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Anemia com sinais clínicos.pdf 1 Dra. Cecília V. Krebs Objetivos • Identificar os sinais e sintomas gerais de anemia. Identificar o • Identificar os sinais e sintomas específicos das anemias mais prevalentes. • Interpretar o hemograma e outros dados laboratoriais que auxiliem no diagnóstico das anemias. • Enfocar a anemia ferropriva (mais comum). CENÁRIO CLÍNICOUm paciente de 45 anos vem à consulta para um “check-‐up”. Não possui nada de relevante na história clínica, exceto por uma discreta queixa de dispnéia quando sobe um lance de escadas rápido que vem ocorrendo nas últimas 3 semanas. Acredita que isto se deva à vida sedentária que leva há 2 anos. O exame Aísico do paciente é totalmente normal. COMO SEI QUE ESTE PACIENTE TEM ANEMIA?A anemia muitas vezes é assintomática e é descoberta por acaso ao se realizarem exames de rotina. Este paciente no entanto tem uma queixa sutil, que pode apontar para o raciocínio clínico de anemia que é a dispnéia discreta ao subir um lance de escadas rápido. Se o paciente é sedentário há muito tempo, mas só agora vem se queixando de dispnéia , então is to provavelmente é signiAicativo e a queixa deve ser melhor explorada. COMO UM PACIENTE COM ANEMIA PODE ESTAR SEM SINTOMAS?De acordo com o tempo de evolução d a a n e m i a o o r g a n i smo c r i a “mecan ismos de adaptação” para que o s t e c i d o s n ã o s i n t am fa l t a do o x i g ê n i o q u e a h e m á c i a ( o u eritrócito) carreia. U m d e l e s é aumentar o débito cardíaco, para que seja ofertado aos tecidos maior quantidade de O2. Por tanto, quanto mais crônica for uma anemia, menos sintomática será, ou quando houverem, estes serão sutis.Já na anemia aguda não há tempo para que o organismo se adapte a este regime de hipóxia, portanto os pacientes terão mais sintomas e estes poderão ser exuberantes. ENTÃO PODEMOS SUSPEITAR DE ANEMIA DE ACORDO COM OS SINTOMAS DO PACIENTE E SEU TEMPO DE EVOLUÇÃO? Sim. Sintomas agudos são relacionados à perda abrupta da volemia, como palidez, tontura, síncope, taquicardia. Os sintomas crônicos reAletem a hipóxia tecidual, como fadiga, cefaléia, dispnéia. Em resumo, as anemias, de uma maneira geral, não importando a sua causa, podem manifestar-‐se com sintomas gerais como astenia, letargia, dispnéia, palpitações, síncopes, ou exacerbações sintomáticas de doenças crônicas como piora de uma dispnéia em um paciente DPOC, surgimento de angina em um paciente coronariano. Ainda pode haver depressão, insônia, diminuição da libido, entre outros. Sintomas da “Síndrome Anêmica”Dispnéia aos esforçosTaquicardia, palpitaçõesDiminuição da tolerância a esforçosAstenia, fadigaTontura posturalCefaléiaDescompensação de doenças cerebrovascularesDescompensação de doenças respiratórias ESTE PACIENTE PODERIA APRESENTAR ALGUM SINAL NO EXAME FÍSICO QUE PUDESSE FORTALECER A HIPÓTESE DE ANEMIA? Sim. A anemia apresenta alguns sinais clássicos. Para sabê-‐los é só lembrarmos que estamos em regime de “falta de oxigênio”. Sinais: Palidez, alopécia, glossite atróAica, queilose angular, coiloníquia, unhas quebradiças, insuAiciência cardíaca congestiva – cor anêmico e sopro sistólico. Gastroenterologia Semiologia - GESEP ANEMIAS Sinais da “Síndrome Anêmica”Palidez pele e mucosasAlopéciaGlossite atróAica, queilose angularCoiloníquia, unhas quebradiçasSopro sistólico, Cor anemico HÁ ALGUM SINTOMA OU SINAL ESPECÍFICO QUE NOS ORIENTE QUANTO À ORIGEM DA ANEMIA?Alguns padrões clínicos podem nos orientar para o diagnóstico do tipo de anemia. Assim por exemplo:Um pac iente com anemia , i c ter íc ia e esplenomegalia levantam a possibilidade diagnóstica de anemia hemolítica. Por outro lado, um paciente com anemia, vontade de comer terra ou chupar gelo (malásia) e coiloníquia aponta para o diagnóstico de anemia ferropriva. Um outro paciente com anemia, diminuição da sensibilidade vibratória, teste de Romberg positivo e vitiligo provavelmente terá deficiência de vitamina B12. As anemias carenciais podem ocasionar rachaduras no canto da boca, conhecidas como queilite angular ou despapilamento da língua, também chamado de glossite. Lembre-‐se ainda do paciente com anemia e múltiplas petéquias que pode indicar anemia aplástica. Gastroenterologia Semiologia - GESEP Neste caso clínico, como ainda não sabemos como está o hemograma do paciente em questão, e, devido à pobreza de sintomas e sinais clínicos, ainda não temos certeza se o paciente tem ou não anemia. Outras doenças podem manifestar-‐se também com dispnéia a esforços como insuAiciência cardíaca, insuAiciência coronariana e doenças pulmonares variadas, mas devido à ausência de outros achados clínicos que corroborem com estas hipóteses, estes ficam menos prováveis. QUAL O PRÓXIMO PASSO ENTÃO NA SUSPEITA DE ANEMIA?Deve-‐se solicitar um hemograma. A análise da série vermelha é que definirá se o paciente está ou não com anemia.CENÁRIO CLÍNICO É então solicitado um hemograma para o paciente o qual evidencia o seguinte: eritrócitos: 3.800.000/㎣; Hb: 11,3g/dL; VG: 36%; VCM: 70; HCM:21; RDW:18. A série branca e as plaquetas estão normais. A série vermelha do hemograma é constituída pe la hemoglob ina (Hb) , pe lo vo lume globular(VG), também chamado de hematócrito (HT) e pelo número de eritrócitos (ou hemácias). Nos casos de anemia observa-‐se diminuição destes valores, sendo a Hb o parâmetro mais estável e portanto o mais utilizado para definí-‐la. De maneira prática diz-‐se que há anemia quando a Hb é < 13g/dL nos homens e < 12g/dL nas mulheres.Agora sim! É conAirmada a hipótese diagnóstica de anemia, pois os parâmetros da série vermelha estão baixos. Os valores normais para a série vermelha são os seguintes:Tabela 1: Valores normais da série vermelhaTabela 1: Valores normais da série vermelha Série vermelha Valores normaisÍndices hematimétricosÍndices hematimétricos Tabela 1: Valores normais da série vermelhaTabela 1: Valores normais da série vermelhaVCM (fL) 80-‐96HCM (pg) 27,6-‐33,2CHCM (g/dL) 33,3-‐35,5Outros componentesOutros componentesRDW (%) 11,7-‐14,5Reticulócitos (%) 0,5 – 2 E AGORA? SABEMOS QUE O PACIENTE TEM ANEMIA, MAS QUAL É SUA CAUSA? Uma vez detectada anemia temos o obrigação de observar os outros parâmetros do Hemograma, que me informarão a respeito do tipo da hemácia do paciente.O VCM (volume corpuscular médio) orienta sobre o tamanho da hemácia. Se aumentado: macrocítica. Se normal: normocítica. Se diminuído: microcítica.O HCM (hemoglobina corpuscular média) e a CHCM (concentração da hemoglob ina corpuscular média) orientam sobre a coloração das hemácias. Se aumentado: hipercrômica. Se normal: normocrômica. Se diminuído: hipocrômica.O RDW (red cell volume distribution width) orienta sobre a variabilidade do tamanho das hemácias, dividindo as anemias naquelas sem variabilidade do tamanho daquelas com muita variabilidade no seu tamanho. Ainda temos o reticulócito que é uma hemácia jovem, precursora do eritrócito no sangue. Quando ele se encontrar em número aumentado no sangue periférico podemos deduzir que há um estado de hemorragia ou hemólise, em geral. Ele representa a resposta da medula óssea à anemia, como forma de compensação. ENTÃO O PERFIL DA HEMÁCIA DO PACIENTE PODE ME SUGERIR A CAUSA DA ANEMIA? Sim. COMO SABER A CAUSA DA ANEMIA? Devemos classificá-‐las, pois facilitam o raciocínio clínico da sua etiologia. 