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45 Capítulo 3 Bases da Política Ambiental Seção 1 Política Nacional do Ambiente Conceituação A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), estabelecida pela Lei Federal nº 6.938/1981, é a norma geral que dispõe sobre as políticas públicas de meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação que subordinam as atividades desenvolvidas pelos entes federativos, em razão da competência legislativa concorrente prevista no artigo 24 da Constituição Federal (CF). Anteriormente, fundados na previsão do artigo 24, § 3º da CF, cada estado ou município tinha possibilidade de legislar com competência plena sobre a matéria. Objetivos A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana (Art. 2º da Lei Federal nº 6.938/1981). Princípios da política nacional de meio ambiente Os princípios que regem a Política Nacional de Meio Ambiente constam de forma expressa no artigo 2º, incisos I a X da Lei Federal nº 6.938/1981, são: SILVA, Adão Daniel da. Bases da Politica Ambiental, História e Evolução do Direito Ambiental [material didático]. Direito ambiental. Design instrucional Delma Cristiane Morari. Revisão Contextuar. Palhoça: UnisulVirtual, 2016. 46 Capítulo 3 • ação governamental; • racionalização do uso do solo; • planejamento e fiscalização; • proteção dos ecossistemas; • controle e zoneamento das atividades; • incentivos ao estudo e à pesquisa; • acompanhamento do estado da qualidade ambiental; • recuperação de áreas degradadas; • proteção de áreas ameaçadas de degradação; • educação ambiental. A concretização de tais princípios se realiza pelos instrumentos contidos no artigo 9º da referida lei, que estão identificados a seguir. Instrumentos de formalização Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, nas suas diversas aplicações, são utilizados no estabelecimento de um campo ordenado de ações, tendo por fundamento as determinações constitucionais do artigo 225 da Constituição Federal, especialmente no § 1º e seus incisos. O quadro a seguir sumariza os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente previstos no artigo 9º e incisos da lei. I. o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II. o zoneamento ambiental; III. a avaliação de impactos ambientais; IV. o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; V. os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; 47 Direito Ambiental VI. a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII. o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII. o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental; IX. as penalidades disciplinares ou compensatórias relativas ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. X. a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; XI. a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; XII. o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. Nem todos os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente estão elencados na Lei Federal nº 6.938/1981. Toma-se como exemplo o Fundo Nacional de Meio Ambiente criado pela Lei Federal nº 7.797/1989, com o objetivo de desenvolver os projetos que visem ao uso racional e sustentável de recursos naturais, incluindo a manutenção, melhoria ou recuperação da qualidade ambiental no sentido de elevar a qualidade de vida da população brasileira. José Afonso da Silva (2003) classifica esses instrumentos em três grupos: instrumentos de intervenção ambiental, que são os mecanismos condicionadores das condutas e atividades relacionadas ao meio ambiente (incisos I, II, III, IV e VI do artigo 9º da citada lei); instrumentos de controle ambiental, que são as medidas tomadas pelo Poder Público no sentido de verificar se pessoas públicas ou particulares se adequaram às normas e padrões de qualidade ambiental, e que podem ser anteriores, simultâneas ou posteriores à ação em questão (incisos VII, VIII, X e IV do artigo 9º da lei citada); e instrumentos de controle repressivo, que são as medidas sancionatórias aplicáveis à pessoa física ou jurídica (inciso IX da lei citada). Todos os instrumentos são de grande utilidade para a manutenção de um ambiente com a qualidade almejada pelas disposições da Constituição Federal para suporte de vida digna, contudo, priorizam-se, aqui, os instrumentos de intervenção e os de controle para detalhar suas características e aplicações. 48 Capítulo 3 A seleção dos instrumentos tem como diretriz a utilidade no desempenho em questões consideradas de maior urgência na mitigação de desequilíbrios ocasionados pela ação antrópica, como: a poluição hídrica e o parcelamento irregular do solo. Padrões de emissão e padrões de qualidade do meio ambiente As características do ambiente de sustentação da vida são avaliadas por meio de parâmetros medidos do conjunto de condições, tais como, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. A vida, em todas as suas formas conhecidas até esse momento, se estabelece não em um valor específico de determinado parâmetro, mas sim em faixas de tolerância. Explica-se, com o uso do parâmetro temperatura do ambiente, pois é mais fácil de entender seus limites e, por conseguinte, a extensão da faixa de temperatura que a vida tolera. Os animais, em geral, admitem a temperatura máxima de 50ºC e a temperatura mínima de -50ºC. Os limites térmicos letais são determinados em função de um teste, que é causa de 50% de mortalidade nos organismos testados, conhecido, no caso da temperatura letal, como TL50 1. Há um ponto, na faixa de tolerância para qualquer parâmetro testado, em torno do qual se constata maior conforto para certa população de indivíduos, mas é a ultrapassagem dos limites, tanto o mínimo como o máximo, que é considerada como poluição nos termos do artigo 3º, III, e da Lei Federal nº 6.938/1981. Os padrões de qualidade do ambiente, então, são os limites que a lei reconhece que determinado parâmetro deve observar para permitir a existência da vida. Os padrões de emissão são estabelecidos tendo por limite máximo tolerável a concentração ou o valor do parâmetro que por interação com o corpo receptor, não ocasione, aumento ou diminuição, das condições do ambiente para além dos limites de qualidade que devem ser observados para o corpo receptor. O 1 - A obtenção do limite exato, que dependeria de uma experimentação longa e extensiva, é encerrada antes que o experimento resulte em cinquenta por cento de animais mortos. Uma vez que a temperatura letal é estabelecida, adota-se