém pronunciasse essa expressão (“Eu só quero é ser feliz”) para 
um interlocutor certamente seria no contexto de uma conversa (um 
enunciado maior); dificilmente ele a diria isolada e, mesmo se dissesse, esse 
dizer seria em resposta a algo que ele ouviu, a alguém, por exemplo, que, 
anteriormente tivesse censurado suas atitudes egocêntricas. Mas mesmo se 
pensarmos em enunciados supostamente autônomos, aos quais 
reconhecêssemos uma autoria, como uma poesia, por exemplo, devemos nos 
perguntar se esse tipo de texto não está sempre inserido em um contexto 
enunciativo mais amplo (livro de poemas, livro didático, recital, etc.).
OBSERVAÇÃO
Desse modo, já temos uma boa característica do discurso: sua 
indissociabilidade do contexto. Qualquer enunciado é inseparável do 
contexto graças ao qual ele existe. Daí que, como todo contexto é único e 
irrepetível, os discursos nunca se repetem. O discurso é, portanto, um 
acontecimento e, enquanto tal, é sempre único e sempre histórico, no 
sentido de que é sempre marcado pelo contexto histórico. 
Nesse sentido, que temos chamado de específico, “discurso” é o 
mesmo que “enunciado” . O termo “texto” também pode ser usado com o 
mesmo sentido. Porém a palavra “texto” tende a ser empregada mais 
quando se trata de enunciados acabados, fixados e mais suscetíveis de 
circulação e armazenamento. Assim, dificilmente se fala em texto quando 
se trata de enunciados proferidos em uma conversação. Ao contrário, pode
-se chamar indiferentemente de discurso, enunciado ou texto exemplares 
de um poema, de um romance, de uma receita de bolo, de uma notícia de 
jornal, etc. Seja como for, tenhamos claro que tais conceitos têm em 
comum o fato de serem objetos empíricos da Análise do Discurso. Isto 
16
significa que é sobre estes objetos, que têm realidade material, concreta, 
que o analista se debruçará.
O fato de nunca se repetirem não impede que os discursos componham 
tipos. O caso do enunciado “Eu só quero é ser feliz”, que ocorre no segundo 
exemplo, podemos tanto relacioná-lo a outros que têm o mesmo modo de 
veiculação (como outras canções populares ou outros raps). Ou seja, os 
discursos se enquadram em gêneros, importante categoria tipológica da qual 
voltaremos a falar mais adiante. Por outro lado, podemos associar o 
enunciado em questão a outros tantos enunciados que tematizam a 
felicidade do indivíduo, como o que segue abaixo, também retirado de um 
blog:
Fonte [3]
Ou como esse que segue abaixo, na capa de um livro de auto-ajuda:
Fonte [4]
Ou ainda, como o que se vê nos dois panfletos abaixo:
17
Fonte [5]
Apesar da diferença em termos gramaticais, um analista do discurso não 
pode ignorar que os enunciados “Eu só quero ser feliz” (do blog e da canção), 
“Eu quero ser feliz” (do blog e do livro de auto-ajuda), “Você feliz da vida” e 
“A felicidade sempre chega quando menos se espera” (estes últimos, dos 
panfletos publicitários) fazem parte do que poderíamos chamar de discurso 
sobre (ou da) felicidade individual. Não pode ignorar também que o 
acontecimento desses enunciados pressupõe um momento histórico que 
propicia não só que eles ocorram da forma como ocorrem, mas também que 
eles possam falar na idéia de felicidade individual e mesmo na própria idéia 
de indivíduo, algo certamente indizível na Idade Média, uma vez que nesse 
estágio da Humanidade conceitos como os de indivíduo, de felicidade 
individual, pelo menos tal como concebemos hoje, mereciam quase nenhuma 
importância.
OLHANDO DE PERTO
Em suma, o analista deve tanto investigar como determinado 
enunciado muda de sentido conforme o contexto apesar de conservar a 
estrutura (polissemia), quanto compreender como o sentido pode 
permanecer apesar da variação da estrutura em diferentes contextos 
(paráfrase).
Porém o que queremos que você perceba é que já estamos trabalhando 
com outro sentido de discurso. Quando remetemos diversos discursos (no 
sentido específico) a uma instância anônima que, digamos assim, os 
“dispersa” em diferentes gêneros e na “boca” de diferentes enunciadores, 
estamos propondo que cada um desses discursos é manifestação material de 
um DISCURSO, ou do que Michel Foucault chamou de formação discursiva. 
Este sentido “ampliado” de discurso não é estranho ao senso comum. Ele 
aparece quando falamos em “discurso político” ou “discurso religioso”. 
