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DIREITO CIVIL I - CADERNO MAURÍCIO REQUIÃO - PROVA 1

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Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
 
Direito Público x Direito Privado 
Para o estudo do Direito Civil, é importante diferenciar o Direito Público 
do Direito Privado. Em cada um desses ramos, encontra-se um conjunto de 
regras e princípios específicos. 
No Direito Privado, dentro dos limites da lei, pode-se agir como quiser, 
dentro da esfera de individualidade. Por exemplo: comprar um notebook sem 
critério algum. Isso demonstra uma autonomia, ninguém precisa saber se o 
indivíduo comprou um computador caro ou barato, bom ou ruim, nem mesmo 
que comprou um computador. Nesse cenário, é possível concluir que o Direito 
Privado cuida das relações jurídicas entre os particulares entre si ou entre os 
particulares e o Poder Público, quando estes não estiverem atuando no 
exercício de suas funções de Poder Estatal. Aqui, portanto, há o predomínio do 
interesse individualizado, do titular. 
Por seu turno, no Direito Público, o exemplo do computador já não se 
aplica. Para comprar um computador para um órgão público, com dinheiro 
público, é preciso seguir um procedimento que abrange alguns critérios, ou 
seja, precisa estar dentro da legalidade. Aqui não se pode fazer escolhas 
segundo sua autonomia. Os atos têm uma publicidade, todo mundo tem o 
direito de ter conhecimento sobre a necessidade do governo de comprar um 
computador. Nesse contexto, é possível concluir que o Direito Público regula 
relações jurídicas concernentes à organização e atividade do Estado e de seus 
agregados políticos, bem como as relações jurídicas travadas entre os 
cidadãos e essas organizações políticas, ou seja, o Direito Público cuida dos 
interesses diretos ou indiretos do Poder Público. Aqui, portanto, há predomínio 
do interesse geral. 
Nesse cenário, há uma discussão sobre afirmar que há uma dicotomia 
entre o Direito Público e o Direito Privado. Dizer que há uma dicotomia entre 
eles é afirmar que esses dois conjuntos são mutuamente excludentes, não 
havendo nenhum ponto de convergência entre eles. A prova de que não há 
essa dicotomia é que os critérios de distinção às vezes apresentam falhas. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
Além disso, não se trabalha com ideia de interseção entre os conjuntos, por 
não haver dois conjuntos totalmente distintos, mas a figura do grau de 
polarização. Portanto, se pensa na figura de uma elipse que, em cada pólo, 
estão o Direito Público e o Direito Privado, os quais os outros ramos do direito 
estariam mais polarizados para um lado ou para o outro. Exemplo: 
 
 
Dir. Dir. Priv. 
Púb. 
 
 
 
 
 
Dentro do Direito Privado, o Direito Civil é o mais importante, pois é o 
ramo mais ordinário e, portanto, menos especial. Nesse cenário, ele traz a 
base para todas as outras especializações. Assim, boa parte do que se discute 
em Direito do Trabalho, Direito do Consumidor, etc., são contratos. Ou seja, o 
Direito Civil regula o dia-a-dia da nossa vida. 
Evolução Histórica do Direito Civil 
- Roma Antiga 
- Idade Média 
- Código de Napoleão 
- Direito Português 
- BGB 
O berço do direito privado é o direito romano. Ainda hoje são utilizadas 
expressões em latim, como prova disso. Foi em Roma que começou a ter um 
sistema jurídico mais organizado. Vale lembrar que boa parte do Direito Civil 
tem sua origem no Direito Canônico. 
Um dos marcos mais importantes para o direito civil é o Código de 
Napoleão (1804). Vivia-se aí o período do iluminismo, época tal marcada pelo 
Dir. Penal Dir. Const. Dir. Civil 
Dir. Adm. Dir. Emp. 
Dir. Proc. Dir. Cons. 
 Dir. Trab. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
antropocentrismo e racionalismo. Nesse contexto, o Código de Napoleão 
inaugura a ideia moderna de código. É a partir daí que todos os países 
começam a fazer os seus códigos. Vale lembrar que o Código de Napoleão, 
em termos ideológicos, foi pensado para a burguesia e o código francês de 
hoje é o Código de Napoleão, claro, reformado. 
O BGB foi o código alemão de 1900, o qual já trazia a parte geral e 
especial que temos em nosso código. Como bem disse Otavio Luiz Rodrigues 
Junior, “esse código é o símbolo mais reluzente desse processo de influência 
da cultura jurídica germânica no Brasil.” E, ainda, “o Direito Civil alemão exerce 
influência no Direito Civil brasileiro desde os tempos coloniais. O BGB é o 
núcleo dessa influência. Os artigos do BGB e as teorias desenvolvidas pelos 
juristas alemães são a base para diversos institutos do Direito Civil brasileiro.” 
Notas iniciais à leitura do novo Código Civil 
Para se iniciar, é importante dizer que o atual diploma não pode ser 
estudado de forma isolada, despregando-se de elementos que permeiam a sua 
própria existência. Nesse sentido, a aferição do êxito legislativo do Código Civil 
de 2002 exige reflexão que extrapola a superficial leitura do texto oficial. Daí a 
importância de se fazer uma abordagem filosófica, sendo precioso 
compreender as mutações da sociedade. Tanto é importante, que no século 
XX, o positivismo filosófico era a ideologia predominante e, portanto, 
influenciou diretamente o Código Civil de 1916, com conceitos fechados e 
dogmáticos. Adiante, após a Segunda Guerra Mundial, surgiu o pós-
positivismo, fazendo com que o antigo código civil se postasse desatualizado e 
incoerente com as novas relações sociais. Dessa forma, os motivos que 
ensejam os códigos de 1916 e 2002 são bem distintos, assim, não é possível o 
comparativo analítico dos diplomas sem a observância das raízes políticas que 
dão ensejo aos mesmos. 
Código Comercial (primeira codificação nacional privada) 
Surge, em 1850, o Código Comercial, sendo a primeira e genuína 
codificação privada, precedendo o Código Civil por conta das exportações 
realizadas no meio marítimo. Assim, serviu de credencial de segurança para os 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
ingleses que dominavam o comércio internacional. Portanto, o Código 
Comercial emergiu a partir de interesses econômicos. 
Nesse contexto, este código apresentava segurança ao comércio em 
geral, mas havia situações em âmbito residual das relações privadas que não 
eram ditas pelo código, aplicando, portanto, as Ordenações Filiipinas. Por 
conta disso, foi contratado Teixeira de Freitas, que tinha por objetivo reunir de 
forma sistemática as normas vigentes, permitindo excluir do ordenamento 
jurídico regras não mais aplicáveis. Com o seu trabalho, o ambiente de 
insegurança foi resolvido, criando-se nova era na aplicação do Direito Civil, 
com a Consolidação das Leis Civis, excluindo várias leis temporárias e 
incompatíveis com o ordenamento jurídico. Vale lembrar que a CLC não criou 
um novo ordenamento jurídico e, portanto, as Ordenações Filipinas 
continuavam em vigor. 
A Consolidação das Leis Civis era dividida em Parte Geral, que cuidava 
das pessoas e coisas e da Parte Específica, que cuidava dos Direitos Pessoais 
(relações contratuais, relações pessoais inerentes à família) e dos Direitos 
Reais (matéria de sucessões). 
