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.! I I () 1(11~1·11 1 \tll N~ 111•11' I 1111 i\t•llll Os mecanismos de defoan A deternúnação dos mecanismo!> dt: dl'll"'·' 111" I''''''" • •h •, dt I< o r\~ h tLh LOO~ titui uma fase de peso na apreciação Jo lumHut.tlltt'ttl" l' \h l'""' do ~U J l' tto. Permite determinar a flexibilidade ou a ngtdl't d.t o1 ~·••ttttf.l\.111 ddl'IIStva, as suas qualidades específicas e o seu carácter opcrantl', qul' pt•rnutclll utn dc!>im pedimento parcial ou ineficaz. A qualificação do sistema defensivo, com referência aos modelos psicopa tológicos ou nosog ráficos utilizados pelo clínico, representa um dos eixos essenciais da avaliação diagnóstica: esta apoia-se no pôr em evidência os mecanismos de defesa e o registo conflitual, cuja articulação dá conta da pro blemática. Separar os mecanismos de defesa do que os levou a actuar releva de um procedimento arbitrário: meca nismos de defesa relativamente semelhantes to mam significados diferentes segundo o contexto conflitual em que se integram. Recordemos rapidamente a definição proposta pelo Vocabulaire de la Psychanalyse (p. 234): Mecani~mo de dcfc:sa: • Difcrcmcs tipos de operações nas quais se pode exprimir a defesa. Os mecan ismos preponderamcs siio difcrenrcs segundo o tipo de afecção encarada, segundo a fase gen~tica considerada, segundo o grau de ela boraçáo do conflito defensivo, etc. Concordamos em que os mecanismos de defesa são utilizados pelo Ego, mantendo se em aberto a questão teórica de snbcr se a sua utilização pressupõe sempre a existência de um Ego organiwdo <1ue lhe sirvo de suporte.» A definição de LAPLANCHE c PONTALIS foi discutida por D. WIDLOCHER (1971 -1972). Este autor verifica que este conceito, tão largamente difundido na psi cologia normal c patológica, de que se faz um uso quotidiano, tanto na psico logia como na psiquiatria e, em particular, na situação de teste projectivos, está, de facto, mal esclarecido na teoria psicanalítica. D. WLDLOCHER acha de masiado vaga a definição d o Vocabulário de Psicanálise e propõe esta: «A defesa é o conjunto de operações cuja finalidade é reduzir um conflito intrapsí quico, ao tornar inacessível à experiência consciente um dos elementos do conflito. Os meca1úsmos de defesa serão os diferentes tipos de operações nos quais a defesa se pode exprimir, quer dizer, as formas clinicas dessas opera ções defensivas. >> No trabalho de análise e de qualificação da organização defensiva, através dos protocolos de Rorschach, distinguimos os procedimentos de elaboração do discurso e os mecanismos de defesa que os sustêm, ou para que são capazes de remeter. A noção «procedimento», introduzida por Vica SHENTOUBJ para o estudo dos protocolos de TAT, revelou-se particularmente fecunda. Permite um exame minucioso e subtil do discurso manifcsLO do sujeito, ao evidenciar as sequên cias que comportam operações sign ificantes, um pouco como procederíamos 1Ver na bibliografia as refcrênci:-~~ .11" orugm ,)c V. !.t tFNTOUB e R. DEBRAY. "'' olt lttll "'' ''''' '''li/'" f, • • ~ pt't.·•~ 'l'p.~t.HI.I~ .~:u> de scguic.la ajustadas, '"''''' • uh t • 1pu · ~~til"' 1 'lw..u,,to t tll rt dn, l' a -.ua reconstrução, em parti UII.II • 111 1c '"'"" ,h• IIH't.tni,ulo~ de defesa. A Ji~tinção entre procedimentos e llH t ' '"' tllll~ d,• dllt''<l c, por vezes, delicada, na medida em que algumas ~.:ond•·"~"'''l'' Jc: procedimentos no seio de uma palavra, ou de uma sequência, revd.tm, Jc •mediam, a operação defensiva como tal. Aliás, é o agrupamento de vários procedimentos presentes em diferentes momentos que autoriza a referência a um dado mecanismo. No Rorschach, a tradução defensiva aparece, muitas vezes, ao nível das corações que traduzem a codificação do conteúdo manifesto. A análise dos meca nismos de defesa é simultaneamente mais fácil e mais difícil: mais fácil, na medida em que o desvio entre procedimentos c mecanismos de defesa se determina mais claramente, e em que o trabalho de transposição se impõe com maior rigor; mais difícil, porque é necessário aprufuuuar consideravelmente o estudo dos factores, para neles descobrir as operações defensivas que aí se escondem. São possíveis muitas formas de abordagem; podemos partir dos mecanis mos de defesa e classificá-los por categorias: defesas neuróticas, defesas psicó ticas, defesas de carácter. Estas modalidades defensivas sustêm as principais organizações psicopatológicas: nos protocolos, a investigação foca liza-se em elementos significativos, que permitem dar conta de urn outro ripo de defesa. Um out ro processo consiste em ordenar os procedimentos utilizados na elaboração do discurso, sem lhes dar, de imediato, uma qualificação nosográfica ou psicopatológica determinante, reservando esta apreciação diagnóstica para a síntese dos dados. Foi esta a orientação escolhida inicialmente por V. SHENTOUB, para a realização da ficha de análise do TAT, apesar de as referên cias às grandes entidades psicopatológicas pesarem na classificação das diver sas categorias de procedimentos. Esta influência parece-nos, aliás, inevitável. Os procedimentos da série «rigidez,. foram inicialmente inspirados pelos me canismos obsessivos, os procedimentos da série «labilidade>> pelos mecanis mos histéricos, os procedimentos da série «inibição» pelos mecanismos fóbi cos e os procedimentos que relevam de emergências em processos primários pelo modo de funcionamento psicótico. No decurso dos últimos quinze anos, o aperfeiçoamento e desenvolvimento das categorias reconheceu-se como necessário, tendo em conta as aberturas da psicopatología e a atenção dada aos modos de funcionamento psíquico tais como os funcionamentos limites e narcísicos (F. BRELET), bem como aos que são específicos dos doentes somáticos (R. D EBRAY). Distinguimos guatro grandes categorias de procedimentos de elaboração do discurso: rigidez, labilidade, inibição, processos primários. Esta primeira diferenciação permite definir e identificar o leque das condutas mobilizadas no Rorschach e abre-se numa interpretação dos mecanismos de defesa em ter mos psicopatológicos (neurose obsessiva, histeria, funcionamentos narcísicos, funcionamentos limites, psicoses). }. / ( I () fl <lll~~IIM 11 NA ( 11"'11 A 1>1' 4\ 1111 111 Estes diferentes mcc,wis mos v.to ll.tdlltll ··• , IIHI'HII•• h" h ,,tlldVl''~ d1• trt•s tipos de dados. Os procedimento~ ptHI<-11t , • 11111 • I• 1111 , 'JI·"• • • 1: • 1) quer fora da resposta cotável, thl vct h .tht.ll, .ll t u11 111 \ c..ll .lc. t l' rt'>liCa s qualitativas não verbais que acompanham a pwdu~ ,111 ~ ~ ~· nll, t g~· ~~ ~; . 2) quer na própria resposta, no seio de uma SellliCIILI.t .t:.:.m.l<lliV:1 csllgma tizada por uma cotação; . . 3) quer, por fim, através de um ou vários factores combmados CUJOagru pamento permite determinar um mecanismo de defesa específico. Eis três exemplos que ilustram estas três situações. - Primeira eventualidade: por exemplo, aparecimento frequente do tipo de comentário «Não sei ... não vejo realmente o que pode ser, não, realmente isto não me diz nada». A insistência sobre o não-saber dá conta, nos protocolos citados, de mecanismos de recalcamento, essencialmente manifestos na verbalização. -Segunda eventualidade: por exemplo, no cartão III_sur~e «Dois_senhores que se cumprimentam, têm um ar educado». Logo a pn.me1ra le1tura de~ cobrimos nesta resposta uma reversão da pulsão agress1va no seu contra rio {formação reactiva). -Terceira eventualidade: o exemplo é quantitativo. Confrontados com um F% =80% colocamos a hipótese (tendo em conta a sua associação com um G% ele~ado, um TRI introversivo e um F+%= 70%) da utilização de procedimentos rígidos, que testemunham um recurso à realidade formal exterior para lutar contra a emergência das preocupações internas e, em particular, dos afectos (mecanismo de isolamento provável).Os procedimentos rígidos São agrupados nesta categoria todas as manifestações qu: dão con~a. da_ utili zação dos dados perceptivos do material, quer para ~v1tar ou nu~1~1zar o aparecimento de elementos em relação com a realidade mterna do suJeitO quer para lhe permitir exprimir-se graças a uma estratégia de justificação e de raci onalização «objectivantes». Os procedimentos rígidos Manifestações fora das respostas Jntegramos aqui todas as reacçõcs qualitativ~s, ver~ais ou não, ~ue traduzem a preocupação do sujeito em ajustar ao máx1mo a tmagem assoctada que for nece à realidade perceptiva do cartão. - As precauções verbais «Isto poderia ser»; •Se olharmos com muira a tenção ... • ; •Rigorosamente, poder-se-ia ver aqui ... • ; erc. - A dúlltda «Niio tenho o certeza que seja isto efectivarnenre ... »; «Não é exaccnrnente assim »; «Cla ro, pode r-se-ia ver tarnbérn ... • - As ruminações, muitas vezes próximas da dúvida: «Se tirarmos a parte esquerda, e ao o lharmos sobretudo a