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Saúde Materna e Infantil (até aos 12 M) Filipa Sampaio 1/1/17 Licenciatura em Enfermagem 1 CONTEÚDOS Temas a abordar nas consultas – saúde materna ........................................................................................................................ 5 Trimestre, cálculo da idade gestacional, data provável de parto ........................................................................................... 8 História clínica ............................................................................................................................................................................... 9 Factores de risco pré-natal ........................................................................................................................................................ 10 Alimentação ................................................................................................................................................................................ 20 Ganho ponderal .......................................................................................................................................................................... 20 Suplementação com ferro, ácido fólico, vitamina b12, iodo ................................................................................................ 21 Exercício físico ............................................................................................................................................................................. 22 Sono e repouso ........................................................................................................................................................................... 23 Tabaco, álcool, uso de drogas .................................................................................................................................................. 23 Higiene ......................................................................................................................................................................................... 23 Vestuário ...................................................................................................................................................................................... 23 Relações sexuais ......................................................................................................................................................................... 24 Segurança rodoviária ................................................................................................................................................................. 24 Alterações decorrentes da gravidez / adaptações fisiológicas............................................................................................. 24 1º Trimestre ............................................................................................................................................................................. 24 2º Trimestre ............................................................................................................................................................................. 25 3º Trimestre ............................................................................................................................................................................. 27 Alterações gerais (por sistema) ............................................................................................................................................. 28 Sinais de alarme durante a gestação ....................................................................................................................................... 37 Prevenção de toxoplasmose, listeriose, salmonelose, brucelose ......................................................................................... 38 Relações sexuais ......................................................................................................................................................................... 38 Confirmação do diagnóstico de gravidez ............................................................................................................................... 39 Exame físico ................................................................................................................................................................................. 39 Exame geral ............................................................................................................................................................................. 39 Exames auxiliares de diagnóstico durante a gravidez – ecografias ................................................................................. 41 Vacinação da grávida ................................................................................................................................................................. 41 Profilaxia de isoimunização Rh ................................................................................................................................................. 42 Licenças de maternidade/ paternidade, etc ............................................................................................................................ 43 2 Desenvolvimento fetal ............................................................................................................................................................... 44 Desenvolvimento fetal por trimestre ................................................................................................................................... 44 Etapas do desenvolvimento do bebé mês a mês: .............................................................................................................. 44 Referenciação .............................................................................................................................................................................. 49 Gravidez na adolescência .......................................................................................................................................................... 49 Puerpério ..................................................................................................................................................................................... 49 Alterações no puerpério ............................................................................................................................................................ 50 Adaptação à parentalidade ....................................................................................................................................................... 51 Tristeza puerperal (Baby blues) e Depressão puerperal (depressão pós-parto) ................................................................ 52 Contracepção no pós-parto ...................................................................................................................................................... 53 Temas a abordar nas consultas – saúde infantil ......................................................................................................................... 53 Amamentação ............................................................................................................................................................................. 53 Aleitamento artificial .................................................................................................................................................................. 74 Introdução de novos alimentos ................................................................................................................................................77 Vitamina D3 (Colecalciferol) ...................................................................................................................................................... 79 Sono ............................................................................................................................................................................................. 79 Eliminação intestinal e vesical................................................................................................................................................... 80 Sinais e sintomas comuns ......................................................................................................................................................... 81 Sinais de alerta ............................................................................................................................................................................ 82 Cuidados ao recém nascido após o nascimento .................................................................................................................... 83 Higiene do bebé ......................................................................................................................................................................... 83 Cuidados ao coto umbilical ....................................................................................................................................................... 