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15R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 2016 As raízes filosóficas do pensamento de Hans Kelsen e suas consequências para o Direito Lenio Luiz Streck Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Lisboa. Professor dos Programas de Pós- Graduação da Unisinos (RS) e da Universidade Estácio de Sá – UNESA (RJ). Ex-Procurador de Justiça (TJRS). Advogado. Currículo lattes: <http://lattes.cnpq.br/0806893389732831>. E-mail: <lenios@globomail.com>. Rafael Giorgio Dalla Barba Mestrando em Direito pelo Programa de Pós-Graduação da Unisinos (RS). Bacharel em Direito pela Unisinos (RS). Advogado. Currículo lattes: <http://lattes.cnpq.br/9779512044955360>. E-mail: <rafaelgdb1@gmail.com>. Clarissa Tassinari Doutoranda e Mestra em Direito pelo PPG Direito da Unisinos (RS). Advogada. Currículo lattes: <http://lattes.cnpq.br/5065376917812503>. E-mail: <claunisinos@gmail.com>. Resumo: o propósito deste trabalho é abordar os principais traços da corrente do neopositivismo lógico que influenciaram a elaboração da Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen, mais especificamente no que concerne ao problema da interpretação do Direito, e demonstrar seus impactos. Em uma perspectiva de análise do pensamento juspositivista, este texto demonstra as origens da questão da interpretação dos textos jurídicos no interior do ordenamento jurídico como é arquitetado por Kelsen. O método de abordagem apoia-se numa perspectiva hermenêutico-fenomenológica, entendida como uma reconstrução do fenômeno para que possam ser desvelados elementos outrora não problematizados. Ainda que de forma parcial, os resultados conquistados indicam que as influências do neopositivismo lógico foram determinantes no projeto de Kelsen de elaboração da sua ciência jurídica, plano que se limita a produzir proposições jurídicas, permanecendo com a característica da discricionariedade interpretativa no seu modelo teórico. Palavras-chave: Discricionariedade judicial. Hans Kelsen. Positivismo lógico. Sumário: 1 Introdução – 2 A proposta do neopositivismo lógico para a Filosofia – 3 A interpretação do Direito na Teoria Pura do Direito – 4 Alguns impactos do positivismo kelseneano na teoria do Direito – 5 Considerações finais: a Crítica Hermenêutica do Direito e sua ruptura com o positivismo – Referências 1 Introdução Hans Kelsen (1881-1973) foi, muito provavelmente, o jurista mais influente de toda a teoria do Direito do século XX, sendo seu pensamento motivo de intensos R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 201616 LENIO LUIZ STRECK, RAFAEL GIORGIO DALLA BARBA, CLARISSA TASSINARI debates e discussões ainda nos dias hodiernos. Sua importância não fica adstrita meramente ao âmbito de suas inovações jurídicas, mas também se deve às influências filosóficas que o possibilitaram construir todo o seu arcabouço teórico. Na procura do desvelamento dos principais pressupostos que serviram de alicerce para Kelsen formular o seu edifício teórico, este trabalho pretende abordar brevemente as posições filosóficas que o influenciaram no trabalho de elaboração de sua obra mestra, a Teoria Pura do Direito (Reine Rechtlehre), publicada pela primeira vez em 1934, com uma segunda edição em 1960 que altera certas posições em relação à anterior. Luis Alberto Warat aponta em Kelsen duas grandes influências filosóficas que determinaram a elaboração do seu pensamento: o neokantismo da Escola de Marburgo e o neopositivismo lógico do Círculo de Viena. Para o professor argentino (WARAT, 1995, p. 140), Kelsen sofre influência de uma dupla fonte de inspiração em suas ideias metodológicas vertebrais: Kant e o positivismo lógico, respectivamente redefinidos pelo neokantismo e o positivismo lógico. A fusão de algumas ideias do kantismo com outras do positivismo determinou um processo dialético entre ambas as posturas, cuja síntese é a teoria pura do Direito. Na perspectiva de delimitação de análise que se exige para essa exposição, o tema que será abordado limita-se às influências da segunda ideia metodológica delineada por Warat: o neopositivismo lógico. Também denominado de empirismo lógico, esse movimento neopositivista desenvolvido pelo Círculo de Viena (Der Wiener Kreis) foi uma escola do pensamento contemporâneo formada por um grupo de intelectuais advindos não apenas das ciências humanas que se propuseram a estudar questões sobre ciência, lógica e linguagem com o objetivo comum de destruir os ideais metafísicos do conhecimento científico. Dentre os integrantes que fizeram parte das discussões do Círculo de Viena destacam-se Otto Neurath, Rudolf Haller, Mortiz Schlick e Rudolf Carnap. Contudo, a grande bíblia dos neopositivistas foi a obra inaugural do filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1953), o Tractatus Logico-Philosophicus (1921). Neste livro contado em pequenos trechos sob forma de aforismas e composto