Esboço de Teixeira de Freitas 
Com o sucesso da CLC, Freitas foi chamado para a elaboração do 
primeiro Código Civil, que deveria regulamentar questões afetas à realidade 
social brasileira, já que a CLC foi fortemente influenciado por legislações 
estrangeiras. Assim,o Código deveria refletir, regulando com precisão, as 
necessidades emergentes das relações socioeconômicas da nação. Nesse 
sentido, Teixeira de Freitas analisou que o Código deveria ter uma parte geral, 
aplicado a todos os ramos, e uma parte privada, aplicada ao Direito Civil e 
Comercial. Vale lembrar que ele foi influenciado pela doutrina alemã, rejeitando 
a francesa. Contudo, Freitas atrasou o prazo e foi impedido de finalizar seu 
contrato com êxito. Porém, o que já havia sido feito na sua renomada obra foi 
palco de estudo para cientistas do direito por todo o mundo, como, por 
exemplo, no Código Civil italiano de 1942, onde se pode perceber a ideia da 
unificação do direito privado. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
Dado o atraso do prazo e a impaciência da conclusão do novo código, 
Clóvis Beviláqua foi contatado para fazer o projeto e, após algumas tentativas 
frustradas, finalmente seu projeto foi aceito e o Código Civil foi publicado em 
1916, vigorado em 1917. Com isso, as Ordenações Filipinas caíram por terra, 
finalmente. Vale lembrar que Beviláqua teve influência das experiências 
ocorridas na Europa, tendo ele conciliado as ideias liberais da codificação 
francesa com a estrutura orgânica do BGB. No entanto, as raízes e os vínculos 
sociais da época também estão presentes no Código Civil de 1916. 
 Embora influenciado pelos ideias liberais da França, o Código 
apresenta caráter ortodoxo, como forma de manter uma postura 
conservadora. 
 O CC/16 enfrentava paradoxos, na medida em que foi 
influenciado por civilizações ditas mais modernas que o Brasil. 
Nesse cenário, o código abarcava as pretensões da classe 
dominante, mantendo o modelo socioeconômico, atendendo 
integralmente a seus anseios. 
 O CC/16 foi criado com olhos para o passado, perdendo, 
portanto, espaço após a Primeira Grande Guerra, com a alteração 
do quadro socioeconômico do país. Com isso, a postura adotada 
pelo legislador foi a da edição de leis especiais. 
Códigos e codificação 
Código é um conjunto sistemático e unitário de normas jurídicas que 
enfeixam a disciplina fundamental de um determinado ramo do direito. Sob 
esse prisma, nenhum dos códigos antigos, como o Código de Hamurabi ou o 
Corpus Juris Civilis podem ser designados como um código, pois estes tratam 
sobre diversas disciplinas, enquanto o código moderno regula unitariamente 
um ramo do direito. Nesse sentido, quando se fala em conjunto unitário, está se 
referindo ao fato de todas as normas que o compõe possuírem um elo entre si. 
Portanto, os dispositivos de um código não podem ser aplicados isoladamente, 
senão em conjunto com todo o ordenamento, na medida em que cada artigo de 
um código precisa estar em conformidade com os limites estabelecidos pelo 
sistema a que pertence. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
 O primeiro código que atendeu a essas especificações foi o 
Código de Napoleão de 1804. 
O código na teoria das fontes 
A doutrina costuma estudar as fontes do direito sob uma acepção formal 
e uma acepção material. 
Formal: lei, jurisprudência, doutrina, costumes e negócios jurídicos. 
Material: fatores éticos, sociológicos, políticos, econômicos e religiosos. 
Contudo, esse aspecto é objeto de discussão entre autores. 
Para Reale, essa distinção tem sido fonte de grandes equívocos nos 
domínios da Ciência Jurídica, na medida em que “fonte do direito” indica 
apenas os processos de produção das normas jurídicas. Assim, para Reale, as 
fontes do direito seriam apenas quatro: o processo legislativo, a jurisdição, os 
usos e costumes jurídicos e a fonte negocial. 
Por sua vez, para Bobbio, as fontes do direito são aqueles fatos ou atos 
aos quais um determinado ordenamento jurídico atribui a competência ou a 
capacidade de produzir normas jurídicas. 
Para José de Oliveira Ascensão, não existe distinção entre um código e 
qualquer outra lei isolada, no que diz respeito ao quadro das fontes do direito. 
Portanto, antes de mais, o código é uma lei e, por isso, situados no mesmo 
plano hierárquico. Ainda assim, a distinção leva em conta o conteúdo, a 
importância e o papel a ser desempenhado dentro do ordenamento jurídico. 
Além disso, os códigos possuem um simbolismo muito forte que os destaca no 
quadro das fontes. 
*Os códigos podem ser leis ordinárias, como é o caso do Código Civil, 
leis complementares (código tributário nacional) ou decretos com força de lei 
(código penal). 
Condensação, codificação, estatuto, consolidação e compilação: 
distinções fundamentais 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
Condensação: é o gênero do qual as demais são espécies. 
Codificação, consolidação e compilação são processos por meio dos quais se 
realiza a condensação. Nesse sentido, os três processos se diferenciam da 
condensação pelo conteúdo e estrutura. 
Compilação: é o processo mais simples. Consiste na junção de diversos 
textos legais em um único volume, adotando-se um determinado critério eleito 
pelo compilador. Na maioria dos casos esse critério é cronológico. Na 
compilação não existe o caráter de oficialidade, podendo ser elaborada pela 
iniciativa de qualquer um. Por fim, pode ter por objeto não apenas leis, mas 
também costumes e jurisprudência. 
Consolidação: é o agrupamento de forma sistemática, em uma única lei 
ou decreto, considerando apenas as normas jurídicas em vigor sobre uma 
determinada disciplina jurídica, pois não se consolidam normas revogadas. 
Dessa forma, o resultado é sempre uma nova norma jurídica. O principal 
objetivo da consolidação é extirpar do ordenamento as normas revogadas. 
Codificação: é a principal distinção entre os processos de condensação. 
É a possibilidade de criação de um direito novo. 
Estatutos: estes não se inserem entre os processos de condensação. 
Nesse sentido, são textos legais bastante semelhantes aos códigos, 
procurando disciplinar, de modo completo, determinada ordem de relações 
jurídicas. Implicam, portanto, na criação de um direito novo. Por exemplo: 
Código de Defesa do Consumidor, erradamente designado como código, pois 
abrange conteúdos de diversos ramos do direito e não tramitou no parlamento 
como “projeto de código”. 
O processo de codificação 
É o processo legislativo de sistematização do direito. Foi o iluminismo 
inglês que mais contribuiu para a formulação da teoria da codificação, pela 
participação ativa de Jeremy Bentham, o qual pregava a doutrina do 
utilitarismo, ou seja, utilidade dos resultados. Dizia ele que a meta de qualquer 
ordenamento jurídico é a busca da maior felicidade, o que significava dizer que, 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
se fosse necessário, a felicidade (e os direitos) de alguns poderia ser 
sacrificada em favor da maioria. Essa teoria recebeu severas críticas, na 
medida em que servia, inclusive, para legitimar práticas como a escravidão. É a 
precedência do bem-estar geral sobre o bem-estar do indivíduo. Para isso, 
Bentham entendia imprescindível a codificação das leis, criticando o sistema de 
common Law. Nesse cenário, Betham defendia uma codificação completa, que 
deveria sistematizar toda a matéria jurídica em três partes: civil, penal e 
constitucional. 
