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Agostinho HPJ 2012

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HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO
PENSAMENTO JURÍDICO DE SANTO AGOSTINHO
A derrocada da sociedade antiga representada pela desintegração do Império Romano escravista no século V e a ascensão do cristianismo podem ser apontadas como os acontecimentos mais significativos que se processaram na história da Europa Ocidental. (VILLEY, 2005).
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A Idade Média, marcado pela hegemonia da Igreja Cristã, pela invasão e conquistas dos povos nórdicos, e pela estruturação econômica e social das relações feudais, expressará uma cultura engendrada no pensamento grego, na tradição jurídica romana e na matriz teológica judaica, aglutinando elementos novos advindos das fontes cristãs e germânicas. 
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Mas se por um lado o período medievo engessou o Direito, no que toca o seu desenvolvimento, iniciado pelos romanos, por outro houve uma grande contribuição. Esta no sentido de institutos tais como o Direito a Liberdade, os Princípios da Legalidade, do Contraditório, do Devido Processo Legal etc.
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Isso porque recebe uma significância extraordinária, isso porque foram institutos deturpados nesse período, notadamente por estarem atrelados aos interesses e dogmas da igreja, e que, sobremaneira, passam, a posteriori, a serem questionados frente a nova ordem jurídica, posta pelo iluminismo. (VILLEY, 2005).
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Apesar de não ter sido um jurista, nem muito menos um filósofo do direito, o Bispo de Hipona (354-430), traz uma grande contribuição para o pensamento jurídico pós-período Greco-romano.
Agostinho se encanta com a filosofia (de Cícero, de Platão, etc.). Assim, sobre a influência de Santo Ambrósio, decide enveredar para a filosofia cristã.
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Tem em Platão seu maior inspirador. De acordo com VILLEY (2005, p.77), “o idealismo de Platão, seu senso das realidades invisíveis, encaminham-no para o cristianismo”. Consequentemente, Agostinho une a filosofia platônica aos dogmas da igreja.
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Após a morte de sua mãe, Mônica, S. Agostinho regressa à Argélia, se tornando bispo de Hipona. Torna-se obrigado, devido as circunstâncias, a combater os inimigos da igreja católica apostólica romana. Tanto que parte de seu tempo fora dedicado a escrita de cartas e tratados doutrinários, inclusive luta contra o paganismo, bem como vem a se preocupar com as invasões bárbaras. 
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Nas suas obras, S. Agostinho não trata do tema jurídico em específico. Mas no que for mencionar, terá as bases fincadas na iluminação divina com um pensamento voltado nos ensinamentos de Platão.
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VILLEY (2005, p. 79), expressa que, “[...] só podemos conhecer o verdadeiro, o bem, a justiça, por meio de Deus e não pela experiência sensível, se a verdade, a justiça são Deus mesmo, então teremos sem dúvida que renunciar ao direito natural de Aristóteles e dos jurisconsultos romanos”.
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Assim, S. Agostinho passa a defender a instituição do casamento; defender a propriedade; defender a supremacia da igreja perante o Estado e reforçar o direito canônico, numa doutrina voltada sobre “[...] a impotência do homem para encontrar naturalmente a justiça”, recorrendo a revelação divina.
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No que toca a questão do Direito Natural e Positivo, para uns, S. Agostinho era adepto do primeiro, concebido à maneira tomista. Outros vêem nele “o inspirador da teocracia, o profeta de um direito sacro que se abebera não na natureza mas nas fontes da revelação”. E por fim, outro grupo que defende que o real significado de sua doutrina sobre o direito seria o positivismo jurídico.
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Duas obras VILLEY (2005, p. 81), separa para o estudo do direito, no que toca principalmente a liberdade do homem conciliada a onipotência divina, quais sejam: Livre-arbítrio e a Cidade de Deus.
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Para VILLEY (2005, p. 85), o “objetivo de sua obra é exclusivamente pastoral, que o objeto de suas meditações é uma ordem sobrenatural. A chave de sua doutrina do direito é Deus [...]”.
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Na obra Confissões temos um trecho que ratifica esse pensamento de VILLEY (2005, p. 85), quando afirma que, “Ignorava ainda a verdadeira justiça interior, que não julga as coisas pelos costumes e pelas práticas exteriores, mas pela retidão imutável da lei eterna desse Deus todo-poderoso, etc.”
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Teoria Nominalista ou Voluntarista
Considera os seres como entes abstratos. Não acreditam em qualquer vínculo entre vontade e razão, ou seja, a partir desse momento, o poder não pode mais ser tido como fundado numa ordem objetiva (como é o Direito, por exemplo) das coisas, isso vai ser concebido como fundado numa vontade suprema.
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Antônio Manuel Hespanha (2003, p. 162-163), defende que, “Para o voluntarismo, o direito é o produto de uma vontade - a vontade divina, a vontade do legislador ou do príncipe, a vontade geral - cujo conteúdo é, em princípio, arbitrário. Daí que o jurista apenas tenha uma forma de descobrir o que é justo - interpretar, da forma mais humilde possível, a vontade da entidade que DESEJA o direito. Este torna-se, assim, num dado indisponível a que o intérprete apenas tem que obedecer.”