por sete teses centrais, Wittgenstein defende ousadamente que praticamente todos os problemas filosóficos podem ser solucionados pela elucidação lógica da linguagem (WITTGENSTEIN, 2010). Foi exatamente a partir dessa perspectiva que foram elaboradas as grandes teses neopositivistas no início do século XX. Entre elas, um dos teóricos que levou às últimas consequências essa reviravolta linguística da filosofia foi Rudolf Carnap (1881-1970), filósofo alemão que, em vez de se limitar à elaboração da lógica e da busca pelos fundamentos da matemática, perseguiu severamente a viabilidade de fazer frutificar uma linguagem rigorosa para a filosofia e para as ciências. R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 2016 17 AS RAÍZES FILOSÓFICAS DO PENSAMENTO DE HANS KELSEN E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O DIREITO É nesse contexto filosófico de depuração conceitual filosófica que Kelsen pôde montar sua teoria pura. Mais especificamente, as influências do neopositivismo lógico tornam-se evidentes no capítulo oitavo da Teoria Pura do Direito, segmento da obra em que o autor vai desenvolver a interpretação do direito em dois níveis distintos. Da mesma forma que Carnap vai propor uma depuração lógica da linguagem, Kelsen não fugirá desse modelo linguístico rígido quando estabelece sua ciência do Direito. 2 A proposta do neopositivismo lógico para a Filosofia A concepção que Rudolf Carnap propôs para a filosofia gestou-se no contexto de toda discussão do neopositivismo lógico, sobretudo nas análises sobre a linguagem. Para os neopositivistas lógicos, apenas dois tipos de sentenças são capazes de se submeter aos critérios do pensamento rigoroso e científico: os enunciados que exprimem os fatos percebidos intuitivamente e comprováveis empiricamente; e os enunciados que proferem as regras do pensamento lógico. Todas as demais sentenças que não se adequem a esses dois grandes grupos reportam-se ao campo do empiricamente inconstatável e, portanto, ao cientificamente incontrolável, onde se encontram os sentimentos, crenças, poesias, fantasias ou teologia (OLIVEIRA, 2006, p. 71 e segs.). Os neopositivistas lógicos se contrapuseram duramente a toda tradição metafísica sob a alegação de que era marcada por grandes equívocos verificados mediante apurada análise lógica da linguagem. Para eles, a lógica e matemática produziriam juízos puramente formais, sendo que somente as ciências empíricas poderiam fornecer conhecimentos de conteúdo, uma vez que a mera reflexão pura sem comprovações pelos dados sensíveis foge a qualquer possibilidade de comprovação científica, produzindo juízos éticos, estéticos, metafísicos, etc. Assim, o critério de verificação dos enunciados para neopositivistas lógicos é reduzido à comprovação empírica, admitindo-sesomente sentenças com conteúdo passível de ser verdadeiro ou falso. Em outras palavras, somente têm sentido as proposições que podem ser univocamente reduzidas a fatos da percepção sensível, não havendo qualquer possibilidade de construir ciência sob pressupostos não empíricos (OLIVEIRA, 2006, p. 85 e segs.). Reduzido o conhecimento passível de verificação somente ao plano empírico, o que sobraria para a filosofia? Em um artigo chamado “Pseudoproblemas da Filosofia” (“Scheinprobleme in der Philosophie”, 1928), Carnap defende que compete à filosofia somente se dedicar à instância na qual são expressos os fatos do mundo produzidos pelas demais ciências: a linguagem. A proposta neopositivista é clara: não existe uma esfera do real que não possa ser atingida pelas ciências particulares, ou seja, não há um conhecimento filosófico específico da realidade, mas apenas conhecimento demonstrado pelas ciências naturais ou empíricas (CARNAP, 1980, p. 143-166). R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 201618 Assim, na medida em que essas ciências exprimem suas descobertas em sentenças, a tarefa única e principal da filosofia é considerar a linguagem científica do ponto de vista de sua consistência lógica, esclarecendo conceitos e verificando rigorosamente se tais enunciados detêm correspondência empírica ou se são mero produto de crenças e ilusões. A filosofia deixa de ser especulativa para ser, antes de qualquer coisa, análise lógica da linguagem científica (CARNAP, 1980, p. 143 e segs.). Nesse sentido, a proposta neopositivista exige uma linguagem reduzida ao universo lógico ou empírico, e, dessa forma, o próprio âmbito de labor filosófico passa a estar em um terreno altamente restrito. Sendo assim, não é possível fundamentar, como queria Kant, juízos sintéticos a priori em Filosofia. Daí as consequências para a delimitação do conhecimento humano (STEGMÜLLER, 1977, p. 276): Na medida em que proposições filosóficas são submetidas a rigorosos critérios de verificação, pretende-se possibilitar uma discussão estrita de questões filosóficas. Nos casos em que se revele impossível estabele- cer tais