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A economia e a sociedade na América Espanhola do Pós Independência

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Reitor
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IMPRENSA
OFICIALla
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Administrativo
Coordenador Editorial
I 21-
R:-,
UNIVERSIDADE DE SÃO PAU
DA INDEPENDÊNCIA A 1870
TeXto
HISTÓRIA DA AMÉRICA LATINA
Jacques Marcovitch
Adolpho José Melfi
VOLUME III
EDITORA DA UNIVERSIDADE UC O~~ • ~V~
Leslie Bethell / organizador
Plinio Martins Filho (Pro-tempore)
Plinio Martins Filho (Presidente pró-tempere)
José Mindlin
Lauta de Mello e Souza
Murillo Marx
Oswaldo Paulo Forattini
professor Emérito de História da América Latina, Universidade de Londres,
e Diretor do Centro de Estudos Brasileiros, Universidade de Oxford
Tradução
Silvaria Biral
Eliana Urabayashi
Renato Calbucci
João Bandeira
Maria Clara Cescato
IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO IMPRENSA
OFICIAL~
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~"Ll'n~:lJ:':i
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Sérgio Kobayashi
Luiz Carlos Frigério
Carlos Nicolaewsky
Richard Vainberg
Carlos Taufik Haddad
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A ECONOMIA E A SOCIEDADE
NA AMÉRICA ESPANHOLA
DO POS-INDEPENDÊNCIA
NO§ ANOS QUE medeiam 1808 e 1825 estabeleceu~~~~a nova_~ação
.!!!~E~__~~~~()_I?:~~!asJli~.p3:!l()~_~!!':~.!ic;:!!nas.ea economia mundial: É possível
que, comparadas à sua incorporação mais completa à economia internacio-
nal em expansão, o que teve início mais ou menos na metade do século e se
acentuou ainda mais a partir da década de 1870, as mudanças que se segui-
ram à conquista da independência política pareçam superficiais e limitadas;
constituem, não obstante, um momento decisivo nas relações entre a Amé-
rica espanhola e o resto do mundo.
O velho sistema comercial do tempo de colônia vinha sofrendo, desde o \_~l-
.Jill!l!_g.Q ..S.éÇI;ll!.tXYJl1,.!!J!Lp.r9.ç.e~s9.dede:5.~l!.t.eID:aS~Q,_~9!Dente depoi~.g~_
!808 ~.9~_~~._~:r_ar:~adeixou de ser em definit~vo o intermediário comerci~
~ntre a América espanhola e o resto da Europa, sobretudo a Inglaterra. As cir-
cunstâncias especiais que predominavam nessa época tanto na Europa quan-
to no conjunto da economia atlântica tiveram importantes conseqüências
para as futuras relações comerciais da América espanhola. O primeiro objeti-
vo da invasão da Península Ibérica pelos exércitos franceses, que desencadeou
a separação das colônias americanas da Espanha e de Portugal, era terminar
de fechar a Europa continental ao comércio britânico. Cada vez mais isolada
de seus mercados europeus, a Inglaterra tentou substituí-Ios com uma urgên-
cia que beirou o desespero. Assim, a_()P~!.tun.i<:i.lid~de .n~goc.i~~_A!.r:e.!a_ITl.e.nte
~() Bra..~i.1p-.!:~?.r.c!()I?-a9~.pe!atransferência da corte portuguesa para o
~~ de Ianeiro, foi recebida a princípio com entusiasmo. E quando a queda da
coroa espanhola em Madri suscitou os primeiros levantes políticos na
América. espanhola, o Rio de Janeiro tornou-se o entreposto para uma pene-
tração comercial agressiva dos ingleses não só no próprio Brasil mas também
na América espanhola, em especial na região do Prata e na costa sul-america-
na do Pacífico.
Já ~m 1809 Río de Ia Plata fora aberto ao comércio~nglês ::-_pelo ú!t!~()._
.Y.ic:e-rei espanhol. No entanto, a subseqüente expansão britânica na América
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do Sul espanhola acabou por depender dos destinos das forças revolucioná-
rias; porque, mesmo que os administradores realistas tenham eventualmente
se revelado dispostos, como medida excepcional, a abrir seus territórios ao
comércio direto com a Inglaterra, as atividades dos corsários patriotas torna-
ram esse comércio pouco atraente. O Chile foi aberto finalmente em 1818;
Lima !l~_Qªnt~§.~k.J. 81J -. e º_.~gante do Pe~, m~i~.~ar.deain~a. ...l':'!.o~_p~ís~s.
~_0?sta do ~~.~ das Antilhas, o avanço foilento e menos completo'.6J~uer~a..
de ind_~~~j.~~ci<:.~a...Y!.~ezu~la.dur:..o.u _~!.z..~.I!.0s~tanto quanto a de N?~_.
G~na<i~. O.N1~.xico,. com. mais da metade Aapop.ulação e da riquezadas
Ln~i~s. e~p~n_~ü~~s? cO_~9yist()u suai~~~p..:~9~~c:~a .. ~a~t~.l1te.~ardi~~~~1!_
(18211Mesmo assim, muitos anos antes que os realistas fossem expulsos de
San Iuan de Ulua, e isso afetou Veracruz, o principal porto mexicano do mar
dos Caraíbas. As ilhas de ç~.~a.~_<!.e__P~E.!~~.<:..~.~on!~~ua!am_~_posse da
~anha!...Il!.<:~.~..E~!".tir:...~e..~~!?_f<!~!?3.!?~r~s_!1.9_~?!:lér~i() direto <:"?fI1.2.aíses
estrangeiros, em)Jora co.rn restrições destinadas a pr~s~rvar. ess: ~.!i~()_~
Qs!.llS910.nial para os produtos espanhóis, dos têxteisà .~a!i~h3_<:I!.!rigo.
Santo Domingo permaneceu até 1844 sob ocupação do Haiti.
A.s,Qsta atlª-n1i.fª_qª_Am~..riÇ~LQº.~.!!LfQi.,.J22!.tan!g,..a..P!i!?_c:.~~~~()~_.~....?!.!....
incQII2.QJadaaO..I.!..o_y()...§.istemacomercial, e foi nessa região que as circunstâncias
que impeliram a Inglaterra a expandir rapidamente seus mercados ultramari-
nos tiveram seu primeiro impacto e o mais profundo. No período entre 1808 e
1812 os aventureiros comerciais ingleses chegaram em grande número ao Rio
de Janeiro, a Buenos Aires e a Montevidéu. Alguns anos mais tarde, Valparaíso
torno~:seº--l2.rincipalQQ!.!.Q-º-ª_Sº-S~~2.l,!J-aIl!.~ricana.A.o .. ~a.c:ifi.C:2lo centro do
qual partiam as mercadorias inglesas para os portos ao longo da costa, de La
Serena a Guayaquil. Os aventureir:.?s.~()mer<i~_s.!fI1P~n.~ado~ .~<l_~~!~~5:~ -
no duplo sentido dotermo=- do mercado latino-americano estay'am._~~~!.viço
diretamente dos comerciantes e industriais da Inglaterra e tinhaI11a.?lÍ~~~o de
e_ncontrar o mais rápido possível um mercado q~e absorvesse .o !!x.ce.<!e.I.1!~~
JE~.~()rias que ameaçava o crescimento da economia inglesa. Desde o início,
sua preocupação foi menos o preço de que uma venda rápida e um regresso
igualmente rápido (transportando preferencialmente metais preciosos). Para
realizar essa penetração comercial, muitas vezes ofereciam as mercadorias a
preços mais baixos do que o planejamento inicial. Por exemplo, em 1810, após
tomar conhecimento da liberalização do comércio e da irrupção da revolução
em Buenos Aires, muitos aventureiros comerciais deixaram Londres com a
expectativa de vender suas mercadorias na América do Sul; todavia, quando
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aportaram em Buenos Aires, descobriram não só que havia grande número de
comerciantes na mesma situação que eles, mas também que precisariam
enfrentar a inesperada concorrência dos produtos enviados pelos comerciantes
ingleses estabelecidos no Rio de Janeiro. Conseqüentemente, foram fQ!:.Çados-ª-.
vender suas mercadorias com prejuízo, acelerando com isso a vitória do~ro-
duto.s'd~-cl.tra'~a~' s~b~e '~qu~les' f~rnecid~st~;~ii~i~~;;I~'e';~'~~~ercadode \ \
Buen?s ..J\irespelos contrafortes andinos ou pelo Peru e Alto Peru. Outra con- I,
seqüência foi a expansão do mercado consumidor mediante a inserção de gru-
pos sociais que até então não faziam parte dele.
..!\a!:>!.rtura do comércio latino-americano ao mundo exterior e a chegada
dos ingleses em grande número desferiram igualmente um duro golpe nas í.V:,'\;..:
-;~tTgas práticas comerciais que, pelo menos na América espanhola, haviam se !., I
_.:J;~gado numa rígida hierarquia. O.ex:p~~.!<I~?r._da.~~panha estav<l)l~9..agj
comerciante espanhol estabelecido nos portos e centros de' distribuição his- i
Ea~'o~a~ericanos e, por meio deste, aos comerciantes menores nos pequenosj-
c~tros e a partir desses aos vendedores ambulantes. O sistema era mantido i '
ba~icamente pelo avio (México) ou pela habilitacion (América do Sul espa-
nhola), isto é, o fornecimento de capital pelos que se achavam nos níveis
mais altos da hierarquia aos situados no nível inferior da atividade empresa-
rial, e pelo sistema de crédito. Em cada um dessesestágios, eram garantidas
margens muito altas de lucro, mesmo que nem sempre seja possível distin-
guir facilmente os lucros derivados do fornecimento de crédito dos prove-
nientes estritamente da atividade comercial. A entrada dos ingleses, impeli-
dos pelo desespero de tornar sentida sua presença, mesmo que esporádica,
nosniveis cada vez mais baixos 'desse sistema comercial, produziu um efeito
~eyastador. Sua preferência pela venda rápida a preços menores, e pelo uso
~:. .dinheiro em vez de crédito, começou a oferecer em todos os níveis uma
~~rnativa a um sistema que proporcionava os maiores benefícios aos que
e~tavam localizados no topo.
A pacífica invasão da América espanhola pelos ingleses foi facilitada pelo
!<!ngo periodo de instabilidade política, social e militar durante as guerras da
.i!:dependência, no qual os possíveis concorrentes locais se enfraqueceram. Os
aventureiros comerciais logo perceberam oportunidades de obter excelentes
lucros nas instáveis condições vigentes. Em vez de tentar estabelecer relações
comerciais regulares>.e...lD.l2re.&a~m estilo oportunista de comércio. Por
exemplo, no rio Paraná os irmãos Robertson apressaram-se a seguir para
Santa Fe, para vender yerba mate paraguaia, cuja escassez havia encarecido
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demais o produto I. Outrossim, em 1821, quando San Martín preparava no
Chile sua campanha para invadir Lima, Basil Hall foi encarregado, secreta-
mente, pelos comerciantes de Londres de embarcar para a região uma remes-
sa de mercadorias, antes da chegada de seus concorrentes; conseguiu, assim,
"extrair a nata" desse mercado, a capital do vice-reinado do Peru, que perma-
necera isolado por muito tempo-.
Apesar do caráter funesto desse comércio para os concorrentes locais, não
deixou de apresentar riscos para os aventureiros comerciais ingleses. Esses foram
forçados a ousar cada vez mais e pouquíssimos sobreviveram ilesos até o final
dessa fase de exploração e conquista. Isso foi talvez inevitável, dadas as condi-
ções da época~Qu.aru;jQ..ª..demanda 19.ç~nãº~materializa~a, as ~e<:~ssl~ades da
.~cC)nQmja.).~!e§~9º!,.!gªY~mºs .co!11erciantes..a expandir seus mercados .• ç~jQ~_.