Porém é mais comum pensarmos nesse sentido ligado a um sistema 
institucional que produziria um tipo determinado de discurso. É o que se dá 
quando falamos de “discurso religioso”, por exemplo. Pressupõe-se, quando 
se utiliza essa expressão, que uma dada instituição (a Igreja Católica, a Igreja 
18
Evangélica, etc.) gera a partir de um centro uma série indefinida de discursos 
que iremos qualificar genérica (discurso religioso) ou especificamente 
(discurso católico). No entanto, embora reconheça a existência e o papel 
dessas instâncias, a AD pensa o discurso como uma dispersão. Isso significa 
que o DISCURSO não se concentra em um lugar ou lugares específicos na 
sociedade, produzindo a partir daí seus efeitos sob seu controle. Também 
esse sentido de dispersão está em certo uso comum da palavra: quando, na 
linguagem cotidiana, falamos em “discurso machista” ou “racista”, por 
exemplo, não pensamos em uma instância tal como pensamos quando 
falamos em “discurso religioso”. Assim, o “discurso racista” pode estar 
presente na novela, na conversação familiar, no parlamento, na escola, em 
qualquer lugar. Mas a AD não deve se contentar com essas imagens de 
discurso do senso comum (sejam ligadas a uma instância central (político, 
pedagógico, etc,), sejam ligadas a um tipo de ideologia abstrata (conservador, 
nacionalista, etc.)), mas vai examinarcomo os discursos se constroem (se 
materializam) se atualizando historicamente, interagindo e influenciando-se 
reciprocamente, e, sobretudo, mediando as relações inter-humanas e 
condicionando a visão que temos do mundo.
Fonte [6]MICHEL FOUCAULT - (1926 — 1984) - FILÓSOFO E PROFESSOR DO COLLÈGE DE FRANCE. 
EXERCEU GRANDE INFLUÊNCIA SOBRE A ANÁLISE DO DISCURSO.
RESUMO: DOIS SENTIDOS DA PALAVRA DISCURSO
FÓRUM 02
Em que sentido utilizamos a palavra discurso no cotidiano? Em que 
esses sentidos se aproximam e se distanciam do uso em Análise do 
Discurso? 
FONTES DAS IMAGENS
1. http://srtawill.blogspot.com/2008_08_05_archive.html
2. http://www.youtube.com/watch?v=MXU4Ph9zZWQ
3. http://www.angelamoura.hpg.ig.com.br/mensagem/eu_quero_ser_feliz.
htm
19
4. http://www.marisacajado.com/capa%20eu%20quero%20ser%20feliz%
20livro.jpg
5. http://3.bp.blogspot.com/_2PbB4SG2L-
4/Rpj0CTD3njI/AAAAAAAAAIw/BUXM-lHj_qs/s1600-
h/ODONTOCARD_FELICIDADE_PANFLETO+verso.jpg
6. http://www.skjstudio.com/franck/images/Foucault.jpg
Responsável: Professor Nelson Barros da Costa
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
20
TÓPICO 01: CONTEXTO: UMA PALAVRA, MÚLTIPLOS SENTIDOS
Se consultarmos o livro Termos-chave da Análise do Discurso 
(MAINGUENEAU, 2000), veremos que seu primeiro verbete, que trata 
justamente da Análise do Discurso, assim a define:
Disciplina que, em vez de proceder a uma análise linguística do texto em si ou a 
análise sociológica ou psicológica de seu 'contexto', visa a articular sua 
enunciação sobre um certo lugar social. Ela está, portanto, em relação com os 
gêneros de discurso trabalhados nos setores do espaço social (um café, uma 
escola, uma loja...) ou nos campos discursivos (político, científico...) 
(p. 13, grifos do autor)
Observemos que, conforme a definição, tem-se a preocupação em definir 
a AD como uma disciplina que objetiva estudar a relação entre texto e 
contexto, este referido pelas expressões “lugar social”, “espaço social” e 
“campos discursivos”. Ela não abre mão de ter como objeto a matéria verbal, 
uma vez que se debruça primordialmente sobre enunciados ou textos, o que 
a situa institucionalmente no campo da Linguística; mas também se recusa 
em situar-se apenas no nível puramente linguístico-textual, o que, de certo 
modo, a distancia de tal campo.
Os 3 sentidos elencados por Maingueneau são apenas alguns dos 
sentidos da palavra “contexto”. Uma aula proferida por um professor, por 
exemplo, tem necessariamente múltiplos contextos: este pode ser a sala de 
aula enquanto espaço físico (as paredes, o quadro, os móveis, os aparelhos 
elétricos, a porta, etc.), a sala de aula enquanto lugar social (o professor, os 
alunos, um eventual estagiário ou ouvinte), a instituição (pode tratar-se de 
uma escola de 1º ou 2º grau, pública ou privada, de uma universidade 
pública ou privada, de um curso de graduação ou pós-graduação), o campo 
discursivo (o chamado “discurso pedagógico”), o contexto da nacionalidade 
(trata-se de uma instituição brasileira, a língua usada é o português, os 
assuntos são pertinentes à sociedade e à cultura brasileira), a conjuntura 
sócio-histórica (dá-se em um momento de economia liberal, onde o Brasil é 
governado por uma presidente de um partido de esquerda em uma economia 
mundial em estágio avançado de globalização); etc.
