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1 O SETOR INDUSTRIAL PARAIBANO Ivan Targino * Este texto procura dar uma visão geral da evolução, importância e organização da indústria paraibana. Ele está organizado em cinco sessões, a saber: a) a primeira trata da importância da atividade industrial no contexto da economia estadual; b) a segunda é dedicada a traçar a evolução histórica do setor no Estado; c) a terceira aborda a organização do segmento produtivo em termos de ramos de atividade, valor da produção, geração de emprego, distribuição espacial; d) a quarta traça as principais políticas de estimulo ao setor e; e) a última traz as principais conclusões do trabalho. I – IMPORTÂNCIA DO SETOR INDUSTRIAL NA ECONOMIA PARAIBANA O setor industrial é um segmento importante da economia paraibana. Com efeito, durante o período de 2002 a 2009, ele representou em média, 20,25% do valor agregado estadual (veja Tabela 1). Como pode ser observado na Tabela 1, essa participação declinou ao longo do período, passando de 21,14%, em 2002, para 19,96%, em 2009. e era responsável por cerca de ¼ do emprego da mão de obra estadual. Tabela 1 – Paraíba: Valor Agregado* total e industrial (2002-2009) Ano PIB (1) Indústria (2) (2/1).100 2000 9.237.736,76 2578.546,99 27,91 2001 9.426.548,50 2.839.450,49 30,12 2002 10.321.326,50 2.182.410,27 21,14 2003 10.333.864,41 2.195.799,43 21,25 2004 10.149.143,77 2.124.940,65 20,94 2005 10.630.083,28 2.137.642,81 20,11 2006 11.844.279,54 2.333.609,49 19,70 2007 12.449.655,33 2.503.062,50 20,11 2008 13.301.103,93 2.563.422,55 19,27 2009 13.868.624,08 2.767.957,42 19,96 Taxa de crescimento 34,37% 26,83% --- Taxa anual de crescimento 3,76% 3,02% --- Fonte: IBGE – Contas Regionais. Nota: (*)Valores constantes, ano base 2000, em R$ 1000,00. O setor industrial compreende quatro segmentos: a) a indústria extrativa, que compreende as unidades produtivas voltadas para a extração de produtos fósseis (carvão mineral, petróleo, gás, minérios etc.); b) a indústria de transformação, que engloba as unidades produtivas responsáveis pela transformação de matérias primas e secundárias * Professor do Departamento de Economia da UFPB 2 em um novo produto (final ou intermediário); c) a construção civil, que agrega as unidades produtivas dedicadas à confecção. reforma de obras como, casas, edifícios, estradas, barragens, aeroportos, pontes etc.; e d) serviços industriais de utilidade pública (SIUP), que reúne as unidades produtivas de distribuição de energia, de água,de telefonia, etc. A composição do valor agregado do setor industrial pode ser observada nos dados apresentados na Tabela 2. Tabela 21 – Paraíba: Composição do Valor Agregado* da indústria (em mil reais) (2002 – 2009) Ano Indústria Indústria extrativa mineral Indústria de transformaçã o SIUP Construção civil 2002 2.182.410,27 100,0% 51.970,43 2,4% 934.424,89 42,8% 616.208,03 28,2% 579.806,91 26,6% 2003 2.195.799,43 100,0% 51.511,27 2,3% 1.200.247,66 54,7% 604.587,33 27,5% 339.453,17 15,5% 2004 2.124.940,65 100,0% 56.105,88 2,6% 1.046.912,09 49,3% 597.034,50 28,1% 424.888,17 20,0% 2005 2.137.642,81 100,0% 43.983,13 2,1% 1.090.666,64 51,0% 624.133,32 29,2% 378.859,72 17,7% 2006 2.333.609,49 100,0% 53.754,01 2,3% 1.063.152,61 45,6% 671.827,42 28,8% 544.875,45 23,3% 2007 2.503.062,50 100,0% 50.441,68 2,0% 1.065.982,68 42,6% 726.463,02 29,0% 660.175,12 26,4% 2008 2.563.422,55 100,0% 47.245,27 1,8% 1.178.573,03 46,0% 660.296,93 25,8% 677.307,31 26,4% 2009 2.767.957,42 100,0% 20.080,69 0,7% 1.257.394,94 45,4% 665.657,01 24,0% 824.824,78 29,8% Média 2.351.105,64 100,00% 46.886,55 1,99% 1.104.669,32 46,99% 645.775,95 27,47% 553.773,83 23,55% Taxa de crescimento 26,83% -61,36% 34,56% 8,02% 42,26% Taxa anual de crescimento 3,02% -11,21% 3,78% 0,97% 4,50% Fonte: IPEADATA– Elaboração própria. Nota: (*) Valores constantes, ano base 2000, em R$ 1000,00. Da observação da Tabela 2, podem ser ressaltados os seguintes aspectos: a) O segmento “indústria de transformação” é o mais importante, sendo responsável, na média do período, por 46,99% do valor agregado gerado pelo setor industrial. Em segundo lugar, vem os Serviços Industriais de Utilidade Pública (distribuição de energia, água, setor de telefonia, etc.) com 27,47%. O segmento da indústria de construção ocupa a terceira posição, contribuindo com 23,55%. Destaca-se que o setor da construção civil é um grande absorvedor de mão de obra. A indústria extrativa mineral tem uma 3 pequena participação (1,992%) para a formação do valor agregado do setor industrial paraibano. b) A indústria extrativa mineral teve um desempenho declinante durante o período, vendo reduzir-se a sua participação no valor agregado da indústria estadual; c) A participação da indústria de transformação oscilou bastante, tendo a menor participação em 2007 (42,6%) e a maior em 2003 (54,7%); d) O segmento da indústria de transformação apresenta uma forte concentração tanto em termos de ramos industriais quanto espacial. No tocante à concentração por ramos industriais, verifica-se que os mais importantes são: alimentos, minerais não metálicos, confecção e vestuário e couro e calçados. Em relação à concentração espacial, setor industrial paraibano apresenta uma forte concentração em dois pólos: a região polarizada por João Pessoa (João Pessoa, Bayeux, Santa Rita, Cabedelo, Conde, Alhandra) e a polarizada por Campina Grande. A importância do setor industrial no contexto da economia paraibana tem sofrido fortes variações ao longo do tempo como será visto no tópico a seguir. 2– A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA PARAIBANA É possível identificar pelo menos quatro fases na evolução do setor industrial estadual: a fase pré-industrial; a fase de implantação da indústria de bens de consumo não durável; a fase da industrialização incentivada; a fase da integração global e da guerra fiscal. 2.1 A fase pré-industrial: compreende, praticamente, todo o período colonial e o império. 2.1.1 Os engenhos de açúcar A primeira manifestação da atividade industrial na Paraíba foi o engenho de açúcar. Como é sabido, o processo de colonização brasileira foi comandado pela produção do açúcar para exportação. O engenho compreendia tanto a atividade agrícola quanto a unidade industrial para a transformação da cana em açúcar. O primeiro engenho construído na Paraíba foi o Engenho Tibiri. Ele foi construído pelo Governador João Tavares como patrimônio da coroa portuguesa no local onde está situada a cidade de Espírito Santo, em 1587, dois anos após a fundação da cidade de Filipéia (LEAL, 1989). Os engenhos se disseminaram com certa rapidez, de modo que em 1634, ano em que os holandeses estabeleceram o seu domínio na Paraíba, já havia 18 engenhos: O vale do Paraíba e os terrenos banhados pelos seus tributários achavam-se densamente povoados e vestido o seu solo pelos imensos canaviais, que fornecia a matéria-prima para a movimentação de dezoito engenhos de açúcar, todos servidos de moradores, escravatura africana e silvícolas domesticados. (LEAL, 1989, p.32) No domínio holandês, houve incentivo à produção de açúcar em virtude do acesso ao capitalmercantil detido pela Companhia das Índias Ocidentais. Na verdade, 4 os holandeses como detinham um volumoso capital mercantil, eles também controlavam as rotas comerciais e os canais de comercialização do produto na Europa. Assim, o número de engenhos na Paraíba elevou-se a 20. Alguns deles foram vendidos aos holandeses ou foram confiscados em virtude de não pagamento dos débitos contraídos. A tabela 2 apresenta a relação dos engenhos existentes e os seus proprietários. Tabela 2 – Engenhos