Por esse raciocínio, as leis escritas seriam as leis das nações civilizadas 
e as leis consuetudinárias seriam as leis das nações selvagens, que não 
escrevem nem falam. Assim, sua teoria influenciou grande parte da Europa, 
mas não a Inglaterra, pois esta já havia a sua lei nacional, a Magna Carta, e 
não carecia de um código. 
Nascimento de um código 
O surgimentode um código é determinado pela necessidade social de 
segurança jurídica e forte vontade política de codificar. Por esse último motivo 
que se explica a maior facilidade de se codificar em épocas de regimes 
autoritários, pois sem uma forte, decidida e impulsionadora vontade política, 
ainda que haja pressão social, um código não nasce. 
Vantagens e desvantagens da codificação 
Desvantagens: congelamento do direito, na medida em que apresenta 
um caráter rígido, implicando na dificuldade de alteração, construindo 
obstáculos à evolução da ordem jurídica. 
Vantagens: entretanto, essa rigidez traz vantagens, pois a 
fragmentação da ordem jurídica por meio da edição sucessiva de uma gama de 
leis esparsas só serve para agravar as contradições internas do sistema. Além 
disso, o código permite um conhecimento fácil do direito, atuando como um 
manual do direito. 
A pessoa natural 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
A pessoa natural é o ser humano com vida, ente dotado de estrutura 
biopsicológica. Toda pessoa natural é dotada de personalidade jurídica. Assim, 
qualquer pessoa humana pode ser titular de direitos e obrigações, porém nem 
toda pessoa praticará os atos da vida civil pessoalmente, apenas os de plena 
capacidade. 
Vale lembrar que mesmo que seja embrião fertilizado em laboratório, 
uma vez implantado no útero, passa à condição de nascituro, dispondo de 
proteção jurídica. 
Nesse contexto, o CC/02 dispõe que se inicia a personalidade da pessoa 
natural com o nascimento com vida, embora haja os direitos do nascituro. 
Nascituro é aquele indivíduo que já está concebido no ventre materno, mas 
ainda não nasceu. Não se pode confundir com concepturo, que é o filho que 
alguém ainda vai conceber. Nesse contexto, o registro do nascimento em 
cartório tem cunho meramente administrativo, já que a pessoa natural adquire 
personalidade jurídica no momento do seu nascimento. 
Contudo, debates são travados, não havendo harmonia, sobre a 
natureza jurídica do nascituro. Três teorias foram arquitetadas: 
Teoria natalista: aqui, o nascituro não é e não pode ser dotado de 
personalidade jurídica, pois a personalidade civil só é adquirida com o 
nascimento com vida. Essa teoria não reconhece, portanto, os direitos do 
nascituro. 
Teoria condicionalista: aqui, o nascituro é uma pessoa virtual, 
condicional, estando a sua personalidade submetida ao eventual nascimento 
com vida. Dessa forma, o nascituro teria uma personalidade jurídica 
condicional, por conta da condição pendente à sua personalidade: o 
nascimento. 
Teoria concepcionista: aqui, o nascituro possui personalidade jurídica, 
sendo ela adquirida a partir do momento da concepção. Assim, reconhece a 
personalidade jurídica do nascituro, conferindo-lhe personalidade concreta e 
não condicionada ao seu nascimento com vida. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
 Os direitos de natureza patrimonial, como doação, herança 
e legado, somente serão adquiridos pelo nascituro com o 
nascimento com vida. 
 A proteção que o CC/02 defere ao nascituro alcança o 
natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, 
tais como nome, imagem e sepultura. 
 O embrião laboratorial não dispõe de proteção dada ao 
nascituro. Portanto, não são aplicáveis aos embriões in 
vitro os direitos da personalidade. Essa decisão está sob a 
justificativa de que o concebido não é nascituro enquanto 
não for introduzido no útero feminino e, portanto, a sua 
destruição não se enquadra no crime de aborto. 
A capacidade civil 
A capacidade civil envolve a aptidão para adquirir direitos e assumir 
deveres pessoalmente. Dessa forma, as relações jurídicas podem se 
realizadas pessoalmente pelas pessoas plenamente capazes ou por intermédio 
de terceiros (representante ou assistente) pelos incapazes. 
Há duas capacidades: 
Capacidade de direito (de aquisição o de gozo): é reconhecida 
indistintamente a toda e qualquer titular de personalidade, seja pessoa natural 
ou jurídica. 
Capacidade de fato (de exercício): é a aptidão para praticar 
pessoalmente, e por si mesmo, os atos da vida civil. 
A capacidade de fato presume a capacidade de direito, mas a recíproca 
não é verdadeira. Dessa forma, a capacidade jurídica plena é reconhecida a 
quem dispõe das duas capacidades. 
 
 
Capacidade de fato 
Capacidade de direito 
Capacidade plena 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Voltando às capacidades de direito e de fato, concluímos que a 
capacidade de direito é inerente necessariamente a toda pessoa, qualquer que 
seja a sua idade ou estado de saúde. Por seu turno, a capacidade de fato pode 
sofrer limitações oriundas da idade e estado de saúde. É a partir daí que surge 
a teoria das incapacidades, a qual só poderá incidir sobre a capacidade de fato, 
jamais sobre a capacidade de direito. 
A teoria das incapacidades 
Incapacidade é o reconhecimento da inexistência, numa pessoa, 
daqueles requisitos que a lei acha indispensáveis para que ela exerça os seus 
direitos. 
 A rudeza, o analfabetismo e o encarceramento prisional, 
ainda que sirvam para uma diminuição da perfeita 
compreensão de determinados atos da vida, não 
Distinção entre capacidade jurídica e 
legitimação 
Possibilidade 
genérica de praticar 
atos jurídicos 
pessoalmente. 
Inibição para a 
prática de determinados 
atos jurídicos em virtude 
da posição especial do 
sujeito em relação a 
certos bens, pessoas ou 
interesses. 
Ainda que capacitada plenamente, a pessoa poderá não estar habilitada para a prática de 
determinados atos da vida civil, para os quais as normas jurídicas estabeleçam requisitos 
específicos. Por exemplo: anulabilidade da venda de imóvel entre ascendente e descendente, sem 
o expresso consentimento de todos os demais herdeiros. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
influenciam o reconhecimento de uma incapacidade 
jurídica. 
 As pessoas com deficiência física dispõem dos mesmos 
direitos e garantias fundamentais que qualquer outra 
pessoa, inexistindo qualquer motivo plausível para negar-
lhes ou restringir-lhes a capacidade. 
Para a teoria das incapacidades surgem duas espécies: os 
absolutamente incapazes e os relativamente incapazes. 
Absolutamente incapazes: não possuem qualquer capacidade de agir, 
sendo irrelevante, do ponto de vista jurídico, a sua manifestação de vontade. 
Por isso, precisam estar representados (representante legal) por terceira 
pessoa. Nesse sentido, o representante legal praticará os atos da vida civil em 
nome do representado. Assim a prática de um ato por um absolutamente 
incapaz sem a representação será nulo. O artigo 3º do CC/02 afirma que “são 
absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os 
menores de 16 anos”. 
Relativamente incapazes: o sistema jurídico não ignora a sua vontade, 
desde que seja assistida, na forma da legislação pertinente. O art. 4º afirma 
que são relativamente incapazes “os maiores de 16 e menores de 18 anos; os 
ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental, 
tenham o discernimento reduzido; os excepcionais, sem desenvolvimento 
mental completo; os pródigos” e, em seu parágrafo único, “a capacidade dos 
índios será regulada por legislação especial”. 
