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1 Ana Julia C. R. Lima Apesar de expor medidas quantitativas em relação aos componentes do sangue, a interpretação do hemograma não deve ser unicamente objetiva. Em relação aos eritrócitos, deve-se conhecer o que cada índice hematimétrico expressa, e qual valor se espera de cada um nas respectivas enfermidades. Além disso, é importante associá-los entre si e também relacioná-los com os sinais e sintomas que o paciente apresenta. Contagem de hemácias (hematimetria) Homens: 4,3 a 5,9 milhões/mm³ Mulheres: 3,9 a 5,3 milhões/mm³ Hemoglobina (Hb) Homens: 13 a 18 g/dL Mulheres: 12 a 16 g/dL Hematócrito (Ht) Homens: 40 a 50% Mulheres: 38 a 45% Volume corpuscular médio (VCM) 80 a 96 fL Hemoglobina corpuscular média (HCM) 27 a 33 pg Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) 31 a 36 g/dL Red cell distribution width (RDW) 11,5 a 14,5% A hematimetria expressa a quantidade, em milhões, de hemácias por mm³, e o hematócrito (Ht), o volume das hemácias em uma amostra de sangue, em porcentagem. São índices bastante úteis na avaliação das eritrocitoses, em que se encontram elevados, e das anemias em geral, em que estão diminuídos • Reflete a massa total de células sanguíneas na unidade de volume. Como as hemácias predominam largamente sobre os demais elementos figurados, o volume do hematócrito depende praticamente do volume ocupado pelos glóbulos vermelhos. A concentração de hemoglobina (Hb), em relação a todas as hemácias em um decilitro de sangue, é um dos mais importantes ao avaliar-se um hemograma. A principal função da hemoglobina é carrear e distribuir oxigênio aos tecidos, e sua diminuição, o que acontece nas anemias, pode causar sintomas como fadiga e dispneia, além de uma síndrome hiperdinâmica, expressa pelo aumento da frequência cardíaca, palpitações etc. A Hb está aumentada em casos de policitemia, desidratação e hipóxia. • Ao retornar dos pulmões, a Hb atua no transporte de CO2 e prótons. • Representa 32% do peso total da Hemácia - Alterações de hemoglobina que não são causadas por perda de sangue • Aumento: fumantes, desidratação • Diminuição: criança, gestação, sexo feminino, mudança de posição em decúbito para a posição ereta, variação diurna, líquidos intravenosos • Os valores de referência compreendem de 13 a 18% para homens e 12 a 16% para mulheres → Hemácias, eritrócitos ou glóbulos vermelhos • Elemento figurado mais numeroso do sangue • Passam por vários processos de maturação • Disco bicôncavo anucleado • 7,5 μ de diâmetro • São flexíveis • Durante sua maturação na medula óssea, perde o núcleo e suas organelas (exceto alguns ribossomos), por isso não consegue se dividir • Tem vida média de 120 dias e é digerida por macrófagos, principalmente no baço • Possuem proteína básica sintetizada por ribossomos – a hemoglobina compõe 32% do peso total da hemácia *Obs: toda alteração nas hemácias será devido a patologias ou incapacidade do baço de retirar da circulação hemácias com má formação. Os eritroblastos são hemácias nucleadas que podem ter regenerações eritrocitárias, ou como consequência de infiltração medular. Os reticulócitos refletem o estado regenerativo da medula e ocupam uma posição intermediária entre os eritroblastos da medula óssea e os eritrócitos maduros. • Aumento do número de reticulócitos = maior liberação de eritrócitos no sangue em resposta a determinado estímulo A sintomatologia da anemia é proporcional a gravidade. • Hipovolemia e queda na oxigenação • Hb≤9 g/dl: Irritabilidade, fadiga, palidez e dispneia a esforços físicos continuados. Pode haver anginas. • Hb entre 6 e 9 g/dl: Palidez evidente, sopro anêmico, taquicardia, dispneia e fadiga a menores esforços. • Hb< 3,5 g/dl: Insuficiência cardíaca é eminente e toda a atividade impossível. - Anomalias das hemácias • Alteração na forma: anisocitose (tamanho), poiquilocitose (formato), esferócitos, ovalócitos, drepanócitos (falciforme), acantócitos • Alteração na cor: policromasia, hipocromia • Alteração no tamanho: microcitose, macrocitose Os reticulócitos são os penúltimos na ordem de maturação, normalmente encontrados em pequena quantidade no sangue (<2% das hemáceas). A reticulocitose – aumento da contagem de reticulócitos circulantes – pode ser causada por anemia hemolítica, sangramento agudo, após tratamento de deficiência de vit B12/folato/ferro. Hb x 3 = Hematócrito 2 Ana Julia C. R. Lima O volume corpuscular médio (VCM) expressa o volume médio das hemácias, em fentolitros, o qual costuma variar entre 80 a 96 fL • Microcítica: é comum e anemias por déficit de ferro • Macrocítica: está associado a um elevado número de reticulócitos, ao tabagismo, déficit de vot-B12 e ácido fólico • Normocítica: perda aguda de sangue, anemia hemolítica e anemia ferropriva O HCM é o índice que expressa a massa de hemoglobina média das hemácias. Medido em picogramas, é encontrado diminuído nas anemias hipocrômicas, como ferropriva e talassemias O CHCM indica a concentração média de hemoglobina nas hemácias, medido em gramas por decilitro. (avalia a cor) • Hipocromia: deficiência crônica de ferro; Talassemia • Normocromia: normal • Hipercromia: desordens de pigmentação que tem origem numa produção exagerada de melanina, podem surgir devido a fatores como envelhecimento, alterações hormonais, inflamações, alergias e exposição solar → Anisocromia Presença de células vermelhas com coloração ou grau de hemoglobinização diferentes, variando entre hipocromia, normocromia e hipercromia. É característica de anemias siceroblásticas, quando há acúmulo anormal de ferro nas mitocôndrias. • Também pode ser encontrada nas terapias pós-transfusionais e de reposição de ferro • Policromasia ou policromatofilia: presença de um número aumentado de eritrócitos recém-saídos da medula óssea, que se coram azulado em meio à coloração normal. o Interpretação: processo regenerativo da medula (reticulocitose), característico da hemólise e perda aguda de sangue. O VCM, o HCM e o CHCM são calculados a partir de outros índices hematimétricos, como: Por fim, o RDW (red cell distribution width), ou índice de anisocitose, expressa a variação de volume entre as hemácias. É o desvio padrão da média do tamanho das hemácias, ou seja, quanto mais hemácias de tamanhos diferentes(anisocitose), maior o RDW. Altos valores de RDW são encontrados em pacientes que passaram por transfusão sanguínea recente, em síndromes mielodisplásicas, e também nas anemias ferropriva e megaloblástica, diferenciado-as das talassemias, em que o RDW, geralmente, está normal. • Valores de referência: 11,5 – 14,5% • Alteração nesses valores é observado em condições de falha na eritropoiese (anemia causada pela deficiência de ácido fólico / B12, anemia hemolítica, anemia ferropriva) na destruição aumentada de eritrócitos. • Na Anemia ferropriva: tendência à heterogeneidade do tamanho das hemácias, valores de RDW elevado. • Talassemia: tende a homogeneidade da população microcítica, apresenta valores normais de RDW *alteração na forma da hemácia = poiquilocitose (anemia falciforme) Anemias Define-se anemia quando hemoglobina abaixo de 13 g/dL para homens e 12 g/dL para mulheres em idade fértil. Até o período da puberdade, os valores de referência na infância são inferiores aos da vida adulta. O decremento habitual dos níveis de hemoglobina é conhecido como anemia fisiológica da infância, e decorre, dentre outros fatores, da adaptação à vida extrauterina após o parto no início da vida e, posteriormente, pode estar associado a mudanças da afinidade entre a hemoglobina e o oxigênio neste período da vida. As anemias podem ser classificadas quanto aos mecanismos fisiopatológicos em três grandes grupos: - Anemia por redução