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Visite o site da Igreja www.icebosque.org.br ��������� ��� ������ ����� ������ � ���� ��� � ������ ���� ������ ������ A Antropologia Bíblica “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” Apóstolo Paulo 1Tm 4:16 Evaldo Bueno Rodrigues 2 Visite o site da Igreja www.icebosque.org.br Quem somos? O que somos? De onde viemos? Para onde vamos? Polêmicas sobre esses temas acompanham a história da humanidade desde os tempos mais remotos. O que é o homem? Se é a imagem de Deus, como devemos vê-lo? O que se pode esperar dele? O que devemos lhe ensinar? Como e o que ele aprende? Quais as implicações da imagem de Deus no homem antes e depois da queda? O que há desta imagem no homem depravado? O que ele recupera com a regeneração? “Há milênios, filósofos e cientistas estudam o homem e procuram dar uma definição aceitável de sua globalidade: natureza, origem e fim último. Com o início da época moderna, a indagação antropológica abandona a impostação cosmocêntrica dos filósofos gregos e a teocêntrica dos autores cristãos e adota uma orientação antropocêntrica: o homem é o ponto de partida da investigação filosófica” (B. Mondin). “A transição da teologia para a antropologia, isto é, do estudo de Deus para o estudo do homem, é natural. O homem não é somente a coroa da criação, mas também é o objeto de um especial cuidado de Deus” (L. Berkhof). “O homem distingue-se dos animais porque, enquanto estes se limitam a registrar as impressões sensíveis e a seguir os instintos imediatos, ele quer conhecer o por quê das coisas e se propõe fins a conseguir” (B. Mondin). 3 Visite o site da Igreja www.icebosque.org.br Índice A antropologia bíblica (A Imagem de Deus no homem) 1. Apresentação 4 2. Introdução 5 3. Capítulo I Aspectos gerais do homem criado à Imagem de Deus. 7 1. Antropologia teológica. 7 2. Evidências Bíblicas. 7 3. Característica intrínseca da doutrina da imago Dei. 8 4. Capítulo II Principais modelos da Imago Dei no homem. 9 1. Ponto de vista da filosofia. 9 1.1 Período Mitológico. 9 1.2 Período Clássico. 9 1.3 Período Moderno. 9 1.4 Período das Feridas Narcísicas. 9 2. O modelo teológico. 10 2.1 A Visão Substantiva. 10 2.2 A Visão Relacional. 10 2.3 A Visão Funcional. 11 5. Capítulo III Análise crítica dos principais modelos da imago Dei no homem. 11 6. Capítulo IV Implicações para o ministério cristão. 13 1. Pertencemos a Deus. 13 2. Cristo, o modelo ideal. 13 3. O humanismo cristão. 13 4. O trabalho do homem. 13 5. O valor do homem. 13 7. Capítulo V 1. Conclusão. 14 2. Questões relevantes. 15 3. Modelo bíblico da natureza e fim do homem. à imagem de Deus. 15 4. Palavras finais. 15 8. Bibliografia 17 4 Visite o site da Igreja www.icebosque.org.br Apresentação Creio ser relevante desenvolvermos um senso de compreensão do “ser humano” como um ser criado à imagem e semelhança de Deus; buscarmos entender esse “ser” à luz da cultura na qual ele está inserido e da fé cristã para, então, aplicarmos nosso trabalho, exercermos nosso ministério e investirmos na direção desse alguém. Conhecer algumas das diferentes opiniões que foram comuns na história, os princípios filosóficos no seu berço, o que e como pensavam aqueles que por esses caminhos militaram nos séculos passados, ainda que tenham sido limitados pelo conhecimento e pela tecnologia disponível (se comparados com as descobertas e os avanços dos dias atuais), inegavelmente é relevante ainda nos nossos dias. A produção deste trabalho foi norteada por alguns fatores delimitativos para que pudesse ser composto dentro dos parâmetros propostos para o fim a que se destina. As fontes informativas que tratam sobre o tema são excessivamente abrangentes. Diversos caminhos poderiam ser tomados no exame de tão relevante matéria. Questões ligadas às concepções da imagem de Deus no homem têm divido estudiosos, filósofos, teólogos entre outros ao longo da história. Nosso posicionamento será restrito à análise do ser humano enquanto imagem de Deus, seu relacionamento com Deus e seu posicionamento como criatura no plano eterno da criação proposto por Deus, ainda que esse homem tenha caído, tornando-se todo depravado, fruto do seu pecado. Nossa abordagem será do ponto de vista da antropologia teológica, fundamentada nas exposições Escriturísticas. Tratar o assunto, ainda que limitado pelo tempo e pelo desafio que a matéria me oferece, está sendo de grande valia para minha vida e ministério. 