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Introdução à Astronomia Aula 06 OVL 111 Helio J. Rocha-Pinto 2012 Modificações: Paulo Lopes Astros Errantes ● Dentre os astros observáveis durante a noite, os planetas foram percebidos desde a antigüidade como especiais, por serem capazes de mover-se entre as estrelas aparentemente fixas. planeta > lat. planeta > gr. -, ς, literalmente: errante, do verbo = errar • A mobilidade dos planetas no céu contribuiu para a associação destes com deuses e consequente suposição de possuírem poderes sobre o destino. Astros Errantes Astros Errantes ● Todos os povos com conhecimentos astronômicos verificaram a presença de objetos brilhantes, que lembram estrelas, mas apresentam movimentos distintos do resto de estrelas no céu. Esses objetos são os demais planetas do sistema solar. ● Os planetas movem-se em relação as estrelas de fundo devido a uma combinação de seus movimentos orbitais e o da Terra, em torno do Sol. ● Uma característica marcante deste movimento é que os planetas movem-se dentro de uma faixa bem estreita na esfera celeste, denominada zodíaco. ● Isso é devido ao fato das órbitas dos planetas (incluindo a Terra) localizar-se aproximadamente no mesmo plano. Astros Errantes ● A faixa do zodíaco envolve a eclíptica, tendo-a na sua linha central. Ambas tem uma inclinação de 23.5o em relação ao equador celeste. ● A palavra zodíaco vem do grego zoidion (pequeno animal → símbolo de animal). Zodíaco refere-se a um círculo de animais, que representa a maioria das constelações nesta faixa: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário, e Peixes. Astros Errantes Astros Errantes ● O movimento dos planetas ao longo do zodíaco pode ser facilmente detectado pela medida de sua posição na esfera celeste ao longo de pouco mais de uma semana. ● Como resultado de seu movimento orbital em torno do Sol, normalmente os planetas movem-se para o leste. ● Apesar do movimento dos planetas usualmente ser de oeste para leste, isso não significa que nascem no oeste e se põe no leste. ● Vistos da Terra os planetas sempre nascem no leste e põe-se mo oeste, porque são carregados no céu (como as estrelas) pela rotação terrestre. ● Entretanto, o movimento dos planetas normalmente é mais lento que o das estrelas, pois seus movimentos orbitais parcialmente compensa a rotação da Terra (que causa o movimento aparente das estrelas). ● Portanto, se uma estrela e um planeta surgem próximos no céu, algum tempo depois o planeta não estará tão distante do horizonte quanto a estrela. ● Ou seja, em relação as estrelas, o planeta moveu-se para leste por causa de seu movimento orbital em torno do Sol. Astros Errantes Orbis Mundi ● O conceito de Mundus é limitado pela realidade observável. Para os antigos, o Mundus era todo o Universo. Os planetas girariam em torno do Mundo segundo leis divinas. Geocentrismo Aristotélico Aristóteles • O Geocentrismo Aristotélico buscava explicar o movimento dos astros com base em que o Universo fosse centrado na Terra. Falhas do Geocentrismo Aristotélico ● Planetas inferiores estão sempre em torno do Sol ● As esferas de Aristóteles nunca tinham movimento retrógrado. Sistema de Mundo de Aristarco ● À época de Aristóteles, outro sistema de mundo fora proposto por Aristarco de Samos. Este sistema, centrado no Sol, foi esquecido e só redescoberto na Era Moderna. Aristarco Geocentrismo Ptolomaico • Por longo tempo, os problemas do geocentrismo foram considerados resolvidos pelo modelo proposto por Ptolomeu, segundo o qual um planeta movia-se em torno de um ponto que se movia circularmente em torno da Terra. Este modelo perdurou por mais de 1000 anos e foi sucessivamente refinado por outros astrônomos. Ptolomeu Geocentric Geocentric model imagemodel image ● No modelo ptolomaico, estão mais próximos do Sol do que da Terra. Seus deferentes se movem com a mesma velocidade que o deferente do Sol. Planetas inferiores • Embora a concepção sobre a Pluralidade de Mundos seja tradicionalmente associada a Giordano Bruno, desde a