Pode-se pensar, ainda, num contexto menos óbvio, que é o chamado 
contexto ideológico: se pensarmos que uma aula só se dá porque em nossa 
sociedade se acredita que existe algo chamado de “conhecimento” ou 
“saber” que tem um valor e que precisa ser disseminado por aqueles que o 
detêm entre aqueles que não o detêm; se admitirmos que, desde crianças, 
em nossa sociedade, somos convencidos a ir pra escola sob a promessa de 
que o saber que lá vamos adquirir nos servirá pelo resto da vida e que sem 
ele estaremos “perdidos”, incapazes de “sobreviver” na “civilização”, ou 
ANÁLISE DODISCURSO
AULA 02: CONTEXTO E DISCURSO
21
que não conseguiremos obter a “cidadania” e seremos como cegos por falta 
da “luz” dos números, das letras e dos “conhecimentos gerais”, e que sem 
isso não haveria aulas, temos que levar em consideração que este evento 
discursivo é tornado possível em um contexto ideológico. 
Outra dimensão contextual pouco óbvia, mas nem por isso menos 
importante, é a dimensão interdiscursiva. Uma aula é um discurso que se 
relaciona com outros discursos. Não apenas porque uma aula dada por um 
professor pressupõe uma orientação para um público ouvinte concreto, 
que são os alunos; mas também porque é preciso sempre pensar que uma 
aula nunca é um evento isolado: a ela se seguiu uma aula e a ela se 
seguirão outras. Pode-se pensar na aula como um exemplar de uma 
linhagem histórica de eventos discursivos semelhantes que vieram se 
transformando no tempo até se aproximar do modelo atual. Por outro 
lado, o que se chama aula é uma enunciação derivada de outras, talvez de 
um antigo modelo de diálogo familiar, onde um único interlocutor de um 
grupo tinha o poder de fala e de distribuição da fala, seja para permiti-la, 
seja para exigi-la. Podemos pensar ainda que o que o professor fala em sala 
de aula se apoia e adquire legitimidade a partir de um outro discurso, o 
discurso científico. É ele que, na nossa sociedade, produz enunciados com 
poder de crença suficiente para dar suporte ao discurso pedagógico, que o 
comenta e o retextualiza para disseminá-lo na instituição escolar se 
nutrindo de seu prestígio e o reforçando. 
PARADA OBRIGATÓRIA
Por fim, nessa questão do contexto interdiscursivo, vale à pena 
mencionar o fato de que é comum o professor em sua aula trazer a 
manifestação de outros discursos. Por exemplo, se se trata de uma aula de 
literatura, certamente irão ser convocados textos literários o mais 
diversos, bem como textos de críticos literários e de biógrafos.
Merece destaque também, pelo pouco que tem sido levado em conta na 
história da própria Análise do Discurso, o que podemos chamar de contexto 
posicional ou posicionamento. Conforme Maingueneau, 
O posicionamento corresponde à posição que um locutor ocupa em um campo 
de discussão, os valores que ele defende (consciente ou inconscientemente) e que 
caracterizam reciprocamente sua identidade social e ideológica. Esses valores 
podem ser organizados em sistemas de pensamento (doutrinas) ou podem ser 
simplesmente organizados em normas de comportamento social que são mais 
ou menos conscientemente adotadas pelos sujeitos sociais e que os caracterizam 
identitariamente. Pode-se falar, portanto, em posicionamento também para o 
discurso político, midiático, escolar... p.392)
Também a teoria literária já há muito tempo trabalha com a ideia de 
posicionamento. Mas trata-se de um conceito que pode, assim como os de 
gênero e ethos (cf. mais adiante), ser expandido para o conjunto da 
discursividade. Embora os posicionamentos sejam mais claramente 
22
observáveis em discursos estritamente institucionais como a Literatura, a 
Ciência e a Religião, também nos discursos não institucionais como a Mídia e 
a Pedagogia eles existem. Para prosseguir no caso anteriormente tratado, o 
da sala de aula, perceba-se que há diferentes posicionamentos em relação a 
que tipo de aula um professor deve dar. Há aqueles que pensam que uma 
aula deve ser não diretiva, com grande liberdade na relação entre os alunos e 
entre professor e alunos. Mas há também aqueles que julgam que uma 
tradição pedagógica deve ser mantida: o professor deve impor sua “moral” 
diante dos alunos, que devem se comportar de acordo com regras rigorosas. 
Cada um desses posicionamentos deve implicar até mesmo um ordenamento 
dos móveis dasala de aula e a posição física dos alunos de modos 
diferenciados.
