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INFÂNCIA E DIVERSIDADE: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE INCLUSÃO DE CRIANÇAS “DIFERENTES”. LOPES, Francisca Rodrigues – PUCSP/UFT-TO. france@bol.com.br. Eixo Temático: Diversidade e Inclusão. Resumo A educação de crianças tem se tornado cada vez mais complexo na medida em que os meios de comunicação, na mesma proporção em que criam uma cultura globalizada capaz de padronizar comportamentos e modos de vida acentuam as diferenças sociais existentes. Fazendo com que aqueles sujeitos – nesse caso, crianças – que pertencem a etnias, classes sociais, cor, sexo e corporeidade diferentes passam a conviver com a exclusão social. Tudo isso vai exigindo dos professores e da escola a proposição de novas metodologias de ensino que atendam a diversidade de crianças em salas de aula, e encontre formas democráticas de trabalhar respeitando as contradições existentes na escola. Este texto tem como objetivo apresentar dados de uma pesquisa em desenvolvimento sobre a exclusão/inclusão de crianças tidas como “diferentes” no interior das escolas. A pesquisa tem por finalidade perceber as concepções à cerca da diferença e como são desenvolvidas práticas educativas que permitam a inclusão destes sujeitos. O problema situa-se no argumento de que as iniciativas de inclusão na escola não devem preocupar-se somente com as crianças portadoras de deficiências, mas com todas as que estão fora dos contextos educativos por pertencerem a culturas diferentes. A metodologia para a coleta de dados envolve pesquisa de campo, estudos teóricos e observação aleatória em salas de aula. Autores com Godoi (2006), Mantoan (2003), Mazzotta (1987), Oliveira (2004) dentre outros nos ajudam a refletir sobre a questão em tema. Consideramos que a discussão ainda é recente, por isso ainda tem muito a aprofundar, mas também consideramos que a questão da exclusão de crianças “diferentes” em salas de aulas precisa ser enfrentada. Palavras-chave: Diversidade. Infância. Inclusão. Introdução: A discussão sobre a diversidade remete quase que impreterivelmente a duas questões: por um lado, a exclusão social, no sentido de que existe um grupo social com melhores 1612 condições de desfrutar os bens culturais produzidos, e um outro grupo que permanece à margem, privado e carente social, econômico e culturalmente; por outro lado a questão da inclusão social, no sentido de que são necessárias políticas e ações capazes de superar os preconceitos e criar um novo modelo de sociedade que caiba a diversidade de sujeitos. Os elementos da exclusão e as situações de inclusão não se dão, porém, por condições determinadas naturalmente, mas por ações determinantes apoiadas em fatores culturais, políticos e sociais. Nesse contexto, a política de educação inclusiva traz para dentro da escola a diversidade humana e convoca toda a comunidade escolar a repensar seus valores e práticas, pois a escola é esse espaço de convivência de diferentes sujeitos sociais com histórias de vida e culturas marcada por normas consensuais definidas por (pré)conceitos historicamente elaborados que admitem ou não a inclusão do “Outro diferente”. Para a nossa pesquisa estabelecemos como “diferentes”1 todas aquelas crianças e adolescentes que de alguma forma divergem dos padrões sociais. Desse aporte destacamos: crianças com situação familiar desastrada, abandonadas, moradoras de ruas, hiperativas, delinqüentes, deficientes, em situação de extrema pobreza, em situação de exposição ao trabalho e à exploração sexual, indígenas, e todas as que, uma vez que estando na escola, carecem de atenção especial. A partir desse enfoque levantamos questões do tipo: Como os professores e demais profissionais da educação lidam com a diversidade em sala de aula? Como trabalhar com crianças e adolescentes em situação de marginalidade, no sentido de favorecer a formação de um autoconceito positivo? Medidas governamentais são suficientes para a promoção da inclusão social de alunos que carecem de atenção especial? Os professores se sentem preparados para trabalharem com a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais nas salas de aulas regulares? Que concepções envolvem os portadores de deficiência e os portadores da diferença? A hipótese que nos levou à pesquisa foi a de que diante das exigências da sociedade moderna, muitos educadores não estão preparados