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FARMACOLOGIA DO DIABETES MELLITUS Profa. Dra. Patrícia Corrêa Dias Curso de Farmácia - Unimep HISTÓRICO DO DIABETES MELLITUS - DM - Doença tão antiga quanto a própria humanidade. O Papiro de Ebers (época 1500 a.C.) menciona esta entidade e chama a atenção para a diurese frequente e abundante, sede incontrolável e emagrecimento acentuado, como suas principais manifestações clínicas - Aretaeus, médico romano, criou o termo dia-betes que significa "passar através" por causa de excessiva diurese, um dos sintomas mais evidentes da doença, ser parecido à drenagem de água por meio de um sifão Papiro de Ebers Aretaeus DIABETES MELLITUS - DM Grupo de doenças metabólicas caracterizadas por HIPERGLICEMIA e associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos (olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sangüíneos). - Muita sede (polidipsia) - Vontade constante de urinar e grande volume de urina (poliúria) - Perda de peso - Fome exagerada (polifagia) - Visão embaçada - Infecções repetidas na pele ou mucosas - Machucados que demoram a cicatrizar - Fadiga (cansaço inexplicável) - Dores nas pernas por causa de má circulação SINTOMAS GERAIS CLASSIFICAÇÃO DO DM – TIPO I - Doença autoimune, caracterizada pela destruição das células beta produtoras de insulina (autoanticorpos) - Início geralmente na infância e adolescência - Supressão total de produção de insulina - Pacientes dependem de insulina exógena (insulinodependentes) - Predisposição genética ou não (perda emocional ou também alguma agressão por determinados tipos de vírus como o cocsaquie) - Ocorre contínua produção de insulina pelo pâncreas - Pode haver produção diminuída de insulina ou - Diminuição da capacidade de absorção da glicose pelas células musculares e adiposas (resistência Insulínica) - Possui um importante fator hereditário e grande relação com a obesidade e o sedentarismo. - O início ocorre geralmente na vida adulta (após os 40 anos) - Tratamento com dieta, exercício físico, hipoglicemiantes orais e em situações extremas, a insulina CLASSIFICAÇÃO DO DM – TIPO II CLASSIFICAÇÃO DO DM – GESTACIONAL - Qualquer intolerância a carboidratos, resultando em hiperglicemia, com início ou diagnóstico na gestação - Ocorre elevação de hormônios contra-reguladores da insulina, pelo estresse fisiológico da gravidez e a fatores predeterminantes (genéticos ou ambientais) - O principal hormônio relacionado com a resistência à insulina é o lactogênico placentário (outros: cortisol, estrógeno, progesterona e prolactina) - A incidência é de 3% a 7%, variando de acordo com a população estudada e os critérios diagnósticos utilizados - No Brasil, estima-se prevalência de 2,4% a 7,2%, dependendo do critério utilizado para o diagnóstico Normal -Glicemia de jejum entre 70 mg/dl e 99mg/dl e inferior a 140mg/dl 2 horas após sobrecarga de glicose Intolerância à glicose - Glicemia de jejum entre 100 a 125mg/dl Diabetes - 2 amostras colhidas em dias diferentes com resultado igual ou acima de 126mg/dl. ou quando a glicemia aleatória (feita a qualquer hora) estiver igual ou acima de 200mg/dl na presença de sintomas. Teste de tolerância à glicose aos 120 minutos igual ou acima de 200mg/dl. American Diabetes Association Sociedade Brasileira de Diabetes DIAGNÓSTICO DO DM - Uma das grandes epidemias mundiais do século 21 e importante problema de saúde pública - No mundo: cerca de 135 milhões em 1995 e 240 milhões em 2005, com projeção de atingir 366 milhões em 2030, dos quais dois terços em países em desenvolvimento . - Nas Américas: número estimado em 35 milhões para o ano 2000 e projetado para 64 milhões em 2025 - No Brasil (estudo multicêntrico): em população urbana de 30 a 69 anos, ao final dos anos 1980, a prevalência foi de 7,6%, incidindo igualmente nos dois sexos, mas aumentando com a idade e a adiposidade corporal. As maiores taxas foram em São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS), sugerindo a influência da urbanização e industrialização Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53/6 DADOS GERAIS DE INCIDÊNCIA DO DM - Neuropatia diabética pode se manifestar tanto por lesão em nervos periféricos como por disfunção