_timites.gGlm.i!P-!;,QA~. !lp-i1I<:ple.s;um proçesso d~~~mªtiy.?- e erro g-ªyª-ª ~n~E.slJ;.
.que. toda _~~e.!.i~~~ia. Ae.~E~nsã.~.!er.IE.i~ava e~. !racasso, (porque somente tal
fracasso podia determinar seu fimkc.9mR.[eer~sivel~~I1(eJ ª.C:!ll!l~1~!.~E!2~
_relatos amargurados das vítimas. No entanto, nenhuma vítima produziu real-
mente uma reversão do avanço geral para o qual ela própria havia contribuído.
Mesmo aqueles que avaliam os resultados mais do ponto de vista inglês do que
da perspectiva latino-americana têm dificuldades em negar o importante legado
deixado pelos acontecimentos do período. Embora as exportações inglesas para
o conjunto da América Latina não mais cor respondessem a 35.por cento do"
total das exportações inglesas, como acontecera em 1809 e em 1811, ainda
assim, com uma média anual de cerca de cinco milhões de libras no período de
1820 a 1850 (dos quais mais ou menos a metade seguia para a América espanho-
la e metade para o Brasil), haviam duplicado as médias da segunda metade do
século XVIII em valor (e "foram multiplicadas várias vezes em volumejê,
1. J. P. & W. P. ROBERTSON,Letters on Paraguay, London, 1838, vol. I, pp. 358-359.
2. SAMUEL HAIGH, Sketches of Buenos Aires, Chile and Peru, London, 1831, p. vii.
3. Com relação aos valores relativos às exportações inglesas para a América Latina entre 1820 e
1850, cf. D. C. M. PLArr, Latin America and British Trade, 1806-1914, London, 1973, p. 31. A
conclusão, segundo o professor Platt, de que os valores relativos às três décadas que se segui.
ram à independência não estão "totalmente desalinhados" com "todas as estimativas relativas
ao período colonial que chegaram até nós" depende de se estabelecer se uma duplicação do
comércio deve ser considerada uma mudança relevante. Certamente, essa mudança pode
parecer irrelevante se for comparada à que deveria ocorrer na segunda metade do século XIX.
~:ante O segll!:do qu~~~do sécul.~ Xl.2<:, a Inglaterra ~~~t:~~tiva-
~te <?.9.uase-m<:)l~?pólio c~~e::i~.q~~ h~'Yi~~on~tad~.~o ~:~~9 das
guerras de independência. Durante algum tempo essa predominância havia.
~~~ea~ad-',~·i~i~:~~~o!.rênc~a dos Estados Unidos. Apoiados numa ex~e-
lente marinha mercante, os comerciantes americanos implantaram um siste-
m;~ais .fle;'~t~elde comércio e navegação. Como não sofriam, a exemplo de
s~us concorrentes ingleses; a pressão das necessidades de uma economia
illilusttial, os norte-americanos não trouxeram para os mercados da América
J.atina.(e particularmente os menos abastecidos pelos ingleses, que tendiam a
imitar a predileção de seus antecessores espanhóis e portugueses pelas
regiões mais ricas e mais densamente povoadas)_ aP.e~<l:~..:n.!r_~~9!.~,:~odt.::
zi~~_ n.o.s_~~ados ~~L~?~~~~~.!~~~_:n~.~igos .~r.lJP~~~~fricanos~_9!)en-
tais. Contudo, um elemento essencial das exportações americanas foram os
""caseiros", um tipo de tecido mais rústico e barato do que o produzido em
Manchester. Quando a prolongada queda dos preços causada pelo avanço da
Revolução Industrial anulou a vantagem do preço, eliminou um elemento
insubstituível de contestação do predomínio inglês. Depois disso, ainda que o
"-E..<?mércio norte..:-~me~can~ tenha conseguido obter vantagens locais (na I
Venezuela, na metade do século, por exemplo, competiu com o comércio
inglês), isso If~..Qca!l~_u..s.s>!>r.essaltosnem e.m Londr~.§.'!!~I}1em Liv~'!ppqL
Além do comércio norte-americano, tornaram-se cada vez mais intensas
~" relações comerciais com a França, com os Estados alemães, com a
_5.ardenha e com as antigas metrópoles. Todavia, isso parece ter sido mais um
complemento do que um concorrente do comércio inglês -,A França liderava
~!!lercado dos produtos de luxo e a Alemanha. (como havia acontecido antes
da independência), o de mercadorias semiluxuosas; isso não afetou o predo-
mfni~ inglês noâmbito muito mais. amplo dos produtos industriais de con-
sumo popular. A França, a Sardenha, a Espanha e Portugal, bem como os
Estados U~id~s fora~ mais uma vez "as países de origem das crescentes-- '. .... -
~'p'.<>rtasões de Er.().<!.ut.<.>~..agrícolas(vinho, qle.o. e trigo) para a América
~~"ina. Dificilmente ..§~poderia esperar qu~ ~~d.o em vi~ta ~s.cir.~~~~~~~.c!~~
políticas e militares altamente excepcionais das guerras da independência, a
Ingl~.ter_~a mantivesse o predomínio "9..~._~~~g~i~tara na eX1?ortação desses
produtos através de Gibraltar.
A Inglaterra preservou, portanto, sua posição de destaque como exporta-
dora para a América Latina. Foi ao mesmo tempo o principal mercado para
os produtos latino-americanos de exportação, com algumas exceções impor-
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tantes (como o café brasileiro), embora a posição da Inglaterra nesse caso
tenha declinado mais rapidamente do que no das exportações para a América
Latina. Essa relação comercial foi reforçada pelo papel dominante que a
"letra de câmbio sobre Londres" assumiu nas transações financeiras entre a
América Latina e o resto do mundo.
(I"> O aumento das exportações inglesas paraa América:spanho!~Ac:pg!~_de.
~7\ 180lSéXerceu pro[ü-iiaõ'íinpactOsobre a balança ~omercial da região. Durante
\ / .~ 'iodo-o"pe~{~do"~;;i~'ci;;f(e-~pe;;;-d-~;-;f~it~s do chamado Livre Comércio do
~ ~ Império estabelecido em 1778-1782), o valor das~xpo.!tatõ~~_Qi.s.p~I1.9.:.~
;. f, ricanas fora sistematicamente mais alto d~-q~ odasimportaçfu:s.....Agma •..essa relação se invertera. A maior I?arte da defasagen:.~o~~r~.ial~_ra. r~eenchi-
º-ª".!1-ª_Luralrn~,~t~lP'elas ..exportações demetais .PI'eç.i,9~º_S.l,qY~_,no.$.,J~Jn~
col_<:>,~ia~~_~_en.:p'~ehavürn ~ido ()principal item das exportaçõe,s hispa~~::..~1!l~
,~i.~~~- e que dominaram as exportações brasileiras nos primeiros dois ter-
ços do século XVIII. No entanto, o rápido crescimento da produção brasileira
de ouro fazia parte agora de um passado irrecuperável e, conquanto na Amé-
rica espanhola - salvo o Alto Peru, a única excg~? rel~~!~ - a produção de
metaiU2!"~~i.~ não tenha sofrido quedas significativas até às vésperas da
independência, ela caiu vertiginosamente durante ~~r!s>_cl_o_das..s!!~A
vultosa exportação de metal cunhado pela América espanhola durante a
~{) segunda e a terceira década do século XIX é, portanto, considerada com razão
t.\) L mais uma perda (e mesmo uma fuga) de capital do que a continuação ou
~ ~\:' renovação de uma linha tradicional de exportações.
\,,( -, ~~~A~vida, as causas dessa fugl!..de ~ital f~E~~~~V.:E~a.~:_~madelas foi a
a ", instabilidade ~~~~~c:. provoco~~~.?<l_,~<: ..~':l~'<:>~.!.~P~!:I~,~~s..~~~.?lônias.
3 i Certamente, os hábitos comerciais dos conquistadores ingleses do mercadoc
;';i latino-americano ocasionaram uma vazão de metais preciosos. Contudo, já
~ em 1813-1817, o ímpeto que havia caracterizado a primeira ofensiva comer-z
:;: , cial inglesa diminuiu. E, a partir do início da década de 1820, foi instituído em
~ I_q~ase toda a Améri~a LatiE_aul12.sis!~~~~sJ~.g~<lE' ~sCO_~~~!!~~-;-;&i~de
~ tratados comerciais com os novos Estados, tratados que concediam liberdade
g , de comér~~'-e'~';';-~'i~p~~t~;-(~~-;;;-'p~~~ibilid~d~ 'd~ negociaçã~)c~;;;-~p;é=
z _.~._.._ ..... ..". _~._, o-o •••• __ .' •• "._ _ • • ••••.••• .~._._. __
; condição rara.o reconhecimento da independência pela Inglaterra. Os comer-
!.LI I' " ----.-- •._ •••__ --: _
< ' ciantes britânicos passaram a adotar padrões de comércio semelhantes aos de
~ '. ,': ~'seus predecessores, espanhóis, inclUSive, o, uso dO"Cr~dito., Não ObS,tante, me~s-
-c ",y' mQ..Ç.Q!!Lo dec:lí!1).2__~,1...n:t~!.!.~~e~_~~,e?,portações inglesas para a América
~' Latina, o desequillbrio di! .balança cq~er~i~(p~;~~i~~A _r~iã?:'fuii~T.~~~_
283
parece ter,~ido'I:0rt.'l.I1~o~a estagnação das exportações latino-americanas. Em 1
~mas e~feras de particul~!_~~!.ev.ância para o mercado internacional (espe- ;'
cialmente na mineração), _s.~.'::_v.~í~~~~i'~-?_~lª-~~~el~e-;:;te _~i~!i~!a.()das I
últimas décadas do período colonial. Por outro lado, as características do novo
sistema -comêrclãi -niof~~õ'iece~-~~-~-~'Zti~'~'io l~~al d-e'~~pital.-Ao cont;ári~,-----_ .._.,. ....._ .._,----~...__ ..~.. , _ ..__ ..•_-~-_._._----_._ ..~--
quantidades enormes de metais preciosos acumulados durante várias décadas
foram realmente perdidas, exatamente numa época em que o acesso mais fácil
à economia mundial oferecia oportunidades de novos investimentos, Em vez
disso, foram malbaratados na importação de bens de consumo numa escala
que a América Latina não conseguiu suportar com base no fluxo normal de
exportaçõe~~~!!lIl1esI11() __o_nível ~~d.!l_zi5!~o _co!l1ércjQ.in~rnaci,onaLl}o ini:. \ '\
cio da década de 1820 pôde ser mantido sem um aumento da produção para i--_ ' . . -
~~P.?r.t~s:.ão>o q~~ ~.~ig.iuumi?y~stiI!l~n~() ma~iço ,1!.:~~_t_o.~~_~~,d.9~ital
.!2.ca1disponível. Na época (como aconteceu um século mais tarde) pareceu a
alguns que, ,se a~g!~~~r.~ p~e!e.?.9:ss.:,!Jl_a.l1t~r:,emesmo expandir. seus víncu-'- 'J
los com os novos Estados latino-americanos independentes, a relação comer·' A\""r"
cial deveria acompanhar-se de uma relação financeira que proporcionasse (' r:
em'pr_é.s!imos ~o~?~::n() e iE.v:~timen!~~, p~i:v:~4~.s_.__Foi essa a proposta para o ~
futuro do México, apresentada em 1827 por Sir H. G, Ward, o encarregado de ~
z
negócios inglês, um observador perceptivo, mas de modo nenhum desinteres- ~
sado: na sua opinião, a primeira e principal responsabilidade dos investidores , ~
ingleses era o aparelhamento da indústria mineira, o que a longo prazo criaria il
o capital necessário para a exploração da agricultura nas abandonadas e des- ~
'"povoadas planícies tropicais, dando assim um novo impulso às exportações :i
do México, t\,cur!o prazo, porém, o aparelhamento da indústria mineira devia ~
~m.i!i!_ àO. México continuar pagando um volume cada vez maior de suas ;
iI11p.o~taç?es. Não é de surpreender que Ward tenha rejeitado veementemente 3
a solução alternativa: alcançar o equilíbrio mediante uma restrição das impor; E
tações e um incentivo à produção local (de têxteis, por exemplo)". .: t ~
O investimento de capital na América Latina não foi a principal preocu- ~
o
pação dos comerciantes ingleses, ansiosos como estavam por manter um ~
fluxo comercial nos dois sentidos; ~_~s.e.tipo de investimento in,teressºu_!p..ili~ ~
àqueles investidores que buscavam lucros altos e rápidQs.,No!:~!9.,_~ofre- ~
ra;P urna decepçX~yi;le~taei!l!~<!i~t..a: el!lb_o!aQ~ títulQ§ c!OS,!1_ºYº,~É.§ja(k~_ ;