existentes na Paraíba durante o domínio holandês e seus proprietários (1630-1654) Engenhos Proprietários Tibiri de Cima ou Santa Catarina Jorge Homem Pinto Tibiri ou São Felipe e Jacó Jorge Homem Pinto Três Reis Magos Francisco Camelo Valcassar São Gonçalo Antonio Pinto de Mendonça São Francisco Ventura Mendes de Castello Santo André Jorge Homem Pinto São Cosme e São Damião ou Inhobi Duarte Gomes da Silveira Engenho Novo Duarte Gomes da Silveira Espírito Santo Mense Francen Aurenhout * Barreiros Josias Marschal* Do Meio ou São Gabriel (Middelburg) Isac de Rasiere* Velho (em ruínas) Duarte Gomes da Silveira São João Batista Jerônimo Cadena Santa Lúcia João de Souto S. Antonio ou Van der Dussen João Cornelisz Jongeneel Genipapo André Dias de Figueiredo Itapoá Antonio Valadares Miriri Francisco Álvares da Silveira La Rasiere Isac de Rasiere* São Tiago Duarte Gomes da Silveira Fonte: SANTANA, 1990, p. 157 *Engenhos vendidos ou confiscados pela Companhia das Índias Ocidentais O progresso da atividade canavieira foi, no entanto, interrompido durante a luta contra os invasores. A destruição dos canaviais e dos engenhos fazia parte da estratégia de luta. Era a estratégia da “terra arrasada”, pois os canaviais eram “fonte dos rendimentos dos ocupantes e do erário público e que estavam quase todos incorporados aos bens dos holandeses devido a violentas e abusivas expropriações dos engenhos.”(LEAL, 1989, p. 41). Ao término da expulsão dos holandeses, só havia na Paraíba dois engenhos em funcionamento. A recuperação se fez rapidamente. Segundo Irineu Pinto, no início dos anos 1660, já estavam em funcionamento 42 engenhos (1977, p. 63). Essa recuperação econômica, porém, não teve longa duração, pois a produção açucareira brasileira teve que enfrentar a competição do açúcar antilhano comandada pelo capital comercial holandês (CANABRAVA, 1981). Com efeito, expulsos do Nordeste brasileiro, os holandeses se fixaram nas Antilhas, onde passaram a produzir o açúcar, cuja tecnologia de fabrico eles tinham aprendido no Brasil. O açúcar antilhano 5 era produzir com menores custos, pois os escravos vinham diretamente da Costa do Marfim 1 e era de melhor qualidade de refino. No final do século XVIII, o número de engenhos existentes na província situava- se entre 32 e 37 (LEAL, 1989, p. 100 e 108). Só em meados do século XIX é que se verifica um novo surto de crescimento da atividade açucareira. Em 1857, “safrejavam 200 engenhos de açúcar.” (LEAL, 1989, p. 173). Data dessa época a introdução das primeiras rodas d’água “que representavam notável progresso no método de acionamento das moendas” (LEAL, 1989, p. 167), bem como do arado de ferro (PINTO, 1977, p.222). Os dados das exportações de açúcar, apresentados na tabela 3, revelam o surto de crescimento experimentado pelas exportações de açúcar no início da segunda metade do século XIX. Tabela 3– Província da Paraíba: exportação de açúcar, algodão e couro (1837-1861) Anos Açúcar 1 Algodão 1 Couro 1 1837/38 93.668 109.025 8.313 1839/40 98.649 58.870 30.338 1840/41 187.336 70.560 12.876 1841/42 88.952 58.763 14.895 1842/43 122768 97.010 8.300* 1843/44 115.175 98.108 16.100 1844/45 128.127 147.857 23.133 1847/48 153.207 90.721 8.958* 1848/49 369.087 187.941 4.862* 1854 305.082 195.665 - 1855 24.800 255.492 - 1858 675.878 190.534 9.311* 1859 914.843 243.187 28.117 1860 405.194 178.267 - 1861 599.594 187.787 12.083 Fonte: PINTO (1977) Nota: (1) Quantidade exportada em arroba. Além do espaço açucareiro da Zona da Mata, a Paraíba viu desenvolver outro espaço canavieiro na região do Brejo Paraibano, embora de menor expressão tanto econômica quanto social e política. Segundo Almeida: Tem-se notícia da existência de engenhos no Brejo já na segunda metade do século XVIII. Na verdade, eram engenhocas com trapiches totalmente de madeira, cujas fábricas eram palhoças montadas sobre as armações das almanjarras... O registro mais notável refere-se ao engenho Bolandeira, em Areia, onde teria se fixado Francisco Xavier de Miranda Henrique, em 1764, terminado o seu governo da capitania da Paraíba. (ALMEIDA, 1994, p. 20-21) 1 Com a expulsão, a Holanda recebeu como indenização pelos investimentos aqui realizados a Costa do Marfim e a ilha de Sal de Setubal. 6 É, no entanto, na segunda metade do século XIX, que há um crescimento mais acentuado dos engenhos de açúcar e de rapadura para abastecer, principalmente, a zona sertaneja. Eram pequenas unidades de produção, com equipamentos sem grandes avanços: Adota-se a moenda de eixos horizontais e, em alguns casos, os cilindros de madeira são substituídos pelos de ferro. A tração animal somente começaria a ceder lugar ao motor a vapor no final do século. No cozimento, adotava-se o chamado ‘ trem francês’, com fornalha única. No campo, a cana ‘ crioula’ começa a ser substituída pela variedade cayenna ou ‘caiana’, como ficou conhecida. (ALMEIDA, 1994, p. 25) 2.1.2 Olarias para o fabrico de tijolos e telhas Em 1858, assim se expressava o presidente da Província: “A industria pouco partido tem tirado das riquezas mineraes nesta província. Por ora, pelo que se observa, Ella apenas tem feito uso das argilas e do carbonato de cal, que se encontra em profusão; as primeiras em toda a parte, a segunda em muitos districtos e sobretudo nesta capital. Cumpre porém observar que as argilas, sendo de excellente qualidade não tem concorrido para o credito das olarias, porque as obras que dellas sahem e mormente o tijolo de alvenaria, são, em geral de péssima qualidade. Todas estas obras são fabricadas grosseiramente, em falta de aparelhos próprios, movidos a vapor.” (PINTO, p. 262-262) 2.1.3 Artífices (marceneiros, pedreiros, funileiros, alfaiates, tecelões, etc.). Em relatório de 1858, o Presidente da Província, Rohan assim se exprimia a respeito da indústria paraibana: “Aqui reduz-se ao exercício de várias artes mechanicas como a marcenaria, serralheria,chapelaria, etc, em pequenas e raras officinas, pouco ou nenhum progresso tem tido nestes últimos annos e os seus productos não chegam para o consumo.” (PINTO, 262). 2.2 Fase de instalação da indústria: articulação com a produção agrícola Tal como acontecia no Brasil, em meados do século XIX, a indústria paraibana era de pequena dimensão e as pequenas unidades de transformação estavam espalhadas pelo território estadual. Essa situação foi em grande parte devida à política anti-industrial que predominou durante todo o período colonial e mesmo durante o império, face às pressões inglesas para que não fosse permitida a produção, particularmente, dos produtos têxteis em território brasileiro. Assim, é só no final do século XIX é que começam a ser instaladas de forma mais consistente as empresas industriais. Como será visto a seguir, segundo os principais gêneros de indústria. 2.2.1 Indústria têxtil: beneficiamento das fibras têxteis, particularmente do algodão. A produção do algodão já estava presente na economiaparaibana, ocupando um lugar de importância, com a exportação da sua pluma rivalizando com a exportação de açúcar já na primeira metade do século XIX, como pode ser visto pelos dados apresentados na tabela 2. No entanto, é só no final do século XIX, que começou a se 7 destacar o ramo industrial ligado ao beneficiamento do algodão. É bem verdade que já havia pequenas unidades artesanais de fabricação de tecidos de algodão no interior das propriedades, particularmente no sertão, integrando o que ficou conhecido como complexo rural: nas propriedades além das atividades agrícolas (produção de alimentos e de culturas comerciais) e da pecuária, também se desenvolviam algumas atividades artesanais a exemplo da produção do fio (em fusos manuais) e de tecidos rústicos utilizando-se teares manuais. À medida que a cotonicultura se consolida e conquista espaços na agricultura estadual, cresce de importância o ramo têxtil. Ele desenvolve-se, inicialmente, com dois sub-ramos bem diferenciados: a produção de tecidos e o beneficiamento do algodão. 