84 Segurança e prevenção de acidentes ...................................................................................................................................... 84 A integração do novo elemento na família ............................................................................................................................. 85 Avaliação do desenvolvimento do bebé ................................................................................................................................. 86 3 SAÚDE MATERNA Antes mesmo da concepção é recomendada a marcação de uma consulta pré- concepcional, preferencialmente antes de o casal interromper a utilização do método contraceptivo, na qual se procede a uma avaliação inicial e aconselhamento geral, se avalia o risco de uma eventual gravidez, se realizam exames auxiliares de diagnóstico ao casal e se procede à referenciação para cuidados pré-concepcionais especializados, quando indicado. O acompanhamento e os cuidados pré-natais, regulares, diminuem a incidência de complicações da gestação. Esquema de consultas – a 1ª consulta de gravidez deverá ser sempre o mais precocemente possível, idealmente nas primeiras 12 semanas de gravidez. Numa gravidez normal recomenda-se a realização de uma consulta mensal até às 30 semanas de gestação e quinzenal entre as 30 e as 36 semanas, tempo de gestação em que se deve referenciar a mulher ao Hospital de apoio perinatal para as consultas de termo da gravidez. De acordo com a ULSM, deverão ser efectuadas pelo menos 6 consultas de saúde materna: 1ª até às 12semanas 2ª entre as 14 e 16/17 semanas 3ª antes das 24 semanas 4ª entre as 27 e 30/31 semanas 5ª entre as 34 e 35/36 semanas 6ª entre as 36 e 38/39 semanas A Consulta de Revisão de Puerpério deverá ser efectuada 4 a 6 semanas após o parto. Objectivos do acompanhamento de saúde materna: Orientar antecipadamente para o médico de família caso exista diagnóstico de gravidez e promover a integração da mulher grávida num plano de vigilância da gestação; Orientar para a importância da vigilância precoce da gravidez, da revisão de puerpério e do aleitamento materno; 4 Fornecer boletim da grávida, orientar para a importância de a mulher grávida se fazer acompanhar deste boletim até à consulta de revisão do puerpério, e proceder ao registo/ actualização dos registos; Vigiar a gravidez, avaliando a grávida periodicamente; Vigiar o bem-estar materno e fetal; Vigiar o crescimento e desenvolvimento fetal; Identificar atempadamente complicações; Detectar precocemente factores de risco e orientá-los correctamente; Promover a educação para a saúde; Aumentar conhecimento sobre sinais e sintomas caracterísitcos da gravidez e alertar para complicações; Ajudar a grávida a adaptar-se às alterações fisiológicas próprias da gravidez e a superar a sintomatologia por ela provocada. Aumentar conhecimento sobre alimentação, vestuário, calçado, exercício físico, sono, etc; Aumentar conhecimento sobre enxoval, higiene do recém-nascido, transporte, cuidados com o coto umbilical, prevenção de acidentes, etc; Incentivar o aleitamento materno e aumentar conhecimento sobre benefícios da amamentação, fisiologia, tipos de leite, etc; Promover a saúde da mãe, feto e família; Proceder à administração de profilaxia de isoimunização Rh às 28 semanas nas grávidas com essa indicação; Orientar para curso de preparação para o parto; Orientar para curso de recuperação pós parto e massagem infantil; Realizar visita domiciliária até aos 15 dias de vida do recém nascido e/ou até aos 6 dias de vida, caso seja para diagnóstico recoce; Averiguar e actualizar vacinação; Alertar o serviço social para situações de risco social; Critérios de referenciação para o médico: Suspeita de diagnóstico de gravidez; Quando é necessária a actualização do rastreio do cancro do colo do útero; Verificação de alterações na história ou exame físico da grávida. 5 TEMAS A ABORDAR NAS CONSULTAS – SAÚDE MATERNA 1ª consulta Dados da consulta pré-concepção Bem estar da grávida e do casal Cálculo da idade gestacional (IG) e data provável de parto (DPP) 6 Avaliação da motivação e adaptação à gravidez (desejada, planeada, aceite...) Suporte social (família, amigos, etc) História clínica (história familiar, história anterior, doenças actuais, medicação habitual, dados relativos a gestações anteriores, etc) Factores de risco pré-natal Alimentação, exercício físico, hidratação, higiene oral, sono e repouso, consumos nocivos, vestuário Suplementação com ácido fólico, ferro, etc Alterações e desconfortos decorrentes da gravidez nesta fase (1º trimestre) Sinais de alarme Prevenção de infecções (infecção urinária, toxoplasmose, listeriose) Prevenção de acidentes (uso de cinto de segurança, exposição a agentes teratogénicos, actividades radicais, etc) Relações sexuais Exame físico à grávida (peso e altura antes da gravidez e actual, IMC, pressão sanguínea, análise de urina com teste de combur) Frequência cardíaca fetal (a partir das 11 semanas) (normal 110-160bpm) Fornecimento e preenchimento do boletim da grávida Importância da vigilância periódica da gravidez Verificação do registo vacinal Consultas seguintes Bem estar da grávida e do casal Cálculo da idade gestacional (IG) e data provável de parto (DPP) Alterações e desconfortos decorrentes da gravidez nesta fase (2º e 3º trimestres) Sinais de alarme Alimentação, exercício físico, hidratação, sono e repouso, consumos nocivos, vestuário 2º trimestre (12-28 semanas) o Desenvolvimento fetal o Preparar a chegada do bebé (preparação da casa, enxoval, preparação para o parto, etc) o Alimentação do bebé 3º trimestre (>28 semanas) o Desenvolvimento fetal o Fases do trabalho de parto 7 o Preparação das malas a levar para o hospital o Características do recém-nascido/ reconhecer o padrão de crescimento e desenvolvimento normais o Assegurar a higiene e manter a pele saudável o Cuidados ao coto umbilical o Lidar com o choro do bebé o Lidar com problemas comuns o Promoção e vigilância da saúde o Garantir a segurança e preveniracidentes o Preparar a integração do novo elemento na família o Necessidade de revisão do puerpério após 6 semanas de parto o Motivação para planeamento familiar Isoimunização Rh – às 28 semanas, realizar profilaxia de isoimunização Rh a todas as grávidas Rh negativo não sensibilizadas (coombs indirecto negativo), com 300 microgramas de imunoglobulina antigénio D Vacinação TdPa – Entre as 20 e 36 semanas, idealmente até às 32 semanas, realizar vacinação contra a tosse convulsa Exame físico à grávida (peso, IMC, pressão sanguínea, análise da urina com teste de combur, edema, insuficiência venosa, etc) Frequência cardíaca fetal (a partir das 11 semanas) (normal 110-160bpm) Movimentos fetais (perceptíveis habitualmente entre as 18 a 20 semanas em multíparas e 22 a 24 semanas em nulíparas) Preenchimento do boletim da grávida Oferta da oportunidade para realizar preparação para o parto, devendo a referenciação ser até às 20 semanas Consulta de revisão do puerpério Bem estar da puérpera e do casal Dados relativos ao parto – data, tipo de parto, complicações, lóquios, corrimento, hemorragias Dados relativos ao recém-nascido – idade gestacional ao nascimento, sexo, apgar ao 1º e 5º min, peso, complicações neonatais Suporte social (família, amigos, etc) Assegurar higiene e manter a pele saudável Cuidados ao coto umbilical Vestuário e vestir/despir 8 Alimentar a criança Lidar com o choro Lidar com problemas comuns Garantir a segurança e prevenir acidentes Reconhecer o padrão de crescimento e desenvolvimento normais Promoção e vigilância da saúde Ligação mãe/pai-filho Início do contraceptivo Exame físico – Pressão sanguínea, peso, exame da mama, circulação (varizes, hemorróides) TRIMESTRE, CÁLCULO DA IDADE GESTACIONAL, DATA PROVÁVEL DE PARTO A gravidez divide-se em 3 trimestres: 1º trimestre – até 13 semanas 2º trimestre – 14 a 27 semanas 3º trimestre – a partir das 28 semanas Cálculo da idade gestacional Todas as consultas Quando a data da última menstruação (DUM) é conhecida: o Contar o número de semanas a partir do 1º dia da última menstruação até à data da consulta. o Uso de disco – instrução no verso do disco. Cálculo da data provável do parto 1ª consulta Regra de Nãgele 9 o Identificar 1º dia da última mestruação (DUM) o Ao dia da DUM somar 7 o Ao mês da DUM subtrair 3 meses (ou somar 9 meses) o Exemplo: DUM 11 de setembro 2001. Dia = 11 + 7 = 18. Mês = 9 – 3 = 6. DPP = 18 Junho 2002 HISTÓRIA CLÍNICA História familiar, história anterior, doenças actuais, medicação habitual, dados relativos a gestações anteriores, etc Possíveis efeitos das condições médicas existentes e terapêuticas utilizadas sobre o feto Hipotiroidismo – aumenta o risco de aborto espontâneo, morte fetal, baixo peso na criança, problemas cognitivos na criança, e compliações maternas como hipertensão arterial; Hipertiroidismo – o metimazol não deverá ser utilizado durante o primeiro trimestre, devendo optar-se pelo propiltiouracil, devido à sua menor passagem pela placenta; Fenilcetonúria – atraso mental, microcefalia ou defeitos congénitos cardíacos no feto; Diabetes mellitus mal controlada – aumenta o risco de defeitos congénitos cardíacos ou no tubo neural, morte fetal, aborto, parto prematuro, complicações no recém-nascido ou na mulher; Hipertensão arterial – aumenta o risco de desenvolver pré-eclâmpsia. a adequação da medicação é importante; Obesidade (IMC > 30) – maior risco de complicações na gravidez e de defeitos no recém-nascido, morte fetal, defeitos do tubo neural, complicações no parto, hipertensão ou diabetes gestacional, inferilidade; Baixo peso (IMC<18,5) – aumenta o risco de baixo peso na criança ou parto prematuro, deficiência de nutrientes, osteoporose, amenorreia, infertilidade, arritmias; Epilepsia – a terapêutica pode ser teratogénica, devendo ser alterada. A terapia medicamentosa também aumenta o consumo de folato, razão pela qual é importante a suplementação de ácido fólico; HIV – de modo a prevenir a transmissão vertical durante a gravidez, no parto e no pósparto, deverá ser realizado o uso de antirretrovirais na gestação, o uso de AZT no parto e para o recém-nascido exposto e a inibição da lactação, assim como a disponibilização da fórmula láctea. 