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habitar a cidade; o que significa mais do que permanecer fisicamente dentro dela. Para esta população, que vegeta em favelas ou em vilas operárias, os sistemas de transportes, de, comunicações, de saneamento, etc., são inacessíveis em maior ou menor grau, ao passo que áreas vagas, que facilitariam este acesso, lhes são vedadas pela bar- reira da propriedade privada do solo urbano. Quem estuda um mapa da distribuição dos serviços urba- nos de responsabilidade do Estado no território da cidade veri- fica facilmente que eles se encontram apenas à disposição dos moradores de rendimentos elevados ou médios. Quanto menor a renda da população, tanto mais escassos são os referidos serviços. Isto poderia despertar a suspeita de que o Estado agrava sistematicamente os desníveis econômicos .e sociais, ao dotar somente as parcelas da população que já são privilegia- das de serviços urbanos, dos quais as parcelas mais pobres possivelmente carecem mais. Mas a suspeita é infundada. Quem 3S promove esta distribuição perversa dos serviços urbanos não é o Estado, mas o mercado imobiliário. Sendo o montante de serviços urbanos escasso em relação às necessidades da população, o mercado os leiloa mediante a valorização diferencial do uso do solo, de modo. que mesmo serviços fornecidos gratuitamente pelo Estado aos moradores - como ruas asfaltadas, galerias pluviais, iluminação pública, coleta de lixo, etc. - acabam sendo usufruídos apenas por aqueles que podem pagar o seu "preço" incluído na renda do solo que dá acesso a eles. 36 IIABITAÇÃO E URBANISMO: C) PROBLEMA E O FALSO PROBLEMA tvnu!o apresentado na 27.a Reunião Anual da SBPC, 1975 (;t\JlIUEL BOLAFFI Post Scriptum, à guisa de introdução Embora escrito há mais de quatro anos, o texto que segue IIIL~ agrada e, principalmente, me parece útil. O tempo trans- e 'orrido desde a sua redação invalidou certos dados utilizados t' até alguns raciocínios neles baseados. Ainda assim, muito infelizmente, tanto a atualização dos números quanto a cor- rccão de algumas conclusões nada acrescentariam à atualidade cio texto. Os dados sobre renda per capita implícitos no texto estão relativamente superados e poderiam gerar alguns equívocos. ('onseqüentemente estão equivocados alguns raciocínios basea- dos naqueles Índices. Recentemente anunciou-se que no ano ele 1978 a renda per capita brasileira elevou-se para 1580 U.S. dólares. Não importa que a oposição, com as intrigas que lhe são habituais, se apresse em lembrar que essa elevação ocor- reu, pelo menos em parte, graças à inflação da moeda padrão. Isso não obscurece o fato de que, ao contrário do que o texto insinua, o capitalismo brasileiro está em vias de dar, se é que já não deu, um salto quantitativo considerável. " .Ó.- / Mas o salto qualitativo, ou pelo menos aquele salto quali- tativo anunciado pelos autores da Teoria da Torta, parece que deu chabu. O valor atingido pela renda per capita em 1978 indica que desde o ano da criação do BNH até o presente, pelo menos em termos nominais, a torta da riqueza nacional nesse país cresceu cinco vezes. Só que em vez de reparti-ia, os donos da casa já começam a falar em coibir-lhe o excessivo 37