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NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE CÃES E GATOS Flávia Maria de Oliveira Borges Médica Veterinária, MSc., Doutora em Nutrição Animal Professora adjunta da UFLA – Departamento de Zootecnia e-mail: borgesvet@yahoo.com 1- INTRODUÇÃO Os animais de estimação, mesmo sem códigos de comunicação verbal com o homem, exceto as manifestações de afeto, conquistam lugar na sociedade de consumo de massas só pelo fato de necessitarem e exigirem cuidados especiais. No mundo globalizado, o mercado dos bichos de companhia também é sinônimo de lucros, representando uma movimentação de até então estimados US$ 30 bilhões por ano. Nesse montante, as rações ficariam com 47% e os serviços veterinários com 26%. Atualmente, existem no Brasil cercas de 25 milhões de cães e 11 milhões de gat 16 animais para cada 100 habitantes, entretanto apenas 28% deles recebem alimentos industrializados. Até 10 anos atrás o mercado de alimentos para animais de companhia no Brasil era inexpressivo. Segundo a ANFAL-pet (Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais) em 1998 o segmento de alimentos para cães e gatos movimentou US$ 800 milhões/ano com a venda de 750 mil toneladas. Naquele ano o mercado brasileiro de rações animais girava em torno de 35 milhões de toneladas com faturamento global de US$ 6,2 bilhões. Os gatos representavam 2,5% do mercado, em volume, entretanto participavam com 12,9% da receita do setor. De acordo com Salvador et al (2002) a previsão da ANFAL é que para 2002 este mercado chegue a 1300 mil toneladas. 380 420 550 750 950 1000 1175 1300* 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 Al im en to s ( 10 00 to n.) 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Produção de Alimentos Industrializados para Cães e Gatos (Fonte: ANFAL apud Salvador et al, 2002) Para Yabiku (sem data), o mercado de alimentação de animais de companhia pode ser mais bem trabalhado, mesmo que o crescimento tenha sofrido um ligeiro declínio. Antes de 1998 o crescimento era de 15% ao ano. A previsão é que o crescimento até 2002 seja entre 3 e 5%, com previsões otimistas de 7%. Alguns setores vêm se destacando, como alimentos para gatos (crescimento de 300% de nos últimos cinco anos), alimentos de alta qualidade (denominados “prêmio” e “superprêmio”) e alimentos específicos para determinadas doenças ou condições especiais. Neste segmento a presença de profissionais como veterinários, zootecnistas, engenheiros de alimentos e outros é prioritária. 2 O crescimento no setor de alimentos para cães e gatos abre uma importante frente de trabalho para profissionais da área especializados em nutrição. Para tal tarefa estes profissionais devem ter conhecimentos dos aspectos nutricionais de cães e gatos nas diversas etapas fisiológicas, além de conhecimentos em alimentos e manejo alimentar, processamento industrial e controle de qualidade (como por exemplo, o Housekeeping-5S, as Boas Práticas de Fabricação - BPF, a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle -APPCC etc). Mesmo para os profissionais que não atuam no mercado de alimentos, mas que trabalham com animais de companhia, existe a necessidade do conhecimento de todos os aspectos relacionados à nutrição, inclusive com o objetivo de complementação nas áreas de clínica e cirurgia, como dietas pré e pós-cirúrgicas. Um clínico deve saber identificar desordens de origem nutricional e adequar a nutrição dos cães, lembrando que a mesma pode ser distinta para animais de companhia, guarda, esporte, etc. Na nutrição de cães e gatos é importante atentar para alguns aspectos bastante específicos. Ao contrário de outras produções animais, como a avicultura ou suinocultura, ainda que a alimentação tenha uma grande importância e seja uma das principais preocupações do criador ou proprietário, seu custo assume um papel secundário. Em um questionário realizado pela internet em um grupo de discussão entre proprietários de cães e gatos, mais de 90% deles gastam mais que 500,00 reais anuais com alimentação, fora os cuidados de higiene, serviços veterinários e outros. Os dois objetivos básicos são a longevidade e o bem estar de seus animais. Estes dois propósitos normalmente conduzem os proprietários a um erro primário no manejo alimentar; uma superalimentação. Até pouco tempo não se preocupava com problemas de obesidade em cães e gatos; a nutrição era baseada em requisitos nutricionais das espécies com valores superestimados. Além disso, a maioria dos animais de companhia sofre com a ociosidade, devido a uma grande concentração dos mesmos nos centros urbanos, particularmente em apartamentos . Nesse caso pode-se considerar que o grande problema nutricional em animais de companhia é a superalimentação. A outra questão a ser considerada em cães com respeito à nutrição é a diversidade de raças, com uma gama de pesos (entre 1,0 a 100 kg) com padrões de crescimentos distintos e, conseqüentemente, requisitos nutricionais e manejos alimentares diferentes. Finalmente, embora os alimentos para cães e gatos possam ser agrupados dentro de um mesmo seguimento, eles apresentam características muito distintas determinadas basicamente pelas diferenças nas exigências nutricionais e nos hábitos alimentares de cada uma destas espécies. 