10 Lúpus eritematoso sistémico – mulheres com esta patologia exibirão melhor resultado obstétrico e perinatal se a sua doença estiver inativa e sob controlo pelo menos até 6 meses antes da concepção e com funcionamento renal estabilizado. Asma brônquica – é importante que a mulher engravide durante um período estável da doença. Medicações não recomendadas / teratogénicas Antiepilépticos – a concepção deve ser adiada até existir um bom controlo da doença, preferencialmente em monoterapia. Alguns antiepilépticos como o ácido valpróico são teratogénicos, devendo ser evitados. Devem ser preferidos medicamentos com menor potencial teratogénico, como a carbamazepina, por exemplo; Varfarina – teratogénica. Se possível, utilizar no início da gravidez um anticoagulante com menor risco; Isotretinoína – teratogénica. Deve ser utilizada protecção dupla um mês antes, durante e um mês após o tratamento; Inibidores da enzima de conversão de angiotensina e antagonistas de receptores de angiotensina – teratogénicos; Estatinas – representam risco para o desenvolvimento fetal; Metimazol (utilizado no hipertiroidismo) – associado a alterações congénita se utilizado durante o primeiro trimestre. Efavirenz (antiretroviral) – teratogénico. Estreptomicina (tuberculostático) – teratogénico. Risco de surdez congénita. Antibióticos não aconselhados – estolato de eritromicina, aminoglicosídeos, tetraciclinas, quinolonas, sulfonamidas, cloranfenicol (3ª trimestre), trimetoprim (1ª trimestre). FACTORES DE RISCO PRÉ-NATAL (Avelino, 2016, Prefeitura Municipal de Londrina, 2006) Características individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis: Idade: o Maior que 35 anos; o Menor que 17 anos; Altura o Menor que 1,45m; 11 Peso pré-gestacional o Menor que 45kg; o Maior que 75kg (IMC30); Anormalidades estruturais nos órgãos reprodutivos; Situação conjugal insegura; Conflitos familiares; Baixa escolaridade; Desemprego; Imigração, refugiados; Condições habitacionais precárias; Condições ambientais desfavoráveis; Dependência de drogas lícitas ou ilícitas; Hábitos de vida Fumo e álcool; Exposição a riscos ocupacionais: esforço físico, carga horária > 10/dia, permanecer em pé mais de 6h de forma ininterrupta, rotatividade de horário, exposição a agentes nocivos como produtos químicos, metais pesados, pesticidas, repelentes, fertilizantes, radiações, excreções de gatos ou de roedores, produtos utilizados em limpeza a seco, tipografia, têxteis, agricultura, instalações sanitárias, stress. Condições clínicas preexistentes: Hipertensão arterial; Diabetes; Cardiopatias; Pneumopatias; Nefropatias; Endocrinopatias (principalmente diabetes e tiroidopatias); Hemopatias; Epilepsia; Doenças infecciosas como toxoplasmose, sífilis, HIV, etc (considerar a situação epidemiológica local); Doenças autoimunes; Ginecopatias; Neoplasias. História reprodutiva anterior: 12 Aborto habitual; Morte perinatal explicada e inexplicada; História de recém-nascido com crescimento restrito ou malformado; Parto pré-termo anterior; Esterilidade/infertilidade; Intervalo entre partos menor que dois anos ou maior que cinco anos; Nuliparidade e grande multiparidade; Síndrome hemorrágica ou hipertensiva; Diabetes gestacional; Cirurgia uterina anterior (incluindo duas ou mais cesáreas anteriores). Complicações relativas a gestação actual (transformando-a numa gestação de alto risco): Desvio quanto ao crescimento uterino, número de fetos e volume de líquido amniótico; Trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada; Ganho ponderal inadequado; Pré-eclâmpsia e eclâmpsia; Diabetes gestacional; Hemorragias da gestação; Perda de peso; Infecção urinária; Doenças como toxoplasmose, hepatites, sífilis, etc. Óbito fetal. Numa gestação de risco, a grávida deverá redobrar a atenção aos sinais de alerta e intensificar os cuidados preventivos. O pré-natal de uma gestante de risco é diferente, na medida em que esta grávida precisará de ser acompanhada mais de perto e de modo mais frequente pelos profissionais de saúde e, dependendo do caso, alterar o seu estilo de vida, hábitos, realizar tratamentos específicos, etc. Hipertensão arterial crónica, pré-eclâmpsia e eclâmpsia Hipertensão arterial crónica – hipertensão arterial presente/diagnosticada antes da gravidez ou antes das 20 semanas de gestação ou diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez e que não resolve 12 semanas após o parto. 13 Hipertensão gestacional – hipertensão arterial detectada após 20 semanas de gestação, não associada a proteinúria. Pode ser transitória, se os valores tensionais regressarem ao normal após o parto, ou crónica, se a hipertensão arterial se mantiver após o parto. Considera-se hipertensão arterial quando: Aumento de 30mmHg ou mais na pressão sistólica e/ou de 15 mmHg ou mais na pressão diastólica, em relação aos níveis tensionais previamente conhecidos. A observação de níveis tensionais iguais ou superiores a 140 mmHg de pressão sistólica e iguais ou superiores a 90 mmHg de pressão diastólica. Pré-eclâmpsia – hipertensão arterial que ocorre após 20 semanas de gestação, em mulheres previamente normotensas, que resolve até 12 semanas após o parto, associada a proteinúria (>300mg/24h). Sinais e sintomas: Hipertensão arterial Proteinúria (a presença de proteinúria ≥ 1+ em amostra única de urina deve ser seguida de uma determinação da proteinúria de 24 horas e cálculo do clearance de creatinina) Aumento rápido de peso Cefaleias, distúrbios visuais, dor abdominal, edema facial Plaquetopenia Aumento de enzimas hepáticas Oligúria (menor que 500ml/dia, ou 25ml/hora) Níveis séricos de creatinina maiores que 1,2mg/dL Sinais de encefalopatia hipertensiva (cefaleia e distúrbios visuais) Dor epigástrica ou no hipocôndrio direito Evidência clínica e/ou laboratorial de coagulopatia AVC Sinais de IC Presença de restrição de crescimento intrauterino ou oligohidroâmnio Pré-eclâmpsia grave – se a idade gestacional for ≥ 34 semanas de gestação, a grávida deverá ser preparada para interrupção da gestação. Se a idade gestacional for entre 24 e 34 semanas, poderá ser adoptada a conduta conservadora, através de 14 monitoração maternofetal rigorosa, uso de sulfato de magnésio e agentes anti- hipertensivos. Eclâmpsia – quadro caracterizado pela ocorrência de convulsões em mulheres com pré-eclâmpsia. A conduta clínica visa ao tratamento das convulsões, da hipertensão e dos distúrbios metabólicos, além de cuidados e controlos gerais. Cuidados Gerais: Manter o ambiente tranquilo, o mais silencioso possível; Decúbito elevado a 30º e face lateralizada; Cateter nasal com oxigênio (5l/min) ; Punção de veia central ou periférica calibrosa; Cateter vesical contínuo. A conduta obstétrica visa a estabilização do quadro materno, à avaliação das condições de bem-estar fetal e a antecipação do parto, em qualquer idade gestacional. Após a estabilização do quadro, iniciar os preparativos para interrupção da gestação. Hemorragias As mais importantes situações hemorrágicas gestacionais são: Primeira metade da gestação o Aborto; o Gravidez ectópica; o Neoplasia trofoblástica gestacional benigna (mola hidatiforme); o Descolamento corioamniótico. Segunda metade da gestação o Placenta prévia; o Descolamento prematuro da placenta; o Roptura uterina; o Vasa prévia. Outras causas menos frequentes de sangramento por via vaginal durante toda a gestação, são: cervicites, pólipo endocervical, ectrópio, cancro do colo do útero, traumatismo vaginal e sangramento do colo do útero durante o trabalho de parto na segunda metade da gestação. Aborto 15 Interrupção da gravidez ocorrida antes da 22ª semana de gestação. Precoce – ocorre até a 13ª semana Tardio – ocorre entre a 13ª e 22ª semana. Pode ser classificado de várias formas: Aborto espontâneo – perda involuntária da gestação. Ameaça de aborto – ocorrência de sangramento uterino com o cérvix fechado sem eliminação de tecidos ovulares. Aborto completo – eliminação da totalidade do conteúdo uterino. Aborto incompleto – apenas parte do conteúdo uterino é eliminado. Aborto inevitável – há sangramento e dilatação cervical mas ainda não ocorreu eliminação de conteúdo uterino. Aborto retido – ocorre a morte do embrião ou feto e o mesmo permanece na cavidade uterina, sem ser eliminado. Aborto infectado – aborto acompanhado de infecção genital como endometrite, parametrite e peritonite. Aborto habitual – perdas espontâneas e sucessivas de três ou mais gestações. Toda a gestante com sangramento vaginal no 1º trimestre deve ser submetida a exame abdominal, exame especular e toque. Quando o colo estiver fechado ou houver dúvida no diagnóstico, está indicada uma ultrassonografia para avaliação das condições