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2 Autoria mediata nos aparatos organizados de poder

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Autoria mediata nos aparatos organizados de poder (Claus Roxin). 
Na década de 60, Claus Roxin fixou as bases teóricas de uma nova espécie de autoria mediata (além das formas já existentes – coação, obediência, erro), que denominou de “autoria mediata por domínio da vontade em aparatos de poder organizados”. Para Roxin, o conceito de domínio do fato é aberto, que deve se adaptar aos casos concretos em que se discute a determinação da autoria do crime. Por isso, não há só um domínio do fato, como preconizou Welzel, há três: 
Domínio da ação típica (no caso de autoria individual direta)
Domínio funcional, com divisão de tarefas (no caso de coautoria)
Domínio da vontade de terceiro (no caso de autoria individual indireta ou mediata). 
O domínio da organização que, para Roxin, manifesta-se por meio de autoria mediata ou indireta porque é uma espécie de domínio da vontade de terceiro, porém, este terceiro “dominado”, o instrumento, não é isento de responsabilidade penal como nos outros casos. (=domínio da vontade mediante um aparato de poder organizado; ou seja, o sujeito utiliza o aparato organizado de poder para dominar a vontade dos executores, de modo que há certeza da execução de seus comandos, uma vez que os executores são fungíveis, ou seja, se um determinado indivíduo escolher não cumprir a ordem, outro certamente o fará). 
A finalidade da elaboração dessa espécie de autoria mediata era dar uma solução dentro da dogmática penal, e buscar TAMBÉM a responsabilização penal de órgãos centrais ou entes estratégicos de aparatos de poder organizados que, embora não tenham interferido diretamente na execução dos delitos realizados no contexto dessas estruturas, decidiam, programavam e planificavam. 
A principal crítica que se faz a essa construção é seu rompimento completo com a estrutura tradicional da autoria mediata ou indireta, em que o instrumento é isento de responsabilidade, seja porque atua sem dolo (erro de tipo determinado por terceiro), seja porque atua sem culpabilidade (obediência hierárquica, coação moral irresistível, erro de proibição determinado por terceiro, utilização de inimputável). Portanto, para os críticos dessa espécie de autoria mediata criada por Roxin, os casos por ele apontados como supostamente abarcados pelo domínio da organização, só podem ser formas de coautoria (o mandante do crime) ou participação propriamente dita (indução, instigação). 
Como para Roxin o conceito de domínio do fato é aberto, é possível encontrar autoria mediata não só nos casos de coação ou erro do instrumento, mas também quando este é plenamente responsável, porém forma parte da engrenagem de um aparato organizado de poder. 
Essa proposta surge a partir da análise dos casos de Eichmann e Staschynski. 
Eichmann era um funcionário administrativo alemão que dirigia a Oficina Central para a Migração Judaica, cuja função era perseguir, selecionar e capturar judeus estabelecidos na Europa, a fim de transportá-los para diversos campos de concentração. Eichmann, porém, nunca interveio diretamente na execução de qualquer pessoa. 
Não seria possível responsabilizá-lo por meio das formas tradicionais de autoria mediata, especialmente porque os executores diretos não eram isentos de responsabilidade. 
Para Roxin, Eichmann (e outros) estava integrado em um aparato de poder organizado e que os delitos que lhe foram atribuídos, na verdade, respondiam a desígnios e ordens centrais dessas estruturas, que dominavam e conduziam sua realização. A partir disso, concluiu-se que o executor imediato do delito, os comandos intermediários e o órgão central da estrutura de poder que ordenou sua execução, possuíam diferentes formas de dominar o fato, mas não eram excludentes entre si, ou seja, todas as instâncias deveriam ser responsabilizadas. 
Os executores diretos tinham o domínio da ação (da produção material do fato punível); os comandos intermediários e o órgão central, de sua vez, tinham o domínio da organização em suas mãos, ou seja, “a possibilidade de influir e controlar a realização do evento delitivo desde seu respectivo nível funcional, por meio do aparato de poder que estava a sua disposição”. Ele (o “homem de trás”) nesses casos tem o domínio do fato porque ele pode, por meio do aparato de poder que está à sua disposição, produzir o resultado com maior segurança (ter a certeza de que o fato será executado). Os executores são fungíveis, isto é, se um não realizar, outro certamente o fará. 
O domínio sobre a organização, portanto, não é o domínio sobre uma pessoa determinada, a que se coage ou induz a erro. O controle recai sobre o aparato de poder e sua estrutura, da qual faz parte o executor ou executores. O comando intermediário ou órgão central possuem uma espécie de alavanca capaz de desencadear o processo causal que culminará no resultado ilícito.

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