O reconhecimento das incapacidades e a ação deinterdição 
A interdição somente é justificada em nome das próprias necessidades 
do interditando e essas necessidades devem ser compreendidas em função 
dos seus interesses. Por isso não é possível considerar para a interdição a 
pura e simples existência de patologia mental. Somente com base nisso que o 
juiz pode reconhecer a incapacidade de uma pessoa, nomeando-lhe um 
curador. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
Levantamento de interdição 
Caberá a qualquer interessado, através de advogado ou de Defensor 
Público, ou ao Ministério Público promover o pedido de levantamento da 
interdição, dirigido ao mesmo juízo que reconheceu a incapacidade 
anteriormente. Para isso, é necessária a realização de perícia médica, 
consistente em exame de sanidade no interditado para aferir a cessação ou 
não da interdição. 
A validade dos atos praticados pelo incapaz antes da interdição 
A sentença de procedência do pedido de interdição produz efeitos não 
retroativos. Com isso, os atos praticados pelo incapaz antes da sentença são 
válidos. Entretanto, pelo princípio da boa-fé, somente será reputado inválido o 
negócio celebrado pelo incapaz “se era notório o estado de loucura, isto é, de 
conhecimento público geral”, ou se lhe causa prejuízo. 
A cessação da incapacidade e a emancipação 
A cessação da incapacidade ocorre, em regra, com o fim da causa que 
lhe determinou ou com a aquisição da maioridade civil. A partir daí, o sujeito 
alcança a plena capacidade jurídica. 
Contudo, apesar de cessar a incapacidade da pessoa aos dezoito anos 
de idade, ela não perderá a qualidade de dependente para fins previdenciários, 
o qual só ganhará essa independência aos 21 anos de idade. 
O art. 5º da Lei Civil prevê a antecipação da maioridade civil, ou seja, a 
emancipação. Esta consiste na antecipação dos efeitos da maioridade civil 
para pessoa que ainda não atingiram os 18 anos, cessando, por conta disso, a 
sua incapacidade de fato, dando aptidão para a prática dos atos da vida civil, 
sem a necessidade de assistência ou representação. 
Há três tipos de emancipação: 
Emancipação voluntária: é outorgada pelos pais, ou na falta de um 
deles, pelo outro, através de escritura pública, registrada no Cartório do 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
Registro Civil. Havendo conflito entre os pais, caberá ao juiz decidir se concede 
ou não a emancipação. Contudo, o juiz não poderá emancipar o menor contra 
a vontade dos dois genitores, pois isso implica na prática da destituição do 
poder familiar. Por isso, o juiz só decide se houver a falta de ambos os pais, ou 
conflito entre eles. É importante salientar que a emancipação voluntária sempre 
será irrevogável e irretratável e somente concedida a menores com, pelo 
menos, 16 anos. 
Emancipação tácita ou legal: é concretizada quando o menor, com 
pelo menos 16 anos, vem a praticar determinado ato reputado incompatível 
com a sua condição de incapaz. Por exemplo: 
 Casamento; 
 O estabelecimento civil ou comercial ou a existência de 
relação de emprego, desde que o menor adquira economia 
própria; 
 Exercício de emprego público efetivo (hoje em dia é quase 
impossível, pois os concursos públicos exigem 18 anos 
para a inscrição); 
 Colação de grau do ensino superior. 
Emancipação judicial: ocorre quando o menor emancipado está sob 
tutela, onde o tutor não dispõe de prerrogativa para a emancipação, ou na falta 
dos pais, ou em conflito entre eles. 
*Há a possibilidade do menor de 16 casar (e, portanto, ser emancipado) 
em caso de gravidez. 
Os direitos da personalidade 
Os direitos da personalidade constituem construção jurídica 
relativamente recente, fruto do cuidado da doutrina germânica e francesa, 
especialmente pós Segunda Guerra Mundial. 
Breve espaço histórico 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
Romanos e gregos não estruturaram uma categoria jurídica específica 
para tutelar a personalidade. Os primeiros tinham a ação contra a injúria, 
enquanto os segundos puniam quem violava um interesse físico ou moral. 
Com o cristianismo e a pregação de uma fraternidade universal, tem 
início um despertar para a proteção da personalidade humana. 
A Carta Magna inglesa, de 1215, e a Declaração dos Direitos do 
Homem, de 1789, valorizaram a tutela da personalidade humana. Contudo, 
apenas no pós-Segunda Guerra Mundial que sentiu-se a necessidade de 
proteção de uma categoria básica de direitos humanos. Assim, em 1948 foi 
promulgada a Declaração Universal de Direitos do Homem. 
Direito ao próprio corpo 
O caput do art. 5º da Constituição prever o direito ao próprio corpo na 
expressão “segurança”. Nele, garante-se, também, às pessoas o direito à vida, 
à liberdade, à igualdade, à propriedade, além do direito à segurança. 
O CC/02 disciplina o direito ao corpo em três artigos: 13, 14 e 15. Por 
questões metodológicas, divide-se o direito ao corpo em seis aspectos: direito 
à doação de órgãos, direito ao embelezamento, direito à mudança de sexo, 
direito à integridade física, direito à autolesão e direito ao corpo e reprodução 
humana. 
Art. 13: proíbe o ato de disposição do próprio corpo que importar a 
diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes, 
salvo se o ato ocorrer de exigência médica. 
Art. 14: permite a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em 
partes, para depois da morte se tiver objetivo científico ou altruístico, podendo 
o ato de disposição ser revogado a qualquer tempo. 
Art. 15: dispõe que ninguém pode ser constrangido a submeter-se a 
tratamentos médicos se houver risco de vida. 
Direito à doação de órgãos 
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A realização de negócios jurídicos, em geral gratuitos, tendo por objetos 
parte do corpo é lícita e apta a produzir efeitos na ordem jurídica. Nesse 
contexto, apenas a doação de órgãos e tecidos como rins, medula, fígado e 
outros é realizada mediante procedimentos mais formais, regulamentados por 
lei, estando a atividades como a doação de leite, doação de sangue, compra e 
venda de cabelos submetidos a meros procedimentos informais. Contudo, a 
compra e venda de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano é tipificada 
como crime. 
Autonomia privada, comercialização e patrimonialidade 
O art. 199, §4º, da Constituição Federal, sobre o direito à saúde, veda 
qualquer tipo de comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas. 
Entende-se como comercialização a disposição onerosa de tais objetos. 
Contudo, há doutrinas contrárias a essa lei, como a opinião de Bertrand 
Lemennicier, quando diz que “O direito de propriedade privada sobre nós 
mesmos é um direito, não uma moral”. Ou seja, o autor critica a criminalização 
da comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas, sob o prisma 
de um irrestrito direito ao próprio corpo, “desde que respeite o direito de 
propriedade de outrem sobre seu próprio corpo”. 
Nesse sentido, toda a discussão desenvolvida sobre a disponibilidade 
dos direitos de personalidade tem como pressuposto a consideração de uma 
pessoa que tenha o mínimo patrimonial atendido. Considera-se que a pessoa 
que não goza dessa mínima situação patrimonial deve ser especialmente 
protegida pelo direito, pois essa pessoa age por necessidade e, sendo assim, é 
impossível falar em autonomia. Portanto, a impossibilidade da remuneração 
dos atos de disposição do próprio corpo se dá, principalmente, a dois fatores: 
a) pela solidariedade: a pessoa que opta por dispor de seu próprio corpo 
não pensa em contrapartida material; 
b) pelanecessidade: a disposição do próprio corpo é vista como meio 
para satisfação de necessidades básicas que deveriam ter sido atendidas pela 
materialização do mínimo patrimonial. 
