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DELEGADO FEDERAL – Direito Penal Especial – Renato Brasileiro - Aula n. 04 
 
DELEGADO FEDERAL 
Disciplina: Direito Penal Especial 
Prof. Renato Brasileiro 
Aulas n.º 04 
 
 
 
MATERIAL DE APOIO – MONITORIA 
 
 
Índice 
 
1. Artigo Correlato 
1.1 Furto qualificado privilegiado. O Supremo Tribunal Federal indica uma mudança na sua jurisprudência 
1.2 Furto famélico, estado de necessidade, crime impossível e princípio da insignificância. Até quando o 
delegado de polícia continuará a ser uma autoridade simbólica? 
2. Jurisprudência Correlata 
2.1 HC 145114 / GO 
2.2 HC 96003 / MS 
2.3 AgRg no REsp 1035115 / RS 
2.4 REsp 96317 / RN 
2.5 HC 98265 / MS 
2.6 AgRg no REsp 983291 / RS 
2.7 HC 152833 / SP 
3. Assista!!! 
3.1 Qual a diferença entre furto de energia elétrica e estelionato? 
3.2 É possível tentativa de furto qualificado pela destreza? 
4. Leia!!! 
4.1 Destruir quebra-vento de carro, para furtar aparelho de som destacável em seu interior, é crime de 
furto qualificado. 
5. Simulados 
 
 
1. ARTIGOS CORRELATOS 
 
1.1. FURTO QUALIFICADO PRIVILEGIADO. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL INDICA UMA MU-
DANÇA NA SUA JURISPRUDÊNCIA. 
 
Autor: Karlos Alves Barbosa - Advogado, especialista em Direito Público, Professor universitário do Centro 
Universitário do Triângulo - UNITRI Uberlândia" 
 
Data: 10.2009 
 
O STF tem surpreendido a comunidade jurídica com a revisão de uma série de posições que, aparente-
mente, já haviam sido pacificadas ao longo da sua construção jurisprudencial. Esse "reformismo jurispru-
dencial" trouxe ao direito penal um novo capítulo: o reconhecimento da figura híbrida do furto qualificado 
privilegiado. 
 
A doutrina sempre se mostrou crítica em relação à posição dos tribunais superiores, que não admitiam a 
conjugação de uma causa especial de diminuição de pena, de qualquer natureza, com as modalidades 
qualificadas previstas no § 4º do art. 155 do CP. Nesse sentido, Cezar Roberto Bitencourt apontava que: 
 
Reina profunda desinteligência sobre a possibilidade de o privilégio contido no § 2º incidir em qualquer 
das figuras qualificadas previstas no § 4º do mesmo artigo. Razões as mais variadas são invocadas para 
fundamentar esse entendimento, mas nenhuma apresenta fundamento cientificamente (BITENCOURT, 
2005. Pg. 24). 
 
 
DELEGADO FEDERAL – Direito Penal Especial – Renato Brasileiro - Aula n. 04 
 
O que se percebia é que a jurisprudência majoritária negava a possibilidade, como demonstra a seguinte 
ementa da lavra do Superior Tribunal de Justiça: 
 
O pensamento dominante preconizado no seio desta Corte Superior contraria a pretensão heróica e se 
assemelha aos fundamentos do acórdão vergastado, uma vez que a incidência do privilégio não pode ter, 
indiferentemente, o mesmo efeito na forma qualificada do que tem na forma básica, pois a existência da 
qualificadora inibe a sua aplicação, mesmo se primário o réu e de pequeno valor a coisa ou, ainda, ausen-
te o prejuízo. Assim, em que pesem os argumentos da defesa, não há como reconhecer o furto qualifica-
do-privilegiado (REsp. 664272/SP; Recurso Especial 2004/0068153-1, Relator Ministro José Arnaldo da 
Fonseca, 5a Turma, publicado no D J em 18/4/2005, p. 379). 
 
Rogério Sanches Cunha, interpretando o pensamento dos tribunais superiores, também preceituava: 
 
Diverge a doutrina sobre a possibilidade de se aplicar o privilégio ao crime de furto qualificado. O posicio-
namento do STF e do STJ é no sentido de ser ela incompatível, vez que além da gravidade do crime quali-
ficado, a posição topográfica do privilégio indica a intenção do legislador de vê-lo aplicado somente ao 
furto simples e noturno (RT 608/446, 609/354 e 617/336). (SANCHES, 2008, pg. 122). 
 
Esse posicionamento dos tribunais superiores era incompreensível, na medida em que no homicídio já é 
pacífica a construção da figura híbrida qualificada e privilegiada, ao mesmo tempo – ou seja, uma qualifi-
cadora de natureza objetiva se concilia, ao mesmo tempo, com um privilégio de natureza subjetiva. Nesse 
sentido, Rogério Greco aduzia que o reconhecimento do homicídio qualificado privilegiado se dá por ques-
tões de política criminal (GRECO, 2008, pg. 193). Por exemplo, configura-se como uma hipótese de homi-
cídio qualificado privilegiado um crime cometido mediante emboscada (qualificadora de natureza objetiva) 
contra o agente que tenha estuprado a filha do sujeito ativo do crime (motivo de relevante valor moral – 
minorante de natureza subjetiva). 
 
