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Trabalho de Conclusão do Curso de Direito - Responsabilidade Civil por abandono afetivo

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FACULDADE INTERAMERICANA DE PORTO VELHO
CURSO DE DIREITO
IASMIN TABOSA DE MENDONÇA
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO 
PORTO VELHO/RO 
2016
IASMIN TABOSA DE MENDONÇA
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade Interamericana de Porto Velho como requisito avaliativo para obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientadora: Me. Carolina Ribeiro Garcia Montai de Lima.
PORTO VELHO/RO
2016
IASMIN TABOSA DE MENDONÇA
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO
Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade Interamericana de Porto Velho como requisito avaliativo para obtenção do título de Bacharel em Direito.
 
Porto Velho/RO____de_____de 2016.
Banca Examinadora
 __________________________________________________
 Orientador (a) Prof.(a). Ms. Carolina Ribeiro Garcia Montai de Lima 
__________________________________________________ 
Arguidor I 
__________________________________________________
 Arguidor II 
__________________________________________________ 
Coordenador (a) Prof.(a). de TCC-Direito
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que é essencial em minha vida, autor do meu destino, meu guia e meu socorro presente em cada momento. À minha mãe Nancy Tabosa Damasceno e meu pai Jesus Lima de Mendonça meus alicerces. À mestre Carolina Ribeiro Garcia Montai de Lima pela paciência na orientação e incentivo para realização deste trabalho.
RESUMO
Pretende-se com este trabalho demonstrar o cabimento da responsabilidade civil e a obrigação de reparar um dano de causado por um pai ou uma mãe que abandona afetivamente seu filho, deixando de cumprir com seu dever constitucional de proteção, cuidado, educação, saúde e afeição. Progressivamente a jurisprudência vem pacificando o entendimento de que o abandono afetivo sofrido por um filho é capaz de gerar danos imateriais a este, causando-lhe dificultoso desenvolvimento emocional passível de comprometer seu comportamento e distorcer valores morais e éticos, consequências suficientes para seja caracterizado o dano moral e a obrigação do agente causador em reparar o dano como forma de compensação pelo prejuízo sofrido e para que o pai ou a mãe não fique impune diante do seu comportamento omisso que afronta princípios basilares do ordenamento jurídico brasileiro, como exemplo o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, Princípio da Proteção Integral e da Conviência Familiar. O abandono afetivo é uma realidade para muitas crianças, que se veêm desprovidas de um lar equilibrado e carentes de afetividade, carregando consigo consequências que mais cedo ou mais tarde interferirão no seu convívio entre outros indivíduos da sociedade. É fundamental que o Estado não fique inerte quanto a esse ilícito, uma vez que também lhe compete preservar o Instituto da Família da maneira mais eficiente possível e ao prevenir e até mesmo punir o abandono afetivo por partes de pais ou mães para com seus filhos nada está fazendo além do que protegendo suas crianças e seus adolescentes.
Palavras-chave: Família. Poder Familiar. Responsabilidade Civil. Danos Morais. Abandono Afetivo.
ABSTRACT
The aim of this work is monstrate the appropriateness of civil liability and the obligation to repair a demage caused by a father or a mother Who affectively abandons her child, failing to comply with its constitutional duty of protection, care, education, health and affection. Progressively jurisprudence is pacifying understanding of the affective abandonment suffered by a child is able to generate non-material damage, causing him cornered emotional development likely to jeopardize their behavior and distort moral and ethical values, sufficient consequences to be characterized the damage moral and the causative agent’s obligation to repair the damage as compensation for the damage suffered and that the father or mother does not GO unpunished before his negligent behavior that afront basic principles of Brazilian Law, for examples: the Dignity Principle Human Person, Principle of Integral Protection and Family Company. The emotional abandonment is a reality for many children who find themselves deprived of balanced and needy home to affectivity, carrying with consequences that sooner or later Will interfere in your living among other individuals in society. It is essential that the State don’t stay inert as this illicit, since it also for it to preserve the Family Institute as efficiently as possible and to prevent and even punish the affective abandonment of parts of father or mothers to their children anything he is doing in addition to protecting their children and adolescents.
Keywords: Family. Family Power. Civil Responsability. Moral Demages. Abandonment Affective. 
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	9
2 FAMÍLIA PARA O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO	12
2.1 CONCEITO DE FAMÍLIA 	13
2.1.1 Poder Familiar	14
2.1.2 Filiação	15
2.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS	16
2.2.1 Família no Código Civil de 2002	16
2.2.2 Família na Constituição Federal de 1988	17
2.3 ASPECTOS HISTÓRICOS DA FAMÍLIA	19
2.4 ASPECTOS SOCIOLÓGICOS DA FAMÍLIA	20
2.5 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA	21
2.6 DIREITO COMPARADO	25
3 RESPONSABILIDADE CIVIL	28
3.1 NOÇÕES GERAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL	28
3.1.1 Conceito de Responsabilidade Civil	29
3.2 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL	30
3.2.1 Da conduta	30
3.2.2 Da culpa	31
3.2.3 Do nexo de causalidade	32
3.2.4 Do dano	33
3.3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE	34
3.3.1 Da responsabilidade civil contratual e extracontratual	34
3.3.2 Da responsabilidade civil objetiva	35
3.3.3 Da responsabilidade civil subjetiva	36
4 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO	38
4.1 ABANDONO AFETIVO	38
4.1.2 Consequências do abandono afetivo	40
4.2 FUNDAMENTOS E ELEMENTOS DA REPARAÇÃO DO DANO AFETIVO	42
4.2.1 Entendimento Jurisprudencial	43
5 CONCLUSÃO	48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	51
1 INTRODUÇÃO
O tema Responsabilidade Civil por Abandono Afetivo se insere no ramo do Direito Civil, na área de família epossui amparo na Constituição Federal de 1988 e no vigente Código Civil de 2002, como também na jurisprudência pátria e Leis específicas que de alguma forma tratam do direito de ser parte de uma família. É um tema que vem sofrendo inúmeras alterações nos últimos anos, principalmente para se adequar a atual situação a qual vive a sociedade contemporânea com a quebra de paradigmas e instabilidade no conceito de formação da família que até então era conhecida. Novas fontes de pesquisa têm surgido a cada ano, não podendo o ordenamento jurídico brasileiro permanecer inerte, restando então, atualizar-se para acompanhar tais mudanças, adotando novos julgamentos como base para outros, para que seja possível uma interpretação mais abrangente da Lei e seus aspectos, sem qualquer distinção, como por exemplo: o reconhecimento da união homossexual, a permissão da adoção por casais homossexuais, reconhecimento da moderna e de conceito recente: família monoparental, que é aquela em que apenas um dos genitores é responsável pela casa e pela prole.
Cabe mencionar que não se pode valorar a afeição de um pai/mãe pelo filho, até porque isso é tema bastante subjetivo e impossível de ser quantificado. O que é posto em debate é a atitude reprovável do ator de “abandonar” o filho, o que gera danos de ordem financeira e moral, principalmente para a criança mas não só por ela, como também a todos que indiretamente são submetidos às consequências causadas pelo abandono.
 A atitude do pai ou mãe que, usando do direito do livre arbítrio resolve deixar de prestar os cuidados e se abstém de educar o seu filho possui relevância jurídica e deve ser penalizada pois é ato ilícito a partir do momento em que fere, maiormente, a Constituição Federal de 1988, e não só, como também as demais Leis infraconstitucionais.A Constituição Federal busca proteger ostensivamente a família, como instituto basilar de toda a sociedade assegurando-lhes especial proteção do Estado, também possui proteção especial a Criança e o Adolescente como sujeitos mais frágeis das relações, visto que encontram-se em desenvolvimento físico, mental e intelectual a eles é garantido com absoluta e total prioridade os direitos fundamentais inerentes a qualquer ser humano e em especial a eles, quais sejam: o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, devendo o Estado, a família e a sociedade em conjunto mantê-los a salvo de toda e qualquer forma de exploração, opressão, violência, crueldade e negligência, qualquer situação que os ponha em risco da sua integridade física e moral.
Na contramão, cresce o número de pais e/ou mães que deixam os cuidados e educação dos filhos a encargo de outrem, quando na verdade, seriam os seus deveres mínimos para com seus filhos e sua família.
Qualquer atitude que fira os direitos da Criança e do Adolescente deve ser cessada e/ou reparada da melhor maneira possível para os que sofrem os danos
O dever constitucional conceder ao filho uma vida digna, onde direitos e deveres são cumpridos mutuamente, garantindo o pleno convívio em família, educando-os e protegendo-os, para que se formem homens e mulheres dotados de valores e ética, deve ser respeitado na sua integralidade, e na falta disto, deve ser reparado satisfatoriamente.
