Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FLEXÃO SIMPLES DE SEÇÕES RETANGULARES DE CONCRETO AMADO COM ARMADURA SIMPLES – DIMENSIONAMENTO DE SEÇÃO RETANGULAR À FLEXÃO INTRODUÇÃO O cálculo da armadura necessária para resistir a um momento fletor (que causa tensões normais nas seções em que atua) é um dos pontos mais importantes no detalhamento das peças de concreto armado. O dimensionamento é feito no estado-limite último de ruína, impondo que na seção mais solicitada sejam alcançadas as deformações-limites específicas dos materiais, ou seja, o estado-limite-último pode ocorrer tanto pela ruptura do concreto comprimido quanto pela deformação excessiva da armadura tracionada. O momento fletor que a seção é capaz de resistir é γ vezes maior que aquele que poderá vir realmente a atuar. Tal discussão sobre qual valor de ϒ deve ser usado e como obtê-lo é feita na norma NBR 8681 (2003). O estudo das seções de concreto armado tem por objetivo comprovar que, sob solicitações (efeitos das ações) de cálculo, a peça não supera os estados-limite, supondo que o concreto e o aço tenham, como resistências reais, as resistências características minoradas (resistências de cálculo). Assim, as solicitações de cálculo são aquelas que, se alcançadas, levarão a estrutura a atingir um estado-limite, caracterizando sua ruína. Na NBR 6118:2003, os conceitos e as condições de segurança são referidos na seção 10, “Segurança e estado-limite”, na seção 11, “Ações”, e na seção 12, “Resistências”. Os critérios de segurança foram estabelecidos com base na NBR 8681:2003: “Ações e segurança nas estruturas” TIPOS DE FLEXÃO O momento fletor causa flexão nos elementos estruturais, e nas seções transversais desses elementos surgem tensões normais (perpendiculares á seção). Há diversos tipos de flexão, sendo preciso identificar cada um deles para que seja possível calcular esses elementos. Apresentam-se, a seguir, o conceito de cada um dos tipos: a) Flexão normal (simples ou composta): ocorre quando o plano do carregamento ou da sua resultante é perpendicular à linha neutra (LN) – linha da seção transversal em que a tensão é nula, ou seja, quando o plano contém um dos eixos principais de inércia da seção; nesse caso, em seções simétricas (um eixo de simetria é sempre um eixo principal de inércia), o momento fletor atua no plano de simetria. Flexão Normal simples b) Flexão obliqua (simples ou composta): ocorre quando o plano de carregamento não é normal à linha neutra à linha neutra; ou quando o momento fletor tem uma componente normal ao plano de simetria; ou, ainda, quando a seção não é simétrica, pela forma ou por suas armaduras. Flexão Normal simples Pilar de borda – visualização em 3D Pilar de borda – visualização em planta c) Flexão pura: corresponde a um caso particular de flexão (simples ou composta), em que não há esforço cortante atuante (V=0); nas regiões da viga em que isso ocorre, o momento fletor é constante (figura 2 – do ponto B ao C). d) Flexão não pura: ocorre quando há esforço cortante atuando na seção; momento fletor variável (figura 2 – do ponto A ao B e do B ao D) Nas vigas, geralmente o esforço normal é desprezível (com exceção das vigas protendidas) e, dessa forma, serão consideradas inicialmente apenas as flexões normal, simples e pura, em que N=0 e V=0. PROCESSO DE COLAPSO DE VIGAS SOB TENSÕES NORMAIS Esteja uma viga de concreto armado simplesmente apoiada, figura 1, sujeita a um carregamento crescente que causa flexão pura na região central (V=0 e M=cte); na seção central, a viga é submetida a um momento fletor M crescente, que varia de zero até um valor que leve ao colapso. A seção transversal central da viga de concreto armado, retangular neste caso, figura 4, submetida a um momento fletor M crescente, passa por três níveis de deformação, denominados estádio, os quais determinam o comportamento da peça até sua ruína. Na figura 4 estão representadas as deformações e tensões no aço e no concreto, assim como as resultantes dessas tensões. P a a a P P P Figura 1 – esquema estrutural P ∙ a P ∙ a Figura 2 - DMF B C A D P + − P Figura 3 - DEC Figura 4 Pode-se caracterizar, então, os três estádios de deformação de uma viga de concreto na flexão normal simples: a) Estádio I (estado elástico) – sob ação de um momento fletor M1 de pequena intensidade, a tensão de tração no concreto não ultrapassa sua resistência característica à tração (ftk): Diagrama de tensão normal ao longo da seção é linear; As tensões nas fibras mais comprimidas são proporcionais às deformações, correspondendo