para lidar com a diversidade em sala de aula, até porque a falta de uma formação e habilitação adequadas, e de práticas pautadas em preconceitos culturais arraigados, fazem com que muitos não saibam como trabalhar com 1 O termo “Crianças diferentes” é uma adaptação do Núcleo de Estudos de Infância e Linguagem – NEIL (UFT- TO/CNPq) para caracterizar as crianças que, por algum motivo sensível ou anomalia, estão fora dos padrões sociais elaborados culturalmente, como: crianças hiperativas, rebeldes, deficientes, animadas sexualmente, delinqüentes, marginais, expostas ao vício de drogas, moradoras de rua etc. e que por esses motivos estando na escola carecem de atenção especial. 1613 crianças que necessitam de educação especial; Acreditamos que existam ainda práticas pedagógicas arraigadas no autoritarismo e na dominação favorecendo que alguns professores ajam de forma antidemocrática em relação a seus alunos no contexto da sala de aula. Por outro lado, as concepções acerca das pessoas consideradas “diferentes” fazem com que as práticas em relação a elas sejam baseadas nas idéias de piedade e de compensação por um lado e pela hostilidade e segregação por outro. Tendo como alvo principal as concepções e as práticas acerca da inclusão de crianças que, por alguma razão, são consideradas “diferentes”, esta pesquisa tem como objetivo geral realizar um estudo sobre as concepções de deficiente e diferente e levantar dados sobre as práticas educativas de inclusão de crianças e adolescentes tidos como diferentes em escolas e outros espaços educativos. Para isso realizamos um estudo sobre a diversidade encontrada nas escolas e sobre os dispositivos legais asseguram o direito à diversidade, a inclusão e os direitos das crianças e adolescentes. Estamos fazendo um levantamento acerca das concepções correntes nas escolas sobre as crianças “diferentes”, isto é, em situação marginal, e o registro das práticas pedagógicas de inclusão dessas crianças, para finalmente analisarmos as concepções que permeiam os discursos e as práticas de educação inclusiva nas escolas. Esta pesquisa tem previsão de conclusão em junho de 2010, portanto, ainda estamos em andamento em relação à coleta e o tratamento dos dados. Porém, ao finalizá-la pretendemos demarcar um conteúdo sistematizado das concepções vigentes nas escolas acerca do diferente em sentido geral, assim como demonstrar as práticas de inclusão destes. 1 – As concepções acerca da diversidade: deficientes e diferentes. As concepções acerca da diversidade envolvem uma série de elementos advindos da cultura e da subjetividade que permitem ou não a inclusão do outro que não é igual. Antes, porém de traçar uma discussão sobre o tema é preciso perguntar o que é diferença e quem é o diferente. Numa perspectiva de inclusão social o diferente é quem não congrega aos eventos sociais padronizados, quem não corresponde aos padrões estéticos e comportamentais admitidos consensualmente como normais, bons e belos. Destacamos, então, aqueles que carregam rótulos por serem portadores de deficiência ou por serem “diferentes” em algum aspecto. 1614 Recorremos aos dicionários a fim de traçarmos um paralelo entre esses dois tipos existenciais: De acordo com o dicionário Larousse Cultural “deficiente” quer dizer: 1) insuficiente, insatisfatório, medíocre. 2) pessoas que têm diminuídas as faculdades mentais.Assim traduzimos a deficiência como: de (negação) + eficiente (capacidade), portanto, a negação da eficiência, a falta de capacidade de produzir ou conduzir algo. Do mesmo dicionário o verbete “diferente” apresenta os seguintes significados: 1) que apresenta uma diferença, que não é igual; 2) ser diferente; 3) modificado, alterado; 4) divergente. Podemos interpretar a diferença como: de (negação) + eferente (convergente), então o diferente é aquele que não participada, que diverge, que está fora, portanto, excluído. No contexto da diversidade destacamos, portanto, dois grupos de excluídos sociais: por um lado estão os excluídos por portarem uma diferença proporcionada muitas vezes pela carência e privação cultural que provoca o “não ter”, o “não ser”, e o “não ter condições para ter”. Esta forma de exclusão requer ações de fora do sujeito como políticas e sociais, e de dentro dele para poder superar-se e enquadrar-se. O outro grupo ou modelo de exclusão é caracterizado pelos deficientes, que, por serem portadores de