1. Anemias Hipocrômicas Microcíticas2. Anemias Normocrômicas Normocíticas3. Anemias Macrocíticas Tabela 2: ClassiAicação das anemiasTabela 2: ClassiAicação das anemiasTabela 2: ClassiAicação das anemias Anemias Hipocrômicas Microcíticas Anemias Normocrômicas Normocíticas Anemias MacrocíticasFerropriva Mieloma Múltiplo MegaloblásticaTalassemia Doença Crônica HipotireoidismoSideroblástica Hemolítica AlcoolismoDoença crônica Hemorragia aguda Mielodisplasias Gastroenterologia Semiologia - GESEP Tabela 2: ClassiAicação das anemiasTabela 2: ClassiAicação das anemiasTabela 2: ClassiAicação das anemiasIntoxicação por metais pesados Aplásica AplásicaFase inicial de anemia ferroprivaVoltemos aos parâmetros hematimétricos do paciente (VCM, HCM e CHCM) e observemos que o paciente tem uma anemia do tipo hipocrômica e microcítica. QUAIS SÃO AS ETIOLOGIAS DESTE TIPO DE ANEMIA?Anemia ferropriva, talassemia, sideroblástica, intoxicação por metais pesados e a assim chamada “anemia de doença crônica”.CENÁRIO CLÍNICO É então solicitado um perAil do ferro para o paciente o qual evidencia Ferritina = 4 ng/ml (40-‐200), Ferro sérico = 16 mcg/dl (50-‐150), índice de saturação do ferro = 12% (20-‐50). Capacidade de ligação total do ferro = 450 (300-‐360) Ferritina representa o estoque do ferro no organismo; Ferro sérico é a quantidade de Ferro livre no sangue; Capacidade de ligação total do ferro = transferrina; Índice de saturação do ferro = ferro/CLTFe x 100.Devido a sua alta prevalência vamos nos ater apenas à anemia ferropriva. Como o próprio nome diz, anemia ferro – priva quer dizer privação de ferro, deAiciência de ferro. E de que maneiras o ser humano chega a este regime de deAiciência de ferro? Das seguintes formas: 1. Ingesta inadequada (carencial)2. Absorção inadequada3. Perdas: sangramentos, parasitosesOs estados nutricionais carenciais são raros na idade adulta, mas devem ser lembrados na sua anamnese. Já a perda crônica de sangue é a principal causa de anemia ferropriva no mundo e, na prática se manifesta principalmente em 2 situações: Em mulheres com hipermenorréia e em homens ou mulheres com sangramento de qualquer parte do trato gastrointestinal, sendo este último geralmente leve e crônico, passando despercebido.Sendo assim, lembre-‐se: a anemia ferropriva nunca é o diagnóstico Ainal! Uma vez detectada, vá atrás de sua origem. E AGORA? QUAL O PRÓXIMO PASSO? CENÁRIO CLÍNICO Realizou-‐se uma endoscopia digestiva alta (EDA) que evidenciou uma pequena úlcera duodenal ativa, mas sem sinais de sangramento recente.Aqui há algo interessante para comentar:Quando se suspeita de um sangramento digestivo oculto, deve-‐se priorizar a investigação do intestino grosso primeiro, assim, uma colonoscopia antes da EDA poderia ser mais interessante. Isto porque às vezes o achado de qualquer patologia no trato digestivo alto, poderá ser uma falsa pista, com risco de negligenciar uma patologia mais séria no trato digestivo baixo, como por exemplo um adenocarcinoma de cólon. Fe l i zmente , t ambém rea l i zou -‐se uma colonoscopia neste paciente a qual foi normal. RESOLUÇÃO DO CASOEste paciente de 45 anos, apesar de assintomático, exceto pela discreta queixa de dispnéia aos esforços, revelou-‐se portador de uma anemia relativamente importante do tipo microcítica e hipocrômica que desencadeou o raciocínio da procura da principal causa de anemia deste tipo, ou seja, a ferropriva. O perAil do ferro conAirmou a hipótese e em decorrência do paciente não ter nada que levasse a pensar em carência alimentar ou má absorção, obrigou à investigação de perda sanguínea, principalmente do trato gastrintestinal (em homens), que acabou se conAirmando com a presença de úlcera duodenal ativa, que embora não sangrante no momento, provavelmente tenha ocorrido de forma intermitente. Gastroenterologia Semiologia - GESEP LEITURA COMPLEMENTAR RDW (RED BLOOD DISTRIBUTION WIDTH)O RDW é a medida na variabilidade do tamanho das células vermelhas circulantes (N: 11,5-‐14,5). O RDW ajuda a distinguir, por exemplo, dentro das anemias microcíticas, uma anemia ferropriva (com grande variabilidade de tamanhos, ou seja RDW elevado) de talassemia minor ou mesmo anemia de doença crônica (com pouca variabilidade de tamanho, ou seja, RDW normal).Outras doenças além da anemia ferropriva que também ↑RDW: anemia megaloblástica, hemólise, sideroblástica, pós-‐transfusão, abuso de álcool e hemoglobinopatias. RETICULÓCITOSOs reticulócitos são eritrócitos imaturos que contém mRNA citoplasmático. Como podemos ter um falso aumento da percentagem de reticulócitos nas anemias, preconiza-‐se o cálculo do índice reticulocitário (IR) para melhor avaliação, que leva em conta a correção da contagem de reticulócitos dependendo do grau de anemia. Isto é particularmente mais útil ao avaliarmos anemias normocíticas/ normocrômicas... Relativo:IR < 2: MO com resposta inadequada à anemia.IR 2-‐3: borderline.IR > 3: MO com resposta adequada à anemia.Absoluto:IR < 40.000/mm³ = MO com resposta inadequada à anemia.IR = 40.000 – 100.000/mm³ = borderline.IR > 100.000/mm³ = MO com resposta adequada à anemiaÍndices reticulocitários aumentados, ou seja, com boa resposta medular, são encontrados na hemólise, na perda de sangue, na recuperação de uma anemia ferropriva ou B12 ou ácido fólico. Já os índices reticulocitários diminuídos, ou seja, com má resposta da medula óssea óssea, são encontrados na anemia por deAiciência de ferro, na aplasia de medula óssea, na anemia megaloblástica, na sideroblástica e na supressão da medula óssea. HEMATOSCOPIA (ANÁLISE DO SANGUE PERIFÉRICO)A análise da hemácia ao microscópio (análise do sangue periférico ou hematoscopia) pode ser de grande valia no auxílio diagnóstico. As vezes a pista diagnóstica surge na hematoscopia, assim por exemplo se observam-‐se hemácias em alvo, o diagnóstico de talassemia é praticamente certo. Veja a seguir uma lista de alterações na hematoscopia que podem orientar o diagnóstico: Gastroenterologia Semiologia - GESEP • Em alvo (Codócitos): talassemias.• Acantócitos (Crenadas) e Burr cell: doenças renais.• Em foice (Drepanócitos): falciforme.• Esferócitos: esferocitose ou anemias hemolíticas auto-‐imunes. • Eliptócitos ou Ovalócitos: eliptocitose, anemias ferropriva e megaloblástica, síndromes mieloproliferativos. • Fragmentos (Esquizócitos): anemia hemolítica microangiopática.• Em gota (Dacriócitos): mieloAibrose e outros síndromes mieloproliferativos crônicos.• Rouleux: mieloma múltiplo.• Macrócitos: anemias macrocíticas.• Micrócitos: anemias microcíticas.• Normal: anemias normocíticas. • Howell-‐Jolly: esplenectomizados• Ponteado basóAilo: saturnismo (chumbo), talassemia, anemia megaloblástica, anemia sideroblástica• Grânulos sideróticos: anemia sideroblástica• Parasita dentro: malária• Reticulócitos: anemia hemolítica• Corpúsculos de Heinz: hemólise ANEMIA FERROPRIVA x ANEMIA DE DOENÇA CRÔNICANas doenças crônicas o ferro também se encontra diminuído e poderá levar ao falso diagnóstico de anemia ferropriva. Isto ocorre por redução da produção de células vermelhas pela medula óssea e também em decorrência da menor sobrevivência do eritrócito no sangue periférico. Três fatores contribuem para este estado hipoproliferativo: 1. Atrapamento do ferro pelo macrófago2. DeAiciência de eritropoietina3. Aceleramento da apoptose celular dos precursores da série vermelhaDevemos solicitar todo o perAil do ferro para poder interpretar melhor a situação (ferro, ferritina, capacidade de ligação, índice de saturação e ferritina). Observe na tabela 3 abaixo as principais diferenças entre uma anemia e outra: Gastroenterologia Semiologia - GESEP Tabela 3: Anemia ferropriva x Doença crônicaTabela 3: Anemia ferropriva x Doença crônicaTabela 3: Anemia ferropriva x Doença crônica Laboratório Ferropriva D. CrônicaFerro ↓ ↓CLTFe ↑ ↓is Ferro ↓ ↓Ferritina ↓ ↑Ferro MO ↓ ↑Ferro MO: Ferro na medula ósseaFerro MO: Ferro na medula ósseaFerro MO: Ferro na medula ósseaDevemos lembrar que a capacidade de ligação total de ferro é uma proteína, e, como em quase toda doença crônica há um estado de hipoproteinemia relativa ao longo do tempo, o mesmo se encontra baixo na anemia de doença crônica, diferentemente da anemia ferropriva, onde se encontrará elevada. Por outro lado, a ferritina, além de traduzir a reserva de ferro no organismo, também é uma proteína de fase inAlamatória (assim como a mucoproteína, proteína C reativa e alfa-‐1 glicoproteína ácida), e portanto se encontrará elevada, diferentemente da anemia ferropriva, aonde se encontrará baixa. A ferritina pode ser normal tanto em uma fase inicial de