I , / 3
l., '. i'~ .:~ ~
~,
-c4. H, G, WARD, Mexico in 1827, London, 1828, vol. I, p, 328, ,r
I
1 I'r, ~_f);-,tr.")
,. :;-i I'
, , 1,,- ••.• -- • ;'
(\~O(L_~l'_.\ \,'6,
e as ações das_~<.?~E~~i~t~~~?_as e~ ..Londrespara e~lo!~r:..as ~as de
vários países latino-americanos ten.~~I?-,--~_~rin<:!p_~?!__se ~~~?~_?f!:!!Des no
boom da bolsa de fundos públicos em Londres em 1823-1825, por volta de
1827 todos os paí~es, com~xceçã~_d..oBrasil,h~vi~ d~~ad~.~~J?agar os.
_il!.ro~ ~~~!P_o.~!;!:~.0_4<?_s _se_ustJ!l:llo~e..~0Il!.e.~!~ algumas c~mpa,l!1!.ias de (
_mineração mexicanas tinham .c.onseguido evitar ~,~an,carr~.!a..:~
~
_.l'!'O_~U.~Et_~_~e.~é~ulOsegl!.i~te (1825-:-1850), a relação econômica entr~3_
\c-, é~i<;.,!,~~!.in<l.e 9)!1Unqo exterior f<?.i.muito mais urna ligação comercia]; da
~~Il:.ex_~9,-ª-~~~~~ir~,~()braramapenas algumas ernpresas de !p.i'.!~ração organi-
zadas em sociedades a~ônimas (cujo fr~~asso '~ão estimulou imitadores) e
um grande número de associações de detentores de títulos desapontados e
descontentes, que aguardavam ansiosamente um sinal de melhoria nas eco-
nomias latino-americanas, para manifestar seus direitos. Até mesmo o Brasil,
que conseguira evitar a interrupção dos pagamentos, não voltaria por muitos
anos a ter acesso ao crédito externo.
Mesmo que o desequilíbrio no comércio não tenha desaparecido imedia-
tamente, deve-se admitir, porém, a existência nesse período de um volume de
crédito e de investimento externo suficiente (na ausência de outros mecanis-
mos institucionalizados mais eficazes) pelo menos para manter algum tipo
de equilíbrio. Primeiramente, foi feito, a partir de 1820, um investimento
necessário para estabelecer o sistema mercantil mais regular que prevalecia
agora (armazéns, meios de transporte etc.): mais tarde, fez-se o investimento
considerado, pelo menos em parte, suntuário; mesmo nos centros comerciais
menores, os comerciantes estrangeiros eram em geral os proprietários das
=: melhores casas. Outro investimento foi feito por aqueles comerciantes queU .
~ administravam empresas industriais ou, mais frequentemente, propriedades
o
~ agrícolas. No entanto, esses investimentos conseguiram apenas compensar o
~ , desequillbrio no comércio entre as economias latino-americanas e o mundo
z ., ~
~ . (,}~'(:exterior se admitirmos que, durante esse período de consolidação e regulari-
~ V,\,'0,\zação, os comerciantes estrang.~<?s residentes cg~.tin,uag!A_;t.atua~~
; \~' \ 'v b~~~t~_~~~cios de com,~rci~~tes .ou c~.~~~sta~ .s.~~.~~_~.~as§:~ 1,
~ Não é fácil obter uma certeza sobre esse ponto, mas do México ao Rio de Ia:
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~ Pia ta podemos encontrar exemplos dessa relação.
~ r _.Pa!~. a.~~~~~ __Latiria, .!_i!l(:l~~dêncla..~~~efil!i~-º_ yínculo com a,
B 1 metr6poleem bases mais favoráy!:is d~_~!!9 pass-ªQo~l'l'ão .~e..W~touapenas
~ .: ~~~~~~}.ig~Çã-;;--~9~e!cil!L9...u~_~e.!Jc.2.':!.9-~_<l~()!!!Qi1B~ar-~ededominaçãopolí- -1
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,: tica direta; eliminou u!!l-ª-.dimensão flscal qu~co.!!s!H!-:líra um dos_.elemen!-º!..
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~~con~E_i.~~~~!ria!,mu~to ?1ai~~~n_âm!~~ _~~que_a ~as antigas potên:
cias coloniais, e seus agentes, pelo menos a curto prazo, estavam prontos a
sacri.~~i..;.~.!J1~~g:e.~s_~e}~c-r~~p~r~ ~bter um _::..~l\l~e maior de vendas __n_~s
novos mercados. Mesmo quando, a partir da década de 1820, o comércio da
América Latina com a Inglaterra chegou a assemelhar-se mais ao do final do
período colonial, o continuo avanço da Revolução Industrial garantiu que, a
longo prazo, a América Latina se beneficiasse de uma queda dos preços das
exportações inglesas, apesar das flutuações ocasionadas por circunstâncias
temporárias. Em 1850, o preço dos tipos mais populares de tecido de algodão
(que ainda era o artigo mais importante exportado para a América Latina)
caíra três quartos abaixo do nível alcançado no período de 1810-1820. O
preço de outros produtos caiu menos bruscamente: os tecidos de lã, que até
por volta de 1850 não sofreram qualquer transformação tecnológica, tiveram
seu preço diminuído em cerca de um terço. A comparação é menos fácil no
caso de outros produtos - louça chinesa, porcelana e vidro, por exemplo -
devido às mudanças no sistema de classificação da alfândega inglesa, mas
aparentemente sofreram um declínio semelhante e, de qualquer modo, repre-
sentaram urna parcela do total de exportações muito menor do que os têx-
teis ..No conjunto, por volta da metade do século, o preço das exportações
jnglesas, cuja composição era notavelmente semelhante à vigente nos primei-
_~.anos da liberalização do comércio, parece ter caído para quase a metade,
do nível do período 1810-1820.
-- Du;~~t~-~~~~~d~~-dÚ~d~o preço dos produtos primários também ten-
deu a cair, mas de modo menos acentuado. A prata sofreu uma queda de seis
por cento em relação ao ouro; o couro da região do Prata, um declínio de
cerca de 30 por cento; e o café e o açúcar, urna redução semelhante. Somente
o fumo sofreu urna queda de cerca de 50 por cento>. Somente na metade do
5. Os preços dos produtos ingleses exportados têm como base os valores reais declarados
para as exportações para Buenos Aires, no Public Record Office, London, Custorns, Series
6, para os anos em questão. Para os preços dos couros da região do Prata, cf. T. HALPERIN·
DONGHI, "La expansión ganadera en Ia campa fia de Buenos Aires", em Desarrollo económ;·
eo, Buenos Aires, 1963, p. 65. Para os preços do café venezuelano, cf. MIGUEL IZARD,Ser;"
estadisticas para Ia historia de Venezuela, Mérida, 1970. pp. 161-163, Para os do açúcar e do
fumo, cf. M. G. MULHALL,Dictionary of Statisties. London, 1892, pp. 471-474.
285
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286
século XIX é que se tornaram visíveis os primeiros sinais de uma mudança
em termos favoráveis no comércio da América Latina.
Paradoxalmente, em decorrência desses termos favoráveis, a abertura da
América Latina ao comércio mundial teve conseqüências menos profundas do
que fora esperado antes de 1810. Como o nível dos preços dos produtos de
\-' exportação não parecia ameaçado num futuro imediato, o efeito que se produ-
~> ziu foi mais o de estimular o aumento do volume de exportações do que pro-
/ _mover .i!lgum ~~~S2_t~.c..!1019..gic_~_~.;U;i~~-~çã~~i~~~~~~~;;;~·;~d~ÇãO dos
custos. Seja como for, as tentativas de desenvolver o setor de exportação foram
drasticamente restringida§~~l~~cll..s.sez...9-s...~tallocall_agravada pelag!l.e.~r~
e, como vimos, ~Lo_des~9..11jJíPrio<i~c5>~.érfjº.p<l..~rJ-º.ºº-º.ejD-.cl~l?mgência.
No entanto, as limitações do impacto transformador da nova conexão
externa decorreram sobretudo do caráter quase que exclusivamente comercial
dessa relação; como vimos, só excepcionalmente (durante o curto período de
otimismo que acompanhou o surto desenvolvimentista de 1823-1825) é que
se deu atenção ao investimento de capital da metrópole, destinado a expandir
e modernizar a produção de mercadorias para exportação; e observamos tam-
bém como os azares subseqüentes desses empreendimentos tiveram de asse-
gurar a manutenção de seu caráter excepcional por várias décadas.
