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Tcc " A Responsabilidade Civil Por Abandono Afetivo "

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JOEL JUNIOR AMORIM RODRIGUES A RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO Trabalho de Curso apresentado como exigência parcial, para a obtenção do grau no curso de Direito da Universidade de Franca. Orientador: Prof. Dr. Donaldo de Assis Borges. FRANCA 2017 
JOEL JUNIOR AMORIM RODRIGUES A RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO Orientador: ___________________________________________________ Prof. Dr. Donaldo de Assis Borges. Instituição: Universidade de Franca Examinador(a): ________________________________________________ Prof. Ms. Frank Sérgio Pereira. Instituição: Universidade de Franca Examinador(a): ________________________________________________ Prof. Ms. Marco Antonio de Souza. Instituição: Universidade de Franca Franca, 04/12/2017. 
 AGRADEÇO este trabalho primeiramente а Deus quе permitiu quе tudo isso acontecesse, ао longo dе minha vida, е nãо somente nestes anos como universitário, mаs que еm todos оs momentos é o maior mestre quе alguém pode conhecer; Aos meus pais, pelo amor, incentivo е apoio incondicional. E por fim, ao professor Donaldo de Assis Borges que se dispôs a orientar-me no pouco tempo que lhe coube, sendo fundamental na elaboração desta monografia. 
 RESUMO RODRIGUES, Joel. A Responsabilidade civil por abandono afetivo. 2017. Trabalho de Curso (Graduação em Direito) – Universidade de Franca, Franca. O presente trabalho abordará a problemática acerca da responsabilidade civil dos genitores pelo abandono afetivo dos filhos, mesmo que não tenha ocorrido o abandonou financeiro. Para tanto, utiliza-se o método dedutivo-bibliográfico, realizando-se uma revisão da bibliografia com sistematização e discriminação dos livros e demais materiais utilizados. Os processos metodológicos empregados na elaboração da pesquisa serão: dogmático jurídico, histórico e analítico sintético. Inicialmente será analisado o instituto da família e sua evolução histórica, jurídica e principiológica, ocasionada principalmente pelo advento da Constituição Federal de 1988. Posteriormente será analisado o instituto da responsabilidade civil e sua aplicabilidade no Direito de Família. Após, será abordado o abandono afetivo, a possibilidade de configuração de dano moral pela falta de afeto e por violação a preceitos constitucionais e civis e o que tem decidido os tribunais. Por fim, serão analisadas as perspectivas legislativas e a tipificação do abandono afetivo como ilícito. Palavras–chave: Abandono Afetivo; Responsabilidade Civil; Dano Moral; Dever de Cuidado dos Pais. 
 ABSTRACT RODRIGUES, Joel. The civil liability in cases of emotional abandonment. 2017. Monograph (Graduation in Laws) – University of Franca. The current monograph works on the issue referring to parental liability for their children emotional abandonment, even if the financial abandonment has not occurred. Therefore, this deductive-bibliographic method will be used on the work, combining a bibliography review with systematization and discrimination of books and others materials used on this research. The methodological processes employed in the research factoring will be: dogmatic legal, historical and analytic-synthetic. Initially the institute “family” will be put under analysis, as long as its historical, legal and conceptual evolution, mostly caused by the advent of the 1988 Federal Constitution. After, the institute “civil liability” will be studied along with its applicability in Family Law. Then, the “emotional abandonment” itself will be analyzed, along with the possibility of moral damage configuration caused by the lack of affection and by the violation of constitutional and civil commandments and also what has been decided in courts. Lastly, the legislative perspectives and the legal understanding of “emotional abandonment” as in illicit will be analyzed. Keywords: Emotional Abandonment; Civil Liability; Moral Damage; Parental Responsibility for Children. 
 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 7 1 DO DIRETO DE FAMÍLIA .................................................................................. 9 1.1 Evolução histórica da família ................................................................................... 9 1.2 Princípios do Direito de Família ............................................................................. 12 2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL..................................................................... 21 2.1 Responsabilidade civil no âmbito familiar ............................................................. 26 3 ABANDONO AFETIVO E A CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL ........ 28 3.1 Filiação e Paternidade ............................................................................................. 28 3.2 As relações de afeto no Direito de Família ............................................................. 30 3.3 Possibilidade de responsabilização por abandono afetivo ...................................... 31 4 NOVAS TENDÊNCIAS LEGISLATIVAS ......................................................... 35 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 38 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 40 
7 INTRODUÇÃO O tema objeto de estudo é a Responsabilidade Civil Por Abandono Afetivo. Trata-se da possibilidade de indenização por parte do genitor que abandona o filho afetivamente, mesmo que não ocorra o abandono financeiro. O presente trabalho encontra respaldo legal no princípio da dignidade da pessoa humana previsto no artigo 1°, III, da Constituição Federal, no artigo 229 da Constituição Federal, no artigo 186 do Código Civil e no artigo 1634 também do Código Civil. A problemática acerca deste assunto está na possibilidade ou não de indenização pelo abandono afetivo, a jurisprudência tem mostrado uma evolução positiva quanto ao assunto, porém não é unanime. É dever do Estado tutelar as relações familiares, principalmente em relação à criança e ao adolescente, punindo aqueles que a prejudiquem em seu desenvolvimento. O grande problema é que não existe nenhuma lei expressa acerca da responsabilização civil do genitor que abandona sua prole afetivamente, os defensores que militam a favor da possibilidade da responsabilização civil do genitor pelo abandono afetivo fundamentam que esse dever é implícito do dever de criar e gerir educação de seus filhos. Para tanto, o primeiro capítulo discorrerá acerca do instituto das famílias, principalmente sua evolução histórica, partindo do início da sociedade humana até chegar aos dias atuais, e o papel da Constituição Federal de 1988 e do Código Civil de 2002 na reformulação do Direito de Família. Posteriormente, analisa-se o Instituto da Responsabilidade Civil, suas características principais, sua incidência no Direito de Família e o atual posicionamento doutrinário. Feitas essas análises, a discussão se pautará na possibilidade de responsabilizar civilmente os genitores que causarem danos aos seus filhos pelo abandono afetivo, fazendo uma análise jurisprudencial e doutrinária. Por conseguinte, serão tratadas as perspectivas legislativas e os projetos de leis que tramitam no Congresso Nacional e visam regulamentar a questão do abandono afetivo. 
8 Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizado o método dedutivo-bibliográfico, realizando-se uma revisão da bibliografia com sistematização e discriminação dos livros e demais materiais utilizados. Dentre eles, foi definida a bibliografia de livros nacionais, e artigos de sites jurídicos da Internet. Os processos metodológicos empregados na elaboração da pesquisa foram: dogmático jurídico, histórico e analítico sintético.9 1 DO DIREITO DE FAMÍLIA O Direito de Família é um dos ramos mais abrangentes do Direito Civil, tratando dos institutos do casamento, da união estável, das relações de parentesco, da filiação, dos alimentos, dos bens de família, da tutela, curatela e guarda. Em sentido amplo, a família pode ser conceituada como o conjunto de pessoas ligadas por vínculos sanguíneos ou afetivos. Já em sentido estrito, a família pode ser conceituada como a entidade composta por genitores e filhos, formada pelo casamento, união estável ou família monoparental. A doutrina divide o Direito de Família em dois grandes blocos, Direito Existencial ou Pessoal de Família e Direito Patrimonial de Família. O primeiro está relacionado com questões concernentes ao ser humano, que não podem ser contrariadas por convenção entre as partes, sendo reguladas por normas de ordem pública e com previsão legal nos artigos 1.511 a 1.638 do Código Civil. Já o Direito Patrimonial de Família tem em seu contexto questões relacionadas com o patrimônio, permitindo a livre convenção entre as partes, sendo regulado por normas de ordem privada ou dispositivas e com previsão legal nos artigos 1639 a 1722 do Código Civil. O código se organizou de forma a tratar a pessoa antes do patrimônio, remetendo a tendência de despatrimonialização do Direito civil, o que demonstra grande evolução do direito privado, principalmente em relação ao instituto da família que contou com a importantíssima participação do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família). 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA Durante os séculos houve uma grande evolução do instituto do Direito de Família, tornando tanto a formação quanto os motivos que unem a família muito diferentes dos da antiguidade. 