uma avaliação por inferência submetendo alguns grupos de teste (4 por exemplo), ao mesmo período de exposição (2 horas por exemplo), a uma série de temperaturas, e o percentual de sobrevivência é plotado em gráfico. Evidentemente, o resultado só e valido para o período de exposição do teste. Exposições mais curtas à temperatura letal resultarão em um percentual de sobrevivência maior e as exposições mais longas terão um percentual menor.49 Direito Ambiental lançamento de efluente aquecido em um corpo receptor (rio), por exemplo, não pode atuar no sentido de elevar a temperatura da água para um nível definido em lei como tolerável para a manutenção da vida aquática. Na legislação que regula os padrões de qualidade e de emissão, no Estado de Santa Catarina, pode ser observado que os parâmetros, valores e condições do efluente lançado a serem atendidos, para a manutenção da qualidade dos corpos de água, estão previstos na Lei Estadual nº 14.675/2009. O artigo 177 da referida lei determina que a concentração de cobre total (Art. 177, IV, c) no efluente lançado no corpo receptor (água interiores, lagunas, estuários e na beira-mar), por exemplo, não pode exceder a 0,5 mg/l. Por outro lado, é exigida a condição de ausência de materiais flutuantes visíveis (Art. 177, III), pois do contrário se está numa situação de poluição por causa do descumprimento. O Decreto Estadual nº 14.250/1981, ainda, prevê padrões de qualidade e de emissão, no Estado de Santa Catarina. O artigo 12 do referido decreto, para o mesmo parâmetro e condição apresentados acima, prevê que os padrões de qualidade ambiental, para águas de classe 2, tem os seguintes limites ou condições: materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes (Art. 12, I do referido Decreto); e substâncias potencialmente prejudiciais (teores máximos), Cobre: 1,0 mg/l (Art. 12, VIII, g). A comparação, entre o limite autorizado pelo padrão de emissão com o limite autorizado como teor máximo para o padrão cobre do exemplo, esclarece que o lançamento do efluente, mesmo atendido o teor do padrão sob análise não deve fazer com que o teor do mesmo padrão no corpo receptor seja aumentado para além do limite previsto, fato que depende essencialmente da capacidade, nem sempre aferida, de diluição do corpo receptor, ou seja, de sua vazão e ou volume. A utilidade desse instrumento de formalização da política de meio ambiente sobressai, porque sem ele não é possível verificar o atendimento do princípio da legalidade e da significância que atrela toda instalação de obra ou atividade considerada potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, conforme artigo 225, § 1º, IV da CF. Zoneamento ambiental O zoneamento ambiental, que pode assumir diferentes conformações, pois pode ser feito de uma forma bastante restritiva com zoneamento urbano para fins de parcelamento do solo, assume o carácter de zoneamento ecológico-econômico quando instrumento de organização do território, a ser obrigatoriamente seguido Há controvérsias, pois este Decreto Estadual nº 14.250/1981 regulamenta dispositivos da Lei nº 5.793, de 15 de outubro de 1980, mas esta última foi revogada pelo artigo 296, I da Lei Estadual nº 14.675/2009. 50 Capítulo 3 na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelecendo medidas e padrões de proteção ambiental, dos recursos hídricos e do solo e conservação da biodiversidade, de modo a fomentar o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população, no teor da Lei Estadual nº 14.675/2009, artigo 28, LXVI. A sua utilidade não é plenamente aproveitada como elemento de planejamento de longo prazo, porque não se estabeleceu um trabalho consciente de aproveitamento das aptidões ambientais para localizar as ocupações humanas ou suas atividades. Aspectos como a inversão térmica, que ocorre nas zonas litorâneas, por exemplo, deveriam ser cruciais para determinar que atividades com efluentes aéreos não fossem instaladas nesses locais ou que tivessem um planejamento adequado para a dispersão dos lançamentos. Avaliação de impacto ambiental A avaliação de impacto ambiental é um procedimento de caráter técnico científico com o objetivo de identificar, prever e interpretar as consequências sobre o meio ambiente de uma determinada ação humana e de propor medidas de prevenção e mitigação de impactos; no teor da Lei Estadual nº 14.675/2009, artigo 28, XIV. A avaliação de impacto se realiza na forma de um estudo prévio e com a elaboração de um relatório de impacto ambiental para as atividades ou obras de significativo impacto ambiental. É um trabalho complexo, que tem por objetivo, cumprindo as normas e exigências do licenciamento ambiental e demais normatizações, que disciplinam a matéria e a aquisição dos conhecimentos sobre os aspectos ambientais, sociais e econômicos da área de um empreendimento para fins de sua caracterização São pesquisados ou criados, por meio de vistorias e estudos realizados na área do empreendimento, acervos técnicos documentais que contêm levantamentos topográficos, mapas, fotos, escrituras, memoriais descritivos e projetos. Na etapa final, é feita a avaliação dos impactos e a confecção, em certos casos, das matrizes representativas da fase de implantação e operação, com base nos levantamentos e estudos realizados. A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência do empreendimento é feita comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como a hipótese de sua não realização (Art. 9, V da Resolução Conama nº 001/86). Este autor utiliza uma forma de avaliação com matrizes qualitativas e quantitativas para caracterizar os impactos nas fases de implantação e de operação do empreendimento, nas quais são apresentados: 51 Direito Ambiental • Os Impactos Identificados. • Considerações em relação à Natureza do Impacto (positivo ou negativo). • Forma de Incidência (direta ou indireta). • Distributividade (local ou regional). • Tempo de Incidência (imediato ou mediato). • Prazo de Permanência (temporário ou permanente). • Magnitude. • Intensidade e importância. A utilização da Chave de Classificação, na forma exposta abaixo, também deste autor e cujo teor tem previsão na Resolução da Conama 001/86, torna mais clara a forma de avaliação dos impactos sobre o meio ambiente. Os impactos são referidos como agentes impactantes e as condições, as leis, as influências e as interações de ordem física, química e biológica, que permitem, abrigam e regem a vida em todas as suas formas, como elementos