Grécia Antiga filósofos propunham-na. Em alguns mundos, não há Sol ou Lua, em outros eles são maiores do que para o nosso mundo, e em outros são mais numerosos. Em alguns locais há mais mundos, noutros há menos (...); em alguns locais eles estão se formando, noutros estão decaindo. Há mundos livres de criaturas vivas ou planetas ou qualquer água. Demócrito (ca. 460-370 a.C.) Há infinitos mundos tanto parecidos ao quanto dissimilares do nosso. Uma vez que os átomos são infinitos em número, como já foi provado, (...) não há obstáculo a que o número de mundos seja infinito. Epicuro (341-270 a.C.) Giordano Bruno Pluralidade dos Mundos Contra a pluralidade ● O sistema atomista de Epicuro e outros acabou sendo eclipsado pelo coesivo sistema de Aristóteles (384-322 a.C.). ● Aristóteles não estava interessado na existência de sistemas planetários extrassolares ou na formação destes e em qualquer outra coisa que não pudesse observar. ● Sua visão de mundo era geocentrista, imutável e unicista. ● Para ele, o Universo era composto por 4 elementos que se moviam, cada qual, de acordo com seu “local natural” com respeito ao centro do mundo. Por isso, não poderia haver vários centros, mas apenas um. Em 1543, Copérnico publicou um sistema de mundo heliocêntrico em seu De Revolutionibus Orbium Coelestium. Heliocentrismo Copernicano Copérnico Temendo a Igreja, Copérnico apenas afirma que seu sistema parece oferecer uma explicação mais elegante para o movimento dos corpos celestes. De Revolutionibus Orbium Coelestium Movimento retrógrado ● O Heliocentrismo Copernicano oferecia uma solução elegante ao problema do movimento retrógrado dos planetas, sem a necessidade de deferentes e epiciclos introduzidos por Prolomeu. O movimento retrógrado seria meramente um efeito de projeção da posição de um planeta com respeito a outro que se movesse com maior velocidade. Movimento retrógrado ● No modelo heliocênctrico (Sol no centro do sistema solar) o movimento retrógado dos planetas é uma simples consequência de um planeta numa órbita menor alcançar e passar um outro numa órbita maior, como demonstrado por Copérnico (1473-1573). ● Como exemplo, temos o caso da Terra (que orbita o Sol em 1 ano) e de Marte (que leva 1.88 ano). A Terra alcança e passa Marte a cada 780 dias. ● Se desenhamos linhas da Terra a Marte, vemos que Marte parece mudar de direção em relação as estrelas de fundo a cada vez que a Terra o ultrapassa. ● Com o modelo heliocêntrico, Copérnico não só deu uma explicação simples para o movimento retrógado, como determinou a distância de cada planeta ao Sol por construção geométrica. Movimento retrógrado Movimento retrógrado Geocentrismo Tychoniano ● Entrementes, Tycho Brahe propôs um sistema de mundo intermediário entre o geo- e o heliocentrismo, no qual o Sol girava em torno da Terra, mas os demais planetas girariam em torno do Sol. Sistema de mundo de Tycho Brahe Tycho Brahe Uraniborg Uraniborg @ Google Earth Galileu Algumas descobertas de Galileu • Montanhas na Lua – Lua era um tipo de “Terra” • Fases de Vênus – Se a Lua tinha fases por girar em torno da Terra, que gira em torno do Sol, Vênus deve ter fases por girar em torno do Sol. • Satélites de Júpiter – Outros planetas poderiam ter sua corte de astros. • Manchas solares – O Sol não é imutável e perfeito como pregava a Igreja. Fases de Vênus: prova do HeliocentrismoKepler • Trabalhava com Tycho Brahe, que possuía o melhor observatório de então. • Recebeu de Tycho a tarefa de explicar anomalias nos dados observados do movimento de Marte. • Tentou durante anos encontrar a base geométrica sobre a qual o sistema solar se fundamentaria, experimentando com poliedros circunscritos a esferas cristalinas, até convencer-se se que as órbitas planetárias poderiam adequadamente ser ajustadas por elipses. Newton ● As leis de Kepler auxiliaram Newton em sua descoberta da Lei da Gravitação Universal. De então, o movimento planetário passou a ser visto como puramente mecanicista, resultante de um princípio ordenador. A Mecânica Newtoniana