Fonte [1] Fonte [2]
OLHANDO DE PERTO
Como dar conta dessa dimensão contextual assim tão ampla e 
múltipla? É impossível dar conta do discurso em todas essas dimensões de 
uma só vez. Por isso, o analista do discurso é forçado a fazer recortes e, ao 
mesmo tempo, admitir a existência e indissociabilidade entre o discurso e 
todas essas dimensões contextuais. Em princípio, não há razão para 
quaisquer uma delas ser privilegiada ou negligenciada. O que vem 
acontecendo é que uns focalizam os aspectos mais imediatos e outros os 
mais mediatos. Pode ser desconcertante uma perspectiva científica admitir 
que, por mais abrangente que será seu trabalho analítico, ela irá 
forçosamente deixar na sombra uma boa gama de aspectos. No entanto, é 
melhor assim do que se propor ilusoriamente uma totalidade inalcançável 
ou pretender que a dimensão explorada dispensa as outras, 
negligenciando sua importância e jogando-as para debaixo do tapete da 
ciência.
Este curso consistirá em introduzir questões relativas à articulação da 
materialidade linguística em relação com algumas dessas dimensões 
contextuais, deixando ao leitor a questão de quais recortes fazer. Apesar de 
estarem imbricadas, propomos separá-las do seguinte modo:
Contexto físico (ambiente, midium e suporte)
Situação social (papéis sociais dos interlocutores)
Contexto institucional
23
Comunidade discursiva
Formação/ordem discursiva
Posicionamento
Formação ideológica
Contexto histórico
Contexto interdiscursivo
FONTES DAS IMAGENS
1. http://jarbacunha.files.wordpress.com/2008/06/nossa-sala-de-aula.jpg
2. http://1.bp.blogspot.com/-
nhsYvl5sqXs/Tck6piILSEI/AAAAAAAABd8/R9s3FHhNOKQ/s320/sala-de-
aula_.jpg
Responsável: Professor Nelson Barros da Costa
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
24
TÓPICO 02: MATERIALIDADE LINGUÍSTICA E CONTEXTO
OS GÊNEROS DO DISCURSO
Na interface linguística do discurso, temos que atentar que um 
enunciado, se considerado do ponto de vista do acontecimento de que ele 
consiste, se materializa de diferentes formas conforme o contexto discursivo. 
Um dos aspectos mais importantes dessa materialidade, que foi evidenciado 
pelo pensador russo Mikhail Bakhtin, é o dos gêneros do discurso. Dimensão 
desde sempre negligenciada em função da priorização histórica de uma ou 
outra família de gêneros (Teoria Literária, Retórica ou Gramática Descritiva) 
ou da sequer colocação dessa realidade na reflexão sobre a língua 
(Gerativismo), ela é ressaltada pelo autor russo, que a resgata do domínio 
estrito da arte e do lugar secundário a ele relegado pelas perspectivas 
formalistas, para expandi-la ao todo das relações sociais, vinculando-a às 
situações interativas das múltiplas esferas da comunicação social (da 
discursividade espontânea do cotidiano àquela dos sistemas complexos da 
ciência, da arte, da filosofia, etc.). 
A retórica é a técnica ou arte de convencer o interlocutor através da 
oratória, ou outros meios de comunicação. Classicamente, o discurso no 
qual se aplica a retórica é verbal, mas há também — e com muita 
relevância — o discurso escrito e o discurso visual. Em verdade, a 
oratória é um dos meios pelos quais se manifesta a retórica, mas não o 
único. Pois, certamente, pode-se afirmar que há retórica na música 
("Para não dizer que não falei da Flores", de Geraldo Vandré: retórica 
musical contra a ditadura), na pintura (O quadro "Guernica", de 
Picasso: retórica contra o fascismo e a guerra) e, obviamente, na 
publicidade. Logo, a retórica, enquanto método de persuasão, pode se 
manifestar por todo e qualquer meio de comunicação. A retórica 
aristotélica, de certa forma herdeira daquela de Sócrates, procura fazer 
o interlocutor convencer-se de que o emissor está correcto, através de 
seu próprio raciocínio. Retórica não visa distinguir o que é verdadeiro 
ou certo mas sim fazer com que o próprio receptor da mensagem 
chegue sozinho à conclusão de que a ideia implícita no discurso 
representa o verdadeiro ou o certo. A retórica era parte de uma das "três 
artes liberais" ou "trivium" ensinadas nas faculdades da Idade Média 
(as outras duas corresponderiam à dialética e gramática).
(adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ret%C3%B3rica [1]
A GRAMÁTICA DESCRITIVA é uma gramática que se propõe a 
descrever as regras de como uma língua é realmente falada, a despeito 
do que a gramática normativa prescreve como "correto". É a gramática 
que norteia o trabalho dos lingüistas que pretendem descrever a língua 
tal como é falada. As gramáticas descritivas estão ligadas a uma 
determinada comunidade linguística e reúnem as formas gramaticais 
ANÁLISE DODISCURSO
AULA 02: CONTEXTO E DISCURSO
25
aceitas por estas comunidades. Como a língua sofre mudanças, muito 
do que é prescrito na gramática normativa já não é mais usado pelos 
falantes de uma língua. A gramática descritiva não tem o objetivo de 
apontar erros, mas sim identificar todas as formas de expressão 
existentes e verificar quando e por quem são produzidas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gram%C3%A1tica_descritiva [2]
Conforme Bakhtin (1997), os gêneros são tipos de enunciados 
relativamente estáveis sempre relacionados a uma esfera de atividade 
humana. Quanto mais complexa for uma sociedade, mais diversificada será 
essa esfera e, consequentemente, maior a profusão de gêneros em uso, de 
modo que o estudo dos gêneros utilizados muito pode nos dizer sobre o 
funcionamento de uma sociedade em seus aspectos econômico, cultural e 
intelectual. Essa estreita imbricação com as relações sociais dá ao gênero 
uma natureza histórica, uma vez que qualquer mudança nessas relações 
conduzirá a uma modificação dos gêneros a elas articulados. Daí a relativa 
estabilidade dos gêneros que é também, por dedução lógica, uma relativa 
instabilidade. Instabilidade que faz também com que os gêneros reflitam de 
modo sensível as mínimas mudanças na formação social. 
VERSÃO TEXTUAL
Para Bakhtin, os gêneros remetem a conjuntos de enunciados que, 
vinculados estreitamente a uma atividade social, têm em comum uma 
construção composicional, um estilo e um conteúdo temático. Noutras 
palavras, gênero são artefatos a um só tempo formais e conteudísticos, 
assumindo sempre uma feição própria capaz de ser projetada e 
identificada cognitivamente pelos usuários. Essas características 
praticamente tornam possível a comunicação, pois seria 
tremendamente oneroso termos de, a cada situação comunicativa, 
inventar dispositivos comunicacionais novos. 
Vejamos cada um desses componentes, só separáveis para efeito 
didático:
Conteúdo
Construção composicional
Estilo
DOS CONTEÚDOS:
Os conteúdos são o objeto dizível através do gênero.
CLIQUE AQUI PARA VER O CASO DA RECEITA
26
Fonte [4]
Dizemos DIZÍVEL porque, em princípio, o gênero não se confunde com o 
enunciado concreto, já que se trata de uma classe de enunciados. Sendo 
assim, podemos afirmar que o conteúdo de um gênero é um campo de 
possibilidades ou de preferências. O gênero receita culinária, por exemplo, 
tem como conteúdo preferencial a elaboração de pratos e secundariamente a 
preparação de bebidas. Raramente esse conteúdo será diferente. No entanto, 
veja o exemplo abaixo, retirado do endereço Receitas de produtos de limpeza 
ecológicos [5]:
CLIQUE AQUI
O exemplo mostra que o conteúdo temático de um gênero como 
receita pode ter uma certa variabilidade, podendo chegar às raias da 
metáfora, como quando usamos ou ouvimos/lemos expressões do tipo: 
“receita para segurar marido” ou “receita da felicidade”. 
27
Mas essa variabilidade depende do tipo de gênero.Há gêneros 
extremamente abertos a uma variedade enorme de conteúdos. Os gêneros 
literários, por exemplo, podem, em princípio, tratar de qualquer assunto. No 
caso desses gêneros, outras variáveis como o posicionamento do autor, 
conceito que comentamos na aula 01, vão determinar que assuntos serão 
preferenciais. Por outro lado, há outros que praticamente só admitem um 
tipo de conteúdo, como a lista telefônica, o mandato de busca e apreensão, o 
boletim meteorológico e a bula de remédio. Esses gêneros são tão ligados a 
seus conteúdos que têm sua denominação inseparável dos mesmos.
VERSÃO TEXTUAL
Aliás, essa relação do gênero com o conteúdo põe problemas 
importantes para sua caracterização. Por exemplo: as cartas de amor 
formam um gênero à parte? Ou a carta íntima é um gênero aberto, 
podendo eventualmente tratar de amor? Tomando um dos casos 
citados acima: a lista telefônica é um gênero à parte, ou a lista é um 
gênero e a lista telefônica é apenas um dos usos desse gênero?
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
As configurações de determinadas partes de um texto, bem como a 
presença de determinadas estruturas sintático-textuais (também chamadas 
“sequências discursivas” ou “tipos de discurso”), podem aparecer em muitos 
outros. Essa recorrência, conjuntamente com outros aspectos abordados 
aqui, contribuem para que consideremos que esses textos são espécies de um 
mesmo gênero. A receita de produtos de limpeza ecológicos que vimos acima 
será identificada como uma receita (mesmo se não contivesse o nome 
“receita”) apesar do conteúdo um tanto discrepante das expectativas que 
temos quanto ao conteúdo de uma receita, devido justamente a sua 
construção composicional, qual seja, a enumeração de elementos 
(ingredientes) dispostos em frases nominais encabeçadas sempre por um 
numeral (quantidade). Muitas vezes essas frases são constituídas por uma 
medida em forma de metonímia (X colher(es) de Y, X xícara(s) de Y, etc.). 