de produção: deficiências nutricionais, deficiência de eritropoetina, bloqueio da maturação celular por citocinas,ocupação medular, infecção dos progenitores, lesão dos progenitores mediada imunologicamente e defeitos genéticos adquiridos) - Anemia por excesso de destruição: defeitos genéticos hereditários e adquiridos, destruição mediada por anticorpos, trauma mecânico, infecção dos eritrócitos, lesão tóxica ou química, anormalidade dos lipídios da membrana da hemácia e hiperesplenismo - Anemia por perdas sanguíneas: subdividindo-se em perdas agudas e crônicas Sua clínica envolve: • Dispneia aos esforços • Palpitações, taquicardia • Menor tolerância à esforços • Cansaço evidente • Anorexia • Tonteira postural • Cefaleia História clínica: crucial para investigação etiológica • Duração, início e sintomas • Icterícia e cálculos biliares – sugestivo de hemólise • Perda ou doação sanguínea • Gestação – def. ferro ou folato • Recorrências e remissões – investigar def. B12, Fe e folato • Geofagia, criofagia – sugere def. ferro • Parestesia, ataxia – sugere def. B12 • Medicações em uso – investigar interação com Fe, B12 e folato Indice de anisocitose: reflete a variação do tamanho dos eritrócitos. Alteração precoce no déficit de ferro antes mesmo da alteração dos demais parâmetros (VCM) e da diminuição da Hb. 3 Ana Julia C. R. Lima → Avaliação laboratorial É fundamental ter um hemograma inicial de cada pessoa para funcionar como padrão - Passo 1: avaliar hemoglobina, hematócrito, VCM, CHCM - Passo 2: avaliar reticulócitos (representam de 0,5 a 1,5% das hemácias) • Valores altos = medula óssea normal, perda de hemácias por hemólise ou hemorragia • Valores baixos: problemas na síntese de hemácias na medula óssea (alterações nas células tronco, eritropoietina ou substratos) - Passo 3: exames complementares • Ferritina, ferro sérico, transferrina, TIBC (CTLF) = microcitose • B12, ácido fólico, homocisteína e ácido metilmalônico (AMM) = macrocitose → Avaliação do paciente com anemia • Eritrócitos microcíticos – excluir cuidadosamente a possibilidade de perda crônica de sangue; • Eritrócitos macrocíticos – considerar a possibilidade de anemia megaloblástica ou de reticulocitose em consequência de sangramento agudo; • Presença de eritroblastos – substituição de medula óssea ou eritropoese medular acentuada comum nas anemias hemolíticas; • Presença de macrócitos – produzidos por reticulocitose, associados com anemia megaloblástica, uremia, alcoolismo ou hipertireoidismo; • Células falciformes – anemia falciforme. Doenças sanguíneas que envolvem as hemácias - Anemia ferropriva: há uma queda na produção de Hb. Se confirma com ferro sérico e ferritina. - Anemia perniciosa ou Megaloblástica: Doença autoimune caracterizada pela falta do fator intrínseco necessário para absorção da Vit–B12 na dieta. VCM > 96 fl e CHCM normal. Anemia macrocítica. - Anemias Hemolíticas: Anemias falciformes, Talassemias, Esferocitose hereditária e etc., são diagnosticadas logo na infância A Ferritina é uma proteína produzida pelo fígado que tem como função armazenar o ferro, podendo estar aumentada em caso de inflamação ou infecções. É o indicador mais sensível para a quantidade de ferro armazenada no organismo. • Valores de ferritina abaixo do normal indicam diagnóstico de anemia, carência crônica • Valores elevados indicam sobrecarga de ferro • É uma proteína de fase aguda positiva - está elevada em casos de estresse metabólico, inflamação, infecções e traumas, podendo mascarar diagnóstico de anemia ferropriva. • Atenção: depleção orgânica acontece antes mesmo de o indivíduo apresentar diminuição dos níveis de hematócrito, hemoglobina, VCM e HCM Suplementação de ferro não elevou a ferritina? • Paciente pode não estar tomando adequadamente a medicação • Presença de sangramento mais rápido que a reposição de hemácias pela medula