Tomando como base os posicionamentos do STJ e do STF, Capez reconhece a figura do homicídio qualifi-
cado privilegiado, mas faz a ressalva de que ser inadmissível a coexistência de circunstâncias subjetivas. 
Assim, são incompatíveis, o motivo de relevante valor moral e o motivo fútil (CAPEZ, 2004, pg. 41). 
 
De forma pioneira, Damásio de Jesus defendia a possibilidade da existência do furto qualificado privilegia-
do nos mesmos moldes da figura do homicídio qualificado privilegiado: 
 
No furto, entretanto, não há inconciliabilidade entre o privilégio e as qualificadoras. Enquanto motivo tor-
pe e motivo e motivo de relevante valor moral se repelem, a primariedade do agente e o pequeno valor 
da coisa, pela sua natureza, não excluem o fato qualificado pelo concurso de agentes, pelo salto de um 
muro ou pela agilidade do autor. A situação dos parágrafos não nos impressiona. Tudo para nós está na 
essência das circunstâncias que constituem os tipos qualificado e privilegiado. (DE JESUS, 2009, pg. 324). 
 
Sensível ao reclamo doutrinário, o Supremo Tribunal Federal, ao iniciar o julgamento do HC 98265/MS, 
tendo como relator o Ministro Carlos Britto, 25.8.2009 , ao que parece, tende a mudar o seu posiciona-
mento sobre o tema, haja vista que o voto do relator, no que foi acompanhado pelos Ministros Ricardo 
Lewandowski e Cármen Lúcia, reconhece o posicionamento pacífico do tribunal quanto à conciliação entre 
o homicídio objetivamente qualificado e, ao mesmo tempo, subjetivamente privilegiado, nos termos ex-
postos acima. Ainda, o que é mais importante, o julgado aduz que a mesma regra deve ser aplicada ao 
furto, em hipótese na qual o rompimento de obstáculo (qualificadora de natureza objetiva) esteja conju-
gado à primariedade do réu e ao pequeno valor da coisa (privilégios de natureza subjetiva). Nas palavras 
do ilustre Ministro Relator: 
 
... a jurisprudência do STF é assente no sentido da conciliação entre homicídio objetivamente qualificado 
e, ao mesmo tempo, subjetivamente privilegiado. Dessa forma, salientou que, tratando-se de circunstân-
cia qualificadora de caráter objetivo (meios e modos de execução do crime), seria possível o reconheci-
mento do privilégio, o qual é sempre de natureza subjetiva. 
 
Mais a frente, ele preceitua que: 
 
 
DELEGADO FEDERAL – Direito Penal Especial – Renato Brasileiro - Aula n. 04 
 
Entendeu o relator que essa mesma regra deveria ser aplicada na presente situação, haja vista que a 
qualificadora do rompimento de obstáculo (natureza nitidamente objetiva) em nada se mostraria incom-
patível com o fato de ser o acusado primário e a coisa de pequeno valor. Reconheceu, assim, a possibili-
dade de incidência do privilégio do § 2º do art. 155 do CP, cassando, no ponto, a sentença penal conde-
natória. Ademais, considerando a análise das circunstâncias judiciais (CP, art. 59) realizada pelo juízo 
monocrático, a qual revelara a desnecessidade de uma maior reprovação, reduziu a pena em 1/3, para 
torná-la definitiva em 8 (oito) meses de reclusão, o que implicaria a ocorrência da prescrição da preten-
são punitiva em caráter retroativo, tendo em conta a ausência de recurso da acusação, bem como a me-
noridade do paciente (menor de 21 anos na data do fato). Assim, o prazo prescricional de 1 ano já teria 
transcorrido entre a data do recebimento da denúncia e a data da publicação da sentença penal condena-
tória. Em suma,concedeu a ordem para reconhecer a incidência do privilégio do § 2º do art. 155 do CP, 
inobstante a qualificadora, e assim julgar extinta a punibilidade do paciente pela prescrição retroativa. 
Após, pediu vista dos autos o Min. Marco Aurélio (Grifo nosso). (HC 98265/MS, rel. Min. Carlos Britto, 
25.8.2009) 
 
Merece aplauso a decisão, pois não há nenhuma razão lógica ou científica para a não incidência da concili-
ação do privilégio com a qualificadora de natureza subjetiva. Há muito tempo a ciência jurídica toma como 
um dos seus cânones a idéia de que onde há a mesma razão, há o mesmo direito. 
 