f.'!.r:~oso.P.se.~y~<:I.o.r~s.daépoca, a escassez de capitallo~al~.<I.~c:!.utância
~9_s capi!~i~!a.~~~t!.~~g~.iL~S.~~Q1.i~y_e~_ti~!ia r_e.g~~~..~~.<>l~~~.~~~E!incipais
B?:.Qe_~_~ª.rªo lento crescimento das economías de exporN~ã_l>'..d.aAmérica
i r.-.atin'!.I1.()'p~r!2.9-_~~~i.!1:c:l,e'peI1.<iênci.a:.C.2s_~u.n.?:.a"'!!!1cham~r a~!enção muito
i mais _Pa.~a..?~~.!~!:1i'i.ã.()ca.~~ll.~<I..P.:~ll_sgu~rras:~e_q~iser.Il1.?sf~~..:.ruma avalia-
=" ção correta da validade desse ponto de vista, devemos lembrar que não foramU .- - ,----.- ",..,,_.".•__._. . ,.__",__, .,- o., ••••.•• . •.••• _ •• _ •• ~~ __ • __ •• '_. _
~ g~~ruídos ..~<:...nas recursos - istoé, o ga.dg c9I?_~.~~i~:t0.P.e.!.<>s.e~~r.sitosem
~ fg!!1l>~!e,as minas_inundadas, o dinheiro extraído dos cofres públicos oJ!..pr.l-
~ vados -' ~·~s·t~~b~ri!~~.<>_~~~~~ie.~~=~~~;~ia-çõ-~;~~;n~~ ..~~J~rt~licas e
:;: sociais. Assim, poderíamos incluir no inventário de danos o modo como os
~ fazendeiros e os donos de minas perderamocontrole s~bre'se~~~~~;~
~ Vene;~;ia, ~~Aito Cauca n~ Colômbia;' ou na costa do Per~;~'-;é~~~
~ sist;~-;··d~·;;itd:-q~erec;~t~~~'t~~b~~do~~~ài~~ça ~as ~;~~t~nhas do Peruz .. -- -- . ..- - . .. , - ~ ",.._ ..---
;: para trabalhar nas minas do Alto Peru, e a impossibilidade de restabelecer
~ -,."_, ..•q, ~ .. ,._ .....••.._, _,.•. . • • .•.•.,,' .•.... _., •.•..•. _. •..... " ....•. ,.p_" .. ·.__r_
i5 esse sistema ..~e..y.i.do.à._s~_bse.qüen~~~e.p.~!~~.E.2Iíti!=~9.a~ dua~.Ar:ea
B l<J.çõ.e~I1~sexp..()!!a~ões. chilenas de trigo para. o que_s.~torna!.a_~m merc_ado
~ peruano; a desintegração em todos os Andes do complexo tráfego de mulas,
-e .~~:gê_~eEgs..'!!!~t:I?_~0i~-d~bebi<!a·~:~~-t~c:iÃ;-;4~-f~~lcaçã;;;;;nll~I~~P~
se-ia incll1i~~~~s.~o ...as.c~n.s_e.<l..ü~.ilc.iasi~_dir~a..Ld..a§..~r.Iª.~;.i!l~mdades-
truição das ~ix:t_~s•.n~s zona~ de cOIl1bate,e.Il1.~~~:~.1.~~~i~_~9,~~<!~.de produ-
ção das mínasv cujos proprietãrios, por causa da g':l.~r!~?~.eiJ.car<ltndurante
~ ..<!~:Eazer·~~·i;;vestim~ht~s necessários. Desse p~mto de vista, o)eg.a.<io da
gue~r_a..'p'?_d!!realmente parecer esmagador, embora difícil de avaliar C9m pre-
~ Mesmo o dano real nunca foi avaliado de forma adequada. Além disso,
da mesma maneira que o impacto da abertura da América Latina ao comér-
cio mundial, os efeitos da guerra foram distribuídos de modo bastante desi-
gual entre as diversas regiões e os diferentes setores de produção.
Era opinião corrente, tanto na América espanhola quanto na Europa, que
os produtos de mineração teriam maioreschances de aproveitar de imediato
as oportunidades oferecidas pela abertura do comércio, mas o otimismo des-
vaneceu-se gradativamente. Somente no Chile a produção mineira excederia,
na metade do século, o volume (neste caso, pequeno) alcançado durante o
período colonial. No restante da América espanholavaszonasde mineração
mais bem.:~~~~~i<!as.!..or~Il1.~.9.~~las~o_nj~~<!~p.<>~s.9:~..uI11_S~!i~A~~!ínjo,a pro ..
~UÇãO rec~p'er..0.~_o..s_n.í~eis-ªI!-.t~r:.ioresà .revolu~ão; em muitas áreas,como
~?va_~:a~~da ou Bolívia, esses níveis só foram recuperados muito mais
tardeeyem algumas outras, nunca o foram.
As razoes desse desempenho frustrante são complexas. Para compreendê-
Ias de modo mais completo, devemos ressaltar que a frustração pode ser expli-
cada em parte pelas expectativ~~ ..!;tJY~L~X.Ç~ss.ivªm~J.?!uka.§,alimentadas, de\!
forma um, tanto artificial, na Europa e, por extensão, na América espanhola
durante o curto período de aumento dos investimentos que chegou a um fimabrupto com a crise de 1825. Quando sã() ..eJC:~!!li_n<J.Eos.noCO!l~~~!<:>__<!~~()<iaaf
história da tnineração na América espanhola, desde seu inicio no século XVI, :
•• ----- ••• - ••.••••••••••• .o ••••••••• - •• --.. ••• I
os avanços ocorridos entre 1810 e 1850 não nos parece.m, tãoclaramente]
quanto p~~~c~ta.tnaos observadores da. época; resultardas nov~s condições
\ socio~çºI1§!miças ..da mineraçãQ.[9uaisquer que tenham sido as condições rei-.
)nantes, a mineração expetime~t;~osciclõ~"d~-d'~'~~~~;ta, exploração e'
/ iexa~;ã~Dess~-m~cÍo~'nã~'éfut;I~~~te ';ur~reendente que o México, ouI tmesmo o Peru, que, nasúltitnas décadas do período colonial, haviam atingido
I os mais altos níveis de produção, necessitassem, para se recuperar, de um
quarto de século a contar do restabelecimento da paz. Do mesmo modo, é
mais fácil compreender por que no período pós-independência o Chile des-
\ frutou mais cedo de uma prosperidade na mineração se tivermos em mente
que ela se concentrou na mi!}~.~k...Ç_h-ªiiªr!::.illQ,_4.~~çº-be.!taapós ª-~I.D.ªJlºPª:
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ção. A recuperação do setor mineiro no M~ç-º>...assim como na Bolivia mais
tarde ainda, se deveu não tanto ao retorno aos antigos niveis de produção nos
velhos centros mineiros quanto ao surgimento de ]!OYQ5. ~~!n?s.em Zacatecas
e em outros estados. Não obstante, ainda parece justificada a frustração com a
produção mineira e com as exportações no período pós-independência. Era\Irazoável esperar que a revolução comerc~~.l ~.~_esti~ular uma elevação do1volume e do valor das import~~~udesse conferir uma premência maior à
necessidade de mais exportações, especialmente de metais preciosos. A lenta
resposta das indústrias de mineração requer, portanto, uma explicação que
leve em conta mais do que o ciclo de prosperidade e crise determmado pela
descoberta ou exaustão de veios mais ricos de minério.
A maioria das explicações culturais e institucionais foram propostas, de
modo não surpreendente, pelos estrangeiros que haviam sido atraídos pelas
". perspectivas aparentemente brilhantes antes de 1825: a imoralidade ou
.. 'c'.. . Ieviandade das classes dominantes; a dificuldade de encontrar trabalhadores\>:' s I qualificados para as minas; a notável leniência manifestada Jelas classes
\;~ '\ ..' i dominantes com os trabalhadores nos episódios de indisciplina industrial
: \ ,:5 \ \ que envolviam empresários estrangeiros; o caráter rígido das leis que regiam
\() ~ a indústria. de mineração; e assim por diante. Não tentaremos examinar aqui
a massa das acusações, as quais refletiam sobretudo as pronmd~s diferenças
entre. os hispano-americanos e aqueles que estavam tentando inserir-se nas
: economias da América espanhola. Naturalmente, essas diferenças eram
muito mais acentuadas nos locais em que os estrangeiros já não se restrin-
giam ao comércio e mudavam para as atividades produtivas.
G <~_Outr.o..S.-ººsJJ!.CJ,~Jº~ªº-.P.J9.gr~~Q.d.~_s~tO!.cj.~IP.!º~!,!Ç~_2.!i~~!!lJ.!.lum ~!~
~ .mais econômico, isto é, a escassez de mão-de-obra e de capital. Ambos os
o
~ fatores estiveram presentes em graus diversos em todas as áreas' mineiras da
~ América espanhola. Entretanto, parece possível concluir que as dificuldadesZ .
~ de recrutamento. de mão-de-obra foram exageradas em toda a parte. Não há
~ dúvida de que os danos da guerra no México, a região mineira mais rica no, .'
; \i~, final do período colonial, dificultaram enormemente a reconstrução no pós- .•
~ ~)/ ....\ guerra; no entanto, não há prQvas \k!!m-ª-~§.ç~s.e_~.<l~.!J.lãº~(le~.Qºr.acomo tal.z .
~ Após a independência, os mineiros recebiam salários mais altos do que as .
~ trabalhadores agrícolas, mas isso não era novidade, e em todo caso não signi-
U •B ficou necessariamente qualquer diferença em salários reais. Além disso, ainda
~ que o fim do sistema de mita na mineração, mencionado acima, tenha priva-
< do a Bolívia independente de importante fonte de mão-de-obra, não deixa de
...
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ter importância o fato de que os salários dos trabalhadores livres nas primei-
ras décadas após a independência estavam mais próximos dos salários recebi-
dos pelos trabalhadores de mita do que das remunerações dos trabalhadores
livres no período colonials: isso não sugere qualquer escassez de mão-de-
obra. Além disso, as novas zonas de mineração, ou aquelas que apresentavam
uma expansão mais rápida, não parecem ter encontrado maiores dificuldades
para recrutar a mão-de-obra necessária do que as zonas mais antigas, estag-
nadas; por exemplo, não parece que algum tipo de escassez tenha impedido a
expansão da mineração chilena.
.o-problema criado pela escassez de capital parece ter sido mais sér io.'
Nessa esfera, o dano causado pela guerra foi aparentemente menos fácil de
reparar. A destruição das minas e usinas de processamento pelas operações
militares foi muito reduzida, mesmo naqueles locais em que a zona de mine-
ração em questão foi teatro de guerra. A suspensão de investimentos na
expansão e na manutenção causou um efeito mais durad?urC? e, para que a
~iner-aÇão"~i-Á~érica espanhola pudesse se recuperar, foi necessária urna
concentração do investimento de capital. No entanto, desse ponto de vista, ()
des~'~~~i"vimento da mineração até 1850 não parece demasiado insatisfatório:
graças ao capital inglês e local no México e na Bolívia e quase exclusivamente
ao capital local no Chile e no Peru, registrou-se de fato uma modesta recupe-
ração. Não obstante, pode-se indagar por que o investimento não foi mais
intenso nem os resultados, mais espetaculares. Do ponto de vista dos respon-
sáveis pela decisão de investir, as razões pelas quais isso não ocorreu são bas-
tante compreensíveis. Salvo no Chile, o rendimento do investimento na mine-
ração foi nulo ou então muito baixo. No México, por exemplo, não houve pra-
ticamente nenhum retorno do investimento feito pela companhia inglesa de
Real del Monte, a mais importante das empresas fundadas durante o período
de ...::cpaI1~~?_damineração, encerrado em !82.?_.Jsso não resultou de uma
ausência de medidas destinadas a tirar a mina da estagnação: ao contrário, a
empresa fez diversas tentativas em melhorias, bastante onerosas; deu prosse-
guimento, com menor êxito ainda, aos esforços dos antigos proprietários de
bombear água dos níveis inferiores da mina e construiu uma estrada de acesso
para veículos numa área que anteriormente era servida apenas por mulas. A
Companhia Real dei Monte teve, sem dúvida, boas razões para se queixar de
6. LUIS PENALOZA, Histeria económica de Bolivia, La Paz, 1953-1954, vol.T, p. 208; vol. ll, p. 101
289
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290 sua má sorte: quando, depois de um quarto de século de investimentos com
prejuízos, os direitos de exploração foram transferidos para empresários
locais, estes logo começaram a obter lucros, em resultado em parte dos mes-
mos investimentos feitos pela companhia". Contudo, os observadores da
época pareciam dispostos a extrair dessa experiência uma lição mais precisa:
H. G. Ward, de modo nenhum um apologista desinteressado das companhias
inglesas instaladas no México, admitiu de bom grado que a decisão de investir
somas enormes na melhoria da produção, da operação e do transporte fora
imprudente. No outro extremo da América espanhola, [ohn Miers extraiu
conclusão semelhante de sua experiência como produtor de cobre malsucedi-
do no Chile: também em sua opinião, foi necessário examinar cuidadosamen-
te o impacto econômico a esperar de cada uma das melhorias técnicas propos-
tas;e mesmo um investimento destinado a aumentar o volume da produção
sem introduzir inovações tecnológicas corria o risco de ser contraproducen-
te8. Assi.!!h.\lm cOIl,servadorismo flue refletia a atmosfera_t!!.illª!1J.~.,!:!,1!.II1perío-
do em que não havia progresso técnico comparável àquele que devia ocorrer
na segunda metade do século conduziu a uma caute1.a!I1.!l\9J:,D.Oq1,!~,§.U.J!.fçria
a novos investimen.!Q.s el1!._min.:~.!:.~ç!Q,exceto quando, como no caso do Chile,
veios excepcionalmente ricos de minério garantiam lucros rápidos e altos.
