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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE FÍSICA FÍSICA PARA CIÊNCIAS AGRÁRIAS 1- Introdução A Física é composta por um conjunto de teorias, coerentes entre si, elaboradas sob o pressuposto de existência de regularidades objetivas. Em conseqüência, essas teorias são passíveis de serem testadas, comparando-se suas explicações e predições com os fenômenos e dados empíricos. Os testes devem ser múltiplos, realizados de maneiras independentes e por diferentes pessoas. A Física, contudo, não é uma ciência exata e sim precisa. Daí, para decidir se diferentes testes concordam entre si, é necessário: - explicitar o grau de incerteza (ou imprecisão) dos valores obtidos experimentalmente. - adotar procedimentos compatíveis entre si e as mesmas regras no tratamento dos dados. 2- Resultado Experimental Um resultado experimental, obtido direta ou indiretamente, após várias repetições de um experimento, deve conter a melhor estimativa para a medida de uma grandeza. Ao mesmo tempo deve explicitar a incerteza na medida, ou dito de outra forma, deve evidenciar o intervalo de confiabilidade dessa melhor estimativa. Assim, um resultado experimental para uma grandeza X deve ser escrita como Xm X , onde Xm representa a Melhor Estimativa e X, sempre positivo, o Erro Absoluto ( ou incerteza). Por exemplo, se a massa de um objeto for expressa por m = 316,2 + 0,5 g , isto significa que a medida da massa é confiável dentro dos limites 316,7 g e 315,7 , mas a melhor estimativa (valor mais provável) vale 316,2 g . 2-1. Erro Absoluto O intervalo X representa a região em torno da Melhor Estimativa onde são encontrados os valores da medida X obtidos após uma série de repetições do experimento. Sua determinação independe do valor da grandeza X e, por isto, é chamado de Erro Absoluto. Observe que X é definido como um valor sempre positivo. Em conseqüência, se o resultado experimental de uma grandeza vale X = Xm X , então, X = | X - Xm | 2 2-2. Erro Relativo Se o comprimento de uma grandeza foi determinado como sendo igual a 400 + 2m e o de outra 100 + 2 m, então, a comparação entre os valores relativos 2/400 e 2/100 dará uma idéia mais clara, comparativamente com o erro absoluto, sobre o significado da incerteza numa ou noutra determinação. Este valor relativo, ER = X / X , é definido como sendo o Erro Relativo. Na forma de percentagem, esta razão deve ser multiplicada por 100. Assim, no exemplo apresentado, ER vale 0,5 % no primeiro caso e 2 % no segundo. A figura 1 abaixo (conforme ref. 1) representa um valor experimental: Intervalo de valores prováveis \ / | ( | X ) | | | 0 1 2 3 4 | Melhor estimativa de X Fig.1 - Nesta figura, a melhor estimativa de uma determinada grandeza X é mostrada em uma escala linear. A medida de X foi repetida várias vezes e todos os valores encontrados estão espalhados em um intervalo assinalado pela região entre parênteses. Este é o intervalo de valores prováveis, ou seja, se mais uma medida for realizada, ela tem grande probabilidade de se encontrar neste intervalo . 2-3. Comparação entre Resultados Experimentais Quando comparamos dois resultados experimentais, ou um valor predeterminado com um outro medido, nosso grau de certeza sobre a igualdade entre os dois valores dependerá do grau de superposição entre os intervalos de valores prováveis. Devemos, então, comparar tanto as melhores estimativas como as incertezas a elas associadas, conforme exemplificado na figura 2 (obtida da ref. 1) : 3 Provavelmente Talvez Provavelmente iguais iguais desiguais Medida 1 | | ( x )| | | | ( x |) | | | ( x ) | | 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 Medida 2 | | ( x ) | | | (| x ) | | | ( x )| | | 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 Fig.2 - Temos nesta figura a comparação do resultado de duas medidas em três situações distintas. Pode-se considerar os valores destas duas medidas como provavelmente iguais, talvez iguais, ou como provavelmente desiguais, dependendo do grau de superposição de suas incertezas, como pode ser observado pelo grau de superposição dos parênteses na primeira e segunda linhas correspondentes a cada caso. Define-se discrepância como sendo a diferença entre duas melhores estimativas. A discrepância é significante se os intervalos de valores prováveis não se superpõem. Em outras palavras, se XA XA e XB XB representam duas medidas da grandeza X, a discrepância será dada por | XA melhor estimativa - XB melhor estimativa | e será significante se esta diferença for maior do que (XA + XB ) . A figura 3 ( ref. no 1) mostra mais claramente a diferença entre incerteza e discrepância: Incerteza x | ( | X ) | | | 0 1 2 3 4 discrepância <--------------------------> | | | ( X ) | | 0 1 2 3 4 <-----> Incerteza x Fig.3 - Diferença entre incerteza e discrepância A presença de discrepância entre duas determinações de uma grandeza coloca a questão de se saber qual é a resposta correta, uma vez que o valor exato não é conhecido. Na verdade procede-se da seguinte maneira: elimina-se, tanto quanto possível, as falhas (erros grosseiros); quando possível, aumenta-se a precisão dos instrumentos de medida e realiza-se um número razoável de repetições. Outros pesquisadores repetem o experimento, repetem os cálculos e os resultados são comparados. À medida que a precisão aumenta (X diminui) a teoria é melhor comprovada. O resultado é aceito quando vários experimentalistas estão de acordo. Se existe discrepância significante entre o valor aceito e o valor obtido em uma medida, conclui-se que esta medida foi inacurada. 4 Entretanto, tal conclusão não é necessariamente correta pois existe a possibilidade de que os experimentalistas que determinaram o valor correntemente aceito podem não ter se apercebido de algum detalhe importante, só reconhecido posteriormente. Estas situações são bastante raras, mas quando ocorrem são de enorme importância. Observe que a inacurácia só surge quando duas determinações diferentes são feitas, enquanto a incerteza (imprecisão) ou erro absoluto aparece em uma única determinação. Na figura 4 abaixo, obtida da ref. 1., mostra-se a distinção entre imprecisão e inacurácia. Em (a) a medida foi mais precisa do que em (b), porém mais inacurada. Diminuindo-se a precisão de uma medida, aumenta-se a probabilidade dela ser acurada, isto é, mais provável será o acordo entre dois valores (ou entre predição e determinação). No entanto, a validade de uma teoria aumenta quando tanto a precisão como a acuidade com que ela é testada aumentam! INACURÁCIA Valor aceito como verdadeiro / (a) | ( | X ) V | | | 0 1 2 3 4 IMPRECISÃO Valor aceito como verdadeiro / (b) | ( | X V |) | | 0 1 2 3 4 Fig.4 - Nesta figura encontra-se a distinção entre imprecisão e inacurácia. O "V", localizado na escala, se encontra na posição do valor aceito como verdadeiro, e X, no valor mais provável de uma determinação experimental. Os parênteses delimitam aincerteza em X. 3. TIPOS DE ERROS Em Física, a palavra erro tem um significado bem amplo e não se reduz às falhas cometidas por distração ou inabilidade na realização de um experimento. Discutimos acima a terminologia empregada em descrever os erros em medidas, mas não mencionamos as causas dos vários tipos de erros. Daremos a seguir uma idéia das possíveis fontes dos variados tipos de erros experimentais e veremos que algumas incertezas sempre estarão presentes nas determinações de uma grandeza. Contudo, vale ressaltar que num trabalho experimental de qualidade, procura-se incessantemente reduzir ao mínimo essas incertezas. 5 3.1 Erros de Acurácia Falhas (ou Erros Grosseiros): São erros cometidos por desconhecimento do assunto tratado, inabilidade, distração etc, e, portanto, desqualificam o experimentalista. Podem surgir através de uma leitura errônea da escala utilizada, de um erro aritmético, da aplicação da teoria onde ela não é válida etc. Exemplos: Se no cálculo da área de um retângulo de lados a e b, usamos a expressão A = 2 a b, o fator errôneo 2 produz um erro grosseiro. O mesmo acontece se, na montagem de um circuito elétrico, esquece-se de conectar um dos dispositivos do circuito. A prática e o cuidado na realização dos experimentos reduzem drasticamente tais falhas. Ao compararmos resultados, temos que ter certeza que esses tipos de erros não estão presentes. Erros Sistemáticos: São assim chamados por levarem, sistematicamente, os resultados para mais ou para menos. Podem ser causados por falhas no aparelho de medida; por calibração incorreta (por exemplo, uma balança acusa valor diferente de zero mesmo na ausência de qualquer massa sobre o seu prato); por aproximações teóricas incorretas que muitas vezes representam apenas uma primeira aproximação ao problema e que num experimento com relativa precisão podem aparecer como discrepância (por exemplo, ao se calcular o tempo de queda de um corpo de uma altura h, admitir desprezível a resistência do ar pode produzir um erro sistemático). Tais erros acima podem ser eliminados totalmente ou reduzidos a algum valor extremamente pequeno. Agora vamos tratar com tipos de erros inerentes ao processo de medição. 