2. DIFERENÇAS ENTRE CANÍDEOS E FELINOS O gato doméstico (Felis catus) pertence a ordem Carnívora, a superfamília Feloidea e a família Felídea. Já o cão (Canis familiaris), embora da classe Mammalia e ordem Carnívora, da mesma forma que o gato, encontra-se na superfamília Canoideia. A superfamília Canoideia inclui famílias com diferentes hábitos alimentares; os Ursídeos (ursos) e os Procionídeos (texugo) são famílias com animais onívoros, mas espécies da família Alurídea (pandas) são estritamente herbívoras. As espécies carnívoras incluem, entre outras, os Canídeos (cães) e os Mustelídeos (doninhas). Já a superfamília Feloidea inclui três famílias estritamente carnívoras: os Viverídeos (lemur), os Hyaenideos (hienas) e os Felídeos (gatos). 3 Enquanto que a História evolutiva do cão sugere uma dieta mais onívora na natureza, a história do gato indica que esta espécie consumia uma dieta a base de carne através de seu desenvolvimento evolutivo. Tabela 1 - Diferenças nutricionais entre cães e gatos NUTRIENTE DIFERENÇAS Carboidratos Os felinos possuem um metabolismo único para a glicose (maior semelhança ao metabolismo de ruminantes que ao de canídeos). Os cães, fisiologicamente e metabolicamente, possuem uma melhor adaptação a carboidratos que os carnívoros restritos (felinos). Deste ponto de vista pode ser considerado um onívoro. Os gatos possuem menor tolerância a carboidratos na dieta - não possuem amilase salivar e possuem pouca amilase pancreática. Proteína e aminoácidos Os felinos possuem um maior requisito protéico que os cães. A dieta natural dos gatos, rica em proteína e pobre em carboidratos, levou a adaptação dos sistemas enzimáticos do fígado. Estes apresentam uma alta conversão de aminoácidos em glicose, fazendo com que a necessidade protéica dos gatos seja maior que a dos cães em 50% para o crescimento e o dobro para manutenção de adultos. Os gatos têm requisitos dietéticos de taurina, um aminoácido que não é incorporado à cadeia protéica, sendo essencial para o funcionamento do miocárdio (músculo do coração) e da retina. Diferente dos demais mamíferos domésticos, o gato não a sintetiza em quantidades suficientes, devendo estar presente em suas dietas. Sua deficiência leva a degeneração da retina, cegueira e doença cardíaca. Os felinos são inaptos naconversão do aminoácido triptofano a niacina (vitamina do complexo B). Suas necessidades de niacina são 4 vezes maiores que a dos cães. Sua deficiência causa perda de peso e apetite e úlceras na cavidade oral e língua. Além disso os felinos são extremamente sensíveis a deficiência de arginina, diferente dos cães. Lipídeos Os felinos não têm uma enzima necessária para a conversão do ácido graxo essencial linoléico em araquidônico, o que é possível nos cães Este ácido graxo é um dos constituintes da membrana celular. Sua deficiência leva a problemas reprodutivos, dermatite, pele hiperplásica, paraqueratose, hemorragia subcutânea, etc. As dietas para felinos devem apresentar este ácido graxo e, na prática, significa que rações para gatos devem apresentar gordura animal em sua composição. Vitaminas Os gatos são inaptos para a conversão de -caroteno (presente nas plantas) em vitamina A, necessitando de uma fonte de vitamina A pré-formada na dieta., ao contrário dos cães. A piridoxina, também conhecida como vitamina B6, participa do metabolismo das proteínas. A necessidade de piridoxina nos gatos é quatro vezes maior do que em cães, devido ao alto metabolismo protéico dos felinos. A deficiência desta vitamina leva a anemia, parada do crescimento, lesões renais irreversíveis e convulsões. 4 3. NECESSIDADES NUTRICIONAIS DOS CÃES E GATOS Os nutrientes necessários para os cães são semelhantes aos dos outros animais superiores e são classificados e agrupados de acordo com sua natureza química e biológica: proteínas, lipídeos, carboidratos, elementos minerais e vitaminas. Metabolicamente também se deve considerar como nutrientes o oxigênio e a água. A proteína tem dupla função, que seria o fornecimento de aminoácidos para a formação de tecidos e também o fornecimento de energia. Já os carboidratos têm como função principal o fornecimento de energia, assim como os lipídeos. Tanto as proteínas, quanto carboidratos e lipídeos, vão entrar nos ciclos metabólicos, em rotas variadas, produzindo substâncias intermediárias iguais ou distintas. Muitos destes produtos serão oxidados em CO2 e H2O produzindo nestes processos ATPs (Adenosina Trifosfato). Com relação aos minerais, pode-se dizer que desempenham as mais diversas funções, podendo ser divididos, de acordo com sua quantidade nos tecidos animais, em macro e micronutrientes. Já as vitaminas não são homogêneas quimicamente, mas podem ser agrupadas de acordo com suas funções, uma vez que quimicamente podem ser consideradas como proteínas, carboidratos ou lipídeos. 