parte central, poder-se-ia talvez ve r com rigor. .. mas isso não é exactamenre ... » Estes três procedimentos dão à verbalização um aspecto muito específico, pesado e embaraçado, caracterizado pelos ir-e-vir, a sobreposição e a ausência de posição clara e conferem à produção uma abundância enganadora, na me dida em que o aspecto denso dos comentários esconde o evitamento das repre sentações significativas para o sujeito. - A denegação aparece também na verbalização. Refere-se, ao nível do discurso manifesto, ao aspecto externo da percepção (e não à representa ção associada): <<Não é claro>>; «Não vejo bem». -O apego aos pormenores pode traduzir-se nos comentários, independen temente do modo de apreensão: o sujeito descreve minuciosamente as diferentes partes do engrama percebido, mesmo que este seja apreendido globalmente. -As precisões numéricas são raras, mas podem aparecer na discriminação escrupulosa de alguns elementos do material. -As formações reactivas, por fim, para além do «Obrigado» no princípio do cartão, surgem em comentários do tipo «Está muito bem desenhado, muito ordenado, muito claro... » Respostas ou sequências de respostas Esta categoria compreende as manifestações defensivas que se evidenciam no seio de uma resposta ou de uma sequências de respostas. Aparecem os proce dimentos, mas também as combinações de procedimentos, cuja condensação revela a operação defensiva propriamente dita, no sentido de que aí se desven dam num duplo movimento, a representação e/ou o afecto e a defesa mobiliza da pelo seu encontro. - Denegação: I «Isto não é, apesar de tudo, uma águia ... não, não é uma ave de rapina, qualquer coisa menos agressiva ... - Formação reactiva: 11 1 «Dois mordomos que se cumprimentam ... - Dúvida traduzida principalmente pela hesitação entre duas imagens, ou entre duas interpretações no seio de uma mesma resposta: 11 1 «Duas personagens ... não sei se são dois homens ou duas mulheres ... o nariz faria pensar em personagens do sexo masculino, mas ... eles trazem sapatos de tacão alto ... portanto seriam mulheres ... 11 2/o'/ ll lt11ilol IM• 11 N,\ I 111'11 A'''' \ititljll Factores especificas - A descriçim, a foca hzac;..HI IH I'> liiiiH 11111 ''• L 11 1111 1 ' 11 " H 111 1 \t', .ll llll.l de tudo, pela elevação Jo f % ( lll''>H'l,l'•ll '1111111111 11 h~''u), qllt d.t U)ll (,l de uma formalização exccs<>iva de que o pro\t•d uut tlln .,, 1:111111c c, IIIUit.l'; vezes, corolário. -A expressão de afectos a mínima: o tipo de re!>sonânu.t llllllll<l coan.:raJo ou introversivo e as respO!>tas sensoriais pouco numerosa:. são testcmu nho da luta contra a emergência das emoções e dos afectos; -A dúvida traduz-se nesta categoria pela elevação do número de respostas F±, que mostram o receio do compromisso c da tom ada de posição clara e determinada. - A preocupação de domfnio do material no que diz respeito às configura ções perceptivas evidencia a necess idade de manter os desejos e de con trola r as eme rgênc1as puls1onais conside radas perigosas. Na centraliza ção da realidade externa, é a contenção dos movimentos internos que é procurada, em particular no es forço de apreender o ma terial global mente (aumento do G%). - O apego aos pormenores, já ex plicitado na verbalização, confi rma-se na ut ilização do D e sob retudo do Dd, e toma o mesmo significad o do acor da do ao G% elevado (procura de domínio do material na sua exter nalid ade, que corresponde ao esfo rço de controlo dos desejos). - A in telectualização apoia-se na combinação de vários factores: presença de G organizados, determinantes cinestésicos, associados eventualm ente a conteúdos específicos, artísticos. -A negação das ligações, quer entre representação e afectos, que se traduz pelo aumento do F% e pela escassez dos determinan tes sensoriais (IC mui to baixo), quer entre duas representações, que se traduz pela frag mentação das respostas apreendidas em O ou Dd, em que se acentua a ausência de relação entre as sucessivas respostas. Falamos aqui de isola mento perceptivo: «Dois animais, dois cãesque... não. não vejo .....;•O vermelho, manchas de... de sangue... É de restabelecer a ligação entre a evocação de animais e as manchas de sangue: o corte entre as imagens foi imposto pela necessidade de não evocar a relação, agressiva em particular, entre os dois protagonistas. - As fo rmações reactiuas através da multipl icação da p resença frequente de respostas FC1 • 1 Ver supra o capítulo 5 cons~t:raJo ,H rc~P""'J" 'cmsmiais. 1\ ÁP.o,II~IIA I il'l J\lt 1 Mll'o~ll ' > 111 11111 '~ ,'/, } !) Os mecanism os de defesa de tipo obsessivo Os procedimentos citados no parágrafo precedente podem ter influência na utilização de defesas neuróticas de tipo obsessivo. Claro está- e isso será ilus trado no próximo capítulo - que é o conjunto dos factores em interacção que orientará a apreciação diagnóstica, mas a interpretação dos procedimentos evidenciados, na sua prevalência rígida, já autoriza a hipótese de uma organi zação defensiva obsessiva. O formalismo excessivo (F% elevado) associado a um controlo med iana mente eficaz, que está condenado em parte ao insucesso pelo aparecimento de engramas F- com significado dinâmico, mostra a utilização preferencial do recurso à realidade externa como defesa contra uma realidade interna que, no enta nto, se infiltra através do aparelho defensivo (retorno do recalcado). Esse formalismo excessivo, quando é explorado como barreira contra o su rgir das pulsões - que aparecem sob a forma de fugas muitas vezes explosivas- e con tra a expressão de a fectos, é testem unha de mecanismos de isolamento entre afecto e represe ntação . Esse formalismo, por fim, em conjunto com um recorte perce pti vo q ue ignora os laços e as relações entre as imagens, remete pa ra mecanismos de iso lamento entre represe ntações. Estes critérios parecem-nos preencher as condições de a plicação da noç;ão de isola mento: citemos como apoio a definição proposta por LAPLANCH:E e PONTALIS no Vocabulaire de la Psychanalyse (p. 215): • ls~lamenro: mecanismo de defesa sobretudo típico da neurose obsessiva e que consiste em 1solar um pensamento ou um comportamento, de tal maneira que as suas conexões com ourros pensamentos ou com o resto da existência do SUJCltO se encontram rompidas. E_nrre os proce~m~ntos de isolamento, citemos as pauças no decurso do pensamento, as formulas, os nruats e, de um modo geral, todas as mediJas que pennirem estabelecer hiatos na sucessão temporal dos pensamentos ou dos actos.• A hesitação entre imagens diferentes, opostas, mesmo contraditórias, a pre sença importante de respostas vagas (F±}, :1 ruminação na verbalização, o ir -e -vir entrl' representações contrastadas, evidenciam a existência de mecanismosde anu lação retroactiva, cuja definição retomamos (lbid ., p. 29): «Anulação (rerroactiva): é um mecanismo psicológico através do qual osujeito se esforça por f~zer com que pensamentos, palavras, gestos, acros passados, não surjam: ele utiliza par:~ •sso um pensamento ou um comportamen10 qut tem um significado oposro. Trata -se aqut de uma compulsão de aspecto mágico, particularmencccaracterística da neurose obsessiva. Vej amos dois exemplos retirados de do is pro tocolos de Rorschach: 11 «Duas manchas de sangue[ ...). Mais manchas de tinta vermelha... VIII "Dois animais ferozes, com ar de se precipitarem sobre..... "Não, finalmente, as cores são ternas, é mais um animaldoce, um felino temo... }.J_ () tllt1111\oll ~l ll NA I ti NI• A 1111 i\1111 111 As (orm(/çoes rt'cJ Clllta :; tlll.. <tllll.llll 111111111• ,, "•'" ol l\1 1 1' 'I"' 1•' , fl ,tnto.., , aliás, nos comentá rios, n;l'. n..: spo~t.l '> p.11 t11111.11t • , 111 o I " ' ' 11 1~ ,, ·P''' ti H..O \. A dificuldade de análise destas mod.tl1d.1d(' dtlnt-.IVotli t'MII ltg.HI,, '' do1~ argumentos. Por um lado, à generalidad<.' de um.1l lllldllt.l mu·,.., 1n.1l.1mbcm na vida social. A presença de formações reactiva~ no p1utollllo 1 normal, desde que o seu aparecimento não se multiplique e não sobrccant·guc o funciona mento psíquico. A este propósito, põe-se a questão - tão fundamental - do carácter normal ou patológico de uma operação defensiva. Por outro lado, está ligada à qualidade dos critérios que permitem interpretar um comentário, uma resposta ou um factor com o significativo de formação reactiva, isto é, como «atitude ou hábito psicológico de sentido oposto a um desejo recalcado e consti tuído em reacção contra ele» (Ibid., p. 169). Correndo o risco de nos repetirmos - uma vez mais - diremos que, ainda aqui, são os outros elementos do protocolo que permitirão decidir (para a lém, claro, do caráctcr iterativo das manifestações deste tipo), e, sobretudo, os que se relacionam com o manejo pulsiona l. A referência a mecanismos de tipo formação reactiva é possível quando somos confrontados com traços convergentes do estilo: dificuldades na inte gração e/ou expressão da agressividade (ou da atracção libidinal) no compor tamento face ao clínico, representações de relações (respostas K) muito centra das na delicadeza, na conveniência ou na negação do carácter conflitual agressivo ou libidinal dessas relações, em que os suportes perceptivos de tais respostas afastam a dimensão cromática do estímulo (sobretudo o vermelho). A denegação- «processo através do qual o sujeito, apesar de formular um dos seus desejos, pensamentos ou sentimentos a té então recalcado, continua a defender-se dele, negando que ele lhe pertence» (Ibid., p . 