3.2 Erros de Precisão Erro Instrumental (ou Erro de Escala): Na obtenção de medidas utilizamos equipamentos, então, estes devem ser calibrados a partir de padrões convenientemente definidos. A construção de uma escala implica a escolha de subdivisões, em partes iguais, da unidade padrão. No entanto, pode ocorrer que a grandeza a ser medida não corresponda a um número inteiro das subdivisões existentes no aparelho. Deparamo-nos, desta forma, com o problema de estimar a fração da subdivisão considerada. Ao estimarmos esta fração, introduzimos o Erro Instrumental que indica o grau de precisão 6 de um dado instrumento. Assim, quanto mais preciso for um instrumento, menor será o valor do erro instrumental. O Erro Instrumental representa a limitação do instrumento. Obtenção do Erro Instrumental A estimativa do Erro Instrumental, envolvido na medida de uma grandeza, depende do instrumento utilizado e da habilidade do experimentador. Às vezes, a escala é tão grande que é possível estimar se o valor medido está, nitidamente, aquém ou além da metade (ou de um quarto) da menor escala. Nesta situação, pode-se considerar como erro instrumental 1/4 (ou 1/8) da menor escala. Em outras situações, ao contrário, as subdivisões são tão juntas que não é possível distingüir o traço de referência entre duas subdivisões sucessivas. Neste caso, deve-se tomar como o erro instrumental a menor divisão da escala. No entanto, neste curso, sempre que possível, o Erro Instrumental será tomado como sendo igual à metade da menor divisão da escala do instrumento. Assim se, por exemplo, a menor subdivisão de uma régua for o centímetro (cm), então o erro instrumental será de 0,5cm, ou se em um voltímetro a menor subdivisão for o milivolt (mV), o erro instrumental será 0,5 mV. Isto se justifica pois 1/2 divisão implica uma imprecisão total de +1/2-(-1/2)=1 divisão, que é a menor subdivisão da escala do aparelho. Erro Aleatório: As condições sob as quais um experimento é realizado podem não ser exatamente as mesmas a cada vez que se repete o experimento. Suponhamos que se queira estimar o tempo de queda de um corpo que se encontra a uma altura h. Ao se repetir o processo, se o corpo estiver ligeiramente acima ou abaixo do que na situação anterior, haverá uma incerteza na altura h, que produzirá uma incerteza no tempo de queda. Vê-se, neste caso, que uma das variáveis do experimento não está bem controlada, produzindo flutuações aleatórias em torno de um valor, chamado de valor mais provável. Esta margem de flutuação, decorrente de processos puramente aleatórios, é o que se denomina de Erro Aleatório. Talvez você possa imaginar algum mecanismo que reduza drasticamente esta incerteza, o que implicará um menor erro aleatório, mas, seguramente, surgirá aleatoriedade se formos além do grau de precisão deste mecanismo. Assim, o erro aleatório é inerente a todo processo de medida e deve ser convenientemente tratado. No erro de natureza aleatória, existe uma probabilidade igual de se errar para mais ou para menos, e o procedimento natural que se usa para tratá-los é a análise estatística que, para os propósitos desta disciplina, resume-se no seguinte: 7 Melhor Estimativa Após cuidadosas repetições dos mesmos procedimentos, obtém-se um certo número de medidas da grandeza que se quer medir. A melhor estimativa da medida desta grandeza será obtida tomando-se a média aritmética dos valores obtidos. Por exemplo: em um experimento qualquer, efetuamos N medidas de uma grandeza x, obtendo os valores, x1, x2, x3,..., xN . A melhor estimativa do valor x é dada por x , onde x x N i i N 1 Cálculo do Erro Aleatório O erro aleatório é obtido calculando-se a dispersão das diversas medidas, obtidas experimentalmente, com relação ao valor médio (Melhor Estimativa). Para isto, utiliza-se o conceito estatístico de variância de uma medida, que é dada por: x i i N x x N 2 2 1 1 ( ) A idéia existente na expressão acima é a seguinte: a diferença ( )x xi para cada um dos N valores de x, dá uma medida de quanto o valor de cada medida xi se afasta do valor médio x . O efeito acumulativo destas diferenças é obtido tomando-se a soma dos quadrados das diferenças, isto é, ( )x xi 2 . Observe que a soma de quadrados é uma soma de termos positivos, logo, apenas o valor absoluto do desvio é importante (de fato, é fácil mostrar que a soma dos desvios ( )x xi é sempre igual a zero). Em seguida, determina-se a média desses desvios quadráticos. Contudo, existem apenas (N - 1) desvios independentes, pois, a média x representa um vínculo entre os N valores, isto é, se conhecemos a média x e (N - 1) dos valores x1,x2 ... xN, o n-ésimo pode ser obtido. Assim, (N - 1) é o denominador correto. Para servir como medida do desvio na grandeza x, é necessário que a expressão tenha a mesma dimensão de x e, assim, a raiz quadrada é tomada, chegando-se à expressão para a Estimativa do Desvio Padrão que será utilizada como sendo o Erro Aleatório da série de medidas realizadas, ou seja: 8 x i i N x x N ( )2 1 1 OBS. A repetição de um experimento num número limitado de vezes pode ser vista como uma Amostra de uma População Estatística que no caso corresponderia a repetir infinitamente o experimento. A utilização da média aritmética como a Melhor Estimativa (valor mais provável) para o valor de uma grandeza medida e do Desvio Padrão, obtido com os desviosquadráticos da “amostra” (confira a equação acima), como uma Estimativa do Desvio Padrão da População1, encontra fundamentação na Teoria Estatística, desde que esta Amostra obedeça certas condições de tamanho e critério de escolha etc. Neste curso, vamos supor que essas condições estarão sendo satisfeitas. Erro Experimental Absoluto Foi dito anteriormente que ao relatar um resultado experimental, além da Melhor Estimativa, devemos também relatar a margem de confiabilidade deste valor. Como decidir, em meio a tantos tipos diferentes de erros, qual a margem de confiabilidade? Para responder à pergunta acima, devemos levar em consideração a natureza de cada tipo de erro. Como regra geral, parte-se do pressuposto de que o experimentalista fez todos os esforços para eliminar os vários tipos de falhas ou erros sistemáticos. Por este motivo erros de acurácia não são relatados. Assumindo que as falhas (erros grosseiros) e os erros sistemáticos foram eliminados, restam os erros instrumentais e aleatórios. Suponhamos que os erros aleatórios sejam muito maiores que a precisão do equipamento de medida. Neste caso sabe-se que o equipamento é capaz de medir com uma precisão maior do que as flutuações que surgem a cada repetição da medida. Obviamente, neste caso, o erro aleatório é o dominante e é o valor que deve ser relatado como erro experimental. Agora, suponhamos que as flutuações nas várias repetições das medidas sejam menores do que a precisão de cada medida. Neste caso, não se pode determinar a medida com precisão maior do que a precisão do instrumento; logo, o erro no experimento é o erro instrumental2. 1No caso do cálculo do Desvio Padrão da População e não de sua estimativa, a equação a ser utilizada difere da equação acima pelo fato de o valor N substituir (N-1). 2Se não for possível repetir várias vezes a medida de uma grandeza, o erro aleatório será indeterminado e o erro total será dado pelo erro instrumental. Neste caso, a melhor estimativa da grandeza será dada pelo único 9 Entretanto, se os dois tipos de erros forem comparáveis, o valor do Erro Experimental Absoluto será dado pela adição dos erros envolvidos, ou seja: X exp = X ins trumental + X aleatório = X instrumental + 4. ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS Como vimos, grande parte das medidas físicas envolvem leituras de escalas e, não raro, deparamo-nos com um resultado que não coincide exatamente com uma das linhas de divisão de escala. Teremos, então, que estimar o algarismo final da leitura. Este algarismo estimado é, até certo ponto, incerto. No entanto ele é significativo, no sentido de que ele nos fornece informações úteis sobre a quantidade que está sendo medida. Os algarismos significativos de uma medida são aqueles razoavelmente confiáveis. Na leitura de uma medida física, um e apenas um algarismo estimado ou incerto deve ser retido. Para facilitar a compreensão do que foi dito acima, vejamos um exemplo: Um observador, medindo um comprimento com uma régua milimetrada, registra o resultado da medida como sendo igual a 3,28cm. Como a régua é milimetrada, o algarismo 8 desta leitura foi estimado. Talvez o resultado da estimativa pudesse ser 7 ou 8 , de qualquer forma ela dá uma certa informação sobre o comprimento; logo, é útil. A leitura feita pelo observador possui três algarismos significativos. Um fato importante a se destacar é o de que a localização da vírgula nada tem a ver com o número de algarismos significativos. O resultado da medida, feita no exemplo acima, poderia ter sido escrita como 32,8mm ou 0,0328m; apesar da vírgula decimal ter sido deslocada, o número de algarismos significativos continua a ser três em cada caso. A presença de zeros em uma certa medida pode causar dificuldades que, entretanto, podem ser superadas se possuirmos as seguintes informações: a) Se os zeros se localizam no início de um número (à esquerda no número), isto é, se estão lá apenas para localizar a vírgula, eles não são considerados significativos, como no caso 0,0328m do exemplo anterior, onde existem três algarismos significativos. b) Se os zeros se localizam entre dois algarismos significativos, então eles são sempre significativos: por exemplo se a leitura de um termômetro nos dá 30,8oC , o zero é significativo e este resultado possui, então, três algarismos significativos. valor medido. 