2.2.1.1 As fábricas-cidades: A produção de tecido em manufaturas, inicia-se no final do século XIX com a instalação da Companhia de Tecidos Paraibana, fábrica Tibiri, no município de Santa Rita (1891) 2 . No início do século XX, tem-se a instalação da fábrica de tecidos de Rio Tinto. Estas fábricas absorviam uma grande quantidade de mão-de- obra, tendo sido necessária a construção de verdadeiras cidades para abrigar a população trabalhadora. Toda a tecnologia era importada, principalmente da Inglaterra, centro dinâmico da indústria têxtil, na época. A principal matéria prima utilizada, o algodão, era proveniente do próprio Estado e dos Estados vizinhos. 2.2.1.2 Unidades de beneficiamento do algodão: o algodão figurou durante muito tempo entre as principais culturas agrícolas da Paraíba, destinava-se tanto para o consumo interno quanto para a exportação. Antes porém de ser usada, essa fibra precisava passar por um processo de beneficiamento. No caso do algodão, o beneficiamento consistia na retirada dos caroços da pluma. Esse processo era chamado de descaroçamento. Inicialmente, isso era realizado em pequenas unidades, chamadas de bolandeiras, que estavam espelhadas pelas cidades e pelas fazendas de todo território estadual 3 . Na sequência, isso foi realizado por grandes unidades de produção, presentes nas principais cidades do Sertão, da Borborema e do Agreste. Essas empresas além de descaroçarem o algodão também processavam o caroço para extrair o óleo e para fabricar a torta do caroço para alimentação animal. A pluma depois de descaroçada era enfardada para comercialização. As principais empresas que operavam no Estado da Paraíba eram a SANBRA (Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro) e a Anderson Clayton, ambas de capital estrangeiro. A indústria Matarazzo, localizada em João Pessoa, também beneficiava a pluma, desenvolvendo também a fiação do algodão. 2 A Companhia de Tecidos Paraibana foi a primeira grande unidade industrial construída no Estado. A sua inauguração data de 1891. Os seus fundadores foram os irmãos portugueses Antonio Valente e os irmãos Joaquim Garcia de Castro e Antonio Garcia de Castro, proprietários da firma Castro Irmãos e Companhia, que operava em João Pessoa no ramo de tecido desde o ano de 1870. O maquinário da fábrica e a estrutura de ferro utilizada na sua construção foram importados da Inglaterra. Máquina de tecelagem na época inicial trabalhava com 424 teares, e empregava cerca de 700 operários. Na sua fase áurea, a fábrica chegou a empregar cerca de 2.500 trabalhadores. Dada a importância do empreendimento, foi construída uma estação ferroviária, já que a linha de ferro, que ligava João Pessoa a Campina Grande, passava em frente da fábrica. Isso facilitava tanto o transporte dos operários que não residiam na vila operária, quanto o transporte da matéria prima e dos tecidos produzidos até o porto de Cabedelo. A fábrica também mantinha um clube recreativo, uma escola e um time de futebol. 3 Em 1916, o número de descaroçadoras de algodão existentes no na Paraíba, elevava-se a cerca de 230. Esse número cresce de forma significativa, de modo que em 1922 eram registradas 581 unidades de descaroçamento de algodão, sendo 427 a vapor e 154 a animais (FERREIRA, 1986). Com o advento das usinas de beneficiamento de algodão, as pequenas unidades de descaroçamento sofrem uma forte concorrência, terminando por fechar as suas portas (MARIZ, 1978)). 8 De acordo com a tabela 4, entre 1891 e 1930, havia na Paraiba 20 estabelecimentos têxteis, a maioria deles era de beneficiamento de algodão. Para produção de tecidos havia 5 unidades produtoras e um estabelecimento para produção de redes. Como a produção do algodão estava concentrada no Agreste e no Sertão, havia uma maior dispersão espacial das unidades de beneficiamento, com a presença dessas unidades em Cajazeiras, Santa Luzia, Picuí, Alagoa Grande , Campina Grande e João Pessoa. Essa maior dispersão espacial pode ser explicada pela tentativa de redução dos custos de transporte com a pluma. Das informações apresentadas, destaca-se, também, a grande concentração de unidades industriais existentes em Campina Grande: das 20 estabelecimentos industriais recenseados, 9 encontravam-se em Campina Grande. Com efeito, essa cidade já despontava como um pólo econômico importante no contexto estadual, não apenas como um centro comercial importante, mas também como um centro industrial expressivo para o contexto estadual. Tabela 4 – Paraíba: Estabelecimentos têxteis existentes na Paraíba entre 1891 e 1930 Denominação Local Produto Ano de Fundação Cia de Tecidos Paraibana S. Rita Tecido 1891 Fab. Campinense C. Grande Tecidos 1919 Fab. de Tecidos R. Tinto R. Tinto Tecidos 1924 Fábrica Arenápolis Areia Fiação 1925 Fab. Bodocongó C. Grande Tecidos 1928 Fáb. de Fiação e Tecelagem de Juta C. Grande Tecido 1928 Kroncke & Cia J. Pessoa Ben. Algodão 1905 Usina Borborema Picuí Ben. Algodão 1914 J. Von Sohsten Cabedelo Ben. Algodão 1918 W. P. & Cia C. Grande Ben. Algodão 1919 T. Medeiros Sapé Ben. Algodão 1922 Fábrica de Redes C. Grande Redes 1922 Sanbra S. Luzia Ben. Algodão 1922 Sion & Cia. C. Grande Ben. Algodão 1923 Leitão & Cia C. Grande Ben. Algodão 1923 Soares de Oliveira e Cia J. Pessoa Ben. Algodão 1927 Usina Sta. Cecília Cajazeiras Ben. Algodão 1928 J. de Vasconcelos & Cia. C. Grande Ben. Algodão 1930 Soc. Paraibana de Benef. e Prensamento de Algodão A.Grande Ben. Algodão 1930 Soc. Paraibana de Benef. e Prensamento de Algodão C. Grande Ben. Algodão 1930 Fonte: FERREIRA, 1986. No final da década de 40, expande-se a produção de sisal e, em conseqüência, o beneficiamento do sisal. O beneficiamento dessa fibra é feito em três fases: a) a primeira é o desfibramento que consiste na retirada de toda celulose da folha do agave; isso é feito através de máquinas de desfibramento 4 colocadas próximas aos campos de agave; as máquinas são movidas a diesel; b) a segunda fase é feita em grandes unidades para tratamento da fibra e enfardamento; as empresas Sanbra e Anderson Cleyton 4 O desfibramento também era realizado de forma manual, principalmente nas pequenas propriedades. 9 também atuavam nessa fase; c) a terceira fase é também efetuada em grandes unidades e representa um processo industrial propriamente dito com o fabrico de cordas, de tapetes, etc. As maiores unidades industriais estavam localizadas na cidade de Bayeux (Brascorda, Fibrasa, etc.).Corte da folha do agave e transporte até o “motor” para desfibramento. Motor de desfibramento do agave. Transporte da fibra do motor para lavagem e secagem nos estaleiros. Estaleiro para secar a fibra. Fardamento do sisal Produção de tapetes 2.2.2 A indústria de alimentos A indústria de alimentos instalada nessa época pode ser dividida em dois grandes blocos: a) as usinas de açúcar e; b) pequenas unidades de produtos alimentares. 