óssea • Ferro suplementar não está sendo absorvido (esteatorréia? doença celíaca? hemodiálise?) • Indicação de suplementação endovenosa é conduta médica Ferro sérico indica o valor de ferro circulante, auxiliando na verificação de diminuição ou sobrecarga de ferro • Fe sérico baixo causa de anemia ferropriva, infecções crônicas, alterações gastrointestinais e neoplasias • Fe sérico alto = hemocromatose, anemia hemolítica, doenças do fígado (cirrose e hepatite) e transfusão sanguínea • O ferro é transportado no sangue por uma proteína transferrina e armazenado nos tecidos ligado à outra proteína chamada ferritina. O objetivo do exame de transferrina é analisar a distribuição e o transporte do ferro no interior do corpo. Glicoproteína produzida pelo fígado cuja função é realizar transporte de ferro. • Está reduzida em fase aguda por ser PTN de fase aguda negativa • Está elevada na anemia ferropriva • Geralmente expressa em TIBC (capacidade total de ligação do ferro) TIBC ou CTLR (total iron bind capacity ou capacidade total de ligação do ferro). Representa a porção total de ferro ligado a transferrina, a proteína que o carrega. • Resultados aumentados de TIBC encontram-se em patologias que reduzem as reservas de ferro (ferropenia) (deficiência do metal ou perda sanguínea) ou que elevam a produção hepática de transferrina (gestação ou uso de anticoncepcional oral). • Resultados diminuídos de TIBC sugerem que não há uma deficiência e sim, inflamação (bloqueio da liberação do ferro ligado). As verminoses são um fator importante na anemia severa (Calazar). anciostomídeos, esquistossomídeos, malária... É ideal a ingesta de ferro com Vit. C A saturação de transferrina (TSAT) é a razão obtida a partir do ferro sérico e da transferrina 4 Ana Julia C. R. Lima Velocidade de Hemossedimentação das hemácias (VHS) indica o resultado entre as forças envolvidas na sedimentação das hemácias e atividades das substâncias plasmáticas, especialmente pelo Fibrinogênio e pelas proteínas de fase aguda. • Processos inflamatórios ocasionam maior agregação das hemácias, o que favorece o aumento da velocidade de sedimentação • VSH é útil para monitorar inflamação crônica e a atividade da doença como na artrite reumatóide, mesmo em uso de corticóides. • OBS: homens entre 45 e 64 anos e com VHS no limite superior, junto com fatores de risco, tem duas vezes mais risco de morte por doenças das coronárias. Anemias microcíticas As anemias microcíticas apresentam VCM menor que 80 fL. Geralmente, o HCM também encontra-se reduzido, menor que 28 pg, caracterizando as hemácias como microcíticas e hipocrômicas. A avaliação do paciente deve ser criteriosa, pois esse achado pode refletir desde condições prontamente tratáveis, como anemia ferropriva, até condições raras e de manejo potencialmente complicado, como talassemias. A deficiência de ferro pode ser associada a várias causas, como aumento da demanda por ferro, geralmente condicionado por perdas sanguíneas, gravidez e hemólise intravascular com hemoglobinúria. Outra condição também favorável ao desenvolvimento de anemia é o suprimento inadequado de ferro, seja por restrição de dieta, por má absorção dos alimentos (gastrectomias, doenças inflamatórias intestinais e doença celíaca), por sangramento ginecológico ou gastrointestinal, estirão de crescimento na puberdade etc. Ademais, fatores genéticos também podem conduzir a esse quadro por meio da função anormal da transferrina em uma condição de atransferrinemia congênita. Deve-se ressaltar que a anemia ferropriva é a principal causa de anemia no mundo, especialmente em países em desenvolvimento, nos quais o baixo investimento em saneamento básico e as péssimas condições socioeconômicas são as principais causas dessa doença. No que concerne ao diagnóstico diferencial de microcitose, defeitos em fatores genéticos também podem ser