Pretende-se com o presente trabalho contribuir para a discussão acerca da possibilidade de responsabilizar um pai e/ou a mãe por abandonar afetivamente seu filho, demonstrando que o afeto está além da prestação de alimentos, quem a sua falta acarreta problemas psíquicos naquele que é abandonado, deixando-o com traumas na idade adulta e distorção de valores.
Para subsídio a esta monografia foram realizadas pesquisas bibliográficas com o estudo das obras dos mais renomados doutrinadores que discorrem sobre o tema, assim como nos mais recentes e relevantes entendimentos jurisprudenciais a respeito, frisando que por se tratar de tema relativamente novo há um menor número de obras a serem utilizadas, diante disso buscou-se aprimorar o presente trabalho com os recentes julgados que tratam do tema em questão nesta monografia. 
A metodologia aplicada a este trabalho será de natureza de pesquisa aplicada objetivando gerar conhecimentos para aplicação prática, envolvendo interesses locais.
Quanto ao ponto de vista de seus objetivos, será uma pesquisa exploratória, envolvendo maior familiaridade com o problema, destacando pontos importantes do assunto e aplicando-o a realidade, às mudanças que dele decorrem, analisando o máximo possível as consequências e os precedentes para que seja possível verificar sua aplicação, análises feitas por meio de levantamento bibliográfico e documental, a partir de material já publicado, usando de averiguação de exemplos que estimulem a compreensão do problema e estudo de casos, utilizando-se dos métodos dedutivo e dialético.
Ademais, a importância da pesquisa gira em torno dos intensos debates jurisprudenciais a respeito e discussões por parte de operadores do direito, onde se busca valorar a importância do abandono afetivo por parte por pais para o ordenamento jurídico brasileiro.E sua relevância destaca-se por pontuar assuntos relevantes do debate, Analisando até que ponto é possível a responsabilização dos pais e a possibilidade de compensação aos impactos causados à criança.
Para se alcançar o objetivo pretendido, a pesquisa foi dividida da seguinte forma:
Inicialmente foi apresentado o conceito de Família para o Ordenamento Jurídico Brasileiro demonstrando sua importância para a sociedade, explanando outras concepções decorrentes do conceito de Família como o Poder Familiar e a Filiação, inerentes características deste Instituto, complementando com os Aspectos Legislativos, Histórico e Sociológicos, baseados nos Princípios do Direito de Família que regem toda as relações entre familiares com intuito de preservação máxima da criança e do adolescente como indefesos, posteriormente comparando com outros países corroborando a ideia da importância da Família como pilar de toda a Humanidade.
Em seguida apresenta-se o conceito de Responsabilidade Civil e suas espécies que está integralmente ligada a este trabalho, demonstrando a necessidade da presença de todos os seus elementos para que seja devidamente caracterizada, aplicando-a nos casos de Abandono Afetivo por parte dos pais para com seus filhos, que possui consequências avassaladoras na formação do ser, da personalidade e influência do indefeso. 
Finaliza-se apontando entendimento jurisprudencial favorável à possibilidade de indenização no caso de Abandono Afetivo, que gera males psíquicos para a criança e o adolescente desamparado.
2 A FAMÍLIA PARA O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
A família é o núcleo da sociedade, onde a vida começa junto com as obrigações, os direitos, os cuidados entre os cônjuges e filhos e surge o dever da criação da prole. A família é a relação entre pessoas unidas por parentesco (sague), casamento, relações pessoais e/ou patrimoniais que serve como base de uma sociedade, e por tamanho valor para a coletividade é tutelada por todo o ordenamento jurídico brasileiro, seja em normas positivadas, doutrina e/ou jurisprudências, que buscam em sua essência resguardar tal instituto, defendendo-o e preservando-o. 
Entre tantas normas que norteiam a família, a maior específica trata-se do ramo do direito que é denominado Direito de Família, que sofre constantes mudanças em seus posicionamentos haja vista as alterações ocorridas e recorrentes na estrutura familiar antes conhecida, como destaca Carlos Roberto Gonçalves:[1: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. v.6, São Paulo: Saraiva, 2005.]
O Código Civil de 1916 e as leis posteriores, vigentes no século passado, regulavam a família constituída unicamente pelo casamento, de modelo patriarcal e hierarquizada, ao passo que o moderno enfoque pelo qual é identificada tem indicado novos elementos que compõem as relações familiares, destacando-se os vínculos afetivos que norteiam a sua formação.
Diante de tantas mudanças é natural que surjam novos conflitos e assunto tratado nesta monografia diz respeito a possibilidade de se responsabilizar civilmente o pai ou a mãe que, sabendo do seu dever de sustentar, guardar e educar o filho, decide, por livre e espontânea vontade se abdicar de tal obrigação, deixar seu filho com o outro genitor(a), com avós, ou outro familiar. Autora reconhecida, Maria Berenice Dias, discorre incansavelmente sobre o tema e afirma:[2: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8ª Edição. São Paulo, 2011.]
Havendo negligência do genitor para com a educação e formação escolar dos filhos, cabe à responsabilidade civil e gera obrigação indenizatória, devido a sua negligência em dar oportunidade ao desenvolvimento dos filhos e na ajuda para a construção de sua liberdade.
Nota-se, portanto, que doutrinadores vêm, cada vez mais, debatendo esta forma de responsabilidade civil e apesar de ser assunto indagado em julgados recentes já possui ampla relevância jurídica e promete trazer à tona novas regras para que se busque um aperfeiçoamento da proteção às famílias brasileiras.
2.1 CONCEITO DE FAMÍLIA
O tema encontra-se inserido no ramo do Direito Civil, mas especificamente no Direito de Família, que trata de regulamentar as relações familiares, nas suas diversas estruturas. Regra os deveres e direitos entre os membros da relação familiar, que, cabe ressaltar aqui, não só os familiares consangüíneos, como também as relações de adoção por exemplo. Assim entende os doutrinadores Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, o ser humano é inerente ao seio familiar.[3: FARIAS E ROSENVALD, Cristiano Chaves e Nelson. Curso deDireito Civil. Famílias. 5ª Edição. Editora JusPODIVIM.]
É certo que o ser humano nasce inserto no seio familiar – estrutura básica social – de onde se inicia a moldagem de suas potencialidades com o propósito da convivência em sociedade e da busca de sua realização pessoal.
Sendo assim, a família é a base natural e núcleo fundamental da sociedade, é nela onde tudo começa, onde o ser humano toma forma, se desenvolve, concretiza seu caráter, sua essência, sua personalidade. A família é um instituto tão importante para a sociedade que é tema inicial para alguns dos Tratados mais importantes da humanidade, como exemplos podemos citar os mais conhecidos pela evolução que trouxeram à coletividade, reconhecendo direitos fundamentais e garantindo sua aplicação, são eles: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, a Declaração Universal de Direitos Humanos, entre outros não menos importantes. Como se verifica no artigo 16, § 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 transcrito abaixo:[4: ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos.]
Art.16
3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado.
Neste sentido, importa dizer que família é o pilar da sociedade, sendo assim reconhecida pelas Leis nacionais e internacionais sua fonte de pessoas, valores e cultura, devendo ser preservada por toda coletividade e pelo Estado na forma da lei.
2.1.1 Poder Familiar
É o poder exercido pelos pais para com seus filhos menores que são vulneráveis por se encontrarem em desenvolvimento menta e emocional, necessitados de cuidados constantes para crescerem de forma digna, aprendendo a lidar com outros indivíduos e se conscientizarem que possuem direitos e obrigações para com a sociedade em que vivem. 
Para o ilustre doutrinador Carlos Roberto Gonçalves o poder pode ser conceituado da seguinte forma:[5: GONÇALVES. Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro, volume 6: direito de família – 8ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2011.]
Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores.
Importante destacar que o poder familiar não é uma faculdade dada aos pais, mas sim, um dever, que tem de ser cumprido de acordo com normas e costumes do meio em que vivem, sob pena de serem responsabilizados pelo descumprimento de tal obrigação.
Caracteriza-se, portanto, por ser o dever atribuído aos genitores de garantir um desenvolvimento psíquico, emocional e intelectual congruente aos seus filhos. Fatidicamente é a transmissão de valores, praticar ensinamentos baseados na moral e na ética, educá-los, subsidiá-los, dar afeto, amor e carinho demonstrados em forma de cuidado. O artigo 1630 do Código Civil de 2002 estabelece:[6: BRASIL. Código Civil de 2002, artigo 1630.]
Art. 1630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores.
Cabe mencionar aqui que não há na legislação vigente qualquer menção a qual dos genitores detém maior parte do poder familiar, entende-se, portanto, que tal poder deve ser exercido igualmente entre os genitores, ainda que separados, salvo se houver acordo ou determinação judicial que estabeleça diferentemente.Todavia, é essencial para o pleno desenvolvimento da criança que os pais, em conjunto e igualmente, ainda que separados, participem da forma mais ativa possível do seu crescimento, transmitindo valores, educação, dando-lhes amor e atenção, em cumprimento a suas obrigações e seu papel como pai e/ou mãe, permitindo que seu filho usufrua de todos os seus direitos como criança.