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 A limitação da autonomia do doador quanto ao destinatário na doação 
de órgãos post mortem 
Sob o Decreto n. 2.268/97, a pessoa que doa os órgãos post mortem os 
doa a pessoa não identificada, não cabendo ao doador ou à sua família (em 
caso de morte encefálica do doador) ingerência alguma na escolha do 
receptor/donatário, o que é (deve ser) rigidamente controlado pelo Sistema 
Nacional de Transplante (SNT), por meio da lista única nacional de receptores. 
Há fortes críticas para este decreto, como a de Maria de Fática Freire de 
Sá, ao indagar sobre o direito legal à preferência dos familiares, 
independentemente da lista, sob o prisma de que a titularidade dos órgãos 
doados teriam se transformado em propriedade do Estado, alienando o homem 
de si mesmo. 
O polêmico consentimento presumido da Lei n. 9.434/97 e a violação da 
autonomia sobre o próprio corpo 
A doação de órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas é 
condicionada à autorização do conjugue ou parente, maior de idade, obedecia 
a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau. No caso de a pessoa 
falecida ter sido juridicamente incapaz, a remoção post mortem de seus 
órgãos, tecidos ou partes do corpo deve ter autorização expressa de ambos os 
pais ou de seus responsáveis legais. Quanto às pessoas falecidas não 
identificadas, a lei veda a remoção post mortem de seus órgãos, tecidos ou 
partes do corpo. 
Há, também, fortes críticas sobre essa lei, como bem afirma Maria 
Helena Diniz, ao considerar essa situação uma “estatização do corpo humano” 
e “uma intromissão inconveniente do Estado na vida privada e na liberdade 
individual”. 
Limites da disposição do próprio corpo para fins de doação de órgãos 
A doação de órgãos do corpo humano vivo só é permitida para fins 
terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o 
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quarto grau ou, sendo para qualquer outra pessoa, mediante autorização 
judicial. A exceção é para a doação de medula óssea. 
A impossibilidade de revogação da doação de órgãos 
Quando as partes do corpo de alguém, uma vez separadas, são 
inseridas no corpo de outrem, quando integradas a essa pessoa, deixam de ser 
partes separadas do corpo para compor o novo organismo da pessoa 
receptora, integrando sua personalidade. Assim, os elementos destacados do 
corpo deixam de integrá-lo e, conseqüentemente, de ser objeto dos direitos de 
personalidade do doador. Por isso, o doador ou seus responsáveis legais 
podem desfazer a doação de órgãos, tecidos ou partes do corpo, a qualquer 
momento antes da concretização do implante em terceiro. Como visto, após a 
inserção de tal órgão em outro corpo humano, o doador perde qualquer poder 
sobre aquele bem, passando o órgão ou tecido a se constituir em parte do 
corpo humano do receptor. 
Pelo lado do receptor, embora pareça óbvio, entende-se a saúde e a 
integridade física como um direito e não um dever, portanto ninguém pode ser 
obrigado a receber órgãos de terceiros. 
Direito a se obrigar à disposição do próprio corpo para fins 
profissionais 
Há uma possibilidade de disposição onerosa ou gratuita do próprio corpo 
quando modelos, atores, apresentadores e artistas em geral, por força de 
contrato, obrigam-se a realizar alguma alteração no próprio corpo para fins 
profissionais. Nesse sentido, a obrigação pode ser remunerada 
autonomamente, ou mediante um contrato bilateral ou como condição de um 
contrato, o que não será condição ilícita, uma vez que é considerada 
inconstitucional a limitação do CC quanto à disposição do próprio corpo. 
Contudo, essas obrigações só serão válidas se a finalidade da disposição do 
próprio corpo, objeto de negócio, tiver vínculo direto com a atividade 
profissional exercida ou a exercer. 
Direito à mudança de sexo 
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A autonomia jurídica do transexual e o Código Civil de 2002 
O art. 13 do Código Civil de 2002 parece surgir como obstáculo 
desnecessário às intervenções médicas que visam à mudança física do sexo 
das pessoas. Ora, o artigo fala sobre a proibição da diminuição permanente da 
integridade física ou a contrariação dos bons costumes. Contudo, de que bons 
costumes se fala? Nesse raciocínio, os “bons costumes” configuram um fator 
de restrição de direitos. É preciso admitir que a intervenção médica a que o 
transexual se submete é necessária para a adequação físico-psíquica daquela 
pessoa. Tal intervenção, em vez de importar “diminuição permanente da sua 
integridade física”, permitirá àquela pessoa o pleno desenvolvimento de sua 
personalidade. 
A adequação sexual como necessidade 
Segundo o estudo de Luiz Alberto David Araujo, o transexual é 
considerado como a pessoa que, embora biologicamente apresente um sexo 
determinado, possui, psicologicamente, outro sexo, sendo inerente a tal pessoa 
a necessidade de adequar o biológico ao psicológico. A busca da unidade é, 
portanto, o ponto mais importante da identificação sexual de um indivíduo e, 
em caso de divergência, o aspecto psicológico é o que deve apresentar maior 
relevância. 
Direito à integridade física 
A autonomia jurídica individual e o crime de lesões corporais 
A autorização, por meio de manifestação de vontade, da prática de ato 
que atente contra a integridade física do corpo humano não tem efeito jurídico 
de legitimação, se tal ato importar em mutilações ou cicatrizes que contrariem a 
Constituição, a lei e o valor da dignidade humana. Dessa forma, não se exclui a 
ilicitude mesmo se a lesão for causada com o consentimento da pessoa. 
A autolesão e outras formas de autonomia jurídica sobre o próprio corpo 
Encontramos várias formas de autolesão, como, por exemplo, as 
tatuagens, os piercings, os alargadores, etc. Tem também os rituais religiosos, 
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como o do Candomblé, a autoflagelação do catolicismo e o branding, que é o 
ato de tatuar por meio de ferro quente. Todas essas práticas afetam 
exclusivamente o próprio agente e configuram, portanto, práticas lícitas, 
protegidas pela autonomia jurídica individual em sentido amplo, decorrente do 
princípio da proteção da dignidade da pessoa humana. Também são lícitas as 
condutas de terceiros que auxiliam a realização de tais práticas. A mesma 
licitude vale para esportes e espetáculos em geral, entretanto, se o outro 
participante se exceder ou praticar uma ação não normal do jogo, assim como 
se desobedecer ao regulamento, será responsabilizado. 
Por outro lado, quando a autolesão é efetuada em fraude à lei, é 
evidente sua ilicitude. Por exemplo: o pagamento de seguro a pessoa que, 
deliberadamente, se automutila para obter a quantia em dinheiro que, 
normalmente, em caso de acidente, lhe seria devida. 
Disponibilidade do próprio corpo e recusa a tratamento médico 
O art. 15 do Código Civil determina que ninguém pode ser constrangido 
a se submeter, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção 
cirúrgica. O principal objetivo desse princípio é respeitar a liberdade individual 
da pessoa. Portanto, sua decisão deve valer, inclusive, para afastar 
intervenções médicas. Por outro lado, o consentimento livre e esclarecido do 
paciente quanto ao tratamento só será dispensável se for impossível a tomada 
desse consentimento, como nos casos em que o paciente chega aomédico em 
estado de inconsciência ou sem condições de se manifestar. Se, nesse estado, 
o paciente corre risco de vida, o médico tem o dever de submetê-lo a 
tratamento. Assim, a ilicitude está afastada, na ausência de consentimento, 
apenas quando o paciente se encontre em perigo de vida e a intervenção seja 
a única forma de tentar evitar a sua morte. Vale lembrar que estar doente não é 
obrigatoriamente sinônimo de ser incapaz. 