ao trecho linear do diagrama tensão-deformação do concreto; e Não há fissuras visíveis. b) Estádio II (estado de fissuração) – aumentando o valor do momento fletor para MII, as tensões de tração na maioria dos pontos abaixo da linha neutra (LN) terão valores superiores ao da resistência característica do concreto à tração (ftk): Considera-se que apenas o aço passa a resistir aos esforços de tração; Admite-se que a tensão de compressão no concreto continua linear; e As fissuras de tração no concreto na flexão são visíveis e aproximadamente perpendicular à direção das tensões principais de tração, ou seja, a inclinação das fissuras depende da inclinação das tensões principais de tração. Por esta razão, nas regiões de flexão pura, as fissuras são verticais. c) Estádio III – aumenta-se o momento fletor até um valor próximo ao de ruína (Mu): A fibra mais comprimida do concreto começa a escoar a partir da deformação específica de 0,2% (2,0‰ – dois milímetros por metro), chegando a atingir, sem aumento de tensão, 0,35% (3,5‰ – três milímetros e meio por metro); Diagrama de tensões tende a ficar vertical (uniforme), com quase todas as fibras trabalhando com sua tensão máxima, ou seja, praticamente todas as fibras atingem deformações superiores a 2‰ (item 8.2.10.1 e figura 8.2 da NBR 6118:2003); A peça está bastante fissurada, com as fissuras se aproximando da linha neutra, fazendo com que sua profundidade diminua e, consequentemente, a região comprimida de concreto também; e Supõe-se que a distribuição de tensões no concreto ocorra segundo um diagrama parábola-retângulo, figura 4. Pode-se dizer, simplificadamente, que: Estádios I e II → correspondem às situações de serviço (quando atuam as ações reais); Estádio III → corresponde ao estado-limite último (ações majoradas; resistências minoradas), que só ocorre em situações extremas. O cálculo de dimensionamento das estruturas de concreto armado será feito no estado-limite último (Estádio III), pois seu principal objetivo é projetar estruturas que resistam aos esforços de forma mais econômica, sem chegar ao colapso. HIPÓTESES BÁSICAS PARA O CÁLCULO As hipóteses para o cálculo no estado-limite último de elementos lineares sujeitos a solicitações normais estão no item 17.2.2 da NBR 6118:2003. a) As seções transversais permanecem planas após o início da deformação até o estado- limite último; as deformações são, em cada ponto, proporcionais à sua distância até a linha neutra da seção (hipótese de Bernoulli). b) Solidariedade dos materiais: admite-se solidariedade perfeita entre o concreto e a armadura; dessa forma, a deformação específica de uma barra da armadura, em tração ou compressão, é igual à deformação específica do concreto adjacente. c) As tensões de tração no concreto, normais à seção transversal, são desprezadas. d) A ruína da seção transversal (peça sob açõesmajoradas e materiais com resistências minoradas fcd e fyd), para qualquer tipo de flexão no estado-limite último, fica caracterizada por deformações específicas de cálculo do concreto (εc), na fibra menos tracionada, e do aço (εs), próximas à borda mais tracionada, em que uma delas ou ambas atingem os valores últimos (máximos) das deformações específicas desses materiais. Os diversos casos possíveis de distribuição das deformações do concreto e do aço na seção transversal definem os domínios de deformação. e) Encurtamentos últimos (máximos) do concreto: no estádio-limite último, o encurtamento específico de ruptura do concreto vale: εcu = 3,5∙10 -3 (3,5‰) nas seções não inteiramente comprimidas (flexão); e εcu = 2,0∙10 -3 (2,0‰) a 3,5∙10-3 (3,5‰) nas seções inteiramente comprimidas. f) Alongamento último das armaduras: o alongamento máximo permitido ao longo da armadura tracionada é de: εcu = 10,0∙10 -3 (10,0‰), para prevenir deformações plásticas excessiva. g) A tensão nas armaduras é obtida a partir dos diagramas tensão versus deformação, com valores de cálculo definidos em tabela. h) Admite-se que a distribuição de tensões no concreto seja feita de acordo com o diagrama parábola-retângulo, figura 4, com base no diagrama tensão-deformação simplificado do concreto, com tensão máxima igual a 0,85∙fcd. O diagrama parábola- retângulo é composto por uma parábola do 2º grau, com vértice na fibra correspondente à deformação de compressão de 2,0‰ e um trecho reto entre as deformações, 2,0‰ e 3,5‰. Permitida a substituição do diagrama parábola-retângulo por um retângulo de altura 0,8∙x, em que x é a profundidade da linha neutra, com a seguinte tensão: 