3.1. Água A necessidade teórica seria de 1 a 2 cm 3 de água para cada kcal de energia metabolizável ingerida, para manutenção. Na prática, pode-se considerar 3 - 4 vezes a quantidade de matéria seca ingerida. O consumo pode ser afetado por vários fatores entre os quais o exercício, temperatura e umidade relativa do ar, estádio fisiológico (lactação), condições patológicas (febre, diarréia e vômito), tipo de dieta, etc. Sabe-se que os gatos apresentam uma capacidade de concentrar a urina como um meio para economizar água, capacidade aparentemente herdada de seus ancestrais desérticos que desenvolveram essa característica como estratégia de adaptação às condições áridas. Dessa forma, os gatos ainda hoje são hábeis em sobreviver e proliferar em ambientes adversos, como, por exemplo, o deserto australiano. Além disso os gatos aproveitam melhor a água metabólica, isto é, água originada dos alimentos. A ingestão de água é soma da água de bebida, água dos alimentos e água metabólica (oxidação metabólica dos nutrientes-1 g de água é obtida da oxidação de 1,4 g de proteína, 1,7 g de carboidratos e 0,9 g de lipídeos). A água metabólica responde somente por 5 a 10% das necessidades diárias de manutenção dos cães, entretanto pode corresponder, juntamente com a água do alimento, a 80% das necessidades dos felinos, principalmente daqueles que vivem em ambientes desérticos. Os gatos apresentam uma capacidade compensatória, mediante o consumo de água voluntária, em resposta às modificações do conteúdo de água do alimento, menos precisa e menos rápida que os cães. De forma similar, sua resposta à sede para hidratação quando aumenta a temperatura ambiental é menos efetiva que em cães. Isto quer dizer que ainda que exista muito calor ou que o alimento seja seco, os gatos tomarão a mesma quantidade de água que em outras condições, o 5 que faz com que esta espécie seja mais susceptível à Síndrome Urológica Felina pela formação muito concentrada da urina. 3.2. Energia Em qualquer dieta o nível energético deve ser uma das principais preocupações. Ele regula a quantidade de ingestão do alimento e, portanto, todos os outros nutrientes devem estar balanceados de acordo com a densidade energética do alimento a ser fornecido. Para cães e gatos, tanto os requisitos energéticos como valor energético dos alimentos, se expressam em energia metabolizável (EM). Isto porque, sendo carnívoros, as perdas energéticas pela urina são muito importantes. 3.2.1. Necessidades energéticas dos cães e gatos As necessidades energéticas dos cães, como em outras espécies animais, se calculam segundo seu peso metabólico; entretanto, ao contrário de outras espécies animais, o peso metabólico dos cães se calcula como o peso vivo elevado a una potencia diferente a 0,75. O National Research Council – NRC (1985) utiliza a potência 0,88 (PM = PV0,88), e a Association of American Feed Control Officials (AAFCO) utiliza a potência 0,67 (PM = PV 0,67 ). No NRC (1974) adotava-se a equação de Brody (132 xPV 0,73 ) para estimar o consumo de energia para cães, entretanto sugestões de que esta equação atenderia bem para predições entre espécies diferentes (inter-espécies) mas não se adequaria para grandes variações dentro de uma mesma espécie (intra-espécies) levou a uma modificação no NRC de 1985, com a adoção da formula de Thonney (1983) onde Y = 100 PV 0,88 ou Y = 144 = 62,2 PV. Além destas equações outra foi proposta por Heusner (1982), tornando mais suave a inclinação no aumento do consumo de energia determinado em cães entre 1,0 e 100 kg, onde Y = 140 a 160 PV 0,67 para um cão adulto em manutenção. Todas estas equações são genéricas e não podem consideradas como exatas para a predição dos requisitos absolutos dos cães em energia, uma vez que as necessidades variam com a idade, atividade, condição corporal, temperatura, aclimatação, tipo de pelo (curto, longo), temperamento, etc. Como pode ser observado na tabela 2, os resultados da predição das diversas equações podem ser muito distintos, principalmente em cães de raças grandes. Neste caso, a escolha deveria ser feita com bom senso e criteriosamente. Por exemplo: animais criados em áreas extensas, com possibilidade de movimentação, ou animais sangüíneos - equação linear de Thonney (tanto para raças grandes ou pequenas). Animais linfáticos, criados em áreas confinadas, com vida sedentária - equação de Heusner para raças grandes e a equação alométrica de Thonney para raças pequenas. De qualquer modo, a utilização das equações é mais recomendável que a predição do consumo baseado simplesmente no peso vivo. 6 Tabela 2 - Necessidades recomendadas de energia para cães adultos em manutenção (Kcal EM/dia) segundo as fórmulas utilizadas nos NRC de 1974 e 1985 e pela AAFCO. PESO (Kg) NRC (1974) (132 PV 0,75 ) THONNEY (1983) (100 PV 0,88 ) THONNEY (1983) (144 + 62,2 PV) NRC (1985)e AAFCO (159 PV 0,67 ) 1 132 100 206 159 3 301 262 331 3325 441 412 455 467 10 742 758 766 744 20 1248 1396 1388 1183 30 1692 1995 2010 1553 40 2099 2569 2632 1883 50 2482 3127 3254 2186 60 2846 3671 3876 2470 70 3194 4204 4498 2739 80 3531 4728 5120 2995 90 3857 5245 5742 3241 100 4174 5754 6364 3479 Para gatos, como o peso das várias raças não apresenta grande variação, as necessidades de nutrientes se expressam em função do peso vivo, e não em função do peso metabólico, como em cães. As necessidades energéticas dos gatos adultos são cerca de 60 a 80 kcal EM por kg de peso; assim, as necessidades energéticas diárias de um gato de 4 kg são 240-320 kcal EM (dependendo da atividade física). Na tabela 3 encontram-se as necessidades de energia metabolizável para as diferentes funções e estados fisiológicos dos animais domésticos. Tabela 3. Requisitos energéticos diários baseados no estádio fisiológico, temperatura e grau de atividade de cães e gatos CÃES GATOS METABOLISMO BASAL (MB) 30 x PV + 70 = Kcal/dia 70 x PV 0,75 = Kcal/dia METABOLISMO BASAL (MB) 30 x PV + 70 = Kcal/dia 70 x PV 0,75 = Kcal/dia 50 x PV = Kcal/dia MANUTENÇÃO (M) 2 x MB = Kcal/dia 144 + 62 x PV = Kcal/dia 100 PV 0,88 = Kcal/dia 159 PV 0,67 = Kcal/dia MANUTENÇÃO (M) 1,4 x MB = Kcal/dia 70 x PV = Kcal/dia TRABALHO 1 hora /dia (Leve) 1 dia (Leve) 1 dia (Pesado) 1,1 x M 1,5 x M 2,0 - 4,0 x M GESTAÇÃO 1 as 6 semanas = 1,0 x M Últimas 3 semanas = 1,3 x M GESTAÇÃO 