10 c) Se os zeros estiverem no final de um número (à direita no número), é necessário que se tenha certo cuidado. Se não temos informações explícitas sobre a leitura feita, não sabemos, a princípio, se é um algarismo significativo ou se está lá apenas para localizar o ponto decimal. Por exemplo: em uma determinação da distância entre duas cidades obteve-se como resultado 325000 m, mas a acuidade da medida não passou da casa dos quilômetros. Então, este resultado será melhor expresso por 3,25 x 105 m, ficando claro que dispomos de apenas três algarismos significativos. Outro exemplo: medindo-se um determinado comprimento com uma régua milimetrada (que permite ler milímetros com exatidão e estimar décimos de milímetro), um resultado registrado como 20,00 cm é totalmente correto, significando que o último zero foi obtido como a melhor estimativa dos décimos de milímetros. Seria errado representar o resultado por 20 cm, pois este registro, assim como está, nos informa erroneamente que o instrumento de medida somente nos permite estimar centímetros. A leitura registrada deve sempre expressar o grau de precisão da medida. Segundo uma das regras do trabalho científico, devemos registrar medidas guardando apenas os algarismos significativos quando realizamos cálculos envolvendo grandezas medidas diretamente. Incluir algarismos não significativos adicionais dão uma idéia falsa da medida e pode confundir as pessoas que venham a usar estes dados, pois eles acreditarão que todos os algarismos são significativos. Na determinação de uma dada grandeza, quanto mais precisas forem as medidas, maior o número de algarismos significativos que aparecem no resultado. Se medirmos uma pequena espessura com uma régua milimetrada, teremos uma leitura com menos algarismos significativos do que a leitura da mesma espessura medida com um micrômetro. Quando escrevemos um resultado com quatro algarismos significativos estamos informando, a quem o consultar, que um quinto algarismo não teria qualquer significado. Por exemplo: uma medida de comprimento é feita com uma régua milimetrada e registrada como 28,356 cm. O algarismo 6 não tem significado algum, pois a tentativa de estimar os centésimos de milímetros em uma régua milimetrada não tem sentido. Ao serem feitas manipulações aritméticas com resultados de medidas, é preciso ter cuidado para não introduzir, nas respostas, algarismos não significativos. O número de algarismos significativos que devem ser mantidos depende do número de algarismos significativos dos dados experimentais e das operações aritméticas usadas. As regras comumente utilizadas nestas operações são as seguintes: 11 1)ADIÇÃO e SUBTRAÇÃO Regra: antes de efetuar a adição ou a subtração, deve-se arredondar as grandezas para a casa decimal do número com menor precisão. Exemplo 1: 13,2 cm 13,2 + 18,86 cm -------> 18,9 Resposta: 32,3 cm 0,210 cm 0,2 _____ ___ 32,3 Exemplo 2: 96 cm 96 + 7,6 cm -------> 8 Resposta: 104 cm. 0,32 cm 0 _____ ___ 104 Observe, neste exemplo, que o resultado, 104 cm, apresenta a casa das unidades como estimada, coerentemente com o fato de o valor 96 cm possuir o mesmo grau de confiabilidade. Observe, também, que o aumento do número de algarismos significativos decorre de cálculos e não compromete a precisão com que os resultados foram obtidos. Exemplo3: 545,36 m 545,4 __ 32,5 m -------> 32,5 Resposta: 512,9 m _____ ____ 512,9 Exemplo 4: 1,93 m 1,93 __ 1,91 m -------> 1,91 Resposta: 0,02 m ou _____ ____ 2 x 10-2 m. 0,02 Observe, neste exemplo, que o resultado da subtração deve ser apresentado apenas com um algarismo significativo embora as duas medidas iniciais possuíssem três algarismos significativos. 12 1)MULTIPLICAÇÃO e DIVISÃO Regra: na multiplicação ou na divisão, o resultado deve apresentar o mesmo número de algarismos significativos da medida que apresentar o menor número de algarismos significativos. Exemplo 1: 12,387 N x 8,23 m Resposta: 102 J ________ Obs. : N x m = J 101,94501 Exemplo 2: 157,20 m x 39,3 s Resposta: 4,00 m/s. _____ 4 Observe, neste caso, que embora a divisão seja exata, a resposta deve ser dada com três algarismos significativos, coerentemente com a medida que possui o menor número de algarismos significativos (39,3 s). Observações: 1) As regras estabelecidas acima referem-se a resultados de medidas. Existem certos valores que resultam de contagem e, portanto, não estão sujeitos a incertezas. Por exemplo, o número de alunos em uma turma ou o número de oscilações de um pêndulo. Igualmente, números resultantes de definições, por exemplo, o número de metros existentes em um kilômetro, ou a relação entre o volume e o raio de uma esfera podem ser apresentados com absoluta precisão, isto é, podem ser considerados com um número infinito de algarismos significativos. 2) Arredondamentos: Ao se desprezar algarismos não significativos nas operações aritméticas, as seguintes regras devem ser utilizadas: a) se o primeiro algarismo a ser desprezado for maior do que 5 ou se for um 5 seguido de algarismos diferentes de zero, o resultado deve ser acrescido de uma unidade. Exemplo: 8,35796 torna-se 8,36 se arredondado para três algarismos significativos; 13 torna-se 8,3580 se arredondado para cinco algarismos significativos; torna-se 8,4 se arredondado para dois algarismos significativos; b) se o primeiro algarismo a ser desprezado for menor do que 5, simplesmente despreza-se este e os sucessivos algarismos. Exemplo: 7,3623 torna-se 7,362 se arredondado para quatro algarismos significativos; torna-se 7 se arredondado para um algarismo significativo; c) se o primeiro algarismo a ser desprezado for um 5 não seguido por qualquer outro algarismo, ou se for um 5 seguido apenas de zeros, então, existem diferentes regras na literatura. Neste curso, vamos adotar a seguinte: acrescenta-se-lhe sempre um algarismo. Exemplos: 38,2500 torna-se 38,3 se arredondado para três algarismos significativos; 8,35 torna-se 8,4 se arredondado para dois algarismos significativos; As manipulações algébricas com resultados de medidas ocorrem quando procuramos obter a Melhor Estimativa ou o Erro Aleatório, e, principalmente, quando queremos determinar indiretamente alguma grandeza que depende de duas ou mais grandezas ( a densidade é um exemplo, pois depende da massa e volume). Os erros em cada uma destas medidas se "propagam" para outras grandezas. Veremos a seguir como o erro se propaga e como determinar o número de algarismos significativos em uma grandeza determinada por duas ou mais medidas. 5. PROPAGAÇÃO DE ERROS Sempre que trabalhamos com dados experimentais, nos deparamos com situações onde é necessário que se efetuem cálculos envolvendo duas ou mais grandezas às quais já estão associados os seus respectivos erros. Os valores resultantes destes cálculos, em geral, são menos precisos do que os valores determinados, se possível, através de uma medida direta da grandeza. Isto porque os erros vão se acumulando na medida em que manipulamos matematicamente as grandezas envolvidas. Os erros em uma quantidade calculada podem ser determinados a partir dos erros em cada uma das quantidades usadas, como veremos a seguir. 14 5.1 Soma Consideremos duas grandezas A e B representadas, respectivamente, por a=a±Da e b=b±Db Se tivermos que calcular uma quantidade c = a + b, adotaremos o seguinte procedimento: c a b a b ( ) ( ) ou seja, tomamos como Melhor Estimativa da grandeza c, a soma das melhores estimativas de a e b: c a b e o erro absoluto associado a c é dado pela soma dos erros associados a a e b: 5.2 Subtração O mesmo raciocínio usado acima para a adição pode ser estendido à subtração. Se queremos calcular uma quantidade c=a -b, teremos: c=a−b ±a b ou seja, c=a−b e, c= ab Talvez você possa ter estranhado o fato de o erro absoluto asssociado à subtração ser dado pela soma dos erros absolutos individuais. Isto ocorre porque, como já sabemos, os erros vão se acumulando à medida que efetuamos cálculos envolvendo grandezas que já os contém. Portanto, se tivéssemos dito que c = a - b, estaríamos afirmando que um erro compensa o outro, o que é incorreto 5.3 Produto Simples Suponha que precisamos estimar o erro cometido no cálculo de grandezas físicas dadas por expressões do tipo: c = a . b c a b 15 Sabemos que o resultado deste produto deve ser uma expressão do tipo: c=c±c Como o valor da variável c está compreendido no intervalo ( cmin=c−c e cmax=c c ), obteremos uma expressão para c calculando: cmax=amax . bmax= aa bb =abbaa b ab cmin=amin . bmin= a−a b− b =ab−ba−abab admitindo que a a e b b << 1 podemos desprezar o termo a.b. Assim, cmax=abbaab cmin=a b−b aab obtendo-se, então, c=ab±b Daab Em conseqüência, c=a b e, c=baab Dividindo ambos os lados da equação por c=a b c c = a a b b ou seja, o erro relativo do produto é igual à soma dos erros relativos dos fatores. 5.3 Divisão Suponhamos agora que desejamos obter o erro associado à divisão de duas grandezas, na forma c=a/b = a . (1/b). Usando a regra anterior estabelecida para a multiplicação, c= a 1/ b a1/b ; Ec R = EaR + EbR 16 precisamos, então, obter o erro associado à grandeza z = 1/b, sabendo que b = b + b. Observe que b=∣z−z∣=∣1 /b−1 /b∣=∣b−b∣/b b mas, ∣b−b∣=b , logo b=b /b bb =b /b2 1 b/ b . Admitindo-se que b /b≪1 , obteremos Conseqüentemente, c=a /b = baa b / b2 . Dividindo ambos lados da equação acima por c=a /b , obteremos c c = a a b b ou, ou seja, aqui também os Erros Relativos adicionam-se. Conclusão O Erro Absoluto, associado a uma grandeza obtida a partir da adição ou subtração de duas outras, é obtido a partir da soma dos Errros Absolutos associados a estas grandezas. No caso da multiplicação ou divisão de duas grandezas, o Erro Relativo da grandeza resultante será igual à soma dos Erros Relativos associados àquelas grandezas. 