pôs fim à noção de esferas e sólidos cristalinos que moveriam os corpos celestes a elas fixos. Todavia, a Gravitação introduziu algo até então considerado improvável: a aplicação de uma força à distância. Leis da Mecânica Celeste ● A descrição dos movimentos planetários só foi possível devido às descobertas de Kepler, Galileu e Newton. ● A invenção do Cálculo, por Newton e Leibnitz, forneceu o instrumental matemático adequado ao tratamento dos problemas que surgiam nesta descrição. ● A elegância e precisão das leis físicas que descreviam o movimento dos corpos era tão evidente que os cientistas do século XVIII criam que o Universo como um todo pudesse ser regulado pelas leis da Mecânica. Leis de Kepler ● As descobertas de Kepler sobre os movimentos planetários são expressas no que hoje chamamos das três leis de Kepler: I. Os planetas movem-se em elipses, com o Sol em um dos focos desta. II. A velocidade orbital de um planeta varia de forma tal que uma linha conectando o Sol e o planeta varre áreas iguais em intervalos de tempos iguais. ● A quantidade de tempo que um planeta leva para orbitar o Sol está relacionada com o tamanho de sua órbita, de forma tal que o quadrado do período (P) é proporcional ao cubo do semi-eixo maior (a). Matematicamente, P2 ~ a3, onde P é medido em anos e a em unidades astronômicas. Leis de Kepler De acordo com a 1a. Lei de Kepler, as órbitas planetárias são elípticas. O Sol estaria num dos focos desta elipse. 1a. Lei de Kepler ©1997 William L. Drennon 2a. Lei de Kepler Áreas iguais definidas a partir da posição do Sol são varridas em tempos iguais pelo planeta. ©1997 William L. Drennon 3a. Lei de Kepler Os quadrados dos períodos orbitais do planeta são proporcionais ao cubo dos semi-eixos maiores de suas órbitas. Dados Dinâmicos do Sistema Solar ● Desvios à Terceira Lei de Kepler devem-se às perturbações de um planeta sobre os demais. Leis de Newton ● 1a. Lei: Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças imprimidas sobre ele. ● 2a. Lei: A mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida, e é produzida na direção da linha reta na qual aquela força é imprimida. ● 3a. Lei: A toda ação há sempre oposta uma reação igual, ou, as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas a partes opostas. Velocidade circular ● É a velocidade de um corpo que segue órbita circular em torno de outro. Essa velocidade decai com o aumento da distância porque a força gravitacional decai com o aumento da distância. Um foguete no ponto P em torno da Terra pode ter uma variedade de órbitas. Os casos de A a H correspondem a um foguete disparado paralelamente ao solo, mas com diferentes velocidades iniciais. • A velocidade circular pode ser encontrada pela fórmula: Velocidade de Escape ● Se um corpo é acelerado a uma velocidade maior do que a velocidade circular, ele entra numa órbita elíptica, com apogeu do lado oposto da Terra ao de lançamento. • Quando a velocidade é suficientemente grande, o apogeu encontra-se numa distância infinita e o foguete nunca retorna. Chamamos essa velocidade crítica de velocidade de escape. Problema de 3 corpos ● Embora as equações de Newton permitam descrever o movimento de um corpo sob a ação gravitacional de diversos outros, soluções analíticas para mais do que dois corpos são impraticáveis, exceto sob certas aproximações. ● O problema de 3 corpos tem solução simplificada quando queremos descrever o movimento de um corpo de massa desprezível sob a influência gravitacional de dois outros corpos. ● Essa situação é muito comum no Sistema Solar, no caso de satélites, sondas espaciais, etc. Pontos Lagrangeanos ● Soluções específicas para o problema de 3 corpos são possíveis para um sistema de ressonância 1:1 um sistema de dois corpos maiores co-orbitantes e um terceiro corpo menor que possui o mesmo período de revolução que os outros dois. ● Nesses sistemas, Lagrange descobriu que há cinco pontos em que um corpo menor consegue manter-se em posição de equilíbrio com relação aos dois maiores. Os pontos lagrangeanos