Após essa lista, segue-se um texto, muitas vezes “corrido”, com estruturas 
frasais compostas quase sempre por verbos no imperativo ou no infinitivo. 
Não há descrições extensas ou argumentações. O texto estabelece uma 
sequência de ações bem precisas que se desenrolam temporalmente no mais 
das vezes repletas de referências aos elementos listados antes e à suposta 
realidade resultante da ação do leitor. O aluno deve ter notado, nesta rápida 
descrição dos aspectos composicionais do gênero receita a presença de 
expressões como “muitas vezes”, “quase sempre” e “no mais das vezes”. O 
uso dessas expressões torna-se forçoso justamente devido à relativa 
estabilidade do gênero que, decorrente de seu caráter histórico, lhe 
proporciona uma plasticidade que torna inevitável uma descrição 
aproximativa.
São estruturas responsáveis pela organização interna do enunciado 
seja ele oral ou escrito. A tipologia de sequências discursivas mais 
comum é a que as classifica como narrativas, descritivas, 
28
argumentativas, injuntivas e conversacionais. Dificilmente aparecem 
sozinhas em um enunciado. Assim, um mesmo enunciado geralmente 
estrutura-se com base em uma ou mais de uma sequência discursiva. 
Entretanto, geralmente, uma delas é predominante.
Metonímia é a substituição de um nome por outro devido haver 
entre eles alguma relação de sentido. As relações mais comuns são 
causa/efeito (“o álcool foi a sua desgraça”, parte/todo (“um rebanho de 
12 cabeças de gado”), continente/conteúdo (“pediu o prato mais caro”), 
instrumento/finalidade (“ele é um bom garfo”), etc. No caso das 
receitas, por exemplo, quando se fala numa receita culinária em “colher 
de sopa” a relação se dá entre o objeto e seu tamanho ou sua 
capacidade.
ATIVIDADE DE PORTFÓLIO
Sugerimos que você imagine que tem um blog destinado a publicar 
receitas de comidas populares pouco conhecidas. Escreva um e-mail a 
alguém que não conhece o gênero receita culinária, mas que sabe cozinhar 
muito bem uma comida que você provou e gostou muito, explicando como 
elaborar uma receita a ser publicada no blog.
DO ESTILO
Do exposto, conclui-se que os gêneros não são moldes previamente 
acabados conforme os quais os falantes viriam modelar seus enunciados. Ao 
contrário, os gêneros são estreitamente ligados à enunciação concreta e, 
enquanto tal, sujeitos a se adaptar ao uso dos falantes. Podemos mesmo 
dizer que este é justamente o fator que dá a relativa es(ins)tabilidade ao 
gênero. As marcas singulares que os falantes dão ao gênero é o que se chama 
ESTILO. Há gêneros extremamente dóceis às singularidades de seus 
usuários. É o caso dos gêneros literários. Não seria exagero afirmar que se 
trata de gêneros concebidos especialmente para pôr em relevo a 
singularidade de seu usuário, o que não significa dizer que estejam 
totalmente infensos aos constrangimentos institucionais, sociais, históricos, 
etc. Outros gêneros são assaz resistentes à manifestação da individualidade 
dos usuários. Os gêneros usados na burocracia (ofícios, requerimentos, 
declarações, etc.) e em muitas outras situações de trabalho como nos 
hospitais (prontuário, laudo médico, etc.) e no comércio (balancete, nota 
fiscal, etc.) são bons exemplos.
CLIQUE AQUI, LEIA A RECEITA E IDENTIFIQUE ELEMENTOS ESTILÍSTICOS
BOLO LUIZ FELIPE DA BELA
3 xícaras de açúcar
1 vidro pequeno de leite de coco e a mesma medida de leite de 
vaca
4 ovos inteiros
29
5 colheres de sopa de queijo parmesão (aquele que vc compra de 
saquinho mesmo)
5 colheres de sopa de farinha
1 colher de sopa de manteiga
Bata tudo no liquidificador. Unte uma forma de furo no meio 
generosamente com manteiga e farinha de trigo. Bote pra assar em 
fogo forte e deixe esfriar com a porta do forno entreaberta.
ps: Eu deletei a calda (por motivos preguiçoides & calóricos) e não 
senti falta. A não ser que vc seja mais doceira do que eu muuuuito. 
Faça um café. 
Coma um pedaço.
Agora responda: Não dá uma felicidade imediata?
Fonte do texto: Bela Caleidoscópica [7]
A descrição dos diversos gêneros textuais tem-se constituído em um 
ramo à parte dos estudos do discurso e da Linguística Textual. Para a Análise 
do Discurso, no entanto, a realidade genérica é apenas uma das dimensões 
da materialidade discursiva: uma descrição em si e por si mesma dessa 
realidade é insatisfatória. Para a AD, é necessário pensar nas implicações do 
que Maingueneau chama de “investimento genérico” e “cena genérica” 
pensados no âmbito de uma prática discursiva, conceitos que abordaremos 
mais adiante.
