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Hepatite C Crônica e Ascite I. CASO CLÍNICO Resumo da História Clínica Paciente, sexo masculino, 42 anos, portador de hepatite C crônica foi internado no Hospital dos Fornecedores de Cana no dia 03/09/2010 com um quadro de ascite refratária, sentindo dores abdominais e dispnéia. Foi realizada a paracentese, cultura do líquido ascítico, além de exames laboratoriais para diagnosticar a evolução da lesão hepática. Seu tratamento medicamentoso consistiu basicamente na utilização de diuréticos e albumina para reverter o quadro clínico. O paciente recebeu alta no dia 14/09/2010 com um diagnóstico de pré-cirrose, sendo reencaminhado ao Cedic (Centro de Doenças Infecto-Contagiosas) de Piracicaba. Diagnóstico Clínico Provável Ascite refratária decorrente da hepatite C crônica. Patologias apresentadas pelo paciente Hepatite C crônica Ascite refratária Define-se como refratária a presença de ascite não responsiva ao repouso e a dieta com 500 mg de sódio/24 horas, associada ao uso de 400 mg de Espirolactona e 80 mg de Furosemida por dia. Hepatite C Crônica Diagnóstico Laboratorial Exames laboratoriais: • Hemograma completo; • ALT, AST; • tempo de protrombina, bilirrubinas, albumina; • Anti-HCV • Anti-HIV; • biópsia hepática; • PCR (quali e quantitativo) • Genotipagem do HCV (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Tratamento Medicamentoso De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Hepatite C (2002) o tratamento a ser seguido é: a)Interferon alfa-2a recombinante: b) Interferon alfa-2b recombinante c) Interferon peguilado alfa-2a d) Interferon peguilado alfa-2b e) Ribavirina Interferons são glicoproteínas produzidas pelas células do organismo. Até agora foram identificados três tipos: o alfa, produzido por linfócitos B e monócitos, o beta, por fibroblastos e o gama, por linfócitos T-helper e NK. ASCITE Ascite Ascite também conhecida como "barriga d´água“ A ascite é o extravasamento do plasma sanguíneo para o interior da cavidade abdominal, principalmente através do peritônio, provocado por uma somatória de fatores (JORGE, 2007). A etiologia mais freqüente de ascite é a hipertensão hepática secundária a doenças crônicas do fígado, e é a que corresponde a mais de 80% dos pacientes com ascite. Com o aumento da resistência ao fluxo de sangue através do fígado (pela desorganização estrutural e/ou contração dos sinusóides na doença hepática), há um aumento na pressão em todas as veias que confluem na veia porta (sistema porta hepático). 3 Principais mecanismos da ascite 1. Hipertensão portal 2. Pressão coloidosmótica (ou oncótica) Sem a quantidade adequada de albumina, a pressão oncótica nos vasos sangüíneos diminui, o que torna mais "fácil" o extravasamento do plasma que está sendo "empurrado" pelo aumento na pressão do sistema porta. 3. Retenção de sódio e água pelos rins Sempre que aumenta a pressão em um vaso sangüíneo, o organismo passa a liberar substâncias que levam à dilatação do vaso, para controlar a pressão. Na hipertensão portal, os vasodilatadores são liberados em todo o sistema porta, o que faz com que a quantidade de vasos dilatados seja muito grande e não estejam restritos apenas ao sistema porta (há uma vasodilatação em praticamente todo o organismo). No entanto, a quantidade de sangue é a mesma, o que faz com que, além de não resolver completamente o problema