112)- aparece atra vés de comentários ou no seio de respostas ou de sequências de respostas. Por outro lado, ela não constitui uma modalidade defensiva exclusivamente rígi da, dado que a encontramos noutras organizações neuróticas para além da neurose obsessiva. Ela é, no entanto, característica tal como o recalcamento (ver o parágrafo consagrado aos mecanismos de defesa lábeis), de funciona mentos psíquicos de tipo neurótico, na medida em que ela supõe a existência de um campo psíquico interno do sujeito, através do qual se manifesta um sistema de representações e de afectos. As defesas rígidas de carácter A distinção entre as defesas r ígidas de carácter e os mecanismos neuróticos elabora-se a partir de verificações de duas ordens. Ausência de articulação Os procedimentos rígidos estão presentes, claro, mas não articulados entre si: nos protocolos que ilustrnm csrc tipo de funcionamento, não observamos i\ 1\ l'lo l l~ fli\ I l 1\ f\. f lo ANI\MII\ 111 1)1l i \o\ 22 J n lll l''>lll.t ~ ""):r·ll t' IILra entre manrfcstaçõcs fo ra das respostas, associações fornecidas e lacrores específicos. Encontramos raramente a configuração defensiva acima evocada, que com porta o isolamento, as formações reaccivas e a anulação retroactiva, sustentada pelo recalcamento, mas encontramos, sobretudo, mais mecanismos isolados, erigidos em condutas comportamentais, cuja dimensão agida se traduz no Rorschach pelo excesso ou caricatura do traço: por exemplo, o F% é muito elevado, superior ao que caracteriza o funcionamento neurótico (entre 80% e 90%); ou então as formações reactivas não se contradizem de uma ponta à outra do protocolo. Isto deve-se à inexistência do retorno do recalcado, que aparece sistematicamente nos protocolos neuróticos, que mais não seja atra vés das emergências primárias em pequenas quantidades e as respostas simbó licas que servem de compromisso entre a defesa e a expressão pulsional. A anulação retroactiva, por outro lado, não se encontra neste tipo de protocolo, na medida em que o pôr em causa e a dúvida não são permitidos, pela extrema rigidez e pelos mecanismos de isolamento próximos da clivagem. Por fim, não observamos qualquer ligação entre as operações defensivas e os conflitos, dado que estes não estão propriamente representados: o acesso à simbolização parece, de facto, difícil de atingir, parece mesmo vedado. Eficácia muito relativa dos procedimentos e dos mecanismos de defesa Esta segunda característica constitui o corolário da precedente: não existe for mação de compromisso. As representações não são recalcadas, e depois defor madas pelas defesas, a fim de permitir, apesar de tudo, a sua expressão. Não há, portanto, uma formação que permite satisfazer, ao mesmo tempo, o desejo inconsciente e as exigências defensivas. É por isto que as emergências em pro cessos primários podem estar totalmente ausentes, ou serem particularmente cruas e directas, cortadas, evidentemente, de qualquer operação defensiva. As produções são, então, niveladas ou, pelo contrário, muito heterogéneas, com rupturas bruscas, quedas brutais do controlo ou elevação máxima das barrei ras defensivas. Por fim, os mecanismos rígidos citados coexistem com outros que lhes acen tuam, ainda mais, o carácter não neurótico: observamos um acoplamento com mecanismos de inibição consideráveis (ver o parágrafo consagrado a estes mecanismos), ou então uma associação de proced imentos rígidos com meca nismos cuja dimensão psicótica está patente (clivagem, recusa, projecção para nóica). Nesta última eventualidade, o controlo formal é muito medíocre, as emer gências em processos primários maciças c iterativas, a projecção sobrepõe-se à carapaça adaptativa construída sobre o vazio, num sistema que testemunha a clivagem do Ego. 22.! I I 1\t!ll'•' IIAI ti N.\ \.111~11 .\ t u o Atol I IH As defesas rígidas de tipo nnrci!>IC(I Os funcionamentos narcísicos opresctll.ltll Jll ""''~'" ., toiiiiLl ~ v1 ,,., lh· terogé neas. No entanto, observam-se reg uhlrnlctll l' . tl gtllll .t~> 1 11 ' '''' ''" '''-il~ Jc tipo rígido. - A centração na simetria e as referências ao eixo m ediano s5o utilizadas ao nível mais manifesto como um recurso às características objectivas do material, e aparecem como tal nas observações críticas que as acompa nham. Mas, para além disso, a centração na simetria serve de suporte a respostas especulares, especialmente nos cartões com configuração bila teral, em cenários relacionais que implicam duas personagens (ou dois animais) numa relação narcísica, de reflexo ou de duplo: esta tem em vista o evitamento de uma relação entre dois seres diferentes, o que pode ria provocar uma conflimalidade impossível de admitir. Trata-se, assim, de negar o movimento projectivo através de uma con duta de objectivação; trata-se, sobretudo, de negar a diferença através de um sobreinvestimento na simetria compreendida como porta-voz do mesmo. - Valores elevados do F% e do F+%, que se referem à qualidade particular da relação com o real. Relembremos que, no Rorschach, o F% e o F+%permitem apreender em que medida o sujeito é capaz de dar às coisas um contorno, ao estabelecer fronteiras estáveis entre dentro e fora (ver o capítulo sobre os determinantes}. O aumento frequente do F% nos protocolos de personalidades narcisicas, associado a um F+% quase sempre de excelente qual idade, dá conta do estabe lecer de barreiras muito investidas entre dentro e fora e mostra, ao mesmo tempo, a necessidade do recurso a condutas de objectivação que tentam afas tar os elementos projectivos, para se manter no registo de uma percepção «pura». Neste quadro de uma atitude formal que valoriza as fronteiras e os limites, algumas respostas revelam-se muito típicas das personalidades narcísicas. Trata ·se de respostas a que chamaremos respostas «pele» (0-IABERT, 1987), para as quais propomos a definição seguinte: entendemos por respostas <<pele» todas aquelas cujo conteúdo se refere a um envelope ou a um continente; pode tra tar-se de respostas H, A ou Objecto, mas, qualquer que seja o conteúdo, o interesse reside no facto de elas evocarem uma superfície que limita dentro e fora. C laro que nos referimos aqui aos trabalhos de Didier ANZJEU ( 1974, 1981, 1985' 1994). No Rorschach, entram nesta categoria todas as respostas significativas para o índice de Barreira-Penetração de FISHER e CLEVELAND (1958). Por exemplo: - conteúdos <<A»: animais com carapaça, tais como escaravelhos, tartaru gas, crustáceos; pêlo de animais ou pele específica; ursos, serpente; 1 ""''·ud1'' ·• OhJcCtO»: roup as, tec idos, máscaras, propostos, quer ele llll' llli l po~itiva («vestidos sedutores», «manro real>>) quer negativa ( «far rapo~:~» , cctrapOS» ); - conteúdos «H»: respostas humanas, cinestésicas ou não, caracterizadas pela função ou pelo papel consignado (investido como envelope, ou como máscara protectora, como em <<palhaços», «advogados>>, «marionetes», <<rei, rainha»). Resumindo, as formas constituem os envelopes perceptivos das imagens e o contorno continente das representações que nelas figuram; de igual modo, as respostas <<pele» remetem para envelopes corporais e psíquicos dos quais traduzem, ao mesmo tempo, o valor diferenciador e as lacunas que elas tentam colmatar. As faltas das defesas rígidas narcísicas As faltas das defesas ríg idas narcísicas estão ilustradas nalguns protocolos de funcionamentos-limite: estes mostram, também, um esforço para estabelecer fronteiras entre dentro e fora, susceptíveis de preservar, quer as intrusões ex ternas, quer as emergências pulsionais internas. Dupl a defesa, portanto, em relação ao fora e ao dentro, que se revela muitas vezes insuficiente para domi nar a hipersensibilidade aos estímulos externos e a extrema violência dos movimentos internos. Os func io namentos-limite associam ao Rorschach um F% elevado e um F+% médio, e mostram sequências de funcionamento muito heterogéneas: tão depressa o controlo formal funciona muito correctamente, e dá testemunho de capacidades de integração efectivas das experiências, co mo o controlo é exce dido pela invasão de uma fantasmática deformante ou pela irrupção emocio nal. Assistimos, então, a um duplo processo de funcionamento: um adapta tivo, e um outro desconectado, relativamente ao precedente, arrastado por descargas explosivas e desorganizantes. Estas modalidades de condutas psí quicas interpretam-se em termos de clivagem do Ego (ver capítulo consagrado à inibição), que assinala a existência, no se io de um mesmo sujeito, de «duas atitudes psíquicas diferentes, opostas e independentes uma da outra» (FREUD, 1938). Os procedimentos lábeis e as defesas pelo recurso à fantasia e aos afectos Os procedimentos lábeis Manifestações fora das respostas Integramos aqui todos os comentários referentes à dimensão subjectiva da vivência. A atenção já não é dada à exterioridade do estímulo, mas ao que o :.!.J.