do saco gestacional (com ou sem descolamento) e do embrião (com ou sem batimentos). Gravidez ectópica. Nidação do ovo fora da cavidade uterina. O tipo mais frequente é a tubária. São fatores de risco para gravidez ectópica: o História de gravidez ectópica prévia; o Cirurgia tubária prévia; o Infecções tubárias anteriores; o Contracepção com progesterona ou DIU. Muitas vezes ocorrem em gestantes sem nenhum factor de risco. A dor e o sangramento vaginal são os sintomas mais importantes da gravidez ectópica. O exame físico/ginecológico pode evidenciar presença de sangue no canal vaginal, útero menor do que o esperado para a idade gestacional, 16 amolecimento do colo uterino e dor pélvica, às vezes mais localizada em uma região anexial onde se pode palpar uma massa dolorosa. Desvio de crescimento fetal As causas de restrição do crescimento fetal podem ser classificadas em: o Factores fetais intrínsecos que reduzem o crescimento potencial, tais como aneuploidias, síndromes genéticas e infecções congénitas. o Condições que afectam a transferência de nutrientes e oxigénio para o feto, como: Processos originários na placenta associados à pré-eclâmpsia Factores maternos como a desnutrição grave, tabagismo e uso de drogas. Das causas maternas, a pré-eclâmpsia é o fator que mais está associado com casos graves de restrição do crescimento fetal. A suspeita clínica de crescimento intrauterino restrito deve basear-se na precisão da idade gestacional, idealmente obtida por meio de ultrassonografia obstétrica de primeiro trimestre (9 a 12 semanas) Altura uterina menor que a esperada no terceiro trimestre de gestação deve ser indicação de ultrassonografia obstétrica para avaliação do crescimento fetal. É muito importante diferenciar neste exame os fetos que são constitucionalmente pequenos (placentação normal, pais de biotipo menor) daqueles conceptos que reduziram o ritmo de crescimento, impedindo-osde atingir seu potencial genético. Esse grupo de fetos agrega considerável morbidade perinatal, bem como possibilidade de sequelas na vida adulta. O diagnóstico ultrassonográfico de crescimento intrauterino restrito é feito quando a estimativa de peso fetal estiver abaixo do percentil 10 para a idade gestacional. O parâmetro da biometria fetal que melhor estima o perfil nutricional do feto é a medida da circunferência abdominal. Trabalho de parto prematuro Trabalho de parto que se inicia antes das 37 semanas. Conceitua-se gravidez pré-termo aquela cuja idade gestacional encontra-se entre 22 e 37 semanas. Gestação múltipla Presença de dois ou mais fetos na cavidade uterina define a gestação gemelar Está associada a: 17 o Aumento da morbilidade e mortalidade perinatal, notadamente resultado de maior número de recém-natos prematuros e de baixo peso. o Maior frequência de malformações fetais e alterações de vascularização e de quantidade de líquido amniótico. o Aumento da morbidade materna face à maior probabilidade de ocorrência dos fenómenos de pré-eclâmpsia/eclâmpsia e hemorragias puerperais. Infecção urinária Associada a complicações como rotura prematura de membranas ovulares, trabalho de parto prematuro, febre no pós-parto, sepse materna e infecção neonatal. O quadro clínico varia de bacteriúria assintomática até o quadro de pielonefrite. Bacteriúria assintomática o Caracteriza-se pela presença de bactérias na urina sem sintomatologia específica. o Recomenda-se a realização de cultura de urina no primeiro e terceiro trimestres da gravidez para se detectar a bacteriúria, tendo em vista a sua associação com o desenvolvimento posterior de pielonefrite e ocorrência de baixo peso ao nascer. o Diagnóstico é feito através da presença de mais de 100 mil unidades formadoras de colónias bacterianas por ml de urina. o O tratamento é o mesmo para a cistite ou de acordo com a cultura e teste de sensibilidade. Cistite o Caracteriza-se por disúria, polaciúria, urgência miccional, dor retropúbica, suprapúbica e abdominal, com menor frequência hematúria. o O diagnóstico laboratorial é dado pelo exame do sedimento urinário e pela cultura. A presença de leucocitúria (acima de 10 leucócitos por campo) e hematúria são comuns, mas não estão necessariamente presentes. o As opções terapêuticas podem ser em regime de dose única, de curta duração ou longa duração. A escolha de um ou outro método dependerá da avaliação clínica do grau de comprometimento da gestante. Toxoplasmose Zoonose causada pelo Toxoplasma gondii 18 Adquire especial relevância quando atinge a gestante, visto o elevado risco de acometimento fetal: restrição de crescimento intrauterino, morte fetal, prematuridade e/ou manifestações clínicas e sequelas como microftalmia, lesões oculares, microcefalia, hidrocefalia, calcificações cerebrais, pneumonite, hepatoesplenomegalia, erupção cutânea e retardo mental. A maioria dos casos de toxoplasmose pode acontecer sem sintomas ou com sintomas bastante inespecíficos. Anemia na gestação Durante a gestação, há aumento do volume plasmático em até 50% (1.000ml) e do número total de hemácias circulantes em cerca 25% (300ml), aumentando assim a perfusão placentária, facilitando as trocas gasosas e de nutrientes, suprindo, assim, as necessidades do crescimento uterino e fetal. Sendo o aumento do volume plasmático superior ao aumento dos eritrócitos circulantes, frequentemente ocorre uma anemia fisiológica por hemodiluição, caracterizada pela diminuição dos níveis de hematócrito e hemoglobina. A hemodiluição alcança o seu nadir no final do segundo trimestre e início do terceiro. Cerca de seis semanas após o parto, na ausência de perda sanguínea excessiva durante o parto, esses níveis retornam ao normal. A anemia pode ocorrer por perda sanguínea, destruição excessiva dos eritrócitos ou deficiência de sua produção. o As principais causas de anemia na gestação são: Deficiência de ferro; Deficiência de ácido fólico; Deficiência de vitamina B12; Hemoglobinopatias (anemia falciforme, talassemias); Perda sanguínea crônica (sangramentos gastroinstestinais ocultos). Diabetes Hiperglicemia que é diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez, no segundo ou terceiro trimestre. Esta diabetes não estava presente antes da gestação e desaparece, normalmente, após o parto. É feito um rastreio utilizando o teste de tolerância a glicose oral entre as 24 e 28 semanas de gestação. A hiperglicemia durante a gravidez aumenta o risco de hipertensão arterial e macrossomia fetal. Está associada a índices elevados de morbimortalidade perinatal, especialmente macrossomia fetal e malformações fetais. 19 A terapêutica inclui dieta saudável, exercício físico ligeiro e monitorização dos valores da glicemia. Em alguns casos, poderá ser necessária a utilização de medicamentos via oral ou insulina. A diabetes mellitus associada à gravidez pode ser classificada como: o Diabetes pré-gestacional (diabetes prévio à gravidez: tipo 1, tipo 2 ou outros). Requer gestão adequada antes mesmo da mulher engravidar. Glicemia de jejum, avaliada na 1ª consulta de gravidez, ≥ 126 mg/dl. Glicemia ocasional ≥ 200 mg/dl. o Diabetes gestacional (diagnosticado pela primeira vez durante a gravidez, podendo ou não persistir após o parto). Glicemia de jejum, avaliada na 1ª consulta de gravidez, ≥ 92mg/dl e < 126 mg/dl. Se glicemia de jejum < 92mg/dl, realizar prova PTGO com 75 g de glicose às 24 a 28 semanas de gestação. Aí, é diagnosticada diabetes gestacional se: Às 0h, glicemia ≥ 92 mg/dl; À 1h, glicemia ≥ 180 mg/dl; Às 2h, glicemia ≥ 153 mg/dl. Quando o diagnóstico de DG ou provável diabetes prévia for feito no 1º trimestre ou às 24-28 semanas de gestação a grávida deve ser referenciada a uma consulta hospitalar de medicina materno-fetal para a diabetes, num hospital de apoio perinatal ou hospital de apoio perinatal diferenciado. Todas as mulheres a quem foi diagnosticada uma DG devem, 6 a 8 semanas após o parto, realizar uma PTGO com sobrecarga de 75 g de glicose com duas determinações: às 0 e às 2 horas – ver Anexo 4. Factores de risco: o Idade igual ou superior a 35 anos; o Índice de massa corporal (IMC) >25kg/m2 (sobrepeso e obesidade); o Antecedente pessoal de diabetes gestacional; o Antecedente familiar de diabetes mellitus (parentes de primeiro grau); o Macrossomia ou polihidrâmnio em gestação anterior; o Óbito fetal sem causa aparente em gestação anterior; o Malformação fetal em gestação anterior; o Uso de drogas hiperglicemiantes (corticoides, diuréticos tiazídicos); o Síndrome dos ovários policísticos; o Hipertensão arterial crônica. Na gravidez atual, em qualquer momento: o Ganho excessivo de peso; 20 o Suspeita clínica ou ultrassonográfica de crescimento fetal excessivo ou polihidrâmnio. ALIMENTAÇÃO Segundo a OMS (2015), a Associação Portuguesa dos Nutricionistas (2011), a DGS (2011), o Ministério da Saúde (2012) e a Prefeitura Municipal de Londrina (2006), existem medidas que se podem adotar para ter uma alimentação saudável, como por exemplo: Adoptar uma dieta variada, nutricionalmente equilibrada, rica em legumes, leguminosas, verduras e frutas e pobre em gorduras (totais e saturadas); Tomar sempre pequeno-almoço; Fazer 5 a 6 refeições por dia, evitando ficar mais de 3h sem comer; Consumir mais água ao longo do dia (cerca de um litro e meio, que corresponde a 8 copos); Comer cinco porções de fruta e legumes por dia; Consumir mais peixe; Peixes – evitar alguns tipos de peixe como atum fresco, cavalaou peixe-espada, devido