de hipertensão no sistema porta, a pressão sangüínea em todo o organismo esteja reduzida. No entanto, os rins interpretam a pressão baixa como sinal de que falta líquido no organismo, portanto passar a usar mecanismos (sistema renina-angiotensina-aldosterona) para absorver mais sal e água e tentar elevar a pressão. Punção do Líquido Ascítico • Proteínas totais e frações; Glicose; Mucoproteínas; Amilase; DHL • Bacterioscopia • Cultura e Antibiograma • Citologia Oncótica • Contagem de Leucócitos Diagnóstico Laboratorial Fonte: http://www.fmt.am.gov.br/areas/virologia/hepatopatia.htm Os leucócitos polimorfonucleares (neutrófilos) são células de defesa do sistema imunológico. O achado de mais de 250 células por mm3 é altamente sugestivo de peritonite bacteriana espontânea. Entende-se por PBE a infecção do fluido de ascite, sem haver um foco intra- abdominal aparente causador da infecção. Entre as infecções que acometem os pacientes com hepatopatia crônica, a de maior importância é a peritonite bacteriana espontânea (PBE). Cultura do LA (líquido ascítico): A maior parte dos microrganismos responsáveis pela PBE é integrante da flora aeróbica normal do intestino, sendo que 60 a 80% são bactérias aeróbicas Gram- negativas. A bactéria que mais freqüentemente é isolada nos casos de PBE é E. coli. Outras bactérias como K. pneumoniae, S. pneumoniae e espécies de estreptococos são também encontradas com relativa freqüência, sendo descrito, no entanto, um espectro muito grande de bactérias. Para a coleta de líquido ascítico aplicar a seguinte metodologia a) Paracentese diagnóstica nas primeiras 24 horas de internação; b) Coletar 20 ml de líquido ascítico; c) À beira do leito, colocar 8 ml do líquido coletado em um frasco de hemocultura; d) Semear uma amostra do líquido em meio Agar sangue e MacConkey. Incubar em estufa a 37ºC, por 48 horas; e) Fazer cultura, também em Agar chocolate e Agar sangue, em condições de anaerobióse, a 37ºC, por 48 horas; f) Em frascos estéreis com citrato de sódio a 3,8%, na proporção 1:10 (5 ml de líquido ascítico + 0,5 ml de citrato de sódio) colocar 5 ml do líquido, para exame citológico; g) O líquido ascítico para exame exame bacterioscópico será realizado através da centrifugação (3000 RPM) por 5 minuto. Preparar uma lâmina com o sedimento e corar pelo método de Gram, e outra, para a pesquisa de Barr, corada pelo método de Ziehl-Neelsen; h) Colocar 5 ml do líquido em frasco estéril para a realização de exames bioquímicos; i) Colocar 2 ml do líquido em frasco estéril para a pesquisa de células neoplásicas. Fonte: http://www.fmt.am.gov.br/areas/virologia/hepatopatia.htm Ágar MacConkey é um meio de cultura destinado ao crescimento de bactérias Gram negativas e indicar a fermentação de lactose. As bactérias fermentadoras de lactose (Escherichia coli, Enterobacter e Klebsiella), utilizam a lactose disponível no meio e produzem ácido como produto final. Este ácido diminui o pH do meio para valores inferiores a 6.8, resultando na observação de colônias rosa choque/vermelhas. O Meio ágar Chocolate é um meio não seletivo tradicionalmente utilizado para o isolamento de microrganismos. Este meio contém substâncias nutritivas que favorecem o crescimento da maioria dos microrganismos de interesse diagnóstico. É o meio utilizado para a maioria dos materiais clínicos, permite o crescimento dos patógenos fastidiosos como