impactados. Co nd iç ão d a At ua çã o do A ge nt e Im pa ct an te s ob re o E le m en to Im pa ct ad o ou s ob re o ut ro A ge nt e Im pa ct an te • Quanto ao Resultado Produzido (Condição Teleológica): Positivos ou Negativos. • Quanto ao Nível de Interação (Condição Causal): Diretos, Indiretos ou Sinergéticos. • Quanto à Área de Influência (Condição Territorial): Locais ou Regionais. • Quanto ao Tempo da Atuação (Condição Temporal): Imediatos, Retardados. • Quanto à Frequência (Condição Frequencial): Cíclicos ou Aleatórios. • Quanto à Duração da Atuação (Condição Lapso Temporal): Temporários a Curto Prazo, Temporários a Médio Prazo, Temporários a Longo Prazo ou Permanentes. • Quanto à Magnitude (Condição de Intensidade): Grande, Médio, Pequeno. • Quanto à Reversibilidade (Condição de Reversibilidade): Naturalmente Reversíveis, Reversíveis por Ação Corretiva, Irreversíveis porém Mitigáveis ou Irreversíveis e Não Mitigáveis (Agentes Impactantes Negativos). • Quanto ao Potencial (Condição da Potencialidade): Localmente Potenciais, Regionalmente Potenciais ou Não Potenciais (Agentes Impactantes Positivos). 52 Capítulo 3 Quanto ao Agente Impactante, simplifica-se a análise pressupondo a natureza intrínseca desse agente, a ação, como é óbvio pelo nome adotado, e classificando-o de acordo com a Magnitude do Impacto que pode causar no Elemento Impactado. A Classificação apresenta a forma a seguir discriminada: Ag en te Im pa ct an te • Quantoà Magnitude do Agente Impactante: Grande, Médio, Pequeno. Quanto ao Elemento Impactado, também se simplifica a análise pressupondo a passividade como elemento de natureza intrínseca, conforme relação estabelecida com o nome adotado, e classificando-o de acordo com o Nível do Impacto sofrido pelo Elemento Impactado. A Classificação proposta apresenta a forma a seguir discriminada: El em en to Im pa ct ad o • Quanto ao Nível do Impacto no Elemento Impactado: Grande, Médio, Pequeno A sua utilidade é bastante aproveitada como na avaliação de alternativas locacionais, na escolha das hipóteses de fazer ou não fazer, e, como destaca Inagê (OLIVEIRA, 2005), na finalidade de embasar as decisões no licenciamento ambiental. Licenciamento ambiental Marcos Destefenni (2004) conceitua o licenciamento ambiental como um procedimento administrativo que tramita junto aos órgãos ou entidades ambientais competentes e que visa a determinar as condições e exigências para o exercício de uma atividade potencial ou efetivamente causadora de impactos ao meio ambiente. 53 Direito Ambiental Do processo de licenciamento cujo pedido é deferido, decorre a expedição de uma licença ambiental que, segundo o artigo 28, XXXVII, da Lei Estadual nº 14.675/2009, é instrumento da Política Estadual do Meio Ambiente decorrente do exercício do poder de polícia ambiental, cuja natureza jurídica é autorizativa. O processo de licenciamento cumpre diversas funções, como intervenção ambiental. Nas palavras de José Afonso da Silva (2003), tal processo é o instrumento que regula o uso da propriedade, nos termos do artigo. 225, § 1º, IV da CF, quando concede a licença ambiental prévia (LAP) e a licença ambiental de instalação (LAI); como instrumento de controle, é o instrumento que avalia o cumprimento da legislação, expressa ou não na forma de condicionantes, quando da expedição da licença ambiental de operação (LAO) e, principalmente, na sua tarefa de fiscalizar e acompanhar o cumprimento das obrigações de proteção ao meio ambiente, no que se refere à renovação periódica das licenças. Nas duas situações, há uma fiscalização preventiva com caráter orientado, para mitigar a necessidade de uma fiscalização punitiva. Aplicação da política nacional de meio ambiente À política nacional de meio ambiente, não basta ter os instrumentos de formalização, é necessário estabelecer órgão e dotá-los, por meio da distribuição das competências, de atribuições orientadas por programas de ação. O artigo 6º, caput da Lei Federal nº 6.938/1981, instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), que é o conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental. Antunes (2004) percebe no estabelecimento do Sisnama certa tendência a reproduzir no país um sistema de agências governamentais como a Environmental Protection Agency (EPA), existente nos Estados Unidos da América (EUA), tal semelhança de fato não ocorre. Primeiro porque o Sisnama não foi instituído como agência com poderes e com autonomia, segundo, por conta da ênfase maior da EPA na área de educação ambiental voltada para o aperfeiçoamento profissional de todos os interessados, haja vista, os inúmeros cursos que disponibiliza por meio virtual ou presencial nas diversas regionais. É um sistema que prioriza, por meio da educação, a uma ação preventiva de controle e fiscalização. O sistema brasileiro tem sua ênfase na fiscalização punitiva, por meio da expedição de autos de infração e aplicação de multas. 54 Capítulo 3 Estrutura básica do sistema nacional de meio ambiente A estrutura básica do Sistema Nacional de Meio Ambiente é composta na forma prevista pelo artigo 6º da Lei Federal nº 6.938/1981, ou seja, pelos: • órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; • fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental. Seção 2 Modalidades de Intervenções Ambientais Conceito de intervenção do estado na propriedade A propriedade é direito, tal qual o são o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à segurança, com garantia constitucional de inviolabilidade sob termos definidos pela própria Constituição Federal (CF), assim toda negação ou limitação da inviolabilidade do direito de propriedade autorizada nos termos da CF é uma intervenção do Estado. É interessante ressaltar, ainda, antes de adentrar ao estudo das intervenções na propriedade, que o Estado resguarda o direito individual da propriedade frente à coletividade em geral, porque tem interesse público em proteger um pilar essencial ao estado democrático e de direito instituído no país. Outra conclusão que se tira da aparente antinomia entre a proteção dada ao direito de propriedade e o interesse público em garanti-lo é que não se pode confundir o interesse da maioria ou de uma coletividade com o interesse público, pois este último é aquilo que a CF acolheu como interesse atemporal para atingir os objetivos da nação. A intervenção do Estado na propriedade para fins de proteção ambiental é prevista, implicitamente, no artigo 225, § 1º, IV da CF, pois o referido