Convém destacar que tal poder é irrenunciável pelas parte envoltas, como bem esclarece Maria Berenice Dias:[7: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7ª. ed. rev, atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.]
O poder familiar decorre tanto da paternidade natural como da filiação legal, e é irrenunciável, intransferível, inalienável e imprescritível. As obrigações que dele fluem são personalíssimas.
Veja, com exceção do caso de haver condenação judicial determinando o contrário, o pai ou a mãe no papel de detentor do Poder Familiar não pode se negar a exercer tal poderio, posto que tal dever não pode ser inalienado, imprescritível, irrenunciável ou transferível por motivos óbvios, não só é sua obrigação natural mas como legal em exercer poder de família para com seus filhos.
2.1.2 Filiação
A filiação é conceituada pelo ordenamento jurídico brasileiro como sendo a relação de parentesco em linha reta estabelecida entre pais e filhos que pode decorrer de vínculo sanguíneo ou outro vínculo legal como no caso de adoção por exemplo, corrobora tal definição o que ensina Carlos Roberto Gonçalves:[8: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, v. 6. 6. ed. São Paulo:Saraiva, 2009.]
Filiação é a relação de parentesco consanguíneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa àquelas que a geraram. Todas as regras de parentesco estruturam-se a partir da noção de filiação.
Nota-se que a filiação é o laço natural ou legal entre os ascendentes e os descendentes capaz de gerar direitos e obrigações entre as partes. Podem se dividir em três espécies: a filiação adotiva, proveniente de adoção; a filiação presumida, que presume naturais os filhos gerados na constância da união dos pais e a filiação natural, questão biológica determina os filhos.
No passado eram debatidas ideias de desigualdade entre filhos havido dentro do casamento e os concebidos fora da união em uma relação extraconjugal, no entanto, a Constituição Federal de 1988 em seu louvável artigo 227, §6º estabeleceu o Princípio da Igualdade para orientar a relação de filiação entre os pais e seus filhos:[9: BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.]
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(...)
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Este Princípio abrangeu o leque de proteções à pessoa humana, alcançando as mais variadas formas de se proteger os direitos fundamentais do homem, dele pode-se extrai fundamento para coibir toda e qualquer forma de desrespeito e descumprimento dos direitos de cada ser humano. Como visto acima, o parágrafo 6º do artigo em comento aboliu qualquer forma de distinção entre filhos, não deve ser considerado nenhuma diferença, se o filho é ou não é de sangue, concebido no casamento ou de um relacionamento extraconjugal, proibindo qualquer forma de distinção e discriminação entre irmãos.
Em essência, a Filiação e o Princípio da Igualdade previsto na Constituição Federal possuem o objetivo de proteção ao bem mais importante que compõem a sociedade: a família, concretizado pela tutela máxima das crianças e adolescentes.
2.2 ASPECTOS LEGISLATIVOS
2.2.1 Família no Código Civil de 2002
O Código Civil de 1916 tratava da família como aquela que foi constituída pelo casamento, o conceito deste instituto era limitado e um tanto machista, sem muito espaço para diversidade. Sofreu inúmeras alterações legislativas, pois era muito limitado.
O atual Código Civil entrou em vigor em 11 de Janeiro de 2003, trazendo inúmeras modificações no conceito de família, inovando em diversos pontos e desfazendo a idéia patriarcal da família. O pai deixa de ser o chefe predominante e a mulher passa a exercer mais poder de família e sobre si mesma, como ensina Maria Berenice Dias:[10: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. Pág. 31. 5ª Edição. EditoraRT. São Paulo.]
O Código Civil procurou atualizar os aspectos essenciais do direito de família. Incorporou as mudanças legislativas que haviam ocorrido por meio de legislação esparsa, apesar de ter preservado a estrutura do Còdigo anterior.
O código civil de 2002 muito se baseou na Carta Magna de 1988 que, sem dúvidas, valoriza notadamente a família na sociedade brasileira e destaca a importância do bem estar desse instituto para uma harmonização com todos os outros aspectos da sociedade, como no Capítulo VII, artigo 26.[11: BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil., artigo 26.]
Art. 226 A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
O Código Civil de 2002 traz inúmeras regras quanto as relações entre pais e filhos, como por exemplo em seu artigo 1.566.[12: Código Civil de 2002, artigo 1566.]
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
 IV – sustento, guarda e educação dos filhos;
Demonstra-se a igualdade de responsabilidade entre o pai ou a mãe perante seus filhos, cabendo a ambos o zelo pelas proles e enquadrando-os igualmente a todos os dispositivos legais que os responsabilizam pela vida digna dos filhos.
2.2.2 Família na Constituição Federal de 1988
A Constituição Federal de 1988 é o maior exemplo de proteção à família brasileira, é a lei das leis, e nela encontram-se pontos importantíssimos no conceito e aspectos da família na sociedade brasileira.[13: BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.artigo 226, §3º. ]
Umas das primeiras inovações na proteção à família foi o reconhecimento de outros tipos de família que não só a que se iniciou pelo matrimônio.
Art. 226 A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
(...)
§3º Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade, formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
A partir de então, em relação ao passado, a sociedade deu um pulo na modernização da entidade familiar, pois a Lei das Leis reconheceu outros tipos de família, dando lacunas e brechas para que fosse possível a entrada na legislação de outras formas de entidade familiar.
Cabe então, frisar que, a família não passou a possuir mais direitos, mas com tais direitos, vieram também mais deveres; estes, de suma importância para uma harmonização da convivência familiar e a atuação do Estado, como dispõe o artigo 229, da Constituição Federal:[14: BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil., artigo 229.]
Art. 229 Os pais têm o dever se assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
O ordenamento jurídico brasileiro está repleto de normas que visam proteger a relação entre familiares, principalmente a integridade física e moral dos filhos menores, sujeitos vulneráveis perante as normas brasileiras e necessitados de proteção especial,que abranja amparo material, social e moral dos pais e do Estado pois nascem desprovidos de capacidade física e mental para praticar atos da vida civil e não têm aptidão para se desenvolverem sem o devido apoio; é a fase mais frágil da vida humana, carente de todo tipo de necessidade desde físicas (locomoção, alimentação) até psicológicas (raciocínio, maturação mental, absorção de valores e regras, necessidades afetivas) para que cresçam fisicamente e psicologicamente capazes de conviver em sociedade, aptos para nutrir, receber e demonstrar sentimentos, afetos, gentileza. A abrasiva necessidade da Criança e do Adolescente é de tamanha preocupação das leis brasileiras que possuímos inúmeras Leis que tratam do assunto, convenções internacionais que buscam harmonizar a idéia de que a saúde física e moral da família é relevante juridicamente, pois é dali que saem os homens que irão fazer parte da sociedade, somando ou diminuindo, dependendo da forma como foi criado, o ambiente, a educação e a afeição recebida, tão importante quanto qualquer outra necessidade do homem, é o que irá torná-lo mais os humanos e solidários.
2.3 ASPECTOS HISTÓRICOS DA FAMÍLIA
Desde o Código de Hamurabi, primeira lei escrita conhecida da humanidade, já havia o conceito de família patriarcal (aquela em que há um chefe que é o pai, a quem os filhos, esposa e empregados devem obediência e a ele são subordinados). Onde determinavam, por exemplo, que se caso um filho renegasse o pai, teria a mão cortada ou então era vendido como escravo, como mostra um dos artigos do Código de Hamurabi transcrito abaixo:[15: Código de Hamurabi, aproximadamente 1.700 a.c., Mesopotâmia. Capítulo X, artigo 169.]
169º - Se ele cometeu uma falta grave, pela qual se justifique que lhe seja renegada a qualidade de filho, ele deverá na primeira vez ser perdoado, e, se comete falta grave segunda vez, o pai poderá renegar-lhe o estado de filho.
Outro aspecto antigo de suma importância, é o Código de Manu, oriundo da Índia, tornou o casamento entre crianças tradição; as crianças já nasciam prometidas para casar com outras crianças ou até adultos, idosos. Incontestável, para aquela sociedade, isso era família. A mulher também é assunto de destaque neste Código, completamente sem voz e submissa a todos, inclusive aos filhos.[16: Código de Manu, entre séculos II a.c. e II d.c., artigo 368.]
Art. 368º Se uma mulher, orgulhosa de sua família e de suas qualidades, é infiel ao seu esposo, que o rei a faça devorar por cães em um lugar bastante freqüentado.
No Direito Romano, a ideia de família patriarcal também era latente. O pai, denominado pater, exercia sobre os filhos o direito de morte e vida, e a mulher, totalmente subordinada ao marido. Porém, com as mudanças, a família na Roma antiga passou a ser o centro de tudo.