autonômica. A disfunção autonômica pode afetar vários sistemas como o cardiovascular, o gastrintestinal e o geniturinário ALGUMAS COMPLICAÇÕES DO DM - Aterosclerose artérias coronarianas, dos membros inferiores e cerebrais - complicações macroangiopáticas - Problemas de visão (retinopatia diabética), doença renal (nefropatia diabética) e doença vascular periférica (pé diabético) – alterações microangiopáticas O PÂNCREAS ENDÓCRINBO A ILHOTA DE LANGERHANS - Células A – secreção de glucagon - Células B – secreção de insulina e polipeptídeo amiloide das ilhotas (amilina) - Células D – somatostatina A QUÍMICA DA INSULINA - Proteína com sequência de aminoácidos definida em 1955 - Possui duas cadeias polipeptídicas A (21 aminoácidos) e B (30 aminoácidos) unidas por ligações dissulfeto – PM 5734 Cadeia A Cadeia B Ligações dissulfeto INSULINA - Precursor: pre-pro-insulina no retículo endoplasmático rugoso (110 aa) - Pre-pro-insulina transportada até o aparelho de Golgi, onde sofre modificação (clivagem proteolítica em pro-insulina e insulina + peptídeo C - Insulina e peptídeo C armazenados em grânulos das células beta e são co- excretados por exocitose em quantidades iguais, junto com parte de pro-insulina OS INTERMEDIÁRIOS DA INSULINA Glicose Aminoácidos Ácidos graxos Célula B Célula D Célula A TGI Alimentos digeridos LIBERAÇÃO FISIOLÓGICA DA INSULINA (+) (+) (+) Insulina Nervos parassimpáticos (Ach) Nervos simpáticos (Nor – alfa2) (-) (-) (-) somatostatina glucagon (+) MECANISMO PARA A LIBERAÇÃO DA INSULINA - Canais de K+ determinam o potencial de membrana em repouso na célula beta - Glicose entra na célula pelo transportador GLUT-2 - Glicose é transformada em glicose 6 fosfato (glicoquinase) e entra na via da glicólise, aumentando o ATP intracelular - ATP bloqueia os canais de K+ e ocorre a despolarização celular - Ocorre a abertura dos canais de Ca++ voltagem dependentes – aumento do influxo e da mobilização intracelular no RE liso - Migração, fusão com a membrana e extrusão dos grânulos de insulina na corrente circulatória 1 2 3 4 AÇÕES DA INSULINA NOS TECIDOS - Ação sobre fígado, músculos e gordura - Efeito global de conservar os combustíveis energéticos após a refeição, captando, utilizando e armazenando a glicose e de redução da glicemia Inibe produção de glicose (gliconeogênese e glicogenólise) Estimula a captação de glicose Inibe o fluxo de precursosres para a gliconeogênese (alanina, lactato) Estimula a captação de glicose Inibe o fluxo de precursosres para a gliconeogênese (glicerol) Estimula a captação de glicose (menos que o músculo) O RECEPTOR DA INSULINA - Insulina é um agonista de seu receptor, do tipo acoplado à tirosina quinase - Receptor na superfície de células alvo - complexo glicoproteico transmembrana (400 KDa), com duas subunidades alfa e duas beta, ligadas por pontes dissulfeto - Subunidades alfa são extracelulares e possuem dois sítios de ligação com a insulina - Subunidades beta são proteínas transmembrana, com atividade tipo tirosina quinase - As subunidades alfa suprimem a atividade de tirosina quinase das subunidades beta - A ligação da insulina na subunidade alfa ativa a atividade de tirosina quinase na subunidade beta MECANISMO DE AÇÃO DA INSULINAInteração da insulina com seus receptores (menos de 10% ocupados para efeito máximo) Agregação dos receptores em grupos e posterior internalização do complexo receptor insulina (degradação da insulina por lisossomos e receptores reenviados para a membrana) Promoção de cascata de reações de quinases e fosfatases deflagradas pela tirosina quinase As proteínas de substrato do receptor de insulina (IRS – insulin receptor substrate) sofrem rápida fosforilação A ligação dos receptores à insulina induz a translocação do transportador de glicose dependente de insulina (GLUT 4) em direção a membranacelular, efetuando assim a captação da glicose para dentro da célula A INSULINOTERAPIA - Insulina utilizada em todos os casos de DM 1 e alguns casos de DM2 - Pode ser utilizada pelas vias ev ou im em situações especiais - Uso da via subcutânea a longo prazo - A ideia é aproximar a forma de administração à liberação endógena Locais para rodízio na aplicação sc de insulina CLASSIFICAÇÃO