1 as 6 semanas = 1,0 x M Últimas 3 semanas = 1,4 x M LACTAÇÃO 1ª Semana 2ª Semana 3ª Semana 4ª semana > 4ª Semana 1,5 x M 2,0 x M 3,0 x M 4,0 x M {1 + (0,25 x número de crias)}x M LACTAÇÃO 1ª Semana 2ª Semana 3ª Semana 4ª semana > 4ª Semana 1,3 x M 1,4 x M 1,6 x M 1,8 x M 2,8 x M 7 CRESCIMENTO Nascimento - 3 meses 3 - 6 meses 6 - 12 meses 3 - 9 meses (Gigantes) 9 - 24 meses (Gigantes) 2,0 x M 1,6 x M 1,2 x M 1,6 x M 1,2 x M CRESCIMENTO Nascimento -10 Semanas 10 - 20 Semanas 20 - 30 Semanas 33 - 40 Semanas 3,6 x M 1,9 x M 1,4 x M 1,1 x M AMBIENTE Frio (Vento, 8,5 ºC) (Vento, <0 ºC) Calor 1,25 x M 1,75 x M até 2,5 x M ENFERMIDADES Repouso em gaiola Pós-cirúrgico Traumatismo Câncer Septicemia Queimaduras 1,25 x MB 1,25 - 1,35 x MB 1,35 - 1,50 x MB 1,35 - 1,50 x MB 1,50 - 1,70 x MB 1,70 - 2,00 x MB Fonte: López (1997) 3.2.1. Aporte energético dos alimentos. Para calcular o aporte de energia digestível (ED) dos alimentos, parte-se dos valores de energia bruta dos nutrientes, que são ponderados pelos coeficientes de digestibilidade dos mesmos, de forma separada para cada una das espécies, conforme o descrito na tabela 4. Para o cálculo do aporte de EM, deve se considerar adicionalmente as perdas energéticas urinárias (tabela 5) Tabela 4 - Cálculo da energia digestível de alimentos para cães e gatos NUTRIENTE g/ kg ENERGIA BRUTA Kcal/ g COEFICIENTE DE DIGESTIBILIDADE (1) Cães COEFICIENTE DE DIGESTIBILIDADE (1) Gatos FATOR Cães FATOR Gatos Carboidratos (CHO) 4,15 84,3 80,0 3,50 3,50 Gorduras (EE) 9,40 90,4 90,4 8,50 8,50 Proteína bruta (PB) 5,65 79,5 73,1 4,50 4,13 (1) Valores médios recomendados pela AAFCO (1993). Fonte: López (1997) Energia digestível: E.D cães = (CHO x 3,50) + (E.E. x 8,50) + (PB x 4,50) E.D gatos = (CHO x 3,50) + (E.E. x 8,50) + (PB. x 4,13) Energia metabolizável: Tabela 5 - Calculo da energia metabolizável de alimentos para cães e gatos 8 NUTRIENTE g/ kg E. BRUTA CORRIGIDA (1) Kcal/ g COEFICIENTE DE DIGESTIBILIDADE (2) Cães COEFICIENTE DE DIGESTIBILIDADE (2) Gatos FATOR Cães FATOR Gatos Carboidratos (CHO) 4,15 84,3 84,3 3,50 3,50 Gorduras (EE) 9,40 90,4 90,4 8,50 8,50 Proteína bruta (PB)- cães 4,40 79,5 3,50 Proteína bruta (PB)- gatos 4,79 73,1 3,50 (1) Energia urinária= -1,25 kcal/ g PB. (cães) / - 0,86 kcal/ g PB. (gatos) (2) Valores médios recomendados pela AAFCO (1993). Fonte: López (1997) E.Mc = (HO x 3,50) + (EE x 8,50) + (PB x 3,50) E.Mf = (CHO x 3,50) + (EE x 8,500 + (PBx 3,50) Outras fórmulas para estimar energia metabolizável dos alimentos para cães: EM= E.D. – (1,25 x P.D).(g) (AAFCO,94) EM= (CHOD x 4,15) + (EED x 9,40) + (PD x 4,40) (AAFCO,93) EM = EB x 0,80 (Esta metodologia superestima os alimentos ricos em fibra). E.M. = (0,99 x EB) - 126 A partir do conteúdo de lipídeos: EM = 3,075 + ( 0,066 x EE) (Só é válido na base seca). Para felinos várias fórmulas são sugeridas para a estimativa do conteúdo energético dos alimentos: EMf= ED – (0,90 x PD) (Rações secas, NRC,86) EMf= (CHOD x 4,15) + (EED x 9,40) + (PD x 4,79) (AAFCO, 1993) EMf= EB x 0,99 - 1,26 (Rações secas, NRC,86) EMf= (CHO x 3,00) + (EE x 7,70) + (PC x 3,90) - 0,05 (NRC, 1986) Dependendo da fórmula utilizada para o cálculo da energia metabolizável em alimentos para gatos, variações de mais de 20 % nos resultados podem ser encontradas. Por isso sugere-se subdividir os alimentos em diferentes tipos (alimento seco, semi-úmido e úmido) com uma equação específica para cada tipo. Tabela 6 . Energia metabolizável e tipo de alimento ALIMENTO TEOR DE UMIDADE (%) ENERGIA METABOLIZÁVEL Seco <14 EM = 0,99 (PB x 5,65 + EE x 9,4 + ENN x 4,15) - 126 9 Semi-úmido 15 a 59 EM = PB x 3,7 + EE x 8,8 + ENN x 3,0 Úmido > 60% EM = PB x 3,9 + EE x 7,7 + ENN x 3,0 PB – proteína bruta; EE – extrato etéreo e ENN –extrativo não nitrogenado (carboidratos não estruturais) Fonte: (FEDIAF 1991) apud López (1997) Em alimentos para cães e gatos, a energia advinda de cada um dos nutrientes assume um papel importante nos diversos estágios fisiológicos. Isso porque um excesso de proteína, por exemplo, seria desaminada e utilizada como energia. Em animais mais velhos o excesso de proteína é prejudicial pois sobrecarregaria as funções renais. Por outro lado, a gordura tem menos catabólitos e pode ser importante em diversas fases fisiológicas. Nas tabelas 7 e 8 encontram-se as distribuições típicas de energia dos alimentos para cães e gatos. Tabela 7 - Distribuição energética a partir dos nutrientes para cães em vários estádios fisiológicos PROTEÍNA GORDURA CARBOIDRATOS Crescimento 27% 41% 32% Adultos 26% 38% 36% Trabalho 32% 56% 12% FONTE: Richard (1996) Tabela 8 - Distribuição energética a partir dos nutrientes para gatos em vários estádios fisiológicos PROTEÍNA GORDURA CARBOIDRATOS Recém-nascidos 42,1% 29,2% 28,8% 5 Semanas 47,2% 27,5% 25,3% 10 Semanas 50,0% 26,1% 23,9% 20 Semanas 51,9% 30,0% 18,1% 6 meses 51,3% 33,3% 15,4% 1 a 10 anos 52,0% 35,9% 12,1% 15 anos 44,0% 42,0% 14,0% 20 anos 43,3% 41,5% 15,2% Gestação 45,7% 31,8% 22,5% Aleitamento 44,9% 31,1% 24,0% Fonte: http://www.benshemesh.com/nutricao.htm 3.3. Proteína. As proteínas são os nutrientes que mais despertam discussão na nutrição de cães e gatos, pois são essenciais no desenvolvimento dos filhotes, reprodução, amamentação e qualidade dos músculos e pêlos em animais adultos. 