apontados na ocorrência de anemia sideroblástica e talassemias. Pode-se citar ainda a deficiência de cobre como causa rara de anemia microcítica,com ferro sérico baixo, e níveis normais de transferrina e ferritina. Anemia ferropriva ou feropenica • Hemácias microcíticas e hipocrômicas • VCM, HCM e CHCM baixos (microcitose e hipocromia) • Anisopoiquilocitose: hemácias em forma elíptica (oval) e dacriocitos (forma de lagrima) • Fe sérico e Ferritina baixos • CTLF alto Talassemia Ausência ou redução da síntese de uma das cadeias globinicas, formadora de hemoglobina • Hemácias microcíticas • VCM baixo = microcitose • HCM baixo = hipocromia • Poquilocitose: presença de formas alteradas de hemácias), ex. Esquizocitos, dacriocitos. • Policromasia: hemácias com coloração azulada indicativo de reticulocitos Anemia da doença crônica Causada secundariamente a: um processo inflamatório (artrite reumatóide, doença inflamatória intestinal) ou neoplasias • Hemácia Normocítica e normocrômica – 2/3 casos • Hemácia Microcítica e hipocrômica – 1/3 casos • HT = 25 a 40% • Fe sérico = baixo • Ferritina = normal ou alta • CTLF = normal ou baixo Anemias macrocíticas As anemias macrocíticas apresentam o VCM elevado, acima de 98 fL, podendo ser divididas em megaloblásticas e não megaloblásticas. Os pacientes, geralmente, são assintomáticos; porém, em estados mais avançados, apresentam sintomas comuns a qualquer síndrome anêmica. É importante ressaltar que, embora a microscopia mostre hipercromicidade, os macrócitos não são hipercrômicos de fato, uma vez que não apresentam o CHCM elevado. Após a interpretação do hemograma e constatado o VCM elevado, é realizada a contagem de reticulócitos, caso estejam acima de 2% ou acima do valor absoluto referencial, devem ser consideradas anemias por excesso de destruição ou por perdas. Caso não haja reticulocitose, analisa-se o sangue periférico para classificar a anemia em megaloblástica ou não. Dois importantes achados que confirmam a megaloblastose são a presença de neutrófilos hipersegmentados (mais de cinco neutrófilos com mais de cinco lóbulos ou um com mais de seis) e de macroovalócitos (eritrócitos macrocíticos de formato oval). Baixas dosagens séricas de B12 e/ou folato confirmam o diagnóstico de anemia megaloblástica. Se a deficiência for de cianocobalamina, recomenda-se fazer avaliações para excluir deficiência nutricional, disabsorção ou gastrite atrófica. A deficiência de B12 associada à gastrite atrófica autoimune define anemia perniciosa (AP), na qual a presença dos anticorpos anticélula parietal e antifator intrínseco auxiliam na elucidação do diagnóstico. O paciente, em alguns casos, pode apresentar desordens do sistema nervoso devido à deficiência de B12, mesmo na ausência de anemia. Em consequência da eritropoese ineficaz acelerada, pode- 5 Ana Julia C. R. Lima se encontrar LDH e bilirrubina indireta elevadas. Se a causa for deficiência de folato, a coleta de anamnese é o meio mais eficaz para confirmar diagnóstico, uma vez que o aumento das necessidades (gravidez, hemodiálise, eritrodermia esfoliativa, entre outros), dieta inadequada e o consumo de álcool e drogas (sulfas, pirimetamina, metotrexate, anticonvulsivantes, entre outros) são as principais responsáveis pela falta de B9. Se os níveis de B12 e folato estão normais, investiga-se as etiologias de anemia macrocítica não megaloblástica já citadas no tópico anterior. Anemias megaloblásticas A anemia megaloblástica consiste na deficiência de vitamina B12 (cianocobalamina) ou B9 (ácido fólico), os quais atuam em conjunto na síntese de timina. Desse modo, a síntese e, por conseguinte, a replicação do DNA é inibida, mas a de RNA, não. Esse processo leva ao desenvolvimento citoplasmático de uma célula que se encontra em baixa divisão mitótica, resultando no aspecto megaloblastoide da linhagem eritrocítica. A