critérios, as questões correspondentes devem ser simplesmente eliminadas da classe dos problemas filosóficos dotados de significação. Perguntas que não admitem respostas intersubjetivamente testáveis são pseudoproblemas filosóficos. Desse modo, assim como é possível controlar as sentenças matemáticas por meio de processos lógicos, e as sentenças das ciências empíricas pelas observações e experiências sensíveis, os enunciados filosóficos devem também ser controlados, se pretendem atingir alguma validade, de modo que forneçam critérios rigorosos de verificação linguística a ponto de não serem possíveis juízos especulativos ou fantasiosos. Em suma, as sentenças aceitáveis são ou juízos analíticos ou sintéticos a posteriori, isto é, se as sentenças ultrapassam esses conjuntos, são destituídas de qualquer significação (STEGMÜLLER, 1977, p. 280). 3 A interpretação do Direito na Teoria Pura do Direito O modo como a questão da interpretação do Direito é desenvolvida no pensamento de Hans Kelsen é um dos temas mais controversos da sua obra principal, a Teoria Pura do Direito (Reine Rechtlehre). Já no início do texto, Kelsen adianta ao leitor que o objeto central de sua obra – a norma jurídica – funciona como elemento que determina o sentido objetivo dos atos e condutas humanas, atribuindo-lhes significação jurídica. Portanto, é a norma jurídica que confere significado jurídico ao fato ou à conduta humana percebida intuitivamente, produzindo, assim, um conteúdo jurídico ou antijurídico (KELSEN, 2009, p. 4). Entretanto, da maneira como será explorada a ciência jurídica em Kelsen, aparece ao lado do conceito de norma jurídica o conceito de proposição jurídica: as LENIO LUIZ STRECK, RAFAEL GIORGIO DALLA BARBA, CLARISSA TASSINARI R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 2016 19 AS RAÍZES FILOSÓFICAS DO PENSAMENTO DE HANS KELSEN E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O DIREITO normas jurídicas enunciam mandamentos, imperativos, permissões ou atribuições de competência para determinada ação prescritivamente, ao passo que as proposições jurídicas apresentam juízos descritivos que enunciam que sob determinadas condutas ou eventos previstos por certas condições estabelecidas pelo ordenamento jurídico deverão incidir consequências determinadas. Dito de outro modo, as normas, como enunciados prescritivos, são produto da aplicação dos órgãos jurídicos (juízes e tribunais que aplicam a norma no caso concreto, e o Poder Legislativo que cria atos normativos) em decorrência da existência de outras normas que assim os autoriza. As proposições jurídicas, por sua vez, limitam-se a apresentar enunciados descritivos sobre as relações que se estabelecem a partir das normas jurídicas, consistindo nessa a tarefa da ciência jurídica. Essa diferença é o que permitirá estabelecer o corte epistemológico realizado por Kelsen entre a interpretação realizada pelos órgãos jurídicos e a interpretação realizada pela ciência jurídica (KELSEN, 2009, p. 388): Existem duas espécies de interpretação que devem ser distinguidas cla- ramente uma da outra: a interpretação do Direito pelo órgão que o aplica, e a interpretação do Direito que não é realizada por um órgão jurídico, mas por uma pessoa privada e, especialmente, pela ciência jurídica. Essa separação epistemológica estabelecida por Kelsen é o ponto central para determinar o modo como, no capítulo crepuscular de sua Teoria Pura, será apresentado o problema da interpretação judicial e que o diferenciará drasticamente do positivismo legalista. Como já havia demonstrado Luis Alberto Warat, esse aspecto de Kelsen deve-se a sua grande influência proveniente dos estudos analíticos dos neopositivistas lógicos do Círculo de Viena, como Rudolf Carnap e Moritz Schlick, cujo objetivo principal traduzia-se em reduzir o labor filosófico somente às proposições passíveis de conhecimento empírico. Segundo Warat, no contexto jurídico “o desprezo kelseniano da metafísica pode ser atribuído a mesma escola vienense, ao chamado Círculo de Viena, liderado por Carnap, que projeta o empirismo moderno ou o positivismo lógico, que postula para uso investigações em caráter científico rigoroso” (WARAT, 1995, p. 140). Assim como os neopositivistas lógicos, devido ao seu pessimismo em relação aos enunciados que não poderiam ser considerados verdadeiros ou falsos desde um ponto de vista empírico, Kelsen conclui que uma ciência jurídica só pode ser possível se ela for trabalhada em nível distinto daquele em que são possíveis enunciados prescritivos. E é dessa forma que na obra de Kelsen aparecem dois âmbitos completamente distintos: a interpretação realizada pela ciência jurídica e a interpretação realizada pelos órgãos jurídicos. A interpretação da ciência jurídica está encarregada simplesmente da determinação cognoscitiva do sentido das normas jurídicas e, diferentemente daquela R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 