ao perigo de contamição com mercúrio. No caso do atum, pode optar por atum enlatado. Preferir as carnes brancas, retirando a pele e a gordura visível; Consumir mais alimentos ricos em fibra como os cereais integrais, as frutas, os legumes, as leguminosas; Iniciar as refeições principais com sopa; Comer devagar e mastigar bem os alimentos; Preferir temperos naturais: limão, ervas, alho, cebola, salsa e cebolinha Reduzir o consumo de gorduras Reduzir o consumo de sal para o nível inferior ao recomendado de 5 a 6 gramas diárias e preferir o sal iodado; Reduzir o consumo de açúcar para menos de 10% da ingestão calórica diária, correspondendo a cerca de 50 gramas ou 12 colheres de café de açúcar; Cafeína – dose recomendada é cerca de 200mg (cerca de 2 chávenas). Álcool – o consumo deve ser evitado no 1º trimestre de gestação. Após esse período, é aconselhável não ultrapassar as duas doses, duas vezes por semana. GANHO PONDERAL Durante a gravidez, é natural que o peso aumente, devido à formação da placenta, líquido amniótico, crescimento do bebé, volume do útero e do sangue, tecido 21 mamário e gordura de reserva. Um inadequado ganho de peso está associado ao aumento do risco de atraso de crescimento intrauterino e mortalidade perinatal. Por seu lado, o elevado ganho de peso da grávida está associado ao aumento de peso do bebé ao nascimento e, secundariamente, ao aumento do risco de complicações na vida adulta. Ganho médio de peso durante a gestação é em média 9 a 13/14kg. Ganho de peso durante a gestação varia de acordo com a classificação do IMC antes da gravidez: Gravidez de gémeos – 15,9 – 20,4 kg (deve aumentar 0,7 kg/semana no 2º e 3º trimestres) IMC baixo – 12,5 – 18 kg (deve aumentar 0,5 kg/semana no 2º e 3º trimestres) IMC normal – 11,5 – 16 kg (deve aumentar 0,4 kg/semana no 2º e 3º trimestres) IMC alto (excesso de peso) – 7 – 11,5 kg (deve aumentar 0,3 kg/semana no 2º e 3º trimestres) IMC muito alto (obesidade) – 5 – 9 kg (deve aumentar 0,2 kg/semana no 2º e 3º trimestres) SUPLEMENTAÇÃO COM FERRO, ÁCIDO FÓLICO, VITAMINA B12, IODO Iodo o Mulheres com deficiência em iodo podem fazer suplementação de iodo desde o período pré-concepcional e durante toda a gravidez e aleitamento. o Deve ser iniciada o mais precocemente possível a toma de iodeto de potássio, em doses de 150-200 microgramas/dia, desde que não haja contraindicação. Ferro o É aconselhável o rastreio da deficiência de ferro para identificação e tratamento da anemia. o É recomendada a suplementação com ferro se hemoglobina <10.5mg/dL no 2ºT e 11 no 3º T o É recomendada a suplementação de 30 a 60 mg/dia de ferro elementar, desde que não haja contraindicação. o Orienta-se que a ingestão seja realizada uma hora antes das refeições. A suplementação de ferro deve ser mantida no pósparto e no pós-aborto por 3 meses. 22 o Alimentos ricos em ferro – feijão, lentilha, grão-de-bico, soja, folhas verde-escuras, grãos integrais, castanhas, etc. Ácido fólico (vitamina B9) o Reduz o risco de defeitos do tubo neural, como a espinha bífida (formação incompleta da medula espinal e vértebras) e anencefalia (formação incompleta do cérebro). o Reduz o risco de anemia, lábio leporino e fenda palatina, baixo peso, parto prematuro. o Encontra-se em alimentos (carne vermelha, espinafres, espargos, alface, lentilhas, feijão, laranja, limão, tangerina, ovo cozido, salmão, banana, papaia, abacate), mas é difícil obter a quantidade necessária através da alimentação, sendo recomendada a suplementação. o Mulheres que pretendem engravidar devem iniciar a suplementação de ácido fólico pelo menos 2 a 3 meses antes da data de interrupção do método contraceptivo, em geral doses de 400mcg/dia, até ao final do 1ª trimestre. Mulheres que apresentam risco elevado de ter uma criança com defeitos do tubo neural (mulheres que já tiveram um filho com defeitos relacionados com a deficiência de ácido fólico, mulheres que tomam antagonistas do ácido fólico, que têm epilepsia, obesidade ou diabetes) podem tomar doses mais elevadas de ácido fólico, 4 a 5mg/dia no período préconcepcional e gravidez. EXERCÍCIO FÍSICO A prática de exercício físico na gestação melhora a capacidade respiratória, reduz a ansiedade, ajuda no controlo de peso e beneficia a estética corporal. Poderá ser necessário adequar os exercícios, diminuindo a intensidade e duração. Mergulho, desportos com alto impacto e desportos com maior potencial de trauma abdominal e queda deverão ser evitados. De acordo com Baptista et al (1997), Nogueira et al (2012), a Sociedade Portuguesa de Hipertensão (2014) e a Prefeitura Municipal de Londrina (2006), os benefícios da prática de actividade física são: Diminui a Pressão arterial Diminui a resistência à insulina Melhora a força muscular Melhora a mobilidade articular Melhora o perfil lipídico 23 Melhora a resistência física Aumenta a densidade óssea Controla o peso corporal Diminui o risco cardiovascular SONO E REPOUSO A grávida deve dormir cerca de 8h/noite. Viagens longas devem ser restritas, pois causam esforço físico. Realizar tarefas domésticas leves a moderadas, sem esforços intensos. Durante o dia, sempre que possível, fazer breves intervalos de relaxamento e descanso físico e mental TABACO, ÁLCOOL, USO DE DROGAS O consumo de substâncias nocivas com o tabaco, álcool e drogas ilícitas implica riscos tais como a diminuição da fertilidade, complicações na grávida e graves danos fetais. Tabaco – associa-se a parto pré-termo e baixo peso à nascença. O tabagismo passivo também acarreta riscos. Álcool – pode provocar danos no feto (problemas na aprendizagem, emocionais, comportamentais ou atraso mental, síndrome alcoólica fetal, alterações do sistema nervoso central, restrição do crescimento, morte fetal). Cocaína – o seu uso no 1º trimestre resulta num maior risco de aborto espontâneo, anomalias congénitas, particularmente urogenitais, hemorragia intraventricular, atraso no desenvolvimento físico, psíquico e cognitivo. HIGIENE Banho o Não fazer duchas ou lavagens intravaginais o Não utilizar desodorizantes íntimos o Os banhos de imersão são desaconselhados nas últimas 4 semanas de gestação, tendo em conta que poderá já haver algum grau de dilatação cervical, com consequente risco de contaminação. Dentes e gengivas o É comum a ocorrência de sangramento gengival durante a gestação, pelo que será importante utilizar escovas de dentes com cerdas macias VESTUÁRIO Utilizar vestuário confortável, que permita liberdade de movimentos 24 São contraindicadas as cintas e ligas circulares, que prejudicam a circulação venosa Evitar o uso de sapato de salto alto, pois influencia o equilíbrio da grávida. Havendo varizes, é recomendável o uso de meias elásticas, que facilitam o retorno venoso. Fazer também a elevação dos membros inferiores e caminhadas. RELAÇÕES SEXUAIS Numa gravidez de baixo risco, de modo geral, não há contraindicação para as relações sexuais. Entre as situações que contraindicam as relações sexuais com penetração vaginal temos, por exemplo, sangramento vaginal, rutura prematura de membranas ou risco de parto pré-termo. SEGURANÇA RODOVIÁRIA Usar cinto de segurança, não deixando que o mesmo exerça pressão sobre o abdómen. No terceiro trimestre de gravidez, a grávida deve evitar os lugares com airbag frontal. Se tiver que sentar num desses lugares, deverá recuar o banco o mais possível. ALTERAÇÕES DECORRENTES DA GRAVIDEZ / ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS Ao longo deste período, o corpoda mãe experimenta alterações fisiológicas: respostas fisiológicas adaptativas do corpo às necessidades crescentes do feto quanto à nutrição, protecção contra lesões e espaço para crescer. 1º TRIMESTRE Dimensão psicológica É capaz de afirmar “eu estou grávida” , incorporando a ideia de uma criança no seu corpo, que é vista como parte de si; Os seus pensamentos estão centrados em si própria e na realidade imediata Ambivalência – pensamentos sobre o desejo e não desejo da gravidez; Dúvidas e ansiedade sobre estar ou não grávida, uma vez que o feto ainda não é concretamente sentido e as alterações corporais serem discretas; Medo de abortar; Sentimentos de perda de controlo sobre o seu corpo Sentimentos de medo da gravidez e das suas complicações 25 Sentimentos relativos à irreversibilidade do papel de mãe Aceitação da gravidez (pela grávida e pelos outros que a rodeiam) Instabilidade emocional e oscilações de humor Dimensão física Sialorreia – andar sempre com lenços de papel, caso necessite; Náuseas, vómitos, refluxo gastro esofágico, pirose, sensação de enfartamento – fazer dieta fracionada (comer várias vezes ao dia, aprox 6 refeições/dia e em pouca quantidade de cada vez); evitar gorduras, fritos e fast-food; evitar alimentos com odores fortes; evitar os alimentos irritantes (ex: o café, o chá preto/verde, o chocolate e comida muito condimentada); evitar álcool; evitar líquidos durante as refeições, dando preferência à sua ingestão nos intervalos; ingerir alimentos sólidos antes de levantar pela manhã, como bolachas de água e sal; evitar deitar-se após as refeições; evitar deitar-se em decúbito dorsal completamente, preferindo o decúbito lateral esquerdo ou decúbito dorsal com elevação do tronco; agendar consulta médica ou referir ao pré-natal de alto risco, em caso de vómitos frequentes; Desejo e aversão por determinados alimentos; Sonolência – programar períodos de repouso ao longo do dia; Mamas tensas e sensíveis – não