reticulocitose causa anemia macrocítica, tanto pela liberação de células imaturas no sangue, quanto pelo consumo do estoque dos nutrientes citados anteriormente. • O termo megaloblastose não se refere ao tamanho da célula e sim a um defeito no núcleo • Principais causas: Deficiência B12 e ácido fólico • VCM > 130 fl (aumentado – macrocitose) • Hb aumentada • Pode haver anisocitose (investigar anemia mista: ferropriva + megaloblástica) • Pode ocorrer pancitopenia (redução do número de eritrócitos, leucócitos e plaquetas) • Reticulócitos baixos Anemia macrocítica não perniciosa Pode ser causada por etilismo, drogas (antirretrovirais, quimioterápicos, anticoncepcionais, entre outras), hepatopatias, anticonvulsivantes, biguanidas, síndromes mielodisplásicas ou tireoidopatias. Os mecanismos fisiopatológicos são pouco conhecidos. Anemias hemolíticas Anemia falciforme Doença hereditária devido à presença nas hemácias de uma hemoglobina anormal (hemoglobina S), que quando privada de O2, assume a forma de partículas alongadas, levando a deformação das hemácias. As hemácias falciformes exibem tendência a aderir-se umas as outras formando trombos intravasculares. • Anemia normocítica com algumas hemácias falciformes • Poiquilocitose evidente: Drepanocitos (forma de foice) • Reticulocitose acentuada • Hemácias, Ht e Hb diminuídos Anemias normocíticas Nas anemias normocíticas, o VCM se encontra entre 80 e 98 fL, mas a hemoglobina se encontra abaixo da faixa adequada ao paciente. Normalmente assintomático, o paciente que apresenta exames com anemia normocítica deve ter uma avaliação cuidadosa, pois a anemia pode ser o primeiro sinal de alguma enfermidade sistêmica, assim como uma doença hematológica primária. A anemia normocítica pode ter origem tanto pelo excesso de destruição das hemácias quanto pela falta de produção dessas células, além do hiperesplenismo e da perda aguda de sangue. Deve-se notar que o estágio inicial de quase todas as anemias é normocítico, sendo aqui denotadas as principais causas hiperproliferativas e hipoproliferativas. Existem causas de origem congênitas (hemoglobinopatias, membranopatias e eritroenzimopatias) e adquiridas de hemólise. Os mecanismos de hemólise são diversos. Nesses casos, é necessário realizar hematoscopia, testes diagnósticos e investigar o histórico do paciente para infecções (Malária, Babesia, Bartonella, Clostridium, Rickettsia, Haemophilus influenzae e HIV) e exposição a drogas A anemia da doença crônica pode ter origem de condições inflamatórias, infecciosas, neoplásicas malignas e outras condições sistêmicas. Contudo, as anemias associadas a doenças renais, hepáticas e endócrinas não apresentam os mesmos perfis de ferro das causadas por doenças crônicas, devendo-se investigar a função desses órgãos em particular. Causas como aplasia medular, infiltrações medulares, síndromes mielodisplásicas e anemia sideroblástica devem ser diagnosticadas pela biópsia de MO. A anemia da doença crônica (ADC), apesar de poder apresentar microcitose, é a causa mais comum da maioria das anemias normocíticas em adultos, e sendo feita a abordagem adequada, pode-se dispensar a requisição de muitos exames. Anemia hipoplástica ou aplástica A medula é hipofuncionante, incapaz de gerar as quantidades de hemácias e hemoglobina para compensar a destruição hemática normal (deficiência na produção de hemácias). • Anemia Hipoplástica: diminuição apenas da eritropoese, anemia normocítica, normocrômica, com nº normal de leucócitos e plaquetas. • Anemia aplástica: Comprometimento de todos os setores da medula óssea. Anemia normocrômica, leucopenia (menos de 2000 / mm³) e plaquetopenia (menos de 30000/mm³) É preferível a dosagem de folato eritrocitário, já que o sérico sofre interferência da alimentação do dia 6 Ana Julia C. R. Lima
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