0,85 ∙ 𝑓𝑐𝑑 = 0,85∙𝑓𝑐𝑘 𝛾𝑐 → zonas comprimidas de largura constante, ou crescente, no sentido das fibras mais comprimidas, a partir da linha neutra; e 0,80 ∙ 𝑓𝑐𝑑 = 0,80∙𝑓𝑐𝑘 𝛾𝑐 → zonas comprimidas de largura decrescente no sentido das fibras mais comprimidas, a partir da linha neutra No trecho de altura 0,2∙x, a partir da linha neutra, no diagrama retangular, as tensões de compressão no concreto são desprezadas; trecho restante (0,8∙x), a distribuição de tensões é uniforme. Figura 5 – diagrama tensão-deformação Observa-se que a tensão de compressão do concreto adotada no diagrama é de 0,8 ou 0,85 de fcd. Por que ocorre uma nova redução do valor da resistência, uma vez que fcd já é uma redução de fck (fcd = fck/ϒc)? Há dois motivos: 1) O primeiro corresponde ao modo como é obtido o valor de fck: o ensaio é feito com um corpo de prova cilíndrico, e, mesmo tendo-se o cuidado de colocar películas de material antiaderente para diminuir o atrito entre os pratos da prensa e as faces do corpo de prova, ele não é eliminado. Havendo o ATRITO nas extremidades do corpo de prova, estas seções, assim como as adjacentes, ficam impedidas de se deformar horizontalmente, resultando em um estado triplo de tensões e AUMENTANDO ARTIFICIALMENTE A RESISTÊNCIA DO CONCRETO. Trata-se de um princípio estabelecido por Saint Venant, que indica que o tipo de uma ação (concentrada ou parcialmente distribuída) só é sentido em seções cuja distância da seção de aplicação seja, no máximo, igual à menor dimensão desta última, ou seja, há impedimento em relação à deformação junto às faces extremas do corpo de prova, e este efeito é sentido até a altura de um diâmetro do corpo de prova a partir de cada face. Figura 6 Figura 7 2) O segundo motivo é que o concreto tem uma RESISTÊNCIA MAIOR PARA CARGAS APLICADAS RAPIDAMENTE, o que ocorre com os ensaios para a determinação da resistência à compressão, e as peças de concreto, na prática, estão submetidas a cargas permanentes que atuam durante toda a vida da estrutura. OBS.: à medida que o tempo aumenta, a resistência à compressão do corpo de prova, sob carga permanente, diminui (eleito Rüsch). NOMENCLATURA Grandezas envolvidas no cálculo d - Altura útil: distância entre o centro de gravidade da armadura longitudinal tracionada até a fibra mais comprimida de concreto; d’ - Distância entre o centro de gravidade da armadura longitudinal comprimida e a face mais próxima do elemento estrutural (fibra mais comprimida de concreto); MSd – Momento fletor solicitante de cálculo na seção (será designado Md): no dimensionamento, quando há um só tipo de carga acidental, é obtido multiplicando o memento em serviço (atuante) pelo coeficiente de ponderação ϒf. MRd – Momento fletor resistente de cálculo (calculado com fcd e fyd): máximo momento fletor que a seção pode resistir (deve-se ter sempre MSd ≤ MRd). bw – Largura da seção transversal de vigas de seção retangular ou da nervura (parte mais estreita da seção transversal), também chamada de alma das vigas de seção em forma de “T” h – Altura total da seção transversal de um peça. z – Braço de Alavanca: distância entre o ponto de aplicação da resultante das tensões normais de compressão no concreto até o da resultante das tensões normais de tração no aço (distância entre o centro de gravidade da armadura de tração e o centro de gravidade da região comprimida do concreto). Figura 7 x – Altura (profundidade) da linha neutra: distância da borda mais comprimida do concreto até o ponto que tem deformação e tensão nulas (distância da linha neutra ao ponto de maior encurtamento da seção transversal de uma peça fletida). y – altura da linha neutra convencional: altura do diagrama retangular de tensões de compressão no concreto na seção transversal de uma peça fletida. É uma idealização que simplifica o equacionamento do problema e conduz a resultados bem próximos daqueles que seriam obtidos com o diagrama parábola-retângulo (y=0,8∙x). DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÃO NA SEÇÃO TRANSVERSAL A ruína da seção transversal para qualquer tipo de flexão no estado-limite último é caracterizada pelas deformações específicas de cálculo do concreto e do aço, que atingem (uma delas ou ambas) os valores últimos (máximos) das deformações específicas desses materiais. Os conjuntos de deformações específicas do concreto e do aço, ao longo de uma seção transversal retangular com armadura simples (só tracionada) submetida a ações normais, definem seis domínios de deformação, esquematizados na figura 8. Os domínios representam