Ademais, todo o sistema jurídico deve ser interpretado e estruturado de forma harmônica, intercomuni-
cando-se, e isso só ocorrerá se o jurista conjugar diversas normas, por mais contraditórias que possam 
parecer, para adequá-las ao modelo de política criminal adotado pelo nosso sistema. Nesse sentido, se 
temos um modelo de política criminal liberal, assentado no garantismo penal de Luigi Ferrajoli, e compre-
endido a partir de uma visão constitucional penal, o que a Corte Suprema fez foi reafirmar as bases desse 
modelo. 
 
Por fim, acreditamos que o não reconhecimento da força do raciocínio apresentada pelo Ilustre Ministro 
relator constituir-se-á em uma postura antidemocrática, que Ricardo Dip chama de "síndrome de Alice", 
pois irá transformar o direito penal num "mundo de fantasia", com um "direito penal de fantasia" (DIP, 
2002 pg. 217), onde o discurso (leia-se: a construção dogmática) aponta no sentido do reconhecimento 
de uma ordem jurídica pluralista, democrática, baseado na retribuição e na ressocialização, mas que na 
prática, em virtude da nossa própria cultura e da política criminal reclamada por setores da nossa socie-
dade, se mostra um direito penal pragmático, legalista, regulamentador e burocrático. É preciso reconhe-
cer que o direito penal não será a solução para todos os dilemas da condição humana, mas nem por isso 
devemos torná-lo um instrumento descompromissado com os princípios e objetivos instituídos na carta 
constitucional. 
 
Referências Bibliográficas: 
 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, vol. 3, 2ª ed. São Paulo: Editora Saraiva 2005. 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, vol. 2. São Paulo: Editora Saraiva 2007. 
 
DE JESUS, Damásio Evangelista. Direito penal vol. 2. São Paulo: Editora Saraiva 2009. 
 
DIP, Ricardo. Crime e castigo – reflexões politicamente incorretas. Campinas: Millenium, 2002. 
 
GRECO, Rogério. Curso de direito penal parte especial, Vol. 2. Niterói: Editora Impetus, 2008. 
 
SANCHES, Rogério Sanches. Direito penal vol. 3, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. 
 
STF - HC 98265/MS, rel. Min. Carlos Britto, 25.8.2009 
 
Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14091 
 
 
 
 
DELEGADO FEDERAL – Direito Penal Especial – Renato Brasileiro - Aula n. 04 
1.2. FURTO FAMÉLICO, ESTADO DE NECESSIDADE, CRIME IMPOSSÍVEL E PRINCÍPIO DA IN-
SIGNIFICÂNCIA. ATÉ QUANDO O DELEGADO DE POLÍCIA CONTINUARÁ A SER UMA AUTORIDA-
DE SIMBÓLICA? 
 
Autor: Thiago Amorim dos Reis Carvalho - advogado em Anápolis (GO), especializado em Direito Penal e 
Processual Penal pela Universidade Católica de Goiás e Academia Estadual de Segurança Pública. 
 
Data: 06.2009 
 
Recorrentes na mídia são as notícias de intervenção policial, inclusive com a lavratura do auto de prisão 
em flagrante, em atitudes praticadas principalmente por mães desorientadas ante a ausência de recursos 
financeiros e que acabam por optar, se é que há outra opção, por subtrair produtos alimentícios para ver 
saciada a fome própria e a de sua prole. 
 
Casos como esses se acomodam na excludente de antijuridicidade consistente no estado de necessidade 
(art. 24, CP). Por circunstâncias não desejadas, a cidadã, responsável pela manutenção familiar, vê-se 
impelida a investir contra patrimônio alheio para romper a lamentável e absurda privação e situação de 
penúria por que passa[1]. 
 
Tais condutas comumente ocorrem em grandes estabelecimentos empresariais dotados de modernos sis-
temas de vigilância que acabam por abarcar todo o complexo comercial. Torna-se, na maioria dos casos, 
impossível a perpetração da empreitada em tese delitiva, pois o monitoramento é de tamanha eficiência 
que a pessoa é vigiada desde o momento de sua entrada na loja. Dessa forma, sua conduta jamais de-
sencadeará a consumação do crime. 
 
A incapacidade de ludibriar o sistema de vigilância torna o meio elegido pela agente absolutamente inefi-
caz. Reside aí uma hipótese do que se convencionou chamar de crime impossível (art. 17, CP) e a conse-
quência legal imediata é a ausência de punição para a tentativa[2]. 
 
Ocorre que, conforme o sistema processual penal pátrio, não é dado à autoridade de Polícia Judiciária 
manifestar sua percepção intelectual sobre o Direito Penal material e formal, limitando-se a realizar mera 
verificação de adequação típica existente entre a conduta levada a seu conhecimento e algum tipo penal. 
‘Deve’ ela então: 1º- lavrar o auto de prisão em flagrante, pois não se trata de infração de menor poten-
cial ofensivo; 2º- remeter a pessoa conduzida ao cárcere, sendo que não poderá arbitrar fiança porque a 
pena cominada ao furto é de reclusão, portanto somente o juiz poderá fazê-lo (reside aí um paradoxo: se 
a pessoa não possuía condições financeiras favoráveis à subsistência familiar será que terá para o resgate 
da contracautela?!), e; 3º- como última providência, instaurar e presidir o inquérito policial respectivo. 
 