5 Introdução Talvez nenhuma outra doutrina da fé Cristã seja tão frontal ao pensamento filosófico de paradigmas socioculturais de todos os tempos como a doutrina do homem criado à imagem de Deus. Uma grande nuvem de controvérsias e protestos cerca-se ao redor dessa doutrina. A antropologia, segundo a etimologia, é a ciência que busca conhecer o antropos, o humano. A Antropologia se ocupa em estudar o homem buscando compreendê-lo através de seus antepassados históricos, abordando civilizações, etnias, tradições, culturas, religiões, rituais, símbolos, dentre outros. Aqui, o foco principal é sempre o homem. Teorias naturalistas relativas ao ser humano e às origens cosmológicas empreendem esforços sem igual na defesa do acaso, da geração espontânea do universo para o aparecimento acidental da vida. Tais teorias têm sido promulgadas com veemência ao longo da história do homem. Os gregos formaram numerosas perspectivas filosóficas e nelas se refletem os grandes problemas metafísicos, gnosiológicos, éticos e religiosos. O mesmo se pode dizer das populações cristãs desde os tempos da Idade Média. Também elas, embora profundamente preocupadas com o sobrenatural, com a relação do homem com Deus, com a vida futura e com a salvação eterna, elaboraram interpretações filosóficas bastante diversificadas. Todavia, de acordo com a Bíblia, o homem foi criado à Imagem de Deus e, portanto, tem relação com Deus. Traços desta verdade acham-se até na literatura pagã. A doutrina bíblica da Imago Dei como pilar de sustentação e fundamentação da fé histórica, fé cristã, será aqui tratada nos seus aspectos gerais envolvidos na formação da doutrina, isto é, sua evidência Bíblica e importação sistemática para a tarefa de exegese Bíblica e construção teológica. Em seguida faremos uma identificação dos modelos teológicos principais da imago Dei que apareceram na história da igreja, tecendo uma análise crítica e conclusiva desses modelos. Finalmente, uma conclusão sobre as questões relevantes e qual modelo parece mais fiel ao retrato Bíblico da natureza e do fim dos seres de natureza humana. Pareceres e teorias, teológicas ou filosóficas, com bases bíblicas ou não, sobre o tema, contribuem para nossa maior compreensão da complexidade, muitas vezes, por nós negligenciadas da antropologia da imago Dei. 6 Pensamentos contributivos ao tema: “Como imagem de Deus, somos responsáveis pela mordomia da razão dada pelo Criador. Como cristãos, não somos racionalistas, mas entendemos que a razão reflete a imagem de Deus e é fundamentalpara compreender não só a Palavra de Deus, mas, também, o mundo por ele criado” (Sayão - Cabeças Feitas). “Além da sua participação como parte da criação divina, ele ou ela tem o privilégio de participar da IMAGO DEI, o que lhe dá a capacidade de criar e ser criativo” (Cavalcante - Matéria: Análise Teológica das Filosofias de Educação). “Será tão fácil dizer quem somos? Psicólogos, sociólogos, antropólogos, os mais diversos cientistas sociais têm estudado a questão da identidade; filósofos também. Não só pela dificuldade, mas também pela importância que esta questão apresenta, outros especialistas têm se envolvido com ela e não só os cientistas e filósofos” (Ciampa – Categorias Fundamentais da Psicologia social). “Vemo-nos qualitativamente diferenciados dos demais seres e constituídos de uma natureza especial. Durante muito tempo nos enxergamos como feitos à imagem e semelhança de Deus. Em muitos povos, as mitologias de criação falam de seres criadores e de heróis civilizadores antropomorfizados e assemelhados aos seus indivíduos. Entre nós, ocidentais, herdeiros de uma visão hebraica e cristã, o livro de Gênesis relata: Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que ele domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra. Quanta responsabilidade! Não só o Criador nos fez semelhantes a Ele como nos deu poder e domínio sobre todos os outros seres vivos do planeta” (Guerreiro – Antropos e Psique, O outro e sua subjetividade). 