6. Referências 1. Dana Roberts, Errors, discrepancies, and the nature of physics, The Physics Teacher, 155, March (1983). 2. D. H. Garrison, Random error experiment for beginning physics laboratory, The Physics Teacher, 356. 13 (1975) z= (1/b) = b/b2 Ec R = EaR + EbR 17 3. Christopher G. Deacon, Error Analysis in the Introductory Physics Laboratory, The Physics Teacher, 368. 30 (1992) 4. N. H. Cook e E. Rabinowicz, Physical Measurement and Analysis, Addison-Wesley Publishing Company, (1965). 5. N.C.Barford, Experimental Measurements:Precision, Error and Truth, John-Wiley & Sons, 2a edição, (1985). 18 Gráficos: Elaboração e Interpretação 1. Introdução Uma lei física é uma relação de causa e efeito entre dois eventos. Se os eventos são mensuráveis, a lei física resultante expressará relaçõesentre quantidades físicas e que podem ser representadas de várias maneiras: em palavras, através de enunciados; em símbolos, através de uma equação ou relação matemática; pictoricamente, através de um gráfico. A escolha depende do uso que se precisa fazer da informação. Por exemplo, se quizermos fazer cálculos, então uma equação é o meio de expressão mais adequado. O gráfico, no entanto, expressa mais claramente o modo com que uma quantidade varia em função da outra. É de extrema utilidade quando a relação formal entre as quantidades não é conhecida a priori, o que impede a utilização das outras formas mencionadas acima. 2. Tipos de Gráficos Existem vários tipos de gráficos. Interessa-nos aqui, particularmente, aquele em que os pontos experimentais são lançados em eixos coordenados e uma curva suave seja traçada da forma que melhor se ajusta aos pontos. Uma hipótese tacitamente admitida na construção de um gráfico é a de que se os pontos experimentais não caem todos sobre uma curva suave é porque erros experimentais influíram nas medidas (isto pode ser verificado repetindo-se o experimento algumas vezes). Gráficos são também úteis para expressar visualmente relações (funções) já conhecidas entre duas grandezas. Para isto toma-se a expressão e prepara-se uma tabela contendo o valor de uma grandeza para cada valor da outra. Esses dados são usados para traçar uma curva que passa pelos pontos calculados e permite uma rápida interpolação para se obter valores de uma grandeza para valores intermediários da outra. Para que todo o intervalo investigado de uma das grandezas esteja representado é necessário que se defina uma escala. Os vários tipos de gráficos que veremos nesta disciplina se distinguem pela escala adotada: 19 Gráficos bilineares: Ambas as escalas, nos eixos horizontal e vertical são lineares. Este é o tipo mais comum de gráfico para o qual utilizamos um papel milimetrado, formado por um reticulado com linhas igualmente espaçadas. Gráficos mono-log: Uma das escalas é linear e a outra é logarítmica. Uma escala logarítmica é aquela em que as distâncias entre as linhas no papel de gráfico são proporcionais aos logaritmos dos valores que estão sendo grafados. Gráficos log-log: Ambas as escalas são logarítmicas. 2.1 Construção de um Gráfico Para melhor padronizar os gráficos é preciso que determinadas regras sejam seguidas na sua construção, a saber: 1. Todo gráfico deve ser contruído a partir de dados adequadamente tabulados. A tabela deve conter duas colunas (ou linhas) adjacentes, uma para cada grandeza: variável independente (isto é, aquela que se está variando no experimento e, portanto, adquire valores pré-determinados) e variável dependente (isto é, aquela que depende ou se mede em função do parâmetro que está sendo variado no experimento). 2. Os valores da variável independente devem ser lançados ao longo da escala das abscissas (eixo - x) e os da variável dependente devem ser lançados ao longo da escala das ordenadas (eixo - y). Os eixos devem ser traçados com linhas visualmente destacadas. Nem sempre é necessário que a origem (ponto de intersecção entre a abscissa e ordenada) comece com zero. A origem pode ser escolhida a partir dos menores valores grafados e, se for conveniente, pode incluir o zero. Nota: em escalas logarítmicas o valor "zero" não pode ser representado no gráfico pois logaritmo de zero não é definido (isto será melhor discutido mais à frente). 3. O tamanho do gráfico deve ser escolhido de acordo com a acuidade dos valores tabulados. Em geral, a curva deve preencher a maior parte da folha. No entanto, se a variação entre o menor e o maior dos valores tabulados é pequena, deve-se evitar espalhar muito o gráfico. Um gráfico deve refletir a acuidade dos valores experimentais. Não tem significado físico a leitura de um gráfico com mais algarismos significativos que os da medição. 20 4. As divisões da escala devem ser destacadas de modo a facilitar visualmente as subdivisões. As escalas sobre os eixos x e y podem ser diferentes, se assim for necessário, para acomodar os dados. Deve-se buscar valores múltiplos e submúltiplos de 10, pois esta escolha facilita as subdivisões. 5. Nunca escreva os valores dos dados tabulados nos eixos coordenados pois isto prejudica a visualização da escala e das subdivisões. 6. Se os dados têm valores excepcionalmente grandes ou pequenos, deve-se buscar representá-los em potências de 10 e lançar os dados com até dois algarismos significativos. 7. As grandezas representadas no gráfico, (i.e, as variáveis, não os seus valores!) e suas respectivas unidades devem ser indicadas ao longo dos eixos. 8. Para cada par de dados na tabela deve ser localizado o ponto no gráfico que lhe corresponde. O mesmo par de eixos pode ser utilizado para mais de uma série de dados (ou seja, para que sejam traçadas mais de uma curva). Neste caso, para diferenciá-los, deve-se utilizar símbolos distintos (pequenos triângulos, quadrados, círculos, etc.) ou cores diferentes. Tal procedimento permite uma rápida comparação visual das diversas séries de medições. 9. Para cada ponto deve ser marcado o intervalo de flutuação correspondente a cada uma das grandezas. O uso desta informação possibilita que o erro associado a cada medição seja visualizado. Os intervalos de flutuação para cada uma das variáveis são delimitados com pequenos traços, estabelecentdo-se assim as barras de erro de cada ponto do gráfico. 10. Uma curva suave deve ser traçada de forma a passar dentro do intervalo estabelecido pelas barras de erro. A menos que haja explícita recomendação, um gráfico nunca deve ser feito interligando os pontos por segmentos de reta. 11. Todo gráfico deve conter um título que deve ser facilmente visualizado. Além disto, qualquer símbolo apresentado deve ter sua explicação em legenda. Lembre-se de que os gráficos não são feitos exclusivamente para você, pois eles são um dos principais meios de comunicar aos outros os seus resultados, e, conseqüentemente, clareza é fundamental! Assim, um gráfico deve conter todas as 21 informações necessárias para a sua interpretação. A falta de indicação clara da escala, ou do que está sendo representado, ou de uma legenda no caso de curvas múltiplas em um mesmo gráfico, em suma, a falta de clareza prejudica a compreensão do gráfico e pode acarretar interpretações errôneas. 3. Análise e Interpretação de Gráficos Uma das vantagens do uso de gráficos é a simplicidade com que novas informações podem ser obtidas através da observação de suas formas. Em particular, se o gráfico for linear, a inclinação e interseção da reta com os eixos coordenados podem ser rapidamente analisadas, como veremos a seguir. A forma do gráfico indica imediatamente se uma variável (dependente) cresce ou decresce quando a outra (independente) cresce. Permite também uma clara distinção de intervalos onde a variação de uma variável em função da outra é rápida ou lenta. 3.1. Escalas lineares Para se estabelecer uma escala linear divide-se o eixo coordenado em intervalos regulares e associa-se números como na figura abaixo: ...| | | | | | | | | | | ... -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 As distâncias entre os pontos no eixo variam linearmente com a grandeza representada. Assim, o ponto correspondente ao valor 0,5 é exatamente o ponto médio do intervalo entre 0 e 1. O ponto correspondente ao valor 2,1 é o ponto a um décimo da distância entre 2 e 3, à direita do ponto marcado com 2. 