usar roupas demasiado justas; usar sutiã que forneça boa sustentação das mamas e que seja confortável; Aumento do corrimento vaginal – evitar os pensos diários; caso observe alterações no corrimento como cor amarelada, ardor ou cheiro intenso, deverá consultar o médico; Aumento da frequência urinária – realizar exercícios de Kegel; fazer restrição de líquidos antes de se deitar; contactar o médico caso haja dor ou ardor ao urinar; Aumento do risco de infecção urinária – Beber 6 a 8 copos de água/dia; evitar a cafeína, o álcool e o açúcar; urinar no momento em que tem vontade e esvaziar completamente a bexiga; depois de urinar, secar-se sem friccionar e manter a área genital limpa; realizar higiene da região genital 2 vezes/dia; limpar a área genital sempre no sentido da frente para trás; evitar usar sabonetes fortes, cremes antissépticos e pós de higiene feminina trocar diariamente a roupa interior e procurar que seja de algodão; evitar usar calças demasiado apertadas; evitar as relações sexuais durante o tratamento de uma infecção urinária; urinar antes e depois das relações sexuais; agendar consulta médica caso haja disúria ou hematúria, acompanhada ou não de febre ou resultado de urina alterado; 2º TRIMESTRE Dimensão psicológica 26 Afirma “vou ter um bebé”, aceitando o feto em desenvolvimento como um ser distinto de si; As alterações na estrutura corporal podem ter um impacto mais ou menos intenso na pessoa; Alterações da auto-imagem; Toma consciência de um novo ser no seu interior através dos movimentos fetais; Personificação do feto – a grávida cria uma imagem imaginária do bebé, com traços peculiares, e imagina o bebé a comunicar-se com ela através dos seus movimentos; Desenvolve-se a formação da relação mãe-bebé e pai-bebé; Reflexão sobre o papel de mãe; Reflexão sobre o significado de ser mãe; Introversão e passividade; Reordenação das relações e interesses; Eventuais alterações de humor; Diminuição do desejo sexual. Dimensão física Aumento do abdómen – verbalizar os sentimentos e partilhar com alguém; utilizar roupa adequada à gravidez mas que seja igualmente bonita, chamativa e que evidencie os aspectos positivos; Prurido – fazer higiene com água morna; aplicar creme hidratante diariamente; os cremes e produtos de higiene devem ter um Ph neutro; secar a pele sem friccionar; usar roupa de algodão. Cefaleias – preferir ambientes calmos e com pouca luz; aplicar um pano com água fria na testa; fazer refeições ligeiras; vigiar a pressão sanguínea; consultar o médico se as cefaleias persistirem. Pirose, refluxo gastro esofágico Dor lombar – fazer períodos de repouso; evitar estar muito tempo em pé, ininterruptamente; adoptar uma postura correcta; evitar calçado com tacão alto; ao baixar-se, fazer flexão daas pernas e não das costas; aplicar calor e massajar o local, caso haja contractura muscular. Edema e varizes – utilizar meias elásticas; elevar os membros inferiores; evitar estar muito tempo parada na mesma posição e, se o fizer, ir fazendo exercícios com os pés; praticar actividade física regularmente; não ultrapassar os 5 a 6 gr de sal/dia; utilizar roupa e calçado confortáveis; não utilizar roupas justas nem meias com elásticos apertados. Obstipação – Realizar dieta rica em fibras e líquidos: frutas cítricas, verduras, mamão, ameixa e cereais integrais, água; evitar alimentos de alta fermentação 27 como lacticínios, feijão, couve e repolho; realizar actividade física; regularizar o hábito intestinal, indo ao WC sempre que necessitar; Aumento da pigmentação da pele, podendo ocorrer também aumento da oleosidade da pele e acne – usar boné; aplicar protector solar; não se expor directamente ao sol por longos períodos; realizar higiene do rosto 2vezes/dia, utilizando os produtos adequados ao tipo de pele. Hemorroidas – Fazer dieta a fim de evitar obstipação intestinal; não usar papel higiénico áspero; agendar a consulta médica caso haja dor ou sangramento anal persistente. Produção de colostro – usar discos de aleitamento. Fraqueza e sensação de desmaio – realizar várias refeições ao dia, evitando o jejum prolongado e grandes intervalos entre refeições; não fazer mudanças bruscas de posição; evitar inactividade prolongada; preferir o decúbito lateral esquerdo; evitar locais muito abafados e/ou com muita exposição solar; se se sentir tonta, sentar-se com a cabeça abaixada entre os joelhos, respirando profunda e pausadamente. Epúlides e gengivorragias – escovar os dentes após as refeições; usar escova de dentes macia; agendar consulta no dentista. 3º TRIMESTRE Dimensão psicológica Afirma “vou ser mãe”, preparando-se para o parto e para a maternidade; Alterações da auto-imagem; Os desconfortos acentuam-se; Tomada de decisões relativas ao bebé, como escolher o nome, preparar o enxoval, a casa, etc; Intensificação das ansiedades com a proximidade do parto e da mudança de vida que irá ocorrer após a chegada do bebé; Intensificação do medo do parto; Maior facilidade de rever antigas memórias e conflitos infantis da grávida com os seus pais e irmãos. O ressurgimento dessas vivências pode abrir a possibilidade de encontrar novas soluções e resolver conflitos antigos que poderiam interferir na relação mãe-bebé. Dimensão física Aumento da frequência urinária Caimbras – repousar, alongar, massajar e aplicar calor no músculo afectado; 28 Insónias – utilizar técnicas/estratégias de relaxamento; deitar-se confortavelmente com o apoio de almofadas; tomar um duche não muito quente antes de se deitar; Pressão na região genital e anal; Sensação de falta de ar – adoptar postura correcta;dormir com elevação do tronco; evitar comer demasiado e encher muito o estômago; não fumar; contactar o médico caso os sintomas se agravem. ALTERAÇÕES GERAIS (POR SISTEMA) Sistema reprodutor o Útero – O blastocisto (futuro embrião) implanta-se e inicia a secreção de HCG (hormona coriónica humana), cuja função é impedir a degeneração do corpo amarelo, impedindo a diminuição dos níveis de estrogénio e de progesterona e impedindo, assim, a menstruação. Para conter o produto da concepção, o útero cresce rapidamente, sobretudo à cursta da hipertrofia das células miometriais. Ocorre hipertrofia e hiperplasia do tecido conjuntivo, vasos e inervação. Útero cresce cerca de 4 cm por mês, sofre um aumento do peso, de 70gr para 1200gr e um aumento do volume, de 10ml para 2-10L; o Colo do útero – Aumento da vascularização e hipertrofia das glândulas. Sinal de Godell (amolecimento do colo devido ao aumento da vascularização). A secreção vaginal é abundante, espessa, esbranquiçada e ácida (pH 3,5-6). Forma-se o rolhão mucoso que evita a contaminação do útero por bactérias ou outras substâncias; o Vagina – Aumento da vascularização e congestão. Sinal de Chadwick (cor azul púrpura da vagina devido ao aumento da vascularização). Mucosa vaginal mais espessa e flexível. Musculatura lisa hipertrofia-se e o tecido conjuntivo torna-se mais laxo/elástico – aumento da distensibilidade no parto. Aumento das secreções vaginal e cervical (brancas e ácidas); o Ovários – Cessa a ovulação. Persistência do corpo amarelo (produção de progesterona durante as primeiras 6 a 7 semanas; produção de relaxina ao longo da gravidez). o Istmo – Alonga-se e às 12 semanas faz parte da cavidade uterina. Menos espesso ao longo da gravidez. Fluxo sanguíneo aumenta exponencialmente à medida que a gravidez progride. o Mamas – Crescimento dos ductos, lóbulos, alvéolos mamários (durante os primeiros 3 meses). As glândulas de Montgomery aumentam de tamanho. 29 Aumento do tamanho e da sensibilidade das mamas. Aumento da rede arteriovenosa. Veias superficiais mais salientes. Aréolas maiores, mais pigmentadas. Mamilos maiores, mais pigmentados e evertidos. Hipersensibilidade mamária. Orientações – Recomendar uso constante de sutiã que ofereça boa sustentação. Sistema Cardiovascular o Coração – FC aumenta (10-15bpm) devido ao aumento progressivo do automatismo do nodo sinusal. Aumento do débito cardíaco, podendo atingir um máximo de 40 a 50 % entre o fim do segundo trimestre e o início do terceiro trimestre da gestação (20-28 semanas), mantendo-se depois estacionário e podendo diminuir ligeiramente (devido ao facto de o crescimento do útero comprimir as veias (veia cava inferior) que devolvem o sangue das pernas até ao coração, diminuindo o retorno venoso) até ao término da gravidez. Este aumento deve-se ao aumento do volume sistólico e da frequência cardíaca. O débito cardíaco também é influenciado pela posição da mãe, aumentando na posição de decúbito lateral esquerdo e diminuindo quando a paciente está na posição supina, pois o útero em crescimento pode obstruir totalmente a veia cava inferior, principalmente no terceiro trimestre, ocasionando uma queda do débito cardíaco, devida à redução do retorno venoso. Aumento do volume cardíaco. O Miocárdio hipertrofia-se devido a aumento da massa muscular, aumento do volume tele-diastólico do ventrículo esquerdo, aumento do diâmetro da aurícula esquerda e aumento da contractilidade do miocárdio. Horizontalização do coração causada por progressiva elevação do diafragma provocada pelo crescimento do útero. ECG – desvio do eixo para a esquerda, alteração ST, onda T; o Vasos sanguíneos – Modificações na estrutura da parede dos vasos – colagénio mais laxo e hipertrofia do m.liso. Paredes vasculares ficam mais permeáveis, facilitando a passagem de água para o espaço extra-vascular, favorecendo o