uma “falta de” e “incapacidade para” são tratados com mais compaixão e as ações políticas para esse grupo são mais evidentes. As diversidades culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, enfim a diversidade humana está sendo cada vez mais desvelada e destacada e é condição imprescindível para se entender como aprendemos e como compreendemos o mundo e a nós mesmos. (MANTOAN, 2003, p.16). As concepções, as representações e os preconceitos em relação a estas duas categorias de excluídos se manifestam de formas diferentes. O tratamento em relação ao deficiente é permeado pela piedade, pela oferta de uma compensação em substituição àquilo que lhe falta. Já para com o diferente (marginal, homossexual, negros, índios, pobres, gordos, crianças hiperativas etc.) os discursos são permeados pela indignação, pela intolerância e pelo desejo violento de exclusão. Refletir sobre as concepções de “diferença” no contexto educacional significa perceber que no interior das escolas convive uma diversidade de sujeitos sociais que compõem o universo microssocial da sala de aula. Significa também reconhecer que a 1615 convivência e a interação entre os diferentes seres humanos tornam-se complexas na medida em que alguns desses sujeitos são cotidianamente rotulados de “diferentes” – não só no sentido das diferenças, mas também das significações que sutilmente as acompanham. Para Brandão (1986): O reconhecimento da diferença é a consciência da alteridade: a descoberta do sentimento que se arma dos símbolos da cultura para dizer que nem tudo é o que eu sou e nem todos são como eu sou. Homem e mulher, branco e negro, senhor e servo, civilizado e índio... O outro é um diferente e por isso atrai e atemoriza. (Apud GUSMÃO, 2003, p.16). O reconhecimento não significa a inclusão nem o respeito em relação ao que não é igual, na verdade, pode representar um desconforto. Isso ficou explícito quanto quando perguntamos a um grupo de professores: “Por quais atitudes você classifica uma criança como ‘diferente’”? As respostas foram surpreendentes para não dizer: chocantes. Destacamos algumas: - Quando é uma criança antipática demais que não consegue agradar os colegas. - Quando fica isolada em seu canto, sem se relacionar com as outras crianças e sem se importar com o que está acontecendo. - Uma criança que não para, não presta a atenção, mexe com todos os outro, não deixa o professor dar aulas, fala palavrões e é super grosseira e mal-educada, sabe? Uma criança insuportável. Para mim tem algum problema, é diferente. Por estas falas, podemos abstrair que em crianças assim, a diferença é demarcada pelo contexto social da família, como, por exemplo, em casos de pais separados, desempregados, subempregados, desestruturados, crianças criadas fora do convívio com os pais etc. Geralmente as crianças submetidas a essas situações são privadas e carentes culturalmente, desnutridas, com problemas emocionais – quando não físicos. Essas crianças são vítimas da pior forma de exclusão, que em nome da um projeto de inclusão, aceitam e assumem serem tratadas como “diferentes”. Reivindicamos que essa exclusão não encontra razão de ser, mas é, se faz presente e permeia – ora de maneira camuflada, ora explícita – o contexto escolar massificando crianças, rotulando e reduzindo-as à condição de segregados e dos incompetentes. Estudos demonstram (Sisto, et. all, 2000) que as crianças que convivem com o preconceito de inferioridade, têm suas potencialidades diminuídas porque o cognitivo e o afetivo são partes inseparáveis. São 1616 crianças imaturas, inseguras e com muita dificuldade na tomada de decisão, pois na relação com os outros se sentem afetadas pelo autoconceito baixo que construíram. Tais referências se colocam como determinantes para a aquisição da aprendizagem, para a exclusão e para o fracasso escolar. Historicamente as crianças sofrem de um processo de exclusão por sua própria condição de infantil que é naturalmente diferente e divergente. Por isso, geralmente, quando falamos de infância somos imediatamente remetidos a pensar em uma fase da vida caracterizada por peculiaridades próprias de quem se encontra na idade cronológica da criancice, cujas atitudes relacionadas à inocência e a falta de conhecimento sobre si e sobre o mundo fazem com que adquira a conjunção de ser incompleto e dependente do adulto. Lajonquière (2002) adverte que: Obviamente quando