• / I I 1(1111\< 11~• 11 N-' I IINI• \ I•« \1•<•1 lU sujeito senlc fa~c ;1 cs~l' t'Slllllltlo: 11 o11.1 .,, ••1g• " 11 .J, 1 111 111 • 1 1 ,dgllll'> l'llllll' lltos da rea Iidade interna (em pa tll t:u l.1 r 11' .1 kd n s), 1 • ''"" .J, lt 1li 11111 .1 .1 l'llll.' l 1.\l'll cia de outros elementos dessa rcalid,tdt• IIHI' IIl . t (,,, 11 I"' Wlll.l~m·o,): - Comentários regulares, gerais, itera llvm que 'liiHl' lll tk•,dt• .1 Jprcscnta ção dos cartões, que dão a impressão Jc unt.t IC.1tl1VIdadc imediata às estimulações: permitem, com efeito, afastar as representações incómo das, enquanto são expostas referências pessoais que as mascaram. -Dramatização, o carácter excessivo e exagerado da verbalização, a ênfase dada à expressão do prazer ou do desprazer, em particular nos qualifica tivos: «É horrível o que me está a mostrar»; «Oh! Isto, então, é, de facto, infinitamente mais bonito, agradável, maravilhoso, como cores>>. - Labilidade das reacções emocionais, muitas vezes contrastadas, em rela ção estreita com a qualidade cromática dos cartões, o que sublinha a sugestionabilidade, a vulnerabilidade e a sensibilidade ao meio envolven te: os cartões negros suscitarão comentários negativos, ansiosos e depres sivos, enquanto os cartões pastel arrastarão associações mais positivas. - A acentuação do desconhecido, o não-saber, a a usência de imaginação e de inspiração, sob a forma de denegações sucessivas: «Não, não vejo o que isto poderia ser ... não tenho ideias, aliás, não tenho qualquer imagi nação >> . -Manipulação lábil da linguagem, discurso precipitado, rapidez dos ten: pos de latência, associações por contiguidade ou consonância, trocadt Jhos. Respostas ou sequência de respostas - O recalcamento pode aparecer, em particular, na recusa ou incapacidade em fornecer associações nos cartões muito saturados em simbolismo sexual (cartões IV e VI). - A denegação pode, então, ser utilizada, quando é evitada uma representa ção cuja dimensão simbólica é evidente e é então investido um determina do tipo de conteúdo (nevoeiro, fumo) que serve de ecrã a essa representa ção: VI «Não vejo nada, na verdade... um véu opaco através do qual nada se pode adivinhar... - A erotização das relações aparece através das encenações cinestésicas: «Uma mulher a dançar entre dois homens.» 11 «Um casal que se abraça ... 111 «Duas personagens que dançam... A i\ Nt, 11q1A 1 m M11 ANI\Mn\ 111 1>111 '" 225 - Realce da reactividade emocional, no seio de uma sequência de respos tas, pelo privilégio dado às cores na determinação das respostas. Este modo de funcionamento aparece, com frequência, nos cartões pastel, enquanto as respostas cinestésicas são as menos frequentes. Factores específicos - Cuidado em se manter à distancia dos cartões, pelo recurso a uma abor dagem global, vaga ou impressionista: esta conduta evi~a, em ~articular, o confronto com a reactívação de preocupações ma1s prec1sas. Esta ausência de <<curiosidade», de «penetração» do material está em relação estreita com o recalcamento'. - Recurso intenso às manifestações sensoriais, por vezes sustentadas pelas emoções ou afectos: o TRl extratensivo é então suportado por defesas que consistem em realçar os afectos para evitar a emergência das repre sentações. . . - Sugestionabilidade e vulnerabilidade, que se traduzem pela grande sensibi lidade às variações do estímu lo e em particular às mudanças cromáticas: observamos uma grande variedade de respostas sensoriais (C, C, E, Clob). -A prevalência atribuída à reactividade subjectiva aparece na diminuição do interesse dado ao formal e ao objectivo (F% baixo). - O simbolismo transparente, e, em particular, as referências simbólicas sexuais, caracterizam os conteúdos2• - O confronto entre desejos contraditórios pode surgir através do carácter contrastado das associações (representações e/ou afectos muito opostos). Sempre na categoria dos procedimentos lábeis,mas em referência com con dutas defensivas de uma outra ordem, aparecem: - Uma fuga para a frente na interpretação, uma certa precipitação na multi plicação de respostas. . , , - Flutuações muito importantes no regtsto das respostas, o que da a pro dução um aspecto descontínuo. - Manifestações emocionais muito intensas, traduzidas p or um T RI extratensivo muito dilatado. - Uma perda de controlo sobre a realidade objectiva (F+% muito baixo): o subjectivo domina sobre a preocupação de adaptação mínima ao mun do exterior. - Conteúdos muito crus (com valência sexual e regressiva). Enquanto a primeira série de procedimentos remete para mecanismos de recalcamento, a segunda evidencia, sobretudo, o insucesso de tais mecanis mos. 1 Ver a esre propósiro o capírulo 3. . • . .. 2 Ver a este propósito os exemplos dados no capaulo 7 sobre os conreudos stmbohcos. ..!21> \1 1~1111\t 11•1' 11 N•l I IINII I [HI ,\jtltlt I Os mecanismos de defesa histórict> O recalcamento Torna-se necessário retomar a dcfinH,;Ill dc'>lt llll'<..tttt>IIHI, t.d ~u111o d;l c prn posta por LAPLANCHE e PONTALIS (O{J. Clt., p. 391), wrn o l1111 dt• hl'lll nu~ enten dermos sobre os significados deste conceito. ~A) No sentido próprio: operação pela qual o sujeito procrua rcpcltr, ou manter no inconsciente, representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas a uma pulsão. O recalcamento produt.-se nos casos em que a satisfação de uma pulsão -susceptível de, por si mesma, proporcionor prazer - ameaçaria provocar desprazer relativamente a outras exigências. O recalcamenro é e~pecialmenre manifesto na histeria, mas desempe nha também um papel primacial nas o utras afecções mentais, assim como na psicologia normal. Pode ser considerado um processo psíquico universal, na medida em que estaria na origem da construção do inconsciente como domínio separado do resto do psiquismo. B) Num sentido mais va~o: u termo recalcamenro é por vezes tomado por FREUD numa acepção que o aproxima do de «defc~a,., por um lado, como a operação do recalcamcnto romado no sentido A que se cnconrra, pelo menos como uma etapa, em numerosos processo~ defensivos complexos (a parte é então romada pelo todo) e, por outro lado, como modelo teórico <;:m que o rccalcamcnto é utilizado, por Fru;uo, como protótipo de outras operações defensivas» . O evidenciar o reca lcamento nos protocolos de Rorschach é muito impor tante, porque pt:rmite orientar a apreciação diagnóstica de forma determi nante: mecanismo neurótico por exce lência, o recalcamento define, de facto, um campo de funcionamento mental que vai claramente do normal ao patoló gico, cantonando-se, no entanto, no registo da neurose. ~testemunho de uma organização psíquica elaborada, na qual o jogo das instâncias pode ser apreen dido: a capacidade de conflirualizar as relações inrrapsíquicas e interpessoais num sistema de representações define a existência de uma cena mental que autoriza a dramatização de uma vida fantasmática efectiva. Clarificar os mecanismos que participam do recalcamenro constitui, então, um desafio essencial: os erros de avaliação têm consequências graves, dado que ordenam o diagnóstico e a orientação terapêutica. O recalcamento aparece de forma muito mais clar a nos protocolos lábeis, o que corresponde, ao mesmo tempo, às suas manifestações clínicas- são muitas vezes as personalidades histéricas que o mostram quase de imediato - e à sua definição proposta pela teoria psicanalítica. Ligar-nos-cmos, então, à sua análi se nos protocolos lábeis, sem esquecer que ele serve de contraforte fundamental a outras organizações defensivas de tipo neurótico (está, em particular, subja cente a rodos os mecanismos obsessivos que atrás evocámos). Os meios e as condições que permitem destacar a existência do recalca mento relevam dos procedimentOs lábcis que já citámos, pela articulação e a presença em força que eles manifestam. Falaremos de recalcamento sempre que os seguintes critérios se observem, em simultâneo: -qualidade geral da prnduçõo de facrura lábil: comentários, teatralismo, dramatização ... ; \ IP11,11 jf,l I 11 f\11• IN[.\111\ ltl f l111 ,\ 1.27 - 11 ""''" • ~ ~~~ \;1ft1 1\ .Hl'o 1.