2.2.2.1 Usinas de açúcar: No final do século XIX, houve uma tentativa de modernização do fabrico do açúcar com a instalação dos chamados “engenhos centrais”, movidos a vapor, que tinham como orientação básica a separação da atividade agrícola da atividade 10 industrial 5 . Na Paraíba foi instalado um único engenho central. A concessão do Engenho Central na Paraíba data do início da década de oitenta do século XIX, quando a Companhia de Engenhos Centrais, formada por capital holandês obteve a concessão de um engenho na várzea do Paraíba (MARIZ,1939). No entanto, a sua construção só ocorre alguns anos mais tarde: Em meio a grandes festejos, a 20 de agosto de 1885 iniciou-se a construção do Engenho Central São João (na freguesia de Santa Rita, município da capital), com a finalidade de “melhorar o fabrico do assucar de canna mediante o emprego de aparelhos modernos e aperfeiçoados”. (SANTANA, 1990, p. 195) O Engenho Central São João já nasce em meio a dificuldades por conta dos investimentos e prazos estabelecidos pelo Governo Imperial para sua conclusão, além disso, a escassez de cana para suprir as necessidades da fábrica se apresentava como um grande problema. Com a chegada da República, ocorreram modificações nas concessões dos engenhos centrais, adotando uma lei republicana que permitia e incentivava a companhia a plantar cana. Diante do insucesso dos engenhos centrais, foram criadas as usinas de açúcar, reintegrando as atividades agrícola e industrial. As principais usinas instaladas na Paraíba foram: Usina São João (Santa Rita), Usina Santa Rita (Santa Rita), Usina Santana (Santa Rita), Usina Monte Alegre (Mamanguape), Usina Santa Maria (Areia) e Usina Tanques (Alagoa Grande). Além do açúcar, essas usinas também produziam álcool, ainda que em pequena proporção. 2.2.2.2 Pequenas unidades de produção de alimentos Este segmento incluía pequenas unidades de produção com destaque para as padarias e a produção artesanal de doces e derivados de leite (queijo, manteiga, etc.). Embora houvesse concentração nos maiores centros urbanos, a indústria de alimentos apresentava uma maior dispersão espacial do que os demais ramos industriais. 2.2.3 Indústria de couro e calçados Esse segmento incluía fábricas de sapatos e artefatos de couro (7 estabelecimentos), localizados em João Pessoa, e 6 curtumes, localizados em Itabaiana (1), João Pessoa (4), Alagoa Grande (1) e Campina Grande (1). Desde os anos 1970 que o setor tem atravessado uma longa crise com o fechamento de quase todas as unidades. Havia e ainda há curtumes manuais no estado 6 Além dos curtumes, havia também na 5 O governo imperial procurou incentivar o processo de modernização da indústria açucareira através de criação de linha de crédito a juros baixos para o melhoramento da produção de açúcar e de álcool, tendo em vista aumentar a competição do açúcar brasileiro no mercado internacional. Para tanto, em novembro de 1875, o governo publicou o. Decreto no 2.687, que “autoriza o Governo para conceder, sob certas cláusulas, ao Banco de Credito Real que se fundar segundo o plano da Lei nº 1.237 de 24 de Setembro de 1864, garantia de juros e amortização de suas letras hipotecárias, e bem assim para garantir juros de 7% às companhias que se prepuserem a estabelecer engenhos centrais para fabricar açúcar de cana”. (BRASIL, 1875) O Decreto no 8.357, de dezembro de 1881 aprova o regulamento para as concessões de engenhos centrais, com garantia de juros ou fiança do Estado. Base da Legislação Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. 6 Para ter uma visão do funcionamento e da organização interna dos curtumes artesanais, visite o site: http://kenia.art.br/fotos_documentarios_brasilia_df/72157621973889148/1 11 Paraíba pequenas unidades de produtos de montaria (selas, arreios, roupa de vaqueiros etc.). 2.2.4 Indústria química Nessa fase, foram instaladas algumas unidades de fabrico de sabão, velas, perfumaria e produtos farmacéuticos, nos principais núcleos urbanos do Estado, principalmente em João Pessoa. 2.2.5 Indústria gráfica No Estado, foram instaladas pequenas unidades de editorial e gráfica, além da instalação de alguns jornais de maior circulação como a União, A Imprensa, etc. Tratavam-se tanto de litografias quanto de tipografias. Entre 1899 e 1911, há registro da existência de 6 unidades instaladas, das quais duas na cidade de Areia. Os principais produtos eram a edição de jornais, impressos em geral e carimbos (FERREIRA, 1986). No início do século XX, são introduzidas inovações tecnológicas na indústria gráfica, com a adoção de máquinas de composição por parte das gráficas (os lynotipos), o que desencadeou uma forte reação dos artífices gráficos da época (KOURY, 1986). 2.2.6 Indústria de fumo e bebidas Havia um número significativo de pequenas oficinas de produção de cigarro (as cigarreiras), desenvolvendo uma atividade caracteristicamente artesanal. Tal como aconteceu com a indústria gráfica, no início do século, também houve mudanças no processo produtivo com utilização de máquinas “para manufactura de cigarros de fumo desfiado (...) acionada por um motor elétrico de força de 2 cavallos produzindo a media de 15 mil cigarros por hora” (Jornal União de 21/7/1915 apud KOURY, 1986, p. 35). No tocante à indústria de bebidas, já tinham se instalado algumas fábricas tais como Tito Silva (1892), Cabedelo (1905), Dore (1910) e Sanhauá (1922). Os principais produtos do ramo de bebidas eram: bebidas gasosas, cerveja, vinho de caju e de genipapo, vinagre, genebra, Os estabelecimentos produtores de bebidas estavam fortemente concentrados em João Pessoa: dos 15 estabelecimentos produtores de bebidas, existentes entre 1892 e 1930, apenas um estava localizado em Itabaiana; todos os demais estavam em João Pessoa. 2.2.7 Indústria extrativa mineral e de minerais não metálicos Desde o final do século XIX surgiram as primeiras iniciativas relacionadas ao aproveitamento dos recursos minerais do Estado, com destaque para a primeira fábrica de cimento, fundada em 1892. Também há registros de fábricas de cal. Existiam também 7 olarias, produzindo tijolos, telhas e mosaico. 2.2.8 Consideração geral sobre a indústria paraibana nessa fase Uma visão de conjunto da evolução do setor industrial paraibano no início do século XX pode ser obtida através da análise da Tab. 5. Da análise dos dados apresentados na Tabela 5, quatro observações podem ser feitas: 12 Tabela 5 - Brasil e Paraíba: Número de estabelecimentos, capital empregado, empregados e valor da produção (1907-1920) Especificação 1907 1920 1940 Brasil N. de estabelecimentos 2.988 13.336 Capital empregado 580.691:074 1.815.156:011 N. de empregados 136420 275.512 Valor da Produção 668.843:372 2.989.176:281 Paraiba N. de estabelecimentos 36 251 737 Capital empregado 3.394:500 14.135:173 181.080 N. de empregados 1.161 3.035 13.210 Valor da Produção 3.307:921 33.137:059 191.328 Fonte: IBGE – Estatísticas históricas a) o setor industrial paraibano representava uma pequena parcelado setor industrial brasileiro, embora tenha uma participação crescente em todas as variáveis apresentadas, indicando um maior dinamismo do que no quadro nacional; b) há um significativo crescimento tanto no número de empresas quanto no número de empregados; c) o tamanho médio das empresas, tomando como base o número de empregados, é de pequeno porte, tendo havido uma redução quando se compara os dados de 1907 (32) com os de 1920 (12) e 1940 (17); d) não uma grande diferença nos indicadores de produtividade da indústria paraibana em relação à nacional: em 1920, o valor da produção por trabalhador era de 10,8 contos de reais para a indústria brasileira e de 10,9 contos de reis para a paraibana; em 1940. A composição do setor industrial paraibano pode ser analisada com base nos dados apresentados na Tabela 6, referentes ao ano de 1919. Como se pode observar, em 1920, a indústria têxtil era o ramo industrial mais importante no cenário econômico estadual. Ela abrigava 67% dos estabelecimentos industriais, empregava 59,9% da mão de obra do setor e contribuía com 61,5% do valor da produção industrial paraibana. Como já ressaltado anteriormente ela era constituída tanto por unidades de produção de tecidos quanto por unidades de beneficiamento da pluma do algodão. Tabela 6 – Paraiba: Estabelecimentos da indústria de transformação, segundo os grupos de indústria – 1920 Ramos industriais 1920 N. Estab N. Empr. V. Prod.