Além disso, se, mesmo tendo o paciente se oposto ao tratamento, o 
médico realizar nele a intervenção médica e, nesse caso, o motivo para a 
recusa ao tratamento for de causa religiosa, além de se estar violando o direito 
à integridade física do paciente, estar-se-á violando, também, seu direito 
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constitucional de liberdade de consciência e de crença, assegurado no art. 5º, 
VI, da Constituição Federal. Contudo, o Conselho Federal de Medicina decidiu 
que, num paciente em iminente perigo de vida, cujo salvamento dependa de 
transfusão de sangue, o médico deve fazê-la, mesmo com a oposição do 
paciente. O problema dessa decisão é quando se trata das Testemunhas de 
Jeová. Aqui, então, perguntamos: a vida é um direito ou um dever? 
Vale lembrar que apenas a própria pessoa pode recusar-se ao 
tratamento. Assim, em caso de incapazes, a declaração feita pelo 
representante não é válida para a recusa do tratamento. Nesse contexto, o 
paciente tem o direito de, após ter recebido a informação do médico e ter 
esclarecidas as perspectivas da terapia, decidir se vai se submeter ao 
tratamento ou, tendo este já se iniciado, se vai continuar com ele. Para a 
segurança do médico, o consentimento deve ser escrito. 
Disponibilidade do próprio corpo e experimentação em seres humanos 
A pessoa pode dispor de seu próprio corpo com a finalidade de 
submeter-se a pesquisas e experimentos científicos. Necessário ressaltar que 
o consentimento esclarecido da pessoa é imprescindível, mesmo em sendo a 
experimentação benéfica para ela. Entretanto, o consentimento não será válido 
se a pessoa for considerada vulnerável, como, por exemplo, crianças, 
deficientes mentais, presos, militares, indígenas, dentre outros. Quanto às 
pessoas incapazes de consentir, os direitos envolvidos nas pesquisas com 
seres humanos não podem ser disponibilizados nem por si mesmas nem por 
terceiros, mesmo que sejam representantes legais. 
Os estudiosos também alertam para a necessidade de que a 
experimentação à qual o doente voluntário for se submeter seja realizada em 
pessoa doente, não em pessoa sadia, e que essa pessoa esteja precisando de 
uma cura que esteja relacionada àquela doença objeto da experimentação. Ou 
seja, a experimentação deve ser justificada pela necessidade do paciente, não 
apenas no seu consentimento. 
Direito ao corpo e reprodução humana 
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A reprodução humana assistida pode-se dar por meio de inseminação 
artificial e de fecundação assistida. 
Inseminação artificial: consiste num auxílio à reprodução humana 
natural, por meio da inserção de esperma na cavidade uterina da mulher, para 
fecundação natural do óvulo. 
Fecundação assistida: se dá fora do corpo da mulher, com a fecundação 
in vitro do óvulo pelo espermatozóide. O embrião gerado é, em seguida, 
introduzido no útero. 
Esse dois procedimentos de reprodução humana assistida podem ser 
homólogos ou heterólogos 
 
 
 
 
 
 
Vale lembrar que a doação de gametas ou pré-embriões nunca terá 
caráter lucrativo ou comercial. 
Para o doador de sêmen, o seu consentimento, que se resume à 
colaboração para a procriação, sem qualquer interesse na paternidade, NÃO 
gera as responsabilidades nem os direitos decorrentes do vínculo biológico 
entre si e a criança. Portanto, se a criança foi gerada por meio de inseminação 
artificial heteróloga, tendo o marido autorizado o procedimento, será ele 
considerado o pai. Ou seja, o consentimento do marido ou companheiro 
impede a contestação da paternidade. Vale lembrar que após iniciado o 
procedimento de fecundação heteróloga, o consentimento é IRREVOGÁVEL. 
Quando o óvulo ou o esperma forem do próprio 
casal que busca o procedimento. 
Quando a mulher for inseminada 
artificialmente com esperma que não seja 
de seu marido ou companheiro, ou 
quando a fecundação in vitro se der com o 
óvulo da mulher demandante e o esperma 
de homem que não seja seu marido ou 
companheiro, ou, por fim, quando tanto o 
óvulo quanto o sêmen a serem utilizados 
na fecundação assistida ou na fertilização 
in vitro forem de outras pessoas. 
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Vale dizer que a maior parte da doutrina e da legislação é pelo 
ANONIMATO do doador. 
Disponibilidade na gestação de substituição 
Há, ainda, as chamadas “barrigas de aluguel”, que consiste na 
implantação de um óvulo fecundado in vitro no útero de outra mulher. Esta, que 
tem a figura da mãe hospedeira, deve entregar, ao final da gravidez, a criança 
para a pessoa ou casal que teve o desejo parental. Esse procedimento deve 
ser gratuito, com finalidade altruístico, NÃO GERANDO QUALQUER DIREITO 
À CEDENTE, SENÃO QUANTO A RESSARCIMENTO DE DESPESAS. 
A regra que limita a “cessão de útero” a parentes próximas da mãe civil 
pode gerar outro problema: a confusão, por parte da mãe gestacional, do seu 
papel de avó, em relação à criança que ajudou a gerar, com o papel de mãe 
(de substituição, no período da gestação). Assim como tia, que foi a mãe 
gestacional, pode não distinguir esse papel com o seu lugar de tia na árvore 
genealógica daquela criança. Uma vez que a mãe de substituição, por ser um 
familiar próximo, continuará tendo contato com a criança que ajudou a gerar, 
muitos problemas podem surgir da sua relação com a criança e com a mãe civil 
desta. Entende-se que esse risco pode ser diminuído se, em vez de se buscar 
uma parente para ser a mãe gestacional, resolver-se buscar outra mulher para 
receber o embrião, sem vínculos familiares ou afetivos com a mãe civil, e que 
não deverá ter contato com a criança após o fim da gestação. Esse é um dos 
motivos pelos quais, nos EUA, a gestação de substituição tem natureza 
nitidamente contratual, remunerada. 
Direito à imagem (art. 20) 
A imagem é a representação física de uma pessoa, através de fotos, 
filmes, vídeos, pinturas e outros meios que reproduzam o rosto da pessoa ou 
partes de seu corpo ou sinais físicos que possam servir à sua identificação e 
reconhecimento. 
O direito à imagem, numa concepção negativa, visa impedir que 
terceiros, sem a autorização da pessoa, registrem sua imagem ou a 
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reproduzam. A reprodução da imagem da pessoa, por sua vez, para ser ilícita, 
não requer a ofensa à honra da pessoa retratada, sendo indiferente a intenção 
daquele que indevidamente a utiliza. Assim, sem a autorização, o uso que 
outras pessoas possam fazer da imagem de alguém é muito restrito. Nesse 
contexto, sem o consentimento da pessoa, sua imagem só pode ser exposta se 
determinadas situações o justificarem, como, por exemplo, o cargo público, 
funções políticas, sua notoriedade artística, etc. E, ainda, se a utilização da 
imagem for necessária à administração da justiça ou à manutenção da ordem 
pública, geralmente a pessoa não tem direito à proibição. Contudo, sem a 
justificativa ou o consentimento, a violação pode gerar dano moral e/ou 
material, com o dever de indenizar. 