<\1 roe:. de .,imbolismo sexual (recusa, agrava- me 11111 d,•, P'"~l·dtménros labcis); t'"JW.,.,IIt.l 'unhulíca dos conteúdos, que demonstra o impacte fantasmá ttco J(l C!>tímulo; -oscilação entre defesa e retorno do recalcado, que evoca o conflito intra psíquico, mesmo se este é metaforizado por intermédio de relações inter pessoais. Como já sublinhámos, os protocolos lábeis do tipo histérico constituem o melhor protótipo do predomínio do recaleamento: mostram, de forma espectacular, a luta intensa contra o aparecimento de representações incómo das, através da acentuação de uma viva sensibi lidade ao meio ou da utiJização de representações-ecrãs. Mas o que nos autoriza a inferir a existência destas representações? O que é que nos permite não confundir recalcamenro e clivagem? A presença de conteú dos, que, nos casos em que o recalcamento é actuante, cumprem as suas funções de continentes de conteúdos latentes - conteúdos que nós dizemos serem fantasmaticamente consistentes- a par da manutenção de um controlo suficiente, garante de uma adaptação de base à realidade exterior, parcialmente mal sucedida nas respostas cujos significados dinâmicos assinalam o retorno do recalcado. Estas duas características permitem colocar a hipótese de um duplo registo de funcionamento, fantasmático e adaptativo, cuja suficiente diferenciação evidencia uma distinção efectiva entre mundo interno c mundo externo, entre imaginário e real, oferecendo um campo de relação onde passam as correntes pulsionais, fanrasmáticas e afectivas. Se as barreiras constituem, de facto, uma membrana limitadora, conservam também uma flexibilidade c penetrabilidade mínimas: permeabilidade entre dentro e fora, permeabilidade também tópica que permite trocas, mais ou menos fáceis, entre as instâncias. É preciso não esquecer que o recalcamento consiste numa operação inconsciente, interna e que ele se refere às representações e não à realidade externa. As defesas «lábeis» narcísicas Manifestações clínicas Alguns índices de funcionamento narcísico são susceptíveis de aparecer na qualidade da relação estabelecida com o clínico. As atitudes do sujeitO podem caracterizar-se por condutas de extrema sedução, que têm como objectivo apa gar qualquer diferença entre os dois protagonistas. O psicólogo e a situação são valorizados em movimentos de idealização que englobam o próprio sujei to. Pelo contrário, uma desqualificação global, e também excessiva, do teste e da situação clínica, evidenciam mecanismos de projccção que tentam expulsar as representações negativas do sujeito (identificação projectiva). 2.!.8 0 Jtnll\t IIAt 11 NA I IINh l•t t\111'11 O esrud o J a vc rbali:t,:lçtio cv•dt• ••~ 111 "qt11 I lltit 1 1 1 (I''" I ) ,j, 11 111 11 1111'l't\T em termos de «Centração so bre a v i w11 ~ 1 . 1 'ltl hJ•, lt \ ,, " ''I' 11" t \'1 ') li c·, nos ~eu !. comentários e respostas, a auto-rcferênc l.ll> llt't,tll v,l\ 11 qtw ,.,, , vtVt'llLtn, <> qu e sente, a sua forma de ver as co isas, as suas lendli .IIH,. t'l, A ·· •t uo~~,.to t' ut iliza da num sentido único, como lugar de ostentação tk: um:l :.ulltn 11 vui.Hk qtiC cha ma a atenção do outro, ao mesmo tempo que recusa a sua i111porl ft ncin. Por fim, o conjunto do protocolo evidencia wna certa ê nfase na uti lização excessiva de qualificativos positivos ou negativos, apoiada, se m dúvida, em mecanismos de idealização ou de desva lorização. Esta qualificação indispen sável, que é testemunho do investimento maciço dos juízos de valor, traduz a força da subjectividade e a necessidade da afirmação narcísica, descurando as modulações de umponto de vista relativizado. O tratamento da cor - Os cartões vermelhos: a negação dos movimentos pulsionais aparece no modo de reacção aos cartões vermelhos. Os protocolos de s ujeitos narcí sicos mostram: -quer a ausência de utilização ou de integração do vermelho; pelo que todas as respostas são tratadas em F ou, por vezes, em K; - quer uma exploração do vermelho como referência descritiva, para delimitar o contorno da imagem. Não há associação ao vermelho com conteúdos pulsionais. Estes procedimentos não remetem para o recalcamento histérico, na me dida em que nunca aparecem índices de retorno do recalcado. Não há compromisso entre pulsão e defesa, mas exclusão dr ástica dos movi mentos pulsionais e dos seus representantes simból icos. - Os cartões pastel p õem habitualmente em evidência a extrema d ific ulda de em comprometer-se n um movimento regressivo. Encontramos as duas modalidades de reacções evocadas nos cartões vermelhos, isto é, quer a ausência de respostas C, quer a utilização da cor como sinal dos contor nos e dos limites. Mas o impacte desorganizante do estímulo cromático revela-se, por vezes bruscamente, na emergência de respostas mui to me nos controladas, que mostram a falta pontual das condutas de controlo ou de domínio do material ou da situação. As respostas C perdem o seu valor de expressão de afectos, na medida em que demonstram o impacte do meio sobre o sujeito. O q ue supõe uma acei tação das marcas do objecto em si, e, portanto, de uma tomada de consciên cia da sua existência como fonte de excitação, de desejos, ou de vivências. - A sensibilidade ao cinzento, ao negro e ao branco\ constitui uma carac terística essencial dos protocolos na rcísicos: as respostas sensoriais do ' Ver p. 1 80. l'P''' (I• 1 t 1,' 1 l"''v.11 nn rt·u •rso ,1 Sl'IISat.;rl(l co1no ddc~., f.tct aoo, '""' '"'' "'" JHdQIIIII ""' ,••1-; '•llllS •·c p••escntaçnc~ . O so lwcin vesri •ncnlll d :ts ·'" 1\11• \1 "'" '"''''>JH'l' l:l l («u ma luz brn nca» , «llll1<l lâ mpndn») adqu i , , . •' .., 111 " ' '' dt ll ll l.lt'll lt': lll'gia defensiva lá bil , na medida em que este npq~o . 1 ·. trpt•d 11 •t• t'l lll '>ll llll um ccrã, uma protecção que sustém o evita mento das rq1rcsc nlações inconscientes de que, desta vez ainda, são excluídos even tuais sinais (em termos de retorno do recalcado). Enquanto nos protocolos histéricos os afectos permanecem e oferecem modos de tradu ção das repre sentações e dos fantasmas, as sensações, nos protocolos narcísicos, apa re cem cortadas do mundo fantasmático . As defesas maníacas e a luta antidepressiva Os procedimentos lábeis, quando têm aspecto excessivo e caricatura!, dos quais daremos as características, podem contribuir para a descoberta de defesas maníacas contra a angústia, em particular a angústia Hgada à perda de objecto. É necessário referirmos aqui a noção de posição depressiva introduzida po r Melanie KLEIN\ que defini u as modalidades de relações de objecto q ue se ins tituem por volta do quarto mês: a criança apreende a mãe como objecto total, a clivagem entre bom e mau objecto atenua -se, as pulsões libidinais e agressi vas tendem a referir-se ao mesmo objecto. <<A angústia refere-se en tão ao peri go fantasmático de destruir e de perder a mãe graças ao sadismo do su jeito; esta angúst ia é com batida por diversos modos de defesa (defesas maníacas2 , ou defesas mais adequadas, como a reparação e a ini bição da agressividade), e é superada quando o objecto amado é introjectado de forma estável e securi zante» (LAPLANCHE e PoNTALIS, op . cit., p. 316). As defesas maníacas desenham-se claramente no Rorschach, através dos procedi mentos lábeis típicos: há uma grande produção (logorreia), maciça e confusa, o sujeito parece literalmente esvaziar-se: não há tempo de latência, não há silêncio, não há espaço de reflexão. O menor desvio deve ser preenchi do, as lacunas são insuportáveis, à semelhança do lugar deixado pelo objecto ausente ou perdido; a sucessão é entrecortada como os dentes de uma serra, as associações heterogéneas procedem por contiguidade ou consonância; a preci pitação é flagrante. Qua lquer elemento do material é sentido como hipersig nificativo, o que assinala a extrema reactividade do sujeito e a s ua dependên cia ao meio (aumento considerável de respostas cor). A excitação é dominante e mostra a impossibilidade em elaborar a perda. As emergê ncias em processos primários são frequentes, os afectos maci çamente projectados, as capacidades de controlo invadidas pelo fluxo asso ciativo. Ao contrário do exemplo precedente, a insuficiência, ou melhor, a ausência de recalcamento é patente. 1 Ver bibliografia desta aurora. 2 Sublinhado nosso . :li() li J(,.t 'I 11~• 11 NA I I""' lo 1<t 1\t I I I A luta antide pressiva nos funcionut~umln•• lltull u Os funcionamentos-limite procluzcl11 pn111 tt nl"ij d1 J( "' l1 11l1 'I'''' '•I' diferen ciam segtmdo as suas característica!. bbl'l'> ou "•'ul1' \Inum 11tv1 , l l'lll prefe rencialmente uma rigidez fortemente conot.td.t '""' 1 unlll\•11' (vu utpttulo consagrado à inibição). Outros, que iremos CVOC.I r olll'll dt• 1111111:1 breve, são mais marcados por características lábeis: manifestam-se, co111o :H.:abámos cle ver, através de uma extrema excitabilidade em relação ao material do te!