3.2 Gráficos bilineares e Grandezas Proporcionais Gráficos bilineares são geralmente utilizados para descrever a interdependência de duas grandezas. Sãoparticularmente úteis quando as grandezas envolvidas em uma medida dependem linearmente uma da outra. É bom distinguir aqui os casos de dependência linear e proporcionalidade direta. A variação linear indica simplesmente uma dependência através de uma curva do 1o grau, ou seja, por uma linha reta. A proporção direta entre as variáveis é mais forte do que 22 isso! Quando duas variáveis são diretamente proporcionais uma à outra ocorre que se uma se anula a outra também. Neste caso a reta no gráfico tem que passar necessariamente pela origem do sistema de coordenadas. Dois são os parâmetros importantes em uma dependência linear: o coeficiente angular da reta (inclinação) e o ponto de corte com os eixos coordenados. Discutiremos primeiramente o coeficiente angular da reta. É preciso distinguir claramente entre os valores físicos e geométricos da inclinação da reta (coeficiente angular). O valor físico da inclinação obtém-se trançando um triângulo grande, como indicado na figura 1, e dividindo Dy por Dx, usando, para cada um, as escalas e unidades que foram escolhidas para os eixos. O resultado é independente da escolha (arbitrária) feita para as escalas e pode expressar um fator significativo sobre a relação entre as variáveis lançadas. Por exemplo, num gráfico de velocidade contra o tempo a inclinação física (derivada) dará a aceleração. No caso do exemplo acima, a inclinação física m da reta é: m y y x x y x ( ) ( ) 2 1 2 1 Em contraste com a inclinação física, a inclinação geométrica, definida como a tangente do ângulo q entre a reta e o eixo - x (é como se os dois eixos não possuíssem unidades e as escalas fossem iguais). Na análise de gráficos bilineares é sempre a inclinação física que tem significado (este já não é o caso em gráficos mono-log e log- log; veja à frente). Figura 1 - Gráfico bilinear da velocidade vs tempo para um móvel com aceleração constante a = 0,2 m/s2. Note que o ponto onde a reta corta o eixo das velocidades não é zero, o que indica que o móvel já possuía uma velocidade de aproximadamente 3,2m/s no instante t=0. As barras de erro indicam a incerteza nos valores medidos em cada ponto experimental. Seu tamanho depende da precisão com que o experimento foi realizado. No presente caso, a barra de erro vertical tem comprimento equivalente a 1 m/s, o que corresponde a um erro na medida da velocidade de +/-0,5m/s. A barra horizontal tem um comprimento total de 1 s, o que corresponde a uma indeterminação no instante em que a velocidade foi medida de +/- 0,5 s. No presente caso todas as barras de erro têm tamanhos iguais mas isto não é uma regra, pois cada ponto experimental pode ter um erro que é próprio às condições em que as medidas foram feitas. As retas de máxima e mínima inclinações são utilizadas para estimar o erro na determinação da inclinação (que no caso representa a aceleração "a" do móvel) e do ponto de corte (que neste caso representa a velocidade inicial) Outra informação significante pode também ser obtida determinando-se a interseção da reta com um eixo coordenado. No caso do exemplo da figura 1, a interseção da reta com o eixo das velocidades determina um valor que corresponde à velocidade do corpo 23 quando t = 0, isto é, quando o observador começou a marcar o tempo. O fato da interseção com o eixo do tempo, no presente exemplo, ser negativa indica a duração do intervalo que antecedeu ao momento em que o observador acionou seu cronômetro e começou a marcar o tempo, quando o corpo estava com velocidade nula (tempo de reação). 3.2.1. Estimando Erros na Inclinação e no Ponto de Corte Cada ponto representado no gráfico possui dois erros associados a ele, um para cada coordenada que define o ponto. Como dito anteriormente, estes erros, ou margem de credibilidade dos pontos, são indicados graficamente através de pequenas barras de tamanho apropriado. Dissemos também que ao construir um gráfico devemos traçar uma curva suave que passe pelas barras de erro. Note que existe mais de uma reta que passa por todas as barras de erro. Na verdade existe um número infinito delas. A figura 1 mostra que podemos definir 3 retas: uma que poderíamos chamar de mais provável, uma com inclinação máxima, e outra com inclinação mínima. Note que todas as três passam pelas barras de erro. Dizemos então que a inclinação m da reta é aquela da reta mais provável. Podemos definir um erro, ou uma incerteza, m para esta inclinação baseado na observação dela se encontrar entre uma inclinação máxima mmax e uma inclinação mínima mmin através da seguinte expressão: m m m ( )max min 2 Observe que os pontos de corte com a ordenada (y) das retas de máxima e mínima inclinações são diferentes. Assim, para uma reta do tipo y mx b podemos também estabelecer limites inferior bmin e superior bmax para o ponto de corte e definir um erro b para este parâmetro como: b b b ( )max min 2 3.3. Escalas logarítmicas Uma escala logarítmica é estabelecida pela divisão do eixo coordenado em intervalos regulares, e uma associação numérica a esses intervalos como na figura abaixo: 24 | | | | | | | | | | | 10-5 10-4 10-3 10-2 10-1 100 101 102 103 104 105 A escala é logarítmica porque as distâncias entre os pontos apresentam uma relação logarítmica com os valores representados. Considerando cada intervalo como uma unidade de distância, temos que as distâncias entre o ponto correspondente ao valor 100 e um ponto qualquer é igual ao logaritmo do número correspondente a esse ponto. Por exemplo, entre os pontos 100 e 101 temos uma unidade da escala, de modo que o logaritmo de 101 na base 10 é igual a 1. Da mesma forma, entre os pontos 100 e 104 temos quatro unidades da escala, de modo que o logaritmo de 104 na base 10 é 4. Para os pontos à esquerda do ponto correspondente ao valor 100 associa-se um valor negativo para o logaritmo, de modo que o logaritmo de 10-3 na base 10 é -3, visto que o ponto correspondente a 10-3 dista de três unidades à esquerda do ponto 100. Na escala logarítmica, pode-se também, marcar valores com expoentes francionários. Por exemplo, o valor correspondente à raiz cúbica de 10, ou seja 101/3 é o ponto localizado a um terço (da unidade de escala) de 100, no intervalo entre 100 e 101. É claro que podemos construir a escala logarítmica em qualquer base. Por exemplo, a escala acima, cujos intervalos variam com 10n (base 10), na base 2 teria os intervalos variando com 2n.. Entretanto como a mudança de base pode ser feita de forma trivial, e no nosso dia a dia adotamos o sistema decimal, a escala logarítmica universalmente adotada para gráficos é a de base 10. No comércio é fácil encontrar papéis para gráficos com uma ou com duas escalas logarítmicas de base 10. Diferentemente das escalas milimetradas comuns, em que o espaçamento do reticulado é sempre constante, em escalas logarítmicas temos a marcação de números 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 em intervalos cada vez menores, de modo que as distâncias estejam relacionadas com o logaritmo dos números representados (veja figura 2). Nos papéis comerciais a escala vem dividida em intervalos iguais assinalados pelos números 10 ,11 ,12 , ... etc. (veja figura 2). As distâncias entre os números 10 e 11 e entre 11 e 12 são iguais, porque tais pontos correspondem aos valores 10n (n inteiro), de modo que a distância entre esses pontos é tomada como uma unidade da escala, como visto anteriormente. Podemos associar qualquer número que possa ser representado na forma 10n, com n inteiro positivo, negativo ou nulo, a qualquer dos números 1 apresentados na escala. Assim, se marcamos o valor 1 no pontoassinalado 10, então o número 2 subseqüente, corresponde ao valor 2, o 3 ao 3, e assim sucessivamente. Já o ponto assinalado 11 corresponde ao valor 10, e o próximo número 2 corresponde ao valor 20, o 3 ao 30 e 25 assim por diante. O ponto assinalado 12 deve corresponder ao valor 100, o número 2 subseqüente corresponde a 200, o 3 a 300, e assim por diante. Note que podemos transladar os valores o quanto quisermos. Podemos, por exemplo, tomar para o ponto 10 o valor 10-6. Neste caso o ponto 11 obrigatoriamente toma o valor 10-5, o ponto 12 toma o valor 10-4 e assim por diante. 3.4. Gráficos Log-Log e funções do tipo { y(x)=axn } Faz-se uso dos gráficos log-log quando desejamos analisar os parâmetros de uma relação do tipo y(x) = axn. Este tipo de relação descreve diversos fenômenos físicos. A relação entre o tempo de queda de um partícula partindo do repouso, no vácuo, e a distância percorrida é um exemplo típico. Neste caso, com y=distância e x=tempo de queda, temos a = 1/2 g e n = 2. Observe que, exceto para n=1, os gráficos bilineares dessas funções não são retas. Entretanto, é possível linearizar tal classe de funções fazendo-se uso da propriedade dos logaritmos. Se tomarmos o logaritmo em ambos os lados da expressão y x axn( ) obtemos, log( ( )) log( ) log( )y x a n x ou seja, a relação entre log y e log x é uma relação linear, onde n é a declividade da reta e log a é o ponto em que a reta corta o eixo das ordenadas. Ou, de outra forma, chamando: log( ) log( ) log( ) y Y a A x X podemos escrever a expressão anterior na forma Y A nX que é a equação de uma reta com declividade n e que intercepta o eixo Y no ponto A. Isto significa que, se na tabela abaixo, x e y mantém uma relação do tipo y = axn, então se tomarmos log x, log y e traçamos o gráfico de log y versus log x, devemos obter uma reta. 26 ---------------------------------------------------------------------------------- x y log x log y ---------------------------------------------------------------------------------- 0,5 1,5 -0,30 0,18 1,0 2,0 0,00 0,30 2,7 2,5 0,43 0,43 7,4 3,3 0,87 0,52 20,0 4,2 1,30 0,62 55,0 5,4 1,74 0,73 148,0 7,0 2,17 0,84 403,0 9,0 2,60 1,05 1097,0 11,5 3,04 1,06 ---------------------------------------------------------------------------------- Uma rápida análise da tabela mostra que log x varia linearmente com log y, pois a variação de log x se dá a um passo praticamente constante de aproxidamente 0,44 e log y também varia a um passo constante de 0,11. A declividade da reta é 0,11/0,44 = 0,25. O ponto em que a reta cruza o eixo das ordenadas (X=log(x)=0) é Y=0,3. Deste modo, temos que a relação é dada por log y=0, 300,25log x Aplicando a relação inversa obtém-se: y=2x0, 25 Para evitar cálculos adicionais dos logaritmos dos valores experimentais, utilizamos o papel log-log, que possui duas escalas logarítmicas. A escala logarítmica nos permite representar no gráfico os logaritmos de x e y diretamente sem que tenhamos que calculá- los. Neste tipo de papel a unidade de escala é 10 cm (confira, pois isto pode variar de fabricante para fabricante), e as subdivisões, que são espaçadas proporcionalmente ao logaritmo do número, nos permitem marcar diretamente os valores correspondentes a x e y. Figura 2 - Gráfico Log-Log dos dados da tabela da página anterior. As barras de erro, que não estão especificados na tabela, foram incluidas no gráfico para exemplificar as retas de máxima e mínima inclinações e dos pontos de corte a(max) e a(min) utilizados na determinação do erro na melhor estimativa da constante a (veja 3.5.1). Observe que o ponto de corte se dá no ponto x=1. Este gráfico foi gerado por computador e as escalas logarítmicas horizontal e vertical não guardam as mesmas proporções, como é o caso do papel log-log comercial. 