. ,< A reconstrução no pós-guerra não acarretou a introdução de inova~ões
, (' ~ ".... .",'"---' ,'- -"---"~-"-"""-'- - _ .. ' ..' _ .. _._ .._ '._,._._---_ _ _--_ ..~.~ _ _--
',}' . \~:. :i~~":'_~.~_na_~:.~~::!,:~~~~.operações mineiras. ~9 caso da mão-de-obra"
\.;. . .,-,,t=-ã.Ohá dúvida de que o trabalhador assalariado ~~~g_I!,.a.:.~~~~~~!).har um,...Y o" :E.<l.E.elpredominante,_mesmo nos locais em que não o fizera no período colo-
. . nial. Foi certamente o que aconteceu na Bolívia; o quadro foi ligeiramente
s diferente na zona de mineração de ouro de Nova Granada, embora mesmo
u~J aqui fosse eviden.!.e.?_~e~líni~A~)mp.<!.r!~.I1cia d~Il1~()~~~~0~2.E.~No
ê entanto, nas áreas mineiras que haviam desfrutado de um desenvolvimento
~ ",';' mais rápido nos últimos anos do período colonial, a mão-de-obra assalariada
:: ... ' já era predominante. Isso, mesmo então, ocultou sem dúvida as grandes dife-
renças de condição real nas diferentes partes da América espanhola, desde o
México - onde Humboldt encontrou níveis salariais mais altos do que os
existentes na Saxônia - até o Norte Chico, do Chile, onde tem sido negada,
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mais convincentemente do que com relação a outras zonas, a existência de
uma verdadeira força de trabalho assalariada. Essas variações continuaram a
existir após a transição para a independência, embora não haja qualquer
dúvida de que a passagem da estagnação para a rápida expansão afetou a
situação dos trabalhadores das minas chilenas.
No período colonial ocorreram variações semelhantes no modo como a
própria indústria mineira se organizou. No Mé~co,'pr(!º().fTl.inaram as grandes
unidades produtivas que financiavam sua expansão com o~p.!~pri.o~J~ç,!:Q.Sj
Consegüir'ãm)s V:êzes;até-~~s~'~ r;~~~;i~;-~~-l~~;~s na aquisição de proprie-
dades agrícolas, que eram integradas economicamente às minas, No Peru, na
.!<!.~íyia,e no Chile, as unidades produtivas eram menores e não conseguiam
manter-se independentes de seus fornecedores e dos que lhes haviam adianta-
do -~ capital para dar prosseguimento a suas atividades". (No.cas,().9_o .AJ~?_
Peru, .?.~.~~presários da m!Il.e.ra.ção,tjyeram sua situação agravada pelo fato de
freq,~:ntemente serem obrigados a pagar altos aluguéis aos detentores dos
direitos de exploração, que normalmente estavam ausentes.) Após a indepen-
dênciã:'persistiu o contraste entre o México e o Peru nesse aspecto. Ainda em
1879, Maurice du Chatenet observava que a maioria dos empresários mineiros
de Cerro de Pasco não eram "pessoas ricas, que têm capital disponível [... )
[mas) precisam pedir dinheiro emprestado aos outros", Eram obrigados a ven-
der seus produtos a seus credores a preços inferiores aos normais I 0, Miers
havia descrito condições semelhantes na década de 1820 na zona de mineração
de cobre dq Chile. No entanto, a prosperidade da mineração de prata no Chile,
após 1831, gerou uma classe de empresários mineiros não só ind~endentes,
~ ..também süfic;e~tem-e-nte' b~~-;~Z~did~~'p'~;;;~;~stir i.~~;~~s';~~.s. de
capi~~I~~pÓs.a metade do. século; e>.~..empresários rnais ric()s.'p~s_~~r.<l.m.a ser os
donos de grandes propriedades urbanas e rurais n()Çhi}~.c.~!1tra!.! Na J3.9Hyia,\
nomesm~p~~l~d~,~_~o.ii~~;;;-~~~.~~ç·as.;~~cais!.l<l_~s.!~\l_t.l:!~-,!J(!,gal em que se'
~!cavama.sa.~i,,-ic!ade§. ~ine,ira~,A nação recém-iIldependente cancelou 0L
p!:'!y'iJégiosdosconcessionários ausentes e, por meio de novas concessões, esti- !
mulou_()_.sl1!giIl!el1tCl..dee.!l).R!es.a..sA~J:nineraçãomaioresdo que as do período \
~J.~,mia!. No entanto, com a estagnação da indústria da prata boliviana no
9. )OHN FISHER. Minas y mineras en el Perú Colonial, 1776-1824, Lima, 1977, p. 101.
10. MAURICE OU CHATENET, "Estado actual de Ia industria minera en el Cerro de Pasco", Anales
de Ia Escuela de Construcciones Civiles y de Minas, Primeira Série, Lima, 1880, vol, I. p. 119.
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7. ROBERT W. RANOALL, Real dei Monte, a British Mining Venwre ;11Mexico, Austin (Texas),
8.
1972, pp. 81, 100-108,54-56.
JOHN MIERS, Travels in Chile lI"d Ia Plata, London, 1826, vol, 11.pp. 382-385.
292
período pós-independência, as conseqüências dessas mudanças somente se
fizeram sentir nos últimos trinta anos do século XIX.
1'.Q!"~..2!1~~gl1in!~,a expansão da mineração na América espanholajoí lirni-
_t?--,Iª_~!l:!.gll.ª-s.~..~od.~a parte pela necessidade deçapital, qJle I}I,l~c~J!>jsatjjiJ~i.tª-'
totalmente ..Todavia, outro fator limitante da expansão das economias latino-
americanas de exportação, o nível da demanda, não afetou de modo geral o
setor mineiro. É verdade que, na década de 1820, houve na produção chilena
de cobre um forte crescimento seguido de rápido declínio, resultado em gran-
de parte do aumento e subseqüente queda catastrófica da demanda de cobre
da índia britânica!". Mas em toda a região a prata foi muito mais importante
do que qualquer outro minério e a procura de prata hispano-americana para a
cunhagem de moedas era tão grande que seria impossível imaginar que algum
~)J<'" J dia a expansão da produção tivesse um limite: O setor agrícola não ..P9.cl!~_
\ -(j?, _I ~~'p.:_~~:r<!~uma demanda tao con~t.~n_!:...:?~~~~a. Por outro lado, de~c~.r.~
, do com a mercadoria, esse setor podia contar com uma vantagem, isto é, não
).\ \ •• "0"0 •••• _ ••••••.•• ••• • " ••• ",. _ " • •• • _
,\, ',:" I precisava de um grande investimento an.tes ~e.p.~0<i.ll~~rlucros, ~~!.I1<?_~2..f.i!.s.Q_
'\ itl:!.aindúst~iaA~ ml~~r~çãó abalada durante as guerras da independêncja.j,
": O setor de produção que oferecia os maiores Illcr9.s coI11,um iI}V~~till1.!..l!to
\ -_.__ .••••• ,••••• ,* •••_...
.:mínimo era a pecuária. Além disso, contava, talvez mais do que qualquer
/ l" ..._-_._-'":"._-
.» 'outro setor,_~<'>'~_~~E.~'!.g_~~..f!~tern..9..s:'pesde os primórdios da colonização da
América Latina, a criação de gado passou a ser o meio de utilizar:,()~~
da terr~ se.~pr~_9.ue o~tros.n:~t().~.?~..!?.~~_!~~~.~ti.vos.se.t.o_~~avan:~I?po..s~_~eis.'
Sem contar na época com mercados externos satisfatórios, ela se expandiu às
vezes por áreas extremamente extensas: do norte do México ao nordeste do
Brasil (e, dentro do Brasil, até Minas Gerais, uma vez que a prosperidade da. "
indústria de mineração havia chegado ao fim); dos planaltos de Nova'
Granada às planícies da Venezue1a e das imensas áreas na América Central à
uma grande parte do Vale Central do Chile, bem como por toda a região do'
Prata e sul do Brasil. Na primeira metade do século XIX, graças a um sistema; '
de exploração ainda muito atrasado tecnologicamente, a pecuária não preci-.
sou (como aconteceu mais tarde) confinar-se às terras mais adequadas nessas:
vastas áreas. Por conseguinte, !Lfu.to de apenas algumas d.e$~~u!.r~-ª-s.Jc
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11. Relatório do Cônsul Inglês em Valparaíso, Charles R. Nugent, 17 de março de 1825, em R.!~
A, HUMPHREYS (ed.). British Consular Reports on the Trade and Polirics of Latin America$,
London, 1940, pp. 96 e ss.
~ido incorporadas à nova economia de exportação se_deve muito menos aos
_.métodos de produçãodo que ao comércio: foi a capacidade de canalizar a
lIT.gº.!l.çãopara os circuitos comerciais. tanto no período anterior à indepen-
d_ência quanto posteriormente, que determinou o sucesso da pecuária na
região do Prata, na Venezuela e no sul do Brasil..
I --.E.~_virtude da ausência ou extrema escassez de capital e do fato de serem
I 1 essas áreas escassamente povoadas,_ onde, muitas vezes, a disciplina social era
@
l,!--;[~t~da ainda mais pelos tempos de turbulência, a expansão da produção de>t !-'gad~baseou-se na ampliação das terras disponíveis. No entanto, é digna de
.' : nota a diferença entre a crescente prosperidade dos pecuaristas de Buenos
_~i.res:'~·o empobrecimento dos que exerciam essa atividade na costa centro-
-ª--~ericana do Pacífico, como Iohn L. Stephens observou na metade do século
! XIX, A razão dessa diferença estava, sem dúvida, no fato de os donos de
i -r;;;~ndas da América Central, comparáveis em área a um principado europeu,
;ão 'terem meios de vender sua inútil riqueza, ao passo que os latifundiários
-d~.~egião do Prata tinham livre acesso ao mercado europeut-. Ê que o
aumento mais precoce e mais intenso das importações na região do rio da
Prata em conseqüência da liberalização do comércio criou a necessidade dei..
um fluxo de exportações que possibilitasse um volume constante de importa- '
ções, No Chile, apesar da ausência de condições naturais equiparáveis às da
região do Prata. houve igualmente uma expansão da pecuária para exporta-
ção, embora em volume muito menor. Os importadores de Buenos Aires.
Montevidéu e Valparaíso necessitavam de mercadorias para mandar à
Europa; seus navios precisavam de cargas para a viagem de retorno. Muitas
vezes eles próprios assumiram a responsabilidade de exportar produtos
pecuários. Portanto" o que impediu a expansão das exportações em outras
áreas menos afetadas pela abertura do comércio foi aausência de um fluxo de
iffip~rtações, o' que foi particularmente verdadeiro. por volta de meados do
-sÚulo, na costa do Pacífico entre Guayaquil e a Califórnia.