excluídas – tanto as “especiais” quanto as “não tão especiais” – entram no sistema paralelo de “cuidados psicopedagógicos”, bem como no chamado setor de educação especial – ambos alimentados pelas ilusões científicas – para assim se tornarem casos crônicos, embora possam vir a “adquirir” alguns automatismos comportamentais tidos como conquistas educativas. (LAJONQUIÈRE, 2002, p. 24). Há que se dizer que a infância e a criancice sempre foram negligenciadas e segregadas ao longo da história. Em épocas anteriores tais atitudes demonstravam desconhecimento sobre a importância dessa fase da vida para a formação da personalidade. Na sociedade moderna, apesar dos esforços de organismos, como a UNICEF, por exemplo, em favor dos direitos da criança, a incompreensão em relação à infância não foi totalmente superada. Infelizmente, na atualidade, a situação em que se encontra grande parte das crianças e adolescentes, denuncia que continuamos a desconhecê-las e a negligenciá-las. Esse desequilíbrio não chega a surpreender, uma vez que o relatório da Unicef (2006b) revelou que no Brasil 500 mil crianças nascem todos os anos sem acesso ao registro civil; aproximadamente 10 milhões de crianças e adolescentes vivem no semi-árido em situação de extrema pobreza; e quase 03 milhões de crianças convivem com situação de exploração no trabalho tanto nas zonas urbanas quanto na zona rural. Registra também que “crianças diferentes”, além da pobreza, vivem em situação de vulnerabilidade e convivem com preconceito. Nessa proporção a discussão sobre a diversidade não só se amplifica como se torna ainda mais complexa, pois consideramos que as crianças sendo portadora de anomalias 1617 físicas, mentais, comportamentais, psicológicas ou emocionais, são “diferentes” e carecem de cuidados especiais para crescerem e se tornarem cidadãos sadios e produtivos. Nesse sentido, as concepções de infância encontram-se inserida na diversidade cultural que, conforme Silva (1996, p. 78), a identidade social da criança coloca-se não só: “Como resultado de um processo social necessário de transmissão de valores, conhecimentos e habilidades, mas como um processo constituído de conflitos e lutas entre diferentes tradições e diferentes concepções sociais”. Essa diversidade acentua as diferenças e as desigualdadessociais, fazendo com que uns determinem os padrões sociais e outros estejam submetidos a eles ou excluídos socialmente. Em se tratando de crianças e adolescentes, precisamos perceber que a própria condição de dependente faz com que carreguem a marca da desigualdade e dos conflitos peculiares às suas condições de vida. 2 – As práticas de inclusão de crianças “diferentes”. Em cada lugar e tempo, em cada modo de vida, de trabalho e de educação, as concepções e os cuidados em relação à infância, às crianças e adolescentes sofrem a influência do meio e orientam as práticas educativas. Assim encontramos diferentes formas de ensinar e educar, e algumas dessas formas, ainda na atualidade, estão recheadas de preconceitos e formas de exclusão em relação àqueles que são diferentes. Sobretudo, porque no universo escolar a diversidade de crianças convive com as exigências de um modelo idealizado de aluno para um modelo de currículo também idealizado. Notadamente integrar-se a uma sociedade que impõe padrões apoiados em concepções de bom, de belo e de normal, é uma tarefa difícil, especialmente para aqueles que, de alguma maneira ou por alguma razão, não têm os pré-requisitos exigidos. Assim, para que os “diferentes” possam ser inclusos, têm que lutar contra os preconceitos aos quais estão expostos desde os primeiros anos de vida. Porém, Lopes (2008) relembra que: Antes de se identificar como um deficiente ou diferente, a criança convive com a idéia de normalidade e assim se percebe, é o olhar o outro que a nomeia e a inscreve como portadora de uma falta ou de um excesso, e mais que isso, a encaminha para o universo dos anomálogos. (LOPES, 2008, p. 03). A inclusão de pessoas que necessitam de atenção especial em salas de aula de ensino regular, isto é, junto com alunos considerados sem problemas ou “normais” faz parte de uma 1618 luta que congrega as garantias da legislação e as concepções de que todas as pessoas possuem habilidades para a aprendizagem e a construção de alguma coisa. São, portanto, conquistas daqueles que colocaram em pauta o problema da exclusão social, tanto