10 A proteína é requeridapelo seu aporte em aminoácidos essenciais (AAe) e pelo aporte nitrogenado necessário para que o organismo sintetize os aminoácidos não essenciais. Além disso, pode ser uma fonte considerável de energia dependendo de sua porcentagem de inclusão nas rações. As necessidades protéicas dos gatos adultos são relativamente altas já que, por motivos evolutivos, desaminam boa parte da proteína ingerida para utilizar os cetoácidos como substrato energético. Além disso, os gatos não reciclam bem o nitrogênio procedente da renovação protéica e, como conseqüência, os gatos excretam muito N na urina. Seu requisito mínimo de proteínas é de 2 a 3 vezes a do cão. Sendo o gato estritamente carnívoro, seu trato digestivo está mais apto a digerir e absorver proteínas de origem animal. Portanto, essas proteínas possuem digestibilidade maior que as de origem vegetal, sendo então mais indicadas na alimentação dos felinos. Além disso, por terem um perfil de aminoácidos mais adequado às necessidades do cão e do gato, o valor biológico das proteínas animais é superior ao das vegetais, tendo um aproveitamento maior após serem absorvidas. Tabela 9 - Requisitos de proteína para cães e gatos (% matéria seca) GATOS CÃES Manutenção 26-28 18-20 Crescimento 30-32 22-25 Fonte: López (1997) A relação ótima de proteína/energia nas rações de cães adultos é cerca de 30-35 g de PB por 1000 kcal de EM, enquanto que a dos gatos adultos é de 50 g de PB por 1000 kcal de EM (mais alta que para cães). As rações comerciais aportam bem mais proteína que o exigido para melhorar sua palatabilidade já que os gatos, assim como os cães, preferem as comidas hiperprotéicas e hiperenergéticas. Alguns pesquisadores afirmam que o excesso de proteína na dieta devido a uma excessiva desaminação e excreção de uréia, sobrecarrega o sistema hepático e renal, favorecendo o aparecimento de insuficiências, assim como a precipitação de ureólitos. Além disso uma parte da proteína ingerida passa ao intestino grosso, provocando fermentações que dão lugar a fezes moles, pegajosas e com forte odor. Esta questão ainda é bastante controversa pois muitos outros pesquisadores afirmam que o excesso de proteína só é prejudicial para animais que já tenham alguma disfunção renal, e que animais saudáveis não sofrem nenhuma alteração com um aporte de proteína muito superior aos níveis mínimos recomendados. Tabela 10 - Função dos diversos aminoácidos para os cães AMINOÁCID OS FUNÇÕES Arginina Formação de hormônios - insulina e hormônio de crescimento. Remoção do nitrogênio resultante da quebra das proteínas para fornecimento de energia Histidina Importante na estrutura muscular (deficiência - perda de apetite e peso e quadros de catarata). Isoleucina Regula o metabolismo de energia e é requerido para otimizar o crescimento. Leucina Mesmas funções da isoleucina e valina. 11 Lisina Essencial para o crescimento de cães jovens. Metionina Essencial para o crescimento (excesso provoca depressão do crescimento, anorexia e lesões cutâneas). Fenilalanina Manutenção da integridade da pele, músculo e pelos. Treonina Importante no crescimento e manutenção. Triptofano Crescimento e manutenção - metabolismo de energia. Valina Similar à isoleucina e valina. Fonte: Royal Canin (2000) A arginina é essencial para ambas espécies em todos os estados fisiológicos, entretanto seu requisito é maior em gatos que em cães, devido a sua capacidade limitada de síntese de ornitina e baixa conversão de citrulina em arginina nos rins. A arginina intervém na síntese de uréia, molécula que permite a eliminação de dejetos nitrogenados. As particularidades metabólicas do gato podem ser explicadas pela adaptação a um regime estritamente carnívoro, onde a arginina está presente em quantidades muito superiores às necessidades. Os aminoácidos sulfurados também são requeridos em maior proporção pelos gatos que pelos cães, relacionado ao fato que em gatos existe uma maior excreção de enxofre pela urina, além da excreção em machos de “Felinina”, um aminoácido sulfurado originado provavelmente da metionina. Adicionalmente o gato requer taurina na dieta, um ácido ß-amino sulfônico (ou ácido 2- aminoetanossulfônico), sintetizado no fígado e outros tecidos de mamíferos a partir de aminoácidos sulfurados (metionina e cistina). Esta síntese ocorre também nos gatos, mas é muito lenta para manter o equilíbrio na ausência de taurina na dieta, sendo insuficiente para a conjugação biliar e o metabolismo tissular, especialmente no músculo e no sistema nervoso central (SNC). A perda obrigatória desta substância nos gatos ocorre porque apenas a taurina pode ser combinada com o colesterol durante a síntese de sais biliares, enquanto que a maioria das outras espécies pode substituir a taurina pela glicina. A deficiência de taurina em felinos resulta principalmente em degeneração central da retina, infertilidade, distúrbios neurológicos e cardiomiopatia dilatada. A taurina está presente apenas em tecidos animais e, portanto, a alimentação do felino deve conter uma grande quantidade de proteínas de origem animal para suprir a necessidade deste nutriente. A suplementação extra no alimento deve ser feita ainda que o produto contenha as proteínas animais em grande porcentagem. Os requisitos de aminoácidos para o crescimento de cães e gatos encontram-se na tabela 11. Tabela 11. Requisitos de aminoácidos para o crescimento de cães e gatos (mg/kcal EM) GATOS CÃES Arginina 2,5 1,4 Histidina 0,6 0,5 Isoleucina 1,1 1,0 12 Leucina <2,6 <1,6 Lisina 1,7 1,5 Metionina 0,8 1,2 Metionina + Cistina 1,6 1,5 Fenilalanina 1,1 1,3 Fenilalanina + Tirosina 2,2 Taurina 0,1 0,0 Treonina 1,5 1,2 Triptofano 