dispositivo condiciona o uso da propriedade à realização de estudo prévio de impacto ambiental para os casos de instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente estabelecidos em lei. 55 Direito Ambiental Também, no referido artigo e parágrafo primeiro, mas, no inciso III, a CF determina que compete ao Poder Público definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. As duas situações ensejam formas de intervenção no direito de propriedade. A primeira em razão da limitação do atributo de uso, prerrogativa do proprietário, em relação a estudo prévio de impacto ambiental, como mencionado, correspondendo à documentação de instrução de um processo de licenciamento ambiental. A segunda, de maior interesse nesse momento, é uma intervenção de caráter mais abrangente, pois permite ao Poder Público definir espaços territoriais com seus componentes especialmente protegidos e isso é disciplinado, entre outras normas, pela Lei Federal nº 12.651/2012, que institui as áreas de preservação permanente, as áreas de reserva legal e áreas de uso restrito. Todas as três são modalidades que realizam na prática os espaços especialmente protegidos. A Lei Federal nº 9.985/2000, também, cria áreas especialmente protegidas, porém na modalidade de unidades de conservação. E, finalmente, a Lei Federal nº 6.766/1979 apresenta outra modalidade denominada de área não edificante. A intervenção é autorizada constitucionalmente e é realizada, mas há que se inquirir sobre a natureza da intervenção, os efeitos e os resultados efetivos para a proteção ambiental. Isso, entretanto, só pode ser avaliado depois de se entender os conceitos e as modalidades das intervenções. Modalidades de intervenção do estado na propriedade Para Carvalho Filho (2005), há duas formas básicas de intervenção hoje no Brasil, considerando a natureza e os seus efeitos em relação à propriedade. São elas: a. Intervenção Supressiva. b. Intervenção Restritiva. Intervenções supressivas Expropriação A expropriação e a desapropriação são as duas espécies de intervenções supressivas autorizadas pela CF. A expropriação tem fundamento no artigo 243 da Constituição Federal, que prevê a supressão do direito de propriedade, sejam elas rurais ou urbanasde qualquer região do País, onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas 56 Capítulo 3 ou a exploração de trabalho escravo. Na forma da lei, entende-se que serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no artigo 5º da CF. Desapropriação A desapropriação está no artigo 5º, XXIV, da CF, e prevê que o legislador infraconstitucional determinará por meio de lei o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na Constituição. A regulamentação da norma constitucional se destaca em duas normas reguladoras da desapropriação: o Decreto - Lei nº 3.365, de 21 de junho de 1941, considerada como a lei geral das desapropriações e a Lei nº 4.132, de 10 de setembro de 1962, que define os casos de interesse social e dispõe sobre sua aplicação (CARVALHO FILHO, 2005). Intervenções restritivas A intervenção restritiva, diferentemente da supressiva, não tem interesse em retirar do titular o direito de propriedade, mas tem, em limitar o atributo de uso ou condicionar esse atributo à alguma condição ou dever, ao subordinar às imposições emanadas pelo Poder Público (CARVALHO FILHO, 2005). Os tipos restritivos são: a servidão administrativa; a requisição; a ocupação temporária; as limitações administrativas e, por fim, o tombamento, objeto deste trabalho. Servidão administrativa A Servidão administrativa, na definição de Di Pietro (2004), é: Servidão administrativa é o direito real de gozo, de natureza pública, instituído sobre imóvel de propriedade alheia, com base em lei, por entidade pública ou por seus delegados, em favor de um serviço público ou de um bem afetado a fim de utilidade pública. (DI PIETRO, 2004, p. 125). A servidão é, portanto, um direito real público e não privado, porque é instituído em favor do Estado para atender a interesse público e não a de um particular e, nesse sentido, não tem qualquer relação com a servidão tratada no Código Civil (CC) (artigo 1.378 a 1.389, Código Civil), que é relação jurídica na qual os partícipes têm interesses privados (CARVALHO FILHO, 2005). O fundamento geral para a intervenção do estado, para imposição da servidão administrativa, é o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse 57 Direito Ambiental privado e a função social da propriedade, conforme os artigos 5º, XXIII, e 170, III, da CF. O dispositivo legal específico que trata da servidão administrativa é o artigo 40 do Decreto - Lei nº 3.365/1941 (Lei Geral das Desapropriações), que determina que “[...] o expropriante poderá construir servidões, mediante indenização na forma desta lei [...]”. Requisição A requisição no entendimento de Mello (2005): [...] é o ato pelo qual o Estado, em proveito de um interesse público, constitui alguém, de modo unilateral e autoexecutório, na obrigação de prestar-lhe um serviço ou ceder-lhe transitoriamente o uso de uma coisa in natura, obrigando-se a indenizar os prejuízos que tal medida efetivamente acarretar ao obrigado. O fundamento para sua imposição é o princípio da função social da propriedade, conforme os artigos 5º, XXIII, e 170, III, da CF, pois disciplinou a requisição na forma específica do artigo 5º, XXV, nos seguintes termos: “[...] no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano [...]”. São exemplos de requisição em caso de iminente perigo e em tempo de guerra: a requisição civil, que objetiva proteção à vida, à saúde e aos bens da coletividade; a requisição militar, que visa a resguardar a segurança e a proteção de bens, equipamentos, pessoas e serviços, legitimado a promover a requisição (Art. 22, III, CF). O Código Civil prevê o instituto, nos tempos de paz, no artigo 1228, § 3º, mas em caso de perigo público iminente. Ocupação temporária A ocupação temporária, na lição de Carvalho Filho (2005), refere-se “[...] a forma de limitação do Estado à propriedade privada que se caracteriza pela utilização transitória, gratuita ou remunerada, de imóvel de propriedade particular, para fins de interesse público [...]”. Tombamento O tombamento, por sua vez, caracteriza-se como [...] intervenção ordinária e concreta do Estado na propriedade privada, limitativa de exercício de direitos de utilização e disposição, gratuita, permanente e indelegável, destinada à preservação, sob regime especial, dos bens de valor cultural, histórico, arqueológico, artístico, turístico ou paisagístico. (CARVALHO FILHO, 2005). 