>tc. -É mobilizada toda a gama de determinantes sensoriais, quer se trate do vermelho, elos pastel ou do negro, do branco e do cinzento. Através desta permeabilidade o sujeito mostra uma forte dependência do meio, que o rorna tributário das suas modificações ao longo dos cartões. -As configurações dos cartões d eterminam os modos de apreensão: os cartões compactos dão lugar a respostas globois impr.essionistas ou vagas; os cartões bilaterais comprometem associações cinestésicas, por vezes, mas, com mais frequência, fo rmais, com insistência no que serve de suporte ou de ligação. De facto, o material oferecido serve de apoio ou de suporte, sem, no emamo, permitir uma contenção das reacções emocionais ou um enquadramento per ceptivo suficientemente sólido. As produções são marcadas pelo entusiasmo de uma produção psíquica que tenta, por este meio, colmatar os sentimentos de incerteza ou clt: vazio interio res. Ainda não abordámos uma dimensão determinante, cuja articulação com a organização defensiva permite, por si só, avaliar os significados psicopatoló gicos: o registo dos conflitos é, sem dúvida, essencial e ajuda a ju lgar a quali dade das defesas. A ilustração é-nos fornecida pelos procedimentos lábeis: na ordem neurótica, os procedimentos lábeis, que constituem a trama do recalca mento, são acompanhados por uma problemática focalizada em torno da an gústia de castração, enquanto as defesas maníacas são utilizadas para lutar contra a angústia de perda de objecto. Sempre que se emite uma hipótese q uanto ao tipo de defesas utilizadas, esta deve ser confrontada com os dados que remetem para o regisro conflirual do sujeito. A Inibição Procedimentos que marcam a inibição Manifestações fora das respostas A restrição observa-se na produção (o número de respostas é restrito), na par ticipação subjectiva (o anonimato domina) e na verbalização (os comentários são quase ausentes). As latências iniciais são longas, os silêncios numerosos e as recusas de ca rtões não são rarns. Todos estes elementos assinalam a 11111'• 111 "" 1 1 d11:t 1111 • o llll~lllll~ ljlll'll'llll.OIIIO ohJl'l...liVO lulllr, ao máxitnu, con 11 11 1 ""!'lu'' ''" li"'lnttv.t s~11tidn t.:omo p~rigosa. Ao mesmo tempo, é acen 1llolllll, li I oi H' d1• .tfgum t.:OI11CI1tartOS que Ornamentam OS prOtOCOlOS, 0 blo <1111111,1\\ill t.ttevo: «L tudo... » , «Não vejo ... » Por lttn, as manifestações de ansiedade são, por vezes, muito visíveis ao nível do comportamento: mímicas, rictos de a ngústia,sudação, ati tude petrifi cada, em que o conjunto testemunha uma sideração relativa que desaparece, por vezes, pelo encorajamento e o apoio que o clínico fornece; a não ser que seja dominante uma atitude geral de indiferença e de bana lização da situação. Respostas ou sequências de respostas - Anonimato das personagens humanas em que, em particular, a identida de sexual não é dada: «Duas pessoas•• , «Personagens>>, << Homenzinhos•>. - Tmpreciso, vago, indeterminação ou ausência de precisão d as acções projectadas. As repressões cincstésicas são frequentes, a inibição torna impossível a evocação de qualquer referência a uma qualquer acção: «Duas pessoas» (cartão nT). - Minimização dos movimentos projectivos: a r edução das cargas pulsio nais aparentes traduz-se atr:tvés de fórmulas do estilo «um pouco», «quan do muitO>>, ou, ainda, pela utilização de verbos cujo alcance e intensida de é menor, relativamente à reactividade espontânea. - Evita mento perceptivo, no seio de cartões específicos, de localizações par ticulares, seja pelas suas características cromáticas {as partes vermelhas dos cartões II e rii) seja pela sua evidência simbólica (evitamento das lacunas intermaculares ou de certos apêndices) . - Banalização, colagem a imagens estereotipadas que servem de ecrã à expressão mais espontânea. Factores específicos Os modos de apreensão remetern, quer para uma abordagem global superfi cial, tocando ao de leve o estímulo, quer para um recorte extremo do material. Nos dois casos, trata-se de procedimentos que permitem evitar uma confron tação, considerada perigosa, com os elementos do material susceptíveis de reactivar aspectos angustiantes da realidade interna. Os determinantes são dominados pelo apa recimento de respostas formais (F% elevado), comportando muitos F± que revelam as dificuldades de impli cação e os receios de envolvimentos nas tomadas de posição afirmadas. O TRI é, em geral, coarctado assim como a fórmula complementar, pondo em evi dência o freio posto na expressão fantasmática e afectiva. No entanto, podemos verificar a emergência de acessos de angústia, que se traduzem, em particular, por uma rcactividade sensorial específica ao negro (Ciob, C , E), ou, ainda, por cinestesias isoladas com temática de queda ou de vertigem. ) 1 1 li ll 1111\ lll\oll f.iA I IINh " 1•11 '"'' ' ' Os conteúdo~ devem !.C I . 11 1 , tl1 ~.ulo., .1, JIP. tlt '• 1" 11 l lll " 111 poli .ulun ' do• significações diferenciais: -primeiro tipo: conteúdos " robH.O\ " , ptll I "lllf'lll li ~P"'"" .1111111,11'> ansiogénicas (lobos, aves de mptna ou .Hnd.t 111'n '"' dt '-tgt .td.wt'"); - segundo tipo: conteúdos carregados de angustl<t, em p.lllllltbr, de natu reza hipocondríaca que revelam inquietações corporat~; - terceiro tipo: conteúdos banalizados a todo o custo, factua is, concretos e é acentuado o aspecto quotidiano das preocupações. O contraste com os dois tipos precedentes é flagrante, na medida em que estas respostas são despojadas de qualquer dimensão imaginária ou fantas mática. Os mecanismos de defesa de tipo fóbico A projecção no real do perigo pulsional, tal corno ela aparece clinicamente nas fobias, pode ser destacada em certos protocolos de Rorschach. É assim, com efeito, que FREUD (1915) define a construção fóbica: << Pelo conjunto dos meca nismos de defesa utilizados, obteve-se uma projecção do perigo pulsional para o exterior. O Ego comporta-se como se o perigo a um desenvolvimento da angústia não viesse de uma moção pulsional, mas de uma percepção, c ele é, portanto, levado a reagir contra este perigo exterior através de tentativas de fuga que são os cviramentos fóbicos. » Um tal mecanismo de projccção intervém na evocação de imagens ansiogénicas que pertencem a um fabulário relativamente típico (animais potentes, geradores de medo, ou ainda inscctos que inspiram repulsa ou repugnân cia). As representações inconscientes carregadas de angústia são projcctadas e deslocadas sobre objectos externos, sentidos como perigosos e que provocam inibição e/ou evitamento. Em geral, tais imagens aparecem num contexto muito restritivo: as l::ttências são longas, a verbalização limitada, as manifestações de ansiedade fora do protocolo numerosas; a resposta é dada sem desenvolvimentos, o conjunto dos comportamentos releva de um estado em que a angústia domina, mas é explorada também em benefício do recalcamento. O evitamento e a fuga manifestam-se, quer através do comportamento, por exemplo, pelo aparecimento de uma sidcração face ao material que para lisa literalmente o sujeito, quer de reacçõel. de angústia que arrastam uma forte inibição e a incapacidade de associar. O cvitamenro e a fuga manifestam se, também, através de condutas perceptivas c associativas que utilizam os procedimentos defensivos citados no parágra fo precedente. A dificuldade na análise isolada dos mecanismos fóbicos remete para o facto de estes aparecerem r:lramcnll' i~olodos , em estado puro. Eles são, em geral, acompanhados por outra' l;Onfigur~I ÇÕes defensivas, obsessivas ou /\11 11 ~ I ti ~ I IIM;t ~111·111 lltt i\A 2 i1 lu 1t 11 1 11 l JIH .I, ll""l"ll' t1111' • ttlllph- " ' 111.\' m.u, f,ln' l ' de dc~c.:m.ltfica r, 111 "" d1d 1 r. n 1 q 11c 1 lll f ll l 1 m ·u rolltl d.t<> dde"·'' .1 que de., estão associados . 1 ' •"' dt 1 ~ ~~ 1 I" 11 1"1 1 ~. 