0,25 0,4 Valina <1,3 <1,0 Fonte: López (1997) O conceito de proteína ideal trata de estabelecer a proporção ótima de aminoácidos indispensáveis em relação à lisina (considerada como 100% com base nas necessidades dos tecidos), com o objetivo de otimizar o crescimento e a utilização da dieta. O perfil de aminoácidos ideal é independente do nitrogênio e dos níveis energéticos da dieta. O perfil de proteína ideal para gatos é bastante diferente do perfil para cães, conforme mostra a tabela 12. Tabela 12 - Perfil da proteína ideal para cães e gatos adultos. AMINOÁCIDO IDEAL POR ESPÉCIES Gatos Cães Lisina 100 100 Metionina + Cistina 100 64 Triptofano 19 22 Treonina 87 67 Arginina 112 71 Isoleucina 63 57 Valina 75 75 Leucina 150 100 Histidina 38 29 Fenilalanina + tirosina 112 100 Requisitos de lisina para cães 0,7% = então para aa sulfurados = 0,45%, argina = 0,6%, triptofano = 0,16%, etc. Requisitos de lisina para gatos 0,85% = então para aa sulfurados = 0,85%, argina = 1,0%, triptofano = 0,15%, etc. Fonte: Baucells & Serrano (1992) 3.4. Lipídeos 13 O controle da ingestão é muito relacionado com a energia (todos os outros nutrientes da dieta também devem estar relacionados com ela), e a gordura é responsável por conferir à dieta altos teores energéticos (um grama de gordura contem cerca de 9,0 kcal de EM). Além do aporte energético, a adição de óleos e gorduras a dietas de cães e gatos tem relação com palatabilidade da ração, a ponto de misturas de ácidos graxos tornarem-se segredos comerciais. Segundo Nunes (1998), a resposta dos gatos em função da palatabilidade é de natureza quadrática, isto é, respondem positivamente até determinado nível de adição de gordura às dietas. Acima deste nível (entre 20e 25% da MS), a ingestão diminui. Aparentemente, existe uma predileção por gorduras de origem animal, particularmente as de boi e frango. Cerca de 15 a 50% dos requisitos energéticos dos gatos podem ser suplementados a partir de óleos e gorduras (entre 5 - 20% da MS da dieta). Uma maior introdução de gordura pode ser desejável em épocas de maior demanda energética, como na lactação. Na tabela a seguir apresenta-se uma dieta típica de felinos em estado selvagem e a participação da gordura nessa dieta. Tabela 13 - Dieta de felinos selvagem MATÉRIA NATURAL MATÉRIA SECA RELAÇÃO PB:EE:CHO ENERGIA Água 70% - - - Proteínas (PB) 14% 46,7% 50,0% 35,7% Extrato Etéreo (EE) 9,0% 30% 32,1% 51,5% Carboidratos (CHO) 5,0% 16,7% 17,9% 12,8% Cinzas 1,0% 3,3% - - Cálcio 0,6% 2,0% - - Outros 0,4% 1,3% - - Fonte: http://www.benshemesh.com/nutricao.htm Ao contrário das proteínas, as gorduras geram poucos resíduos metabólicos no gato, portanto não causam sobrecargas renais. Por essa razão, à medida que o gato envelhece, deve ser aumentado o teor de gordura da sua dieta, enquanto que em alguma proporção deve ser reduzido o conteúdo protéico. Dessa forma, a quantidade energética total e apropriada pode ser mantida, aliviando a carga de trabalho dos rins. Além de fornecer energia, melhorar a absorção das vitaminas, diminuir a pulverulência, aumentar a palatabilidade, etc., as gorduras e os óleos, quando adicionados às rações, aumentam a eficiência de utilização da energia consumida, por causa do menor incremento calórico no metabolismo de lipídeos. Cerca de 30% da energia metabolizável das proteínas é perdida como incremento calórico, enquanto que para carboidratos fica em torno de 6% e, para lipídeos, em torno de 3%. Alguns autores consideram três os ácidos graxos essenciais (AGE) - linoléico, linolênico e araquidônico, outros fazem somente uma distinção prática: consideram o linoléico nutricionalmente essencial e o araquidônico metabolicamente essencial. Para gatos o ácido araquidônico tem uma grande importância dietética. 14 O ácido araquidônico é um ácido graxo da família ômega 6 (6), abundante em gorduras de origem animal. É o mais importante precursor dos eicosanóides (entre outros, as prostaglandinas), substâncias que são sintetizadas por todas as células dos mamíferos. Os eicosanóides são responsáveis pelo desencadeamento do processo inflamatório e por outras ações em diversos sistemas, principalmente reprodutor, cardiovascular, sangue e rins. O ácido araquidônico permanece incorporado aos fosfolipídios das membranas celulares e, após estímulos ofensivos ou ações de hormônios, neuro-hormônios ou autacóides, são liberados para, então, ocorrer a biossíntese de eicosanóides. Nos cães a enzima -6-dessaturase converte o ácido linoléico, ácido graxo essencial da família 6, em ácido araquidônico em quantidade insuficiente para o seu metabolismo, necessitando, portanto, que sua alimentação o suplemente com esse nutriente, a fim de evitar a sua carência. Já nos gatos está conversão é muito lenta, portanto a dieta dos felinos deve conter quantidade suficiente de gorduras de origem animal para suprir sua necessidade de ácido araquidônico. Gatos com alimentação deficiente em ácido araquidônico apresentam distúrbios dermatológicos severos, esteatose hepática, anemia e infertilidade (fêmeas e machos), entre outros. 