10 A evolução da família se dá sobre três fases históricas, sendo elas o estado selvagem, a barbárie e a civilização. Rodrigo da Cunha Pereira define as como: No estado selvagem, os homens apropriam-se dos produtos da natureza prontos para serem utilizados. Aparece o arco e a flecha e, consequentemente, a caça. É aí que a linguagem começa a ser articulada. Na barbárie, introduz-se a cerâmica, a domesticação de animais, agricultura e aprende-se a incrementar a produção da natureza por meio do trabalho humano; na civilização o homem continua aprendendo a elaborar os produtos da natureza: é o período da indústria e da arte. 1 No estado selvagem, o homem ainda vivia em árvores e suas relações eram bastante rudimentares, sobrevivendo de raízes e frutos. Suas residências compunham aldeias e as famílias eram organizadas no patriarcado, que se originava no sistema de mulheres, filhos e servos sujeitos ao poder limitador do pai. Há diversas teorias que já foram arguidas, porém a mais provável é de que a família na maior parte de sua história ou em quase toda ela foi organizada na forma patriarcal. Na Roma antiga, ao pater incumbia as funções de chefe político, juiz e sacerdote. Isto posto, o pater dirigia cultos, zelava pela justiça e tinha sobre os filhos o direito de vida e de morte (ius vitae ac necis), podendo lhes agredir ao ponto de lhes tirar a vida ou até vendê-los. A mulher era totalmente subordinada ao marido e quando não era casada era totalmente subordinada ao seu pai, nunca adquirindo autonomia e consequentemente não tendo direitos próprios. Ao longo do tempo a visão da família começa a mudar para os romanos, admitindo que caso ocorresse o abuso de poder do pater, a mãe poderia o substituir ficando com a guarda dos filhos, tendo direito na herança deles, desde que estes não tivessem descendentes e irmãos. No Império, a mulher começa a ser mais autônoma e a participar da vida social e política, dando os primeiros passos rumo ao que chamamos de igualdade de gênero. Decorrido algum tempo surge o Direito Canônico, período este fortemente influenciado por ideais religiosos, principalmente no século IV, com o Imperador Constantino, que propiciou no Direito Romano a concepção cristã da família, em que o homem deixa a sua família originária e vem a se unir com a mulher para poder formar uma nova família com o mero objetivo de se procriarem. 1 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família: uma abordagem psicanalítica. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 12. 
11 Durante a Idade Média o direito canônico foi absoluto e o único tipo de casamento reconhecido era o religioso, que para ser celebrado exigia o consentimento das partes, sendo indissolúvel. No Brasil a família começou a ser tida como instituição básica sob o contexto da colonização, fortemente influenciada pela ótica portuguesa fundada nos preceitos da Igreja Católica Apostólica Romana. No tocante ao Direito de Família essas diretrizes foram dadas principalmente pelas Ordenações Filipinas de 1595, que só foi promulgada em 1603. Neste sentido assinala Carlos Roberto Gonçalves: Podemos dizer que a família brasileira, como hoje é conceituada, sofreu influência da família romana, da família canônica e da família germânica. É notório que o nosso Direito de Família foi fortemente influenciado pelo direito canônico, como consequência, principalmente da colonização lusa. As Ordenações Filipinas foram a principal fonte e traziam a forte influência do aludido direito, que atingiu o direito pátrio. No que tange aos impedimentos matrimoniais, por exemplo, o Código Civil de 1916 seguiu a linha do direito canônico, preferindo mencionar as condições de invalidade.2 O Direito de Família continuou sendo fundado no patriarcalismo, tendo como único regime de bens admitido o da comunhão universal de bens, ou seja, o patrimônio do homem e da mulher se tornavam únicos, sendo vedada a dissolução do matrimonio. A proclamação da república do Brasil, em 1889, fez com que o Estado se desprendesse da igreja, o que ocasionou o surgimento do Código Civil de 1916 que inovou trazendo o casamento civil, por outro lado foi bastante rudimentar no que toca aos institutos da família, mantendo preceitos do século anterior e ratificando o entendimento de ser o matrimonio indissolúvel. O Diploma Legal de 1916 resguardou apenas as famílias constituídas pelo casamento de vínculo indissolúvel. Desta forma, as relações mantidas fora do matrimonio eram consideradas adulterinas e os filhos advindos de tal relação eram tidos como ilegítimos e só poderiam ser reconhecidos pelo pai se este assim o quisesse. Com a edição da magna carta de 1988, houve uma grande evolução do Direito de Família, pautado principalmente na igualdade e solidariedade, reconhecendo a união estável como entidade familiar, conferiu proteção aos filhos e afastou a ideia de ilegitimidade daqueles advindos de relações extraconjugais ou de adoção, lhes assegurando uma igualdade total de tratamento em relação aos filhos advindos do matrimônio. 2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 16. 
12 O código civil de 2002, reiterou os preceitos constitucionais, perpetuando em seu bojo um código civil mais humanitário, sedimentado na socialidade, eticidade e operabilidade, garantindo indenizações àqueles que fossem lesados moralmente. Apesar de demonstrarem alguns avanços concernentes ao instituto da família, a Constituição Federal e o Código Civil de 2002, pecaram em não regulamentar a existência das mais variadas formas de relações familiares, que brilhantemente tem sido regradas pela doutrina e jurisprudência. Baseando-se na dignidade da pessoa humana, os tribunais tem reconhecido vínculo familiar de famílias não reconhecidas pelo ordenamento jurídico pátrio, como é o caso do reconhecimento da união homoafetiva e a adoção por casais do mesmo sexo, assuntos estes que deveriam ser regulamentados pelos legisladores, que não o fazem, cabendo então aos juízes e a doutrina construírem posicionamentos jurídicos que permitam a resolução destes polêmicos casos.1.2 PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA O Direito de Família brasileiro passou por diversas alterações estruturais, asseguradas principalmente pelos princípios consagrados na Constituição Federal, de 1988, que se desvinculou do pátrio poder o substituindo pelo poder familiar, que exterioriza o senso de igualdade entre os pais. É nítido que a atual Magna Carta busca a realização e o desenvolvimento do indivíduo dentro do ambiente familiar e não mais o desenvolvimento da família em detrimento do indivíduo, como ocorria no passado. Princípios são normas de observância obrigatória que estruturam todo o sistema jurídico e norteiam o magistrado na interpretação das leis, atos e negócios jurídicos, permitindo a resolução de casos complexos e dando suprimento as lacunas legais. Neste sentido leciona Francisco Amaral: Os princípios jurídicos são pensamentos diretores de uma regulamentação jurídica. São critérios para a ação e para a constituição de normas e modelos jurídicos. Como diretrizes gerais e básicas, fundamentam e dão unidade a um sistema ou a uma instituição. O direito, como sistema, seria assim um conjunto ordenado segundo princípios.3 3 AMARAL, Francisco. Direito civil. Introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 92. 
13 Um dos princípios mais importantes do Direito de Família é a dignidade da pessoa humana, com previsão legal no art. 1°, inciso III, da Constituição Federal. Devido seu grau de importância é denominado no meio jurídico como macroprincípio, superprincípio, princípio máximo ou princípio dos princípios, sendo defendido por alguns doutrinadores como princípio matriz de todos os direitos fundamentais. Não há ramo do Direito Privado em que o princípio da dignidade da pessoa humana tenha maior ingerência do que no Direito de Família, colocando em evidência a própria pessoa humana, visando garantir a ordem jurídica, proteger os direitos fundamentais e principalmente limitar a atuação do Estado, que não poderá editar normas com o escopo de eliminar esses direitos. É válido destacar os ensinamentos de Maria Berenice Dias: Na medida em que a ordem constitucional elevou a dignidade da pessoa humana a fundamento da ordem jurídica, houve uma opção expressa pela pessoa, ligando todos os institutos a realização de sua personalidade. Tal fenômeno provocou a despatrimonialização e a personalização dos institutos jurídicos, de modo a colocar a pessoa humana no centro protetor do direito. O princípio da dignidade da pessoa humana não representa apenas um limite a atuação do Estado, mas constitui também um norte para a sua ação positiva. O Estado não tem apenas o dever de abster-se de praticar atos que atentem contra a dignidade humana, mas também deve promover essa dignidade através de condutas ativas, garantindo o mínimo existencial para cada ser humano em seu território.4 A dignidade da pessoa humana está presente na humanidade desde os primórdios, sendo encontrada em diversas épocas e culturas, como é o caso do antigo código de Hamurabi (1792-1750 ou 1730-1685 a.C.), que apesar de ter sido escrito em uma época que a barbárie e o totalitarismo predominavam, demonstra resquícios do referido princípio. Por muitos é defendida a ideia de que a dignidade humana é um atributo do ser humano, criado por este e por este desenvolvido, porém, percebida plenamente apenas nos últimos dois séculos. A etimologia da palavra dignidade vem do latim, “dignitas”, que significa tudo aquilo que merece respeito ou consideração. Na Antiguidade, a dignidade da pessoa humana tinha relação com o mérito, ou seja, estava ligada a condição financeira, ao status de nobreza e a intelectualidade da pessoa. Com o passar do tempo e a crescente popularidade do cristianismo, surgiu-se uma nova concepção do que seria a dignidade da pessoa humana. A ideologia cristã, fundada na ideia de que todo homem é a imagem e semelhança de Deus, tornou a dignidade um valor humano pertencente a todos. 4 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 63. 