FÓRUM 03
O que são os gêneros do discurso? Qual a importância dos gêneros do 
discurso na nossa vida cotidiana?
FONTES DAS IMAGENS
1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ret%C3%B3rica
2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Gram%C3%A1tica_descritiva
3. http://www.adobe.com/go/getflashplayer
4. http://tudogostoso.uol.com.br/receita/1075-coquetel-de-frutas-sem-
alcool.html
5. http://www.ipemabrasil.org.br/receita.htm
6. http://www.adobe.com/go/getflashplayer
7. http://belacaleidoscopica.blogspot.com/2006/10/luiz-felipe-o-bolo.html
Responsável: Professor Nelson Barros da Costa
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
30
TÓPICO 03: O ETHOS
Observe a figura abaixo:
Trata-se evidentemente da figura de um macaco. No entanto, não é 
apenas isso. Trata-se da imagem de um macaco professor. Dizemos isso não 
apenas porque há um giz em sua mão e por trás dele um quadro verde 
escrito. Se esse macaco estivesse sem roupa, curvado, pulando e brincando 
com o giz, não o identificaríamos com um professor. O que acontece é que 
identificamos nesse macaco uma postura professoral, caracterizada não 
apenas por sua roupa, mas pela forma de segurar o giz, de olhar para frente,de empostar o tronco, de colocar a mão no bolso. Reconhecemos essa 
postura pelo fato de termos tido em nossa experiência discursiva contato 
direto ou indireto com indivíduos que assumiram essa postura nas instâncias 
pedagógicas da nossa sociedade. Toda sociedade constrói um repertório de 
posturas como essa que aprendemos formal ou informalmente e que fica 
armazenado na memória coletiva. Um habitante de uma sociedade em que 
não existe a figura do professor certamente não reconhecerá no macaco a 
postura professoral, identificando, no máximo, o aspecto humano de sua 
postura devido a suas roupas e o fato de estar de pé.
Trata-se do fenômeno do ETHOS, que desde a antiguidade já começa a 
ser estudado. Já então se percebe a estreita ligação com a postura corporal e 
a linguagem verbal. O ethos era, para Aristóteles, a imagem que um orador 
deveria mostrar juntamente com o conteúdo de suas palavras. Ao dizer 
palavras que se pretendam sinceras, não basta ao orador dizer expressões 
como “nunca fui tão sincero em toda minha vida” ou “falando sinceramente”, 
etc. Ele deve sobretudo se mostrar sincero. Maingueneau (1989), que 
atualiza o conceito aristotélico, considera o ethos um importante aspecto da 
materialidade linguística. O autor ressalta que, sendo todo texto uma 
“enunciação estendida a um co-enunciador”, ele implica uma VOCALIDADE
de base, um TOM de uma voz que atesta o que é dito, o ethos. Assim como na 
oratória é necessário não apenas dizer-se, mas também e principalmente 
MOSTRAR-SE não só com o tom da voz, mas também com gestos, jeitos de 
corpo, modo de vestir, todo enunciado se apresenta necessariamente como 
vinculado a uma corporalidade que lhe confere legitimidade. Qualquer texto, 
para ser consistente, precisa constituir-se como corpo: um jeito (do texto, do 
ANÁLISE DODISCURSO
AULA 02: CONTEXTO E DISCURSO
31
autor, das vozes citadas, dos elementos referidos ou personagens) de habitar 
os espaços sociais. 
Tal representação, por sua vez, baseia-se no imaginário social de um 
lugar e de uma época acerca do corpo. Assim, por exemplo, um texto 
religioso está, no mais das vezes, associado um tom profético e de 
autoridade, com suas maneiras características de dizer e de gesticular. 
Igualmente, as receitas culinárias estão muitas vezes associadas a um ethos 
de sabedoria e domínio de uma técnica artesanal, de um saber ancestral 
acerca do sabor, do cozimento e da mistura dos alimentos, etc., onde a 
certeza da eficácia prevalece e origina um tom de segurança com que as 
instruções são transmitidas; e assim por diante.