7 Capítulo I Aspectos gerais do homem criado à Imagem de Deus. 1. Antropologia teológica. Como já dissemos na apresentação deste trabalho, não vamos aqui trilhar o caminho das ciências que se ocupam em estudar a origem do homem observando sua estrutura fisiológica e suas características psíquicas em geral e das várias raças da humanidade com seu desenvolvimento etnológico, lingüístico, cultural e religioso. Trataremos aqui da antropologia teológica e algumas objeções que ela faz às teorias evolucionistas, observando particularmente o que a Palavra de Deus diz a respeito do homem e da relação em que ele está e deve estar com Deus. Este é o princípio supremo da antropologia teológica. A Bíblia revela que o homem ocupa um lugar central de importância na revelação geral de Deus através da Sua Palavra. À doutrina do homem segue-se imediatamente a doutrina de Deus. A antropologia teológica refuta a teoria evolucionista nas suas diferentes versões, uma vez que qualquer que seja a linha evolucionista naturalista do momento o homem descende de animais inferiores, corpo e alma, por um processo completamente natural dirigido por forças inerentes. Encerra assim um dos princípios mais importantes dessa teoria que é a rigorosa continuidade entre o mundo animal e o homem. A antropologia teológica também não concorda com o evolucionismo teísta, ainda que simpático a muitos teólogos, que simplesmente considera a evolução como o método de ação de Deus. Essa idéia recebe muito apoio nos círculos católico-romanos. Dentre as várias objeções que a antropologia teológica oferece às teorias evolucionistas está o fato de que o evolucionismo contraria explicitamente os ensinamentos da Palavra de Deus que são claros e definidos. Uma outra objeção apresentada pela antropologia teológica contra as teorias evolucionistas está no fato de que estas não têm adequada base em fatos bem estabelecidos. Todas as afirmativas destas teorias não passam de hipóteses não comprovadas e, portanto, não tem o direito de receber mais crédito do que a Bíblia. “Em sua tentativa de provar que o homem descende de uma espécie inferior de macacos antropóides, Darwin apoiou-se, (1) no argumento derivado da similaridade estrutural entre o homem e os animais de categoria superior; (2) no argumento embriológico; e (3) no argumento dos órgãos rudimentares. A esses três foram acrescentados posteriormente, (4) o argumento derivado dos testes de sangue; e (5) o argumento paleontológico. Mas nem um só desses argumentos dá a prova desejada”. (Berkhof – Teologia Sistemática, 1998, p.185). 2. Evidências Bíblicas. As Escrituras Sagradas nos oferecem dois relatos da criação do homem, um em Gn 1:26,27: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem e semelhança, à 8 imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”; e, outro em Gn 2:7, 21-23: “Então formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente”. A confirmação bíblica da doutrina da Imago Dei é relevante à luz desses textos. Esta mesma expressão, “imagem de Deus” aparece, em relação ao homem, novamente no capítulo nove (v. 6): “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem”. O Novo Testamento também evidencia a doutrina da Imago Dei no discurso de Paulo em 1ª Coríntios 1:7: “Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele a imagem e a glória de Deus”. Paulo usa o conceito da Imago Dei como fundamento teológico, a partir do qual vai avançar nos ensinos que transmitirá a seguir. Podemos ainda citar outras referências diretas e indiretas que evidenciam a doutrina da Imago Dei, tais quais aparecem em: Gênesis 5:1, Romanos 8:29, 2 Coríntios 3:18, 1 Coríntios 15:49, Colossenses 3:10 e Salmo 8:5. Tais referências bíblicas antropológicas dão-nos conta que a criação do homem pressupôs um “Solene Conselho Divino”, cujo ato seguinte foi a imediata criação do homem. Um ato das mãos de Deus e não simplesmente fruto da sua palavra de ordem. Enquanto aqueles foram criados segundo suas espécies, o homem foi feito à imagem e semelhança do Criador. Exaltado sobre toda criação. Distinto no que diz respeito à origem do corpo e da alma. Portador de atributos do criador. Esses fatos evidenciam o grande abismo que existe entre toda criação de Deus e a criação do homem, e apóiam a doutrina bíblica da imago Dei. 3. Característica intrínseca da doutrina da imago Dei. Não se pode restringir a imagem de Deus ao conhecimento, à justiça e santidade originais, perdidos devido ao pecado; ela inclui também elementos que pertencem à constituição natural do homem. São elementos que pertencem ao homem como tal, com as faculdades intelectuais, os sentimentos naturais e a liberdade moral. O homem, mesmo após a queda, independentemente da sua condição espiritual, é apresentado como imagem de Deus. Em Gênesis 9:6, já citado