anemia ferropriva (quando ainda a reserva de ferro não está depletada), quanto naanemia de doença crônica (quando não haja um estado inAlamatório contínuo).REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. D. L. Simel and D. Rennie. The Rational Clinical Examination: Evidence based clinical diagnosis. Mc Graw-‐Hill, 2009 PONTOS CHAVE1. As anemias podem ser assintomáticas2. Não basta diagnosticar anemia, devemos saber o tipo e a sua causa3. Anemia ferropriva em homens é sinônimo de investigar o trato gastrintestinal4. Classicamente na anemia de doença crônica a CLTFe está diminuída e a ferritina aumentada. Gastroenterologia Semiologia - GESEP ANEMIAS MAIS COMUNS E SEUS ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAISANEMIAS MAIS COMUNS E SEUS ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAISANEMIAS MAIS COMUNS E SEUS ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAISANEMIAS MAIS COMUNS E SEUS ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAISANEMIAS MAIS COMUNS E SEUS ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS Anemia Tipo Causa Clínica Laboratório Micro/ hipo Ferropriva ↓Fe (perda, ↓absorção, ↓ingesta) Pica ou maláscia, pagofagia, geofagia, perda de sangue ou doação, vegetariano restrito, uso crônico de AINES. Síndrome de má-absorão. Gastrectomia prévia. Coiloníquia, queilite ↓Fe, ↓saturação do Fe, ↓ferritina, ↑CLTFe, ↓estoques de Fe na MO Micro/ hipo Talassêmica Alteração na síntese da Hb: cadeia α ou β Descendência do mediterrâneo, hemólise (icterícia e esplenomegalia) Células em alvo (codócitos). Traço: ↑Hb A2. Major: ↑Hb A2, ↑HbF, ↓ ou ausência de HbA1 ↑. ≅ hemólise. Micro/ hipo Metais pesados Intoxicação mercúrio, cromo, chumbo (saturnismo) História de intoxicação. Neuropatia periférica, hipertensão, dor abdominal, náuseas e vômitos, hipertermia, letargia, coma. Ponteado basófilo, ↑Chumbo ou outro metal pesado, ↑Protoporfirinas. ↑Ácido úrico. Micro/ hipo Sideroblástica Fe utilizado de forma inapropriada a nível intracelular – por mutação ou por alcoolismo ou drogas ocasionando acúmulo. Alcoolismo. Uso de medicamentos ↑Fe, sideroblastos em anel na MO. Normo/ normo Hemólise Destruição de hemácias: Extravascular (autoimune, reação transfusional tardia, hemoglobinopatias, hiperesplenismo, esferocitose) Intravascular (reação transfusional aguda, trauma, válvula mecânica, hemoglobinúria paroxística noturna, sepse por clostridium) Esplenomegalia, icterícia, hemoglobinúria. Exposição a certas medicações. Esquizócitos. Corpúsculos de Heinz. ↓Haptoglobina, ↑↑Reticulócitos, ↑↑bilirrubina indireta, ↑↑LDH Hemoglobina e hemossiderina na urina. Coombs direto e indireto positivos. Normo/ normo Aplásica Destriução da célula tronco da MO Infecções graves, sangramentos (petéquias, equimoses), úlceras orais. Exposição a toxinas ou infecções. Pancitopenia grave (anemia, leucopenia, plaquetopenia) Normo/ normo Falciforme Alteração na síntese da cadeia β da Hb: substituição valina por ácido glutâmico no 6º aminoácido da cadeia. Raça negra Crise vaso-oclusiva: dor intensa óssea, torácica, abdominal Crise hemolítica: icterícia Crise de seqüestro: choque e esplenomegalia com pancitopenia. Crise aplásica: com infecção severa (sepse, meningite, pneumonia, osteomielite). Úlceras na perna, priapismo, necrose asséptica da cabeça do fêmur. Células em foice. Teste da falcização positivo. Eletroforese de Hb alterada (Hb S): sem Hb A e com quantidades variáveia de Hb F. No traço: há Hb A e S. ≅ hemólise Normo/ normo Doença Crônica Alteração no metabolismo do ferro. Depende da doença. Acantócitos (crenadas). ↓Fe, ↓saturação do Fe, ↑ferritina, ↓CLTFe, ↑estoques de Fe na MO. Macro/ normo Megaloblástica Deficiência de B12 ou ácido fólico Deficiência de B12 + atrofia gástrica (Anemia Perniciosa) Parestesias (neuropatia periférica), glossite, déficits cognitivos, depressão, mudanças de personalidade, alucinações, demência, alteração da propiocepção, alteração na sensibilidade vibratória. Atrofia gástrica, história de gastroplastia, gastrectomia ou uso crônico de bloqueadores de bomba, doença ileal ou ressecção ileal. Má-absorção. Policromatofilia, Polilobócitos, Ovalócitos. ↓B12, ↓folato, ↑hemocisteína, ↑ácido metilmalônico, discreta hiperbilirrubinemia indireta, ↑LDH. Teste de Schilling positivo.Macro/ normo Hepatopatia As causas de cirrose (hepatites, álcool, medicamentos, doença de Wilson, homocromatose, cirrose biliar primária) História de alcoolismo ou hepatite crônica, ascite, esplenomegalia, edema, circulação portal, aranhas vasculares, flapping, desnutrição, etc. ↑TGO e TGP, ↑GGT, ↑triglicerídeos, ↑ácido úrico, pancitopenia leve, ↓albumina, ↑TAP. Macro/ normo Hipotireoidismo Autoimune geralmente Rouquidão, apatia, astenia, depressão, obstipação, bradicardia, pele seca, obesidade, edema mixedematoso, etc. ↑TSH, ↓T4 livre, anti-peroxidase, anti- tireoglobulina Macro/ normo Mielodisplasia Displasia da célula tronco pluripotente Sinais e sintomas de anemia refratária. Uso prévio de QT, exposição a toxinas. Seideroblastos em anel na MO, alterações displásicas na MO, blastos no hemograma ou MO. Gastroenterologia Semiologia - GESEP Anemias - material complementar.pdf 1 OBSTETRÍCIA ANEMIAS A anemia é definida como síndrome caracterizada por diminuição de massa eritrocitária total. Laboratorialmente, definimos anemia como hemoglobina menor que 12 g/dl em mulheres ou 13 g/dl em homens. Na gravidez existe anemia relativa, por hemodiluição, além daquela por carência nutricional, principalmente, por deficiência de ferro e ácido fólico. Na gestação os limites considerados normais para o valor da hemoglobina caem para 10g% e os do hematócrito para 30%. DIAGNÓSTICO A avaliação inicial do paciente com anemia inclui anamnese e exame físico minuciosos, além de exames laboratoriais. Os sintomas relacionados à anemia dependem da idade, da capacidade física, do grau de anemia e do tempo de evolução. Pacientes com evolução aguda apresentam sintomas com valores mais altos de hemoglobina, enquanto que os de evolução crônica exibem valores mais baixos. Os sintomas usuais incluem astenia, cansaço, fraqueza, falta de ar e palpitações. No exame físico o achado mais característico é a palidez mucocutânea. A investigação laboratorial inicial consiste na realização dos seguintes exames: Hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos para avaliar o grau de anemia. Índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) para determinar se os eritrócitos são, em média, normocíticos, macrocíticos (VCM > 100) ou microcíticos (VCM < 80) e se são hipocrômicos. O aumento da amplitude de distribuição do volume dos eritrócitos (RDW) é uma medida de anisocitose. Contagem de reticulócitos para estimar se aresposta medular sugere incapacidade da produção- ou hemólise-ou perda sanguínea recente. Exame microscópico da distensão sanguínea (lâmina de sangue periférico) para avaliar o aspecto dos eritrócitos e as alterações concomitantes dos leucócitos e das plaquetas. CLASSIFICAÇÃO As síndromes anêmicas podem ser classificadas quanto à proliferação (pelo índice de reticulócitos) e quanto à morfologia (pela ectoscopia da hemácia ou valores de VCM e HCM). 2 ANEMIA Hb < 10g% Ht < 30% Reticulócitos < 2 Reticulócitos > 2 •Deficiência de ferro •Talassemia minor •Anemia sideroblástica •Anemia de doença crônica •Doença renal •Lesão medular •Deficiência de Vitamina B12 •Deficiência de folato •Mielodisplasia •Hemorragia aguda •Anemia hemolítica Microcítica VCM < 70 Normocítica VCM = 70 a 90 Macrocítica VCM > 90 Figura 1 – Causas de anemia e sua classificação de acordo com a contagem de reticulócitos e com a morfologia das hemácias. ANEMIA FERROPRIVA A deficiência de ferro representa a causa mais comum de anemia. DIAGNÓSTICO Hemograma com anemia microcítica e hipocrômica. Ferritina < 10 ng% Ferro sérico < 30mcg% , o que denota baixo estoque Capacidade de ligação ao ferro (TBIC) alta. PROFILAXIA Deverá ser feita com ferro oral, durante a gestação e a lactação, e mantida por 3 a 6 meses após a recuperação dos níveis hematimétricos, com a finalidade de manter reserva mínima de ferro: 300mg/dia de sulfato ferroso (60mg de ferro elementar).