Seguindo aquela ordem de atos, inicialmente, coloca-se em xeque a finalidade da clausura cautelar. A 
subtração foi motivada pela premente necessidade de satisfazer a apetência da perpetradora ou a de 
seu(s) filho(s). O recolhimento, então, mostrará à agente que ‘não se deve subtrair coisa alheia móvel 
para satisfação de necessidades básicas, ainda que de ínfima importância para seu titular, devendo espe-
rar por um milagre ou comportar-se de maneira "socialmente aceitável" (ex: mendigando por alimento) e 
resistir ao pranto de uma criança que não consegue conceber por qual motivo veio a este injusto mundo 
civilizado’. 
 
De acordo com o nosso sistema, é preferível o desencadeamento de atos destinados à formalização do 
inquérito policial e sua remessa ao Poder Judiciário para que, após a manifestação do Parquet, se conclua 
pela presença inarredável da figura do estado de necessidade ou da tentativa inidônea (crime impossível) 
e se determine o respectivo arquivamento dos autos e a soltura da pessoa indiciada. 
 
Além dos custos de toda a movimentação das máquinas do Executivo, do Judiciário e do Ministério Públi-
co, restam patentes os desgastes e abalos psicológicos suportados, desarrazoadamente, pela mãe condu-
zida ao cárcere e por sua família. 
 
Remanesce visível, outrossim, a insignificância de eventual prejuízo que a vítima possa vir a sofrer. Cer-
tamente a conduta atentatória ao patrimônio causar-lhe-á transtornos, contudo de significados 
 
 
DELEGADO FEDERAL – Direito Penal Especial – Renato Brasileiro - Aula n. 04 
inexpressivos, não sendo a seara criminal a via adequada para a solução do problema. Afinal a repreensão 
da conduta por intermédio de uma sanção de natureza penal, além de em nada contribuir para situação 
comiserativa daquela cidadã, apenas provocará ampla indignação da comunidade que sopesará o genera-
lizado sentimento de impunidade em relação aos crimes do colarinho branco, por exemplo, com a respos-
ta estatal dada ao caso motivado pela escassez alimentar. 
São vários os julgados que reconhecem a incidência de institutos destinados a retirar da órbita criminal 
exemplos como esse. Delmanto (2000, p. 312/313) cita alguns: 
 
"Quem tenta furtar um quilo de carne, não visa a aumentar seu patrimônio, mas age por fome, afastando 
a ilicitude pelo estado de necessidade (TACrSP, Julgados86/425). Idem, no caso de uma pizza grande 
arrebatada pelo entregador (denúncia rejeitada) (TACrSP, RT 615/312), ou em supermercado, por agente 
gestante e família na penúria (TACrSP, Julgados 82/206), ou ainda, no caso de um galo e duas galinhas 
(também pelo princípio da insignificância) (TAPR, PJ 43/274)." 
 
A inexpressividade do resultado, admitida, em tese, numa gama infinita de crimes contra o patrimônio 
praticados sem grave ameaça ou violência à pessoa, enquadra-se com perfeição na hipótese de furto fa-
mélico. Os subsequentes excertos, apesar de não tratarem especialmente da situação ora sob enfoque, 
retratam mais uma orientação prático-doutrinária regrada pelo princípio da intervenção mínima do Direito 
Penal: 
 
"Valor inexpressivo: não é furto a subtração de bagatela, sem a menor repercussão no patrimônio (TA-
CrSP, Julgados 75/229). Se o valor é juridicamente irrelevante, absolve-se pelo princípio da insignificân-
cia, que elimina a antijuridicidade (TARS, RT 582/386). Caracterizada a pequenez do valor do furto, há 
exclusão da tipicidade, concedendo-se habeas corpus de ofício (STJ, RT 721/537)." (DELMANTO, 2000, p. 
315) 
 
Interessante é que se costuma a identificar na pessoa do delegado de polícia a figura de uma autoridade. 
Se assim o é, tem, portanto, o "direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer" 
(primeira acepção do termo "autoridade" – Dicionário Houaiss). É, identicamente, um "especialista de re-
conhecido mérito em dado campo de conhecimento" (sexta acepção do termo), qual seja, no mínimo, em 
Direito Penal e Processual Penal, ao menos em tese. Contudo, o é também um delegatário do Estado com 
atribuições legalmente limitadas. 
 
No Código de Processo Penal, as funções do delegado de polícia encontram-se sintetizadas no art. 4º, ca-
put: "A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circuns-
crições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria". 
 
O objetivo da atuação da autoridade policial é de colher elementos suficientes a embasarem eventual ação 
penal. Contudo, quando a inviabilidade desta é patente e resulta de um simples processo de verificação 
da existência de uma subtração, "de coisa alheia móvel", para a satisfação da carência de alimentos, cor-
roborada por outros dados fático-jurídicos (ex: elementos consubstanciadores do crime impossível), o 
desempenho da atividade policial na forma limitada pelo art. 4º supracitado consistiria em verdadeira 
claudicação moral e absurdo apego ao legalismo literal que em nada contribui para a "pacificação social". 
 