1 .1 ~·,t t' rrgt\CU de funcionamento . <l 1111'< ·"""11o t \ scncta l que carncteriza a fobia, o deslo camento, constitui um;t opL·r.u,:.ll> psíquica clas~ica das neuroses, por um lado, c do sonho, por outro. Na fobia, o deslocamento sobre o objecto fobogénico permite objectivar, localizar e circunscrever a angústia; é esta função do deslocamento que é mais facilmente reconhecida no teste de Rorschach, na repetição da sequência projecção/deslocamento/evitamemo, nos cartões em que o impacte é ansiogénico. A inibição nos funcionamentos-limite Quando não há deslocamento, quando a angústia não é manifesta, quando o estimulo é investido como objccto real e não como fonte de rcactividade ima ginária, os procedimentos que assinalam a inibição orient::11n-nos para modos de funcionamento bem diferentes. A pobreza das produções c a não implicação associativa não estão liga das a condutas defensivas de ordem neurótica, havendo o esforço por evitar as representações inconscientes ansiogénicas; aparece, sobretudo, uma espé cie de vazio ideativo, difícil de preencher a não ser pelo recurso a imagens de objectos concretos, cuja dimensão realista é dominante: este tipo de imagens parece desprovido de referências latentes. Elas tomam o lugar de uma activi dade fantasmárica ausente, como se a realidade interna do sujeito fosse inexistente, vindo a realidade externa substituir-se a ela, para mascarar o vazio. Os procedimentos que assinalam a inibição estão presentes, por vezes asso ciados a a lguns factores rígidos (em particular o elevado valor da percentagem de respostas formais), muitas vezes estão acompanhados de emergências cruas que vêm bruscamente quebrar a planura das respostas. Trata-se, com efeito, de respostas no sentido estrito e não de associações: aqui os conteúdos perten cem ao terceiro tipo citado; a sua falta de espessura simbólica, o seu carácter colado e factual assinalam as carências de ressonância fantasmática nos indi víduos que as fornecem. A dupla orientação dos procedimentos de inibição obriga-nos à formula ção de questões essenciais sempre que os encontramos. Esta pobreza fantas mática será apenas aparente, película banalizante que tende a esconder os ecos perigosos de um imaginário angustiante ou, pelo contrário, é autêntica na revelação de um vazio ideativo, de uma mentalização nula? A inibição, posta a claro pelos procedimentos típicos, releva de uma organização defen siva cuja elaboração se apoiana existência de um espaço psíquico próprio, investido como cena mental, no seio da qual representações c afectos se podem manifestar, ou a ausência de imagens interiorizadas é ligeiramente compensada pelos substitutos que constituem os objectos reais? 1. I I As emergências em procoasoa prlmllrlo• e as defesas psicóticas Emergências em processos primários Manifestações fora das respostas A desconfiança, a vigilância extrema e a reticência do sujeito que ev1ta entre gar-se são argumentadas por advertências típicas, que trazem à luz do dia uma vivência persecutória. A diferença entre as produções espontâneas e o inqué rito, que deixa aparecer elementos interpretativos, vai no mesmo senrido. A prolixidade, a multiplicação de respostas, a verbalização abundante, com muitos pormenores, confusa, deixam aparecer extravagâncias, discordâncias. A produção pode ser, então, muito importante, mal ordenada, fornecida com precipitação, c o discurso leve, vago e indeterminado. Respostas ou sequências de respostas -Presença de localizações a rbitrárias, mal definidas e pou<:_o coerentes, em particular respostas g lobais mal organizadas, ou imensos Dd em recortes raros ou extravagantes. -Presença d e respostas F- que aclaram a qualidade medíocre do controlo formal, o resvalar das p ercepções. -Presença de respostas cinestésicas com valor interpretativo ou delirante. -Presença de respostas C que são testemunho de ausência de contenção dos movimemos pulsionais, que se escapam através de imagens mórbi das. - Aparecimento de conteúdos específicos que assinalam a ausência de inte gridade corporal (Hd, Anat, Sang) e a confusão dos reinos (respostas H/A ou H/Obj). Factores específicos Estes retomam as manifestações isoladas citadas no parágrafo precedente. Mas, o que lhes dá o seu peso patológico, que orienta gravemente o diagnóstico, é justamente o seu peso. Com efeito, algumas emergências em processos primá rios assinalam apenas os pontos de fragilidade, por vezes rapidamente com pensados, de um modo d e funcionamento que pode ser, noutros aspectos, perfeitamente normal; as emergências primárias não constituem o único apa nágio dos processos psicóticos! A sua repetição, que invalida todo um registo de condutas psíquicas, repre sentado por um facto r específico, assinala, pelo contrário, um estado mórbido muito mais alarmante. É, portanto, útil prestar uma grande atenção à dimen são quantitativa das emergências em proce~;so~; primários. A má qualidade da ancoragem na realidade objectiva aparece no baixo F+%. A maioria das respostas com determinante formal é constituída por c' IIJ'' 111 1 1 (oltlllt•llllllllll'• 111,tl d,•luudo•. c• ~olnc·ludo ,11 hrlr.írios. O I·+'Yo, nes 11 '11 1 , , " , 11 '" 1 '' '"IJ'I 'II\,Ido plln 1: t % .1l.n~.1do. O b.tixo va lor do D% mos li .1 o tlc 1111 1 r "•'-l pdo ~OIIl.I'C ill, o n:a l. O Tipo de Res~onância lntima é muito dd.11.ulo: ~~'• ll>fl<~Ma:. Kcom valêncra interpretativa, desrealizante ou delirante <;iio n1111Wro~as e evidenciam as invasões fantasm:iticas, ou, então, a soma das respo!>tas cor é muito elevada, com uma dominância de C puro que assinala o p eso dos afecros, a invasão emocional e a fragilidade das barreiras internas. O Tipo de Ressonância Íntima pode, a contrario, ser coarctado: as incidên cias projectivas e emocionais são totalmente limadas, dando toda a aparência de morte psíquica, numa apresentação uniforme de determinantes. Os conteúdos, por fim, pertencem a registos específicos: - diminuição significativa das Banalidades, pondo a descoberto a fragili dade da inserção na realidade perceptiva socializada; - múltiplas referências ao corpo em imagens mutiladas, fragmentadas ou em respostas anatõmicas ósseas, mas mais frequenremente viscerais; -aparecimento frequente, nas respostas humanas, de personagens irreais (bruxas, diabos) cuja conotação persecutória é considerável (no mesmo movimento, alguns Hd como <• olhos» acentuam a sensibilidade para nóica ou paranóide, sendo particularmente importante o investimento do olhar sobre a forma de intrusão por um mau objecto}; - os conteúdos A ou objcctos são contaminados pela parcialização e frag mentação: à imagem do corpo próprio, os objectos do mundo exterior não podem ser apreendidos na sua unidade; - os conteúdos A podem pertencer a um mundo animal arcaico, dominado pela perigosidade, a omnipotência, a destrutividade. A compulsão de repetição aparece, enfim, na ausência de reactividade especifica aos cartões. Estes podem arrastar maciçamente sequências seme lhantes, apesar das suas variações manifestas: esre tipo de conduta assinala as d ificuldades de diferenciação, mas também o desinvesrimento da realidade exterior e a falência dos processos adaptativos. Os mecanismos de defesa psicóticos Os procedimentos que acabam de ser evocados acentuam os desvios nas relações com a realidade exterior. São estes procedimentos que sustêm os mecanismos psicóticos, tais como a recusa, a clivagcm ou, ainda, a projecção, quando esta implica uma desconexão dos processos de adaptação perceptiva e uma confusão do dentro e do fora, em que um toma o lugar do outro. A projecção : referimo-nos, aqui, não à acepção corrente e normal do con ceito, mas aos seus mais graves significados psicopatológicos. A exteriorização, o pôr fora as pulsões perigosas do sujeito, constitui, então, uma defesa com pulsiva que não tem mais em conta os limites impostos pela realidade. 2 U! \) l {l•t•··•l l \• li N~ I il tlll " IH) lt •lllll - N um con texto de d no~MH.. i.l~auo • ·~qll ttniH • tt h ' • 11 tltNf't ill.l dt• dt :-. lll liv:w entre interno e ex terno, entre d l' t\lro l' i llt .t, · IJ ~> Ht '• ,. 11.1 pt"Ít'~\ • t O di rcct::t de uma vivência corporal fragmcntaJn t' l rotgllll'tt l 11t 1.1. A irtadcqunção perceptiva das respostas está ligada ao Hno rctllnltc-. tii K'Il tO do objectivo como tal: o estímulo serve apenas de supo rw rnntcri:\1n expressão das representações de si, ou ainda à projecção das preocupações delirantes.. -Num contexto paranóico, pelo contrário, a distinção entre dentro e fora é fortemente defendida: a projecção consiste em colocar no exterior as pu lsões agressivas destrutivas, que o sujeito recusa serem suas; é o exte rior que se torna mau, persecutório e ameaçador para o sujeito.. A recusa, que consiste na rejeição, pelo sujeito, em reconhecer a realidade de uma percepção traumatizante, caracteriza as condutas fetichistas e as psi coses. A recusa é difícil de reconhecer como tal nos protocolos de Rorschach, na medida em que o estímulo não é figurativo.. - A recusa da castração pode eventualmente descobrir-se em respostas muito precisas, localizadas em espaços habitualmente interpretados como refe rências à identidade sexual, ou mesmo como representações anatómicas do sexo feminino. Podemos, assim, falar de recusa da castração quando, no D mediano da cartão I, habitualmente interpretado como «corpo de muli1er>>, aparece a resposta <~um homem>>. A recusa da castração pode, por outro lado, ser deduzida do conjunto de uma problemática, quando emerge a negação da diferença dos sexos associada a. mecanismos de clivagem. Mas, neste domínio, a prudência é importante! - No que concerne mais globalmente a recusa da realidade, este mecanis mo pode ser evocado a partir do conjunto dos procedimentos utilizados num protocolo: eles acentuam maciçamente a rejeição em perceber a realidade exterior como tal. A clwagem, mais facilmente reconhecível, acompanha regularmente a re cusa. Retomemos a definição proposta por LAPLANCHE e PO!