58 Capítulo 3 Limitação administrativa A limitação administrativa, aplicada ao direito de propriedade, exige que esse seja exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais, de modo que sejam preservados, em conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas, a teor do artigo 1.228, § 1 do CC. O referido artigo no § 2o, ainda, torna defesos os atos que não tragam ao proprietário qualquer comodidade ou utilidade e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. Natureza da intervenção ambiental A intervenção do Estado na propriedade para fins de proteção ambiental prevista, no artigo 225, § 1º, III da CF, é tomada como limitação administrativa para as áreas de preservação permanente (APPs), para as áreas de uso restrito (AURs), para as áreas de reserva legal (RLs), para as áreas não edificantes e para, em geral, as unidades de conservação (UCs) do tipo desenvolvimento sustentável, porque o titular de direito tem o uso restrito ou condicionado. As unidades de conservação do tipo proteção integral, em geral, têm previsão de desapropriação, porque seus fins não são facilmente coadunáveis, na forma prevista pela legislação ambiental brasileira, com os interesses do proprietário, posseiro ou ocupante a qualquer título e, mesmo, com os interesses daqueles da comunidade vizinha. Também, no referido artigo e parágrafo primeiro, mas, no inciso III, a CF determina que compete ao Poder Público definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Cabe destacar que a intervenção do Estado na propriedade para fins de proteção ambiental prevista, no artigo 225, § 1º, IV da CF, é do tipo limitação administrativa, pois o controle da utilização que é dada a certa propriedade interessa quando se trata de instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente. 59 Direito Ambiental Seção 3 Conceitos dos Institutos de Proteção do Ambiente As áreas de preservação permanente (APPs), as áreas de uso restrito, as áreas de reserva legal (RLs), as áreas não edificantes e as unidades de conservação são os principais institutos da política nacional de meio ambiente que interferem, modulam ou até retiram o direito de propriedade do titular, objetivando a conservação ou a preservação do meio ambiente. Área de preservação permanente (APP) Conceito de APP A Área de Preservação Permanente (APP) é entendida como [...] área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna eflora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. (Art. 3º, II da Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012). Tipos de APPs O artigo 4º da Lei Federal nº 12.651/2012 considera como áreas de preservação permanente, em zonas rurais ou urbanas: I. as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: a. 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; b. 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; c. 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; d. 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; 60 Capítulo 3 e. 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; II. as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de: a. 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros; b. 30 (trinta) metros, em zonas urbanas; III. as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento; IV. as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; V. as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive; VI. as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; VII. os manguezais, em toda a sua extensão; VIII. as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; IX. no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo essa área definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação; X. as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação; XI. em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado. Pode-se denominar essas APPs como situacionais, haja vista que dependem do local onde estão descritas e não da existência de vegetação, como afirma o artigo 3º, II da Lei Federal nº 12.651/2012. 61 Direito Ambiental O artigo 6.º da Lei Federal nº 12.651/2012 considera, ainda, como áreas de preservação permanente (APP), quando declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades: I. conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha; II. proteger as restingas ou veredas; III. proteger várzeas; IV. abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção; V. proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico; VI. formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; VII. assegurar condições de bem-estar público; VIII. auxiliar na defesa do território nacional, a critério das autoridades militares. IX. proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional. Pode-se denominar essas APPs como funcionais, haja vista que são instituídas em razão da função que desempenham. Há, ainda, a APP denominada de artificial, porque, na implantação de reservatório d’água artificial destinado à geração de energia ou abastecimento público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30 (trinta) metros em área urbana (Art. 5º da Lei Federal nº 12.651/2012). Reserva legal (RL) Conceito de RL A Reserva Legal é área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do artigo 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação 62 Capítulo 3 e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa (Art. 3º, III da Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012). Tipos de RL O tipo de uma RL é simplesmente definido pelo percentual que ela representa do total do imóvel rural no qual está inserida. O artigo 12 da Lei Federal nº 12.651/2012, que distingue a área de reserva legal das áreas de presentes permanente, define os percentuais mínimos que deverão ser observados em relação à área do imóvel, para estabelecer a reserva legal, com as exceções previstas no artigo 68 da mesma lei. I. localizado na Amazônia Legal: a. 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b. 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c. 