\ TRATAMENTO Suporte nutricional Reposição de ferro, preferencialmente por via oral: 900mg/dia (180mg de ferro elementar), divididos em 3 tomadas. Nos casos de intolerância gastrointestinal ou falha de resposta ao ferro oral, pode ser utilizado ferro por via parenteral: 10ml ou 200mg de hidróxido de ferro, diluídos em 200ml de soro fisiológico, durante uma hora. Administração semanal, em ambiente hospitalar. A transfusão de hemácias deverá ser reservada para pacientes com sintomas que denotam grave hipóxia tecidual. 3 ANEMIA MEGALOBLÁSTICA Pode ser causada por deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, que ocorre por baixa ingesta (deficiência de folato) ou por impacto na absorção, como é o caso da anemia perniciosa (deficiência de vitamina B12). DIAGNÓSTICO Neutrófilos plurissegmentados no sangue periférico. A deficiência de vitamina B12 pode cursar com pancitopenia. A investigação inicia-se pela dosagem de ácido fólico e vitamina B12. As dosagens séricas de ácido metilmalônico e homocisteina são usadas para confirmação diagnóstica. PROFILAXIA Reposição rotineira de ácido fólico, 5 mg/ dia, via oral. CONDUTA Investigar as principais causas da deficiência de ácido fólico: nutricional, má absorção intestinal e uso de anticonvulsivantes, pirimetamina, trimetropim e álcool. Tratar com ácido fólico via oral, 5 mg/dia via oral e/ou vitamina B12 intramuscular. A transfusão de hemácias, como na anemia ferropriva, encontra-se reservada para pacientes com sintomas que denotam grave hipóxia tecidual. TALASSEMIA É doença hereditária resultante de um defeito genético na síntese de uma ou mais cadeias globínicas da hemoglobina. Há dois principais tipos de talassemia - alfa e beta – que podem se manifestar como minor (ou traço talassêmico), intermédia ou major. DIAGNÓSTICO Hemograma com microcitose, hipocromia e reticulócitos aumentados A eletroforese de hemoglobina apresenta elevação da hemoglobina A2 nas beta-talassemias. CONDUTA O tratamento varia de simples observação e acompanhamento, nas formas mais brandas (alfa talassemia ou beta talassemia minor), até transfusões sangüíneas freqüentes e esplenectomia, nas formas mais severas (beta talassemia major). Condutas gerais: o Controlar a infecção urinária. o Prescrever ácido fólico: 5mg/dia, VO. o Não administrar suplementos ferruginosos. o Não prescrever drogas oxidativas como as sulfas. As pacientes com talassemia devem ser encaminhadas para aconselhamento genético. ANEMIA FALCIFORME Ocorre por mutação que substitui o ácido glutâmico por valina na posição 6 da cadeia ß da globina. A hemácia com a globina mutante quando desoxigenada torna a clássica forma de foice, perdendo a flexibilidade necessária para atravessar os pequenos capilares. Os heterozigotos para a mutação apresentam uma entidade benigna (traço falciforme), sem ocorrência de anemia ou obstrução vascular. 4 DIAGNÓSTICO Anemia crônica, crises de dor osteoarticular, icterícia e história familiar freqüentemente positiva. O diagnóstico é feito pela eletroforese de hemoglobina que detecta a presença da hemoglobina mutante (Hemoglobina S). CONDUTA Investigar infecção urinária. Suplementar ácido fólico: 5mg/dia, VO. Ferro é contraindicado. Transfusões com concentrado de hemácias lavadas nos casos de hemoglobina < 7g%. Evitar a ocorrência de fatores que precipitam a crise falcêmica, como desidratação, acidose, hipotensão arterial, hipoxemia e infecção. A indicação de operação cesariana está condicionada a fatores obstétricos. As pacientes com anemia falciforme devem ser encaminhadas para aconselhamento genético. CRISE FALCÊMICA Internação. Hidratação. Transfusão de concentrado de hemácias lavadas (o objetivo é reduzir o porcentual de HbS para < 40% e elevar a Hb para cerca de 10g/dl Sedação e analgesia com 50mg IM de Meperidina, se necessário. Investigar possíveis focos de infecção, ocorrência que precipita a crise falcêmica. ANEMIAS HEMOLÍTICAS Esferocitose Hereditária Representa a mais comum desordem congênita da membrana eritróide. É caracterizada por disfunção de uma ou mais proteínas de membrana, gerando alteração na flexibilidade da hemácia com destruição periférica precoce. Clinicamente varia desde anemia discreta compensada até grave anemia hemolítica. O tratamento inclui reposição de ácido fólico e esplenectomia para os pacientes com anemia mais grave. A transfusão de concentrados de hemácias deverá ser reservada para pacientes em crise aplásica ou hemólise grave. Deficiência de Glicose 6 Fosfato Desidrogenase (G6PD) Representa a anormalidade mais comum do metabolismo da hemácia. É uma desordem genética ligada ao cromossomo X. A deficiência desta enzima diminui a capacidade da hemácia de manter-se íntegra frente aos agentes oxidantes. Infecções, alterações metabólicas e exposição a alguns fármacos provocam episódio hemolítico agudo com hemólise intravascular. O diagnóstico pode ser confirmado pela presença do Corpúsculo de Heinz no esfregaço de sangue periférico e pela pesquisa de G6PD. A maioria dos indivíduos é assintomática, realizando-se o diagnóstico por estudo familiar. O tratamento é de suporte com transfusão de hemácias, quando necessário. A profilaxia das crises é extremamente importante, evitando o uso de substâncias oxidantes. 5 Anemia Hemolítica Autoimune Ocorre quando há destruição precoce das hemácias mediada por auto-anticorpos fixados a antígenos da membrana eritrocitária que determina uma série de reações em cascata terminando na lise dessas células (hemólise intravascular), além de fagocitose pelo sistema macrofagocítico (hemólise extravascular). Pode ocorrer de forma idiopática, induzido por drogas ou de forma secundária a processos autoimunes, infecciosos ou neoplásicos. O quadro clínico típico demonstra sinais e sintomas de anemia associada à icterícia, dor abdominal e febre. Esplenomegalia de pequena monta pode ser encontrada. O esfregaço de sangue periférico revela microesferócitos, hemácias “mordidas” e eritroblastos. O teste da antiglobulina direta (Coombs direto) é caracteristicamente positivo. O tratamento consiste em administração de glicocorticóides. Nos casos refratários pode ser realizada esplenectomia ou terapia com imunossupressores. A transfusão deverá ser reservada para pacientes com sinais de falência circulatória. Anemia Hemolítica Microangiopática Caracterizada por hemólise microvascular causada por fragmentação de eritrócitos normais passando por vasos anormais. A síndrome hemolítico-urêmica e a púrpura trombocitopênica trombótica são causas primárias, enquanto que, entre as secundárias, encontramos as complicações da gravidez como: o DPP, pré-eclâmpsia, eclâmpsia e a síndrome HELPP. Clinicamente constata-se a tríade clássica: anemia microangiopática, plaquetopenia e insuficiência renal aguda. O tratamento consiste em plasmaférese, observando-se que a transfusão de plaquetas é contraindicada por resultar em agravamento da trombose microvascular. ANEMIA DE DOENÇAS CRÔNICAS Cursa com anemia normocítica e normocrômica, geralmente leve a moderada. Sua causa é multifatorial e as doenças infecciosas, autoimunes, neoplasias e insuficiência renal crônica são condições associadas. Os exames laboratoriais demonstram ferritina normal ou alta, com ferro sérico baixo, em decorrência de desordem no metabolismo do ferro. O tratamento da doença de base deve ser realizado sempre que possível. O tratamento de suporte pode ser realizado com reposição de eritropoetina para os casos onde há deficiência e administração de ferro por via parenteral, enquanto que a transfusão de concentrados de hemácias deverá ser reservada para os pacientes sintomáticos. PERDA AGUDA DE SANGUE É causa comum de anemia hiperproliferativa. Perdas de até 15% do volume sanguíneo são normalmente toleradas por mecanismos compensatórios. Perdas maiores levam a hipotensão e choque. No choque hipovolêmico ocorre perda sanguínea global de tal forma que os valores hematimétricos podem permanecer normais e não refletem imediatamente a extensão da perda sanguínea. O tratamento inicial deve ser feito com reposição de cristalóides para manutenção do volume plasmático. Para a perda moderada e de curta duração, a infusão de solução cristaloide costuma ser suficiente. A indicação de transfusão de hemocomponentes deve ser avaliada individualmente. Se a perda sanguínea for maior que 1500 ml ou maior que 30% do volume plasmático haverá necessidade de reposição de concentrados de hemácias. O quadro 1 demonstra a classificação de choque hipovolêmico. 