A codificação das leis que rege as relações familiares serve, acima de tudo, para corroborarem a ideia de submissão as regras comuns a todos, provando que, tais normas, funcionam como um parâmetro de organização, em busca da harmonia entre as relações familiares e a vida em sociedade. Como demonstra o artigo 16º da Declaração Universal de Direitos Humanos:[17: ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos, art. 16º, 3, 1948.]
Art. 16º. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito a proteção desta e do Estado.
Como exposto, a família sempre foi centro da sociedade, onde tudo começava, isso não mudou muito. A família no Brasil do século XX avançou um passo importante para a sua história com a vigência do Código Civil de 1916, onde conceituou família como sendo iniciada dentro do casamento, entre um homem e uma mulher, obtendo proteção jurídica, contudo, com aspectos ainda da família patriarcal.
2.4 ASPECTOS SOCIOLÓGICOS DA FAMÍLIA
A harmônica convivência nas famílias dentro da sociedade é de suma importância para o correto andamento de um Estado em todos os aspectos. A família, como base do homem, precisa estar em comunhão com princípios éticos, bem como, com as normas reguladoras do ordenamento jurídico.
Para a plena harmonia entre a família e o Estado é necessário que os pais, atuem na educação dos seus filhos de forma coerente com a legislação vigente e os princípios que norteiam a sociedade em que vivem. A busca por essa plenitude é difícil, pois Direito de Família possui peculiaridades em todos os seus pontos, assim, o ramo do direito em questão visa, principalmente, proteger esse instituto tão essencial à vida em sociedade, como pode se extrair de uma matéria de sociologia retirada do site BrasilEscola.com:[18: RIBEIRO, Paulo Silvino. "Família: não apenas um grupo, mas um fenômeno social"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/familia-nao-apenas-um-grupo-mas-um-fenomeno-social.htm>. Acesso em 10 de maio de 2016.]
Dessamaneira, é importante considerar que, se a família é a base ou início do processo de socialização dos indivíduos, o que se torna fundamental é que ela seja estruturada de tal forma que o relacionamento entre seus integrantes seja pautado na harmonia e respeito entre seus pares, dada a importância e influência que tal grupo exerce na vida de cada um. Logo, ao se pensar na família enquanto grupo não se trata aqui de fazer uma apologia ao modelo do passado ou a do presente, mas de propor a reflexão quanto aos desdobramentos de sua conformação e de suas transformações, uma vez que suas características refletem a sociedade de seu tempo, o que faz dela (família) um fenômeno social.
O trecho retirado do texto acima citado do site www.brasilescola.com.br retrata como foram intensas as mudanças do conceito da família que foram se moldando a sociedade moderna, contextualizando sua estrutura e suas ideias para ser amoldada a sociedade. A realidade cotidiana, os novos costumes, as tendências, os novos descobrimentos, enfim, toda e qualquer mudança influenciará na estrutura familiar e é normal que seja assim, o mundo e as pessoas vivem em constante evolução, as famílias se adéquam a isso de forma natural sem perder sua essência nem sua importância.
2.5 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA 
Como tema indiscutivelmente inserido no ramo Direito Civil e Direito de Família, tratando de temas relativos à matéria que envolve família e sua convivência, imperioso apresentar os princípios que regem este ramo do direito para melhor compreensão do tema apresentado nesta monografia.
O Direito de Família é um ramo do direito civil que estabelece normas de direitos e obrigações entre as pessoas em relação a suas famílias e tem como fim a proteção, estruturação e organização da família. É um ramo que está em constante modernização em virtude das mudanças recorrentes no conceito e na estrutura das famílias brasileiras, mas sem se afastar da sua essência e objetivo primordial que é a proteção ao convívio harmonioso entre pessoas que se unem por possuírem laços afetivos e/ou biológicos.
Não é possível falar sobre o Direito de Família sem analisar, conjuntamente, o Direito Constitucional e seus princípios já que ambos buscam, acima de qualquer outro objetivo, prezar pela dignidade da pessoa humana e dar proteção absoluta aos seus direitos fundamentais como ser pertencente a uma sociedade, segundo o que Paulo Bonavides ensina:[19: BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 1999.]
Os princípios constitucionais foram convertidos em alicerce normativo sobre o qual assenta todo o edifício jurídico do sistema constitucional, o que provocou sensível mudança na maneira de interpretar a lei. Muitas das transformações levadas a efeito são frutos da identificação dos direitos humanos como valor fundante da pessoa humana, a ensejar o conseqüente alargamento da esfera de direitos merecedores da tutela.
Assim, inicia-se a apresentação dos princípios que norteiam o Direito de Família, que não podem ser quantificados já que se assemelham e igualam aos princípios constitucionais que são em grande número e dividem-se em explícitos (escritos) e implícitos (subentendidos), mas há que se destacar alguns deles de suma importância para o estudo do tema em questão.
Inicialmente explica-se o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, um princípio explicitamente previsto na Constituição Federal de 1988 no seu artigo 1º, inciso III, também na Declaração Universal de Direitos Humanos e na Convenção Americana de Direitos Humanos, sem dúvida alguma é um dos princípios mais importantes do ordenamento jurídico brasileiro, norteador de todas as áreas do direito e um guia para todos os demais princípios.[20: BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 1º.]
Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...)
III –a dignidade da pessoa humana;
(...)
Diante da importância deste princípio para o direito de família e da sua necessária aplicação de forma plena e corente, o Estatuto da Criança e do Adolescenteo reiterou em seu texto no artigo 15, Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990:[21: BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei 8.069/1990, artigo 15.]
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Como a parte mais vulnerável da responsabilização por abandono afetivo é a criança, há de se mensurar a importância do respeito à dignidade deste ser em desenvolvimento que carece, mais do que qualquer um, ver em seu lar os mais belos exemplos de comportamento e receber a melhor criação possível, para que tornes um ser humano quepossa somar na sociedade, dotado de valores morais e éticos.
Já o Princípio da Proteção integral é assegurado à criança e ao adolescente proteção integral contra qualquer situação de negligência, violência e discriminação, proteção esta, que deve ser exercida pela família, pela coletividade e pelo Estado solidariamente. Assim prevê a Constituição Federal de 1988 no artigo 227:[22: BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil artigo 227.]
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Este princípio tem com objetivo a proteção integral e total do ser mais frágil de qualquer relação, a criança ou adolescente que encontra-se, devido a pouca idade e pouca experiência, imaturo e em desenvolvimento, garantindo-lhes direitos congruentes com a dignidade da pessoa humana, quais sejam: liberdade, educação, lazer, saúde, convivência família e outros. 
Esses, entre outros, fazem parte do rol de garantias fundamentais bem como dos direitos especiais das crianças e adolescentes, devendo ser observados em sua totalidade de forma solidária entre o Estado, a Família e a Sociedade e se qualquer desses prestadores de direitos não cumprir com o estabelecido no artigo acima citado, fica caracterizado o descumprimento a ordem defendida por princípio constitucional da proteção integral, uma vez que se houver descumprimento de um dos detentores dessas obrigações o princípio será desrespeitado, acarretando em uma criança ou adolescente desprovido da estimada Proteção Integral, podendo sofrer consequências como por exemplo uma possível desordem em seu pleno desenvolvimento mental, intelectual e moral.
Corrobora tais afirmações o artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente transcrito abaixo.[23: Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei 8.069/1990, artigo 15.]
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Não há divergência quanto a importância deste princípio para aplicação da responsabilidade civil em casos de abandono afetivo, pois resta demonstrado que a legislação vigente determina que os genitores cumpram firmemente o papel de zelar pelo pleno desenvolvimento dos seus filhos, assegurando-lhes dignidade nos aspectos sociais, morais e emocionais da vida de seu filho.
Por fim, com base no Princípio da Convivência Familiar é possível verificar que nestehá um aspecto de maior subjetividade, visto que, engloba outros princípios que devem ser analisados em conjunto ao da convivência familiar e também aspectos abstratos da relação familiar, como o afeto por exemplo.
A lei assegura a criança e ao adolescente proteção integral e dignidade como pessoa humana, a partir daí surge o direito à convivência familiar que irá exteriorizar a maior parte do que se estabelece em norma. É com a comunhão que o menor irá gozar dos seus direitos e crescer dignamente, adquirindo valores morais e éticos, descobrindo o mundo a sua volta, desenvolvendo seus sentimentos, suas escolhas e reconhecendo o seu valor no meio em que vive.
A convivência familiar também consiste em reciprocidade, onde os pais deverão subsidiar seus filhos menores para que cresçam dignamente e assim também, os filhos deverão cuidar e proteger seus pais na velhice, carência ou enfermidade como constitui o artigo 229 da Constituição Federal de 1988:[24: BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 229.]