* Têxtil 169 1.818 20.381 Couro 4 174 3.899 Madeira 2 28 296 Cerâmica 4 47 165 Produtos químicos 7 233 2.311 Alimentos 31 420 4.294 Vestuário 22 144 932 Mobiliário 2 75 538 Edificação 9 96 316 Apar. de transportes 1 - 5 Total 251 3.035 33.137 FIBGE: Recenseamento do Brasil, 1920. Nota: (*) em contos de reis 13 Em segundo lugar, estava a indústria de alimentos (segundo o censo de 1920 incluía também os estabelecimentos produtores de bebidas), porém com participação bem inferior à indústria têxtil. Havia, na época 31 estabelecimentos, empregando 420 trabalhadores e com um valor da produção da ordem 4,3 mil contos de reis. Convém destacar que a implantação dessas primeiras unidades industriais na Paraíba não foi o resultado apenas de decisões privadas. Isto é, tal como aconteceu em outros países, o processo de industrialização não ocorreu de forma espontânea. A participação do Estado, seja regulando, protegendo e criando mercado, seja estimulando a instalação de novas unidades produtivas, seja ordenando o mercado de trabalho, ou ainda propiciando a infraestrutura necessária para a produção e circulação de mercadorias industriais tem sido uma constante na história da industrialização (CHANG, 2006). No Brasil, a literatura sobre o assunto destaca a importância do Estado no esforço de superação do modelo primário exportador e na arrancada do processo de industrialização (STEIN, 1979; CANO, 1981;DEAN, 1978; FOOT E LEONARDI, 1982; LUZ, 1961). Na verdade, desde a segunda metade do século XIX que o governo provincial vinha tomando algumas medidas no sentido de incentivar a instalação de fábricas e de infra-estrutura, como pode ser visto através das informações contidas no quadro 1. Como se pode observar, na Paraíba, também se verifica a influência do Estado na implantação e dinamização do setor industrial. Essa presença é encontrada nas diferentes fases da história da indústria estadual. Durante o período colonial, verifica-se o controle do Estado através do controle do comércio externo e das diferentes regulamentações sobre a atividade manufatureira. Já no império, quando no Brasil iniciam-se algumas iniciativas de produção industrial, são observadas algumas iniciativas do governo provincial com o objetivo de estimular a instalação de indústrias na Paraíba. No Quadro abaixo, são apresentadas algumas dessas medidas: Quadro 1 – Paraíba:Algumas medidas de estímulo às atividades produtivas durante o império e durante a primeira metade do século XX Ano Instrumento Objetivo Beneficiado 1867 Lei n. 274 de 24/9 Concede financiamento a um juro de 3% a.a , durante um período de 30 anos Empresa que queira construir um porto de comércio em Cabedelo que assegure o comércio direto de importação e exportação com alguns países estrangeiros, não devendo exceder o capital a mil contos de re 1867 Lei n. 277 de 27/9 Concede redução de 1% nos dízimos de exportação de gêneros de produção da Província que forem despachados diretamente para pais estrangeiro. Negociante que importar diretamente de pais estrangeiro pelo menos cem contos de reis de mercadorias e máquinas agrícolas. 1875 Lei n. 595 de 23/11 Concede isenção de imposto por 15 anos para instalar uma fábrica de gelo em João Pessoa Luiz Ferreira Leal 14 1876 Lei n. 629 de 26/7 Concede prêmio de um mil contos de reis Para o plantio de seis mil pés de café 1877 Lei n. 641 de 21/9 Concede isenção de imposto; Para Salviano Ramos instalar na Paraíba “prensas de ferro movidas a vapor para enfardar algodão” 1888 Lei n. 850 de 8/10 Concede prêmio de mil contos de reis. Fazendeiro que construísse um açude em sua propriedade. 1911 Lei n. 361 de 18/10/1911 Isenta de impostos Empresas que se utilizassem de quedas d’água para produção de energia 1911 Dec. n. 484 de 13/3/1911 Isenta de impostos Coronel Segismundo Guedes Pereira para montar uma fábrica de laticínios na Paraíba; 1912 Dec. n. 519 de 1/12/1912 Isenta de impostos Engenheiro francês Juan Andreaux para instalar uma fábrica de cimento na Paraíba; 1912 Dec. n. 540 de 29/6/1912 Isenta de impostos Julius Von Sohsten para instalar uma indústria pesqueira; 1912 Dec. n. 542 de 1/7/1912: Isenta de impostos Sidney C. Dore para instalar uma fábrica de águas gasosas; 1913 Dec. n. 658 de 9/8/1913 Isenta de impostos Francisco Sotter de Figueiredo Castro para explorar uma empresa de iluminação elétrica na cidade de Itabaiana; 1913 Concede prêmio de 3 mil contos de reis empresa de navegação que escalasse pelo menos um navio por mês para fazer a linha Cabedelo-Europa. Fonte: MAIA; ZENAIDE,1986. Como se pode observar, são medidas que objetivavam ampliar a infraestrutura produtiva (porto e açude) e fornecer estímulo direto à atividade produtiva. Essas medidas ora eram destinadas a pessoas específicas, ora eram oferecidas em aberto a quem se interesse pela obtenção do benefício. Os principais instrumentos utilizados eram a concessão de prêmios, a isenção de impostos e a disponibilização de recursos a juros baixos. 2.3 Fase de industrialização incentivada Esta fase é chamada de fase incentivada pelo fato do forte crescimento industrial experimentado na Paraíba ter resultado do conjunto de políticas implementadas entre 1950 e a primeira metade da década de 1980. Portanto, não se está afirmando que os incentivos surgiram nessa época. Como ficou mostrado no item anterior, desde o início do processo de industrialização não faltaram iniciativas seja do governo central seja do estadual no sentido de estimular a instalação de unidades produtivas e de consolidar a infraestrutura necessária a esse processo. A intensificação da intervenção estatal nesse período é resultado de uma série de fatores, dentre os quais podem ser destacados: a) a experiência de planejamento centralizado vivenciada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) 15 difundiu a necessidade de planejamento das economias como estratégiade desenvolvimento; b) a implantação do Estado do Bem-Estar, a partir da década de 30, aumentou a participação do Estado no fornecimento de serviços educacionais, de saúde e previdenciários; c) a implantação do Plano Marshall de reconstrução da Europa após a segunda guerra mundial mostrou a importância da intervenção estatal no processo de criação das condições necessárias para a recuperação econômica; d) a difusão da teoria keynesiana forneceu uma base conceitual para a intervenção estatal, uma vez que a instabilidade das despesas de investimento é transmitida à demanda agregada, provocando as crises periódicas do capitalismo; como medida corretiva, Keynes propunha que os gastos governamentais fossem utilizados como mecanismos para corrigir a insuficiência da demanda; e) consolidação e difusão da teoria heterodoxa do desenvolvimento econômico que argumentava ser a pobreza um processo resultante do próprio desenvolvimento das economias centrais e que o livre comércio antes de corrigir as distorções existentes entre os países avançados e os subdesenvolvidos aprofundava- as.; e f) o desenvolvimento da teoria cepalina que advogava que a industrialização era a única forma dos países latino-americanos superarem o seu subdesenvolvimento. Como resultado desse conjunto de fatores, inicia-se no Brasil, de forma orgânica, a formulação de políticas de desenvolvimento e as práticas de planejamento (MIDDLIN, 2011; IANNI, 