Imagem e honra 
Há dois tipos de imagem: a imagem retrato e a imagem atributo. 
Imagem retrato:representação física da pessoa. Exemplo: foto 
Imagem atributo: conjunto de impressões de valores que tem sobre 
determinado sujeito. 
Há, também, dois tipos de honra: 
Subjetivo: verificação de violação passa pela opinião do sujeito. Uma 
pessoa pode se ofender e a outra não. 
Objetivo: socialmente são vistos como reprovadas dentro do juízo 
jurídico. 
OBS: Pode-se confundir imagem atributo com honra. Para diferenciar, 
tem-se o exemplo de sentença do juiz da imagem do rapaz no bar gay, onde 
concedeu danos morais por ofensa à imagem atributo e não à honra, pois ser 
gay ou hétero não fere a honra, mas sim a imagem atributo, na medida em que 
a imagem atribuiu características ao rapaz que não condizem com a sua 
personalidade. 
A autonomia privada sobre o direito à imagem 
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O art. 20 do Código Civil de 2002 permite que terceiros publiquem, 
exponham e utilizem a imagem de alguém, inclusive com fins comerciais, caso 
o titular do direito à imagem autorize. Nesse contexto, o direito à imagem é 
inalienável e intrasmissível, mas é um direito disponível, tendo o sujeito a 
“possibilidade de dispor – ou não – da própria imagem em favor de outrem”. 
Essa disposição é uma forma de exercício positivo do direito à própria imagem. 
Contudo, vale ressaltar que o uso da imagem de alguém pode ser 
temporariamente objeto de negócio jurídico, MAS NÃO INDEFINIDAMENTE. 
Assim, os limites do uso da imagem de uma pessoa devem ser por esta 
estabelecidos, e o direito só será legítimo dentro desse âmbito. Se o uso 
ultrapassar a finalidade, o tempo, o veículo, o modo permitido pelo titular da 
imagem, tal conduta passará a constituir ilícito, motivando a responsabilidade 
do infrator das cláusulas contratuais. 
Direito à voz 
O direito à voz, enquanto direito de personalidade, assemelha-se ao 
direito à imagem, por ser um elemento identificador da pessoa, pelo fato de a 
pessoa poder ser reconhecida por meio do som de sua voz. Pode-se dizer que 
o direito à voz se subsume ao direito à imagem, constituindo a imagem sonora 
da pessoa. Há doutrinas que não reconhecem o direito à voz, na medida em 
que alegam que está contido no conceito de direito à imagem enquanto 
proteção da identificação da pessoa. Ou seja, há o direito à voz, mas não 
exterior ao direito à imagem. 
Direito à privacidade (art. 21) 
Reconhece-se a necessidade de proteger a esfera privada da pessoa 
contra a intromissão, curiosidade e bisbilhotice alheia. Nesse contexto, tem 
como objetivo permitir á pessoa excluir do conhecimento de terceiros seus 
sentimentos, orientações ou comportamentos culturais, ou seja, o direito à 
privacidade protege do conhecimento alheio o modo de ser da pessoa. Assim, 
é válido dizer que mesmo que o acesso às informações da vida privada tenha 
sido lícito, sua divulgação não é, pois o acesso se baseou em relações de 
confiança, com caráter de exclusividade. 
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Assim, o direito à privacidade é considerado violado, por exemplo: 
a) Quando há intromissão não consentida em relação à vida privada de 
alguém; 
b) Quando o acesso às informações da vida privada de uma pessoa for 
por esta autorizado, mas a divulgação dessas informações a 
terceiros não foi consentida; 
c) Quando a intromissão não foi consentida e, além disso, houve 
divulgação das informações obtidas ilicitamente. 
A autonomia privada sobre o direito à privacidade 
Na teoria de Pontes de Miranda, o direito à privacidade é uma liberdade. 
Ou seja, constitui-se uma liberdade e não um dever, podendo ser exercida de 
duas formas: velando-se o que se passa na intimidade ou expondo-a ao 
público. Para o segundo caso há exemplos como o Big Brother Brasil, no qual 
expõe quase todas as situações de privacidade e de intimidade das pessoas 
que nele atuaram. 
Direito à intimidade 
Alguns autores identificam o direito à intimidade como diverso do direito 
à privacidade. A intimidade seria um âmbito ainda mais restrito de sua vida. 
Dessa forma, não é uma distinção conceitual, mas uma questão de 
abrangência. 
Direito ao nome (arts. 16, 17, 18) 
É um direito que abrange prenome e sobrenome e, também, o 
pseudônimo adotado para atividades lícitas. O nome é formado pelo prenome e 
pelo nome patronímico (sobrenome ou, ainda, apelido de família), sendo o 
prenome o nome atribuído ao indivíduo. Há, ainda, o agnome, que são 
expressões como Júnior, Neto, Filho, Segundo. Vale dizer que os apelidos, se 
notórios, podem ser acrescentados ao nome da pessoa, como, por exemplo, 
Luiz Inácio LULA da Silva. 
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O prenome é considerado imutável, na medida em que rege nosso 
direito o princípio da inalterabilidade ou imutabilidade do nome, salvo raras 
exceções que possibilitam a alteração registral do nome. 
Constituirá violação a esse direito de personalidade se o nome de 
alguém for utilizado para expor a pessoa a desprezo ou a constrangimento, 
mesmo estando ela ausente, acarretando na indenização por danos morais e 
materiais. 
O art. 19 do Código Civil protege o pseudônimo, que é o nome fictício 
usado por um indivíduo como alternativa ao seu nome legal. 
A autonomia jurídica sobre o direito ao nome 
O direito ao nome é um direito de personalidade, mas, por razão de 
ordem pública, há, também, o dever ao nome. Sob a ótica das concepções 
mais tradicionais, o direito ao nome não pode ser alienado ou RENUNCIADO, 
contudo, embora ainda vigorem essas concepções, admite-se, cada vez mais, 
que a pessoa tem a faculdade de, em circunstâncias específicas, alterá-lo. 
A faculdade do registro do apelido 
Permite-se que, caso a pessoa seja conhecida por algum apelido, pelo 
qual é frequentemente chamada, possa inseri-lo em seu nome, alterando seu 
registro. Ocorrendo esse acréscimo ao seu nome, o apelido passa a receber, 
também, proteção legal. 
A liberdade de escolha e uso do pseudônimo 
O Código Civil de 2002 dá ao pseudônimo a mesma proteção jurídica 
concedida ao nome. Contudo, é preciso não confundir o pseudônimo com 
apelido nem com alcunha ou nome de guerra. O uso de pseudônimo é lícito, 
pois voltado para identificação da pessoa em seu meio profissional. Entretanto, 
o direito ao nome não alcança a proteção para o pseudônimo utilizado para 
atividades ilícitas. 
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O pseudônimo, para ser protegido, não precisa passar por nenhum 
registro, mas há limites para a escolha dele, não podendo adotar como 
pseudônimo o nome já existente de outra pessoa, por exemplo. Portanto, é 
permitida a mutabilidade, não havendo imposição de vínculo como ocorre no 
nome. Ademais, a OBRIGAÇÃO de utilização do pseudônimo em atos de 
direito público é ilícita, uma vez que o pseudônimo se limita a determinadas 
atividades. 