O Estado se faz presente por intermédio de uma grandiosa estrutura organizacional responsável pela se-
gurança pública (art. 144 da Constituição Federal). O dispêndio decorrente do exercício funcional dessa 
estrutura somente se justifica quando há possibilidade de séria e fundada retribuição ao fato cometido, 
baseada na necessidade e proporcionalidade o que, ab initio, não se identifica no furto famélico. 
 
O bom senso não deve ser afastado da atividade persecutória. Esta, presidida por um ser dotado de atri-
butos intelectuais, é reinada por princípios e propósitos que somados estruturam o comportamento racio-
nal da autoridade. Em um Estado Democrático de Direito fundamentado na dignidade da pessoa humana 
é inadmissível a automatização do exercício do ‘poder-dever’ delegado, pois seres humanos devem ser 
tratados como tais pelos únicos capazes de laborar com a compreensão exigida pela situação de miséria, 
abandono e humilhação que motivou a subtração, isto é, por seus semelhantes, ainda que encarnados 
como representantes de um ente despersonificado. 
 
 
 
DELEGADO FEDERAL – Direito Penal Especial – Renato Brasileiro - Aula n. 04 
Portanto, ou se realiza uma releitura do art. 4º do Código de Processo Penal, ou corre-se o risco de conti-
nuar a ratificar o simbolismo representado pela presença da autoridade policial na presidência de atos 
investigativos e que acarretará, como tem acarretado, em consequências devastadoras para os envolvidos 
diretamente no caso noticiado, para a sociedade e para a comunidade jurídica. 
 
Não se pretende afastar do conhecimento da autoridade judicial e tampouco do controle pelo representan-
te do Parquet de qualquer notitia criminis baseada em dados fáticos indicativos de suposto furto famélico. 
Dotar a autoridade policial de poderes suficientes para deliberar sobre o desencadeamento dos tradicio-
nais atos inquisitoriais em casos tais não significa que permanecerá a sua orientação como a "palavra fi-
nal". Qualquer postura deverá ser motivada. Se verificada a hipótese de furto famélico, é imprescindível 
todo o registro dos dados e elementos consubstanciadores e posterior envio ao órgão judicante para que a 
autoridade respectiva, após manifestação do Ministério Público, decida pelo "arquivamento" ou não das 
peças informativas. 
 
Notas: 
 
[1] Evidente que é tratada no presente estudo a hipótese de verdadeiro furto famélico, isto é, presentes 
todos os requisitos imprescindíveis à sua configuração, tais como, a premente necessidade e a inexistên-
cia de forma diversa para sua satisfação. Contudo, sabe-se o quão recorrentes são as tentativas da defesa 
em ver reconhecida a mencionada situação comiserativa em casos de subtração de produtos alimentícios, 
e até de outros gêneros, mas que não apresenta qualquer indicativo de necessidade alimentar. É o que 
motiva, inclusive, a diversidade de julgados não identificando hipóteses de furto famélico: TJ-GO, 2ª Câ-
mara Criminal, Apelação Criminal n. 30161-9/213, Processo n. 200602949534, DJ 14934 de 05/02/2007; 
TJ-MG, Processo n. 1.0079.04.122872-1/001(1), Publicação de 04/11/2008; TJ-MG, Processo n. 
1.0702.05.197198-5/002(1), Publicação de 31/05/2008. 
 
[2] Se identificada a relatividade da eficácia do meio elegido, em que não há um sistema de vigilância 
plenamente apto a monitorar todo o complexo empresarial, como em pequenos e médios estabelecimen-
tos, não há falar em crime impossível. O caso concreto fornecerá elementos para a análise da possibilida-
de de sucesso na empreitada. Sobre a ineficácia absoluta do meio, transcreve-se o subsequente julgado: 
"APELAÇÃO. FURTO EM LOJA. CRIME IMPOSSÍVEL. INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO. CARACTERIZAÇÃO. 
Se a res que o acusado pretendia furtar permanece protegida, tornando-se absolutamente ineficaz o meio 
adotado pelo agente, surge a figura da tentativa impossível. DECISÃO ABSOLUTÓRIA CONFIRMADA". 
(TJ/GO, Primeira Câmara Criminal, Apelação Criminal nº 19837-3/213, Rel. Des. Elcy Santos de Melo, 
acórdão de 11/04/2000, DJ 13287 de 28/04/2000) 
 
Referências bibliográficas: 
 
BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Vade mecum. São Paulo: Sarai-
va, 2008. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Vade mecum. São Paulo: Saraiva, 2008. 
DELMANTO, Celso et al. Código Penal comentado. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. 
 
HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0. Editora Objetiva. 
2001. 
 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS. Jurisprudência. Disponível em: 
<http://www.tjgo.jus.br/index.php?sec=consultas&item=decisoes&subitem=jusrisprudencia&acao=consul
tar>. Acesso em: 18.6.2009. 
 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Acórdãos. Disponível em: < 
http://www.tjmg.jus.br/juridico/jt_/juris_resultado.jsp?numeroProcesso=&complemento=&acordaoEment
a=acordao&palavrasConsulta=furto%20famélico&relator=&dataInicial=&dataFinal=&dataAcordaoInicial=&
dataAcordaoFinal=&resultPagina=10&pagina=10&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=>. A-
cesso em: 18.6.2009. 
 
Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13373 
 
 
DELEGADO FEDERAL – Direito Penal Especial – Renato Brasileiro - Aula n. 04 
 
2. JURISPRUDÊNCIA CORRELATA 
 
2.1. HC 145114 / GO 
 
Ementa:HABEAS CORPUS. ART. 1º, INCISO I, DO DECRETO-LEI Nº 201/67. PREFEITO MUNICIPAL. 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO. MORALIDADE PÚBLICA. ABSOLVI-
ÇÃO. AUSÊNCIA DE DOLO INDISPENSÁVEL À CONFIGURAÇÃO DO DELITO. NECESSIDADE DE REVOLVI-
MENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO 
WRIT. ORDEM DENEGADA. 
 
2.2. HC 96003 / MS 
 
Ementa: EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES DE FURTO. CONCURSO MATERIAL. PRINCÍPIO DA 
INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. DESVALOR DA AÇÃO E DO RESULTADO. ART. 155, § 2º, DO CÓ-
DIGO PENAL. FURTO PRIVILEGIADO. SENTENÇA. RECONHECIMENTO. ORDEM DENEGADA. I - A aplicação 
do princípio da insignificância de modo a tornar a conduta atípica depende de que esta seja a tal ponto 
irrelevante que não seja razoável a imposição da sanção. II - Mostra-se, todavia, cabível, na espécie, a 
aplicação do disposto no § 2º do art. 155 do Código Penal, tal qual procedeu o magistrado de primeira 
instância. III - Ordem denegada. 
 
2.3. AgRg no REsp 1035115 / RS 
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL. PENAL. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. CONSUMAÇÃO DO DELITO. 
POSSE TRANQÜILA DA RES. DESNECESSIDADE. 1. Cabe esclarecer que esta Corte e o Supremo Tribunal 
adotaram a teoria da apprehensio, também denominada de amotio, no que se refere à consumação do 
crime de roubo, basta, portanto, que o bem subtraído passe para o poder do agente, sendo prescindível 
que o objeto do crime saia da esfera de vigilância da vítima. 2. Agravo regimental desprovido. 
 
2.4. REsp 96317 / RN 
 
Ementa : PREVIDENCIARIO. PROCESSUAL CIVIL. BENEFICIO PREVIDENCIARIO. PAGAMENTO COM ATRA-
SO. CORREÇÃO MONETARIA. LEI N. 6.899/81. SUMULAS NUMS. 71/TFR, 43/STJ E 148/STJ. - EM TEMA 
DE COBRANÇA JUDICIAL DE BENEFICIOS PREVIDENCIARIOS, A EGREGIA TERCEIRA SEÇÃO CONSOLIDOU 
O ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL DE QUE A CORREÇÃO MONETARIA DAS PARCELAS PAGAS COM 
ATRASO INCIDE NA FORMA PREVISTA NA LEI N. 6.899/81 E DEVE SER APLICADA A PARTIR DO MOMEN-
TO EM QUE ERAM DEVIDAS, COMPATIBILIZANDO-SE A APLICAÇÃO SIMULTANEA DAS SUMULAS 43 E 
148, DESTE TRIBUNAL. - OS REFERIDOS DEBITOS, POR CONSUBSTANCIAREM DIVIDAS DE VALOR, POR 
SUA NATUREZA ALIMENTAR, DEVEM TER PRESERVADO O SEU VALOR REAL NO MOMENTO DO PAGAMEN-
TO. - RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E DESPROVIDO. 
 
2.5. HC 98265 / MS 
 
Ementa: HABEAS CORPUS. CRIME DE FURTO QUALIFICADO. INCIDÊNCIA DO PRIVILÉGIO DA PRIMARIE-
DADE E DO PEQUENO VALOR DA COISA SUBTRAÍDA. POSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. A juris-
prudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido do reconhecimento da conciliação entre homi-
cídio objetivamente qualificado e ao mesmo tempo subjetivamente privilegiado. Noutro dizer, tratando-se 
de circunstância qualificadora de caráter objetivo (meios e modos de execução do crime), é possível o 
reconhecimento do privilégio (sempre de natureza subjetiva). 2. A mesma regra de interpretação é de ser 
aplicada no caso concreto. Caso em que a qualificadora do rompimento de obstáculo (de natureza nitida-
mente objetiva - como são todas as qualificadoras do crime de furto) em nada se mostra incompatível 
com o fato de ser o acusado primário; e a coisa, de pequeno valor. Precedentes da Segunda Turma do 
STF. 3. Ordem concedida para reconhecer a incidência do privilégio do § 2º do art. 155 do CP e julgar 
extinta a punibilidade do paciente pela prescrição retroativa. 
 