3.5. Minerais Os requisitos alimentares de macro e micro elementos minerais para cães e gatos são estabelecidos por extrapolação dos requisitos de outras espécies e baseados em poucos trabalhos práticos. Tabela 14. Resumo das deficiências e excessos de elementos minerais para cães gatos MINER AL DEFICIÊNCIA EXCESSO Cálcio Raquitismo, osteomalácia, hiperparatireodismo secundário nutricional Crescimento ósseo prejudicado. Osteocondrose e outras condrodistrofias em cães de raças gigantes Fósforo As mesmas que cálcio Causa deficiência de cálcio Magnésio Calcificação de tecidos moles, espessamento das metáfises de ossos longos, irritabilidade neuromuscular Absorção regulada de acordo com as necessidades FLUTD em gatos Enxofre Não relatado Não relatado Ferro Anemia microcítica hipocrômica Improvável, absorção regulada Cobre Anemia microcítica hipocrômica, prejudica crescimento. ósseo Doenças hepáticas Zinco Dermatose, despigmentação dos pelos, crescimento retardado, falhas reprodutivas Causa deficiência de cálcio e cobre Manganê s Improvável. Caso ocorra pode causar falhas no crescimento ósseo e falhas reprodutivas Improvável Iodo Bócio, crescimento retardado, falhas reprodutivas Improvável Selênio Miopatias cardíacas Miocardite necrosante, hepatite tóxica e nefrite 15 Cobalto Anemia Não relatada Fonte: Borges & Nunes (1998) 3.6. Vitaminas Na nutrição animal 12 vitaminas (A, D, E, K, tiamina, riboflavina, niacina, vitamina B6, ácido pantotênico, biotina, ácido fólico e vitamina B12.) e alguns vitagênios como a colina e o inusitol são muito importantes na diferenciação de tecidos e manutenção da estrutura tecidual (A, D, E, C) ou como cofatores em sistemas enzimáticos catalisando processos metabólicos (vitaminas do complexo B e vitamina K). Tabela 15 - Resumo das deficiências, excessos e principais fontes de vitaminas VITAMINA DEFICIÊNCIA EXCESSO A Falha de crescimento e na reprodução, perda da integridade epitelial, dermatose. Anormalidade esquelética, espondilose cervical deformante (síndrome de pingüim) em gatos que alimentam de muito peixe D Raquitismo, Osteomalácia, hiperparatireoidismo secundário nutricional Hipercalcemia, reabsorção óssea, calcificação dos tecidos moles E Falha reprodutiva, doença da gordura amarela (esteatite) em gatos alimentados com peixe enlatado Não tóxica, pode aumentar requisitos da vitaminas A e D K Aumento do tempo de coagulação, hemorragias Não relatada Tiamina Disfunções do SNC, anorexia, perda de peso. Ocorre em gatos alimentados com peixe cru, devido à presença da tiaminase Não tóxica Riboflavina Disfunções do SNC, dermatite Não tóxica Niacina Mesmo em gatos (incapazes de transformar triptofano em niacina) é rara. Não tóxica Piridoxina – B6 Anemia microcítica hipocrômica Não relatada Ácido Pantotênico Anorexia, perda de peso Não relatada Biotina Dermatite Não tóxica Folacina Anemia, leucopenia Não tóxica Cobalamina - B12 Anemia Não tóxica Colina Disfunção neurológica, fígado gorduroso Diarréia C Não requerido (condições normais) para cães e gatos Não tóxica Fonte: Borges & Nunes (1998) 16 4 - REQUISITOS NUTRICIONAIS: Para simplificação de manuseio, as necessidades de nutrientes dos cães e gatos são apresentadas em tabelas. Estas podem se apresentar de várias maneiras: Requisito é o mínimo necessário para a manutenção da saúde e do bom desempenho dos animais; Recomendação, além do mínimo necessário, dá uma margem de segurança baseada na variação individual entre animais e na experiência prática acumulada por técnicos, criadores e indústrias de rações. Por isso, novas recomendações nutricionais são publicadas periodicamente, com o objetivo de ajustá-las aos novos conhecimentos. Recomendações Nutricionais ou Padrões de Alimentação: conjunto de normas destinadas a uma população animal definida, de uma dada região ou país, e elaboradas em consonância com requisitos já estabelecidos e objetivos claros a serem alcançados.Para cães e gatos os requisitos estão estabelecidos e apresentados como Porcentagem ou kg/100 kg de dieta e/ou quantidade por quilograma de dieta (UI/kg, mg/kg), que pode ser obtida sobre a ingestão de matéria seca por dia, por animal ou quantidade por quilograma de peso vivo (UI/kg PV, mg/kg PV). As tabelas normalmente utilizadas são as do NRC (National Research Council) e AAFCO (Association of American Feed Control Official). Tabela 16 - Requisitos mínimos de cães em crescimento e manutenção (quantidades por kg de peso vivo) NUTRIENTE UNIDADE CRESCIMENTO MANUTENÇÃO Gordura g 2,7 1,0 Acido Linoléico mg 540 200 Proteína Arginina mg 274 21 Histidina mg 98 22 Isoleucina mg 196 48 Leucina mg 318 84 Lisina mg 280 50 Metionina – cistina mg 212 30 Fenilalanina – tirosina mg 390 86 Treonina mg 254 44 Triptofano mg 82 13 Valina mg 210 60 Aminoácidos não essenciais mg 3414 1266 Minerais Cálcio mg 320 119 Fósforo mg 240 89 Potássio mg 240 89 Sódio mg 30 11 Cloro mg 46 17 17 Magnésio mg 22 8,2 Ferro mg 1,74 0,65 Cobre mg 0,16 0,06 Manganês mg 0,28 0,10 Zinco mg 1,94 0,72 Iodo mg 0,032 0,012 Selênio g 6,0 2,2 Vitaminas A IU 202 75 D IU 22 8 E IU 1,2 0,5 K IU Tiamina g 54 20 Riboflavina g 100 50 Ácido Pantotênico g 400 200 Niacina g 450 225 Piridoxina g 60 22 Ácido fólico g 8 4 Biotina g Cianocobalamina g 1,0 0,5 Colina mg 50 25 Fonte: Nutrient... (1985) Tabela 17 - Requisitos mínimos de nutrientes disponíveis em alimentos para cães formulados para a fase de crescimento NUTRIENTE NA MATÈRIA SECA (3700 kcal /kg) Proteína Arginina 0,50% Histidina 0,18% Isoleucina 0,36% Leucina 0,58% Lisina 0,51% Metionina - cistina 0,39% Fenilalanina - tirosina 0,72% Treonina 0,47% Triptofano 0,15% Valina 0,39% Aminoácidos não essenciais 6,26% Proteína bruta* 15,00% Gordura 5,00% Acido Linoléico 1,00% Minerais Cálcio 0,59% 18 Fósforo 0,44% Potássio 0,44% Sódio 0,06% Cloro 0,09% Magnésio 0,04% Ferro 31,9 ppm Cobre 2,9 ppm Manganês 5,1 ppm Zinco 35,6 ppm Iodo 0,59 ppm