\'TAUS (op. cit.. , p .. 67): <<Ciivagem do Ego: termo empregue por FREUD para designar um fenômeno bem particular que ele vê operar sobretudo no fetichismo e nas psicoses. A coexistência, no seio do Ego,de duas atitudes psíquicas para com a realidade exterior enquanto esta vem contrariar uma exigência pulsional: uma tem em conta a realidade, a ourra recusa a reolidade em causa e coloca no seu lugar tuna produção do desejo. Estas duas atitudes persistem lado a lado sem se influenciarem reciprocamente.» A recusa por si só não permite, com efeito, da r conta da clínica das psico ses. Em O Homem dos Lobos, F REUD ( 19 18) escreve: <<O problema da psicose seria simples e claro se o Ego se pudesse separar totalmente da realidade, mas isso é uma coisa que se produz raramente, talvez até nunca .. >> \ ~~ • I li~ 1 l' 1\[to INt• Ih>'• 1>1 I h H '-~ .! 17 I ''' ill dt"' 1 I' h o •t't'llt •!fl l t' iillltiN ,1 ~ du.1~ ntlt udcs cvoc:~dus, uma que tem 1 t lt , ""',,. ".dtd.nh•, .t m ttt•n qll\.' separa o Ego dessa rea lidade e produz uma 11o v.t 11 .li h l.tdt dtl 11 .\11lü. (No Ro rschach, este fenómeno traduz-se em particu l.tr' tH'In f.a.to do F+% ser baixo, mas ra ramente inferior a 30 % : se a realidade fosse cnrnplctamente inexistente para o sujeito, então o F+% deveria ser nulo ou quase.) É aqui que se vem inscrever uma distinção determinante entre funciona mento neurótico e funcionamento psicótico: ao descrever uma divagem do Ego (intra-sistémica) e uma clivagem entre instâncias (entre o Ego e o Id), FREUD evidencia (1938-1939, pp.. 3-38) um processo novo, relativamente ao modelo do recalcamento e do retorno do recalcado. Este processo não conduz, com efeito, a uma formação de compromisso entre as duas atitudes coexistentes; estas duas atitudes mantêm-se simultaneamente, sem que se estabeleça entre elas relação dialéctica. No entanto, é necessário assinalar que quando se reconhece a clivagem numa organização psicótica, ela é o sinal de uma actividade defensiva, que permite uma diferenciação efectiva e assegura um mínimo de vitalidade aos processos de pensamento. Nos protocolos de esquizofrénicos cronicizados, a clivagem parece deixar de funcionar e é substituída por mecanismos dissociativos . No Rorschach, a dissociação aparece primeiro no discurso, pelas extravagâncias e o maneirismo, que conferem um aspecto artificial e «pseudo>> à linguagem, na inadequação entre as palavras e as coisas. Mas é sobretudo a dissociação da imagem do corpo que constitui um sinal essencial do funcionamento psicótico. A dis sociação manifesta-se nas respostas fragmentadas, desmembradas, que exi bem a falta de integração da representação do corpo: respostas humanas intei ras muito raras, respostas anatõmicas muito numerosas, que são testemunho da extrema fragilidade, mesmo da inexistência de envelopes continentes. O desdobramento evidencia a divisão do sujeito e a falta considerável da constituição de uma unidade da identidade. Estas representações dissociativas acompanham-se de condutas de pensa mento específicas: evidenciam a impossibilidade de figurar os pensamentos através das representações psíquicas e o recurso forçado a imagens corporais desconectadas e fragmentadas, à semelhança de um aparelho de pensar frag mentado.. A prisão topográfica mostra a ausência de diferenciação entre dentro e fora, o que conduz à hipótese de uma falta de continente psíquico que permi tiria ao pensamento manifestar-se e constituir-se como tal, isto é, liberto das contingências corporais que alienam as potencialidades do raciocínio abstracto. Este resumo permite-nos compreender agora muitos fenómenos que se maniJestam no Rorschach: a manutenção lado a lado, nalguns protocolos, de um sistema adaptativo impermeável e de emergências em processos pri mários que surgem sem e lo dialéctico com esse sistema; a persistência de um .!.IH 11 ltnlt\tll~•lt f'j~ I 11111 \ '"' \tttoll I reconhecimento 111111i11111 d.1 ·~·. IIHI.IIIt 1 h'tt"l '"' l'"''"u'l"' 111.11'1 Jll'tlut bados. Conclusão: organização defensiva e registo dos conflitos A articulação entre a avaliação da organização defensiva e os conflitos essen ciais que a mobilizam, constitui, sem dúvida, a chave da apreciação diagnós tica. Se a orientação defensiva deve ser evidenciada, se a qualidade dos seus arranjos deve ser medida, é a congruência entre as modalidades defensivas e o registo dos confli tos que autoriza o diagnóstico. O trabalho de reconstrução necessá rio no momento da síntese prende-se, com efeito, com a necessidade de situar o sujeito numa dinâmica conflitual dominante. A qualificação da natureza da angústia já orienta para entidades psicopatológicas diferenciadas. A distinção dos procedimentos em termos de defesas neuróticas, defesas de carácrer, defesas psicóticas ... , permite-nos, igual mente, isolar os elementos susceptíveis de confirmar uma hipótese diagnós tica. Mas, é claro, o nível da problemática intervém de forma determinante na avaliação dos modos de funcionamento psíquico: Nos protocolos neuróticos, a problemática reenvia para a angústia de cas tração. Os conflitos aparecem nas dificuldades de identificação sexual e do manejo pulsional, libidinal e/ou agressivo, sem que esteja perdida, no entanto, a consciência de sujeito. Neste sentido, a relação com o real mantém-se de qualidade suficiente, os limites entre a realidade e o imaginário mantêm-se, as fronteiras entre mundo interno e mundo externo subsistem sem intromissões excessivas. Os conflitos são susceptíveis de ser dramatizados, quer no seio de cenários interpessoais quer em termos de rumjnação inrrapsíquica, mas geral mente referem-se à luta entre os desejos e os interditos, num sistema de repre sentações interiorizado. Nos protocolos de estados-limite, a problemática remete para a perda de objecto, em contextos que evidenciam a impossibilidade de elaborar a posição depressiva. Se a relação com o real se mantém suficiente, o investimento da realidade toma conotações particulares: nalguns casos, observamos um sobrcinvestimento da realidade exterior e objectiva que serve de ecrã às mani festações subjectivas, o u ocupa-lhes o lugar, pelas actividades fantasmáticas em falta ou aparentemente nulas; noutros casos, verificamos urna inflação narcísica que apaga uma realidade objectal considerada incómoda pelas limi tações e constrangimentos que impõe. O essencial dos conflitos centra-sc na luta contra o reconhecimento da depressão e da perda de objecro, que conduz ao insucesso os assentos narcí sicos demasiado frágeis. A ~alta de tantas marização parece patente nalguns. N 111 ptui{JIH• I d 11, • 11111n, dt• dl\tlllt,.IOl'tllrc rt'al e ttnngin::íriu, já que esre ullltttll r '" ''"'' '~ 1.1 po1 um.l.Hlscncia dc rcprcscnraçõcs, por ve:r.es colmatada '"'' • ••• 1111111 .1 c•ll••Hcntos concretos ou factuais, que tem com objectivo recu '·" 'I"·' hp1cr JllLidência latente nas produções. Se as possi bi I idades de con flnuali.lação são restritas, não observamos, no entanto, um dano grave na identidade, no sentido em que a distinção entre o sujeito e o objecto é firmemente mantida. Nos protocolos psicóticos, a problemática remete para a perda de identi dade. Nas personalidades dissociadas (esquizofrenia) é a angústia de fragmen tação e de desintegração que sustêm as produções. Nas personalidades interpretativas (paranóia) é o perigo de destruição e aniquilamento pelo objecto persecutório que domina. Quer as barreiras entre dentro e fora estejam des moronadas ou ameaçadas de estrago, elas caracterizam-se pela sua extrema fragilidade. De igual modo, a distinção entre imaginário e real está constante mente minada pela confusão, a carga dos meca nismos projectivos e a insufi ciência de ancoragem na realidade objectiva. Os excessos fantasmáticos e pul sionais assinalam a inconsistência de um Ego que deixou de cumprir as suas ftmções reguladoras. O esquema que acabamos de expor, como qualquer resumo, é restritivo. Para perceber finamente o registo dos conflitos,é necessário voltar à análise dos factores e questionar os seus significados: para cada um deles, com efeito, propusemos interpretações diversas, que cobrem diferentes modos de funcio namento psíquico. Num mesmo movimento, o confronto das produções do sujeito com as solicitações latentes do material c as hipóteses que ela permite quanto aos conteúdos das representações, situam o nível da problemática. Em conclusão, a síntese dos dados releva de um trabalho de diferenciação, de elaboração e de articulação, que se refere aos factores mobilizados no pro cesso associativo, como resposta a estimulações específicas de que se conhe cem as características.
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