anteriormente, há uma importante evidência da nobreza da vida humana, criada à imagem de Deus. A pena capital justifica-se contra todo aquele que comete assassinato contra o seu próximo. “Num certo sentido é sempre um fratricídio (assassínio de irmão)”. (A Bíblia Anotada, comentário, Gn 9:5,6 ). A doutrina da imagem de Deus no homem é da maior importância na teologia, pois essa imagem é a expressão daquilo que é mais distintivo no homem e em sua relação com Deus. Quanto podemos saber da Escritura, até mesmo os anjos não compartem com o homem essa honra, embora às vezes o assunto seja apresentado como se compartissem. O pecado e a queda deformaram e macularam a imagem de Deus no homem, mas ainda assim, ele é a imagem de Deus. 9 Capítulo II Principais modelos da Imago Dei no homem. “Um homem só consegue sobreviver até em condições mais desumanas se mantiver um sentido para sua vida se projetando em Deus” (Victor Frankl). 1. Ponto de vista da filosofia. Alienada da revelação bíblica, mas impulsionada por um sentimento de vazio interior, insegurança, incerteza quanto ao futuro e medoda realidade pós-morte, a humanidade sempre trilhou pelas veredas do pensamento filosófico na busca de respostas sobre a origem do homem e sua concepção plena. O homem no contexto histórico pode ter passado pelo menos por quatro períodos na busca de si. 1.1 Período Mitológico – Na narração mitológica o homem veio ao mundo como um titã (semi-deus) sem consciência da infinitude da vida. Quando ele recebeu (de Prometeu) o fogo da consciência roubado (de Zeus), se tornou uma ameaça aos deuses (do Olimpo). Os deuses para se vingarem criaram (Pandora) a primeira mulher. Trazendo em sua caixa toda sorte de males para a procriação do homem até o tempo determinado por (Cronos). 1.2 Período Clássico – Os poetas e contadores de história (Homero, Heródoto, Eziodo) aceitam a finitude humana, mas, tentam garantir a sua imortabilidade pelos seus feitos históricos. Foi o período em que o homem saiu da praxe-(ação) e começa a explorar o lexo-(fala), o (discurso). O homem deixa de ser titã para ser bio individual se distinguindo da natureza que se renova como ciclo vital. “Neste período a história faz com que o homem também seja imortal pelos seus feitos” (Hannah Arendt). 1.3 Período Moderno – É o período da subjetividade que tira o universo como centro da ciência e coloca o homem. Neste período os construtores do universo Copérnico, Galileu século XVI, XVII, deixam de ser importantes para dar lugar ao homem. O período das luzes do século XVIII (Iluminismo Intelectual) foi de grandes revoluções sóciais, políticas, quebra de regimes, absolutistas e religiosos. 1.4 Período das Feridas Narcísicas – Já o século XIX recebe o homem- autônomo, livre, mas, sofrendo as dores da celeuma provocada pelas revoluções históricas. Os cinco baques sofridos pela humanidade nos anais de sua historia ocorreram quando: O homem não era mais um titã - (biopsíquico e mortal). O homem não era mais senhor de universo (o Sol) (Copérnico – Kepler – Galileu). O homem não era mais senhor de si mesmo (o Inconsciente) Freud. O homem não era mais o senhor da história (o Capital) Marx. O homem não era mais o centro da natureza (Evolução) Darwin. 10 2. O modelo teológico. Os primeiros pais da Igreja concordavam plenamente que a imagem de Deus no homem consistia primordialmente das características racionais e morais do homem, e em sua capacidade para a santidade; mas alguns se inclinavam a incluir também as características corporais. Irineu e Tertuliano traçaram uma distinção entre a imagem e a semelhança de Deus, vendo a primeira nas características corporais e a última na natureza espiritual do homem. Outros, porém, como Clemente de Alexandria e Orígenes, rejeitaram a idéia de qualquer analogia corporal e sustentavam que a palavra “imagem” indica as características do homem como tal, e a palavra “semelhança”, qualidades não essenciais ao homem, mas que podem ser cultivadas ou perdidas. Outros Reformadores protestantes negaram esta distinção categoricamente entre “imagem” e “semelhança” classificando isto como uma falsa dicotomia. Reformadores como Lutero e Calvino vêem aqui uma forma de paralelismo para reforçar a verdade de um importante e fundamental ensino Bíblico. Eles viram as duas palavras como formando uma só construção gramatical na qual duas palavras têm o mesmo significado. Não obstante todo apoio bíblico, não é tarefa fácil formular uma explicação teológica definitiva para a compreensão universal do conceito da imagem de Deus. Assim, nós temos que confiar em nossas próprias faculdades racionais e um pouco “santa especulação” para chegar a uma compreensão básica do assunto sem prejuízo à nossa fidelidade à Escritura. De modo geral, três categorias ou escolas de pensamento ressoam ao longo da história: a visão substantiva, a visão relacional e a visão funcional. 