201620 feita pelos órgãos jurídicos, não pode criar direito ou colmatar lacunas normativas. A interpretação jurídica fica limitada à tarefa de estabelecer as possíveis significações de uma norma, não podendo tomar qualquer decisão entre qual delas deverá ser aplicada (KELSEN, 2009, p. 395-396): A interpretação jurídico-científica não pode fazer outra coisa senão esta- belecer as possíveis significações de uma norma jurídica. Como conhe- cimento do seu objeto, ela não pode tomar qualquer decisão entre as possibilidadespor si mesmas reveladas, mas tem de deixar tal decisão ao órgão que, segundo a ordem jurídica, é competente para aplicar o Direito. Em contrapartida, na interpretação realizada pelos órgãos jurídicos aplicadores do Direito, aquela interpretação cognoscitiva feita pela ciência jurídica (obtida por um ato de conhecimento) é combinada com um ato de vontade que deixa o órgão aplicador livre para escolher qual entre as possibilidades reveladas pela interpretação cognoscitiva deverá ser realizada. Em Kelsen, “através deste ato de vontade se distingue a interpretação jurídica feita pelo órgão aplicador do Direito de toda e qualquer outra interpretação, especialmente da interpretação levada a cabo pela ciência jurídica” (KELSEN, 2009, p. 394). Ou seja, na interpretação realizada pelo órgão jurídico (juiz, tribunal, órgão administrativo, etc.), estamos diante de um ato de vontade que, pelo fato de não ser passível de cognição por um ato de conhecimento realizado pela ciência jurídica, autoriza a entrada da discricionariedade judicial, exercendo a função de política jurídica. Como refere Leonel Severo Rocha, “uma coisa é o Direito, outra bem distinta é a ciência do Direito. O Direito é a linguagem-objeto, a ciência do Direito a metalinguagem: dois planos distintos e incomunicáveis” (ROCHA, 2005, p. 72). Dito de outro modo: no nível da interpretação da ciência jurídica são esclarecidas as possíveis significações daquilo que as autoridades produzem como normas (metalinguagem), mas não se pode determinar, sob pena de se escorregar para o nível da política jurídica (linguagem objeto), qual o conteúdo que deve ser aplicado nas práticas judiciárias. Os juízos produzidos no âmbito da ciência jurídica ficam restritos à verificação de validade das normas e suas possíveis indeterminações semânticas, ao passo que os juízos produzidos pela política jurídica (onde se movimentam os órgãos jurídicos que produzem e aplicam a norma ao caso concreto) ficam responsáveis por escolher qual a interpretação daquela norma jurídica que deve ser aplicada, podendo, inclusive, até mesmo julgar fora da moldura semântica da norma (KELSEN, 2009, p. 394): A propósito importa notar que, pela via da interpretação autêntica, quer dizer, da interpretação de uma norma pelo órgão jurídico que a tem de aplicar, não somente se realiza uma das possibilidades reveladas pela interpretação cognoscitiva da mesma norma, como também se pode pro- duzir uma norma que se situe completamente fora da moldura que a norma a aplicar representa. LENIO LUIZ STRECK, RAFAEL GIORGIO DALLA BARBA, CLARISSA TASSINARI R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 2016 21 AS RAÍZES FILOSÓFICAS DO PENSAMENTO DE HANS KELSEN E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O DIREITO É exatamente por essa razão que, no pensamento de Kelsen, uma vez obedecido o procedimento formal de elaboração de normas jurídicas, qualquer conteúdo pode ser direito. Como herdeiro do neopositivismo lógico do Círculo de Viena (não por acaso também chamado de empirismo lógico), Kelsen jamais poderia admitir que a vontade pudesse ser objeto de conhecimento válido pela razão, daí que toda a dimensão da chamada filosofia prática (área em que se encontram os juízos morais, éticos, estéticos, políticos, etc.) fica excluída de suas preocupações científicas, relegando-a ao nível da política jurídica, e, assim, abrindo espaço para discricionariedade judicial. 4 Alguns impactos do positivismo kelseneano na teoria do Direito Há diversos modos de abordar os impactos da Teoria Pura do Direito como resultado de uma ampla adoção dessa proposta teórica para compreender o fenômeno jurídico. Seguindo o fio condutor do artigo, optou-se por tratar daqueles que repercutem Kelsen ter sido diretamente do fato de influenciado pelo Círculo de Viena. Portanto, isso implica demonstrar quais as consequências dessa redução do papel da filosofia à análise lógica da linguagem, na medida em que é justamente esse elemento que inspira a construção kelseniana dos dois níveis – o da ciência do Direito e o da Política Jurídica. Embora nem sempre Kelsen tenha sido lido observando-se a existência desses dois níveis (tanto é que, por muito tempo, acreditou-se que “aplicar a letra lei” fosse uma expressão relacionada a esse autor), essa questão fomentou o desenvolvimento de uma separação rígida entre teoria e prática, entre ser e dever-ser. A partir