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; II. localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). O cadastramento da área de reserva legal no Cadastro Ambiental Rural (CAR), previsto no § 3o do artigo, 12 da Lei Federal nº 12.651/2012, permite a supressão de novas áreas de floresta ou outras formas de vegetação nativa, com a ressalva do previsto no artigo 30 da mesma lei, por autorização do órgão ambiental estadual integrante do Sisnama. Áreas de uso restrito (AURs) Conceito de área de uso restrito São áreas nas quais é permitida a exploração ecologicamente sustentável ou o manejo florestal sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris, conforme o teor, respectivamente, do artigo 10 e do artigo 11 da Lei Federal nº 12.651/2012. 63 Direito Ambiental Tipos de áreas de uso restrito Há dois tipos definidos pela lei: • Os pantanais e planícies pantaneiras (Art. 10 da Lei Federal nº 12.651/2012). • Áreas de inclinação entre 25° e 45° (Art. 11 da Lei Federal nº 12.651/2012). Unidade de conservação (UCs) Conceito de UC A unidade de conservação é espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (Art. 2°, I da Lei Federal nº 9.985/2000 – Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUCs). Tipos de UCs As unidades de conservação integrantes do SNUCs dividem-se em dois grupos, com características específicas: I. Unidades de Proteção Integral, com o objetivo básico de preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos na lei (Art. 7°, I e § 1º da Lei Federal nº 9.985/2000). II. Unidades de Uso Sustentável, com o objetivo básico de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais (Art. 7°, I e § 2º da Lei Federal nº 9.985/2000). Subtipos de UCs de Proteção IntegralO grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias de unidade de conservação (Art. 8 da Lei Federal nº 9.985/2000): 64 Capítulo 3 I. Estação Ecológica. II. Reserva Biológica. III. Parque Nacional. IV. Monumento Natural. V. Refúgio de Vida Silvestre. Subtipos de UCs de Desenvolvimento Sustentável O grupo das Unidades de Desenvolvimento Sustentável é composto pelas seguintes categorias de unidade de conservação (Art. 14 da Lei Federal nº 9.985/2000): I. Área de Proteção Ambiental. II. Área de Relevante Interesse Ecológico. III. Floresta Nacional. IV. Reserva Extrativista. V. Reserva de Fauna. VI. Reserva de Desenvolvimento Sustentável. VII. Reserva Particular do Patrimônio Natural. Área não edificante (ANE) Conceito de área não edificante Área não edificante é uma área ou faixa de terreno que, por disposição legal, é vedado edificar. Tipos de áreas não edificantes As áreas não edificantes não possuem uma classificação, porque as suas múltiplas formas possuem, apenas, como característica comum o fato de não haver a possibilidade de autorização de edificações na área de terreno assim definida. Podem ser: recuos, servidão de passagem de canalizações, faixa de domínio de rodovias etc. 65 Direito Ambiental Seção 4 Regime dos Institutos de Proteção do Ambiente Regime das APPs Dispensa da obrigação de manter APPs Há dispensa da obrigação de manter as APPS nas áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais e no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’água naturais, cujas acumulações naturais ou artificiais de água tenham superfície (espelho d’água) inferior a 1 (um) hectare (Art. 4º, § 4º da Lei Federal nº 12.651/2012). Autorização de uso de APPs É admitido para a pequena propriedade ou posse rural familiar o plantio de culturas temporárias e sazonais de vazante de ciclo curto na faixa de terra que fica exposta no período de vazante dos rios ou lagos, desde que não implique supressão de novas áreas de vegetação nativa, de modo a serem conservadas a qualidade da água e do solo e ser protegida a fauna silvestre (Art. 4º, § 5º da Lei Federal nº 12.651/2012). Também é admitida, nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, a prática da aquicultura e a infraestrutura física diretamente a ela associada, nos termos dos incisos I a V do artigo 4º, § 6º da Lei Federal nº 12.651/2012. Além disso, a intervenção ou a supressão de vegetação nativa em área de preservação permanente pode ocorrer nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas na Lei Federal nº 12.651/2012 (Art. 8º da Lei Federal nº 12.651/2012). Para efeito desta lei, entende-se por: Utilidade pública: a. as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; Definição (Art. 3º, v, Lei Federal nº 12.651/2012): pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, atendendo ao disposto no artigo 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006. 66 Capítulo 3 b. b. as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho; c. atividades e obras de defesa civil; d. atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções ambientais referidas no inciso II deste artigo; e. outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo Federal; (Art. 3º, VIII, da Lei 12.651/2012). Interesse social: a. as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasores e proteção de plantios com espécies nativas; b. a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área; c. a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei; d. a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009; e. implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da atividade; f. as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente; 67 Direito Ambiental g. outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo Federal (Art. 3º, IX, da Lei 12.651/2012). Atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental: a. abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável; b. implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber; c. implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo; d. construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro; e. construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos moradores; f. construção e manutenção de cercas na propriedade; g. pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros requisitos previstos na legislação aplicável; h. coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação específica de acesso a recursos genéticos; i. plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área; j. exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros, desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem prejudiquem a função ambiental da área; k. outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente (Art. 3º, X, da Lei 12.651/2012). 