2.1 A Visão Substantiva Entende que a Imago Dei pode se referir a certas qualidades ou atributos do próprio Deus dentro da constituição humana. Tais faculdades podem incluir racionalidade, volição, afetos, moralidade e assim por diante. A visão substantiva tem sido o relatório de muitos teólogos ao longo da história da Igreja, se concentrando tipicamente em várias semelhanças psicológicas ou espirituais entre Deus e o homem. Na visão substantiva a razão é considerada característica singular que distingue os homens das outras criaturas. São eles classificados como Homo sapiens, o ser pensante. Nessa concepção, embora haja amplas divergências, concordam em um particular: a localização da imagem. Ela está colocada dentro dos homens; é uma qualidade ou capacidade que reside em sua natureza. 2.2 A Visão Relacional Muitos teólogos modernos não concebem a imagem de Deus como algo residente na natureza humana. Não se gastam em perguntar o que é o ser humano ou qual seria a natureza do homem. Pensam na imagem de Deus como a vivência de um relacionamento. 11 Este ponto de vista denota a concepção da chamada visão relacional. Somos a imagem ou apresentamos a imagem quando entramos em determinado relacionamento com Deus. Na realidade tal relacionamento “é” a imagem. Sobre este tema concordam Emil Brunner e Karl Barth. Seus princípios básicos foram listados por Erickson: “1. A imagem de Deus e a natureza humana são mais bem entendidas por meio do estudo da pessoa de Jesus, não da natureza humana em si; 2. Nossa compreensão da imagem é obtida da revelação divina; 3. A imagem diz respeito ao relacionamento que a pessoa tem com Deus; é algo que a pessoa experimenta. Portanto, ela é dinâmica e não estática; 4. A relação do homem com Deus, que constitui a imagem de Deus, é comparada na relação entre os humanos; 5. A imagem de Deus é universal. Está presente na humanidade pecadora. Haverá sempre um relacionamento positivo ou negativo; 6. Não se pode nem é necessário concluir qual o requisito espiritual para que haja relacionamento com Deus; Para Brunner e Barth a Imagem de Deus não é uma entidade que possuímos, mas uma experiência que está presente quando um relacionamento está em atividade”. (Eriskson – Introdução a Teologia Sistemática,1997 p. 219) 2.3 A Visão Funcional Entende essencialmente, esta visão, que a imagem de Deus trata do que a pessoa faz. Esta linha de pensamento é apoiada por textos bíblicos nos quais há registros para o agir do homem sob a perspectiva de Deus. Gênesis 1:28 - “Sede fecundos, multiplicai-vos, e enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja sobre a terra”. De acordo com a visão funcional, a imagem de Deus está presente no homem fazendo deste uma extensão do domínio de Deus. Sobre isto diz Leonard Verduin: “A idéia de ter domínio destaca-se como o aspecto central. Que o homem é uma criatura designada para ter domínio e que desse modo ele é segundo a imagem de seu Artífice – essa é a idéia principal do relato da criação dado no livro de Gênesis, o Livro das Origens”. (Eriskson – Introdução a Teologia Sistemática,1997 p. 220) Capítulo III Análise crítica dos principais modelos da imago Dei no homem. Concordam os teólogos modernos, os filósofos cristãos, os críticos da história e os autores de obras renomadas de relevante conteúdo didático elucidativo sobre o tema, que dentre os modelos da imago Dei apresentados no capítulo anterior o menos tradicional é o ponto de vista da concepção relacional. Concordam os defensores do relacionalismo que só o homem, dentre todas as criaturas, conhece a Deus e se relaciona conscientemente com Ele. Contudo, em oposição ao fundamento do ponto de vista 12 relacional, as Escrituras dão-nos subsídios para crermos na impossibilidade da dicotomização da imagem de Deus no homem, estando este ou nãoem relacionamento com Ele. A visão relacional anula a universalidade da imagem. Deixa-nos sem explicações quando tratamos da avaliação de alguém