de um aumento cada vez mais expressivo do abismo entre esses dois âmbitos, o Direito, numa espécie de busca de “autonomização científica” acabou reduzindo o seu papel à tarefa da construção de uma linguagem meramente descritiva das proposições jurídicas, sem se preocupar justamente com o seu elemento normativo e decisório (STRECK, 2010, p. 158-173). Em outros termos, enquanto as diversas correntes juspositivistas anteriores a Kelsen preocuparam-se com a aplicação dos enunciados jurídicos sob casos específicos, o positivismo normativista do jusfilósofo de Viena deu um salto para um “lidar com a teoria sobre o direito”. Isto é, Kelsen não fez uma teoria de um “Direito puro”, mas, ao contrário, uma teoria pura do Direito. Como já dito, como uma metalinguagem sobre a linguagem objeto. Por isso, seu positivismo só podia produzir proposições descritivas sobre as normas jurídicas. Na verdade, ao longo dos séculos, a questão do conhecimento humano colocou em choque o desenvolvimento das ciências com a Filosofia. Após o reconhecimento da inicial ligação, isto é, da ideia de ciência positiva como desmembramento da Filosofia, surge um movimento de certas ciências tornarem-se autônomas e independentes. Assim, a compreensão do homem, a partir da proclamação de uma R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 201622 independência (científica), passava a ser derivada de pontos de partida absolutos, evidências definitivas e deduções abstratas, que colocavam de lado a experiência concreta, criando uma racionalidade dogmatizada (STEIN, 1972, p. 134). Em geral, a produção do pensamento crítico no Direito ficou simplesmente vinculada à confrontação de posições teóricas. Essa simples contraposição de argumentos jurídicos é produzida como mera discussão, isto é, sem que se busquem os fundamentos conteudísticos (ou materiais) de cada uma das posturas sob análise. Por esse motivo, a aproximação entre Direito e Filosofia permite “[...] olhar mais no fundo da questão e descobrir qual é o standard de racionalidade que está por trás da argumentação e das premissas” (STEIN, 1972, p. 134). Desse modo, a noção de uma resistência do Direito à Filosofia deve ser entendida no contexto da ideia de autossuficiência dos enunciados jurídicos em relação ao universo hermenêutico. Isso significa que, a partir de uma concepção enclausurada do conhecimento jurídico, o Direito se constitui fechado nele mesmo. Quais as consequências deste isolamento jurídico da perspectiva filosófica? A existência de uma postura jurídica enclausurada em seus próprios dogmas. É por esse motivo que a relação entre Filosofia e Direito, com o passar dos tempos, em oposição à produção de um dualismo rígido entre as esferas do ser e do dever ser, ganhou foros de cidadania. A Teoria do Direito se diferencia daquilo que tradicionalmente foi chamado de Ciência do Direito, porque essa perspectiva se limita simplesmente a nos dizer o que está e o que não está de acordo com o direito positivo ou com as posições assentadas pelos tribunais, tendo em vista que o elemento decisório é deixado, como vimos, a uma importância secundária. Por outro lado, a preocupação que hoje se tem quer responder a uma pergunta mais curtae, ao mesmo tempo, mais radical: qual é o tipo de racionalidade que sustenta o Direito? Nesse sentido, é possível afirmar que a pergunta pelo conceito de Direito e sua relação com as demais áreas do conhecimento se relaciona umbilicalmente com a problematização acerca de seus fundamentos. Isso quer dizer que o Direito não passa meramente a receber novos contornos filosóficos ou ser corrigido pela Filosofia, mas, antes, por meio dessa aproximação, passa a se dar conta das suas próprias limitações. É por isso que, como diz Ernildo Stein (STEIN, 2004, p. 154), “Estamos postos diante da alternativa: ou encontramos um modo de pensar a relação entre Filosofia e Direito em uma nova dimensão, ou permanecemos na corrida interminável de um Direito que se especializa para esconder o impasse de seu vazio”. Ao mesmo tempo em que as análises do neopositivismo lógico permitiram Kelsen superar o velho positivismo exegético para desenvolver um ordenamento jurídico estruturado e atento à questão da separação entre os planos do ser e dever-ser, também deixaram sérios problemas interpretativos para o Direito. Ainda que possa parecer paradoxal, a importância ínfima que Kelsen parece ter dado à questão da LENIO LUIZ STRECK, RAFAEL GIORGIO DALLA BARBA, CLARISSA TASSINARI R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 2016 23 AS RAÍZES FILOSÓFICAS DO PENSAMENTO DE HANS KELSEN E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O DIREITO interpretação do Direito no capítulo derradeiro da Teoria Pura foi justamente o aspecto que mais influenciou e deixou marcas para o Direito: a discricionariedade judicial. 