14 Por volta dos séculos XVII e XVIII, a dignidade da pessoa humana se desprendeu do aspecto religioso proporcionado pelo laicismo, criando um rol básico de direitos independentes da crença religiosa. Desde então, começaram a surgir direitos e garantias que visam a proteção da dignidade humana, colocando o homem no centro da atividade pública e alcançando o patamar de valor supremo de uma constituição. Como bem preleciona Paulo Hamilton Siqueira Jr, a fundamentação histórica dos direitos humanos pode ser analisada e embasada em dois prismas: 1) jusnaturalista; e 2) culturalista (histórico-axiológico). Esses dois prismas não são encarados como compartimentos estanques; pelo contrário, na sua completude se vislumbra o que hoje identificamos como direitos humanos. Para o jusnaturalismo, os direitos humanos são inerentes, inatos, ou seja, direitos naturais da pessoa humana. São direitos anteriores e se sobrepõem ao próprio direito positivo. Para o culturalismo, os direitos humanos encontram sua fundamentação no prisma histórico-axiológico, surgindo assim dos valores consagrados pela humanidade. Esses axiomas foram nascendo e se sedimentando por intermédio da luta histórica dos mais variados povos, fazendo despertar na consciência coletiva um rol básico de direitos. O ponto fulcral dessa evolução ocorre na segunda guerra mundial.5 A Revolução Francesa é o ícone da história dos direitos humanos e a consequente declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), a queda da monarquia sedimentada na dignidade humana fez surgir, em 26 de agosto de 1789, na França, a primeira Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, dando origem a primeira geração dos direitos humanos, que visavam a proteção dos direitos civis e políticos, fundamentados na liberdade (liberte), tendo real importância por ser o documento propulsor e inspirador de outros que viriam , trazendo direitos e garantias fundamentais ao homem. Dispõe o preâmbulo da referida carta: Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral. 6 5 SIQUEIRA JUNIOR, P. H. Dignidade da pessoa humana. Revista dos Tribunais, v.875/2008, set. 2008, p. 4. 6 FRANÇA, Declaração de direitos do homem e do cidadão – 1789. Disponível em: <http://coral.ufsm.br/observatoriodh/images/1789-Declara%C3%A7%C3%A3odosdireitosdohomemedocidad%C3%A3o.pdf >. Acesso em: 13 abr. de 2017. 
15 É válido destacar a Revolução Norte Americana de 1776, a Declaração de Direitos de Virgínia, a Declaração da Independência e a própria Constituição dos Estados Unidos da América, pois tiveram um papel muito importante na concretização dos direitos humanos. O grande problema da igualdade trazida pelo Estado Liberal foi a abertura de espaço para a desigualdade real, surgindo injustiças sociais, em que o mais forte oprimia o mais fraco. O povo não mais sofria opressão por parte do Estado tirano, porém, sofria nas mãos do mais forte. Somando as injustiças sofridaspelo povo com a revolução industrial, surgem os direitos humanos de segunda geração, que visavam a garantia e proteção dos direitos econômicos, sociais e culturais, baseados na igualdade (égalité). Os direitos humanos, de segunda geração, tiveram seus valores positivados na Constituição Mexicana, de 1917, na da Rússia, de 1918, e na República de Weimar, de 1919. Nas referidas constituições os direitos sociais passaram a ser considerados direitos fundamentais. Ao final da segunda guerra mundial, em 1945, houve uma grande discussão pautada ao redor dos direitos de primeira e de segunda geração, e até de outros valores que jamais haviam sido tratados. Impulsionados pelos horrores perpetrados na segunda guerra mundial, principalmente ocasionados pelo nazismo, despertou-se um sentimento de preocupação com os direitos do homem num prisma universal, refletindo a ideia de que o homem faz parte de uma sociedade, a sociedade humana. No dia 10 de dezembro de 1948, surgiu a Declaração Dos Direitos do Homem, baseada nos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Importantíssima, pois trouxe cristalizado em seu texto os valores da solidariedade e fraternidade, caracterizados pelo atributo da coletividade, transformando a antiga ideia de direitos destinados ao homem-indivíduo, em direitos que visam à proteção da coletividade. Vale destacar os direitos mais citados dentre os direitos fundamentais de 3° geração, como o direito à paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento do meio ambiente e da qualidade de vida, bem como à conservação e utilização do patrimônio histórico e cultural e o direito de comunicação. Percebe-se uma certa cautela pós guerra, preocupada com o meio ambiente e com a vida em sociedade. Os Direitos Humanos, de 4° geração, encontram uma grande divergência doutrinaria em seu conteúdo, se desenvolvendo ao redor da informática e da bioética, que com os avanços trouxeram para discussão temas como o suicídio, a eutanásia, o aborto, o 
16 transexualismo, o comércio de órgãos humanos, a procriação artificial, a manipulação do código genético e a clonagem de seres humanos. A questão do biodireito está fortemente relacionada com as atrocidades que ocorreram na segunda guerra mundial, onde foram feitos diversos experimentos genéticos dentro dos campos de concentração, o que trouxe à tona a necessidade de uma certa humanização do processo cientifico. Em especial, após a segunda guerra, a dignidade da pessoa humana tem sido bastante valorizada, sendo constante nas constituições contemporâneas e se exteriorizando em direitos e garantias fundamentais, principalmente em normas concernentes a vida, a religião, a ética, a moral e a ciência. A evolução das Constituições brasileiras, no que se refere aos Direitos Humanos, demonstram um certo desabrochar em busca da efetividade de uma verdadeira democracia, que visa a proteção do cidadão, lhe proporcionando uma vida mais digna, em que todos os direitos conquistados ao longo do tempo sejam efetivados pelo Estado, que tem o dever de garantir uma existência digna para com seus cidadãos, os protegendo contra injustiças e lhes proporcionando um habitat razoável para que esses constituam suas famílias. Nossa atual Constituição Federal, de 1988, tem o princípio da dignidade da pessoa humana, expresso em seu art. 1°, inciso III, o que causou grande impacto no Direito de Família e permitiu à sua reestruturação, pois, codificou os novos valores que há tempos estavam sedimentados na sociedade, trazendo diversas normas protetivas à família e demonstrando fazer parte dos fundamentos da República Federativa do Brasil. É válido frisar que o Novo Código de Processo Civil, em seu art. 8°, também trouxe em seu bojo o princípio da dignidade da pessoa humana, que deverá ser utilizado pelo magistrado como um norte na aplicação do ordenamento jurídico. Como já foi dito, não há ramo do Direito Privado em que a Dignidade da Pessoa Humana esteja mais presente do que no Direito de Família, pois é neste ramo em que se vislumbra a pessoa em sua vida quotidiana, nas relações de marido e mulher e até pais e filhos. Neste sentido asseveram os portugueses Jorge Miranda e Rui de Medeiros: A dignidade humana é da pessoa concreta, na sua vida real e quotidiana: não é de um ser ideal e abstracto. É o homem ou a mulher, tal como existe, que a ordem jurídica considerada irredutível, insubsistente e irrepetível e cujos direitos fundamentais a constituição enuncia e protege.7 7 MIRANDA, Jorge; Medeiros, Rui, apud TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 2. ed. São Paulo: Método, 2012. p.1035 
17 É sedimentada na dignidade dos filhos que surge a possibilidade da indenização pelos danos afetivos causados a prole, ocasionada principalmente pela violação do dever de dar auxílio psicológico aos filhos, o que não se exaure com a simples ajuda financeira. No art. 3°, inciso I, da Constituição Federal está o princípio da solidariedade social, que consiste em um dos objetivos da República Federativa do Brasil, com o condão de construir uma sociedade livre, justa e solidária, o que acaba repercutindo nas relações familiares, pois deve existir solidariedade nos relacionamentos pessoais. Ser solidário nada mais é que responder pelo outro e se preocupar com este, dando para a solidariedade familiar o sentido de caráter afetivo, moral, social, patrimonial, espiritual e sexual. Uma grande evolução do instituto da família foi a conquista da igualdade entre os filhos, com previsão legal no art. 227, § 6. °, da Constituição Federal, que garante a igualdade de tratamento e direitos aos filhos advindos do matrimônio e os concebidos fora deste, assim como os adotivos, proibindo qualquer ato discriminatório entre eles. É válido destacar que o art. 1.596 do Código Civil, de 2002, traz a mesma redação do dispositivo constitucional, excluindo de uma vez por todas a antiga discriminação constante no art. 379 do Código Civil de 1916, que dividia o parentesco em legítimo e ilegítimo. Como prevê o art. 226, § 5. °, da Constituição Federal, a isonomia constitucional trouxe a igualdade entre homens e mulheres no que se refere à sociedade conjugal ou convivencial, formadas pelo casamento ou união estável. Destarte que decorrente deste princípio surge a igualdade na chefia familiar, podendo esta ser exercida tanto pelo homem quanto pela mulher em um regime democrático de colaboração, afastando aquela antiga concepção de pátrio poder que foi substituído pelo poder familiar. No art. 1.513, do Código Civil, está previsto o princípio da não intervenção ou da liberdade, que está diretamente ligado com o princípio da autonomia privada. O princípio da não intervenção ou da liberdade estabelece a vedação a qualquer pessoa de direito público ou privado em interferir na comunhão da vida familiar. O art. 1.565, § 2. °, do Código Civil, corrobora o referido princípio, definindo que é livre o planejamento familiar por decisão do casal, sendo defeso qualquer forma de coerção, seja por instituições públicas ou privadas. Destarte, por óbvio o referido princípio deve ser aplicado também na união estável. É válido destacar que o princípio da não intervenção ou da liberdade, não proíbe que o Estado incentive por meio de políticas públicas, programas concernentes ao 