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
O Princípio da Convivência Familiar defende a ideia de que toda criança e adolescente tem o direito a coabitar harmoniosamente com todos os membros de sua família, especialmente seus pais, que por serem essenciais a sua existência devem partilhar dos momento e sentimentos mais sublimes paternos e maternos, aqueles capazes de fomentar a sua força, estabilidade emocional e afetiva tão necessárias a um bom desenvolvimento da personalidade do ser humano. 
Uma boa convivência com a família gerará boas lembranças a criança, que influenciarão demasiadamente na sua vida adulta, onde usará como exemplos para com futuros filhos o que viveu em sua infância, buscará repetir os atos de ternura recebidos por seus pais, o afago e carinho da família. Se uma criança tem esse ciclo interrompido as consequências logo se notarão, na fase adulta não terá tido bons exemplos o que dificultará na prática de boas ações quanto a sua família. Raro são os casos em que uma criança traumatizada por ter se sentido desprezado e abandonada consegue demonstrar facilmente sentimentos para com os que convive e é normal que seja difícil, afinal, como demonstrará afeto se não o recebeu adequadamente? Principalmente se a falta de afeto foi por parte de quem mais deveria ter lhe dado: o pai ou a mãe.
Assim, sem uma boa convivência com a família quando criança, é praticamente impossível que haja o devido recebimento de cuidado e afeto a esta criança e adolescente o que ocasionará consequências negativas ao seu desenvolvimento psíquico e emocional.
2.6 DIREITO COMPARADO
Os Estados Unidos da América foi um dos primeiros países a adotar a ideia de responsabilidade civil que figure como parte o Estado. Antes, não se falava em o Estado se responsabilizar civilmente por dano causado a terceiro, teoria injusta, pois já que o Estado possui direitos que devem ser cumpridos pelos cidadãos, também possui deveres, e caso não cumpra com suas obrigações, pode ser condenado a reparar danos causados. Ao notar tamanha injustiça, o país superou a tese da irresponsabilidade, sujeitando o Estado a se responsabilizar por danos causados a terceiros. Melhor explicado por Galdiana dos Santos Silva:[25: SILVA, Galdiana dos Santos. Responsabilidade Civil do Estado. Disponível em < http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12619> Acesso em: 10 de Maio de 2016.]
Os primeiros países a abandonar essa concepção foram os Estados Unidos da América, em 1946, com a publicação do Federal TortClaimAct e a Inglaterra pelo Crown ProceedingAct de 1947. Esses Estados começaram a perceber a injustiça da teoria, visto que se o Estado tem o poder de tutelar o direito, também tem o dever de responder perante suas ações e omissões no exercício de tal direito.
A lei de responsabilidade civil familiar nos Estados Unidos é um tanto quanto mais rígida do que no Brasil, já que possuem uma lei específica que regulamenta esse instituto.Pode-se afirmar que, a integridade das famílias e sua convivência harmônica é relevante para o ordenamento jurídico Norte Americano, visto que, possui lei própria que regulamenta as relações familiares que abrangem não só os cônjuges, mas os pais e seus filhos.
Enquanto a Inglaterra foi um dos precursores da preocupação para com as relações afetivas dos pais para com os filhos, com o advento da guarda conjunta, em inglês, joint custody, instituída pelo país ainda no ano de 1960. Cuja principal finalidade era permitir que os filhos pudessem manter o convívio com pai e mãe mesmo após a separação do casal.
Tal entendimento, tem se tornado majoritário na jurisprudência aplicada ao ordenamento jurídico do país em comento, que seguindo o exemplo de outros países desenvolvidos costuma seguir com rigor os julgados nas decisões de casos considerados recentes, esse, especificamente, abriu precedente para diversas outras formas de se responsabilizar civilmente na relação familiar, como o abandono afetivo dos filhos.
Já na França, O Código Civil Francês, mais conhecido como Código de Napoleão exerceu forte influência no que conhecemos de responsabilidade civil hoje. Originalmente, o Código em referência trouxe poucos artigos sobre este tema, porém, todos de suma importância para a história. O artigo 1382 do Código Civil Francês de 1804, tratou da responsabilidade:[26: FRANÇA, Código Civil Francês, artigo 1382, 21 de Março de 1804. ]
Art. 1382. Tout fait quelconque de l’homme, qui cause à autrui um dommage, obligecelui par lafauteduquelil est arrivé, à leréparer. (Qualquer fato oriundo daquele que provoca um dano a outrem obriga aquele que foi a causa do que ocorreu a reparar este dano).
Nota-se a importância deste código apenas com este artigo, ano de 1804 e um dos maiores países do mundo tratando de responsabilidade civil, abrindo precedentes para o que hoje conhecemos.
Verifica-se que a ideia de Responsabilidade Civil é difundida mundo afora e cobrada em Legislações Internacionais, dada sua utilidade na prevenção e coibição de prática de atos capazes de causar dano a outrem. 
Para que haja uma sociedade justa e equilibrada é imprescindível que exista regras que proíbam atos ilícitos, ainda que relativamente de menor potencial ofensivo, todos tem direito a sua integridade física, patrimonial e moral e qualquer insulto a esta integridade deve ser passível de punição, só assim é que fatidicamente vê-se cumprida muitas das normas de proteção ao indivíduo. 
Não basta a existência de normas, é preciso que se aplique-as e é o que tem feito a Responsabilidade Civil, resguardando todo aquele ofendido de alguma forma, oportunizando a reparação ou compensação do dano a depender do caso concreto.
3. RESPONSABILIDADE CIVIL
3.1 NOÇÕES GERAIS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL
Inicialmente, cumpre informar que a responsabilidade civil é baseada na ideia de que ninguém pode prejudicar outrem e caso o faça, deverá cumprir medidas capazes de reparar os prejuízos constatados, seja no âmbito material (danos ao patrimônio, por exemplo) ou no imaterial (danos psicológicos), seja por atos ou omissões danosas.
Tais medidas são previstas em Lei e podem ser encontradas em algumas das leis vigentes no ordenamento jurídico brasileiro, como no Código Civil, Estatuto da Criança e do Adolescente, Constituição Federal e outras. 
A palavra responsabilidade já cria uma noção do que vem a ser o seu significado, originada do latim respondere, que provém da palavra resposta, dá a ideia de responder por algum ato ou omissão que cause dano a alguém. Ou seja, no seu sentido etimológico, a responsabilidade civil significa uma obrigação em reparar dano causado, por violação de um dever jurídico, resumindo-se como uma contraprestação.
Para Maria HelenaDiniz a Responsabilidade Civil é pode ser definida como:[27: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro.17. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 7.]
A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.
Salienta-se que é de suma importância a existência deste instituto nas relações entre indivíduos, uma vez que é capaz de inibir condutas prejudiciais, que possam afetar a vida dos indivíduos entre si de forma que seja relevante para a sociedade. E no caso de já haver o fato danoso e o dano constatado, o a responsabilidade civil cuida de impor medidas a serem cumpridas pelo causador do dano com o intuito de reparar o dispêndio.
A responsabilidade civil será caracterizada quando estiverem presentes seus requisitos legais, quais sejam: a ação ou a omissão do agente, a culpa ou dolo, nexo de causalidade e dano, que serão objetos de estudo mais adiante. Também será verificado se trata de responsabilidade civil contratual ou extracontratual, onde uma exige a existência de um contrato legal, com deveres jurídicos específicos a serem cumpridos pelas partes e outra onde há um vínculo legal, onde uma das partes possui, naturalmente, deveres para com outro.
3.1.1 Conceito de Responsabilidade Civil
Esse instituto da área cível do ordenamento jurídico brasileiro visa assegurar àquele que sofreu dano causado por outrem a obter reparo do prejuízo sofrido por ele. Tem como fim, tornar uma norma o dever de não prejudicar o outro, por ação ou omissão. Rui Stoco define em suas palavras a responsabilidade:[28: STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil: doutrina e jurisprudência. 7ª Ed. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2007.]
A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém pelos seus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça existente no grupo social estratificado. Revela-se, pois, como algo inarredável da natureza humana.
Atualmente, usa-se a ideia de que o indivíduo que foi prejudicado não fique sem reparação do dano a ele causado, seja qual for, podendo ser um dando objetivo (material) ou subjetivo (moral). Entendimento corroborado pelo doutrinador Carlos Alberto Bittar:[29: BITTAR, Carlos Alberto. Curso de Direito Civil. 1ª Ed. Rio de Janeiro. Editora Forense, 1994.]