5 Considerações finais: a Crítica Hermenêutica do Direito e sua ruptura com o positivismo Nos dias atuais, essa temática ganha significativa relevância na medida em que o universo jurídico contemporâneo passa a ser moldado sob os auspícios de um Estado Democrático formado a partir de uma Constituição normativa que impõe a necessidade de fundamentação de todas as decisões judiciais. Isto é, com o advento das diversas Constituições durante o decorrer do século XX no ambiente jurídico- político, a questão da fundamentação das decisões judiciais passa a se colocar como problema central no debate contemporâneo, trazendo com ela a necessidade de se imprimir mecanismos de controle e estabilidade decisórios. A partir desse novo referencial constitucional, a discricionariedade judicial que se encontrava presente na obra de Kelsen passa a se encontrar na contramão da construção de uma teoria do Direito preocupada com esse (novo) paradigma democrático. E isso porque essa característica permite que a pessoa do juiz, no exercício da prestação jurisdicional, fundamente suas decisões por meio de elementos extrajurídicos, tornando o Direito atividade consideravelmente imprevisível e permitindo escolhas arbitrárias. É nesse contexto de incompatibilidade entre o paradigma democrático e a questão da discricionariedade judicial kelseniana que se direcionam nossas críticas. A partir da Crítica Hermenêutica do Direito, desenvolve-se a noção de que o Direito construído sob as bases de um paradigma constitucional deve ser compreendido em um cenário que busca promover o seu fortalecimento frente aos distúrbios políticos, sociais e morais. O novo modelo constitucional, nos moldes construídos no interior daquilo que denominamos Constitucionalismo Contemporâneo, representa a manifestação de um estágio de autonomia do Direito que não permite decisões judiciais fundamentadas em argumentos pessoais, político-ideológicos, econômicos, ou de caráter exógeno aos padrões estabelecidos constitucionalmente. Essa autonomização dá-se no contexto histórico do século XX, tendo atin- gido o seu auge com a elaboração das Constituições sociais, compromis- sórias e dirigentes do segundo pós-guerra. Trata-se de uma autonomia entendida como ordem de validade, representada pela força normativa de um direito produzido democraticamente e que institucionaliza (ess)as outras dimensões com ele intercambiáveis Em outras palavras, sustenta- do no paradigma do Estado Democrático Constitucional (compromissório R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 201624 e dirigente), o direito, para não ser solapado pela economia, pela política e pela moral (para ficar nessas três dimensões), adquire uma autonomia que, antes de tudo, funciona como uma blindagem contra as próprias dimensões que o engendra(ra)m. (STRECK, 2010, p. 163) Nesse sentido, a herança deixada pela despreocupação de Kelsen, à época, com a problemática da decisão judicial, deixou marcas profundas a respeito da construção da teoria do Direito e nas próprias práticas judiciárias contemporâneas. Ainda que Kelsen não tenha vivido e presenciado essa nova formulação jurídica a partir do paradigma constitucional, a característica dicotômica entre os níveis da ciência e da política jurídica permaneceu intacta, conservando a discricionariedade judicial na atividade judicial até a atualidade. Seguindo a proposta do neopositivismo lógico quanto à dura dicotomia entre a esfera dos fatos em relação ao âmbito dos valores, a alternativa encontrada pelo mestre de Viena para a elaboração de uma teoria jurídica desagregada de outros campos teóricos como a moral e a ética foi a de separar a tarefa do cientista do Direito da atividade prático-judiciária dos juízes e tribunais. Por essa razão é que em Kelsen a ciência do Direito não pode produzir enunciados normativos, mas apenas proposições descritivas por meio de um ato de conhecimento a respeito dos textos jurídicos, delimitando-se, assim, à esfera factual. Em contrapartida, os enunciados normativos que prescrevem as condutas humanas – que para Carnap, por exemplo, constituíam-se de pseudoproblemas filosóficos e não deveriam fazer parte do discurso científico – em Kelsen são tratados no plano das práticas judiciárias por meio de um ato de vontade, em que o encarregado da aplicação do Direito (magistrado ou detentor de um cargo decisório competente na esfera administrativa) detém um poder interpretativo irrestrito, uma vez que a própria moldura semântica da legislação pode ser desrespeitada pelo intérprete- aplicador. Assim, a tradição discricionária kelseniana pode ser verificada, como exemplo ilustrativo dessa questão, nos acórdãos dos Agravos de Instrumento nºs 252.347 (BRASIL, 1999) e 218.668 (BRASIL, 1998) do Supremo Tribunal Federal, em que o Ministro Marco Aurélio Mello refere que “[...] Toda e qualquer interpretação consubstancia ato de vontade, devendo o intérprete considerar o objetivo da norma” e que “[...] a respeito da interpretação dada a textos de lei, observe-se que tal