DAS INSULINAS De acordo com a espécie d e origem - Bovina (duas alterações adicionais na cadeia A – treonina e isolecunina nas posições A8 e A10 substituídas por alanina e valina, respectivamente - Suína (difere da humana em um único aminoácido – alanina no lugar da treonina na posição 30 da cadeia B -Humana (produzida por processos biotecnológicos e amplamente disponível) -Padronização em unidades – uma unidade é a quantidade de insulina necessária para reduzir a glicemia de um coelho em jejum para 45 mg/dl -Insulina humana – 100 U/mL = 3,6 mg / mL Tipo Aspecto Proteína adicionada Qte de zinco (mg/100 U) Tampão Início de ação (horas) Pico de ação (horas) Duração de ação (horas) RÁPIDA Solúvel regular Lispro Claro Claro Não Não 0,01 – 0,04 0,02 Não Fosfato 0,5 – 0,7 0,25 1,5 – 4,0 0,5 – 1,5 5 – 8 2 - 5 INTERMEDIÁRIA NPH Lenta Turvo Turvo Protamina Não 0,016 – 0,04 0,02 – 0,25 Fosfato Acetato 1,0 – 2,0 1,0 – 2,0 6,0 – 12,0 6,0 – 12,0 18,0 – 24,0 18,0 – 24,0 LENTA Ultralenta Zíncica com protamina Glargina Turvo Turvo Claro Não Protamina Não 0,20- 0,25 0,20 – 0,25 0,03 Acetato Fosfato Não 4,0 – 6,0 4,0 – 6,0 2,0 – 5,0 16,0 – 18,0 14,0 – 20,0 5,0 – 24,0 20,0 – 36,0 24,0 – 36,0 18,0 – 24,0 CLASSIFICAÇÃO DAS INSULINAS 2 Zn++ formam hexâmeros de insulina nas formulações INSULINAS RÁPIDAS COMENTÁRIOS - Insulina de ação rápida – administrada 30 ou 45 minutos antes das refeições - Pode ser administrada em combinação com formulação de ação intermediária ou lenta - Pode ser utilizada pela via endovenosa em situações especiais - O que é a insulina lispro? - Em insulinas, os monômeros se organizam em hexâmeros em complexo com o zinco, o que retarda a absorção - Foi necessário desenvolver insulina monomérica ou dimérica para diminuir o tempo para absorção (3 vezes mais rápidos) - Lispro – mudança/inversão de aminoácidos em B28 (prolina) e B29 (lisina) (hexâmeros que se dissociam mais rapidamente) regular lispro INSULINAS INTERMEDIÁRIAS COMENTÁRIOS - NPH = Insulina com Protamina Neutra de Hagedorn - (1936 – Hagedorn descobre que a adição de protamina retarda a absorção da insulina) - Complexo com zinco e protamina em tampão fosfato - Insulina lenta – suspensão – MISTURA - de insulina cristalizada (ultralenta) e amorfa (semilenta) em tampão acetato (pouca solubilidade) INSULINAS INTERMEDIÁRIAS COMENTÁRIOS - Suspensão insulina zíncica prolongada (baixa concentração de insulina ao longo do dia - Solução incolor pH 4 (estabilização do hexâmero) - Não pode ser misturada com insulinas de pH neutro - Insulina glargina – análogo de insulina humana com 2 argininas acrescentadas à cadeia Be substituição da asparagina pela glicina na posição A21 INSULINAS EM MISTURA EXEMPLOS - 70% NPH + 30% regular - - 50% NPH + 30% regular DIFERENTES INSULINAS NO DECURSO TEMPORAL INSULINA EFEITOS COLATERAIS - Hipoglicemia - extremo – lesão cerebral - Alergia e resistência à insulina (reações cutâneas mediadas por IgE) - Lipoatrofia (imune) e/ou lipo-hipertrofia (ação lipogênica) - Edema Necessidade de variação nos locais de aplicação sc HIPOGLICEMIANTES ORAIS - Sulfonilureias - Biguanidas -Inibidores da alfa glicosidade - Tiazolidinodionas Utilizados no DM2 SULFONILUREIAS Aumento da liberação de insulina pelo pâncreas do DM2 1ª geração Tolbutamida, Tolazamida, Acetoexamida e Clorpropamida 2ª geração Glibenclamida, Glipizida, Glicazida e Glimepirida - Aumentam a liberação de insulina pelas células beta, que devem estar funcionantes - Receptores de alta afinidade para as sulfonilureias sobre os canais de K+ sensíveis ao ATP na membrana da célula beta - Redução da permeabilidade das células ao K+, causando despolarização, entrada de cálcio e secreção de insulina SULFONILUREIAS Mecanismo de Ação SULFONILUREIAS Efeitos Colaterais - 4% dos pacientes com fármacos de 1ª geração, com menor incidência com os de 2ª geração -Hipoglicemia (clorpropamida > tolbutamida) (glibenclamida > glimepirida) Hipoglicemia – gradro neurológico importante - Náusea, vômito, icterícia, anemia e reações de hipersensibilidade BIGUANIDAS Metformina Hipoglicemiantes orais que não necessitam de células B funcionantes Aumentam a captação de glicose no músculo esquelético Possuem efeito sobre absorção e produção