OLHANDO DE PERTO
É preciso lembrar que o ethos é uma categoria social. Ele não se 
confunde com o estilo, pois não diz respeito a uma individualidade, mas ao 
que Dominique Maingueneau (2008) denomina de MUNDO ÉTICO. Nesse 
sentido ele não se confunde com o estilo, dado que não se refere a uma 
imagem singular de um indivíduo, mas se relaciona a uma maneira social 
de ser: 
... o ethos implica uma maneira de se mover no espaço social, uma disciplina 
tácita do corpo apreendida através de um comportamento. O destinatário a 
identifica apoiando-se num conjunto difuso de representações sociais 
avaliadas positiva ou negativamente, em estereótipos que a enunciação 
contribui para confrontar ou transformar: o velho sábio, o jovem executivo 
dinâmico, a mocinha romântica…(p. 18)
OBSERVAÇÃO
Cabe observar ainda que o fenômeno do ethos suscita, conforme 
Maingueneau (1995), a dimensão ANALÓGICA da comunicação, como 
aquela dimensão da enunciação em que, ao se dizer algo, imita-se esse 
algo no movimento mesmo da enunciação. Ao dizermos algo gentil, o 
dizemos gentilmente e os discursos mais elaborados não fazem senão 
efetuar um processo semelhante em nível muito mais complexo.
Para entender melhor o ethos é mister comparar dois textos sobre um 
mesmo tema e identificar como os autores, através da escrita, tentam 
simular de diferentes modos o corpo falante baseando-se em um esquema 
ético (gestualidade, tom de voz, postura corporal, etc.): 
TEXTO 01: O QUE É A FÉ
FÉ SIGNIFICA ... 
Agora observe: a fé é o firme fundamento – a certeza – das coisas que 
se esperam (Hb 11:1). Portanto, a fé vem primeiro, antes de possuirmos o 
que desejamos.
32
Uma vez que tenha recebido e tomado posse do que deseja, você não 
mais tem esperança de recebê-lo. Entretanto, mesmo antes de receber, 
você já o tem em essência; e esta essência, que é substância – a certeza de 
que você chegará a possuí-lo – chama-se FÉ!
Então, repetindo, fé é a evidência ou a prova – "a prova das coisas que 
se não vêem". A fé antecede o recebimento tangível daquilo que se pede. E 
fé é a prova – a evidência – de que você o possuirá, antes mesmo que o 
veja! É a prova de coisas ainda não vistas. Você não possui, não vê, não 
sente – contudo a fé é para você a evidência dele e a prova de que você 
receberá o que pediu. E qual é esta prova – esta evidência? Será o 
recebimento específico da resposta, quando você vê, ouve ou sente que 
recebeu? Não!
O que vemos, o que sentimos, não é uma evidência verdadeira. Possuir 
a coisa pedida, vê-la, não é fé. A fé precede a posse, porque FÉ significa 
confiança – certeza de que possuiremos o que pedimos.
A mente humana, naturalmente, pode receber conhecimento somente 
por meio dos cinco sentidos. Estes são os únicos canais capazes de 
transmitir conhecimento à mente humana por processos naturais, a saber: 
a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato.
Mas isso não é fé. Fé é um assunto espiritual, e nada tem a ver com os 
cinco sentidos, que são físicos.
A oração é assunto espiritual. Deus é espírito! E quando Lhe pedimos, 
por exemplo, a cura, temos efetivamente a evidência de que as nossas 
orações foram ouvidas e de que Deus as responderá da maneira que haverá 
de ser a melhor para nós – mas essa evidência não é algo que se pode ver, 
sentir ou ouvir – não é uma evidência física – mas antes um testemunho 
espiritual de FÉ. Fé é a nossa evidência.
Certo homem se expressou muito bem neste sentido: "Fé é a certeza
de que as coisas que Deus disse em sua Palavra são verdadeiras: e que 
Deus agirá conforme ao que disse em sua Palavra. Esta certeza, esta 
dependência da Palavra de Deus, esta confiança, é fé!" E esta é uma 
definição bíblica verdadeira. Esta obra de Deus tem sido edificada pela 
prática da fé!
http://www.ofundobiblico.org/?page_id=74 [1]
NDOP.: TRECHOS DESTACADOS PELO AUTOR.
TEXTO 02: A FÉ
Fé (do Latim fides, fidelidade e do Grego pistia) é a firme opinião de 
que algo é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de 
verificação, pela absoluta confiança que depositamos nesta idéia ou fonte 
de transmissão. A fé acompanha absoluta abstinência à dúvida pelo 
antagonismo inerente à natureza destes fenômenos psicológicos e lógica 
conceitual. Ou seja, é impossível duvidar e ter fé ao mesmo tempo. A 
expressão se relaciona semanticamente com os verbos crer, acreditar, 
confiar e apostar, embora estes três últimos não necessariamente 
33
exprimam o sentimento de fé, posto que podem embutir dúvida parcial 
como reconhecimento de um possível engano. A relação da fé com os 
outros verbos, consiste em nutrir um sentimento de afeição, ou até mesmo 
amor, por uma hipótese a qual se acredita, ou confia, ou aposta ser 
verdade.[2] Portanto se uma pessoa acredita, confia ou aposta em algo, não 
significa necessariamente que ela tenha fé. Diante dessas considerações, 
embora não se observe oposição entre crença e racionalidade, como muitos 
parecem pensar, deve-se atentar para o fato de que tal oposição é real no 
caso da fé, principalmente no que diz respeito às suas implicações no 
processo

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