Neisseria spp e isolamento primário de Haemophilus influenzae, H.parainfluenzae e H.ducrey. Ágar sangue O meio Agar de sangue, que permite a distinção entre bactérias hemolíticas e não- hemolíticas. Tratamento Medicamentoso da Ascite Diuréticos Os dois diuréticos mais utilizados na ascite são a espironolactona e a furosemida. A furosemida (lasix®) é um diurético de alça, muito potente, mas que tem a desvantagem de causar um aumento da eliminação de potássiopela urina, podendo levar a falta de potássio no sangue - hipocalemia - uma condição que predispõe a cãibras e, em casos mais severos, a arritmia cardíaca. A espironolactona (aldactone®, diacqua®) apesar de ser um diurético menos potente, tem a vantagem de promover a redução da eliminação de potássio na urina, contrabalançando a perda induzida pela furosemida. Procedimento Médico Paracentese abdominal A paracentese abdominal é um procedimento médico no qual é introduzida uma agulha no abdome para a extração do líquido ascítico. Pode ser realizada quando a ascite está tão volumosa que provoca falta de ar, quando o uso de diuréticos em dose máxima não foi suficiente para controlar a ascite. Um cuidado a ser realizado, nas paracenteses com retirada de grande volume de líquido, é a administração concomitante de solução de albumina na veia, para manter o equilíbrio de pressão nos vasos. Estudo de caso: Foram retirados 10 litros de líquido ascítico. Exames laboratoriais - DATAS - EXAMES 3/09 7/09 9/09 11/09 VALORES NORMAIS (para maiores de 15 anos) ERITROGRAMA (Série Vermelha) Eritrócitos - Glóbulos Vermelhos 2,79 2,71 2,69 3,26 Homens: 4,5 – 6,0 milhões/mm3 Mulheres:4,2 – 5,4 milhões/mm3 Hemoglobina 10,0 9,4 9,3 11,3 Homens: 13,0 – 18,0g% Mulheres: 11,0 – 15,0g% Hematócrito 30,6 28,9 28,8 34,2 Homens: 40 – 54 % Mulheres: 36 46 % VCM 110 106,6 107,1 104,9 80 – 95 ug HCM 34,7 34,7 34,6 34,7 27 – 33 ug CHCM 33,0 32,5 32,3 33 32 – 36 % Plaquetas 112 96 69 71 N. de 400.000 / mm3 - DATAS- EXAMES 3/09 7/09 9/09 11/09 VALORES NORMAIS (para maiores de 15 anos) LEUCOGRAMA (Série Branca) Leucócitos 6,3 4,8 4,8 6,3 4.5 – 10 mil / mm3 Metamielócitos 0 0 0 0 0 % Bastonetes 01 01 01 01 0 - 02 % Segmentados 49 39 39 39 48 - 68 % Eosinófilos 03 03 03 03 01 - 04 % Basófilos 0 0 0 0 0 - 01 % Linfócitos 38 43 43 45 20 - 30 % Monócitos 09 10 10 10 04 - 08 % - DATAS- EXAMES 3/09 7/09 VALORES NORMAIS (para maiores de 15 anos) COAGULOGRAMA TTPA 36,3 40,5 22 a 36 seg TP 19,5 27 11 a 16 seg RNI 1,5 2,16 0,91 a 1,25 - DATAS - EXAMES 3/09 7/09 11/09 VALORES NORMAIS Uréia 21 20 15 – 40 mg% Creatinina 1,0 0,9 0,4 - 1,6 mg% Sódio 138 139 141 134 – 146 mEq/l Potássio 3,3 3,3 4,0 3,5 – 5,3 mEq/l Proteínas Totais 6,3 5,7 - 6,0 – 8,0 g% Albumina 2,0 2,0 - 3,5 – 5,5 g% Globulina 4,3 3,7 - 1,0 – 3,0 g% Exames laboratoriais EXAMES 3/09 VALORES NORMAIS TGOS (AST) 92 0 a 39 U/L TGPS (ALT) 70 0 a 39 U/L Fosfatase Alcalina 109 Adulto 27 – 100µ/ml Criança 27 – 217µ/ml Bilirrubina Total 2,44 0,5 – 1,2 mg% Bilirrrubina Direta 1,24 0,1 – 0,4 mg% Bilirrubina Indireta 1,20 0,1 – 0,7 mg% Provas Bioquímicas Exame complementar: líquido ascítico (LA) Exame físico: Cor: amarelo Aspecto: límpido Coágulo: ausente Exame citométrico Leucócitos: 2 p/mm³ Hemácias 117 p/mm³ Exame Bioquímico: Proteína: 0,8 g/dL Glicose: 159mg/dL Densidade: 1020 OBS: Não houve proliferação de bactérias patogênicas
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