que vive em rejeição à pessoa de Deus. Não estaria esse alguém exercendo escolha? Não seriam esses traços do Criador? Característica implícita de seres humanos, não de animais? Não anularia, este ponto de vista, a doutrina da depravação total do homem que ensina que o problema do homem não está no que ele é, e sim no que diz respeito à posição que ele se encontra depois da queda? Além disso, como explicar os relacionamentos interpessoais existente apenas entre humanos, incomum para todas as demais raças criadas? Questionamentos também tem sido levantados frente ao ponto de vista da concepção funcional, uma vez que esta erra na defesa e na aplicação da hipótese proposta. Aqui é ensinado que o ato divino da criação do homem é seguido pela ordem que este deve exercer domínio. Aqui estaria o centro deste ponto de vista. Conceito firmado e escorado a partir do salmo 8:5-8: “Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus. Deste-lhe domínio sobre todas as obras da tua mão, e sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também as aves do céu e os peixes do mar, e tudo que percorre as sendas dos mares”. É fato que há implícito nas Escrituras uma profunda relação entre a imagem de Deus e o exercício do domínio, contudo, esta questão não pode ser encerrada nesses termos. Esta verdade não é absoluta para resolver a questão e não satisfaz a defesa deste ponto de vista. Afirmam a maioria dos teólogos que os homens são segundo a imagem de Deus antes deles receberem a ordem para praticar o domínio. Finalmente, temos o ponto de vista da concepção substantiva ou estrutural que tem sido predominante ao longo da história da humanidade. É fato que a Escritura não se preocupa em detalhar ou explicar ponto a ponto as qualidades que caracterizam a imagem de Deus no homem. É fato que a concepção substantiva, na defesa da visão que oferece, por vezes limita-se a um aspecto da natureza humana, e em particular, à dimensão intelectual da humanidade o que, por sua vez, implica que a imagem de Deus pode apresentar variação a cada ser humano. Quanto mais intelectual o homem, maior a dimensão da presença da imagem de Deus. Acrescenta-se a isso a questão da queda: o que teria acontecido quando o homem caiu em pecado? Tem ainda o fato de que alguns incrédulos são mais inteligentes e tem mais discernimento do que alguns cristãos. A criação divina tinha propósitos definidos. Os homens deviam conhecer, amar e obedecer a Deus. Deviam viver em harmonia uns com os outros e exercer domínio sobre o restante da criação, mas, esses relacionamentos e essa função pressupõem que esse homem seja ativo nesses relacionamentos e no exercício dessas funções, pois estaria assim cumprindo o “telos”, o propósito de Deus para ele. 13 Capítulo IV Implicações para o ministério cristão. Alguém consciente da sua vocação ministerial e da responsabilidade que lhe é conferida no tocante ao cumprimento desta, certamente é desafiado e impelido a considerar e observar o homem, objeto do seu ministério, sob todos os aspectos até aqui apresentados. Praticamente impossível não haver novas abordagens, novos valores, novos conceitos ministeriais, uma vez conhecidos os vários aspectos da imagem de Deus no homem. 1. Pertencemos a Deus. À luz da passagem de Marcos 12:13-17, parece-nos haver espaço para concordar com os teólogos que vêem ali uma referência do próprio Senhor Jesus à questão da imagem de Deus imanente no homem e não transitória: “Dêem a César o que é de César; o dinheiro carregava a imagem de César, portanto pertencia a ele; Dêem a Deus o que é de Deus; isto é, vocês mesmos. Vocês carregam a imagem e pertencem a Ele: Compromisso, devoção, amor, lealdade, serviço a Deus – todas elas são reações apropriadas para os que carregam a imagem de Deus” (Cairns, David). 2. Cristo, o modelo ideal. A plenitude da revelação da imagem de Deus está em Jesus, uma humanidade imaculada: “porque aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude” (Cl 1:19). Paulo, o apóstolo, na carta aos crentes em Roma asseverou: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8:28). O estandarte do ministério cristão deve proclamar que Deus “fará” com que estes se tornem parecidos com seu Filho Jesus. 