são denominados L1, L2, L3, L4 e L5. Destes, apenas L4 e L5 tendem a ser povoados por pequenos corpos. Os demais são quasi- estáveis: sob influência externa, corpos nesses pontos sairiam de sua posição. Troianos ● Nos pontos L4 e L5 de Júpiter, encontram-se diversos asteroides em órbitas estáveis. Tais asteroides foram denominados Troianos. Hoje, essa denominação é dada a todos os asteroides em órbita no ponto L4 e L5 de um planeta. À data de março de 2012, conhecia-se 3404 troianos no ponto L4 e 1759, no ponto L5. ● Três troianos de Marte, um da Terra e oito de Netuno foram encontrados nos últimos anos. Satélites Troianos ● Entre os satelites de Saturno, há um sistema de troianos composto por Thetys, Telesto e Calypso. ● Além destes, Helene encontra-se no ponto L3 do sistema Saturno-Dione. Pontos Lagrangeanos - Telescópios ● Para bloquear de maneira eficiente a luz do Sol, Terra e Lua uma solução é colocar o telescópio numa órbita em que os 3 corpos estejam aproximadamente alinhados, como no ponto L2. Além disso, esta localização representa economia de combustível. Pontos lagrangeanosdo sistema Sol-Terra. Alguns satélites foram colocados nos pontos L1 (ex. SOHO; LISA no futuro) e L2 (WMAP, Planck e GAIA; JWST no futuro) Telescópios – Satélites – Lixo espacial Órbitas-ferradura e órbitas-girino ● Outro tipo de órbitas relacionadas aos pontos lagrangeanos são as chamadas órbitas-ferradura e órbitas- girino. ● Essas órbitas são movimentos aparentes de um terceiro corpo menor num sistema em que a massa está quase toda contida nos dois outros corpos. ● As órbitas aparentes são traçadas em um referencial centrado no corpo maior, movendo-se junto com a lua principal. Sistema Saturno-Jano-Epimeteu ● Jano e Epimeteu, luas de Saturno, seguem órbitas- ferradura em torno de Saturno. A separação de suas órbitas em semi-eixo maior é de apenas dezenas de quilômetros. ● A cada 4 anos, interações entre as duas luas faz com elas troquem de posição e passem a órbitas mais distantes ou próximas de Saturno. Órbitas sincronizadas ● A Lua apresenta a mesma face para a Terra. – Considerando que o eixo maior da Lua orienta-se ao longo da linha que une os centros de massa da Terra e da Lua, concluímos que a Terra usa a linha dos bojos mareais para diminuir a rotação lunar, prendendo a Lua em um estado de rotação sincronizada. – Em corpos que têm massa semelhante entre si, ambos podem estar presos a rotações sincronizadas pelas forças de maré de um sobre o outro, como no sistema Plutão-Caronte.Aquecimento Mareal ● Um interessante efeito das forças de maré é o aquecimento de interiores planetários. O fenômeno foi estudado por Stanton Peale e colegas e levou à previsão de que Io teria vulcões ativos, antes da descoberta destes pela Voyager. ● As interações de Io com demais satélites jupiterianos modificam sua órbita, levando-a a variar ligeiramente. Simultaneamente, as forças de maré causadas por Júpiter flexionam Io com intensidade variável, dependente da órbita daquele. Os bojos mareais em Io levantam-se e recedem, ao longo da órbita. Isso aquece o interior do satélite, devido à fricção interna, liqüefazendo-o. ● Outros satélites do Sistema Solar (mormente Europa, Encélado, Miranda) mostram superfícies fraturadas, indicativas de episódios de liqüefação e emergência de material interno típicas de aquecimento mareal. Aquecimento Mareal Pillan Patera @ Io, um vulcão gerado por aquecimento mareal Listras de Tigre em Encélado Fraturas na superfície gelada de Europa Limite de Roche ● As forças de maré causam um esticamento de corpos interagentes ao longo da linha que une os centros de massa destes corpos. ● Como a interação mareal líquida segue uma lei de r -6, quanto mais próximo um corpo menor estiver de um corpo maior, mais deformante é o esticamento daquele. ● Existe uma distância crítica, dentro da qual um corpo menor é gravitacionalmente destroçado pelas forças de maré do corpo maior. Chamamos essa distância de Limite de Roche. 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