18 planejamento familiar, sendo que a própria Constituição Federal de 1988 consagra em seu texto a paternidade responsável e o planejamento familiar. O art. 227, caput, da atual Constituição Federal e os artigos 1.583 e 1584 do Código Civil, trazem o princípio do maior interesse da criança e do adolescente. Este princípio basicamente reflete o dever da família, do estado e da sociedade em tratar a criança e o adolescente com absoluta prioridade em todos os sentidos. O próprio ECA (Estatuto da criança e do adolescente), tutela para que os direitos fundamentais da criança e do adolescente sejam resguardados, proclamando em seu art. 4°, ser dever da família, da sociedade e do poderpúblico a proteção, à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. A guarda compartilhada foi sedimentada justamente pelo princípio do maior interesse da criança e do adolescente, visando garantir a estes uma criação onde ambos os genitores estejam presentes, auxiliando em sua criação. Vale esclarecer que na guarda compartilhada haverá apenas um único lar, o que não pode ser confundido com a guarda alternada, em que o filho fica um tempo com um genitor e um tempo com o outro de forma sucessiva, que em muitos dos casos pode ser prejudicial a sua criação. O princípio da função social da família passou por algumas mudanças, devendo ser analisado dentro do contexto social e diante das diferenças regionais de cada localidade. Antigamente a família era tida como a “célula mater” da sociedade e apesar de ser um entendimento do período militar ditatorial ainda é o entendimento atual no que concerne à família, até porque o art. 226 da nossa magna carta, dispõe que a família é a base da sociedade, tendo especial proteção do Estado. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, lecionam que: A principal função da família e a sua característica de meio para a realização dos nossos anseios e pretensões. Não é mais família um fim em si mesmo, conforme já afirmamos, mas, sim, o meio social para a busca de nossa felicidade na relação com o outro. 8 Destarte, é importantíssimo que a socialidade seja aplicada aos institutos do Direito de Família, pois é ela que serve de fundamento para o parentesco civil decorrente da paternidade socioafetiva e para a inclusão de outras entidades familiares, como é o caso da 8 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2011. V. 6, p. 98. 
19 união homoafetiva, tudo isso porque a sociedade muda e o direito deve ser dinâmico, acompanhando todas essas mudanças. A afetividade é um princípio implícito, que apesar de não estar expresso, está entre os princípios mais importantes das relações familiares. O afeto decorre da valorização da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. A respeito do referido princípio, leciona Giselle Câmara Groeninga: O papel dado a subjetividade e à afetividade tem sido crescente no Direito de Família, que não mais pode excluir de suas considerações a qualidade dos vínculos existentes entre os membros de uma família, de forma que possa buscar a necessária objetividade na subjetividade inerente às relações. Cada vez mais se dá importância ao afeto nas considerações das relações familiares; aliás, um outro princípio do Direito de Família é o da afetividade. 9 No mesmo sentido, aponta a ministra Nancy Andrighi, de forma brilhante em seu julgado que: A quebra de paradigmas do Direito de Família tem como traço forte a valorização do afeto e das relações surgidas da sua livre manifestação, colocando à margem do sistema a antiga postura meramente patrimonialista ou ainda aquela voltada apenas ao intuito de procriação da entidade familiar. Hoje, muito mais visibilidade alcançam as relações afetivas, sejam entre pessoas de mesmo sexo, sejam entre o homem e a mulher, pela comunhão de vida e de interesses, pela reciprocidade zelosa entre os seus integrantes. Deve o juiz, nessa evolução de mentalidade, permanecer atento às manifestações de intolerância ou de repulsa que possam porventura se revelar em face das minorias, cabendo-lhe exercitar raciocínios de ponderação e apaziguamento de possíveis espíritos em conflito. A defesa dos direitos em sua plenitude deve assentar em ideais de fraternidade e solidariedade, não podendo o Poder Judiciário esquivar-se de ver e de dizer o novo, assim como já o fez, em tempos idos, quando emprestou normatividade aos relacionamentos entre pessoas não casadas, fazendo surgir, por consequência, o instituto da união estável. A temática ora em julgamento igualmente assenta sua premissa em vínculos lastreados em comprometimento amoroso. (STJ, REsp.1.026.981/RJ, 3.° Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04.02.2010, DJe 23.02.2010). Como já estudado o código Civil de 2002 foi alicerçado em três princípios fundamentais que são: a operabilidade, a socialidade e a eticidade. Este último princípio representa a importância e a valorização do comportamento ético-socializante, notadamente pela boa-fé objetiva. Não é de hoje que o afeto vem sendo sustentado como valor jurídico, como é o caso da obra de João Baptista Villela, escrita em 1789, que tratou da desbiologização da paternidade, que em resumo defendeu a ideia de que o vínculo familiar constitui mais um vínculo de afeto do que biológico, refletindo a ideia de parentalidade socioafetiva. 9 GROENINGA, Giselle Câmara. Direito Civil. Direito de Família. Orientação: Giselda M.F Novaes Hinoraka. Coordenação: Aguida Arruda Barbosa e Cláudia Stein Vieira. São Paulo: RT, 2008. V.7, p.28. 
20 O nosso atual Código de Processo Civil, também trouxe em seus comandos a boa-fé, que deverá ser observada na prática de todos os atos processuais. A boa-fé objetiva é fruto da evolução do conceito de boa-fé, que antes era pautada apenas na boa-fé subjetiva, ou seja, na mera intenção do sujeito. Destarte, a boa-fé objetiva está relacionada com os deveres anexos de conduta, que não necessitam sequer da necessidade de previsão. Vale destacar que o dever de cuidado, respeito, de lealdade, de agir com honestidade, entre outros, são considerados deveres anexos, o que não foge do campo da família, principalmente no que diz respeito ao dever constante nos artigos 229 da Constituição Federal e 1634 do Código Civil, que prevê que o pai tem o dever de gerir a educação do filho, e o descumprimento desse dever pode vir a gerar um ato ilícito, nos termos do art. 186 do Código Civil. Ratificando esse entendimento, o Tribunal Paulista condenou um pai a indenizar um filho pela abstenção de convivência: Responsabilidade civil. Dano moral. Autor abandonado pelo pai desde a gravidez da sua genitora e reconhecido como filho somente após propositura de ação judicial. Discriminação em face dos irmãos. Abandono moral e material caracterizados. Abalo psíquico. Indenização devida. Sentença reformada. Recurso provido para este fim. (TJSP, 8° Câmara de Direito Privado, Apelação com Revisão 511.903-4/7-00-Marília- SP, Rel. Des. Caetano Lagrasta, j. 12.03.2008, v.u). Dada a sua importância, a boa-fé objetiva possui três funções no código civil, que são perfeitamente aplicáveis aos institutos familiares. A primeira função da boa-fé objetiva é a interpretação, prevista no art. 113 do Código Civil, que estabelece que os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Destarte, nessa primeira função a boa-fé objetiva age como auxiliadora do aplicador do direito. A segunda função é a de controle, prevista no art. 187 do Código Civil, que estabelece que aquele que contrariar a boa-fé objetiva no exercício do seu direito comete abuso de direito. É válido destacar o Enunciado n. 37, aprovado na I Jornada de Direito Civil, que estabelece que a responsabilidade civil que decorre do abuso de direito é objetiva, ou seja, não depende de culpa, pois o art. 187 do Código Civil adotou o critério objetivo-finalístico. A terceira e última função é a de integração, positivada no art. 422 do Código Civil, que estabelece que os contratantes devem agir durante a vigência do contrato e em sua conclusão sob os princípios da probidade e boa-fé. 