2.6. AgRg no REsp 983291 / RS 
 
 
 
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Ementa: PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. TENTATIVA DE FURTO. OBJETOS EM IN-
TERIOR DE VEICULO. QUEBRA DA JANELA. DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. QUALIFICA-
DORA CARACTERIZADA. CONCURSO DE PESSOAS. APLICAÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO DE PENA PRE-
VISTA PARA O ROUBO. IMPOSSIBILIDADE. 
1. A destruição ou avaria de automóvel para a subtração de objeto que se encontra no seu interior carac-
teriza a qualificadora prevista no inciso I do § 4º do artigo 155 do Código Penal. 
2. Havendo regra específica a ser aplicada nos crimes de furto qualificado pelo concurso de pessoas (arti-
go 155, § 4º, IV, do CP), é inaceitável sua substituição pela do artigo 157, § 2º, do mesmo diploma, sob 
a alegação de ofensa ao princípio da proporcionalidade. 
3. Agravo regimental desprovido. 
 
2.7. HC 152833 / SP 
 
Ementa: Veículo (rompimento dos vidros dianteiro e lateral). Subtração (frente removível do tocador de 
CD). Furto (simples/qualificado). Sentença (furto simples). Apelação (furto qualificado). Qualificadora 
(não ocorrência). Princípio da proporcionalidade (aplicação). 
1. O saber penal tem uma finalidade prática, que é atuar no mundo dos fatos. Assim, a dogmática jurídica 
moderna deve incorporar dados da realidade aos conceitos abstratos a fim de zelar pela segurança 
jurídica. 
2. À vista disso, não se pode considerar o vidro de um automóvel – coisa quebradiça e frágil –, que, no 
mundo dos fatos, não impede crime algum, obstáculo, impedimento ou embaraço à subtração da coisa. 
3. Não se pode cominar pena mais grave àquele que, ao quebrar o vidro de um veículo, subtrai a frente 
removível do aparelho de som, sob pena de se ofender diretamente o princípio da proporcionalidade. 
4. Habeas corpus deferido para se excluir a qualificadora, restabelecendo-se a sentença. 
 
 
3. ASSISTA!!! 
 
3.1 Qual a diferença entre furto de energia elétrica e estelionato? 
 
http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080527140747429 
 
3.2 É possível tentativa de furto qualificado pela destreza? 
 
http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080703170538508 
 
 
 
4. LEIA!!! 
 
4.1. DESTRUIR QUEBRA-VENTO DE CARRO, PARA FURTAR APARELHO DE SOM DESTACÁVEL EM 
SEU INTERIOR, É CRIME DE FURTO QUALIFICADO. 
 
Autor: Bruno Lima Barcellos; 
 
Data: 05.2010 
 
Pelo entendimento da Sexta Turma do STJ a prática não qualifica o crime de furto. Assim decidiu este Su-
perior Tribunal (info 429): 
 
TENTATIVA. FURTO. QUALIFICADORA. 
 
Discute-se, no crime de tentativa de furto, se o rompimento de obstáculo (quebra do vidro de veículo para 
subtrair aparelho de som) tipifica o delito de furto qualificado e, se reconhecido tal rompimento, a pena 
aplicada fere o princípio da proporcionalidade. Para o Min. Relator, o rompimento de porta ou vidro para o 
furto do próprio veículo é considerado furto simples. Não seria razoável reconhecer como qualificadora o 
 
 
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rompimento de vidro para furto de acessórios dentro de carro, sob pena de resultar a quem subtrai o pró-
prio veículo menor reprovação. Assevera, assim, que, nos casos como dos autos, considerar o rompimen-
to de obstáculo como qualificadora seria ofender o princípio da proporcionalidade da resposta penal, que 
determina uma graduação de severidade da pena em razão da prática do crime, apesar de a jurisprudên-
cia deste Superior Tribunal considerá-la como qualificadora. Com esse entendimento, a Turma, por maio-
ria, concedeu a ordem de habeas corpus. Precedentes citados: AgRg no REsp 983.291-RS, DJe 
16/6/2008, e REsp 1.094.916-RS, DJ 13/10/2009. HC 152.833-SP, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 
5/4/2010. 
 