atividade revela sempre um ato de vontade, possuindo uma carga construtiva muito grande”. Desse modo, tendo em vista a marca discricionária da decisão judicial na teoria de Hans Kelsen, é possível identificar que o pensamento juspositivista não pode ser vinculado unicamente como um segmento teórico que restringe o âmbito interpretativo do julgador. Pelo contrário: o positivismo de Kelsen tem como aspecto fundamental justamente a possibilidade de maleabilidade decisória do intérprete, uma vez que o aplicador produz normas jurídicas segundo um ato de vontade. LENIO LUIZ STRECK, RAFAEL GIORGIO DALLA BARBA, CLARISSA TASSINARI R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 2016 25 AS RAÍZES FILOSÓFICAS DO PENSAMENTO DE HANS KELSEN E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O DIREITO No que concerne à questão da interpretação e aplicação do Direito, o pensa- mento juspositivista pode ser identificado, no mínimo, abarcando duas posiçõesdiametralmente distintas, uma vez que o positivismo jurídico desenvolvido no transcorrer do século XIX apresentava características marcantes de rigidez e restrição interpretativa, sendo denominado por Castanheira Neves de positivismo legalista. A esse respeito, tem-se como inadequada a ideia reducionista de que a interpretação do Direito para o positivismo jurídico seria uma atividade meramente literal e limitada da lei, pois mesmo que esta concepção esteja presente na sua versão desenvolvida no séc. XIX, a partir das influências neopositivistas de Kelsen verifica-se o notório reconhecimento do elemento subjetivo na interpretação do Direito (CASTANHEIRA NEVES, 1995, p. 109). A partir do que foi abordado, pode-se concluir pela grande influência que o neopositivismo lógico teve na elaboração da proposta kelseneana. Para além disso, foi possível observar seus impactos para a Teoria do Direito contemporânea, especialmente considerando a ampla aceitação de Kelsen, cuja teoria influenciou maciçamente a formação do pensamento jurídico do último século. Kelsen, com seu pensamento influenciado pelo movimento filosófico que ficou conhecido como Círculo de Viena, a partir de seu esforço na construção de uma ciência do Direito, provocou o florescimento de uma preocupação restrita a um aspecto de coerência lógica do sistema jurídico. É por isso que se pode dizer que um dos impactos de sua proposta teórica foi a criação de um abismo entre ser e dever- ser, na medida em que a decisão judicial em seu âmbito prático e concreto foi deixada a um nível secundário na hierarquia de preocupações kelseneanas (considerando o desenvolvimento do capítulo oitavo de sua obra mestra). Ao trazer uma análise que demonstra as raízes filosóficas da construção da Teoria Pura do Direito, o que se pretende deixar evidente, por um lado, é como o modo de conceber o papel da filosofia é determinante na elaboração de uma teoria de fundamento para o Direito (e o positivismo normativista de Kelsen é um exemplo disso). Por outro, com esse tipo de abordagem também resta claro o quão importante é perceber as influências de paradigmas filosóficos para compreender adequadamente o posicionamento de determinado autor, para não corrermos o risco de entender, no caso de Kelsen, a “pureza” de sua teoria como se estivesse deslocada para o nível prático, o que nos levaria a confundir a posição de Kelsen com o positivismo clássico, o que seria um equívoco. Em outras palavras: o estudo revela, ao mesmo tempo, que foi o neopositivismo lógico que possibilitou a fundamentação da tese de criação de uma Ciência do Direito “pura” (ou seja, a distinção entre ciência do Direito e Política Jurídica); e que o não conhecimento desse enraizamento filosófico do autor foi justamente o que conduziu aos equívocos de interpretação de sua proposta teórica. R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 201626 Em outro standard de racionalidade, a Crítica Hermenêutica do Direito (CHD), fundada sob os pilares da filosofia hermenêutica (Martin Heidegger), da hermenêutica filosófica (Hans-Georg Gadamer) e do Direito como Integridade (Ronald Dworkin), rompe com o positivismo jurídico normativista sob diversas perspectivas. Uma delas – que nesse momento é a que mais interessa – diz respeito ao modo como dialoga com o universo filosófico. De início, deve ser mencionado que a CHD não visualiza o elo entre Filosofia e Direito apenas como a necessidade de se apontar um alinhamento teórico de determinada postura teórica, o que se correria o risco de trabalhar a relação entre essas duas dimensões de forma ornamental (STEIN, 2004, p. 135-157). Com Stein, conceber a Filosofia como standard de racionalidade significa visualizar que o pensamento de determinado autor, ainda que não mencione nenhum elemento filosófico, está inserido em um projeto mais abrangente, marcado por aquilo que Heidegger chamou de princípios epocais. (STEIN, 2008, p. 74). Assim, sob a perspectiva