27 3.5 Análise de Gráficos Log-Log Na análise de gráficos com escalas logarítmicas, devemos lembrar que as distâncias (medidas com régua comum) mantêm uma relação com os logaritmos dos números marcados, mas os valores lidos na escala são os próprios números. Assim,o valor da declividade n da reta é obtida através da divisão y/x, onde y e x são os comprimentos lidos diretamente de uma régua comum. Como esses comprimentos são arbitrariamente escolhidos (pode-se escolher qualquer x e medir o y correspondente), procure adotar para x um valor que facilite a divisão. Por exemplo, se escolhemos x = 10cm, o valor de y dividido por 10 já é o valor correspondente da declividade n. O valor da constante a, na relação y=axn, é obtida diretamente da leitura da escala logarítmica (veja o exemplo da figura 2). O valor corresponde ao ponto de interseção entre a reta e o eixo das ordenadas (na escala logarítmica o eixo das ordenadas corta a abscissa no ponto onde Log(x=1)=0). 3.5.1 Estimando Erros no expoente n e na constante a Os erros em n e em a podem ser estimados da mesma maneira discutida em 3.2.1, com a única ressalva de que o papel adotado no presente caso é o log-log. Assim, o erro no expoente, n, pode ser estimado pelas inclinações máxima e mínima no gráfico log-log, como mostrado na fig 2. Da mesma forma, o erro na constante a, a, pode ser estimado pelo pontos de corte ( com o ponto x=1) superior e inferior (veja a fig. 2) 3.6 Gráficos Mono-Log e funções exponenciais Gráficos com escalas mono-log são úteis para analisarmos funções exponenciais. Iniciaremos este estudo com função exponencial na base decimal, já que as escalas logarítmicas são normalmente apresentadas nesta base. Seja, então, uma função do tipo y x a bx( ) 10 , onde a e b são constantes. Calculando o logaritmo em ambos os membros da equação, temos: log logy a bx Se chamamos Y = log y, A = log a, temos a expressão: Y(x) = A + bx, 28 que é a equação de uma reta. Desse modo, se traçarmos o gráfico de Y em função de x devemos obter uma reta. É claro que se fizermos o mesmo para log y versus x em escala bilinear, devemos obter a mesma reta. A escolha do papel de gráfico mono-log tem a vantagem de se obter a reta diretamente sem se precisar calcular o log y para cada valor. O valor da constante A é obtido por leitura direta do ponto de interseção da reta com o eixo - y, e a declividade é obtida da relação b y y x x log log2 1 2 1 Note que log y 2 - log y 1 é igual à distância y, dada em cm, dividida por 9,06, que para os papéis mono-log comerciais é a equivalência entre uma unidade na escala logarítmica e a unidade de distância (confira se uma unidade da escala mede 9,06cm, pois este número pode variar de fabricante para fabricante), e (x 2 - x 1 ), é calculada diretamente da diferença entre os valores x 2 e x 1 (e não o valor medido com a régua). Com os valores das duas constantes a e b, determinados numericamente, a função exponencial y x a bx( ) 10 fica completamente determinada. Vários fenômenos físicos, no entanto, são descritos por funções exponenciais na base neperiana, e = 2,718281828... (2,718), ou seja, y x=a ebx . Apesar da base não ser 10, podemos utilizar o papel mono-log (cuja base é 10), para linearizar a curva. Tomando o logaritmo decimal de ambos os membros temos log y=log alog ebx =log abx log e Chamando Y=log y , A=log a e B=b l og e temos Y=ABx Então a é tirado por leitura direta, como anteriormente, e b é dado por b= log y2−log y1 x2− x1 log e Note que log e=0, 434294481 . 29 Pré-Relatório I : Medidas e Erros Procure desenvolver as questões abaixo estudando o texto sobre Erros e Algarismos significativos no início desta apostila. 1) O que é discrepância ? 2) O que significa dizer que a discrepância entre duas grandezas não é significante? 3) O que é inacurácia? Quais as suas principais causas? 4) Faça a distinção entre inacurácia e imprecisão?5) O que caracteriza um erro sistemático? 6) Segundo a regra adotada neste curso, indique o erro instrumental de: a) um dinamômetro cuja menor divisão mede 0,1N b) um dinamômetro cuja menor divisão mede 0,05N c) uma régua milimetrada d) um voltímetro digital cuja menor divisão seja 1 milivolt. 8) Qual a origem dos erros aleatórios? 9) Qual a expressão matemática que, do ponto de vista estatístico, melhor estima o erro aleatório em uma medida repetida N vezes? 10) Considerando que x1 = 5,3, x2 = 5,2, x3 = 5,4, x4 = 5,6, x5 = 5,3 correspondem a cinco medidas feitas de uma grandeza x qualquer, cada medida com um erro instrumental de 0,5, aplique a expressão descrita no item anterior para calcular o erro aleatório (você deve obter 0,1516..., no entanto, como se deve relatar o erro com um algarismo significativo escreve-se apenas 0,2!). 11) Calcule o valor médio dos dados fornecidos no item 10). Como escrever o valor final da medida? Que erro você deve relatar, o erro instrumental ou aleatório? Por quê? 12) E se as medidas de x fossem escritas da seguinte forma: x1 = 5,30, x2 = 5,20, x3 = 5,40, x4 = 5,60, x5 = 5,30, todas com erro instrumental de 0,05, o valor do erro aleatório 30 seria diferente do obtido no item 10)? Entretanto, para o valor final da medida, que erro você deve relatar, o instrumental ou o aleatório? Explique. Como parte da atividade que precede o experimento, é necessário que você leia com atenção o roteiro do experimento I. Verifique se as perguntas e orientações contidas no roteiro fazem sentido para você. Se isto não acontecer procure esclarecê-las prontamente para que não venham a perturbar o andamento das medidas. Um estudo prévio do roteiro é fundamental para realizar as suas atividades no laboratório. Procure fazer um planejamento, ou um sumário, das atividades que você deve desenvolver no laboratório. 31 Experimento I - Medidas e Erros Introdução Será que alguma medida é exata? Como você viu no tópico "Medidas, Erros e Algarismos Significativos", nenhuma medida possui exatidão absoluta. Como fazer então para obter um conhecimento mais profundo, ou seja, quantitativo, sobre a natureza, se não conseguimos chegar a um acordo sobre uma dada medida? A resposta é a seguinte: não é necessário ter exatidão absoluta para que saibamos descrever determinados fenômenos, mas sim, é necessário ter exatidão suficiente e reconhecer a partir de onde ela se torna inexata. Se você souber estimar a margem de incerteza e identificar a sua origem, então seus resultados podem se encontrar de acordo com o de outros, desde que os resultados sejam iguais dentro das respectivas margens de incerteza, ou margem de erro. É importante que você leia a discussão contida no referido tópico. Objetivos Neste experimento você: - verá exemplos que confirmam a afirmativa de que a toda medida está associada um grau de incerteza; - aprenderá a distingüir os diferentes tipos de erros, em particular, o erro instrumental e o aleatório; - utilizará as regras da teoria de erros e as de algarismos significativos no tratamento de dados; - verificará que a incerteza associada a uma medida pode ser reduzida aumentando-se a precisão do instrumento de medida; - obterá indiretamente a medida de uma grandeza a partir de outras e verá como os erros associados a elas propagam-se nesse processo. Procedimento 32 Antes de iniciar o experimento vale aqui um lembrete: não se esqueça de anotar em seu livro de atas tudo de relevante que estiver fazendo. Responda as questões e realize os procedimentos indicados abaixo. Leia as informações sobre o Micrômetro e o Paquímetro anexadas ao final deste roteiro; caso tenha dúvidas, solicite o auxílio do monitor ou do professor para entender como usar estes instrumentos de medida. Questão 1. Quais são os erros instrumentais de cada um dos instrumentos de medida que você dispõe? Vai aqui mais uma pergunta para o seu grupo: Questão 2. Se vocês fizerem uma só medida de uma das dimensões dos objetos que lhes foram entregues, vocês terão a certeza de que se fizerem uma segunda medida, ela vai ser exatamente igual à primeira? O que pensar de uma terceira, ou de uma quarta medida? Que tal experimentar? Etapa 1. Pegue o cilindro oco e