6 Choque hipovolêmico Classe I Classe II Classe III Classe IV Perda sanguínea (ml) Até 750 750-1500 1500-2000 >2000 Volume de sangue (%) Até 15% 15%-30% 30%-40% >40% Frequência cardíaca <100 >100 >120 >140 Pressão arterial Normal Normal Diminuída Diminuída Débito urinário (ml/h) >30 20-30 5-20 <5 Reposição volêmica Cristalóide Cristalóide Cristalóide + hemocomponente Cristalóide + hemocomponente Quadro 1 – Classificação e tratamento do choque hipovolêmico LEITURA SUGERIDA 1. CANÇADO, R.D. Anemia: winning elbow room in the field of hematology and hemotherapy. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., v.34, n.4, p.251-253, 2012. 2. HEMORIO (Rio de Janeiro). Protocolos de tratamento hematologia e hemoterapia do Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti. 2.ed. Rio de Janeiro: Expresso Gráfica e Editoria; 2008. anemia_hemolitica_hereditaria_iii.pdf HEMORIO INSTITUTO ESTADUAL DE HEMATOLOGIA ARTHUR DE SIQUEIRA CAVALCANTI Anemia Hemolítica Hereditária III (TALASSEMIA) M A N U A L D O P A C IE N TE - A N E M IA H E M O LÍ TI C A H E R E D IT Á R IA II I - T A LA S S E M IA E D IÇ Ã O R E V IS A D A 02 /2 00 4 3 Introdução Acesse o Portal do HEMORIO e saiba mais sobre outras orientações e serviços: Este manual tem como objetivo fornecer informações aos pacientes e seus familiares a respeito da Talassemia. Sabemos que as informações médicas são cercadas, na maior parte das vezes, por termos técnicos, difíceis e incompreensíveis pela maioria dos usuários. Dessa forma, esperamos que esse encarte possa esclarecer suas dúvidas. Qualquer comentário é muito bem vindo, seja sobre a clareza desse manual ou sobre a omissão de alguma informação considerada importante e pode ser enviado através da urna de sugestões do HEMORIO ou pelo e-mail ouvidoria@hemorio.rj.gov.br. 4 O que é Talassemia ?O que é Talassemia ? Talassemia é um termo médico usado para um tipo de anemia herdada. É causada por um gen que resulta na produção de quantidades muito pequenas de hemoglobina. Por causa disto, os glóbulos vermelhos de pessoas com Talassemia são menores e contém menos hemoglobina que o normal. Ocorre tanto em homens quanto em mulheres. Não é contagiosa e não é causada por deficiência na dieta, carência de vitaminas ou sais minerais. A Anemia Falciforme é também uma anemia herdada, entretan- to, é diferente da Talassemia e tem diferentes sintomas e tratamento. A palavra Talassemia vem de tálassos, palavra grega que significa "mar", então, literalmente, Talassemia significa “anemia do mar". O termo ANEMIA MEDITERRÂNEA é também usado para descrever Talassemia. ANEMIA DE COOLEY indica a forma severa de Talassemia em reconhecimento ao Dr. Thomas B. Cooley que fez a primeira descrição médica da doença em 1925. Para explicar Talassemia, será melhor definir primeiro alguns conceitos básicos. HEREDITARIEDADE, GENS, HEMOGLOBINA E ANEMIA. Cada pessoa é constituída de diferentes características. Algumas das quais como altura ou cor dos cabelos e olhos são mais fáceis de se ver ou medir. Cada característica é HERDADA, o que significa que ela passa dos pais para a criança através de partículas hereditárias chamadas GENS. Uma das características herdadas do sangue é uma proteína do glóbulo vermelho chamada HEMOGLOBINA. A hemoglobina dá ao sangue a cor vermelha e é importante para carregar oxigênio. Todos possuem gens para hemoglobi- na, um vindo do pai e outro da mãe, como visto no esquema ao lado. Quando não há suficiente hemoglobina presente, diz-se que a pessoa tem ANEMIA. Isto pode ser devido a diversas causas. Muitos tipos de anemia são causados por deficiências de vitaminas ou ferro, enquanto outras são herdadas. Qual é a causa da Talassemia ? A - INDICA O GEN PARA HEMOGLOBINA NORMAL AA AA AA AA AA AA Hemácias normais TALASSEMIA MINOR ou TRAÇO TALASSÊMICO não é uma doença, sendo considerada uma característica genética, na qual a pessoa herda um único gen da Talassemia de um de seus pais. Logo, a pessoa com Talassemia Minor não é doente e, na maioria dos casos, não sabe ter essa condição. Uma pessoa nasce com Talassemia Minor, e isso não muda ao longo de sua vida, assim como NÃO se transforma em Talassemia Major. Anemia discreta pode estar presente, mas isso geralmente não causa sintomas. O Traço Talassêmico pode ser confundido com outros tipos de anemia, especial- mente a causada por deficiência de ferro. Exames especiais são necessários para fazer a distinção entre elas. Algumas pessoas com Talassemia Minor tomam medicamentos à base de ferro, por muitos anos, devido ao diagnóstico equivocado de que tenham deficiência de ferro. Ferro e outros medicamentos para o sangue não ajudam e geralmente não são necessários na Talassemia minor. Na realidade, pode mesmo ser prejudicial, receber grandes doses de ferro por longos períodos. Uma vez que a Talassemia é herdada, o indivíduo com Talassemia Minor pode passá-la para os seus filhos. O esquema a seguir representa a forma de herança desses casos. Há mais de uma forma de Talassemia ? Uma forma comum, leve, chamada TALASSEMIA MINOR (TRAÇO TALASSÊMICO) e outra forma severa , que é chamada TALASSEMIA MAJOR (ANEMIA DE COOLEY). Alguns pacientes ficam entre esses dois extremos, e são considerados como tendo TALASSEMIA INTERMÉDIA. O que significa ter Talassemia Minor ? Sim. A - INDICA GEN PARA HEMOGLOBINA NORMAL Tal - INDICA GEN PARA TALASSEMIA TalA A Tal A Tal Traço Talassêmico Normais TalA A Tal A Tal Traço TalassêmicoNormais 6 A Talassemia Major ocorre quando a pessoa herda DOIS gens para a Talassemia, um do pai e outro da mãe. O gen da Talassemia em dose dupla resulta em anemia tão severa que é necessária transfusão de sangue regular para manutenção da vida. Uma criança não pode ter Talassemia Major sem que AMBOS os seus pais tenham Talassemia Minor. No casamento de duas pessoas com Talassemia Minor, as chances de cada gravidez resultar em uma criança com Talassemia Major serão de 1 em 4. ESSA CHANCE ESTÁ PRESENTE EM CADA GRAVIDEZ. O nascimento de uma criança com Talassemia Major não significa que outra criança nascida posteriormente também não possa tê-la. Algumas famílias podem ter somente uma criança doente, enquanto outras, podem ter todos os seus filhos afetados. É SIMPLESMENTE AO ACASO. As crianças com Talassemia Major não apresentam qualquer anormalidade, ao nascimento. Ao final do primeiro ano de vida, desenvolvem palidez, irritabilidade e cansaço. A barriga incha devido ao aumento do baço e fígado. Com o passar do tempo, podem surgir algumas alterações, como olhos podem "amendoados", os ossos do rosto proeminentes e os dentes mal alinhados. O crescimento é geralmente mais lento do que o normal, a criança é mais baixa e esguia e a maturidade pode estar muito atrasada. Entretanto, o intelecto não está prejudicado. O diagnóstico de Talassemia Major é quase sempre firmado durante os primeiros 2 ou 3 anos de vida. Se uma criança se mantém bem durante todo esse período, é improvável que apresente Talassemia Major. A - INDICA GEN PARA HEMOGLOBINA NORMAL O que causa a Talassemia Major (Anemia de Cooley) ? Quais são os sintomas da Talassemia Major ? Vitaminas, tônicos, medicamentos e dietas não têm efeito benéfico. Transfusões de sangue devem ser dadas a cada 2 a 4 semanas. Por meio de transfusões