~bertura do comércio proporcionou aos pecuaristas latino-americanos
_.acc:s~oa .1lIl1_mercad()europeu qu.e a Rússia vinha dominando desde gs tempos
..~.!l_tigos.Isso limitou as possibilidades de expansão da América Latina. que
ocorreu em grande parte graças à extrema abundância da terra e a seu baixo
\-'.1, "~I \, I
12. jOHN L. STEPHENS. lncidents of Travei in Central America, Chiap as and l'"catan. Ne w
Brunswick (N, j,). 1949. vcl.I, pp. 300-301.
293
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294 f
. <, ~ O prolongado declínio dos preços do couro no mercado europeu dirni-
"j",?' nuiu perigosamente as margens de lucros dos fazendeiros. Decerto, os couros
\ \1.~.aI~~~':'.e.~,:rnsua ~osição de principal artigo de exportação, mas a criação ~on::.._
~.uou_~ __~!'-l'.~I1.d.i.~-.~ecom a diversificação dos~ro~u~os.pec'::.ários. Em 1820, as
~'v exportações de charque, iniciadas antes das guerras da independência, haviam
r? recuperado o nível anterior à guerra e continuaram a crescer até a metade do
ú'Y;~ \\ século. O P!incipal mercado para o charque ..er~lTlo~..e.~.~:a"o~.(pr!.J:l~ip'allTl~nte
'lem Cllb:;l e no Brasil). ~p<l!:.t.!rdel 83Q!. o.,~C:~~.P~§s.Q.l!..<l_~~.PE(!s(!P.taruma pªrce:
.,~, Ia maior das exportações para a Europa e, ao contrário dos couros, desfrutava,'\ .__ .._-- •...... - --'--'-'" ".-_.. . . -'''-'-'-'-'--- .._ _ .._ -.' -- -'-'-~
9-- de ul!!.a~le~ão de P!~5.9s quase constante. O sebo já não era exportado, em
{ I grande parte, em forma bruta, mas, estritamente falando, como~!~_~/1 trada por meio de vapor; os latifundiários e comerciantes das zonas rurais de
ar' Rio de Ia Pia ta, por exemplo, haviam instalado "usinas de vapor". Sua produ-
\) ção abrangia, portanto, o estágio da manufatura, embora esse _~~gis.se!!l:u..i:!P...".
pouco em quantidade e especialização da mão-de-obra ou em investimento de
.5..~p~tal.·A produção do charque exigia uma inêhEtri"á' emdimensÕêsmuTiõ
maiores. ~.ªE!:.i~~E.~ ,s.<l!g<l,?.iEE:~~<!<l_~()p.orto~~erto dt:!~.!..~~~C:I.1~.~~
malm~t~.~1.º. m~E.2.~s:i!lg!:i.(!.t}!!l_tr<lb~lha.dore.se, nas instala.s:~es.,!!l:~.i.()E~
__~.1gumas vezes várias centenas delas, os quais se especializavam. er~.~~!.~fas
amplamente diferenciadas, que compreendiam os vários.,est~Ji?S dO_l:?,~~~~~_
.0ento, desde o abate do animal até a salga e a secagem das peças de car~e. No
sul do Brasil, essas empresas manufatureiras, que se caracterizavam pela exis-
tência de muitos traços capitalistas, usaram principalmente a mão-de-obra
.' escrava. Já na região do Prata e no Chile os trabalhadores dos saladeros eram
assalariados, beneficiando-se dos altos níveis de remuneração desfrutados
pelos trabalhadores especializados das cidades latino-americanas da épocal3.º.~_trabalh_<l..<!~res<:!!lpregados na criação d~ado ta1l!Q.~!1:l~r..<l!n.._a~.<ll'!.~iª=
dO':;i..r:..e_<:~b_i_:;llTl,seussalãriosem ..dinheiroe não e~am obrigados, PO! ~.~~.11n.~.:
tâ~c~~~_não-ec~Eô~~.~.as....?_~...E~!,?!~o.!~~_c:.~!()L~,,~~~~l.os,~xclusiva~~~~ ..~~1-mercadorias adquiridas de seu empregador, ou do comerciante autorizado
I ,Pelo empregador a~<?.~~.ciar na estância. Isso_~a."erdadeiro com relaçãoaos
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LDG,IC. \. ,/"l ',-I \, I' i" ~\) \. [d?_f-"o.S\ L)
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13 Jêo. m relação ao sul do Brasil, ef. FERNANDO H -,CARDOSO, Capitalismo e Escravidão no Brasil
; "~eridional: O Negro na Sociedade Escravocrata do Rio Grande do Sul, São Paulo, 1962.
Sobre a região do Prata, ef. ALFREDO ). MONTOVA, Histeria de Ias saladeros argentinos,
Buenos Aires, 1956.
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!filbalhadores especializados e temporários, como os domadores de cavalos,
...o~ ferreiros e os almocreves,.c~j.<?~ .salários eram de qualquer forma_~~is altos
do que os dos trabalhadores permanentes. No entanto, embora esses últimos _c'
não tivessem acesso'êiiretoão-;ne-rcadõ"d~'consumo (e isso está longe de ser 1..:
.]
verdade em todos os casos) e fossem objeto de medidas l.eJ~}slati~~ que os ...:_~
obrigavam a manter um emprego permanente, sob pena de prisão, de traba-
lhos- forçad~~- ~~'de r~~;;;t~'~~~t~ 'pel~ ~~~~ito:t~-d~'~-;~~'apare'lho de con- ~..:;.
~~~!i.-é~õ~Ômico '~p~ütico.; d~·~~i.~dõCÕ~d!~~s.l'~;;eni~~t~~;-de t~das as . r ~
zonas pecuarístas - servia apenas para garantir a presença física da força de
------ - -_.... ••• -_ •• _--. ' •••.••• __ •• _ ••••••. _. ----, •• __ ••• ------_. __ o ._. •• ,_ •••••• _ •• __ ,_
trabalho nas fazendas de gado; essa disciplina continuava a ser extremamente ,
.4.~ficiente,em parte devido à pr6pria n~tur'e~a da pecuária e e~ parte por ·t·:
.sa..usa da escassez de mão:c!e.~.Q.º-ra. f...,:
Dos vários tipos de criação, a pecuária bovina (sobretudo nas áreas serniva-
zias da América Latina) foi de longe a mais afetada pelas conseqüências da
liberalização do comércio no início do século XIX. A criação de ovelhas, cabras
e animais nativos das Américas estava muito bem estabelecida nas áreas mais'.~· ._c
antigas, tradicionais e densamente povoadas, mas sua transformação somente <
veio a ocorrer na segunda metade do século, quando as novas pressões comer-
ciais se tornaram mais intensas e se disseminaram de modo mais uniforme por
toda a América espanhola. No período imediatamente posterior à indepen-
dência, apenas o Peru experimentou uma expansão significativa nas exporta-
ções de rã O'U de carneiro e ou de carnelídeos andinos.~l.9..._~_~.ii!4~t;:jg~l.l'.C>E.ém,.., \:-'
de que isso tivesse resultado de um aumento do número de animais produto-
res de lã; -r~~~Ito~ ~nt~sdéu';';:;~'~e-;;rier;t~çãonõ-s~~i:'id'o 'êiá exp~rtaçãõ t~a-nso-" .~-d~~ª~ús~ti.ilz.~d~ú~t~1.~i~~~·iú~I~.ip~~~.~ri~ __t.~x.til.anc!ina14: . ,'"
Alguns Setores da agricultura souberam aproveitar as oportunidades ofe-
recidas pela liberalização do comércio, embora nenhum deles se tenha adap-
tado às condições econômicas vigentes de modo tão completo quanto a
tPe'cuár;!;]As lavouras de.~l.i~!l t.e.m...Q.eri!..<!oJ.c:~!:~~.i.s,videiras ~ .oliveiras)
tinl),~tnp'gs~ib.ilidadesapen~~_~.f!1i!~~as. de. desenvolvimento por causa da
falta de demanda adicional no mercado eur~p~~' ~·dos·;It~~-~~~t-;;~d~ tr~;l~~_.- _ .•.. _ ....•._ __ - .....•-_ _- .._ .. - _----,. . _ ..__ _ .
-P.Ql1e •.As exportações de\f.ufilõ (uma cultura tanto de clima tropical quanto
temperado) !1.ã_~..~~s.!.~r!~_~31queL_~~me~to significativq,até meados do
: h / "','\ _> \. "~ \;. _)""\
14. JEAN PIEL, "The Place of the Peasantry in the National Life of Peru in the Nineteenth
Century", Past and Present, 46: 108-136, 1970.
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século; somente na Colômbia é gue esse processo teve início já no final da
.~. década de 1840._Quan~~_~0 c;~~~, a Espanha continuou a ser seu principal
,- ~C _ mercado. Por isso, a mudan a da estrutura do comércio extenor não favore-
J I Jm ceu tanto a produção dessa cultura quanto o fizera com relação a outros pro-
lS~,~,dutos agrícolas de exportação; ainda assim, registrou-se um aumento cons-H,/;J'C' tante da produção de cacau na costa do Eq~ad?!, e mesmo na Ven:z~~~, que
((! fora nos últimos anos do período colonial o seu principal produtor. Isso
\) acarretou um ligeiro aumento no valor absoluto das exportações de cacau,
J;:i iembora sua parcela relativa no total das exportações tenha declinado .
._.' :!::iª_Y~~zuela, ~_~!Il.I)}~I1º~.gralln!l-º.J;:ql!a~().r,.()_ca~au_e!apr.?~uzido pela
"\ rrl.ão-~..:.-.~br~escrava, que, desde o início da r:~~ns~rução econ.?!!1.ic.aI1().Eós-
independência, começou a escassear :m conseqüência da .alforria e do rec!,:::
"tamentoforçado durante a guerra. Parece que no Equador essa escassez de
mão-de-obra, embora relativamente menos importante aqui do que em
outros lugares, foi suprida pelos índios da costa e das montanhas. Estes não
foram organizados para a produção numa unidade como a hacienda tradi-
cional; fixaram-se em terras pertencentes aos hacendados, a quem entrega-
vam parte de suas safras e, segundo parece, pagavam o arrendamento com
trabalhol> ..Na. Ve!1~zuela, o p'r_~~~.!'_~Loj..@!ij~~g~p}.ex<>.:..~~y.~~o à predomi-
lC..' ~!~~.i<:"<:'I'l!.e..r.iorda mão-d.:.-.o.IJ:a escrava, agu~rr~tivera na V~nezu.e~~um..
efeito maisdesintegrador sobre a força de trabalho do que no Equador.jíe,
modo que no pós-guerra foi feito um esforço constante e não totaln~H:nte
, fr~s~~a4~ ..Q.t;.~eY91y'~r.aJ.gllI1s4e.s?es escravos a seus serihorese ~oLocar os
\: _I'l~gr..9~e_I!l.~Ec}p.~dosem condições comparáveis, sob mu.itos~.~p'e~tos, à
1... 'ê~cray.idão. Não obga.l1.te, aproporção ..tantode escravosquanto q~~x::.escra-
i ~()s_n.~.!()r.s.~de trabalho declinou progressivamente. Parece que na Venezuela
os escravos foram substituídos mais freqüentemente por trabalhadores a~s.'!:
lariados do que por camponeses que trabalhavam nas terras de seus sel1~~
',:m troca de lotes.~r:~:~ll_~,:~~em cultivar suas próprias lavouras.
O cacau perdeu sua importância relativa na agricultura venezuelana devi-
do, acima de tudo, à expansão do cultivo do café. O café fora cultivado na
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Com relação à Venezuela, cf JOHN V LOMBARDI, The Decline and Abolition of Negro Slavery
in Venezuela, 1820-1854, Westport (Conn.), 1971, passim. No tocante ao Equador, cf.