meça algumas vezes (quantas vezes? Decida!) o seu diâmetro interno com a régua milimetrada. É sempre útil registrar os seus dados em tabelas. Questão 3. O processo de medida envolve pegar o tubo e colocar a régua sobre ele.Não é o mesmo que deixar a régua sobre ele e fazer a leitura várias vezes (será que não? por quê?). Repita o procedimento e meça o diâmetro com o paquímetro e o micrômetro. Q uestão 4 . Há variação entre as medidas obtidas com os diferentes instrumentos? Verifique! Apenas observando os dados contidos nas suas tabelas (sem nada calcular) você poderia estimar qual o valor da variação? Procure quantificá-las. O valor médio das medidas feitas com os diferentes instrumentos é a mesma? Questão 5. Existem erros de acurácia? E erros aleatórios? Em quais dessas medidas devemos acreditar? Verifique se você está usando o número correto de algarismos significativos. Calcule o Desvio Padrão para as medidas feitas com cada um dos instrumentos utilizados, usando para isso a fórmula: s=∑ i xi−x 2N−1 33 onde, xi são os valores de cada uma das medidas, N é o número total de medidas, x é o valor médio das medidas, e é o chamado desvio padrão. O desvio padrão corresponde à expressão que melhor quantifica a margem de erro do ponto de vista estatístico, isto é, quando consideramos que as variações nas medidas são de natureza puramente aleatória. Questão 6. Como o valor do erro calculado se compara às suas estimativas baseadas puramente na observação das tabelas? Etapa 2 Vejamos agora o que acontece quando temos que realizar uma medida que se compõe de duas ou mais outras medidas independentes. Por exemplo, como determinar a densidade de uma folha de papel? Para determinar a densidade você precisa encontrar a massa e o volume da folha ( = m/V). Você precisará medir as dimensões da folha. Com o equipamento que você possui, encontre uma maneira de medir essas dimensões. O volume é obtido multiplicando-se cada uma das dimensões. Questão 7. Se você conhece o erro absoluto (ou o relativo) em cada uma das dimensões, como é que se determina o erro no volume? Utilize a regra de propagação de erros para o produto simples (pág. 20): Questão 8. Qual seria o erro cometido ao se calcular a densidade? Use a regra para a divisão (pág. 21). Note que os erros se propagam, ou seja, grandezas calculadas a partir de outras que possuem incertezas serão também incertas, mas de quanto elas serão incertas dependerá da forma como elas estão relacionadas entre si, ou seja, da relação funcional entre elas. Anote todas as suas observações, analise seus dados (as perguntas feitas nesse roteiro ajudam a cobrir alguns tópicos dessa análise) e conclua o relatório com um sumário das suas observações mais importantes, procurando contar o que você aprendeu, o que deixou de aprender, os pontos fracos e fortes deste experimento, ou como você gostaria de vê-lo melhorado. 34 Micrômetro O micrômetro, mostrado na figura abaixo, é um instrumento de medida construído de maneira a determinar a distância entre dois pontos; sendo um fixo, no extremo da garra fixa "A'' e um móvel, no extremo da garra móvel "B'', que pode ser deslocado por meio de um parafuso conhecido como parafuso micrométrico. A rosca desse parafuso tem passo constante. A maioria dos micrômetros que temos no laboratório tem passo de 0,5mm, isto é, a cada volta completa do parafuso ele avança (ou retrocede) 0,5mm, de modo que a variação da distância entre os dois pontos é de 0,5mm por volta do parafuso.Alguns outros micrômetros que dispomos no laboratório tem parafusos micrométricos com passo de 1mm. O número de voltas completas do parafuso micrométrico, e conseqüentemente o deslocamento da garra móvel, pode ser determinado através da escala linear "D''. A fração de cada volta do parafuso pode ser determinada através da escala circular "E'' presa ao parafuso e subdividida em 50 partes iguais (ou 100 partes para o micrômetros com passo de 1 mm) de modo que se pode detetar variações menores que um cinqüenta-avos de volta (ou menos), o que corresponde a distâncias da ordem de 0,01mm (10 micras) ou menos, dependendo das subdivisões na escala. Para deslocamento rápido da garra fixa, pode-se girar o tambor "F'' a partir de sua parte mais rugosa mas para medir objetos deve-se girar a catraca "G'', no extremo do micrômentro, de modo a exercer uma pressão adequada entre as garras e o objeto sem que haja deformação da peça ou do próprio micrômetro. Em micrômetros profissionais existem outros recursos tais como a trava "C'', que permite fixar a posição da garra móvel, ou isolante térmico que protege o arco do micrômetro de modo a evitar a dilatação térmica do metal em contato com a mão. Paquímetro 35 O paquímetro, mostrado na figura abaixo, é, assim com o micrômetro, um instrumento projetado para medir as dimensões de um objeto, tanto em centímetros, com auxílio da escala "A'', quanto em polegadas, através da escala "B''. A leitura das escalas é realizada com auxílio do nônio "C'' e "D'', que permite uma medida mais precisa do que a leitura direta em uma régua, como veremos a seguir. As medidas externas de um objeto são determinadas, com o auxílio das garras inferiores "E'', a largura de fendas e reentrâncias, são determinadas com auxilio das garras superiores "F'' e a profundidade das fendas são medidas usando-se a lâmina "G''. A trava "H'' permite fixar a parte móvel do paquímetro para uma medida mais acurada. 36 A menor variação de distância possível de ser detetada com o paquímetro que dispomos no laboratório é da ordem de 5 centésimos de milímetro. Isto é possível através de uma escala auxiliar conhecida como nônio (ou escala vernier), inventada no século XVI pelo matemático português Pedro Nunes e difundida pela Europa pelo geômetra francês Pierre Vernier por volta de 1631. Essa escala auxiliar, acoplada à escala principal, é construida de tal maneira que uma divisão da escala auxiliar seja uma fração da escala principal. Por exemplo, na figura 3 a escala auxiliar (escala Vernier) tem divisões igual a nove décimos da escala principal, de modo que dez divisões da escala auxiliar coresponde a mesma distância dada por nove divisões da escala principal. Sendo assim, se um traço da escala principal coicide com um traço da escala auxiliar, o traço adjacente da escala vernier encontra-se a um décimo de distância do próximo traço da escala principal. O traço seguinte da escala vernier encontra-se a dois décimos de distância do traço seguinte da escala principal e assim sucessivamente. Ou seja, a cada passo a distância entre os traços das duas escalas defasam de um décimo de distância. Essa característica da escala vernier faz com que o mesmo seja útil para estimar frações de valores da menor divisão da escala principal como veremos a seguir. 37 FIGURA 4 Considere o zero do nônio como um ponteiro para a escala principal, de modo que se esse traço do nônio se posiciona entre o primeiro e o segundo traço da escala principal, como mostra a figura 4, o valor indicado é igual a uma unidade mais a fração correspondente à distância excedida pelo cursor sobre a escala principal. A forma de estimar esta fração usando o nônio é bastante simples; basta procurar identificar qual traço da escala vernier coicide (ou o que mais se aproxima) de um traço da escala principal (que na figura corresponde ao sexto traço da escala vernier) de modo que a fração correspondente à distância excedida pelo cursor é de seis décimos da unidade da escala principal. Isso porque a cada traço subseqüente ao zero do nônio corresponde a uma defasagem de um décimo. Portanto, o tamanho da peça neste exemplo é 1,6 unidades. A escala Vernier dos paquímetros que dispomos no laboratório possui 20 divisões: 10 divisões numeradas de 1 a 10 e outras 10 divisões intermediárias localizadas entre aquelas numeradas. Assim, cada traço da escala Vernier corresponde a uma distância de 0,05 unidades da escala principal, ou seja, milímetros. Assim o paquímetro possui uma precisão de 0,05mm= 50m. 38 EXPERIÊNCIA 2 EQUILÍBRIO DE CORPOS RÍGIDOS 1. INTRODUÇÃO Um dos pontos fundamentais em projetos de engenharia é a construção de estruturas suficientemente rígidas, capazes de se manter inalteradas sob a ação de forças que nelas atuam. Por exemplo, os pilares de uma ponte devem ser suficientemente fortes para não desmoronar sob o peso da ponte e o tráfego sobre ela. Da mesma forma, as fundações de um edifício devem ser capazes de sustentar toda a carga prevista, etc. A contribuição de um curso elementar de física em tais projetos, é a possibilidade de se fazer previsões teóricas das forças exercidas pelos corpos sobre a base de sustentação, a partir de leis fundamentais da física. 2. OBJETIVOS Ao final da experiência, o aluno deverá ser capaz de enunciar as condições de equilíbrio de um corpo rígido, definir torque ou momento de uma força e explicar os efeitos do torque sobre um corpo. A partir de dados experimentais, o aluno deverá dizer se as condições de equilíbrio foram satisfeitas. 3. RESUMO TEÓRICO O movimento de um corpo pode ser estudado como sendo composto de um movimento de rotação e de um movimento de translação. Quando uma única força atua sobre um corpo, podemos ter uma mudança tanto no seu movimento de translação, quanto no seu movimento de translação e de rotação simultaneamente. Entretanto, quando várias forças atuam sobre um corpo, podemos ter situações em que não há mudança nem em seu movimento de translação e nem em seu movimento de rotação. Em tal situação dizemos que o corpo está em equilíbrio. 