Contudo, o posicionamento do STF é no sentido de que deve incidir a qualificadora (info. 585): 
 
Furto Qualificado e Rompimento de Obstáculo 
 
A Turma indeferiu habeas corpus em que a Defensoria Pública da União pleiteava, sob alegação de ofensa 
ao princípio da proporcionalidade, o afastamento da qualificadora do rompimento de obstáculo à subtra-
ção da coisa (CP, art. 155, § 4º, I). Sustentava que o furto dos objetos do interior do veículo seria mais 
severamente punido do que o furto do próprio veículo, impondo-se sanção mais elevada para o furto do 
acessório. Entendeu-se que, na situação dos autos, praticada a violência contra a coisa, restaria configu-
rada a forma qualificada domencionado delito. HC 98606/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 4.5.2010. (HC-
98606) 
 
Desta feita, o atual entendimento da 6ª Turma do STJ vai ao encontro de entendimento doutrinário mais 
consentâneo com os princípios aplicados diretamente ao Direito Penal, mormente o da proporcionalidade. 
É a jurisprudência corrigindo interpretações equivocadas que se possam conferir à lei penal. 
 
Contudo, percebe-se que os Tribunais Superiores não estão pacíficos em seus entendimentos, com rela-
ção à referida matéria. Portanto, outras decisões deverão ser tomadas para que a dissidência se resolva, 
uniformizando-se os julgados. 
 
Fonte: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20100525204313710 
 
 
5. SIMULADOS 
 
5.1. Relativamente aos crimes contra o patrimônio, analise as afirmativas a seguir: 
 
I. No crime de furto, se o criminoso é primário, e a coisa furtada é de pequeno valor, o juiz pode substitu-
ir a pena de reclusão pela de detenção. 
II. Considera-se qualificado o dano praticado com violência à pessoa ou grave ameaça, com emprego de 
substância inflamável ou explosiva (se o fato não constitui crime mais grave), contra o patrimônio da Uni-
ão, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista ou 
ainda por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima. 
III. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes contra o patrimônio em prejuízo do cônjuge, na 
constância da sociedade conjugal, desde que não haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa ou 
que a vítima não seja idosa nos termos da Lei 10.741/2003. 
 
Assinale: 
a) se somente a afirmativa I estiver correta. 
b) se somente a afirmativa II estiver correta. 
c) se somente a afirmativa III estiver correta. 
d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. 
e) se todas as afirmativas estiverem corretas. 
 
5.2. João e Marcos decidem furtar uma residência. Vigiam o local até que os proprietários deixem a casa. 
Tentam forçar as janelas e verificam que todas estão bem fechadas, com exceção de uma janela no ter-
ceiro andar da casa. Usando sua habilidade, João escala a parede e entra na casa, pedindo a Marcos que 
fique vigiando e avise se alguém aparecer. Enquanto está pegando os objetos de valor, João 
 
 
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escuta um barulho e percebe que a empregada tinha ficado na casa e estava na cozinha bebendo água. 
João vai até a empregada (uma moça de 35 anos) e decide constrangê-la, mediante grave ameaça, a ter 
conjunção carnal com ele. 
Logo após consumar a conjunção carnal, com a empregada e deixá-la amarrada e amordaçada (mas sem 
sofrer qualquer outro tipo de lesão corporal), João termina de pegar os objetos de valor e vai ao encontro 
de Marcos. 
Ao contar o que fez a Marcos, este o chama de tarado e diz que nunca teria concordado com o que João 
fizera, mas que agora uma outra realidade se impunha e era preciso silenciar a testemunha. Marcos re-
torna à casa e mesmo diante dos apelos de João que tenta segurá-lo, utiliza uma pedra de mármore para 
quebrar o crânio da empregada. Ambos decidem ali mesmo repartir os bens que pegaram na casa e se-
guir em direções opostas. Horas depois, ambos são presos com os objetos. 
 
Assinale a alternativa que identifica os crimes que cada um deles praticou. 
 
a) João: furto qualificado e estupro. Marcos: furto qualificado e homicídio qualificado. 
b) João: furto qualificado, estupro e homicídio simples. Marcos: furto qualificado, estupro e homicídio qua-
lificado. 
c) João: furto simples e estupro. Marcos: furto simples e homicídio qualificado. 
d) João: furto simples, estupro e homicídio qualificado. Marcos: furto qualificado, estupro e homicídio 
simples. 
e) João: furto qualificado e estupro. Marcos: furto simples e homicídio qualificado 
 
5.3 A respeito dos crimes contra o patrimônio, assinale a alternativa correta. 
 
a) Pratica apropriação indébita, e não furto, quem preenche e desconta cheques que lhe tenham sido con-
fiados para pagamento a terceiros, apropriando-se das quantias correspondentes. 
b) O crime de extorsão mediante restrição da liberdade da vítima possui o mesmo elemento subjetivo do 
crime de extorsão mediante sequestro. 
c) O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta o 
prosseguimento da ação penal. 
d) Aquele que exige ou recebe, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento 
que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro, comete o crime de extor-
são. 
e) Há estelionato, e não furto mediante fraude, na conduta do agente que subtrai veículo posto à venda, 
mediante solicitação ardil de teste experimental ou mediante artifício que leve a vítima a descer do carro. 
 
 
Gabarito: 5.1) E; 5.2) A; e, 5.3) C.

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