21 2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL No decorrer da evolução do Direito de Família houve épocas em que falar em responsabilidade civil no âmbito familiar era algo inimaginável, pois o pai detinha o poder supremo sobre toda a sua família, ao ponto de poder vender seus filhos comoescravos ou até lhes tirar a vida. Neste sentido leciona Caio Mário da Silva Pereira: O pater, era ao mesmo tempo, chefe político, sacerdote e juiz. Comanda, oficiava o culto dos deuses domésticos (penates) e distribuía justiça. Exercia sobre os filhos direito de vida e de morte (ius vitae ac necis), podia impor-lhes pena corporal, vendê-los, tirar-lhes a vida. A mulher vivia in loco filiae, totalmente subordinada à autoridade marital (in manu maritari), nunca adquirindo autonomia, pois que passava da condição de filha à de esposa, sem alteração na sua capacidade; não tinha direitos próprios, era atingida por capitis demintuio pérpetua que se justificava propter sexus infirmitatem et ingnoratiam rerum forensium. Podia ser repudiada por ato unilateral do marido.10 A palavra responsabilidade deriva do latim “respondere” contendo a raiz latina “spondeo”, que no direito romano vinculava o devedor nos contratos verbais. Ademais, a responsabilidade civil é basicamente a responsabilização de alguém pela prática de um ato ilícito que venha a causar prejuízos na vida de outrem, com previsão legal no art. 186 do Código Civil, ou por abuso de direito, com previsão legal no art. 187 também do Código Civil. Nossa atual Constituição Federal traz em seu art. 5°, incisos V e X, o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente da violação da intimidade, da vida privada, da honra e a imagem das pessoas. O art. 5°, incisos V e X, da Constituição Federal estabelecem que: Art. 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...] V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. 10 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Vol. V. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 31. 
22 Em tempos mais remotos não existia a responsabilidade civil, o que se tinha era uma espécie de vingança privada, em que cada um realizava a sua reação de maneira espontânea e livre, sendo que na maioria das vezes de forma violenta, o que causava nas pessoas uma sensação de justiça ou reparação do mal que havia sofrido. Com o passar do tempo e a estruturação dos Estados, passou a vigorar o direito público, e se tornou dever do Estado a função de resguardar os direitos do indivíduo e punir qualquer um que venha a ofende-los. A respeito leciona Carlos Roberto Gonçalves: “O Estado assumiu assim, ele só, a função de punir. Quando a ação repressiva passou para o Estado, surgiu a ação de indenização. A responsabilidade civil tomou lugar ao lado da responsabilidade penal”.11 No sistema jurídico brasileiro a responsabilidade civil é de duas espécies, a responsabilidade civil contratual ou negocial e a responsabilidade civil extracontratual também conhecida como responsabilidade civil aquiliana. A responsabilidade contratual se trata do descumprimento da obrigação de dar, de fazer ou de não fazer. Já a obrigação extracontratual está alicerçada em dois pilares, o ato ilícito e o abuso de direito. É válido destacar que o Código Civil de 1916 amparava a obrigação extracontratual apenas sob o aspecto do ato ilícito, tratando-se portanto o abuso de direito uma importante inovação trazida pelo Código Civil de 2002. A responsabilidade civil também pode ser classificada como subjetiva e objetiva. Ambas são decorrentes de atos ilícitos e se diferenciam apenas sob o aspecto da necessidade da existência ou não de culpa. Na responsabilidade civil subjetiva, que é a regra em nosso ordenamento jurídico, adotou-se a teoria da culpa, ou seja, para que haja o dever de reparar ou indenizar é necessária a comprovação da sua culpa genérica, que inclui o dolo e a culpa. Assim entende Carlos Alberto Gonçalves: Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na idéia de culpa. A prova de culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa.12 11 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 14. ed. rev. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2012, p. 25. 12 Idem, Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2007.p. 22. 
23 Já na responsabilidade civil objetiva não há necessidade da comprovação de culpa e nem que o fato seja ilícito, sendo esta fundada na teoria do risco, bastando estar presente o nexo de causalidade entre o dano e a ação comissiva ou omissiva do causador do fato. Assim leciona Maria Helena Diniz: Na responsabilidade objetiva, a atividade que gerou o dano é lícita, mas causou perigo a outrem, de modo que aquele que a exerce, por ter a obrigação de velar para que dela não resulte prejuízo, terá o dever ressarcitório, pelo simples implemento do nexo causal. A vítima deverá pura e simplesmente demonstrar o nexo de causalidade entre o dano e a ação que o produziu.13 A razão de ser da responsabilidade civil é para que haja a punição àquele que veio a causar o dano, seja pela prática de um ato ilícito seja por abuso de direito, e dessa forma busca-se o restabelecimento do desequilíbrio causado pelo dano moral ou patrimonial. A doutrina diverge sobre quais são os elementos estruturais ou pressupostos do dever de indenizar. Tradicionalmente, a doutrina considera a culpa genérica como pressuposto do dever de indenizar. Porém, há doutrinadores, como é o caso de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho que defendem ser a culpa genérica um elemento acidental da responsabilidade civil, apresentando somente a conduta humana, dano e o nexo de causalidade como pressupostos do dever de indenizar. Nos dias atuais tem prevalecido o entendimento de que a culpa em sentido genérico é elemento essencial da responsabilidade civil. Destarte, os quatro pressupostos para haver a responsabilidade civil são a conduta humana, a culpa genérica, o nexo de causalidade e o dano ou prejuízo. A conduta humana pode ser definida como toda e qualquer ação ou omissão realizada de forma voluntária ou por negligência, imprudência ou imperícia. É imprescindível que o agente tenha consciência da conduta, não sendo necessário que este queira causar o dano. É válido destacar que, em caso de omissão deve ser demonstrado que se a conduta fosse praticada o dano poderia ter sido evitado A culpa se subdivide em dolo e em culpa stricto sensu. No dolo o agente tem a vontade de prejudicar outrem, sendo que sempre que houver o dolo valerá a regra do princípio da reparação dos danos, que prevê que todos os danos suportados pela vítima serão indenizados. 13 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade civil. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.v.7.p. 71. 
24 Já a culpa stricto sensu é o desrespeito a um dever preexistente por parte do agente, não havendo a real intenção de violar o dever jurídico, podendo ocorrer pela imprudência, negligência ou imperícia. A doutrina apresenta três elementos caracterizadores da culpa, que são a conduta voluntária com resultado involuntário, a previsibilidade e a falta de cuidado, cautela, diligência e atenção. É válido destacar que em caso de culpa stricto sensu onde a culpa for tamanha, o agente deverá pagar a indenização integral, consequentemente em caso de culpa leve ou média a indenização será medida ou reduzida equitativamente pelo juiz, principalmente se a vítima tiver concorrido para o evento danoso. Outro elemento caracterizador da responsabilidade civil é o nexo de causalidade que consiste emligar a conduta humana ao dano causado, pois sem essa ligação não haverá o dever de indenizar. Segundo Caio Mário da Silva Pereira: “Para que se concretize a responsabilidade é indispensável se estabeleça uma interligação entre a ofensa à norma e o prejuízo sofrido, de tal modo que se possa afirmar ter havido o dano porque o agente procedeu contra o direito.”14 Existem três principais teorias a respeito da questão do nexo causal, que são a teoria da equivalência das condições ou do histórico, a teoria da causalidade adequada e a teoria do dano direto e imediato ou teoria da interrupção do nexo causal. A teoria da equivalência prevê que todos os fatos relativos ao evento danoso geram a responsabilidade civil. Sobre a respectiva teoria leciona Gustavo Tepedino: “Considera-se, assim, que o dano não teria ocorrido se não fosse a presença de cada uma das condições que, na hipótese concreta, foram identificadas precedentemente ao resultado danoso.”15 É válido destacar que essa teoria amplia muito o nexo de causalidade, não sendo adotada no direito brasileiro. Já a teoria da causalidade adequada, constante nos artigos 944 e 945 do Código Civil, desenvolvida por Von Kries, define que somente o fato relevante ao evento danoso gerará responsabilidade, devendo a indenização ser adequada aos fatos que a envolvem. Neste 14 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. De acordo com a constituição de 1988. 5.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1944. p.75. 15 TEPEDINO, Gustavo. Notas sobre o nexo de causalidade. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, t. II, p. 67. 