Selênio 0,11 ppm Vitaminas A 3710 IU / kg D 404 IU / kg E 22 IU / kg Tiamina 1,0 mg / kg Riboflavina 2,5 mg / kg Ácido Pantotênico 9,9 mg /kg Niacina 11,0 mg / kg Piridoxina 1,1 mg/ kg Ácido fólico 0,2 mg / mg Biotina Cianocobalamina 26 ,0 g / kg Colina 1,2 g / kg * Desde que supra todos os aminoácidos indispensáveis e dispensáveis Fonte: Nutrient... (1985) Tabela 18 - Perfil de nutrientes em alimentos caninos 1 - recomendações da AFFCO NUTRIENTE UNIDAD E (MS) CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO (min.) MANUTENÇÃO (min.) MÁXIMO Proteína % 22,0 18,0 Arginina % 0,62 0,51 Histidina % 0,22 0,18 Isoleucina % 0,45 0,37 Leucina % 0,72 0,59 Lisina % 0,77 0,63 19 Metionina - cistina % 0,53 0,43 Fenilalanina - tirosina % 0,89 0,73 Treonina % 0,58 0,48 Triptofano % 0,20 0,16 Valina % 0,48 0,39 Gordura % 8,0 5,0 Acido Linoléico % 1,0 1,0 Minerais % Cálcio % 1,0 0,6 2,5 Fósforo % 0,8 0,5 1,6 Relação Ca:P 1:1 1:1 2:1 Potássio % 0,6 0,6 Sódio % 0,3 0,06 Cloro % 0,45 0,09 Magnésio % 0,04 0,04 0,3 Ferro ppm 80 80 3000 Cobre ppm 7,3 7,3 250 Manganês ppm 5,0 5,0 Zinco ppm 120 120 1000 Iodo ppm 1,5 1,5 50 Selênio ppm 0,11 0,11 2 Vitaminas A IU/kg 5000 5000 50.000 D IU/kg 500 500 5.000 E IU/kg 50 50 1000 Tiamina ppm 1,0 1,0 Riboflavina ppm 2,0 2,0 Ácido Pantotênico ppm 10 10 Niacina ppm 11,4 11,4 Piridoxina ppm 1,0 1,0 Ácido fólico ppm 0,18 0,18 Cianocobalamina ppm 0,022 0,02 Colina ppm 1200 1200 1- Supondo a EM em 3500 kcal/kg Fonte: Case et al (1995) (Reprodução do AAFCO, 1994) Tabela 19 - Perfil de nutrientes em alimentos para gatos - recomendações da AFFCO 20 NUTRIENTE UNIDAD E (MS) CRESCIMENTO E REPRODUÇÃO (min.) MANUTENÇÃO (min.) MÁXIMO Proteína % 30,0 28,0 Arginina % 1,25 1,04 Histidina % 0,31 0,31 Isoleucina % 0,52 0,52 Leucina % 1,25 1,25 Lisina % 1,20 0,83 Metionina - cistina % 1,10 1,10 Fenilalanina - tirosina % 0,88 0,88 Treonina % 0,42 0,42 Triptofano % 0,10 0,10 Valina % 0,20 0,20 Gordura % 9,0 9,0 Acido Linoléico % 0,5 0,5 Ácido Araquidônico % 0,02 0,02 Minerais % Cálcio % 1,0 0,6 Fósforo % 0,8 0,5 Potássio % 0,6 0,6 Sódio % 0,2 0,2 Cloro % 0,3 0,3 Magnésio % 0,08 0,04 Ferro ppm 80 80 Cobre ppm 5 5 Manganês ppm 5,0 5,0 Zinco ppm 75 75 Iodo ppm 0,35 0,35 Selênio ppm 0,1 0,1 Vitaminas A IU/kg 9000 5000 75.000 D IU/kg 750 500 10.000 E IU/kg 30 30 Tiamina ppm 5,0 5,0 Riboflavina ppm 4,0 4,0 Ácido Pantotênico ppm 5 5 Niacina ppm 60 60 Piridoxina ppm 4,0 4,0 Ácido fólico ppm 0,8 0,8 Cianocobalamina ppm 0,022 0,02 Colina ppm 2400 2400 1 - Supondo a EM em 4200 kcal/kg Fonte: Case et al (1995) (Reprodução do AAFCO, 1994) 21 Tabela 20. Características (em MS) das dietas recomendadas para cães ESTADO FISIOLÓGIC O DIGESTIBILI DADE (%) EM (min) kcal/ g PROTEÍ NA (%) LIPÍDE OS (%) FIB RA (%) Ca (%) P (%) Na (%) Manutenção >75 3,5 15-25 >8 <5 0,5- 0,9 0,4- 0,8 0,2- .0,5 Crescimento Gestação Lactação >80 3,9 >29 17 <5 1,0- 1,8 0,8- 1,6 0,3-0,7 Geriatria >80 3,75 14-21 >10 <4 0,5- 0,8 0,4- 0,7 0,2-0,4 Stress 82 4,2 >25 >23 4 0,8- 1,5 0,6- 1,2 0,3-0,6 Fonte: López (1997) Tabela 21. Características (em MS) das dietas recomendadas para gatos (*) ESTADO FISIOLÓGIC O DIGESTIBILI DADE (%) EM (min) kcal/ g PROTE ÍNA (%) LIPÍDE OS (%) FIBR A (%) Ca (%) P (%) Na (%) Manutenção >75 3,75 >25 >10 <5 0,5-0,9 0,4- 0,8 0,2- .0,5 crescimento Gestação Lactação >80 4,5 >35 17 <5 1,0-1,8 0,8- 1,6 0,3-0,7 Geriatria >80 3,75 25-35 >15 <5 0,5-0,8 0,4- 0,7 0,2-0,4 (*) O Conteúdo de Mg nas dietas (MS) deve ser < 0,10%. Lewis et al, 1994 apud López (1997) 5 - CONCLUSÕES Neste trabalho foram discutidos somente alguns pontos básicos da nutrição de cães e gatos. É importante ressaltar que a nutrição destes animais envolve aspectos muito mais profundos como bem estar animal e segurança alimentar, nutrição pediátrica e geriátrica, nutrição como suporte a diversas situações clínicas (ex: alergias multifatoriais, insuficiências renais e hepáticas, cardiopatias, problemas locomotores, obesidade, etc.), entre outros. 22 Apesar dos trabalhos desenvolvidos pela indústria de alimentos para animais de companhia, ainda são poucos os projetos e os profissionais que se interessam por está área de atuação dentro das instituições de ensino e pesquisa no Brasil, entretanto o setor exige cada vez mais profissionais especializados. Neste setor, tanto veterinários quanto zootecnistas têm um horizonte muito promissor, com boas perspectivas profissionais e, principalmente, pessoais. Trabalhar com animais de estimação envolve sentimentos que podem ser resumidos com as palavrasseguintes: “Possuir um animal de estimação é o que existe de melhor em pertencer à raça humana. Nenhum outro animal abriga em sua casa espécie completamente diferente, fornecendo-lhe alimento e abrigo, apenas pelo prazer da companhia” Patricia Fish” 6 - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ASSOCIATION of American Feed Control Officials Incorporated. Official Publication. Atlanta, 1994 ATWATER, W.D.. Principles of Nutrition and Nutritional Value of Foods. USDA Bulletin 162. US Government Printing Office. Washington, D.C. 1910 BAUCELLS, M.D., SERRANO, X. Nutrición y alimentación del perro. In: I Symposio de Nutrición y Alimentacíon de Animales de compañia, abril, 1992. Med. Vet.,v.9. n.5. p 301- 307. 1992. BORGES, F. M. , NUNES, I. J. Nutrição e manejo alimentar de cães na saúde e na doença. Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária (UFMG), Belo Horizonte, v.20, p.1-103, 1998. 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