MICHAEl T. HAMERlY, Hístoria social y econômica de Ia antigua província de Guayaquil,
1763-1842, Guayaquil. 1973, pp, 106 e ss.
Venezuela durante o período colonial. Expandiu-se rapidamente no período
de pós-guerra, alcançando seus níveis de produção mais altos na década de
1830. A cultura do café em terras novas demorava três anos entre o plantio das
mudas e a primeira colheita e, portanto, os primeiros lucros. Os proprietários
rurais que empreenderam a expansão dessa cultura não tinham capital; foram /
~.~rigados, portantoyalevantar di~h~ir~!cado, A lei de 10 de abril de
1834,. que eliminou as restrições sobre a liberdade contratual impostas pela
legislação contra a usura herdada do período colonial, teve como principal
finalidade criar um mercado de dinheiro de bases mais amplas; seu sucesso foi
talvez demasiado. A prosperidade do setor cafeeiro encorajou os fazendeiros a
levantar empréstimos a taxas de juros extremamente altas, e, quando essa
prosperidade chegou ao fim em 1842, eles tiveram bons motivos para larnen-
tá-lo. A tensão entre uma classe de fazendeiros cronicamente endividados e 11
um setor mercantil e financeiro zeloso em cobrar suas dívidas acabou tornan- I '..... _ "... .. .. _. - :/
do-s.~.urnJator_fund~mental na turbulenta história política da Veriezuela
~urante as várias décadas futuras, No entanto, o fim da explosão do café, que,
se seguiu a uma queda nos preços, não o afastou do lugar central que ocupava
na economia de exportação da Venezuela. O volume das exportações subiu
cerca de 40 por cento no período de cinco anos após a crise de 1842, em com-
paraçãocorn os cinco anos anteriores, e esse novo patamar seria mantido até
1870, quando teve início uma nova expansão extremamente acentuada. Nos
meados do século, o café representava mais de 40 por cento das exportações
da Venezuela e, na década de 1870, chegou a alcançar mais de 60 por cento!".
Ao co!!,v-ªriçui9.-ªra§..il,ondea expansão .do c\llti~-º ..<:I-º..Q[.LIl~.s_~e..P.~TLodoI
~e.\.l qY!l~e totalm(!JH~_Qª---fºIça detIilb.alh9.~<::!:ªY'<l,OS produtores de I
café dayenezuela empregaram geralmente mão-de-obra livre. As crescentes
dificuldades financeiras dos fazendeiros, porém, acarretaram um declínio no
uso de mão-de-obra assalariada; agora tornavam-se mais freqüentes os ~.:.
. jos entre produtores de café e conuqueros, empregados que em troca de con-
cessões de terras trabalhavam nas lavouras de café. No fim, esse passou a ser o
sistema de trabalho predominante nas regiões cafeeiras da Venezuela.
Assim, apesar da sua necessidade de capital e de mão-de-obra, o cultivo
do café na Venezuela encontrou um meio de sobreviver e expandir-se duran-
te o período pós-independência, quando as lavouras cultivadas por mão-de-
16. 1ZARD. Series estadisticas, pp, 191-193,
297
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298
obra escrava já não pareciam uma solução viável a longo prazo. Por outro
I lado, .2_~I~iv~.~~~.?~.?~.~~:~~ú,,~~_~~_~_o.~_a.a. América espanhola estiveracon-
; .E!2.~~~aoq~adr.~_de l~v_oura que~mpregava trabalho escravo (as pequ.~E.~.
'. áreas .<I~_'pl~ntiode cana-de-açúcar no México foram uma exceção apena~_
<:j;)- ,_parcial) e mostrou dificuldade em escaP3lr desse sistema. Nas zonas litorâneas;
\ ..90 Peru,_~ cultivo da cana-de-açúcar no período pós-independência depen-
I . .& "'_~~~_.~.o u~.9_cl~~!:'2.-~~:o~_~~.escr.av.a,_~al_c?~o ocorrera em todo ,,?_p.eríodo
\ ; .~ I ~_o10,I?-J.~!,:..J::__~s....E!~n!a.~o..re~de cana-de-açúcar sempre apontar~rn,.f.~.f ~' "princ:i~al r.a,zão para a estagnação da produção (até a década de 1860La.
~ .g " im P.()~,~i.!?ilicl_~~e_9_:a.E_~e~~_?_ ~~~.!::,?",~~,s_<:E!l~~s:,Uma explicaç~().~ais
\)t sa~i.sf.a.~_6.!:i.a.J_J?<?!:..éIJl:?p'a!..ece!~E_~~.9~~~~n.:~i~_?~_I11er_cado~~A única região da América espanhola onde a agricultura tropical experi-
mentou um avanço espetacular, na forma de cultivo da cana-de-açúcar, foi
paradoxalmente Cuba, que, juntamente com Porto Rico~~~~~~~,~ubme-
.tida à Espanha durante todo esse período. A breve ocupação de Havana pelos
ingleses, em 1762, é considerada geralmente o ponto de partida de uma fase
de expansão que, apesar das oscilações, deveria prosseguir por mais de um
século, No final do século XVIII, a economia cubana, até então diversificada~
\ ,\ mas pouco desenvolvida, começou a reorientar-se lentamente para uma pre-
., dorninância do açúcar, embora o fumo e o café tenham também se expandi-
, ,,: do e a pecuária não tenha de forma alguma desaparecido. A coroa espanhola
" estimulou até certo ponto esse processo ao tornar mais liberais as leis que
~; regiam a aquisição e utilização de terras. No entanto, tiveram muito maior
" ,l efeito outras mudanças externas, notadamente o fim do domínio francês em(. I -_. __ ._-
:::" \ i Saint-Domingue, que removeu do mercado o maior produtor de açúcar do
u'~ ' r------.-- ..-.---.-- --'---..--.-,_..-,-" -- - ,,----..----.--
3 01~'\1~ndo e acar.:.et01::~!~ação de~!gun~_fazen~eir<:~'.~m _seus capitais e
~ '\~ 'f escravos - para Cuba.
:=: :;,., '\: I No inicio do século XIX, o centro de gravidade da produção açucareira
z
~ deslocou-se da província Oriente para Havana. Contudo, por várias décadas,
~ a unidade de produção, o engenho, permaneceu relativamente pequena,
; devido aos altos custos do transporte e ao combustível de que o engenho
~ necessitava. Alguns grandes produtores chegaram a possuir vários engenhos,
z
~ mas mesmo eles dependiam extremamente dos comerciantes que lhes
~ haviam adiantado o capital inicial e que continuavam a supri-los de merca-
uE dorias e, sobretudo, de escravos. De fato, foi a oferta fgll~t.a..!1!~_g~_c-ªtiYos,a
~ maioria dos quais importados diretamente da África, que possibilitou a
4(' • ------ •• _._.~. --.---~---~- •• -- •• - •• ---- •• -.--.. •• .- •••• ~ - •••• .' ••• -----
. _~.~'p"aE.s_ã9,da ..P!_ºAI,!S~g_c!9"aç~qL~m Cu_~Na primeira década do século
I
~
1
299
XIX, a Inglaterra e os Estados Unidos haviam fechado seus territórios à
entrada de escravos e proibido seus cidadãos de tomar parte no tráfico escra-
vista internacional. Entretanto, apesar da forte pressão internacional (sobre-
tudo da parte da Inglaterra), a Espanha teimava em não cumprir um antigo
compromisso - e acordos posteriores - de acabar com o tráfico negreiro. Essa
proteção que a Espanha dava ao comércio escravo não foi o motivo menos
importante para que os barões do açúcar de Cuba continuassem a aceitar o
domínio espanhol sobre a ilha, uma vez que uma Cuba independente teria
tido muito menos possibilidade do que a decadente monarquia espanhola de
enfrentar as exigências inglesas. No decorrer do século XIX, antes do término
do tráfico negreiro na década de 1860 - dez anos após a supressão definitiva
do comércio de escravos para o Brasil em 1850-1851 - Cuba ainda importou
centenas de milhares de negros cativos. O tráfico atingiu seu ponto mais alto
entre 1835 e 1840, quando 165 mil africanos foram levados para a ilha, a
maioria dos quais se destinavam às lavouras de cana-de-açúcar. A população
escrava, de menos de 40 mil que contava em 1774, subiu para quase 300 mil
em 1827 - período em que os brancos deixaram por algum tempo de ser
maioria - para alcançar em 1841 a cifra de 450 mil negros 17, -I 6
z
A partir da década de 1840, registrou-se uma queda na importação de ,_ ~
'--'~ z
escravos, à medida que a Inglaterra conseguiu controlar com mais eficácia o ~
tráfico negreiro no Atlântico. Não obstante, a expansão da cana-de-açúcar ~
prosseguiu por mais duas décadas. Na verdade, essa expansão já não dependia "~
tanto de grandes aumentos da força de trabalho escrava, Já em 1834 teve iní-. ': ~
•.--.-.-~--,~_.-.-..~----- , I o
ci? em Cuba .a const:llção da.ptim.e~ra estrada de ferro, cujo primeiro trecho I~J ~
foi inaugurado em 1838, época em que nem a própria Espanha nel!la Al?érica_, !i ~
espanhola independente tinham vias férreas, O trem não só facilitou as cornu- -'I ,\ ~
_;F~~?~sentre o~produtores de açúcar e o porto, como também tornou possí- : ~
vel a expansão da cultura da cana-de-açúcar, impedida até então pelos altos: / .~
•. - ". I
..f.lJ$tQ$p()Jrar.!sporte; libertou igualmente as fazendas da dependência das fon- :
tes de combustível localizadas e;;·;á;e-~~ p;Ó;i~as, p~'~sibi1itando seü-Cultivo i
--;;-~ma parcela maior das terras da fazenda. Mais tarde, o trem foi levado até i- _... ------0._. _.... ..~__ . . _
dentro da fazenda, tornando as comunicações internas mais baratas e mais----- -_ .. ---.-.--____ .0... _.. 0 ..;..:...~ '
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17, FRANKLlNW. KNIGHT,Slavc Society in Cub" during the Nineteenth CCrH11ry, Madison, 1970, p.
22 (Tabela 1), p. 86 (Tabela 8), Para uma abordagem adicional sobre a escravidão e a indús-
tria do açúcar em Cuba, cf. THoMAs, Thc Combridgc History Df Latin American, vol. III, cap. 7,
300~ <•.:fici=~~~_~_.(!c~nt~i~~~n..do,assilll, de .forma decisiv~.par~~up~:~:!~}imitações
anteriores em termos de tam~n~.~j_~_~a._~~.PE~i~dade individual1S• _
Por outro lado, a crescente dificuldade na renovação do contingente de
escravos abriu caminho para uma transformação paralela na indústria do
açúcar: o uso mais generalizado de engenhos a vapor. O emprego do vapor,
por sua vez, tornou inevitável a transição da fazenda onde trabalhava uma
centena de escravos e produzia uma centena de toneladas por ano para uma1!'.' unidade muito maior, acarretando a substituição de grande parcela da classe
J ~ 'ii' latifundiária. Caracteristicamente, 9S que melhor aproveitaram as novas
,~'\D.i J ..0. po<tunid,d" nãomm Od~.~~ár.i~.S._._.~~..C.laS~__~._.~J~E~.~l.'eta.'ri~ ..r.u.r~s, mas
r ~ \) ~o setor comercial. Nã~~~_t~t().~.a.peI1as de uma diferens.a.~e mentalidade,
~'~:K J~?r:.é.~_~~_~:.paridade de re~_1:l.r_~.~~ ... ~ig.~!...~~~~~draçúcarJõtr5s
d1~ tinham condições de fazer os investi,:?~nto . exigidos peí1lmodernização
,1" Mesmo assim, a expansão da pro - açúcar em Cuba,ain-da·base-ici"a
. I como era no trabalho esc.ravo, constitui a }TIaior história de sucesso econômi.-
""""15~~a primeira meta~.~() ..~!..c=uloX!X n~ A~érica Latina.