25 sentido têm-se o enunciado n.47 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil, que preleciona que o art. 945, do Código Civil, não exclui a teoria da causalidade adequada. A última, mas não menos importante, é a teoria do dano direto e imediato ou teoria da interrupção do nexo causal, com previsão legal no art. 403 do Código Civil, define essa teoria que havendo violação do direito por parte do credor ou do terceiro, haverá interrupção do nexo causal com a consequente irresponsabilidade do suposto agente, ou seja, exige que haja entre a conduta e o dano uma relação de causa e efeito direto e imediato. Os tribunais divergem entre as duas últimas teorias, pois como foi demonstrado ambas integram expressamente o Código Civil. O último elemento caracterizador da responsabilidade civil é o dano ou prejuízo, sendo via de regra imprescindível para que haja o pagamento de indenização a comprovação do dano, seja este patrimonial ou extrapatrimonial. Em alguns casos admite-se a inversão do ônus da prova, como nos casos de relação de consumo, pelo fato de ser o consumidor hipossuficiente. Com o advento do Novo Código de Processo Civil essa inversão pode ocorrer para qualquer hipótese em que houver dificuldade na construção probatória ou quando houver maior facilidade na obtenção da prova do fato contrário, podendo o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso. Nesse sentido prevê o art. 373 do Código de Processo Civil: Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. § 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. § 2o A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil. § 3o A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das partes, salvo quando: I - recair sobre direito indisponível da parte; II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. § 4o A convenção de que trata o § 3o pode ser celebrada antes ou durante o processo. 
26 O dano é classificado como patrimonial (material) e moral. O dano patrimonial ou material é oriundo da lesão de bens economicamente apreciáveis sob dois aspectos, o dano emergente, que corresponde ao que a vítima realmente perdeu e os lucros cessantes. Já o dano moral é a lesão aos direitos da personalidade, violando a sua intimidade, vida privada, imagem e honra. A respeito do dano moral, leciona Carlos Roberto Gonçalves: Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem, o bom nome etc., como se infere dos arts. 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.16 É nítido, que no âmbito do dano moral é difícil para o magistrado estabelecer um valor líquido, certo e justo, pois o dano moral afeta cada pessoa de uma forma única. 2.1 RESPONSABILIDADE CIVIL NO ÂMBITO FAMILIAR No ordenamento jurídico brasileiro a responsabilidade civil, no âmbito familiar, começou a se desenvolver após o advento da Constituição Federal de 1988, sendo que o art. 5°, incisos V e X estabelecem as possibilidades de danos extrapatrimoniais através do dano moral. A responsabilidade civil no âmbito familiar é um tema bastante delicado, principalmente pelo fato de envolver sentimentos como o amor, o afeto, o carinho, o ressentimento, o desprezo, a indignação, sentimentos de foro íntimo de cada pessoa. Neste sentido, opina Aline Biasus Suarez Karow. A responsabilidade civil no seio da família é o tipo de responsabilidade mais “delicada” que pode ser estudada, pois confrontam dois princípios muito próximos em si mesmos, aquele que coloca a dignidade do membro familiar acima de qualquer circunstâncias com aquele que dispõe sobre a função social da família e a limitação da intervenção estatal.17 16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p. 377. 17 KAROW, Aline Biasuz Suarez. Abandono afetivo: valorização jurídica do afeto nas relações paterno-filiais. Curitiba: Juruá, 2012. p. 164. 
27 As pessoas mais conservadoras, como é o caso de Zulmira Pires de Lima, consideram imoral a indenização pecuniária por danos morais concernentes ao instituto da família, sobre o argumento de o dinheiro não reparar o dano causado. Em sentido contrário, lecionam os professores Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona: “[...] pois mais imoral do que compensar uma lesão com dinheiro, é, sem sombra de dúvida, deixar o lesionado sem qualquer tutela jurídica e o lesionador “livre, leve e solto” para causar outros danos no futuro.”18 Destarte, a indenização reparatória não tem o condão de reestabelecer o amor perdido, e sim de responsabilizar o causador do dano que caso não fosse punido estimularia esse tipo de conduta, dessa forma desabrochando o seu caráter pedagógico perante a sociedade. 18 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 3.p. 73. 
28 3 ABANDONO AFETIVO E A CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL Como já foi discorrido no âmbito dos princípios, a afetividade apesar de não estar positivada está entre os princípios mais importantes das relações familiares, e este capítulo se encarregara de tratar da possibilidade ou não de indenização moral oriundos do abandono afetivo. 3.1 FILIAÇÃO E PATERNIDADE A filiação é o parentesco natural ou legal existente entre os ascendentes e os descendentes em primeiro grau, isto é, entre pais e filhos. Neste sentido, leciona Carlos Roberto Gonçalves: Filiação é a relação de parentesco consanguíneo, em primeiro grau e em linha reta,que liga uma pessoa àquelas que a geraram, ou a receberam como se tivessem gerado. Todas as regras sobre parentesco consanguíneo estruturam-se a partir da noção de filiação, pois a mais próxima, a mais importante, a principal relação de parentesco é a que se estabelece entre pais e filhos.19 Esta relação é regida pelo princípio da igualdade entre os filhos, que como já demonstrado garante a igualdade de tratamento e direitos aos filhos havidos durante o casamento e os concebidos fora deste, assim como os adotivos, proibindo qualquer ato discriminatório entre eles. O reconhecimento voluntário é realizado pelo pai que reconhece o filho espontaneamente por meio do registro civil. Já nos casos em que não houver o reconhecimento voluntário ou não puder haver esse reconhecimento, o Código Civil em seu art. 1.597 consagra as presunções de paternidade, que podem ser decorrentes do casamento ou relacionadas a técnicas de reprodução assistida. Estabelece o art. 1.597: 19 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, v. 6.p. 318. 
29 Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. No inciso I, do artigo acima citado, leva-se em conta o início do casamento e por se tratar de presunção relativa admite-se prova em contrário, como por exemplo exame de DNA. O inciso II também se trata de presunção relativa, levando em conta o fim do vínculo entre os pais para a contagem do prazo de trezentos dias. De forma complementar a norma têm-se o art. 1.598 do Código civil que estabelece: Art. 1.598. Salvo prova em contrário, se, antes de decorrido o prazo previsto no inciso II do art. 1.523, a mulher contrair novas núpcias e lhe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se nascido dentro dos trezentos dias a contar da data do falecimento deste e, do segundo, se o nascimento ocorrer após esse período e já decorrido o prazo a que se refere o inciso I do art. 1597. Sobre o art. 1.598, de forma bastante pedagógica Flávio Tartuce o divide em duas regras: 1.°) Haverá presunção de que o filho é do primeiro marido, se nascer dentro dos 300 dias a contar do falecimento deste primeiro marido; 2.°) Haverá presunção de que o filho é do segundo marido se o nascimento ocorrer após esses 300 dias da dissolução da primeira união e já decorrido o prazo de 180 dias do início do segundo casamento. Tais confusas premissas geram presunções relativas que admitem prova em contrário, via DNA. Por isso, duvida-se de sua real aplicação prática.20 Já o inciso III se trata da reprodução assistida, que é aquela que envolve material genético dos próprios cônjuges. É importante destacar que há quem entenda ser inconstitucional a parte final do dispositivo, “mesmo que falecido o marido”, por violação ao princípio da paternidade responsável, previsto no art. 226, §7°, da Constituição Federal. O inciso IV trata dos embriões decorrentes da manipulação genética que não foram introduzidos no ventre materno, se mantendo conservados em clínicas de reprodução assistida. 20 TARTUCE, Flávio, Manual de direito civil: volume único.6°,ed.rev.,atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.p. 1.371. 