O lesionamento a elementos integrantes da esfera jurídica alheia acarreta ao agente a necessidade de reparação dos danos provocados. É a responsabilidade civil, ou obrigação de indenizar, que compele o causador a arcar com as consequências advindas da ação violadora, ressarcindo os prejuízos de ordem moral ou patrimonial, decorrente de fato ilícito próprio, ou de outrem a ele relacionado”
O dano não é aquele exclusivamente material ou patrimonial, como quando danifica-se um carro ou uma casa, mas também o moral, que deve ser igualmente reparado, de forma subjetiva, ou seja, analisando cada caso segundo suas peculiaridades.
A responsabilidade civil, então, é o dever de indenizar alguém por ter lhe causado um dano (material ou imaterial), como o objetivo de reparar suas conseqüências e reaver a situação anterior ao fato danoso. Assim ensina Rui Stocco:[30: STOCCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil: doutrina e jurisprudência. 7 Edição. Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2007.]
A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar a alguém peloseus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça existente no grupo social estratificado. Revela-se, pois, como algo inarredável da natureza humana.
Presume-se então que, responsabilidade civil é o meio pelo qual se exterioriza o dever de reparação de um dano causado a alguém, por meio de um ato ou omissão praticado em confronto com a legislação vigente.
3.2 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Para que haja a efetiva caracterização da responsabilidade civil e consequentemente seja imputado a alguém o dever de reparar um dano, é imprescindível que estejam presentes quatro elementos inerentes a esse instituto, que enseja a obrigação de reparar o dano, são eles: a ação ou a omissão do agente (conduta), o dolo ou a culpa, o nexo causal e o dano sofrido pela vítima.
Frisa-se que o elemento culpa é dispensável no rol dos elementos da responsabilidade civil, já o restante são essenciais à caracterização do intituto, sendo que na falta de algum deles, não será caracterizada a responsabilidade civil, visto que, são pressupostos essenciais ao dever de indenizar e reparar danos (conduta + nexo causal + dano).
3.2.1 Da conduta
Trata-se de um ato ou uma omissão praticada pelo agente, de forma voluntária, relevante para o ordenamento jurídico brasileiro e que seja capaz de causar dano a alguém. É o elemento primário de todo e qualquer ato ilícito, aqui como uma conduta voluntária, que exterioriza uma ação ou omissão do comportamento humano. Para Maria Helena Diniz é:[31: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. VII.]
A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado.
A conduta pode ser comissiva, por meio de uma ação, quando o agente age de maneira positiva, causando um dano por ter agido de maneira incorreta. E pode ser omissiva, por meio de uma omissão, quando o agente age de forma negativa, ao deixar de fazer alguma coisa e por isso causa dano a outrem.
A conduta é voluntária pois trata-se de ato que pode ser controlado pela vontade do agente, ressalvado os casos de inconsciência e coação absoluta contra o agente, e também é conduta humana, o que afasta os eventos da natureza. É imputável pois pode ser atribuída pena pela prática de ato danoso, no âmbito civil ou até penal.
3.2.2 Da culpa 
A culpa é um elemento dispensável na responsabilidade civil do ordenamento brasileiro, visto que, a intenção é a indenização pelo dano sofrido e não a punição do agente. Portanto, para o ramo do Direito Civil, no tocante à responsabilidade, pouco interessa de houve culpa ou dolo, o que é relevante é o dano causado e o dever de repará-lo
Contudo, cabe aqui, conceituar a culpa e o dolo, a primeira como sendo uma conduta em que não existe a intenção de lesar alguém, ou seja, a ação ou a omissão é voluntária, mas o resultado não, é umaconseqüência inesperada, e advém de uma ação ou omissão causada por imprudência, imperícia ou negligência. E o dolo, ocorre quando há intenção de lesar o outro, bem como, intuito em obter o resultado danoso ou até mesmo quando se assume o risco de produzi-lo. 
Como bem ensina Rui Stocco:[32: STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7ª ed.. São Paulo Editora Revista dos Tribunais, 2007.]
Quando existe a intenção deliberada de ofender o direito, ou de ocasionar prejuízo a outrem, há o dolo, isto é, o pleno conhecimento do mal e o direto propósito de o praticar. Se não houvesse esse intento deliberado, proposital, mas o prejuízo veio a surgir, por imprudência ou negligência, existe a culpa (stricto sensu).
A culpa, em um caso concreto, em nada importa para a responsabilidadecivil objetiva, que é a modalidade aplicada ao objeto de estudo desta monografia. Mas para a responsabilidade civil subjetiva é de suma importância, uma vez que é ela (a culpa) que distingue a objetividade ou a subjetividade da responsabilidade.
3.2.3 Do Nexo de Causalidade
Consiste na relação entre a causa e o efeito da conduta danosa e o dano sofrido pela vítima. Ou seja, para que seja caracterizada a responsabilidade civil e haja obrigação de indenizar, não basta que tenha havido uma conduta ilícita ou apenas a existência de um dano sofrido, mesmo que comprovados, é estritamente necessário que o dano sofrido tenha sido causado por ação ou omissão ilícita do agente.Para Sergio Valieri Filho é possível conceituar o nexo de causalidade da seguinte maneira:[33: CAVALIERE FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. Ed. São Paulo: Atlas, 2012.]
É Elemento referencial entre a conduta e o resultado. É através dele que poderemos concluir quem foi o causador do dano.
Logo, é elemento essencial para qualquer espécie de responsabilidade, e possui várias teorias sobre seu conceito, sendo imprescindível explicitar apenas três: teoria da causalidade adequada, teoria dos danos diretos e imediatos e a teoria da equivalência dos antecedentes.
A Teoria da Causalidade Adequada induz a ideia de que haverá nexo causal quando a atitude do agente, naturalmente, produziu o dano sofrido, obedecendo a ordem natural dos fatos.
A teoria dos danos diretos e imediatos que estabelece que a causa do dano será aquela que estiver mais próxima cronologicamente a ele, sem intervalo ou interrupções de fatos alheios a situação. Ou seja, a atitude que causa o dano será a imediatamente anterior ao acontecimento do dispêndio.
E por último, explicita-se a Teoria da Equivalência dos Antecedentes que considera que toda e qualquer circunstância que de qualquer forma tenha concorrido para o acontecimento do dano é a causa e se uma dessas circunstâncias não se concretizasse o dano seria evitado e não ocorreria.
Há intensa divergência doutrinária a respeito de qual teoria é adotada, mas prevalece esta última, concluindo Rui Stoco:[34: STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7 ed.. São Paulo Editora Revista dos Tribunais, 2007.]
Enfim, independente da teoria que se adote, como a questão só de apresente ao Juiz, caberá a este, na análise do caso concreto, sopesar as provas, interpretá-las como conjunto e estabelecer de houve violação do direito alheio, cujo resultado seja danoso, e se existe um nexo causal entre esse comportamento do agente e o dano verificado.
Retratando a divergência doutrinária a respeito e esclarecendo sobre a quem realmente interessa verificar o nexo causal, o Juiz da causa.
Verifica-se que a finalidade do nexo de causalidade na Responsabilidade Civil se divide em duas: a) identificar quem foi que causou o evento danoso para possível responsabilização e b) avaliar a extensão do dano para que seja possível quantificar o que deve ser indenizado.
3.2.4 Do Dano
Outro elemento essencial a caracterização de qualquer espécie de responsabilidade, é ele quem estabelece o quantum da indenização e qual âmbito afrontado, patrimonial ou extrapatrimonial.
Nas lições de Maria Helena Diniz conceitua-se como:[35: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. VII.]
O dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra a sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral.
Logo, o dano é elemento central da responsabilidade civil, sendo necessário para sua constatação deve ser um dano reparável, certo, existente.
O dano material é aquele que atinge o patrimônio da vítima, possuindo valor estimável, determinável e de possível apuração, englobando o dano emergente o lucro cessante. O dano emergente é o quanto a vítima perdeu por ter sofrido o dano, e o lucro cessante é o que ela deixou de ganhar enquanto durou os efeitos do dano. 
O dano moral é aquele que ofende direitos da personalidade, como a honra, moral, dignidade, imagem, saúde, integridade psicológica, causando constrangimento, humilhação e desconforto à vítima.
3.3 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE
A responsabilidade civil tem como objeto uma ação humana voluntária, capaz de causar danos a outrem, conforme ensinamento de Cavalieri na citação abaixo transcrita:[36: CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 10. ed. São Paulo: Atlas S/A, 2012.]
 A responsabilidade tem por elemento nuclear uma conduta voluntária violadora de um dever jurídico, tornando-se, então, possível dividi-la em diferentes espécies, dependendo de onde provém esse dever e qual o elemento subjetivo dessa conduta.
E é por isso possui algumas maneiras de se exteriorizar, classificando-se em espécies para maior detalhamento na caracterização de casa uma, pode ocorrer a responsabilidade contratual e extracontratual, objetiva e subjetiva.
Cumpre ressaltar que a responsabilidade também pode ser penal ou civil, que são institutos bem diferentes, sendo que a do ramo cível é importante para estudo neste trabalho.