hepática de glicose Metformina Diminuição do apetite (DM2 obesos) Não libera insulina do pâncreas Diminui a produção hepática de glicose (redução da gliconeogênse?) Aumenta a ação da insulina no músculo e tecido adiposos (captação de glicose) Aumenta o número e afinidade de receptores de insulina Contra-indicaçõeas Paceintes com comprometimento renal Melhora a ação da insulina no fígado, diminuindo a produção hepática da glicose em 10 a 30% e, no músculo, aumentando a captação de glicose em 15 a 40% No adipócito, inibe a lipólise e a disponibilidade de ácidos graxos livres. Aumenta o número e melhora a afinidade dos receptores de insulina no adipócito e no músculo. A nível celular, aumenta a atividade da tirosinaquinase do receptor da insulina, estimulando a translocação do GLUT4 e a atividade da glicogênio-sintetase Ocorre melhora do perfil lipídico, com diminuição de 20 a 25% nos níveis de triglicérides e de até 10% do LDL-colesterol, e aumento de até 17% dos níveis de HDL-colesterol, com diminuição de 20 a 30% do fator inibidor de ativação do plasminogênio (PAI-1). Seu efeito anorético auxilia na perda de peso. A outra vantagem é não provocar hipoglicemia, por não estimular a secreção de insulina. No DM2, o uso isolado diminui a glicemia cerca de 25%, ou 60 a 70 mg/dl e a hemoglobina glicosilada em 1,5 a 2%. BIGUANIDAS Metformina A eficácia do controle glicêmico pela metformina é similar à da sulfonilureia, além de estar associada à redução ponderal, tão importante no DM2 O estudo multicêntrico em diabéticos acompanhados por cerca de 11 anos mostrou que o controle intensivo da glicemia pelo uso de metformina diminuiu significativamente os riscos de doença cardiovascular e a mortalidade relacionada ao DM, associado com menor ganho de peso e sem a inconveniência das hipoglicemias induzidas pelo tratamento com insulina ou sulfoniluréias Neste estudo, contudo, o número de pacientes diabéticos tratados com a metformina foi menor que 10% do total de pacientes observados. BIGUANIDAS MetforminaA hiperinsulinemia estimula a secreção androgênica pelos ovários e adrenais e suprime a produção hepática da globulina transportadora dos hormônios sexuais (SHBG), com aumento dos androgênios livres biologicamente ativos. O excesso local dos androgênios ovarianos devido à hiperinsulinemia causa a atresia prematura dos folículos ovarianos, formando pequenos cistos e anovulação. BIGUANIDAS Metformina e ovário policístico TIAZOLIDINEDIONAS (GLITAZONAS): Rosiglitazona e pioglitazona (boa redução de hemoglobina glicada em DM2) Ativação de genes que respondem à insulina e regulam metabolismo de carboidratos e lipídeos (agonistas seletivos do receptor proliferador-ativado do peroxissomoi nuclear precisa de insulina presente para agir) Ação principal em aumentar a sensibilidade à insulina nos tecidos periféricos, aumentando seu transporte para o músculo e gordura, intensificando a síntese e translocação de transportadores de glucose Necessidade de monitorização da função hepática Risco cardiovascular com rosiglitazona Pioglitaona As glitazonas têm como mecanismo de ação uma ligação aos receptores nucleares PPARs (peroxisome proliferator-activated receptors) do tipo γ. Após a ligação, há uma mudança conformacional no receptor, que permite a ligação com receptor do ácido retinóico (RXR) e recrutamento de um ou mais co-ativadores. A interação deste complexo heterodímero com regiões nucleares responsivas irá determinar a transcrição de aproximadamente 500 genes, sendo que, deste universo, os de nosso conhecimento ainda são minoria, sendo relacionados principalmente ao metabolismo lipídico, glicídico e diferenciação celular (19). TIAZOLIDINEDIONAS (GLITAZONAS): TIAZOLIDINEDIONAS (GLITAZONAS): INIBIDORES DA ALFA-GLICOSIDASE Diminuem a absorção intestinal de carboidratos pela inibição da alfa-glicosidase na borda intestinal em escova – aumento de glicose pro prandial diminuído Usados sozinhos em idosos com hiperglicemia pos prandial ou em associação com outros agentes orais e insulina Não causam hipoglicemia, mas causam má absorção, flatulência, diarreia e distensão abdominal Arq Bras Cardiol 2006; 87 : 660-670
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