30 Por fim o inciso V, que se trata de reprodução assistida e se diferencia no tocante ao material genético que neste caso é de terceiro, advindo geralmente de sêmen doado. Neste caso é necessário prévia autorização do marido. Destarte, nos casos previstos nos incisos do art. 1.597 do Código Civil, aquele que se encontrar nas situações elencadas no tipo será considerado como pai, cabendo quando for o caso, provar que não é o verdadeiro genitor da criança e como prevê o art. 1.600 do Código Civil mesmo que a mulher confesse o adultério não estará afastada a presunção legal de paternidade. 3.2 AS RELAÇÕES DE AFETO NO DIREITO DE FAMÍLIA Com o advento da Constituição Federal de 1988, as relações familiares passaram a ser sedimentadas na dignidade da pessoa humana, superando diversos conceitos antigos concernentes a família. Neste sentido, leciona Aline Karow: Um imediato resultado, em especial no direito de família, é a autenticação de uma nova “funcionalidade” familiar, abandonando os objetivos tradicionais. Agora a família também é reconhecida como um espaço para que a pessoa possa desenvolver a sua personalidade, potencialidade, individualidade com respeito mútuo e dignidade não mais estando subjugada apenas aos interesses únicos e exclusivos do grupo familiar, senão também aos interesses pessoais dos membros que a compõe.21 Atualmente se entende que pai não é necessariamente aquele que procria, mas quem presta cotidianamente o afeto. Para definição da paternidade moderna é imprescindível utilizar o critério da posse do estado de filiação que define que pai é aquele que confere nome, tratamento e fama ao seu filho. Neste sentido, lecionam Farias e Rosenvald: A filiação sócio-afetiva não está lastreada no nascimento (fato biológico), mas em ato de vontade, cimentada, cotidianamente, no tratamento e na publicidade, colocando em xeque, a um só tempo, a verdade biológica e as presunções jurídicas. Sócio-afetiva é aquela filiação que se constrói a partir de um respeito recíproco, de um tratamento em mão-dupla como pai e filho, inabalável na certeza de que aquelas pessoas, de fato, são pai e filho [...]. 22 21 KAROW, Aline Biasuz Suarez. Abandono afetivo: valorização jurídica do afeto nas relações paterno-filiais, Curitiba: Juruá, 2012.p. 26. 22 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das famílias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.p. 517. 
31 A paternidade além de ser um direito, também é um dever que confere ao pai obrigações, como as de assistir, criar e educar os filhos menores de idade. Neste sentido define o art. 229 da Constituição Federal: “Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.” O dever de assistir, criar e educar os filhos não envolve apenas o aspecto patrimonial, sendo que o atual instituto da família tem o afeto como valor indispensável para o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente. É importante destacar a “teoria do desamor”, criada pela ilustre Drª Giselda Maria Fernandes Moraes Hironaka, que se encontra inserida na dignidade da pessoa humana e é basicamente um mecanismo que discute a possibilidade de indenização a título de dano moral pelos genitores que, mesmo tendo cumprido a obrigação de ajudar financeiramente o filho, não o fez no aspecto emocional. Deve-se evitar que a criança ou adolescente experimentem as amargas formas de negligência durante o seu desenvolvimento, sendo imprescindível a convivência próxima de um pai, que na velhice, carência ou enfermidade poderá contar com seu filho que tem o dever de lhe amparar. 3.3 POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ABANDONO AFETIVO A problemática deste tema tem-se pautado na possibilidade ou não de indenização pelo abandono afetivo, a jurisprudência tem mostrado uma evolução positiva e bastante humanizada quanto ao assunto. Com as diversas evoluções no instituto da família, a preocupação primordial está ligada ao bem estar e felicidade dos filhos e somente de forma secundáriacom questões de cunho financeiro, priorizando dessa forma um desenvolvimento de seres humanos mais saudáveis psicologicamente e mais bem estruturados. Neste sentido, leciona Rolf Madaleno: A omissão injustificada de qualquer dos pais no provimento das necessidades físicas e emocionais dos filhos sob o poder parental ou o seu proceder malicioso, relegando descendentes ao abandono e desprezo, tem proporcionado o sentimento 
32 jurisprudencial e doutrinário de proteção e de reparo do dano psíquico causado pela privação do afeto na formação da personalidade da pessoa.23 O afeto é um princípio jurídico de alta relevância para o Direito de Família, dele surgem deveres e direitos (da personalidade) no âmbito familiar, o que resulta em consequências importantes, em especial nas relações paterno-filiais. A grande dificuldade, acerca da condenação por abandono afetivo, está na dificuldade de comprovação da dimensão do dano, que deve ser comprovado por laudos por profissionais da área psiquiátrica, pois o dano é causado no íntimo de cada indivíduo ferindo de forma diversa cada um. Aline Karow defende que quando o abandono afetivo ocorre na infância ou adolescência torna-se mais grave, pois é nesse momento que há o desenvolvimento da personalidade. Leciona Karow: Este dano torna-se mais gravoso no momento em que se dá na fase de desenvolvimento da personalidade, ocasião em que necessita de paradigmas de comportamento e ainda impressões de afeto que lhe transmitam direção e segurança para que venha a se desenvolver plenamente. Pois, na ausência, a maioria dos casos manifesta psicopatias diagnosticadas clinicamente.24 Devido à grande ingerência do princípio da dignidade da pessoa humana no âmbito familiar ele tem sido utilizado como fundamento para condenar pais a pagarem indenização aos filhos pelo abandono afetivo. Neste sentido tem se o julgado do extinto Tribunal de Alçada Civil de Minas Gerais, no caso Alexandre Fortes, que deu origem a ementa: Indenização danos morais. Relação paterno-filial. Princípio da dignidade da pessoa humana. Princípio da afetividade. A dor sofrida pelo filho, em virtude do abandono paterno, que o privou do direito à convivência, ao amparo afetivo, moral e psíquico, deve ser indenizável, com fulcro no princípio da dignidade da pessoa humana (TAMG, Apelação Cível 408.555-5, 7.° Câmara de Direito Privado, decisão 01.04.2004 , Rel Unias Silva, v.u). No presente caso foi reformada a decisão de primeira instância, sendo que o pai desde o nascimento da filha, advinda de novo casamento, começou a privar o filho de sua convivência, porém, continuou arcando com suas obrigações financeiras a título de alimento devidos ao filho. Essa decisão foi reformada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) em 29 de 23 MADALENO, Rolf. Repensando o direito de família. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.p. 113. 24 KAROW, Aline B. S. Abandono afetivo: valorização jurídica do afeto nas relações paterno-filiais. Curitiba: Juruá Editora, 2012.p. 220. 
33 novembro de 2005, que decidiu pelo afastamento da condenação por danos morais, nos seguintes termos: Responsabilidade civil. Abandono moral. Reparação. Danos morais. Impossibilidade. 1. A indenização por dano moral pressupõe a prática de ato ilícito, não rendendo ensejo à aplicabilidade da norma do art. 159 do Código Civil de 1916 o abandono afetivo, incapaz de reparação pecuniária. 2. Recurso especial conhecido e provido (STJ, REsp 757.411/MG, Rel. Min. Fernando Gonçalves, votou vencido o Min. Barros Monteiro, que dele não conhecia. Os ministros Aldir Passarinho Junior, Jorge Scartezzini e Cesar Asfor Rocha votaram com o Ministro relator. Brasília, 29 de novembro de 2005- data de julgamento). O entendimento, do julgado, acima se direcionou no sentido de que não se pode falar em indenização moral, visto que o pai não está obrigado a conviver com o seu filho, não havendo dessa forma a prática de um ato ilícito que daria ensejo a eventual indenização. Muitos doutrinadores descordaram da decisão proferida pelo tribunal. Um deles foi Flávio Tartuce que defende o seguinte: Na opinião deste autor, é perfeitamente possível a indenização, eis que o pai tem o dever de gerir a educação do filho, conforme o art. 229 da CF/1988 e o art. 1.634 do CC. A violação desse dever pode gerar um ato ilícito, nos termos do art. 186 do CC, se provado o dano à integridade psíquica. 25 No ano de 2012 demonstrando uma grande evolução e amadurecimento quanto ao assunto, o Superior Tribunal de Justiça, em revisão a um acórdão reconheceu a reparação civil pelo abandono afetivo. Segue a ementa: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO. COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE. 1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/88. 3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono psicológico. 4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno cuida1do de um dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção social. 5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes – por demandarem revolvimento de matéria fática – não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso 25 TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único.6°, ed. rev .,atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: MÉTODO, 2016.p. 1.371. 