de sangue regulares, o paciente pode ter uma vida relativamente normal por vários anos. Muitas das mudanças na aparência da face e ossos podem ser prevenidos por transfusões sangüíneas que mantém os valores do sangue próximos do normal. Qual é o tratamento ? T - INDICA GEN PARA TALASSEMIA Normal Traço Talassêmico Talassemia Major AA TalA b TalA b A Tal b TalbA Talb Talb 7 Transfusões sangüíneas regulares, por um longo tempo, resultam em complica- ções. Um grande acúmulo de ferro ocorre em órgãos vitais, podendo causar um coloração marrom na pele, diabetes, e mau funcionamento do fígado e coração. O baço pode se tornar muito grande, sendo, às vezes, necessário retirá-lo. Atualmente é possível remover grandes quantidades de ferro do organismo dos pacientes e prevenir danos ao coração e outros órgãos, prolongando sua expec- tativa de vida. Este tratamento, geralmente, se inicia antes dos 5 anos de idade e emprega uma medicação chamada desferoxamina. Esta medicação, classifica- da como um agente quelante, elimina o ferro do organismo. A terapia com desfe- roxamina deve ser dada por injeção e administrada por um período de 8 -12 horas (geralmente durante a noite), ou seja, 5 - 7 vezes por semana, usando um aparelho chamado “bomba infusora”. O paciente com S-Talassemia apresenta anemia moderada com crises de dor óssea fre- qüentes. Como a anemia tem um caráter hemolítico, os paci- entes apresentam-se ictéricos (com as mucosas amareladas). A doença pode ser considerada de grav idade moderada. Freqüentemente o paciente necessita fazer transfusões de sangue. A - INDICA GEN PARA HEMOGLOBINA NORMAL Talb - INDICA GEN PARA TALASSEMIA S - INDICA GEN PARA DOENÇA FALCIFORME Pesquisas para controlar a doença e suas complicações estão sendo realizadas em muitos centros. Estas pesquisas incluem: 1) maneiras de aumentar a hemoglobina dos glóbulos vermelhos; 2) desenvolvimento de novos agentes quelantes de ferro que possam ser tomados oralmente e 3) transplante de medula óssea normal para substituir a medula óssea talassêmica. O transplante de medula óssea tem sido usado com sucesso para tratar a Talassemia Major em um pequeno número de pacientes, nos Estados Unidos e um número maior na Europa. Entretanto, nem todos os pacientes podem ser submetidos a transplante, e, no presente, este ainda é um procedimento experimental que pode apresentar riscos. Quais são as perspectivas para o futuro ? Esta relação pode existir quando um mesmo indivíduo herda de um dos pais o gen da Talassemia (T) e do outro o gen da Anemia Falciforme (S). Veja esquema abaixo. Existe relação entre Talassemia e Anemia Falciforme? Quais são as complicações ? Normal Traço Falcêmico Traço Talassêmico S-Talassemia AA TalA b AS AS A Talb S Talb 8 Exames de sangue especiais devem ser realizados para diagnosticar a presença destes gens anormais. O hemograma não diferencia as doenças que podem ser confundidas com outros tipos de anemias (como por exemplo entre Talassemia Minor e anemia por carência de ferro). O Traço Falcêmico e o Traço Talassêmico passam, na maioria das vezes, desapercebidos nos exames de sangue convencionais. O teste mais específico para detecção do gen S é a Eletroforese de Hemoglobina. Para o diagnóstico de Talassemia, incluímos na eletroforese de hemoglobina a dosagem de Hemoglobina A2. A Hemoglobina A2 elevada demonstra a presença do gen para Talassemia . O gen S é originário da África e da Ásia, tendo sido espalhado pelo mundo com o tráfico de escravos e com as correntes migratórias. No Brasil a freqüência do Traço Falcêmico na população adulta saudável varia entre 2% e 6%. Esta incidência é bastante elevada e torna a triagem para este gen muito importante. Tenho um familiar com gen para Talassemia. O que devo fazer ? Homens e mulheres com Talassemia Minor podem transmitir os gens da Talassemia para os filhos. Se ambos os pais têm Talassemia Minor, há uma probabilidade de 25% de seus filhos receberem dois gens da Talassemia e nascerem com Talassemia Major. A informação sobre a presença de Talassemia Minor na família é útil por ocasião do pré-natal de qualquer membro de sua família. Logo, o médico deverá solicitar o exame diagnóstico para Talassemia com o objetivo de verificar se o casal está sob risco de ter um filho com Talassemia Major. O diagnóstico pré-natal (em gestantes) também é possível, e está disponível em alguns centros no Brasil. Como ser testado para Talassemia Minor e para Traço Falcêmico? Pessoas originárias dos países mediterrâneos e sudeste da Ásia, assim como seus descendentes, devem ser testadas. Além destas, pessoas com história familiar de anemia que não respondem a tratamentos e para a qual não há explicação, também devem ser testadas. O teste para Talassemia Minor pode ser feito a qualquer tempo, após os primeiros meses de vida. Entretanto, já que os resultados do teste são especialmente importantes para o planejamento familiar, seria importante que as Quando é o melhor momento para fazer o teste para Talassemia Minor ? Que pessoas devem ser testadas para Talassemia ? 9 Significa que a pessoa tem Talassemia Minor. Esta condição inofensiva não requer tratamento. A contagem de glóbulos vermelhos é um pouco menor que de outras pessoas da mesma idade e sexo, mas não apresenta sintomas. É uma condição que já estava presente quando do seu nascimento e o acompanhará por toda a vida. Não sofrerá variações ou pioras. No entanto, em circunstâncias especiais, como na gravidez, o grau de anemia pode aumentar significativamente. O tratamento com sulfato ferroso é desnecessário e não melhora a anemia. Se administrado por longo tempo, pode ser prejudicial. Se este indivíduo se casar com uma pessoa que não tenha Talassemia Minor, cerca de 50% dos seus filhos terão Talassemia Minor, como ele. Entretanto, se o indivíduo se casar com uma pessoa que também tenha Talassemia minor, alguns dos seus filhos poderão ter Talassemia Major. Ele terá que decidir se quer correr esse risco ao planejar seu casamento e seus filhos. Qual o significado de ter um teste negativo para Talassemia? Significa que a pessoa não tem Talassemia Minor. Portanto, nenhum de seus filhos pode ter Talassemia Major, não importando quem seja o outro genitor. Qual o significado de ter um teste positivo para Talassemia? a AFARJ (Rio de Janeiro) e a ABRASTA (São Paulo) são a Associações de falcêmicos e talassêmicos que atuam em assuntos de interesse geral dos pacientes e seus familiares. AFARJ - HEMORIO - Rua Frei Caneca nº. 8, sala 811 - 8º. andar, Rio de Janeiro - RJ - CEP:20.211-030 Tel: 2332-8611, ramal 2246. ABRASTA - Alameda Rio Claro, 190, 1º. andar - Bela Vista - São Paulo - SP - CEP: 01.332-010 - Tel: 11-287- 5049 Qual é a freqüência da Talassemia Minor ? De 3% a 6% dos americanos de ascendência mediterrânea têm Talassemia Minor. Ela também ocorre com considerável freqüência em pessoas do Oriente Médio (Irã, Israel e Turquia) e do Sudeste Asiático. A Talassemia tem sido identificada em pessoas de vários grupos étnicos, não sendo uma doença exclusivamente do Mediterrâneo. No Brasil a incidência de Talassemia Minor é variável e dependente do tipo de população que colonizou a área, sendo freqüen- te, por exemplo, em São Paulo, onde há uma grande colônia de italianos. Existe uma Associação de Pacientes ? Sim, pessoas jovens tivessem esta informação antes de escolherem seus maridos e esposas. Deste modo, adolescentes e adultos jovens devem ser testados, preferencialmente. 