2009). É nesse contexto que são estabelecidas as medidas de desenvolvimento econômico nas diferentes esferas governamentais. Em relação às políticas de industrialização que impactaram diretamente na economia paraibana, tem-se que elas são oriundas tanto da instância estadual quanto federal. No tocante às políticas implementadas pelo governo estadual, podem ser destacadas as seguintes medidas: a) José Américo de Almeida através do decreto n.567 de 21 de fevereiro de 1953, criou a Comissão de Desenvolvimento Econômico como órgão consultor e de planejamento do desenvolvimento do Estado, abrangendo “toda atividade ou ação que possa ser exercida em proveito do desenvolvimento econômico da Paraíba e, particularmente, no campo de industrialização e aproveitamento de nossos recursos naturais”. Compreendia também, “a racionalização dos processos agrícolas, bem assim o seu fomento e melhoria das condições de vida de sua população.”A CDE foi dirigida pelo secretário de agricultura José Fernandes de Lima e integrada por membros das classes empresariais; b) O governador Flavio Ribeiro Coutinho, através da Lei n. 1564 de 25 de outubro de 1956, criou um sistema de incentivos fiscais para investimentos industriais que isentava de todos os impostos as indústrias de vulto econômico que se instalassem no Estado com a seguinte progressão: i) isenção de 10 anos se o capital fosse superior a 15 milhões de cruzeiros e utilizasse matéria prima local; ii) isenção de 8 anos se o capital fosse superior a 10 milhões; iii) isenção de 5 anos se o capital fosse superior a três milhões; e iv) isenção de menos de 3 anos se o capital fosse inferior a três milhões. c) O governador Pedro Moreno Gondim, através do Decreto n. 1316 de 30 de maio de 1958, criou o Conselho Estadual de Desenvolvimento (CED), diretamente subordinado ao governador. O CED era constituído pelos secretários de Estado, pelos Chefes das Casas Cilvil e Militar, pelo Superintendente do Banco do Estado da Paraiba, pelos presidentes da Federação das Indústrias, da Federação do Comércio, da Federação das Associais Rurais e das Associações Comerciais. Competia ao CED: i) estudar as medidas necessárias à Coordenação política e econômica do Estado, particularmente no tocante ao desenvolvimento econômico; ii) elaborar planos e programas,visando aumentar a eficiência das 16 atividades governamentais e fomentar a iniciativa privada; iii) analisar relatórios e estatísticas sobre a evolução dos vários setores da economia; iv) estudar e preparar projetos, leis, decretos e atos administrativos; e v) manter-se informado da implementação das medidas aprovadas. Jose Lopes de Andrade foi quem assessorou o governador para a criação do CED e do FAGRIN, depois de ver a experiência da baiana, conduzida por Rômulo de Almeida. Lopes de Andrade foi o primeiro secretário do CED. No governo de Pedro Gondim, Ronald Queiroz assumiu a secretaria geral do CED. Organizou a equipe técnica formada por Heitor Cabral, Geraldo Stábile, Abelcir Daniel, Antonio Augusto de Almeida, Adalberto Barreto, Clidenor do Egito Araújo e Benigno Barcia. Integravam também a equipe técnica: Octávio de Sá Leitão Filho, Juarez de Paiva Macedo, João Soares, Hálamo Cunho, Arioswaldo Pereira e Jofre Borges de Albuquerque. d) O governador Pedro Moreno Gondim também criou o Fundo de Desenvolvimento Agrícola e Industrial (FAGRIN), através da lei n. 2031 de 8 de abril de 1959. A criação desse fundo objetivava permitir a intervenção do Estado no processo produtivo, mediante colaboração com pessoa de direito público e com pessoas jurídicas e físicas de direito privado, para a realização de programas de desenvolvimento da economia agropecuária, extrativa e industrial do Estado. A participação do Estado se daria através da participação no capital das empresas beneficiadas, por meio de ações nominais com direito a voto, assim como através da tomada de obrigações de empresas legitimamente organizadas. Não era permitido, “em qualquer hipótese, o controle do Estado sobre a maioria do capital”. e) Em 1967, durante o governo de João Agripino, são criadas duas instituições estaduais para dar suporte ao processo de industrialização estadual: o FUNDESP (Fundo de Industrialização do Estado da Paraíba) e a CINEP (Companhia de Industrialização do Estado da Paraíba), através do decreto n. 4.457. O FUNDESP absorveu o FAGRIN, após a sua liquidação, tendo como objetivos captar recursos para: i) instalar e operar os distritos industriais; ii) promover oportunidades de investimento no Estado, para fixar novos capitais no território estadual; iii) elaborar e executar programas e projetos para apoiar a indústria; iv) realizar pesquisas e programas de treinamento e aperfeiçoamento de recursos humanos; v) financiar, em convênio com o Banco do Estado, projetos industriais de pequena e média empresa. Por sua vez, a CINEP tinha por finalidade “a administração e operação do FUNDESP...” O FUNDESP vai ser reestruturado em 1986, dando origem ao FAIN (Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Industrial da Paraíba), que “tem por finalidade a concessão de estímulos financeiros à implantação, à relocalização, à revitalização e à ampliação de empreendimentos industriais que sejam declarados, por maioria absoluta do seu Conselho Deliberativo, de relevância para o desenvolvimento do Estado.” (ZENAIDE, 1996). Em relação ao governo federal, a política de desenvolvimento industrial dirigida ao Nordeste vai ser reforçada com a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, em 1959, durante o governo de Juscelino Kubitschek A criação da SUDENE resultou de uma recomendação do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), apresentada no relatório redigido por Celso Furtado, intitulado “Uma política de desenvolvimento para o Nordeste”. Em linhas gerais, o documento defendia a tese que o problema nordestino não estava na restrição do seu quadro natural, particularmente da semiaridez e, consequentemente, da 17 escassez de água. Para Celso Furtado, o problema do Nordeste estava no subdesenvolvimento em comparação com o desenvolvimento do centro-sul do Brasil. Para promover o problema nordestino, a sugestão central era promover a industrializaçãoda região 7 . Como promover a industrialização se não havia capital suficiente na região? Era necessário atrair o capital de outras regiões e de outros países. Para fazer isso, a lei de aprovação do 1 o Plano Diretor da SUDENE, no seu Art. 34 estabelecia que as empresas nacionais que quisessem investir no Nordeste, podiam utilizar 50% do imposto de renda devido à União para investir no Nordeste. Depois, na lei que aprovou o segundo plano diretor da SUDENE, no seu artigo 18, estendeu esse incentivo às empresas estrangeiras operando no território nacional. Este mecanismo ficou conhecido como sistema 34/18 8 . Esses recursos formavam um fundo de aplicação (posteriormente transformado no FINOR 9 - Fundo de Investimentos do Nordeste) para financiar projetos de investimento no Nordeste. Sob o impulso dos incentivos fiscais, seja do Estado, seja da União, o setor industrial paraibano sofreu um forte impulso, como pode ser verificado pelos dados apresentados na tabela 7. Da observação dessa tabela podem ser feitas as seguintes constatações: a) Ocorreu um forte crescimento no número de estabelecimentos industriais no Estado da Paraíba, tendo o seu número triplicado entre 1959 e 1979; b) Verificou-se, também, um crescimento no número do pessoal ocupado, variando de 17,2 mil, em 1959, para 42,3 mil, em 1979, o equivalente a um aumento de 2,4 vezes; c) O aumento no nível do emprego, foi inferior ao crescimento no número estabelecimentos, resultando numa diminuição do tamanho médio dos estabelecimentos, tomando o número de pessoal ocupado como medida do tamanho dos estabelecimentos: passando de 14,8 trabalhadores por estabelecimento, em 1959, para 12,1 trabalhador por estabelecimento, em 1979. Esses dados permitem inferir que o processo de industrialização paraibano foi intensivo em capital, tal como ocorreu para o Nordeste no mesmo período (PELLERIN, 1976); d) O crescimento, no entanto, não se deu de forma homogênea, resultando em uma mudança na estrutura industrial do Estado; e) Essa mudança pode ser sintetizada nos seguintes termos: perde peso os ramos industriais mais tradicionais do Estado, como produtos alimentares, bebidas, mobiliário, confecções, couros, gráfica e sabão e velas. Por outro lado, alguns ramos industriais crescem de importância, como: extração de minerais, produtos minerais não metálicos, metalúrgica, mecânica, borracha e plástico. 