filosófica de um mundo constituído intersubjetivamente, sob a orientação da Fenomenologia Hermenêutica, a CHD traz como base de sua proposta o que considera como elemento fundamental na construção de qualquer Teoria do Direito: a faticidade. A partir desse pano de fundo fundamental, o núcleo, aquilo que dá sustento à proposta kelseniana é atingido em cheio. O Direito não é mais pensado desde um lugar externo daquele onde o ser humano inevitavelmente se encontra, o mundo da vida. A partir das descobertas da Fenomenologia Hermenêutica, a separação entre os dois níveis que marcam o pensamento positivista é solapada pela concretude da faticidade e da historicidade em que se enraíza a possibilidade do acontecer os sentidos do Direito. (STRECK, 2012, p. 45 e segs.). São Leopoldo, 13 de maio de 2016. Las raíces filosóficas del pensamiento de Hans Kelsen y sus consecuencias para el Derecho Resumen: El proposito de este paper es abordar los principales rasgos de la corriente del neopositivismo lógico que influenciaron a la elaboración de la Teoría pura del Derecho de Hans Kelsen, más específicamente a lo que concierne al problema de la interpretación del derecho, y demostrar sus impactos. En una perspectiva de análisis del pensamiento juspositivista, este texto demuestra los orígenes de la cuestión de la interpretación de los textos jurídicos en el interior del sistema jurídico tal como lo es en Kelsen. El método de abordaje se apoya en una perspectiva hermenéutico-fenomenológica, entendida como una reconstrucción del fenómeno para que puedan ser desvelados elementos no problematizados anteriormente. Aún que de manera parcial, los resultados conquistados indican que las influencias del neopositivismo lógico fueran determinantes en el pensamiento de Kelsen al elaborar su ciencia jurídica, manteniendo la característica de la discrecionalidad en su modelo teórico. Palabras clave: Discrecionalidad judicial. Hans Kelsen. Positivismo lógico. LENIO LUIZ STRECK, RAFAEL GIORGIO DALLA BARBA, CLARISSA TASSINARI R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 14, n. 20, p. 15-28, jul./dez. 2016 27 AS RAÍZES FILOSÓFICAS DO PENSAMENTO DE HANS KELSEN E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O DIREITO The roots of Hans Kelsen philosophical’s thought and its consequences for Law Abstract: The propose of the paper is to approach the main features of the logical positivism movement that influenced the elaboration of the Pure Theory of Law by Hans Kelsen, most specifically on what deals with the problem of legal interpretation, and demonstrate its impacts. On a perspective of analysis of legal positivist though, the paper shows the origins of interpretations of legal texts in legal system as it is constructed by Kelsen. The method of approach is concerned to hermeneutical and phenomenological approach, understood as a reconstruction of phenomenon for can be showed elements that were not questioned. Although in a partial way, the results achieved indicate that the influences of logical positivism were determinant on Kelsen’s project to elaborate his Law’s science, level that produces only legal propositions, preserving the interpretative discretion on its theoretical model. Keywords: Hans Kelsen. Judicial discretion. Logical positivism. Referências BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo de Instrumento nº 107.215/MG. Agravante: Transportadora Zé Caboclo Ltda. Agravada: Arlete Alves de Oliveira. Relator: Min. Marco Aurélio, 04 de novembro de 1999. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%2 8AI%24%2ESCLA%2E+E+252347%2ENUME%2E%29+NAO+S%2EPRES%2E&base=baseMonocratica s&url=http://tinyurl.com/owlbn36>. Acesso em: 17 mar. 2015. BRASIL.Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 218.668/MG. Agravante: Comércio e Indústria Refiate Ltda. Agravado: Maria José da Silva. Relator: Min. Marco Aurélio, 14 de dezembro de 1998. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/ listarJurisprudencia.asp?s1=%28AI%24%2ESCLA%2E+E+218668%2ENUME%2E%29+OU+%28AI%2E ACMS%2E+ADJ2+218668%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/cexleqg>. Acesso em: 17 mar. 2015. CARNAP, Rudolf. Pseudoproblemas na Filosofia. In: MARICONDA, P. R.; SCHILICK, Moritz; CARNAP, Rudolf (Orgs.). Coletânea de Textos. Tradução de L. J. Barauna e P. R. Mariconda. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Coleção Os Pensadores). CASTANHEIRA NEVES, António. Escola da Exegese. In: CASTANHEIRA NEVES, António. Digesta: escritos acerca do direito, do pensamento jurídico, da sua metodologia e outros. Vol. 2. Coimbra: Coimbra, 1995. KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução de João Baptista Machado. 8. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta Linguístico-pragmática na Filosofia Contemporânea. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006. ROCHA, Leonel Severo. 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