10 Expediente Direção Geral Clarisse Lobo Equipe Técnica Grupo Interdisciplinar de Tratamento de Portadores de Doenças Hemolíticas Hereditárias Humberto Aguiar de Oliveira Vera Marra Editoração/Ilustração Marcos Monteiro TOME NOTA:TOME NOTA: SERVIÇO SOCIAL DO HEMORIO Rua Frei Caneca, nº 8, sala 811 - Centro Rio de Janeiro - Tel: 2332-8611 ramal 2246 Aqui você vai encontrar pessoas que se importam com você www.abrasta.org.br www.falcemicos.com.br ONDE QUER QUE VÁ, LEVE UMA MENSAGEM DE AMOR FALE SOBRE A DOAÇÃO DE SANGUE! SECRETARIA DE SAÚDE E DEFESA CIVIL Rua Frei Caneca, 8 - Centro - Rio de Janeiro - CEP: 20.211-030 - Tel.: 2332-8611 www.hemorio.rj.gov.br Aula 1.pdf Faculdade de Tecnologia e Ciências – Unidade Jequié ENFERMAGEM NA INTERPRETAÇÃO DOS EXAMES LABORATORIAIS Profa. Dra Julliane Sampaio Qual a impotância? Silva, Souza e Souza (2006) afirmam que a enfermagem evoluiu de forma ascendente e alcançou, junto às suas conquistas, o direito de solicitar exames e prescrever medicamentos em programas de Saúde Pública. • O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) através da Resolução nº. 195, de 18 de fevereiro de 1997, regulamentou a solicitação de exames de rotina e complementares pelo enfermeiro, quando no exercício de suas atividades profissionais, para uma efetiva assistência ao paciente, por meio da consulta de enfermagem, pautado nos programas do Ministério da Saúde. Para realizar uma consulta de enfermagem o enfermeiro precisa estar preparado para atender as demandas do paciente, aceitando seus valores, lembrando que o mesmo faz parte de um núcleo familiar e que é um ser holístico constituído de corpo, mente e espírito. É importante lembrar que a saúde é resultado de necessidades humanas atendidas e a doença se trata das necessidades humanas básicas afetadas (VANZIN; NERY, 1996). • ESF – reorienta e reestrutura o modelo de atenção a saúde. • O enfermeiro: exerce um papel extremamente importante, desenvolvendo ações comuns a toda equipe e outras atribuições específicas, como por exemplo, realizar consulta de enfermagem, solicitar exames complementares e prescrever medicamentos em condições singulares. Para uma interpretação correta dos resultados de exames são necessários conhecimentos básicos de exames (as terminologias, o propósito, os valores, os resultados normais do teste, a história e a avaliação na identificação de situações que podem afetá-lo, como por exemplo, a gravidez e o diabetes) e clínicos. Confirmação ou descarte de diagnóstico Os programas e protocolos do MS • Viabilizam ao enfermeiro: prescrever exames laboratoriais, logo a não solicitação de exames de rotina e complementares, quando necessários para o estudo, é uma atitude omissa, negligente e imprudente, colocando em risco a saúde do paciente (COFEN, 1997) A identificação de diagnósticos específicos é fundamental, pois possibilita traçar um plano de intervenções mais preciso, direcionando um tratamento, detectando melhor as necessidades dos pacientes, contribuindo então, para a construção do conhecimento e engrandecimento da enfermagem (GARCEZ, 2008). • Permitiu várias práticas como: intervenções diretas através da consulta; prescrição de medicamentos; solicitação de exames e até as intervenções indiretas como a educação em saúde para a população, conquistando assim, o seu reconhecimento neste programa. ESF: de um espaço ímpar para o enfermeiro • Tal fato permitiu a construção de uma identidade profissional do enfermeiro e, a partir disso, este profissional busca reivindicar o que é de sua competência, o que, por vezes, gera discussões sobre sua capacidade técnica e jurídica HEMATOLOGIA CÉLULAS SANGUÍNEAS HEMATOLOGIA • Valores analisados • Quantidade de hemácias • Hemoglobina: pigmento • Hematócrito: volume globular (hemácia por volume de sangue) HEMOGRAMA • Componentes do sangue Componente Líquida (55% do volume) Plasma • Componente Celular (45% do volume) Eritrócitos (Hemácias) Leucócitos (células brancas) Trombócitos (plaquetas) ERITRÓCITOS (hemácias) • Média de 120 dias de vida ERITRÓCITOS (hemácias) • Principal função: • Transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos. • Principal componente: • proteína: Hemoglobina • •Origem (eritropoese) Medula Óssea •Fim Baço Fígado • SINONÍMIA Leucograma, eritrograma, contagem de plaquetas e hematoscopia • INDICAÇÃO CLÍNICA O exame é útil para diagnóstico e classificação das desordens eritrocitárias, leucocitárias e plaquetárias PREPARO DO PACIENTE Jejum mínimo de 4 horas – recomendável HEMOGLOBINA A hemoglobina é uma molécula complexa, formada por uma porção proteica – Globulina - e uma não proteica - heme. No organismo humano encontram-se 3 tipos de Hb: – A1 que representa 97% do total – A2 que corresponde a 3% da Hb do adulto – F presente durante a vida intra-uterina A diferença entre estas encontra-se na estrutura da globina que se compõe de dois pares de cadeias proteicas: A1: α2 β2 A2: α2δ2 F: α2 γ2 Durante os primeiros 6 meses de vida a HB F é substituída pela Hb do adulto (Hb A1) com a formação de cadeias β ao invés de γ. Quando tal não é possível a produção de HB F prolonga-se na vida extra uterina. INTERPRETAÇÃO • Valores de referência Os valores de referência podem variar em função do método e reagente utilizado; portanto, esses valores devem estar claramente citados nos laudos de resultados de exames laboratoriais. Eritrograma • O eritrograma avalia a série eritrocítica e compõe-se da contagem de hemácias, dosagem de hemoglobina, determinação do hematócrito e índices hematimétricos (VCM, HCM, CHCM e RDW). A hematoscopia, isto é, a avaliação morfológica das hemácias complementa o eritrograma. • O VCM é parâmetro útil na classificação das anemias, permitindo diferenciá- las em microcíticas, quando o VCM encontra-se abaixo do limite inferior de referência, normocíticas (dentro dos limites de referência) e macrocíticas, quando se encontra acima do limite superior de referência. • O HCM é a medida da massa de hemoglobina presente, em média, nas hemácias. • O CHCM mede a concentração média de hemoglobina nas hemácias e auxilia na classificação das anemias em normocrômicas ou hipocrômicas. • O RDW representa a variação da distribuição das hemácias quanto ao tamanho e reflete, portanto, a anisocitose da população estudada. É útil na avaliação de anemias microcíticas, pois, habitualmente, é maior nas anemias ferroprivas do que nas talassemias e anemias de doença crônica. VALORES HEMATIMÉTRICOS • VCM: volume de cada hemácia (volume) • HCM: hemoglobina por hemácia (cor) • CHCM: % de cada hemácia que é composta por hemoglobina • A hematoscopia é feita pelo exame microscópico do esfregaço de sangue corado. São avaliados tamanho, coloração, forma das hemácias e presença de inclusões citoplasmáticas. • Normalmente, as hemácias apresentam uma pequena variação de tamanho. • Anisocitose significativa pode ser decorrente da presença de microcitose e/ ou macrocitose. • Dá-se o nome de poiquilocitose à presença de hemácias com formas diferentes. Poiquilócitos, como os esferócitos e drepanócitos (hemácias falciformes), fornecem informações clínicas importantes para prosseguir uma investigação diagnóstica. • Eritroblastos não são vistos no sangue periférico de pessoas sadias, exceto no caso recém- nascidos. Sua presença indica eritropoese acelerada, infiltração da medula óssea ou eritropoese extramedular. A presença de numerosos eritroblastos circulantes é achado característico da ∂-talassemia maior. • Valores críticos • Hematócrito: < 18% ou > 54% • Hemoglobina: < 6,0 g/dL ou > 18,0 g/dL • Leucócitos: < 2.500/mm3 ou > 30.000/mm3 • Plaquetas: < 5.000/mm3 ou > 1.000.000/mm3 Principais influências pré-analíticas e fatores interferentes • Lipemia, hemólise intensa, autoaglutinação de plaquetas EDTA dependente e hiperglobulinemia interferem nas determinações. Exames relacionados • Avaliação das reservas de ferro • Curva de fragilidade osmótica • Eletroforese de hemoglobina • Pesquisa de drepanócitos • Dosagem de vitamina B12 • Dosagem de ácido fólico • Contagem de linfócitos CD4+ e CD8+ • Mielograma • Biópsia de medula óssea Dá-se o nome de poiquilocitose à presença de hemácias com formas diferentes. Poiquilócitos, como os esferócitos e drepanócitos (hemácias falciformes), fornecem informações clínicas importantes para prosseguir uma investigação diagnóstica. Esferócitos Drepanócitos Poiquilócitos • Anemia: diminuição da massa eritrocitária • Policitemia: expansão da massa eritrocitária ANEMIAS HEMOGLOBINOPATIAS