de portadores de deficiência como os que têm outras divergências, por acreditarem que a inclusão só é possível na interação com os outros e com o meio. Assim a discussão acerca da exclusão social, da desigualdade racial e do preconceito vem ganhando terreno cada vez maior no cenário das políticas públicas, nos espaços escolares e em outras instâncias públicas e privadas, de modo que alguns avanços podem ser registrados, como leis que punem a manifestação do preconceito e da discriminação, políticas afirmativas de cotas e programas de educação inclusiva para os portadores de necessidades educacionais especiais etc. O mapa dessa exclusão estampa-se, sobretudo, na imagem dos deficientes e das minorias étnicas, deixando os “diferentes” mais uma vez excluídos. Nesse sentido, a concepção de inclusão passa pelo viés da subjetividade, pois a forma como cada um vê o necessitado de cuidados especiais, é o que formata o processo de inclusão. Os preconceitos que são transferidos na relação entre as pessoas ditas normais e os portadores de alguma deficiência ou diferença são reflexos de uma educação preliminar que imprimiu as primeiras impressões do Eu em relação ao Outro. Essa forma de ver o mundo pode até ser modificada, a partir da inserção de novas concepções a respeito da diversidade humana, mas não sem esforço pessoal de deixar-se entrever a partir do ponto de vista cultural. De acordo com Kramer (1995, p. 18), “Nem todos os indivíduos que coexistem em uma sociedade, tanto as crianças quanto os adultos, enfrentam as situações da vida, sejam elas banais ou extraordinárias, com os mesmos meios intelectuais e culturais”. É essa desigualdade que faz uns diferentes dos outros, assim a criança, em sua condição de infans é um ser diferente do adulto e ainda, dentro dessa categoria, encontramos as diferenças atípicas provocadoras das desigualdades sociais. A tarefa de incluir todas as crianças em suas diferenças em sala de aula é um desafio que exige dos professores não só o reconhecimento da diferença, mas a proposição de novas metodologias de ensino que visem não só os conteúdos, como também situações de acolhimento, interação e respeito para com o outro. Isso ficou visível quando perguntamos a um grupo de professores: “Para você o que é inclusão”? E dentre as respostas destacamos as seguintes: 1619 - A inclusão é a aceitação dos diferenciados sem preconceito de raça, religião, cor ou deficiência é olhar o outro e aceitar suas diferenças. - É verdadeira aceitação de cada um como é. Exige amor, respeito e muita dedicação. - É a total participação de indivíduos diferente na sociedade com direitos e deveres iguais a todos os cidadãos. Por estas respostas podemos perceber que há um avanço em relação à concepção de inclusão e uma consciência em relação à diversidade de sujeitos. Apesar disso, nas duas primeiras respostas, se percebe a presença daquele modelo de inclusão religioso em que a piedade e a compaixão são predominantes, como se a inclusão fosse um sacrifício ou um ato de doação do que é dito normal para com o portador de uma anomalia. Nessa perspectiva não há interação, participação e comunhão, o diferente é aceito no grupo, mas não incluído na sua alteridade. Já na terceira fala que destacamos a perspectiva de inclusão coadune com a idéia de sujeito de direitos e deveres, portanto, o incluído passa a ter responsabilidades por seus atos como participante do processo, é capaz de elaborar e produzir. Mas é preciso perguntar se os discursos – mesmo os da aceitação – se transformam em práticas sociais. É preciso perguntar qual o lugar das crianças “diferentes” nas atividades pedagógicas realizadas pelas escolas. O processo de inclusão de sujeitos que carecem de atenção – seja por uma deficiência ou simplesmente por serem diferentes – em salas de aulas regulares necessita ser embasado por novas perspectivas de mudanças tanto nas escolas como na formação de professores para que estas possam realmente ser incluídas. Os discursos sobre a inclusão muitas vezes não correspondem às práticas, pois as exigências em relação aos processos educativos em sala de aula são propostos para a igualdade e não para a diversidade. Por isso a inclusão, continua avançando pelo viés dos discursos e proposições, mas parece caminhar em passos lentos em relação às práticas pedagógica e sociais. Tudo isso faz com que o processo de inclusão demore para ocorrer e