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Continua o autor asseverando que “Toda a técnica de encontrar a solução jurídica se reduzirá, portanto, a interpretar, de forma mais ou menos subserviente, as fontes de direito sem qualquer intuito de criação jurídica autônoma”, ou seja, “A atitude do voluntarismo não é, de modo algum, pensar o direito mas, em vez disso, obedecer ao direito”.
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Definição de Justiça
O conceito de Justiça, como havia de ser, em Santo Agostinho, centra-se na figura de Deus, assim, Justiça é Deus, ou seja, “Justiça é o que Deus quer”. Vemos aqui o ponto incisivo no Direito Natural, e não num Direito Positivo, pois deixa de apreciar, de certa forma, a lei do Estado, este localizado na esfera (cidade) terrena e não na esfera divina. 
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Essa é a advertência de VILLEY (2005, p. 86), ao afirmar que, “se não a levássemos em consideração teríamos apenas uma visão bastante falsa e incompleta de sua doutrina”. Aqui há uma fundamentação para tal comportamento, ou seja, S. Agostinho acredita que o mundo profano é o próprio injusto, o pecado em sua essência, mas que devem, sobremaneira, ser respeitadas. Mas por quê?
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Na vida profana, segundo Santo Agostinho apud Villey (2005, p. 87), há, “[...] felicidades falsas, enganosas, provisórias, desprezíveis: que as mulheres públicas pululem [...] que as pessoas bebam, vomitem, se saciem [...]”.
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Percebe-se que não há uma sintonia com o conceito de justiça em Platão, isto é, “dar a cada um o que lhe é devido”, no entanto, para seu conceito, há um acréscimo em suas palavras: “dar a cada um o que lhe é devido, de acordo com a vontade de Deus”.
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Isso porque na ordem sobrenatural, a justiça consiste na observância da lex aeterna que liga o homem a Deus e prescreve sua submissão a Ele; na ordem natural, a lex naturalis prescreve a harmonia do homem consigo mesmo, com o natural e com o sobrenatural - ser imagem de Deus e não permitir que a carne subverta a ordem divina.
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O Primado a Justiça Cristã
Fontes do Direito Cristão
Nas escrituras sagradas, tais como a bíblia, a experiência judaica e o evangelho, foram instrumentos extremamente importantes para Santo Agostinho descobrir, segundo VILLEY (2005, p. 95), “um novo tipo de justiça, ao qual somente se aplicam estritamente as palavras justiça e direito – um tipo bem diferente do sistema jurídico romano”. 
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Cria-se, portanto, uma nova teoria do direito, “de suas fontes, de suas fronteiras e de seu conteúdo.
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Na experiência judaica temos a começar com a Torá, conjunto de mandamentos da Lei de Deus, uma espécie de código, como afirma VILLEY (2005, p. 96). Não possuindo poder legislativo próprio, a Torá representa um instrumento de conduta social, em que o juiz o segue estritamente. Uma verdadeira interpretação exegética.
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No novo testamente há um extremo respeito à palavra de Deus, onde a lei deste deve ser rigorosamente cumprida.
Não abandonando a interpretação exegética, apesar de algumas discordâncias por parte de alguns fariseus, mas há uma elasticidade, o respeito aos costumes temporais de fato. Mas a verdadeira justiça ainda advém de Deus.
Mas é na Bíblia que houve o maior destaque. Isso porque o bispo encontra três espécies de leis:
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Lei Natural: segundo Villey (2005, p. 97), “considera que Deus impõe uma ordem sobre toda a natureza, que a justiça seria a obediência a essa ordem da natureza”. Isto é, a Lei Natural nasce para justificar a existência de uma superior à lei do homem. Ela existe, mas não se pode tocar ou mesmo conhecê-la, como assevera Villey (2005, p. 98), “[...] são as bases psicológicas”. Que agora compõem a justificação da existência dessa Lei.
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A lei dos homens deve seguir a lei natural, razão de Deus por Ele ordenada. Todo ser racional tem, inscrita em sua alma, a lei natural. O princípio de justiça natural é um princípio de equilíbrio entre o que se dá e o que é devido. A lex naturalis pretende que o homem alcance esse equilíbrio. 
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Lei de Moisés: como já dito anteriormente, a questão da Torá.
Lei de Cristo: encontradas nos evangelhos, segue-se uma conduta de espírito, no sentido tanto de obediência a Deus, quanto no espírito ao próximo: “amarás a Deus como toda a tua alma e a teu próximo como a ti mesmo”; “faz ao outro o que queres que te façam” etc.
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Dessa forma, a bíblia é mais do que a palavra de Deus, é um instrumento capaz de sensibilizar o homem à busca do justo, ou nas palavras de Villey (2005, p. 99), “[...] essa lei constitui para os cristãos o único guia no que concerne à Justiça.”
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