68 Capítulo 3 E, ainda, é permitido o acesso de pessoas e animais às áreas de preservação permanente para obtenção de água e para realização de atividades de baixo impactoambiental (Art. 9º da Lei Federal nº 12.651/2012). Regime das Reservas Legais (RLs) Redução do percentual das RLs O percentual da reserva legal pode ser reduzido por ato do poder público para até 50% (cinquenta por cento), para fins de recomposição, quando o município tiver mais de 50% (cinquenta por cento) da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio público e por terras indígenas homologadas (Art. 12, § 4º da Lei Federal nº 12.651/2012). Também o percentual pode ser reduzido por ato do poder público estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente, para até 50% (cinquenta por cento), quando o estado da federação tiver Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por unidades de conservação da natureza de domínio público, devidamente regularizadas e por terras indígenas homologadas (Art. 12, § 5º da Lei Federal nº 12.651/2012). Nesse contexto, quando indicado pelo ZEE estadual, realizado segundo metodologia unificada, o poder público federal pode reduzir, exclusivamente para fins de regularização, mediante recomposição, regeneração ou compensação da reserva legal de imóveis com área rural consolidada, situados em área de floresta localizada na Amazônia Legal, para até 50% (cinquenta por cento) da propriedade, excluídas as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos e os corredores ecológicos (Art. 13, I, da Lei Federal nº 12.651/2012). Não exigência do percentual das RLs O percentual da Reserva Legal não será exigido nos empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto (Art. 12, § 6º da Lei Federal nº 12.651/2012); nas áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou que sejam nelas instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica (Art. 12, § 7º da Lei Federal nº 12.651/2012); e nas áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias (Art. 12, § 8º da Lei Federal nº 12.651/2012). 69 Direito Ambiental Aumento do percentual das RLs O percentual da reserva legal pode ser aumentado quando indicado pelo ZEE estadual, realizado segundo metodologia unificada, por ato do poder público federal que pode ampliar as áreas de reserva legal em até 50% (cinquenta por cento) dos percentuais previstos na Lei Federal nº 12.651/2012, para cumprimento de metas nacionais de proteção à biodiversidade ou de redução de emissão de gases de efeito estufa (Art. 13, II, da Lei Federal nº 12.651/2012). Computo das APPs no percentual das RLs É admitido o cômputo das áreas de preservação permanente no cálculo do percentual da reserva legal do imóvel, desde que: (1) o benefício previsto não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo; (2) a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e (3) o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural (CAR), nos termos da Lei Federal nº 12.651/2012. Entretanto, o regime de proteção da Área de Preservação Permanente não se altera na hipótese prevista neste artigo (Art. 15 da Lei Federal nº 12.651/2012). Regime das Áreas de Uso Restrito (AURs) Autorização de uso da AUR nos pantanais e planícies pantaneiras É permitida a exploração ecologicamente sustentável, devendo-se considerar as recomendações técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa, ficando novas supressões de vegetação nativa para uso alternativo do solo condicionadas à autorização do órgão estadual do meio ambiente, com base nas recomendações mencionadas no artigo 10 da Lei Federal nº 12.651/2012.. Autorização de uso da AUR em áreas de inclinação entre 25º e 45º São permitidos o manejo florestal sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas práticas agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade pública e interesse social (Art. 11 da Lei Federal nº 12.651/2012). 70 Capítulo 3 Regime das UCs Autorização de uso das UCs de proteção integral Nas Estações Ecológicas (EEs) A estação ecológica, que tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas, é uma área de posse e domínio públicos, uma vez que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, por isso é: (1) proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o plano de manejo da unidade ou regulamento específico; (2) a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento; e (3) só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas nos casos definidos no artigo 9º, § 4o da Lei Federal nº 9.985/2000 (Art. 9º da Lei Federal nº 9.985/2000). Nas Reservas Biológicas (RBIOs) A reserva biológica, que tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, com exceção das medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais, é uma área de posse e domínio públicos, uma vez que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, por isso: (1) é proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de acordo com regulamento específico; e (2) a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento (Art. 10 da Lei Federal nº 9.985/2000). Nos Parques Nacionais (PNs) O parque nacional, que tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico, é uma área de posse e domínio públicos, uma vez que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, por isso: (1) a visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por 71 Direito Ambiental sua administração, e àquelas previstas em regulamento; (2) a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento (Art. 11 da Lei Federal nº 9.985/2000). Nos Monumentos Naturais (Monas) O monumento natural, que tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica, pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários ou por áreas públicas, já pertencentes à fazenda pública ou obtidas mediante desapropriação, é uma unidade de conservação na qual é permitida a visitação pública e está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, assim como às normasestabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento (Art. 12 da Lei Federal nº 9.985/2000). Nos Refúgios da Vida Silvestre (REVISs) O refúgio de vida silvestre, cujo objetivo é proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória, pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários ou por áreas públicas, já pertencentes à fazenda pública ou obtidas mediante desapropriação, é uma unidade de conservação na qual: a (1) visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento; e (2) a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento (Art. 13 da Lei Federal nº 9.985/2000). Autorização de uso das UCs de desenvolvimento sustentável Nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) A área de proteção ambiental, que é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e que tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade 72 Capítulo 3 do uso dos recursos naturais, é constituída por terras públicas ou privadas, por isso, respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas: (1) normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma APA; (2) as condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública, nas áreas sob domínio público, pelo órgão gestor da unidade; e (3) as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais, nas áreas sob propriedade privada, pelo proprietário (Art. 15 da Lei Federal nº 9.985/2000). Nas Áreas de Relevante Interesse Ecológico (Aries) A área de relevante interesse ecológico, que é uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza, é constituída por terras públicas ou privadas e, por isso, respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Arie (Art. 16 da Lei Federal nº 9.985/2000). Nas Florestas Nacionais (FLONASs) A floresta nacional, que é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas, é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei, na qual é: (1) admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam desde de sua criação, em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade; (2) a visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração; e (3) a pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento (Art. 17 da Lei Federal nº 9.985/2000). Nas Reservas Extrativistas (RESEXs) A Reserva Extrativista, que é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade, é de domínio 73 Direito Ambiental público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais, conforme o disposto no artigo 23 da Lei Federal nº 12.651/2012 e em regulamentação específica. Importa, nesse contexto, enfatizar que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei, na qual é: (1) permitida a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área; (2) permitida e incentivada a pesquisa científica, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento; (3) proibida a exploração de recursos minerais; (4) proibida a caça amadorística ou profissional; e (5) a exploração comercial de recursos madeireiros só será admitida em bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades desenvolvidas na reserva extrativista, conforme o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade (Art. 18 da Lei Federal nº 9.985/2000). Nas Reservas de Fauna (Refaus) A Reserva de Fauna, que é uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos, é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei, na qual é: (1) permitida a visitação pública, desde que compatível com o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração; (2) é proibido o exercício da caça amadorística ou profissional; e (3) permitida a comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas com obediência ao disposto nas leis sobre fauna e regulamentos (Art. 19 da Lei Federal nº 9.985/2000). Nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (Redes) A reserva de desenvolvimento sustentável, que é uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica, é de domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei, na qual é: (1) regulado o uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais de acordo com o disposto no artigo 23, da Lei Federal nº 12.651/2012; (2) é permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área; (3) permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da natureza, à 74 Capítulo 3 melhor relação das populações residentes com seu meio e à educação ambiental, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento; (4) admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal porespécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da área (Art. 20 da Lei Federal nº 9.985/2000). Nas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) A Reserva Particular do Patrimônio Natural, que é uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica, só permite, conforme se dispuser em regulamento: (1) a pesquisa científica; e (2) a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais (Art. 21 da Lei Federal nº 9.985/2000). Regime das Áreas não edificantes (Anes) As áreas não edificantes não permitem a edificação, no sentido de ação de construir (a partir do solo) quaisquer obras arquitetônicas de porte, tais como: edifício, galpão de grande armazenagem, casa etc. Essas áreas são, normalmente, reguladas por código de obras ou outras leis expedidas para cada caso. As razões de evitar tais construções dependem muito do fim a que se destina a previsão de não edificação em certa área. Por exemplo, nas áreas adjacentes das faixas de domínio de rodovias, a ordem de não construir objetiva manter as áreas livres de interferências para permitir instalações ou obras, autorizadas pelo artigo 50, da Lei Federal nº 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro) e definidas no Manual de Procedimentos para a Permissão Especial de Uso das Faixas de Domínio de Rodovias Federais e Outros Bens Públicos, sob Jurisdição do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), tais como: (1) tubulação de petróleo e seus derivados; (2) tubulação de gás; (3) transmissão de dados; (4) energia elétrica; (5) água e esgoto; (6) acessos; ou (7) outros a critério do DNIT, como: postos de fiscalização; postos de vigilância; abrigos de passageiros e pontos de parada de ônibus; telefones públicos; correias transportadoras; painéis e placas destinadas à publicidade. Avalia-se, neste capítulo, as bases da política ambiental discorrendo sobre conceitos de competência, capacidade, reserva legal, norma, norma geral, norma específica para introduzir os objetivos, os princípios, os instrumentos, os padrões de qualidade e a descrição do sistema nacional de meio ambiente. 75 Direito Ambiental O estudo adota um procedimento para classificar como dogmática ou zetética a questão da competência para regulamentar lei ambiental, entre outras. Normalmente, sendo objeto das discussões jurídicas, para estabelecer um método de trabalho de educação baseada em evidências. A classificação assume que fatos jurídicos e normas jurídicas, que os regulam, devem ser interpretados conforme a Constituição Federal. A assunção pode parecer uma obviedade, mas há de se convir que, ainda, não é prática usual para revelar a natureza de questões ambientais submetidas ao crivo da confrontação por evidências. _ftnref19 _ftnref21 art2§5 _ftnref18 _ftnref22 art1228§2 art3xii protint art15§3. art20 art21