34 especial. 6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 7. Recurso especial parcialmente provido (STJ, REsp.1.159.242/SP, 3.° Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24.04.2012, DJe 10.05.2012) A ministra Nancy Andrighi em sua relatoria defende a ideia de admissibilidade de aplicação do instituto do dano moral nas relações familiares, pela consequente obrigação dos pais em prestar auxílio psicológico aos filhos, utilizando-se da fortíssima expressão, “amar é faculdade, cuidar é dever”, para resumir todo este emaranhado. O advogado e professor Jose Fernando Simão, descreve em suas linhas o real sabor da indenização para aqueles que foram abandonados: A indenização muito representa para Luciane e para muitas outras pessoas abandonadas afetivamente. Para Luciane, compensa-se um vazio, já que os danos que sofreu são irreparáveis. O dinheiro não preenche o vazio, mas dá uma sensação de que a conduta lesiva não ficou impune. Para outros filhos abandonados, nasce a esperança de que poderão receber do Poder Judiciário uma decisão que puna os maus pais, já que o afeto não receberam e nunca receberão.26 O tema abordado neste capítulo tem um forte impacto na vida da sociedade, principalmente para aqueles que foram abandonados afetivamente durante sua infância ou adolescência, resumindo-se o real sentido da indenização relativa ao abandono afetivo, nas emocionantes palavras do professor e advogado Jorge Fernando Simão.26 SIMÃO, José Fernando. De Alexandre a Luciane – da cumplicidade pelo abandono ao abandono punido! Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/de-alexandre-a-luciane--da-cumplicidade-pelo-abandono-ao-abandono-punido/8711> Acesso em:14 jun. 2017. 
35 4. NOVAS TENDÊNCIAS LEGISLATIVAS Atualmente, não há nenhuma lei que tipifique o abandono afetivo como ilícito, o que ocorre é a infringência dos deveres do poder familiar, e consequentemente a quebra do dever de cuidado dos genitores, sendo o cuidado um bem juridicamente tutelado pela Constituição Federal. É justamente essa falta de tipicidade que é utilizada pelas correntes que defendem a impossibilidade de se indenizar por dano moral consequente do abandono afetivo, alegam que por não haver norma legal não se pode ter a conduta como ilícita. Todavia, existem três projetos de leis que tramitam no Congresso Nacional, que visam a tipificação do abandono afetivo como conduta ilícita, são eles: o Projeto de Lei n° 700/2007 de autoria do Senador Marcelo Crivella, o Projeto de Lei n° 4294/2008 de autoria do Deputado Federal Carlos Bezerra e o Projeto de Lei n° 470/2013 de autoria da Senadora Lídice da Mata, que dispõe sobre o Estatuto das Famílias. Como se observa, é apenas questão de tempo para que o abandono afetivo venha a ser tipificado como conduta ilícita. De olho nessas novas perspectivas legislativas, leciona o brilhante advogado Charles Bicca: Sendo assim, tudo indica que ocorrerá, em breve, previsão legal especifica sobre abandono afetivo, que seria definitivamente considerado conduta ilícita sujeita a reparação de danos, colocando um ponto final a qualquer tipo de interpretação contrária ao tema que porventura possa ainda existir.27 O Projeto de Lei n°700/2007, elaborado pelo Senador Marcelo Crivella, pretende adicionar um parágrafo ao art. 5°, do Estatuto da Criança e do Adolescente, visando caracterizar o abandono moral como ilícito civil e penal. Dispõe o referido parágrafo: Parágrafo único. Considera-se conduta ilícita, sujeita a reparação de danos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, a ação ou a omissão que ofenda direito fundamental de criança ou adolescente previsto nesta Lei, incluindo os casos de abandono moral. (NR)28 27 BICCA, Charles. Abandono afetivo: o dever de cuidado e responsabilidade por abandono de filhos. Brasília: OWL, 2015.p. 96. 28 CRIVELLA, Marcelo. Projeto de Lei n° 700/2007. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/_img/artigos/PL700_2007.pdf> Acesso em: 04 set. 2017. 
36 De forma bastante contundente Crivella, em sua justificativa ao Projeto de Lei, argumenta que: A Lei não tem o poder de alterar a consciência dos pais, mas pode prevenir e solucionar os casos intoleráveis de negligência para com os filhos. Eis a finalidade desta proposta, e fundamenta-se na Constituição Federal, que, no seu art. 227 estabelece, entre os deveres e objetivos do Estado, juntamente com a sociedade e a família, o de assegurar a crianças e adolescentes – além do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer – o direito à dignidade e ao respeito. 29 O Projeto de Lei n° 4294/2008, de autoria do deputado Carlos Bezerra, visa acrescentar um parágrafo único ao art. 1632 do Código Civil, este artigo estabelece que a dissolução da sociedade conjugal não altera as relações entre pais e filhos. A proposta de inserção desse parágrafo tem como objetivo recriminar o abandono afetivo injustificado, que caso ocorra dará ensejo ao pagamento de indenização por danos morais ao filho abandonado. Dispõe o referido parágrafo: “Parágrafo único: O abandono afetivo sujeita os pais ao pagamento de indenização por dano moral. (NR)”30 Em sua justificativa ao Projeto de Lei n° 4294/2008 o deputado Carlos Bezerra ressalta a relevância que seu projeto poderá trazer para a sociedade, dispõe a referida justificativa: O envolvimento familiar não pode ser mais apenas pautado em um parâmetro patrimonialista-individualista. Deve abranger também questões éticas que habitam, ou ao menos deveriam habitar, o consciente e inconsciente de todo ser humano. Entre as obrigações existentes entre pais e filhos, não há apenas a prestação de auxílio material. Encontra-se também a necessidade de auxílio moral, consistente na prestação de apoio, afeto e atenção mínimas indispensáveis ao adequado desenvolvimento da personalidade dos filhos ou adequado respeito às pessoas de maior idade. No caso dos filhos menores, o trauma decorrente do abandono afetivo parental implica marcas profundas no comportamento da criança. A espera por alguém que nunca telefona - sequer nas datas mais importantes - o sentimento de rejeição e a revolta causada pela indiferença alheia provocam prejuízos profundos em sua personalidade.31 Por fim, tem se o Projeto de Lei n° 470/2013, de autoria da Senadora Lídice da Mata, que se diferencia dos demais no tocante em que não visa alterar nenhuma legislação 29 CRIVELLA, Marcelo. Projeto de Lei n° 700/2007. Disponível em :<https://marcelocrivella.com.br/pls-projeto-de-lei-do-senado-n-700-de-2007/>. Acesso em: 04 set. 2017. 30 BEZERRA, Carlos. Projeto de Lei n° 4294/2008. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=864558&filename=Avulso+-PL+4294/2008>. Acesso em: 05 set. 2017. 31 Ibidem. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=613432>. Acesso em: 06 set. 2017. 
37 vigente, pelo contrário, tem como objetivo estabelecer regras que disciplinem as relações familiares, instituindo o Estatuto das Famílias. Dada sua relevância, um estatuto que pretende regulamentar as relações familiares não poderia deixar de fora questões concernentes ao abandono afetivo. Os artigos 108 e 109 do referido projeto, visam a regulamentação do abandono afetivo. Dispõe os referidos artigos: Art. 108. Considera-se conduta ilícita o abandono afetivo, assim entendido a ação ou a omissão que ofenda direito fundamental da criança ou adolescente. Art. 109. Compete aos pais, além de zelar pelos direitos estabelecidos em lei especial de proteção à criança e ao adolescente, prestar-lhes assistência afetiva, que permita o acompanhamento da formação da pessoa em desenvolvimento. Parágrafo único. Compreende-se por assistência afetiva: I – orientação quanto às principais escolhas e oportunidades profissionais, educacionais e culturais; II – solidariedade e apoio nos momentos de necessidade ou dificuldade; III – cuidado, responsabilização e envolvimento com o filho. 32 Em sua justificativa a Senadora Lídice da Mata, defende que esses artigos se alicerçam nos preceitos constitucionais de prioridade absoluta, convivência familiar e paternidade responsável, esclarece a Senadora que: A absoluta prioridade ao convívio familiar assegurada a crianças e adolescentes dispõe de respaldo constitucional, consubstanciada no princípio da paternidade responsável (CF, art. 227). Ainda que o amor não tenha preço, é indispensável assegurar o direito a exigir alguma espécie de reparação quando ocorre abandono afetivo. Cabe ser penalizada a negligência parental, cuja indenização pode ter natureza patrimonial ou extrapatrimonial. Para o Direito, o afeto não se traduz apenas como um sentimento, mas principalmente como dever de cuidado, atenção, educação, entre outros.33 Como se observa, os legisladores reconhecem a necessidade de positivar o direito das crianças e adolescentes abandonados afetivamente pelos pais, pondo fim a discussão sobre a possibilidade ou não de responsabilização civil pelo abandono afetivo. 32 MATA, Lídice da. Projeto de Lei n° 470/2013. Disponível em: <http://ibdfam.org.br/assets/img/upload/files/Estatuto%20das%20Familias_2014_para%20divulgacao.pdf>. Acesso em: 06 set. 2017. 33Ibidem. Disponível em: <https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=16749> Acesso em: 06 set. 2017. 
38 CONCLUSÃO

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