Além disso, exceto pelo pouco capital inglês investido nas estradas de
ferro, esse sucesso não se deveu a uma incorporação maior da economia
cubana ao mercado de capitais europeu, então em expansão. O capital neces-
sário para a expansão da produção de açúcar proveio ou da própria ilha (caso
em que o capital mercantil, como observamos, desfrutou de posição predo-
minante) ou da Espanha, ou mesmo dos espanhóis que haviam abandonado
o continente logo após a independência. (Cuba parece ter sido o principal
refúgio, por exemplo, dos fugitivos do México na década de 1820.) Em Cuba,
do mesmo modo que no continente, ocorreu uma ausência quase total de
capital oriundo de novas fontes ultramarinas. Em comparação com a
América espanhola independente, Cuba atingiu durante esse período uma
impressionante taxa de crescimento.
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I-º_ê~~~_':.~~p_c}onal da economia c.':l_t:a.~.~~exportação foi o principal fator a
.J .:.~tiI~~ulara e:<:~~~_~~.!:.ansf.?.:~~ão.da..s.():~.~~~ec~~~na, sobretudo a.mudan-
.!~I1_<:compo~ição étnica da população. Na América espanhola continental, a
economia de exportação, que mesmo nas regiões mais favorecidas não se
expandiu tão rapidamente quanto em Cuba, constituiu uma influência muito
18. Para uma excelente análise desse processo, cf. MANUEL MORENO FRAGINALS, fi ingenio: fi
complejo económico social cubano dcl azúcaT. Vol. I: 1760-1860, La Habana, 1964.
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menos importante sobre as mudanças sociais no período que se seguiu à
independência. Na verdade, segundo a maioria dos observadores da época, as
mudanças sociais, ao contrário, criaram obstáculos e limitações aos quais as
econõ-mias exportactOras foram forçadas a ada-ptar-se. ---..---- ..- ... -...
--- Isso não querdizer que não há exemplos de regiões em que as mudan-
ças na textura da sociedade foram induzidas pelo crescimento da produção
para exportação. Consideremos, por exemplo, o Norte Chico, no Chile, onde
emergiu uma sociedade estrutura da com menos rigidez do que a do Chile
central. Contudo, são poucos os exemplos tão convincentes como esse e,
mesmo aqui, seu impacto sobre o conjunto da sociedade chilena foi relativa-
mente pequeno. Os outros exemplos de crescimento do setor de exportação,
do grande sucesso dos couros na região doPrata e do café na Venezuela ao
sucesso mais modesto da lã no sul do Peru, tendem a confirmar a idéia de que
o esforço para expandir as exportações somente poderia ser vitorioso se seus
protagonistas aprendessem a adaptar-se a uma estrutura em lenta mudança,
mas na qual tinham uma influência apenas marginal. Uma vez que, em quase
toda a América espanhola continental, do México à América Central, de Nova
Granada (Colômbia) à costa peruana e à Boliviavo cre.~~imeI1t()._~.~s~t_o_r_cl~
exportação foi inesperadamente pequeno nesse período, cumpre examinar
outros f~tores que influe~ci~ram~~~;';tid~d~~;';~d~;';ç~~ soc;~;s, n~t~d~~·~~~
~crise da antiga ordem colonial (e não apenas da estrutura administrativa,
/fi),y'1-ambém do conjunto de padrões que regulavam as relações entre os gru- / o
~os étnIêõse·sociais) e a abertura da América espanhola ao comércio mun- : g
CTÍa[cômtudo o que isso significou (e não apenas no campo do comércio). '\ :'i
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Naturalmente, as Guerras da Independência contribuíram enormemente \ ~
pata minar o ancien régime na América espanhola. Foram as primeiras guer- -·'f §
ras desde a Conquista a afetar diretamente quase toda a América espanhola
continental. Não apenas acarretaram a destruição do patrimônio, como I
vimos, mas também as mudanças nas relações entre os diferentes setores da i
sociedade hispano-americana. A fragmentação do poder político, a rnilitari- !
zaçã-;; ~~.sociedade, a rnobilização de recursos, e sobretudo de homens, para a '
~E~a significou que a antiga ordem social e em especial o controle social
~s.dasses subordinadas nunca seriam totalmente restaurados, por exemplo,
nas planícies e na região Oriente da Venezuela, nas montanhas do Peru e da
Bolívia e nas planícies do Uruguai.
As. rd~.ç_õessociais durante e após as Guerras da Independência hispano-
americanas foram afetadas profundamente por uma nova ideologia liberal e /
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g02/igualitária, que rejeitou a sociedade hierárquica típica do período colonial e~ '\::;r:::t~IT%~!~t::J;::~:::~!~:;lÍ~:j:;'~~;;l:i;.~~:.~~;;:
Três características da sociedade hispano-americana em particular confli-
~_v~~,~,~r?:'~S!:I1_~~I1_cia~_~ai~.!i~_e~~~s~-i~u!litÚi~;d~';;;!~i.o 'd~s~~:~~-~I~~
~ ~s~r~v.~~ão negT.a,;.a_d.i~~.J"im.~~açãolega},_pú?lica e Erivad~::.~ntr~~,?:esti-
_~_~2..~..~i.~,i_~~9..c!~_~~~_i~4a~~2..!~~.a!!!i.~,..9..l!~_I!.~<?_.a_RE~p'~i~,Ç<.?~!.!.~~~-,-numa
república de espafioles e numa república de indios, separadas por barreiras que,
-;;~bora'fo;sem n'~~~~dade ~~it~fác~i;-d~' transpor, ai~da-~~ 18i~-;~ti~-
nuavam até certoponto noí~g~r. .
No início do século XIX, em nenhum outro lugar da América espanhola
con tinen tàra-escrãvldãõ-êraÚofundamentãfparã- as ~e[açÕes-de p~odução
qua~!() __:~C~b~-~'natural~ente ~o Bra~il. A maio~i~-dos governos revolu-
cionários haviam acabado com o tráfico de escravos, em muitos casos já em~< l81ü"::-i'iíii:-Tinham sido decretadas, por exemplo, no Chile (1811), na
·S'-\:: ~i;;ti;;-~"(r8i3[n';'Gran Cúiõ'iii'bi';' (fS2I), no Peru (1821), leis que Iiberta~'" ----._-_.....
.~~ vam os filhos nascidos de escravos, as chamadas leis do nascimento livre,~ ~ -------- .... .- .. - - .. ----_. .. . ..
~ '~~~.~,<?!! __~.:~ha~ sido neutralizadas em parte por regulamentos que estabele-
"'<:: . ciam um período de aprendizado ou de trabalho obrigatório para pagamento
\!J < d~s despesasde criação, As leis do nascimento livre raramenteforamimplan-
\.'2' :fi i~~da.~c~~-~fi~ácia ede qualquer forma, excet~ a longo prazo, não constituí-
~. -~ I ram um ataque à instituição da escravidão em si. Já dissemos que as exigêri-
~ ''': \ ~i-;;-s-da guerra ocasionaram o recrutamento de escravos, aIgü'ns-âlf6iúados'e
~ S ;outro's não. Após a independência, alguns países cuja população escrava era
:õ ~ i ínfi~a aboÚ~;~~~~~~avidão: ~ Chil"eÚ823), a Ã~é~i~~'éentr~r(i8";i:Ú;--õ
u -.--_. . .-.-... .... -" .. , , '0 •
~ • México (1829). Ao mesmo tempo, foram envidados esforços para revitalizar
Cl '--- - '. ""... . '.. •. _ .
~ a instituição, sobretudo naquelas áreas em que ela apresentava alguma rele-
~ ! vâ~cia ~~-e-~~;~~ia de exportação. No entanto, esses esforços foram f~u-;;~-~'z ' __"_.,~ .__..,.... . .....o ••• "._ ' ••• " __ '_ •• 0 •• _., •.• _..... '" •••. _ ••• ,
:;: : dos pela exaustão das fontes externas de escravos, como, por exemplo, o tráfi-
~ co africano tã;- necessárT~-à-~~~;;t~~çã"~-d;;-~iste;~-~~~;;vi~t~:'N~--~é~i~à
-c -.----.- ....•_ ... - ..... ""'.""_' o., •• •• • • ._ _ •.•.•• ••.• •.• •• '. ,..
:i i espanhola continental, somente a região do Prata importou escravos em
~ númerõssYgnTficãtivos 'apÓs -aindêpendênd';-~ e -depois are'nas nã-êléc-ãdãde-Z· •..•.. .. • ..__ . _
;:: 1820 e na de 1830. Isso acarretou um declínio inexorável da escravidão afri-
~ cana em t~·;~~-t~t~-d;q~a~tid~d~-q~a~-t~d~-q~;Úd;d-;-~-~~pli~;p~-~~'u _. . ._.__.__ .._. . _
~ abolição acabou por ser decretada, na década de 1850, nas províncias da
::;: ----- _._-._---- .•....... --"--. ''' .. --_ ... ----..- _ ..... -..... __ .---------_._ ....-----, -- ..... --"---
< Argentina, da Venezuela, da Colômbia e do Peru, sem causar grandes turbu-
< lêi1éíãSSõCíãíse- econômicas-o ------. "-'--
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,_l0~n2~ hesitante, ~ ?o. todo mais b~~-su~!!Ai_<1~:.i~; a_~n~e~ida_:..oE.tra a
discriminação legal a qU!!eramsubmetidos os mestis:()s)\f~:v~rda_4~,J>.~~bo-,
liçãoJoi menos completa e imediata do que deixaram sup_()r as _1T!~dj<!~~
anunciadas durante o período revolucionário; para citar apenas um exemplo,
-~'~'~egião d~ rio da Prata, onde a retórica e a legislaçãoiguaIitá~-ia-s-~;t_;;va;;
e~-gr~I1~': evidê~:i_a_n~?~~daque se seguiu à Revo~~<[~ode 181Q, mestiz~s ~.
pardos não foram admitidos na Universidade de Córdoba antes da década de
1850. Além disso? quando u~ .Ilov().paístinha algum inte-r_e.ss~Ji..E~~~}:.o~?à
~~~!ltenção de padrões diferenciais, as desigualdades tinham mais probabili-
~ge de perdurar: no Peru, por exemplo, oimposto pagopelos .rn.es!i~.o_s(co~
t!.!bución de castas), que gerava urnarenda considerável, foi abolido por breve
período, mas depois foi restabelecido e permaneceu em vigor até a década de
_...... I
~9.: No entanto,.em guase toda a part~ ~ sis.te~.a de cast~s étnicas: f()i!!lj.!?~- I
_~~rn suas pró.pnas ~aíz~s g~ando, des~e O tnICI~ do peno do naclOnal,~el: I
_.~.?_u..~eser-obrigatórioojregistro da ongem racial da cnança ao nascer) ° !
Peru chegou a abolir os registros separados de batismos e casamentos pára i___.. I
mestizos e índios.
--Ã. vitoriosa abolição da diferenciação legal entre os grupos étnicos, embo-,a
·z
ra não tenha determinado necessariamente o fim da desigualdade no paga- . ~ '
z
. mento de impostos, torna-se mais compreensível quando se tem em mente -, :;:
que, nos últimos anos do período

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