3. O humanismo cristão. Um relacionamento correto e pleno com Deus permite, também, o experimentar da plena humanidade. Existe, portanto, lugar para o humanismo na teologia do ministério cristão, que propõe um relacionamento correto com Deus. 4. O trabalho do homem. Considerar a questão do controle e do domínio do homem sobre toda a criação como parte do propósito original de Deus para a humanidade, antes mesmo da queda, é relevante. Esse aspecto impacta a personalidade e a habilidade do homem. Diz respeito ao trabalho do homem, seu dever, suas responsabilidades. Neste sentido esse aspecto deve ser visto como dádiva de Deus, que inclui o trabalho, que é bom. 5. O valor do homem. Mesmo após a queda a vida humana é tida como sagrada. Ela carrega a imagem e semelhança do Criador. Portanto, não é próprio do homem, que é à imagem de Deus, o homicídio. Noé foi designado por Deus para decretar a pena máxima para alguém considerado homicida: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem”. Apesar da queda esse homem ainda é a imagem do Seu Criador: “Deus fez o homem 14 reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7:29); entretanto, ainda é aquele a quem Pedro se refere como sacerdote do Deus Altíssimo: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pd 2:9). Tais percepções são necessárias, imprescindíveis para o melhor entendimento do “ser humano” criado à imagem e semelhança de Deus. Essas realidades explicam melhor o homem na sua cultura, no seu contexto, nas suas crenças e valores, na sua fé, e, portanto, devem ser aplicadas ao nosso ministério, se desejamos alcançar esse alguém. Capítulo V 1. Conclusão Geral. A importância da reiteração da doutrina da Imagem de Deus homem no período pós-queda é extremamente relevante como explica Erickson: “A Imagem de Deus é universal em toda a raça humana”; “A Imagem de Deus não se perdeu em conseqüência do pecado ou, especificamente, da queda. Neste caso, a Imagem de Deus não é algo acidental ou externo à natureza humana. É algo inseparavelmente ligado à humanidade”; “Não há indicação que a Imagem de Deus esteja mais presente em maior grau numa pessoa que em outra. Dotes naturais superiores, tais como inteligência elevada, não são provas da presença ou graduação da Imagem”; “A Imagem de Deus não está relacionada com nenhuma variável. Por exemplo, não há nenhuma declaração direta que ligue a Imagem com o desenvolvimento de relações, nem que a faça depender do exercício do domínio. As declarações em Gênesis 1 simplesmente dizem que Deus resolveu fazer o homem conforme a Sua Imagem e assim fez. Isso parece anteceder qualquer atividade humana”. “A imagem diz respeito aos elementos que, na constituição dos seres humanos, permitem-lhes o cumprimento de seu destino. A imagem consiste nas aptidões da personalidade que fazem com que cada ser humano seja, como Deus, capaz de interagir com outras pessoas, pensar, e possuir livre arbítrio”. “Em face dessas considerações, a Imagem deve ser entendida como algo principalmente substantivo ou estrutural. Algo localizado na própria natureza dos homens, na maneirapela qual são formados. Ela diz respeito ao que somos, não ao que temos ou fazemos” (Eriskson – Introdução a Teologia Sistemática,1997 p. 222). Compreender a doutrina da criação do homem à Imagem de Deus não é importante apenas por razões que pertencem aos assuntos teológicos e filosóficos que confirmam e confrontam as verdades nela apresentadas. Como alguém compreende e o que faz a partir dessa crença é determinante no processo e no resultado dessa afirmação. 15 2. Questões relevantes. “O verdadeiro homem não é o que encontramos na sociedade humana. O verdadeiro homem é o ser que surgiu de Deus, intocado pelo pecado e pela queda. Na plena acepção da palavra, os únicos seres humanos verdadeiros foram Adão e Eva antes da queda, e Jesus” (Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, 1997, p.215). Na ótica da Palavra de Deus entendemos que Ele não precisa de nós e nem tão pouco do restante de Sua criação. Daí a questão levantada por muitos: por que então ele nos teria criado? O homem foi criado por Deus para glorificar a Deus. Quando Deus se refere a seus filhos e suas filhas nas extremidades da terra, Ele diz: “que criei para minha glória” (Is 43: 7, Ef 1:11,12), “portanto devemos fazer tudo para a glória de Deus” (1Co 10:31). Só a Bíblia pode completar o famoso “Cogito” de Renê Descartes: “se penso logo existo”, respondendo o porque nós existimos. Herodes Agripa I, depois de aceitar o clamor da multidão que dizia “é a voz de um deus e não de homem” (At 12:22) no mesmo instante um anjo do Senhor o feriu por não haver dado glória a Deus; e foi comido de vermes. 