7 Além dessa medida, o documento também propunha outros quatro eixos de ação: a) promover a racionalização da lavoura canavieira, a fim de liberar terras para a produção de alimentos, de modo a baratear o custo de vida nas cidades; b) reorganizar a produção na região semiárida de modo a torná-la mais resistente às restrições do regime pluviométrico; c) ordenar a migração do excedente populacional resultante da reorganização de semiárido para a pré-amazônia maranhense; e d) consolidar e expandir a infraestrutura regional, particularmente a produção e distribuição de energia, a rede de estradas, modernização dos portos, etc. 8 A denominação 34/18 refere-se aos artigos 34 da Lei 3.995 de 14 de dezembro de 1961, alterado pelo artigo 18 da Lei. 4.239 de 27 de junho de 1963 9 O FINOR foi criado pelo Decreto-Lei nº 1.376, de 12.12.1974. 18 Tabela 7 – Paraíba: Número de estabelecimentos e pessoal ocupado (1959 – 1979) Ramos industriais Número de estabelecimentos Pessoal ocupado 1959 1969 1979 1959 1969 1979 Extração de minerais 8 10 43 59 572 566 Produtos minerais não metálicos 103 274 762 1.186 1.817 6.099 Metalúrgica 24 66 144 185 1.133 1.344 Mecânica 5 91 33 81 335 1.015 Mat.l elétrico e de comunicações 2 39 10 96 93 332 Material de transporte 8 45 32 40 192 262 Madeira 45 96 231 228 397 1.145 Mobiliário 142 179 286 536 605 1.592 Papel e papelão 2 7 12 15 150 463 Borracha 2 14 18 26 86 494 Couros, peles e produtos similares 32 30 42 614 288 568 Química 22 31 62 11 466 2.012 Prod. Farmac. e veterinários 2 1 2 x x Perfumaria sabões e velas 20 18 20 111 248 Produtos de materiais plásticos - 7 18 x 1.548 Têxtil 104 59 321 175 4.768 9.654 Vest., calç. e artefatos de tecidos 101 84 134 - 850 2.490 Produtos alimentares 468 1.284 1.202 8.065 6.358 9.482 Bebidas 37 105 47 628 492 785 Fumo 1 5 4 3.956 17 x Editorial e gráfica 26 46 60 298 768 1.136 Diversos 5 15 33 46 86 675 Total 1.157 2.552 3.481 17.215 19.762 42.331 Fonte: IBGE – Censos industriais A exaustão dessa fase está associada com a crise externa 10 que se abateu sobre a economia brasileira no início da década de 1980, levando à crise financeira do estado brasileiro. 2.4 Fase da integração e reestruturação produtiva Essa última fase é regida por dois fenômenos importantes: a globalização produtiva e a guerra fiscal. Antes de analisar a evolução do setor industrial nesse período, convém precisar o que se entende por globalização e por guerra fiscal. 10 Com a segunda elevação do preço do petróleo em 1979, os Estados Unidos elevaram a sua taxa de juros como estratégia para combater a inflação interna. Essa elevação da taxa de juros trouxe sérias consequências para a economia brasileira, pois o Brasil tinha adotado a estratégia de continuar crescendo através da utilização dos petrodólares. Esses empréstimos foram contraídos a taxa de juros não fixada, isso é, o país deveria honrar os seus compromissos, com base na taxa de juros vigente na data de pagamento. Desse modo, ocorre uma forte elevação da dívida. Esse aumento da dívida, obrigou o Brasil a recorrer ao FMI, que passou a monitorar a economia brasileira, exigindo entre outras coisas um processo de ajustamento do orçamento, que implicou em corte dos subsídios e dos estímulos fiscais. 19 Por globalização entende-se o processo de unificação dos mercados nacionais. Para isto, os países tiveram que fazer mudanças na sua política cambial e comercial, expressa na redução das taxas de importação, na eliminação de quotas de importação, etc. Por guerra fiscal, entende-se a disputa dos estados em atrair investimentos para os seus territórios. Para isso procuram oferecer reduções do ICMS e vantagens outras (redução dos preços de terrenos, disponibilização de infraestrutura etc.). A crise financeira do Estado brasileiro, nas décadas de 1980 e de 1990, coloca em cheque a política de incentivos fiscais em nível do governo federal, comprometendo a política de industrialização até então implementada. Dessa forma, os governos estaduais procuram substituir o vazio estabelecido com a retirada da política industrial do governo federal, por incentivos oferecidos em nível dos Estados, utilizando principalmente as reduções do ICMS, imposto de competência dos Estados. Estabelece- se, então, uma verdadeira luta entre as unidades federativas para quem oferece maiores vantagens para as indústrias que desejam se instalar em seus territórios. Daí o nome de guerra de fiscal atribuído ao processo. Essas vantagens oferecidas pelos estados nordestinos representavam, na prática, uma redução nos custos de produção, aumentando o poder de competição das firmas que instalassem no Nordeste. A essa vantagem, foi acrescido o baixo custo da mão-de- obra regional e o baixo nível de organização dos trabalhadores. Daí, as firmas que procuraram se instalar no Nordeste (e na Paraíba) foram, principalmente, as indústrias cujos processos produtivos são intensivos em trabalho. Essas iniciativas surtiram efeito. Como pode ser observado na Tabela 8, durante esse período podem ser destacadosos seguintes aspectos: Tabela 8: Paraíba: Número de estabelecimentos industriais e pessoal ocupado no setor industrial (1984 – 2007) Anos Unidades locais Pessoal Ocupado 1984 1.293 27.111 1996 885 39.641 1997 1.004 43.553 1998 1.033 41.675 1999 1.194 41.933 2000 1.153 43.468 2001 1.229 44.062 2002 1.253 46.858 2003 1.327 46.910 2004 1.231 47.427 2005 1.307 52.652 2006 1.432 59.288 2007 1.312 64.239 Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Anual a) Houve uma redução no número de estabelecimentos industriais entre 1984 e 2001, coincidindo com o processo de abertura comercial da economia brasileira que teve impacto negativo sobre o setor industrial, pois aumentou a exposição da indústria nacional à competição internacional. Nesse período a literatura registra, em nível nacional, o fechamento de muitas indústrias que não conseguiam enfrentar a competição; 20 b) Apesar da redução do número de estabelecimentos industriais, o nível do emprego apresentou uma trajetória crescente. Isso pode ser um efeito dos incentivos fiscais oferecidos pelo governo estadual, que conseguiu atrair para o estado empresas de grande porte intensivas no fator trabalho; c) A partir de 2001, verifica-se o crescimento do número de empresas locais instaladas no Estado, assim como o crescimento do nível de emprego. Como se sabe, após a mudança na política cambial realizada em 1999 e da política macroeconômica a partir de 2003, houve uma maior estimula às exportações e a a economia brasileira voltou a trilhar uma trajetória de crescimento econômico. Outro aspecto importante dessa nova fase é a maior diversificação do parque industrial estadual, como será visto na seção seguinte. . III - A ATUAL ESTRUTURA PRODUTIVA E ESPACIAL DA INDÚSTRIA PARAIBANA Quanto à atual estrutura do setor industrial (veja gráfico 1), observa-se que houve uma maior diversificação do setor industrial paraibano, consubstanciada nos seguintes aspectos: a) O ramo de alimentos embora continue sendo o mais expressivo em termos de unidades produtivas e de volume de emprego, vê sua importância reduzida; b) Os ramos têxteis e de couro e artefatos de couro aumentam a sua importância, sobretudo no tocante ao volume do emprego gerado; c) O ramo de produtos minerais não metálicos é reforçado, tanto em termo de unidades quanto de emprego; d) O ramo de produtos plásticos e de borracha também é incrementado. Gráfico 1 – Paraíba: Evolução da quantidade de unidades do subsetor de transformação, segundo os ramos industriais (2000-2009). Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS. Apesar dessas mudanças, o setor industrial paraibano ainda está fortemente concentrado na produção de bens de consumo e de bens intermediários (estes últimos 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 U n id ad es ALIM E BEB IND CALCADOS IND TEXTIL IND QUIMICA BOR FUM COUR PAPEL E GRAF MAD E MOBIL MAT TRANSP ELET E COMUN 21 com exploração dos recursos naturais locais – minerais não metálicos, principalmente do caulim) (veja Cartograma 1). Cartograma 1 – Valor adicionado da atividade industrial no ano de 2009 Fonte: Albuquerque, 2012 Em termos espaciais, apesar de ter havido uma maior desconcentração da indústria, ela ainda se apresenta com grande concentração no entorno das maiores cidades, particularmente na grande João Pessoa e na Grande Campina Grande, como pode ser visualizado nos Gráfico 2. Gráfico 2 – Paraíba: Evolução do emprego no subsetor da indústria de transformação, segundo os principais municípios (2000 – 2009). Fonte: Albuquerque, 2012 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Bayeux Caapora Cabedelo Campina Grande Joao Pessoa Mamanguape Patos Pedras de Fogo Santa Rita E m p r e g o s Ano 22 IV - AS POLÍTICAS DE ESTÍMULO AO SETOR Como já foi ressaltado anteriormente, a existência de políticas de incentivo à industrialização não é uma realidade nova. Na verdade, ao longo da história econômica paraibana encontram-se diversas iniciativas governamentais voltadas para estimular o segmento das indústrias. No entanto, essas iniciativas são estruturadas de forma mais sistemática a partir da segunda metade do século XX Atualmente, a política industrial do Estado da Paraíba está centrada na isenção fiscal (redução do ICMS), através do FAIN, e de ações complementares tais como: fornecimento de infraestrutura, fortalecimento dos distritos industriais, da construção de galpões industriais, da qualificação da mão de obra, de financiamento para aquisição de equipamentos para os operários, etc. 11 Em relação à infraestrutura disponibilizada pelo governo estadual, destaca-se a criação dos distritos industriais. O distrito industrial é um espaço devidamente organizado com toda a infraestrutura (energia, saneamento, água, telefonia, transporte, etc.) e reservado para a instalação de unidades industriais. A Tabela 9 traz informações sobre os distritos industriais existentes no Estado. Tabela 9 – Paraíba: Distritos industriais e empresas instaladas Distritos Nº de Empresas Distritos Nº de Empresas João Pessoa Várzea Distrito Industrial de João Pessoa 110 Dist. de Mineração de Várzea - Distrito Industrial de Mangabeira 103 Sousa Campina Grande Distrito Industrial de Souza 7 Dist. Industrial de Campina Grande 65 Cajazeiras Dist. Industrial de Ligeiro 12 Dist. Industrial de Cajazeiras 13 Dist. Industrial do Velame 28 Conde Distrito Industrial de Caatingueira 24 Dist. Industrial do Conde I 8 Pólo Calçadista - Dist. Industrial de Conde II 7 Santa Rita Alhandra Distrito Industrial de Santa Rita 30 Dist. Industrial de Alhandra 7 Área Industrial de Santa Rita Rio Tinto Bayeux Dist. Industrial de Rio Tinto - Área Industrial de Bayeux - Catolé do Rocha Guarabira Dist. Ind. de Catolé do Rocha 5 Distrito Industrial de Guarabira I 16 Pedras de Fogo Distrito Industrial de Guarabira II 3 Dist. Ind. de Pedra de Fogo 46 Distrito Mecânico de Guarabira - Boa Ventura Queimadas Dist. Industrial de Boa Ventura 2 Distrito Industrial de Queimadas 24 Cuitegí Patos Dist. Industrial de Cuitegí - Distrito Industrial de Patos 11 Fonte: CINEP 11 Uma discussão mais aprofundada da política de incentivos do governo da Paraiba e de seus efeitos foi objeto do texto “Política de incentivos fiscais e geração de emprego na indústria paraibana” (NETO, BRASIL e TARGINO, 2006). 23 Como se pode observar, existem na Paraíba 26 distritos industriais, distribuídos em 17 municípios, aí incluídos os de maior dimensão. Apesar dessa dispersão espacial, verifica-se que há uma forte concentração na Grande João Pessoa (João Pessoa, Santa Rita, Bayeux, Conde, Alhandra) e na Grande Campina Grande (Campina Grande, Queimadas). Com efeito, nessas duas áreas, estão instaladas 82% das unidades industriais beneficiadas. CONCLUSÃO A evolução do setor industrial paraibano guarda uma estreita relação com o processo de industrialização brasileiro. Até meados do século XIX o setor industrial sofreu fortes restrições a sua expansão em decorrência das limitações impostas pelo projeto colonial português (produção de açúcar para exportação) e pelas proibições impostaspela Inglaterra para evitar a formação de núcleos de concorrência a sua indústria têxtil. Só no final do século XIX é que têm lugar as primeiras iniciativas de instalação de indústrias, que mantinham forte ligação com o setor agropecuário uma vez que beneficiavam as matérias primas dele procedentes (algodão, couro, leite, produtos alimentares, etc.). Na segunda metade de século XX, verificou-se um crescimento tanto do emprego quanto da produção industrial paraibana com base nos incentivos fiscais e creditícios ofertados tanto pelo governo federal quanto pelo governo estadual. Nas últimas décadas do século XX, o setor industrial paraibano é afetado pelo processo de globalização que provocou um deslocamento das indústrias intensivas em trabalho do centro-sul do país para a região Nordeste. Nessa última fase, tem-se que foi rompida a ligação do setor industrial com a economia estadual tanto nas relações a montante (deixou de beneficiar as matérias primas locais, à exceção da indústria de minerais não A evolução do setor secundário permitiu que ele ocupe, atualmente, um lugar importante na economia estadual, representando cerca de ¼ da produção e do emprego da Paraíba. Quanto à indústria de transformação, ela ainda apresenta algumas limitações: não chega a representar a metade do valor agregado do setor; está fortemente concentrada nos ramos de produtos alimentícios, têxtil, calçados e minerais não metálicos, vale dizer está voltada principalmente para a produção de bens de consumo não duráveis e intermediários; verifica-se um concentração espacial significativa em torno dos maiores centros urbanos, particularmente em torno de João Pessoa e de Campina Grande; a dinâmica do setor depende de modo expressivo dos incentivos governamentais. BIBLIOGRAFIA ALBUQUERQUE, Diogo Daniel Bandeira de. O desempenho da indústria de transformação paraibana na década de 2000. João Pessoa: UFPB, monografia de conclusão do curso de Ciências Econômicas. 2012 ALMEIDA, Antonio Augusto de. Brejo Paraibano: contribuição para o inventário do patrimônio cultural. João Pessoa: Secretária de Educação e Cultura, Departamento de Produção Gráfica, 1994. BRASIL. 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