aparecimento de edema. Vasodilatação devido à diminuição da sensibilidade a substâncias vasopressoras e devido à acção da progesterona. Diminuição da resistência periférica total devido à interposição do circuito uteroplacentar, que é de baixa resistência, expansão do volume plasmático (aumento da volémia) que leva à necessidade de aumento de espaço vascular para conter esse maior volume, redução do hematócrito que reduz a viscosidade sanguínea, 30 diminuição da sensibilidade às substâncias vasopressoras, tais como angiotensina II, efeitos relaxantes da progesterona sobre o músculo liso, que promovem a vasodilatação. Diminuição da pressão sanguínea que se inicia logo nas primeiras semanas de gravidez, atinge o seu máximo durante o 2º trimestre e regressa ao normal com a aproximação do termo. Diminuição discreta na sistólica (<10mmHg) e mais acentuada na diastólica (10-15mmHg). Qualquer aumento de 30mmHg na PA é um dado anormal. Dilatação vascular da mucosa nasal pode produzir epistáxis. Pode ocorrer estase venosa sanguínea nas extremidades inferiores. Aumento do fluxo dos rins, útero, mamas, pele. Aumento da filtração renal. Aumento do fluxo de sangue superficial. Aumento do fluxo de sangue nas mãos pode produzir eritema. Sangue e Hemostase o Volume plasmático e massa eritrocitária – Aumento do volume plasmático (de 600 a 1250ml) progressivamente a partir das 6-8 semanas, atinge o máximo cerca das 24 semanas de gestação, depois estabiliza-se em platô (aumentos mais lentos) até ao final da gestação, estabilizando no final do terceiro trimestre e podendo diminuir perto do termo. Aumento da eritropoiese, isto é, aceleração da produção de eritrócitos (aumento da produção mas não da semi-vida) com consequente aumento da massa eritrocitária, que é menos acentuado do que o aumento do volume plasmático. Anemia fisiológica por hemodiluição (a massa eritrocitária aumenta com a gravidez, mas de uma forma menos acentuada do que o plasma, o que leva a um certo grau de hemodiluição e, consequentemente, a valores de hematócrito mais baixos do que os observados anteriormente à gravidez). o Ferro – Aumento das necessidades de ferro para a produção de hemoglobina, devido ao aumento da massa de eritrócitos. Aumento da absorção intestinal e mobilização das reservas do organismo materno. o Vitamina B12 e B9 (ácido fólico) – Aumento da necessidade de vitamina B12 e ácido fólico (vitamina B9). A quantidade de ácido fólico fornecida pela dieta é insuficiente, pelo que é necessário um suplemento (níveis adequados de ácido fólico diminuem defeitos do tubo neural). A quantidade de vitamina B12 fornecida pela dieta é suficiente, excepto se vegetariano. o Leucócitos – Leucocitose moderada (neutrófilos), quimiotaxia e aderência diminuídas, levando a aumento da susceptibilidade à infecção. Proteínas 31 plasmáticas – Diminuição das proteínas plasmáticas, principalmente a albumina, levando a diminuição da pressão oncótica do plasma, aumento da filtração glomerular e, consequentemente, edema. o Hemostase – Hipercoagulabilidade (aumento dos factores de coagulação e diminuição da fibrinólise), o que facilita a prevenção de hemorragias pós-parto. Maior produção dos factores de coagulação pelo fígado, como o factor I (fibrinogénio), VII, VIII, IX, X e II. Aumento do plasminogénio (profibrinolisina) do plasma. Diminuição do tempo de activação parcial da tromboplastina (APTT) e do tempo de protrombina. A fibrinólise (destruição de coágulo de fibrina) está diminuída, devido à produção de inibidores da fibrinólise pela placenta. Fraqueza e desmaio o Orientações: Explicar que sentar-se com a cabeça abaixada ou deitar-se em decúbito lateral, respirando profunda e pausadamente, melhora a sensação de fraqueza e desmaio Recomendar dieta fraccionada, evitando jejum prolongado e grandes intervalos entre refeições Orientar a gestante para que não faça mudanças bruscas de posição e evitar inactividade Sistema Respiratório o O revestimento interno do aparelho respiratório recebe mais sangue e produz-se um certo grau de congestão. Por vezes, o nariz e a garganta obstruem-se e, por isso, a mulher em certos momentos sente o nariz tapado e as trompas de Eustáquio (que são os tubos que ligam o ouvido médio à parte posterior do nariz) bloqueadas. Dilatação vascular da mucosa nasal pode produzir epistáxis. o Relaxamento do músculo liso das vias aéreas por acção da progesterona; o Elevação do diafragma devido ao aumento do tamanho uterino. Respiração diafragmática – como o tónus dos músculos abdominais diminui durante a gravidez, a respiração tende a ser, sobretudo, diafragmática, ou seja, o diafragma é o principal responsável pela saída e entrada de ar dos pulmões, funcionando como uma bomba respiratória. o Diminuição do volume residual devido à diminuição das capacidades pulmonar total e residual funcional e dos volumes residual e de reserva expiratória resultantes da elevação do diafragma pelo útero gravídico. 32 o Aumento do volume corrente (aumento do volume de ar que entra e sai) devido ao aumento do movimento do diafragma durante a respiração da gestante. FR aumenta 2 movimentos respiratórios/minuto. Aumento do consumo de oxigénio devido a maior demanda metabólica do útero placenta e feto. Esse aumento do consumo de oxigénio faz com que a grávida desenvolva hipoxemia mais rapidamente em situações de apneia. A respiração profunda aumenta a eficiência da troca de gases. Aumento da ventilação alveolar e capacidade inspiratória. Hiperventilação da gravidez: hipocápnia fisiológica – Como resultado do aumento do volume corrente e da frequência respiratória, produz-se a chamada “hiperventilação da gravidez”, que tem como consequência a diminuição da PCO2 no sangue materno. A hiperventilação materna é considerada um factor de protecção contra a exposição do feto a níveis excessivos de CO2. Esta hiperventilação é provocada pela acção da progesterona sobre a respiração: Baixa o limiar de sensibilidade do centro respiratório no SNC para o CO2 e estimula o centro respiratório, facilitando a eliminação de CO2; Eleva o teor de anidrase carbónica B nos glóbulos vermelhos, facilitando a transferência de CO2 e, com isso, reduzindo a PCO2; o Sensação de falta de ar/ dificuldade respiratória Orientações: Recomendar repouso em decúbito lateral esquerdo o Durante o parto – ansiedade, reacções emocionais levam frequentemente a dispneia, hiperventilação, alcalose respiratória. A saturação de O2 diminui com cada contracção uterina. Sistema Urinário o Aumento do tamanho do rim e devido ao aumento do fluxo sanguíneo que tem de ser filtrado pelo rim o Compressão de rins, ureteres, bexiga e uretra devido ao aumento do tamanho do útero o Relaxamento da musculatura lisa da árvore excretora, incluindo rins, bexiga, uretra e ureteres devido ao aumento da progesterona, levando a um fluxo de urina mais lento o Aumento da frequência das micções no início da gravidez por diminuição da capacidade vesical, devido ao relaxamento e dilatação da árvore excretora resultante da acção da progesterona e relaxina. No final da 33 gravidez, é causado pela compressão da bexiga causada pelo crescimento do útero. o Aumento do fluxo renal e filtração glomerular, levando a maior excreção de ureia, creatinina e ácido úrico. Aumento da filtração e reabsorção tubular de Sódio (Na). Aumento da excreção de nutrientes como folato, glicose, lactose, aminoácidos, vitamina B12, vitamina C e albumina. o Ph da urina torna-se mais alcalino (básico)( valor de referência normal do PH é de 5,5 a 7,0) o Aumento do risco de infecção urinária devido ao aumento de nutrientes na urina, Ph mais básico e devido ao relaxamento da musculatura lisa por acção da progesterona (aumento de nutrientes na urina favorece a proliferação de bactérias; ph mais básico favorece a proliferação de bactérias; relaxamento da musculatura lisa predispõe a estase urinária, aumentando o volume residual e, consequentemente, favorecendo o risco de multiplicação bacteriana). Orientações: Agendar consulta médica caso haja disúria ou hematúria, acompanhada ou não de febre ou resultado de urina alterado. Beber 6 a 8 copos de água/dia Evitar a cafeína, o álcool e o açúcar. Tomar vitamina C. Desenvolver o hábito de urinar no momento em que tem vontade e esvaziar completamente a sua bexiga. Urinar antes e depois das relações sexuais. Evitar as relações sexuais durante o tratamento de uma infecção urinária. Depois de urinar, secar-se sem friccionar e manter a área genital limpa. Assegura-se de que se limpa sempre da frente para trás. Evitar usar sabonetes fortes, cremes anti-sépticos e pós de higiene feminina. Trocar diariamente a roupa interior e procurar que seja de algodão. Evitar usar calças demasiado apertadas. Sistema Digestivo o Náuseas e vómitos: sintomas característicos no 1º trimestre; o Aumento do apetite, sobretudo a partir do início do 2º semestre 34 o Náuseas e vómitos devido ao aumento do tempo de esvaziamento gástrico resultante da diminuição do tónus e motilidade do tubo digestivo, diminuição da secreção gástrica de pepsina e ácido clorídrico. o Refluxo gastroesofágico, pirose e enfartamento devido ao relaxamento do músculo liso e do cárdia por acção da progesterona e relaxina, permitindo que o conteúdo gástrico reflua, devido à diminuição da secreção de ácido clorídrico e pepsina, e devido à pressão sobre o estômago e intestino provocada pelo aumento do tamanho do útero. Orientações: Dieta fracionada (comer várias vezes ao dia, aprox 6 refeições/dia e em pouca quantidade de cada vez) Evitar fritos, gorduras Evitar álcool, café e chá preto; Evitar líquidos durante as refeições, dando preferência à sua ingestão nos intervalos Evitar alimentos com odores fortes Evitar os alimentos irritantes (ex: o café, o chá preto/verde, o chocolate e comida muito condimentada); Ingerir alimentos sólidos antes de levantar pela manhã, como bolachas de água e sal Evitar deitar-se após as refeições Agendar consulta médica ou referir ao pré-natal de alto risco, em caso de vómitos frequentes. o Obstipação – devido ao relaxamento do músculo liso por acção da progesterona, que conduz a diminuição do tónus e motilidade do tubo digestivo, levando a diminuição do peristaltismo com consequente aumento da absorção de água no cólon. Orientações: Recomendar dieta rica em fibras e água: frutas cítricas, verduras, mamão, ameixa e cereais integrais. Recomendar evitar alimentos de alta fermentação como lacticínios, feijão, couve e repolho. Recomendar caminhadas, movimentação e regularização do hábito intestinal. o Hemorróides devido ao aumento da pressão sanguínea na zona infra- uterina, obstipação. Orientações: 35 Fazer dieta a fim de evitar obstipação intestinal; se necessário, aplicar supositórios de glicerina. Não usar papel higiénico áspero. Fazer higiene perianal com água e sabão neutro após defecação. Agendar a consulta médica caso haja dor ou sangramento anal persistente. o Varizes devido ao aumento da pressão sanguínea na zona infra-uterina e dificultação do retorno venoso causada pelo útero gravídico. Orientações: Recomendar para que não permaneça muito tempo em pé ou sentada. Repousar (cerca de 20 minutos) várias vezes ao dia com os membros inferiores elevados. Não utilizar roupas justas e nem ligas nas pernas, e, se possível, utilizar meia calça elástica. o Pode ocorrer prurido devido ao aumento de retençãode sais biliares. Saúde oral o Epúlides – Há maior aderência das fibras de colagénio por acção do estrogénio. Epúlides ocorrem na gengiva, perto do dente. Aparecem como massas nodulares macias, cobertas de epitélio. o Gengivorragias – sangramento das gengivas. Orientações Recomendar a escovagem após as refeições Recomendar o uso de escova macia Recomendar a massagem da gengiva. Agendar consulta no dentisa. o Sialorreia/Ptialismo – hipersecreção de saliva. Orientar a grávida a deglutir a saliva e tomar líquidos em abundância (especialmente em épocas de calor) o Aftas - O aparecimento de aftas durante a gravidez pode dever-se aos baixos níveis de ferro e ácido fólico. Consumo de Nutrientes o Aumento da insulina – hiperplasia das células B dos ilhéus de Langerhans. Estado gravídico é insulinogénico o Aumento da resistência à insulina – esta resistência à insulina é mediada pela hormona lactogénica placentar, pela prolactina e pelo cortisol. 36 Estado gravídico é diabetogénico (glicemia diminui em jejum mas a glicemia pós prandial atinge valores mais elevados). o A gravidez tem influência no metabolismo dos hidratos de carbono. A principal fonte energética do cérebro e a unidade fetoplacentar é a glicose. Durante a gravidez, diminuem as concentrações plasmáticas de glicose em jejum; o O metabolismo dos lípidos faz com que se acumulem reservas de gordura durante os períodos de crescimento fetal e lactação. o O feto consome proteínas para crescer. Possivelmente, não se acumulam proteínas durante a gravidez. Se a gestante não ingerir em quantidade suficiente, a massa muscular pode constituir a reserva de proteínas. Sistema Muscoloesquelético o As articulações relaxam por acção da relaxina, aumentando a mobilidade e flexibilidade das articulações sacroilíaca, sacrococcígea e púbica. Ligamentos tornam-se mais laxos devido à actividade da relaxina, particularmente os relacionados com a bacia. o O peso do útero aumenta com o aumento do seu tamanho, podendo causar dor no ligamento redondo. o Ocorrem mudanças posturais – Há alteração no centro de gravidade, de modo que, à medida que o volume uterino aumenta, aumenta a inclinação para trás para compensar o peso do útero e o seu conteúdo, podendo provocar distensão dorsal e acentuar a lordose, originando lombalgias. Para manter o equilíbrio, a grávida tende a inclinar para a frente o pescoço, o tórax e a cintura escapular, o que, associado à menor rigidez dos ligamentos, pode provocar dor e ligeiras parestesias das extremidades superiores. Orientações: Recomendar correcção da postura ao andar e sentar, evitando aumento da lordose Uso de sapatos com salto baixo e confortáveis Aplicação de calor e massagem local, no caso de contractura muscular o Cãibras – poderão ocorrer cãibras devido à compressão dos nervos provocada pelo útero e também devido a falta de minerais como cálcio, potássio e magnésio no organismo. Orientações: 37 Alongar o músculo contraído e dolorido, massajar e aplicar calor local. Evitar excesso de exercícios. Aumentar consumo de alimentos ricos em cálcio (leite e derivados), potássio (banana, tomate, feijão branco, cenoura) e magnésio (folhas verdes como rúcula, espinafre, couve), etc. Sistema Tegumentar o Aumento da pigmentação da pele devido ao aumento da hormona estimulante de melanócitos da hipófise por acção dos estrogénios. Podem ocorrer cloasma facial, linha negra, genitais mais escuros e aréola mais escura. Costuma diminuir ou desaparecer em tempo variável após o parto. Orientações: Usar boné. Aplicar protetor solar. Não expor o rosto diretamente ao sol. o Aparecimento de angiomas do tipo das aranhas vasculares devido à vasodilatação periférica; o Eritema palmar devido à vasodilatação periférica, que desaparece após o parto. o Estrias cutâneas de cor avermelhada, que se localizam sobretudo nas mamas, abdómen, coxas e nádegas. Após a gravidez, tornam-se mais claras mas não desaparecem. Não existe nenhum método para evitar o seu aparecimento, sendo provavelmente um componente genético que está na sua origem. Poderão ser utilizadas massagens locais com cremes para prevenir o seu aparecimento (controverso). o Queda de cabelo nos meses a seguir ao parto, devido à acção dos estrogénios, que é no entanto totalmente recuperada 6 a 9 meses depois. o Aumento da sudorese devido a maior actividade das glândulas sebáceas e sudoríparas. Humor e líbido o Instabilidade emocional. o Alterações da líbido. SINAIS DE ALARME DURANTE A GESTAÇÃO Hemorragia vaginal Perda de líquido amniótico 38 Corrimento vaginal com prurido e ardor Dores ou contracções abdominais Febre, calafrios Disúria Vómitos persistentes Cefaleias intensas ou contínuas Alterações neurológicas e visuais Diminuição dos movimentos fetais PREVENÇÃO DE TOXOPLASMOSE, LISTERIOSE, SALMONELOSE, BRUCELOSE Toxoplasmose o Doença causada pelo protozoário toxoplasma gondii o Na gravidez pode ter consequências como: Malformações do feto Baixo peso ao nascer Parto prematuro Aborto Morte do bebé ao nascer Alimentação o Filtragem da água o Lavar bem vegetais, verduras, frutas cruas antes do seu consumo o Não comer carnes cruas ou malpassadas, preferindo sempre carnes bem passadas o Evitar comer carne defumada, curada ou salgada que possa estar contaminada o Evitar produtos lácteos e não pasteurizados o Evitar ovos mal cozidos ou crus o Lavar as mãos após manusear carnes cruas, evitando o contacto com mucosas o Lavar a louça e utensílios de cozinha após a refeição Meio ambiente e contacto com animais o Usar luvas ao lidar com a terra, plantas ou fezes de gatos o Lavar sempre as mãos após o contacto com o solo ou areia o Limpar diariamente a areia dos gatos o Evitar alimentar os gatos com carnes cruas RELAÇÕES SEXUAIS 39 Não há contra-indicação desde que a gestante e o seu companheiro procurem adaptar-se às condições anatómicas mais confortáveis As contra-indicações são a ameaça de aborto e ameaça de parto prematuro. O desejo sexual pode estar inibido ou exacerbado durante a gestação. CONFIRMAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ Sinais e sintomas característicos de gravidez Sinais e sintomas de presunção e probabilidade o Interrupção de menstruação – ausência de menstruação no período normal, em pessoa cuja menstruação costuma ser regular o Spotting e dor abdominal no momento em que normalmente ocorre a menstruação, durante 1 a 2 dias, com corrimento de cor rosada ou acastanhada. Isto pode ser provocado pela implantação do óvulo na parede uterina e, também, pela acção hormonal. o Náuseas e vómitos o Mamas tensas, inchadas e dolorosas o Aumento da frequência urinária o Cansaço e sonolência o Aumento do tamanho do abdómen o Percepção de movimentos fetais (ocorre geralmente por volta da 18 a 20ª semana em multíparas e 22 a 24ª semana em primigestas) o Teste de gravidez de farmácia positivo Sinais de certeza o Diagnóstico analítico (pesquisa de BHCG na urina/sangue – a pesquisa da subunidade beta da hormona gonadotrófica coriónica humana tem a vantagem de, por ser quantificável, permitir estimar a idade gestacional e ainda o facto de ter grande sensibilidade). o Diagnóstico ecográfico o Batimentos fetais (doppler a partir das 12 semanas e estetoscópio Pinard a partir das 20 semanas). EXAME FÍSICO EXAME GERAL Avaliação do pulso, pressão sanguínea, altura, peso 40 Análise sumária de urina, com tira de teste para pesquisa de proteinúria, glicosúria e bacteriúria, etc em amostra de urina ocasional. Cabeça e pescoço
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