3.1. Primeira condição de equilíbrio 39 Se, sobre um ponto material, inicialmente em repouso, aplicamos duas forças de igual intensidade, mas de sentidos opostos, como na figura abaixo, o ponto material permanece em repouso. F2 F1 É o que se observa em um "cabo de guerra" quando as forças dos oponentes são iguais em módulo. Matematicamente, dizemos que a somatória das forças (ou a força resultante) é nula. Para perceber essa afirmação, podemos fazer a soma vetorial dos dois vetores pelo método gráfico. Para somar F1 com F2 , devemos fazer com que a origem do vetor F2 coincida com a extremidade do vetor F1 como na figura abaixo, F1 F2 e assumir como vetor resultante, a seta que une a origem do vetor F1 com a extremidade do vetor F2 . Note que, no exemplo, a extremidade de F2 coincide com a origem de F1 , portanto o vetor resultante tem módulo igual a zero (vetor nulo). Outra forma de ver que o vetor resultante é nulo, é através do método analítico, que consiste em decompor os vetores nos eixos cartesianos. Nesse método, a origem de cada vetor deve ser posicionada na origem do sistema de coordenadas. No nosso caso, podemos tomar os dois vetores sobre o eixo x, F 2 F 1 - F 0 F x de modo que a única componente do vetor F1 diferente de zero é a componente x, que é igual ao seu módulo. Da mesma forma, a única componente do vetor F2 diferente de zero é também a componente x. Porém, o valor dessa componente é igual ao valor negativo do módulo do vetor, isto porque a projeção do vetor situa-se do lado negativo do eixo x. 40 As componentes do vetor resultante é a soma doscomponentes dos vetores em cada eixo. Assim, retornando ao nosso exemplo, a componente x do vetor resultante é F + (-F) = 0 as demais componentes do vetor resultante são zero, por construção, de modo que o vetor resultante é o vetor com todas as componentes nulas, ou seja, é o vetor nulo. De uma forma geral, podemos dizer que um ponto material permanece em repouso desde que a resultante das forças que nele atuam seja nula. Esta é a primeira condição de equilíbrio. 3.2. Segunda Condição de Equilíbrio O movimento dos corpos não só depende da soma das forças que nele atuam, mas depende também do ponto de aplicação das forças. Tome como exemplo as duas forças que atuam sobre a haste na figura a seguir: F1 F 2 Mesmo considerando que o módulo das forças F1 e F2 são iguais de modo a satisfazer a primeira condição de equilíbrio, a haste não está em equilíbrio, visto que ela tende a girar, até que F1 e F2 sejam colineares. F 2 F 1 41 Para melhor entender o problema das rotações, considere uma haste de massa desprezível, sobre um apoio, 0, e mantida na horizontal sob a ação das forças F 1 e F 2 como mostra a figura abaixo. F 1 F 2 Se o ponto de apoio localiza-se exatamente no meio da haste, então para manter o sistema em equilíbrio, é necessário que a intensidade da força F 1 seja igual a intensidade da força F 2 . Note que tal imposição não é decorrência da primeira condição de equilíbrio. Pela primeira condição devemos ter a resultante das forças que atuam sobre a haste seja igual a zero; entretanto, perceba que tanto F 1 quanto F 2 estão orientadas para baixo, de modo que a soma das duas forças não pode ser zero. O que equilibra essas duas forças e faz com que a primeira condição seja satisfeita é a força de ação normal que o apoio exerce sobre a haste. N F1 F2 Assim, temos que o módulo da força normal, N é igual a N = F1 + F2 Note que se o ponto de apoio for deslocado para a esquerda, de modo a se situar a L/3 da extremidade à esquerda e a 2L/3 da extremidade à direita, 42 F1 F2 L/3 2L/3 para manter a haste em equilíbrio, é necessário que o módulo da força F 1 seja bem maior do que o módulo da força F 2 . De fato, o módulo de F 1 tem que ser o dobro do módulo da força F 2 . Por outro lado, se o ponto de apoio fosse colocado a L/4 da extremidade à esquerda, e consequentemente a 3L/4 da extremidade à direita, então o módulo de F 1 deveria ser o triplo do módulo de F 2 . Podemos notar que o produto F1L1 deve ser sempre igual ao produto F2L2 F1 F2 L1 L2 Definimos o produto da força pela distância perpendicular, do ponto de referência à linha de ação da força como sendo o torque ou momento da força em relação ao ponto de referência. No caso de se ter apenas forças atuando em um único plano, (o plano da folha), podemos definir como positivo todo torque que tende a girar o sistema no sentido anti-horário em relação a um eixo de referência, e como negativo, todo torque que tende a girar o sistema no sentido horário em relação a um eixo de referência. Desse modo, no exemplo anterior, podemos dizer que o torque da força F , em relação ao ponto de apoio é positivo e igual a L1 e o torque da força F 2 , em relação ao ponto de apoio é negativo e igua a -F2 L2. Como o produto F1 L1 deve ser igual ao produto F2 L2 a fim de que a haste 43 esteja em equilíbrio, então podemos afirmar que a soma dos torques das forças F 1 e F 2 em relação ao ponto de apoio é zero. De fato, a segunda condição de equilíbrio nos garante que para um corpo não girar, a somatória dos torques em relação a qualquer eixo deve ser igual a zero. 4. APARATO EXPERIMENTAL Nesta experiência iremos fazer uso de uma régua de madeira, dois dinamômetros, fios suspensos no teto, ganchos de arame rígido e um peso móvel. 5. PROCEDIMENTO a) Monte o sistema mostrado na figura abaixo. b) Zere as escalas dos dois dinamômetros. c) Pendure o peso no gancho móvel. d) Desloque a posição do peso de 10 em 10 cm e a cada nova posição anote os valores indicados em cada um dos dinamômetros. e) Desmonte o sistema e determine o valor do peso móvel. f) Faça o gráfico dos valores das forças indicadas em cada dinamômetro em função da posição do peso na régua. g) Verifique se a soma das duas forças é sempre constante e compare com o peso do objeto pendurado. Comente em seu relatório o que você esperava obter teoricamente. h) Calcule o módulo do torque das forças exercidas pelos dois suspensórios, em relação ao ponto de aplicação do peso móvel. Verifique se os torques são iguais a cada nova posição do peso e comente em seu relatório o que você esperava obter. i) Calcule o torque do peso móvel em relação a uma das extremidades e o torque da força exercida pelo suspensório oposto à essa mesma extremidade. Verifique se os valores dos torques calculados é o mesmo a cada nova posição. Comente o que você esperava obter teoricamente. 44 Dinamômetro Dinamômetro Gancho Régua 45 EXPERIÊNCIA 3 LEI DO RESFRIAMENTO DE NEWTON 1. INTRODUÇÃO Vimos na parte teórica deste curso que a atividade radiativa de um material decai exponencialmente com o tempo. Veremos nesta experiência que tal forma de decaimento não é exclusiva de atividade radiativa; podemos encontrá-la em um número muito grande de aplicações; dentre elas, a lei do resfriamento de Newton. 2. OBJETIVOS Esta prática tem a finalidade de exercitar a análise de relações exponenciais entre grandezas físicas. Após o treinamento, o aluno deverá estar apto a explicar a melhor forma de coletar dados para verificar se uma dada relação entre duas grandezas é exponencial por meio de análise de tabelas. Uma vez identificado que a relação é exponencial, o aluno deverá ser capaz de expressá-la analiticamente, simplesmente analisando a tabela. O aluno também deverá ser capaz de identificar relações exponenciais pela simples observação de gráfico mono-log, bem como expressá-la analiticamente através de análise do gráfico. 3. RESUMO TEÓRICO Se temos um objeto ligeiramente mais quente do que o meio ambiente, então pela lei do resfriamento de Newton, devemos ter: t = to exp (-k t) onde t é a diferença de temperatura entre o objeto e o meio ambiente, to é a diferença de temperatura entre o objeto e o meio ambiente no tempo igual a zero, 46 exp representa a função exponencial na base neperiana, k é uma constante que depende do objeto em estudo, e t é o tempo transcorrido. Assim, se temos os seguintes dados da tabela abaixo relativos ao refriamento de um objeto em função do tempo, t (s) 00 10 20 30 50 80 130 180 280 T(oC) 66,4 63,9 61,6 59,4 55,4 50,3 43,7 38,8 32,7 e sabendo que a temperatura ambiente era de 26,0 oC, para verificar a lei do resfriamento de Newton, precisamos calcular primeiro, a diferença de temperatura entre o objeto e o meio ambiente para depois analisar os resultados ou seja, precisamos da tabela t (s) 00 10 20 30 50 80 130 180 280 T(oC) 40,4 37,9 35,6 33,4 29,4 24,3 17,7 12,8 6,7 Note que se tivéssemos todos os intervalos de tempo constantes, seria fácil verificar se a relação entre as grandezas tempo e temperatura é realmente exponencial (v. apostila crescimento e decrescimento exponencial), ou seja que a lei de Newton é realmente válida para este caso. Tendo em vista a escolha pouco adequada para realizarmos a análise de tabelas, mais fácil é verificar a relação existente entre as grandezas através de um gráfico mono-log. Em nossa experiência também devemos tomar alguns cuidados antes de analisar os resultados obtidos. Em primeiro lugar, devemos lembrar que a lei do refriamento de Newton refere-se à diferença entre a temperatura do objeto e a temperatura do meio ambiente, de modo que não podemos deixar de medir a temperatura ambiente para
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