3.3.1 Responsabilidade Civil Contratual e Extracontratual
A responsabilidade contratual provém da violação de um contrato celebrado entre as partes, há o descumprimento e/ou desobediência as normas preestabelecidas em um contrato. Assim, na contratual temos um negócio jurídico violado, quando uma das partes deixa de cumprir obrigação preexistente, causando dano ao outro, e obtendo o dever de reparar.
Para Maria Helena Diniz:[37: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro.p. 130 São Paulo. Editora Saraiva. 2013.]
Responsabilidade contratual, se oriunda de inexecução do negócio jurídico bilateral ou unilateral. Resulta, portanto, de ilícito contratual, ou seja, a falta de inadimplemento ou da mora no cumprimento de qualquer obrigação. É uma infração a um dever especial estabelecido pela vontade dos contraentes, por isso decorre de relação obrigacional preexistente e pressupõe capacidade para contratar.
Na extracontratual, que é também renomada por Responsabilidade Aquiliana, a violação é de uma normal legal sem que haja vínculo entre as partes. Ou seja, não há obrigações mútuas e preestabelecidas, o que existe é a afronta uma normal do direito capaz de causar danos a outrem. O dever jurídico violado não está estabelecido em contrato e nem há relação entre o causador do dano e a vítima. Como ensina Maria Helena Diniz:[38: DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro.p. 130 São Paulo. Editora Saraiva. 2013]
Responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana, se resulta do inadimplemento normativo, ou melhor, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz, visto que não há vínculo anterior entre as partes, por não estarem ligadas por uma relação obrigacional ou contratual. A fonte dessa responsabilidade é a inobservância da lei, ou melhor, é a lesão de um direito, sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer relação jurídica.
Em ambas, a conseqüência será a mesma, haverá um dano sofrido e a como reação uma obrigação de reparar. Concluindo no sentido de que aquele que cometer ato ilícito capaz de prejudicar outrem deverá reparar os danos causados, independente da existência de um contrato entre as partes.
3.3.2 Da Responsabilidade Civil Objetiva
No que concerne ao fundamento da responsabilidade e como ela será aplicada, expõe-se que esta poderá ser classificada como objetiva ou subjetiva a depender de um aspecto que irá distingui-las que será identificado com o estudo do caso concreto. Nota-se que a diferença entre as duas é em apenas um aspecto, contudo, de crucial importância, visto que uma única característica difere uma da outra.
Na responsabilidade objetiva devem ser observados apenas três elementos constitutivos da responsabilidade, que são a conduta, o nexo causal e odano, sem que interesse o elemento culpa, pois independentemente, o dever de reparar o dano causado deverá ser mantido.
Assim, aquele que causou o dano deverá indenizar a vítima, mesmo que tenha agido com culpa. Nada importa, na verdade, a culpa ou não do agente, ele deverá indenizar quem sofreu pelo ilícito.
Para contextualização ao tema aqui abordado, faz-se essencial identificar que o descumprimento dos deveres dos pais para com seus filhos tem natureza objetiva, ou seja, independe de culpa, oportunizando a possibilidade de responsabilização civil por aquele que abandona o filho.
3.3.3 Da Responsabilidade Civil Subjetiva
Nesta espécie, a responsabilidade será caracterizada caso haja presentes todos os elementos possíveis, a conduta, o nexo causal, o dano e a culpa. É a clássica responsabilidade, onde presente os quatro pressupostos.
O dano é causado por conduta culposa em seu sentido amplo (culpa e dolo), quando agente age com culpa será em decorrência da imprudência, negligência ou imperícia, ou com o dolo, quando há intenção em obter o resultado danoso. Nesse sentindo ensina Luís Paulo Sirvinskas acerca da Teoria da Responsabilidade Civil Subjetiva:[39: SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 7ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2009.]
Assim, para se responsabilizar alguém pelo Código Civil é necessário demonstrar a culpa do agente, ou seja, a imprudência, a negligência e a imperícia, além da conduta inicial (comissiva ou omissiva) e do nexo de causalidade entre o fato e o dano. Imprudência se refere à prática de ato perigoso (conduta comissiva), Negligência, por sua vez, refere-se à prática de ato sem tomar as precauções adequadas (conduta omissiva). Imperícia diz respeito à prática de ato por agente que não tem aptidão técnica, teórica ou prática (conduta comissiva).
Esclarecendo, o dolo está presente quando o agente possui vontade de causar o dano, assim, age de maneira irresponsável ensejando obter um resultado pernicioso.
Já a culpa ocorre quando o agente não possui o ânimo de obter um resultado danoso, mas age de maneira inadequada, com imprudência, negligência ou imperícia.
A imprudência é quando o agente age sem tomar os devidos cuidados sobre determinado ato, agindo sem cautela. Ou seja, é uma ação descabida.
Na negligência, trata-se de uma omissão caracterizada pela falta de atenção e cuidado que o agente deveria ter. Logo, deixa-se de tomar certa atitude, omitindo-se de forma descuidada.
Já na imperícia, ao agente falta técnica, conhecimento ou habilidade sobre determinado ato, do qual deveria ter pleno controle. Assim, a imperícia aplica-se apenas a determinadas pessoas, que, no exercício de sua técnica, agem de maneira errada e causam dano.
O tema desta monografia está claramente inserido no âmbito da responsabilidade civil subjetiva, uma vez que são necessários os quatro pressupostos presentes na conduta do agente para que haja responsabilização civil, quais sejam: a conduta, o nexo causal, o dano e a culpa (sentido amplo). É de suma importância que seja verificado o tipo de culpa com que o pai ou mãe agiu ao deixar de prestar o afeto e cuidados para com seu filho, já que o quantum de responsabilidade será baseado nesta característica.
Diante disso o pai ou a mãe que abandona seu filho, deixando-o seus cuidados a cargo de outrem, seja o outro genitor ou não, por mera deliberação, isentando-se da responsabilidade de criar e educar uma criança, sem ter justificativa plausível aparente não será responsabilizado da mesma forma que o pai ou a mãe que deixa os cuidados do filho a cargo de outrem por ser vítima de alienação parental por parte do outro genitor, que influencia a criança a não ser presente na vida daquele que supostamente o abandonou. Daí a importância da análise do elemento culpa na responsabilidade civil por abandono afetivo.
4. A RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO
Como anteriormente apresentando, a responsabilidade civil surge de uma ação ou omissão ilegal que causa desde pequenos danos materiais a trágicos prejuízos patrimoniais e/ou imateriais, que são aqueles que não atingem o patrimônio da vítima, mas sim a ofende como pessoa, ferindo sua imagem, sua honra e seu estado emocional, causando-lhe sentimentos negativos como vexame, humilhação, tristeza e dor.
O abandono afetivo abrange elementos complexos inerentes ao ser humano, na maiorias das vezes é impossível até mesmo identificar todos os fundamentos deste abandono em um caso concreto devido a diversidade de situações em que vivem as vítimas, porém, vem progressivamente sendo reconhecido juridicamente e tutelado pelo princípio implícito da afetividade, extraído da interpretação dos princípios que asseguram o bem estar e pleno desenvolvimento do indivíduo, especialmente do maior princípio da ordem constitucional brasileira: o da dignidade da pessoa humana.
Cumpre esclarecer que o abandono afetivo não é a falta de amor ou falta de afeto, para as decisões proferidas a seu favor o abandono afetivo não está ligado aos aspectos sentimentais do indivíduo, até porque, a justiça jamais conseguiria alcançar tamanha complexidade. Para o estudo aqui realizado, o abandono afetivo é o descumprimento do dever de cuidar do filho.
4.1 ABANDONO AFETIVO
Primeiramente, cabe aqui conceituar a palavra abandono de acordo com o Dicionário Online Michaelis do site UOL:[40: MICHAELIS, Dicionário de Português Online. Significado de “Abandono”. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=abandono. Acesso em 10 de Maio de 1026.]
abandono 
a.ban.do.no 
sm (de abandonar) 1 Ação ou efeito de abandonar. 2 Desamparo, desprezo. 3Desistência, renúncia. 4 Imobilidade, indolência, moleza. Antôn (acepções 1 e 2): amparo, proteção. A. de emprego, Dirtrab: descumprimento continuado e definitivo, por parte do empregado, da obrigação de prestar serviço; fato de deixar a relação de emprego sem qualquer comunicação ao empregador. A. de serviço, Dirtrab: descumprimento da obrigação de trabalhar. Pode configurar-se tanto na ausência continuada ao serviço como na acintosa inexecução de trabalho a que esteja obrigado o empregado. A. do lar, Dir: afastamento voluntário de um dos cônjuges, por dois anos, um dos motivos de desquite. Ao abandono: sem amparo, sem cuidados.
Dentre os sinônimos citados no conceito acima é possível identificar as palavras desistência, renúncia e desamparo e como antônimos percebe-se as palavras amparo e proteção.