Alteração do nome no momento do casamento 
No Código Civil de 1916 apenas a mulher tinha essa faculdade. O 
marido, no entanto, não tinha esse direito. Contudo, o Código Civil de 2002 
prevê que qualquer dos nubentes, querendo, pode acrescer ao seu nome o 
sobrenome do outro nubente. Em caso de divórcio, as partes podem optar por 
voltar a usar o nome de solteiro ou CONTINUAR usando o nome adquirido com 
o casamento. 
Naturalização e autonomia para traduzir 
Em hipótese de naturalização, tem o estrangeiro que está a se 
naturalizar a faculdade de alterar seu nome, não se tratando de escolha do 
nome, mas, na verdade, de uma tradução para o português do seu prenome. 
Nomes que exponham a pessoa ao ridículo e autonomia para mudarAs pessoas não devem receber nomes que as exponham ao ridículo. Se 
isso acontecer, o sujeito tem a faculdade de alterá-lo, inclusive quanto ao 
prenome, mantendo ou adotando os nomes patronímicos. Ainda há a 
possibilidade de troca quando o nome, por si só, não é ridículo, mas a 
pronúncia junto com o seu sobrenome acaba formando um palavrão ou uma 
expressão constrangedora. Exemplo: Isadora Pinto. 
Maioridade e mudança de nome 
É permitido, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, alterar o 
nome, desde que não prejudique os sobrenomes. Passado mais de um ano 
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após a maioridade, o oficial do registro não pode conhecer de nenhum pedido 
dessa natureza, cabendo somente ao juiz. 
Nome usual, nome registral e possibilidade de alteração 
Os pedidos de substituição do nome registral pelo nome usual vêm 
sendo deferidos pelos Tribunais com base no direito ao nome como espécie de 
direito de personalidade, cuja função primordial é permitir a identificação da 
pessoa na sociedade. 
O direito à morte digna (arts. 6º, 7º, 8º) 
Antes de tudo, é importante dizer que com a morte cessa a pessoa 
natural. Hoje, vincula-se a morte como a morte encefálica. 
A dignidade da pessoa humana e os correspondentes direitos de 
personalidade também alcançam os momentos finais da vida da pessoa. 
Contudo, com os avanços tecnológicos, os instrumentos médicos podem 
acabar afetando a dignidade da pessoa. Nesse sentido, há situações em que 
os tratamentos médicos se tornam um fim em si mesmo, e o ser humano é 
simplesmente ignorado. 
O direito de morrer dignamente não deve ser confundido com o direito á 
morte. O direito de morrer dignamente é a reivindicação por vários direitos, 
como a dignidade da pessoa, a liberdade, a autonomia, a consciência; refere-
se ao desejo de ter uma morte humana, sem o prolongamento da agonia por 
parte de um tratamento inútil. Isso não se confunde com o direito de morrer. 
Este tem sido reivindicado como sinônimo de eutanásia ou de auxílio a suicídio, 
que são intervenções que causam a morte. Não se trata de defender qualquer 
procedimento que cause a morte do paciente, mas de reconhecer sua 
liberdade e sua autodeterminação. 
Assim, é assegurado o direito (não o dever) à vida, e não se admite que 
o paciente seja obrigado a se submeter a tratamento, sendo isso consequência 
da garantia constitucional de sua liberdade, levando à proibição, por exemplo, 
de intervenções não admitidas pelo paciente em sua saúde física ou mental (ou 
mesmo na ausência de saúde completa). Ou seja, estando informado sobre o 
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diagnóstico e prognóstico, o paciente decide se vai se submeter ou continuar 
se submetendo a tratamento. Dessa forma, a não intervenção, desejada pelo 
paciente, não é uma forma de eutanásia, com a provocação da morte ou 
aceleração desta: é o reconhecimento da morte como elemento da vida 
humana. 
Eutanásia, auxílio a suicídio, distanásia e ortotanásia 
Eutanásia: O primeiro sentido de eutanásia faz referência a facilitar o 
processo de morte, sem, entretanto, interferência neste. Na verdade, conforme 
o sentido originário da expressão, seriam medidas eutanásicas não a morte, 
mas os cuidados paliativos do sofrimento, como o acompanhamento 
psicológico do doente e outros meios de controle da dor. Também seria uma 
medida eutanásica a interrupção de tratamentos inúteis ou que prolongassem a 
agonia. Ou seja: a eutanásia não visaria a morte, mas a deixar que esta ocorra 
da forma menos dolorosa possível. A intenção da eutanásia, em sua origem, 
não era causar a morte, mesmo que fosse para fazer cessar os sofrimentos da 
pessoa doente. 
Porém, atualmente, em vez de deixar a morte acontecer, a eutanásia 
age sobre a morte, antecipando-a. Se a doença não for incurável, afasta-se a 
eutanásia (que diante do Código Penal pode ser considerada homicídio 
privilegiado) e se cai na hipótese de homicídio simples ou qualificado, 
dependendo do caso. Dessa forma, só é eutanásia a morte provocada em 
doente com doença incurável em estado terminal e que passa por fortes 
sofrimentos, movida por compaixão ou piedade em relação ao doente. E 
CONSTITUI CRIME DE HOMICÍDIO PERANTE O ATUAL CÓDIGO PENAL, 
encaixando-se na previsão do art. 121, homicídio. 
O auxílio ao suicídio de pessoa que não se encontra em estado terminal 
e com fortes dores, trata-se de participação material, mesmo com a solicitação 
da pessoa. Ou seja, a solicitação não afasta a ilicitude da conduta. 
Distanásia: chama-se distanásia o prolongamento artificial do processo 
de morte, com sofrimento do doente. Ou seja, não visa prolongar a vida, mas 
sim o processo de morte. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2 
 
Em oposição à distanásia, surge a ortotanásia: significa o não 
prolongamento artificial do processo de morte, além do que seria o processo 
natural, feito pelo médico. Apenas o médico pode realizar a ortotanásia. A 
ortotanásia serviria, então, para evitar a distanásia. O médico não é obrigado a 
prolongar a vida do paciente contra a sua vontade. 
Morte presumida 
A morte presumida é quando não se sabe se morreu ou não, presume-
se. Além de se dar pela ausência, se dar também se for extremamente 
provável a morte de quem estava em perigo de vida ou se alguém, 
desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois 
anos após o término da guerra. Só pode decretar morte presumida depois de 
esgotados as buscas, devendo a sentença fixar a data do provável falecimento. 
Comoriência 
Se não houver a identificação quanto ao tempo de morte de duas ou 
mais pessoas em uma mesma situação, decreta-se a morte ao mesmo tempo. 
Por exemplo: acidente de avião. Isso implica diretamente na herança, na 
medida em que se um casal morre ao mesmo tempo, a herança vai aos 
respectivos familiares. Contudo, se A morrer depois de B, a herança de B vai 
aos seus familiares e aos familiares de A. 
Testamento vital 
O testamento vital é um documento em que a pessoa determina, de 
forma escrita, que tipo de tratamento ou não tratamento deseja para a ocasião 
em que se encontrar doente, em estado incurável ou terminal, e incapaz de 
manifestar a sua vontade. No Brasil não há regulamentação sobre o 
testamento vital, nos EUA há. 
O testamento vital, ao lado de evitar os procedimentos médicos 
desmedidos, evita que o médico seja processado por não ter oferecido 
tratamento a paciente em estado terminal, conforme solicitado por este no 
documento. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Civil I – T2AA – 2017.2

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