as iniciativas fiquem atravancadas em fatores de diversos contextos, entre eles a superação da idéia de inclusão de pessoas diferentes. Considerações finais ou conclusão; A tarefa de educar crianças e adolescentes tem se tornado cada vez mais complexa na medida em que os meios de comunicação, na mesma proporção em que criam uma cultura 1620 globalizada capaz de padronizar comportamentos e modos de vida, acentuam as diferenças sociais existentes, a partir das propagandas de produtos, da escolha de pessoas para participarem das novelas e de outros programas. Por isso é preciso ensinar, desde cedo, às crianças regras essenciais à formação de princípios e valores sociais adotados pelo grupo social ao qual pertence indiferentemente da etnia, renda, ser portador de deficiência, pela opção de vida que escolheu ou pela situação de vida que tem. Tudo isso vai exigindo dos professores e da escola a proposição de novas metodologias de ensino que atendam a diversidade de crianças em salas de aula, e encontrem formas democráticas de trabalhar respeitando as contradições existentes na escola. Sabemos, entretanto, que a formação dos educadores nem sempre os prepara para trabalhar com a diversidade encontrada em sala de aula, emuito menos para lidar com situações relacionadas à mesma. Consequentemente, a falta de uma formação mais adequada implica diretamente em problemas junto ao processo de inclusão social de todas as crianças, bem como na construção de regras e princípios morais em relação a elas mesmas, suas condições existenciais e em relação aos outros. Perceber tudo isso é um convite a pensar sobre as concepções que norteiam os processos de formação de educadores e suas práticas junto às crianças que, na posteridade, serão os adultos, os governantes, os formadores de opinião, os críticos, os dominantes, os que imputarão ideologias novas ou carregarão as práticas arcaicas com as quais foram educadas para as gerações futuras. Todavia, se queremos e se acreditamos que é possível a construção de um mundo melhor, devemos começar a construí-lo sem demora, tendo como base a educação para a construção de valores, para o respeito às diferenças, para a promoção da justiça e da equidade. O preconceito contra o “diferente”, especialmente com crianças rotuladas, causa-nos repúdio e impele-nos a investigar fortemente a história em busca das raízes desse problema secular para que possamos apontar caminhos para que os educadores reconstruam seus conceitos sobre diversidade, desigualdade e alteridade, a fim de assegurar a cada sujeito o direito de ser respeitado em sua singularidade. Ao término dessa pesquisa esperamos contribuir significativamente para a educação de crianças e adolescentes e os processos de inclusão, proporcionado uma reflexão nova e positiva acerca do papel dos profissionais da educação infantil e dos debates sobre inclusão social dos portadores da “diferença”. REFERÊNCIAS: 1621 BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90. Governo Federal. Brasília, 1998. GODOI, Ana Maria. Saberes e Práticas de Inclusão: Deficiência acentuada de aprendizagem: deficiência múltipla./AACD. Brasília: MEC/SEE, 2006. GUSMÃO, Neusa Maria Mendes de, (org.). Infância e Velhice: Pesquisa de idéias. Campinas, SP, 2003. KRAMER, Sônia. A Política do Pré-Escolar no Brasil: a arte do disfarce. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 1995. LAJONQUIÈRE, Leandro. Infância de Ilusão (Psico)pedagógica. Escritos de Psicanálise e Educação. 9º ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. LOPES, F. R. Inclusão: Para além da Formação e da Legislação uma Prática Social. Palestra realizada no Seminário de Formação de Educações da APAE de Tocantinópolis, maio de 2008. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão: o que é? Por quê?Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003. (Coleção cotidiano escolar). MAZZOTTA, Marcos José da Silveira. Educação escolar: comum ou especial?. São Paulo: pioneira, 1987. OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de. Saberes Imaginários e representações na educação especial: a problemática ética da “diferença” e da exclusão social. Petrópolis RJ: Vozes, 2004. SILVA, Tomaz Tadeu. Identidades Terminais: as transformações na política da Pedagogia e na Pedagogia da Política. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
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