No caso da palavra afetividade, conceitua-se da seguinte forma conforme o site online Significados:[41: SIGNIFICADO. Significado de “Afetividade”. Disponível em: HTTP://www.significados.com.br/afetividade/.Acesso em 10 de Maio de 2016.]
Afetividade é um termo que deriva da palavra afetivo e afeto. Designa a qualidade que abrange todos os fenômenos afetivos. No âmbito da psicologia, afetividade é a capacidade individual de experimentar o conjunto de fenômenos afetivos (tendências, emoções, paixões, sentimentos). A afetividade consiste na força exercida por esses fenômenos no caráter de um indivíduo. A afetividade tem um papel crucial no processo de aprendizagem do ser humano, porque está presente em todas as áreas da vida, influenciando profundamente o crescimento cognitivo. As relações e laços criados pela afetividade não são baseados somente em sentimentos, mas também em atitudes. Isso significa que em um relacionamento, existem várias atitudes que precisam ser cultivadas, para que o relacionamento prospere.
Para conceituar este termo tão subjetivo, é necessário enfatizar a importância da relação afetiva entre seus pais e filhos dentro do seio familiar. Com o advento e a promulgação da Constituição Federal de 1988, a família passou a ter um papel mais voltado à sua função social, devendo, portanto, se organizar para que seja harmônica não só para os indivíduos que fazem parte dela, mas para a sociedade em geral. Maria Berenice Dias relata um ponto importante na evolução dafamília:[42: Dias, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5ª Edição. Pág. 28. Editora RT. São Paulo.]
(...) a revolução industrial fez aumentar a necessidade de mão-de-obra, principalmente nas atividades terciárias. Assim a mulher ingressou no mercado de trabalho, deixando o homem de ser a única fonte de subsistência da família, que se tornou nuclear, restrita ao casal e sua prole. Acabou a prevalência do caráter produtivo e reprodutivo da família, que migrou para as cidades e passou a conviver em espaços menores. Isso levou à aproximação dos seus membros, sendo mais prestigiado o vínculo afetivo que envolve seus integrantes. Existe uma nova concepção de família, formada por laços afetivos de carinho, de amor.
A ligação entre pais e filhos passou a ser além do vínculo biológico, mas também a relação que se estabelece entre eles de amor, carinho, cuidados e educação. Para uma criança, sua simples origem biológica não a mantém vinculada a seus pais já que para ela o pai e a mãe são os que estão presente e que cuidam, alimentam, educam, exteriorizando seus ideais de atenção, carinho e amor.
Destarte, o abandono afetivo é a omissão do pai e ou da mãe em dar a seu(s) filho(s) os cuidados, educação, atenção, carinho e amor, ou seja, a afeição.
Isto posto, nota-se que o abandono afetivo é a renúncia a prestar afeição, deixar de oferecer todos os elementos inerentes a afetividade, quais sejam o carinho, amor, amizade, atenção e zelo. Neste compasso, o pai ou a mãe que abandona afetivamente o seu filho está desprotegendo-o e desistindo de se dedicar a oferecer carinho e amor para quem concedeu a vida: o seu filho.
O abandono afetivo de um pai ou uma mãe para com o seu filho confronta as normas da Lei Máxima do ordenamento jurídico brasileiro, não o bastante, ainda fere princípios fundamentais norteadores de toda norma jurídica e de valores e costumes da sociedade. 
O sentimento de abandono que uma criança ou adolescente sente ao se conscientizar que seu pai ou sua mãe, espontaneamente, renunciou ao dever de o cuidar, educar e amar pode ser desastroso e dolorido de forma imensurável. Todo ser humano nasce dependente de afeto e cuidado, é natural e biologicamente normal que seja assim, logo, ao se ver desprovido de necessidades emocionais que carece e que apenas seriam supridas pelo amor materno ou paterno, a criança ou adolescente se vê confuso e desamparado.
4.1.2 Consequências do abandono afetivo
A criança ou adolescente vítima do abandono de um dos pais pode carregar consequências por toda sua vida, muitas vezes se tornam pessoas reclusas, introspectivas e instáveis emocionalmente, por não possuírem uma base fraternal adequada sentirão dificuldades em demonstrar sentimentos, prejudicando a normal formação da sua personalidade.
A partir do momento em que temos uma criança ou um adolescente sendo desvinculados de sua família, perdendo a chance de crescer em convívio com o pai ou uma mãe, aumentando a probabilidade de se tornar um adulto traumatizado ou até problemático, aí então temos um problema social perigosíssimo, que deve ser debatido de forma a se encontrar uma solução para cada caso concreto, amenizando os prejuízos que já existem desde o momento do “abandono”.
Além da consequência âmbito de responsabilidade civil, o abandono afetivo acarreta outras situações negativas de ordem psíquica e comportamental na vítima do abandono. Para Munir Cury os prejuízos causados por abandono afetivo de um pai ou mãe para com o seu filho pode acarretar em desajuste psicológico e social:[43: CURY, Munir (Coord.) Estatuto da criança e do adolescente comentado: comentários jurídicos e sociais. 5.ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2002.]
[...] Se a família for omissa no cumprimento de seus deveres ou se agir de modo inadequado, poderá causar graves prejuízos à criança ou ao adolescente, bem como a todos os que se beneficiariam com seu bom comportamento e que poderão sofrer os males de um eventual desajuste psicológico ou social.
O autor em referência entende que a omissão da família nos seus deveres constitucionais de criação, educação e prestação de todo tipo de assistência a criança e ao adolescente sob sua responsabilidade é capaz de causar graves danos a vítima do abandono, influenciará negativamente no desenvolvimento psicológico e social, e por se tratar de um ramo extremamente íntimo e pessoa verifica-se impossível prever quais as exatas consequências no comportamento do indivíduo consigo e como um ser que convive em sociedade.
A criança e o adolescente de hoje será o homem, o pai de família, o marido, o empregado de amanhã, fará parte da sociedade e nela praticará atos que modificarão sua vida e a vida da coletividade ao seu redor, é de se considerar que todos querem que as pessoas vivam em harmonia, sejam independentes e impulsionem uns aos outros, construindo uma comunidade afetuosa, desenvolvida economicamente e dotada de valores morais e éticos.
 Como será possível atingir esses propósitos se no desenvolvimento da criança e do adolescente ele se vê corrompido, sem exemplos estáveis de como conviver uns com outros, sem receber o devido afeto e carinho como saberá demonstrar abertamente quando crescer? Essa é a principal questão da Reparação por Abandono Afetivo, os danos morais causados àquele que, sem culpa algum, não foi devidamente amparado pela própria família, carregando transtornos psicológicos capazes não só de afetar sua vida íntima mas seu convívio com a sociedade.
4.2 FUNDAMENTOS E ELEMENTOS DA REPARAÇÃO DO DANO AFETIVO
Por se tratar de tema atualíssimo os fundamentos são baseados principalmente no instituto da já consagrada Responsabilidade Civil, interpretada neste assunto em conjunto com os mais nobres Princípios Constitucionais, que visam acima de tudo, proteger a integridade física e mental da pessoa humana.
Os fundamentos norteadores da Reparação do Dano Afetivo encontram-se elencados nos artigos 1º, inciso III (Dignidade da Pessoa Humana), 5º caput onde a ordem constitucional protege direitos relacionados à personalidade do indivíduo e torna plenamente possível a obrigação de reparar dano que viole o que protege a dignidade e integridade psíquica do homem, artigo 5º, V:[44: BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.]
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; 
A Carta Magna assegura que qualquer indivíduo que seja prejudicado em sua ordem econômica, moral ou tenha denegrido a sua imagem tem o direito de receber indenização a fim de minimizar o dispêndio sofrido.
Corroborando o artigo 5º da Constituição Federal o Código Civil de 2002 em seu Capítulo II visa proteger também os direitos de personalidade, ampliando seus alcances.
Veja, o tema abordado vai além de apenas questões de Direito de Família, possui também embasamento legal na ordem civil e constitucional como se expôs,dada a grandiosidade do tema é indiscutível que textos normativos diversos tutelam o direito pleiteado e são base para uma possível reparação de dano decorrente de abano afetivo.
4.2.1 Entendimento Jurisprudencial 
No passado os Tribunais não reconheciam a existência de dever de reparação por dano moral advindo de abandono afetivo, contudo, o entendimento vem se firmando cada vez mais na seara contrária.
Por se tratar de um tema complexo e bastante atual ainda há intenso debate jurisprudencial quanto à possibilidade de reparação por danos morais decorrentes do abandono afetivo.
 Apresenta-se abaixo, relevantes decisões de tribunais que inflam e enriquecem o tema, trazendo a tona novas perspectivas da haver sim a viabilidade da responsabilização no caso deste dano específico.

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