3. Modelo bíblico da natureza e fim do homem à imagem de Deus. O homem em Cristo recupera sua imagem original. “Assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do que é celestial” (1 Co 15:49). No Novo Testamento, enfatiza-se que o objetivo de Deus ao criar o homem à sua imagem se realizou completamente na pessoa de Jesus Cristo: “o primeiro Adão foi feito alma vivente, o último Adão, porém, é espírito vivificante” (1Co 15:45); “o primeiro homem formado da terra é terreno, o segundo homem é do céu, conforme a imagem de seu filho” (Rm 8:29); “quando ele se manifestar seremos semelhantes a ele” (1 Jo 3:2). Em Cristo o homem voltará para o seu perfeito habitat. “As boas novas do evangelho de Cristo oferecem o único remédio satisfatório. Não existe nada mais, nada melhor e nada além. O evangelho remidor de Cristo é definitivo. Não podemos melhorar este evangelho, que é capaz de transformar a vida de indivíduos. Ele resolve a questão do destino do homem, que é o problema fundamental da existência humana. Resolve o problema antropológico. Resolve os problemas filosóficos, esclarecendo-nos de onde viemos, porque estamos aqui e para onde estamos indo” (Billy Graham, Deus não está longe, 1977). 4. Palavras finais. O que resta é uma avaliação do pensamento bíblico filosófico cristão, uma vez consciente que somos a imagem de Deus, dotados de atributos Seus. “Não significa, porém, que o homem já tinha alcançado o mais elevado estado de excelência de que era suscetível. Estava ainda destinado a alcançar o mais elevado estado de perfeição pela obediência” (Berkhof – Teologia Sistemática, 1998, p.209). Afinal, “a imagem foi reduzida a algo grotesco. Não foi perdida, apenas terrivelmente desfigurada” (Crabb, 16 Larry. Como compreender as pessoas, 2003). Como cristãos não podemos esmorecer nas veredas da razão, pelo contrário, é nosso dever trabalhá-la em prol do cristianismo. Não se pode perder de vista que a filosofia sempre caminha na direção da razão, do pensar, do encontrar respostas e, ainda que essencialmente movido pela fé cristã, sustentáculo de toda e qualquer doutrina da Igreja, Jesus legou-nos um cristianismo lógico e racional, como declarou o grande apóstolo Paulo: “Eu sei em quem tenho crido e sei que Ele é poderoso, suficiente e capaz para guardar o meu tesouro...” (2 Tm 12). “Todo ser humano é criatura de Deus feita à imagem de Deus. Deus dotou cada um de nós com as aptidões de personalidade que nos possibilitam louvar e servir ao Criador. Quando usamos essas aptidões para esses fins, somos, de modo mais pleno, o que Deus queria que fôssemos. É então que somos mais completamente humanos” (Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, 1997, p.226). Em toda Bíblia o homem é considerado um portador caído da imagem de Deus, marcado tanto pela dignidade (imagem) quanto pela depravação (queda). Então, a conclusão que chegamos é que se quisermos ter uma compreensão adequada das pessoas, devemos levar em conta tanto a beleza da dignidade quanto o horror da nossa depravação. Concluo este trabalho orando ao Senhor para que Ele nos dê discernimento espiritual para que, como Igreja de Jesus, líderes, educadores e pastores, no meio de uma geração massificada por um mundo desprovido de valores, ética e princípios verdadeiros e eternos, não sejamos omissos, irrelevantes, alienados ao curso natural da história. 17 Bibliografia BERKROF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Luz Para o Caminho, 1998. CHAMPLIN, Russell N. O Antigo Testamento Interpretado. vol. 1, 2ª Edição, São Paulo: Editora Hagnos, 2001. CRABB, Larry. Como Compreender as pessoas. São Paulo: Editora Vida, 2003. CUNHA, Jonatas Francisco. Anjos que Caíram. São José dos Campos: Edição do Autor, 1997. ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. GUERREIRO, Silas. Antropos e Psique. (O outro e sua subjetividade). São Paulo: Editora Olho d’Água, 2000. MOUDIN, Batista. Curso de Filosofia. São Paulo: Edições Paulinas, 1981. PASSADOR, Luiz Henrique, O Campo da Antropologia. (Material Apostilado do Autor – Professor de Antropologia – Universidade Paulista), São Paulo. RYRIE, C. Caldwell. A Bíblia Anotada. São Paulo: 1ª Edição, 1991, Editora Mundo Cristão. SAYÃO, Luiz Alberto Teixeira. Cabeças Feitas. São Paulo: Editora Hagnos, 2003. 1973.
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