Quadro clínico • Palidez, fadiga, tontura, taquicardia, amenorreia, icterícia, urina e fezes escuras, dores nas pernas, coiloniquia, Síndrome de Pica (alotriofagia). Histórico do Paciente • Deficiência de produção a)Aplasias: hereditárias e adquiridas b)Deficiência de fatores alimentares (essenciais): Fe, B12, ácido fólico(B9), proteínas (marasmo) c)Secundário à infiltração medular: leucemias, síndrome mieloproliferativas e metástase d)Secundária à doença renal e)Secundária à endocrinopatias, doenças crônicas e cirrose. • Por excesso de destruição a)Defeito intrínseco: na membrana ou na produção de Hb b)Defeito extrínseco: Auto-Ac, Iso-Ac (eritroblastose), infecção por protozoário • Por perda a)Perda aguda: grandes hemorragias ANEMIAS MICROCÍTICAS Anemia (Hb ) VGM/HCM VCM/HCM Microcítica e Hipocrômica VCM/HCM Normais Normocítica e Normocrômica VCM/HCM Macrocítica e Hipercrômica Ver a morfologia Talassemia Anemia hemolítica: defeito na porção globulina Eritrócitos com vida média de 80 dias Ver morfologia - Drepanócitos Fe normal ou Eletroforese de Hb; HPCLC (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência) Reticulócitos >3% (aumento da taxa de destruição de Hb) Bilirrubina* indireta * É derivada da degradação da hemoglobina proveniente de hemácias senescentes, sendo uma pequena proporção advinda da destruição prematura de eritrócitos Anemia (Hb ) VGM/HCM VCM/HCM Microcítica e Hipocrômica VCM/HCM Normais Normocítica e Normocrômica VCM/HCM Macrocítica e Hipercrômica Ver a morfologia Talassemia Sideroblástica Não consegue agregar Fe à protoporfirina na formação da porção Heme Problema na porção Heme da Hb Fe e ferritina normal ou Coloração de PERSL hepatoesplenomegalia lesão hepática lesão cardíaca. • Piruvato é essencial no ciclo de Krebs e, diminuição implicará em desgaste na obtenção de energia, formação de ácido lático. Os reticulócitos diferem das hemácias por conterem restos de material genético (RNA) que não existe nas hemácias. Os reticulócitos circulantes perdem esse RNA dentro de um a dois dias, tornando-se hemácias maduras. Anemia (Hb ) VGM/HCM VCM/HCM Microcítica e Hipocrômica VCM/HCM Normais Normocítica e Normocrômica VCM/HCM Macrocítica e Hipercrômica Ver a morfologia Secundária a doenças crônicas Na anemia sec. doenças crônicas atuam pelo menos três mecanismos: alterações na eritropoese, sobrevida das hemácias e resposta inadequada da medula à hemólise. Infecciosa (fúngicas, bacterianas e virais), inflamatória ou neoplásica, anemia e hipoferremia Abundante quantidade de ferro nos macrófagos. Gravidade - grau de infecção Ferropriva Fe e ferritina Coloração de PERSL Problema na porção Heme da Hb Retículócitos VR: 0,5% -1,5% • Hiperbilirrubinemias não-conjugadas (indiretas): – Hiperprodução de bilirrubina indireta: • Anemias hemolíticas (hereditárias ou adquiridas) • Eritropoese ineficaz • Incompatibilidade transfusional • Reabsorção de hematomas • Hiperbilirrubinemias conjugadas (diretas): – Colestases – Lesões hepatocelulares Anemia (Hb ) VGM/HCM VCM/HCM Microcítica e Hipocrômica VCM/HCM Normais Normocítica e Normocrômica VCM/HCM Macrocítica e Hipercrômica Falcemia Eletroforese Hb Teste de Falcisação Reticulócitos > 3% Bilirrubina Indireta Secundária a acometimento renal Doença renal no histórico Dosagem de eritropoetina Ver a morfologia Anemia (Hb ) VGM/HCM VCM/HCM Microcítica e Hipocrômica VCM/HCM Normais Normocítica e Normocrômica VCM/HCM Macrocítica e Hipercrômica Hipotiroidismo Síntese de Hb por de tiroxina; Deficiência de Fe devido às menorragias Absorção intestinal de Fe Aplasia Medular Não há produção de células Mielograma Reticulócitos Retículócitos VR: 0,5% -1,5% Ver a morfologia T4, é um hormônio: função regular a velocidade do metabolismo e oxigenação dos tecidos. Participando do metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos. Anemia (Hb ) VGM/HCM VCM/HCM Microcítica e Hipocrômica VCM/HCM Normais Normocítica e Normocrômica VCM/HCM Macrocítica e Hipercrômica Megaloblástica Não-Megaloblástica Déficit de B12 Déficit de Folato (B9) Anemia Perniciosa Gastrectomia Bariátrica Ret. parte do intestino delgado Competição por B12 Deficiência no fator intríseco Dosagem de B12 Carência na dieta Dosagem de folato Ressecção jejunal Resulta da inibição da síntese de DNA na produção de hemácias Hipersegmentação nuclear: a quantidade de síntese das bases púricas que necessitam de folato e B12. O folato através de agentes químicos e físicos Hemácias grandes, imaturas e disfuncionais Fator intrínseco é uma proteína secretada pelo estômago que se adere à vitamina B12 no estômago. Aderência no estômoga - intestino delgado -absorção pela corrente sanguínea. Na ausência do fator intrínseco, a vitamina B12 não será absorvida e será excretada pelo corpo resultando de uma reação autoimune: anemia perniciosa (Ac formados contra as células da parede gástrica). Complicações neurológicas: a deficiência de vitamina B12 pode causar neuropatia periférica e degeneração das colunas posterior e lateral da medula espinal. Essas lesões progridem de desmielinização - degeneração axonal - morte neuronal. As manifestações mais comuns: parestesias e dormência. As manifestações cerebrais vão desde alterações da personalidade e déficit de memória até psicose franca (“loucura megaloblástica”). Anemia (Hb ) VGM/HCM VCM/HCM Microcítica e Hipocrômica VCM/HCM Normais Normocítica e Normocrômica VCM/HCM Macrocítica e Hipercrômica Megaloblástica Não-Megaloblástica Problema hepáticoAumento da taxa de reticulócitos Etilismo O fígado é um reservatório de folato Consequência de doença tiroidiana Síndromes mielodisplásicas Sofrem uma mutação em seus genes e se desenvolvem de forma diferente, chegando à fase adulta de maneira deficiente. ANEMIA ASSOCIADA À DROGAS Redução na produção • Antineoplásicos • Cloranfenicol • Fenilbutazona Hemólise • Penicilina • Metildopa Protocolos_clinicos_exames_laboratoriais.pdf Protocolos Clínicos dos Exames Laboratoriais na Atenção Primária à Saúde 2011 Governador do estado de Minas Gerais antonio augusto Junho anastasia vice-Governador d o estado de Minas Gerais alberto Pinto coelho secretário de estado de saúde de Minas Gerais antônio Jorge de souza Marques secretário adJunto eM saúde Breno Henrique avelar de Pinho simões suBsecretário de viGilância e ProMoção à saúde carlos alberto Pereira Gomes suBsecretário de Políticas e ações eM saúde Maurício rodrigues Botelho suBsecretário de inovação e loGística eM saúde João luiz soares suBsecretária de reGulação letícia campos diretor de sisteMas loGísticos e de aPoio às redes luiz Fernando Freesz assessora de coMunicação social Gisele Bicalho AUTORES letícia Maria Henriques resende luciana de Gouvêa viana Pedro Guatimosim vidigal COLABORADORES Myriam de siqueira Feitosa silvana Maria elói santos taciana de Figueiredo soares REviSãO luiz Fernando Freesz Marília de dirceu Pinto Fiuza renata Gomes de alcântara Protocolos clínicos dos eXaMes laBoratoriais na atenção PriMária à saúde AGRADECIMENTOS agradecemos aos profissionais que, direta ou indiretamente, participaram deste Guia básico de coleta de espécies biológicas para exames laboratoriais na atenção primária à saúde. o material contido neste Guia explica a proposta da secretaria de estado de saúde, por meio da diretoria de sistemas logísticos e de apoio às redes, de traçar diretrizes para a implementação das linhas de sustentação das políticas da rede de apoio diagnóstico, no âmbito do estado de Minas Gerais. este documento tem como objetivo principal servir de subsidio técnico aos profissionais da saúde, principalmente aqueles relacionados à rede de apoio diagnóstico no estado de Minas Gerais. É, também, um dispositivo importante no agenciamento das informações, por pautar uma nova lógica de discussão do cuidado, concebendo as ações de saúde como um direito de cidadania dessa parcela da sociedade . Muito obrigada equipe da diretoria de sistemas
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