as diversas possibilidades de ruína da seção; a cada par de deformações específicas de cálculo, εc e εs correspondem a um esforço normal, se houver, e a um momento fletor atuantes na seção. Para determinar a resistência de cálculo de uma dada seção transversal, é preciso saber primeiramente em qual domínio está situado o diagrama de deformações específicas de cálculo dos materiais (aço e concreto) Figura 8 A reta a e os domínios 1 e 2 correspondem ao estado-limite último por deformação plástica excessiva (aço com alongamento máximo); domínios 3, 4, 4a, 5 e reta b correspondem ao estado-limite último por ruptura convencional (ruptura do concreto por encurtamento-limite). a) Domínio 1 – tração ão-uniforme, sem compressão Início: εs = 10‰ e εc = 10‰; x = - ∞ → reta a → tração uniforme Término: εs = 10‰ e εc = 0; x = 0; O estado-limite último é caracterizado pela deformação εs = 10‰; A reta de deformação gira em torno do ponto A (εs = 10‰); A linha neutra é externa à seção transversal; A seção resistente é composta por aço, não havendo participação do concreto, que se encontra totalmentetracionado e, portanto, fissurado; e Tração simples (a resultante das tensões atua no centro de gravidade da armadura – todas as fibras têm a mesma deformação de tração – uniforme, reta a) ou tração composta (tração excêntrica – não uniforme -; as deformações de tração são diferentes em cada fibra) em toda a seção. b) Domínio 2 – flexão simples ou composta Início: εs = 10‰ e εc = 0; x1 = 0; Término: εs = 10‰ e εc = 3,5‰; x = x2; O estado-limite último é caracterizado pela deformação εs = 10‰ (grandes deformações; O concreto não alcança a ruptura (εc < 3,5‰); A reta de deformação continua girando em torno do ponto A (εs = 10‰) A linha neutra corta a seção transversal (tração e compressão); e A seção resistente é composta por aço tracionado e concreto comprimido c) Domínio 3 – flexão simples (seção subarmada)ou composta Início: εs = 10‰ e εc = 3,5‰; x = x2 = 0,259∙d; Término: εs = εyd (deformação específica de escoamento do aço) e εc = 3,5‰; x = x3; O estado-limite último é caracterizado pela deformação εc = 3,5‰ (deformação de ruptura do concreto); O concreto não alcança a ruptura (εc < 3,5‰); A reta de deformação gira em torno do ponto B (εc = 3,5‰); A linha neutra corta a seção transversal (tração e compressão): na fronteira entre os domínios 3 e 4, sua altura (x = x3) é variável com o tipo de aço; A seção resistente é composta por aço tracionado e concreto comprimido; A ruptura do concreto ocorre simultaneamente ao escoamento da armadura: situação ideal, pois os dois materiais atingem sua capacidade resistente máxima (são aproveitados integralmente); A ruína ocorre com aviso (grandes deformações); e As peças que chegam ao estado-limite último no domínio 3 são denominadas “subarmadas” (ou normalmente armadas na fronteira entre os domínios 3 e 4). d) Domínio 4 – flexão simples (seção superarmada) ou composta Início: εs = εyd e εc = 3,5‰; x = x3; Término: εs = 0 e εc = 3,5‰; x = x4 = d; O estado-limite último é caracterizado por εc = 3,5‰ (deformação de ruptura do concreto); A reta de deformação continua girando em torno do ponto B (εc = 3,5‰); A linha neutra corta a seção transversal (tração e compressão); No estado-limite último, a deformação da armadura é inferior a εyd (não atinge a tensão de escoamento); A seção resistente é composta por aço tracionado e concreto comprimido; A ruptura do concreto é frágil, sem aviso, pois o concreto se rompe sem que a armadura atinja sua deformação de escoamento (não á grandes deformações do aço nem fissuração do concreto que sirvam de advertência); e As peças que chegam ao estado-limite último no domínio 4 são denominadas “superarmadas” e são antieconômicas, pois o aço não é utilizado com toda sua capacidade resistente; assim, se possível, devem ser evitadas(ou normalmente armadas na fronteira entre os domínios 3 e 4). e) Domínio 4a – flexão composta com armaduras comprimidas A seção resistente é composta por aço e concreto comprimidos; A ruptura do concreto é frágil, sem aviso, pois o concreto se rompe com encurtamento da armadura (não há fissuração nem deformação que sirvam de advertência) f) Domínio 5 – compressão não uniforme, sem tração A seção resistente é composta por aço e concreto comprimidos; Compressão simples (uniforme, na reta b) ou composta (excêntrica); A ruptura do concreto é frágil, sem aviso, pois o concreto se rompe com encurtamento da armadura (não há fissuração nem deformação que sirvam de advertência).
Compartilhar