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Chabert (1997) Mecanismos de defesa

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.! I I () 1(11~1·11 1 \tll N~ 111•11' I 1111 i\t•llll 
Os mecanismos de defoan 
A deternúnação dos mecanismo!> dt: dl'll"'·' 111" I''''''" • •h •, dt I< o r\~ h tLh LOO~ 
titui uma fase de peso na apreciação Jo lumHut.tlltt'ttl" l' \h l'""' do ~U J l' tto. 
Permite determinar a flexibilidade ou a ngtdl't d.t o1 ~·••ttttf.l\.111 ddl'IIStva, as 
suas qualidades específicas e o seu carácter opcrantl', qul' pt•rnutclll utn dc!>im­
pedimento parcial ou ineficaz. 
A qualificação do sistema defensivo, com referência aos modelos psicopa­
tológicos ou nosog ráficos utilizados pelo clínico, representa um dos eixos 
essenciais da avaliação diagnóstica: esta apoia-se no pôr em evidência os 
mecanismos de defesa e o registo conflitual, cuja articulação dá conta da pro­
blemática. 
Separar os mecanismos de defesa do que os levou a actuar releva de um 
procedimento arbitrário: meca nismos de defesa relativamente semelhantes to­
mam significados diferentes segundo o contexto conflitual em que se integram. 
Recordemos rapidamente a definição proposta pelo Vocabulaire de la 
Psychanalyse (p. 234): 
Mecani~mo de dcfc:sa: • Difcrcmcs tipos de operações nas quais se pode exprimir a defesa. 
Os mecan ismos preponderamcs siio difcrenrcs segundo o tipo de afecção encarada, 
segundo a fase gen~tica considerada, segundo o grau de ela boraçáo do conflito defensivo, 
etc. Concordamos em que os mecanismos de defesa são utilizados pelo Ego, mantendo­
se em aberto a questão teórica de snbcr se a sua utilização pressupõe sempre a existência 
de um Ego organiwdo <1ue lhe sirvo de suporte.» 
A definição de LAPLANCHE c PONTALIS foi discutida por D. WIDLOCHER (1971­
-1972). Este autor verifica que este conceito, tão largamente difundido na psi­
cologia normal c patológica, de que se faz um uso quotidiano, tanto na psico­
logia como na psiquiatria e, em particular, na situação de teste projectivos, 
está, de facto, mal esclarecido na teoria psicanalítica. D. WLDLOCHER acha de­
masiado vaga a definição d o Vocabulário de Psicanálise e propõe esta: «A 
defesa é o conjunto de operações cuja finalidade é reduzir um conflito intrapsí­
quico, ao tornar inacessível à experiência consciente um dos elementos do 
conflito. Os meca1úsmos de defesa serão os diferentes tipos de operações nos 
quais a defesa se pode exprimir, quer dizer, as formas clinicas dessas opera­
ções defensivas. >> 
No trabalho de análise e de qualificação da organização defensiva, através 
dos protocolos de Rorschach, distinguimos os procedimentos de elaboração 
do discurso e os mecanismos de defesa que os sustêm, ou para que são capazes 
de remeter. 
A noção «procedimento», introduzida por Vica SHENTOUBJ para o estudo 
dos protocolos de TAT, revelou-se particularmente fecunda. Permite um exame 
minucioso e subtil do discurso manifcsLO do sujeito, ao evidenciar as sequên­
cias que comportam operações sign ificantes, um pouco como procederíamos 
1Ver na bibliografia as refcrênci:-~~ .11" orugm ,)c V. !.t tFNTOUB e R. DEBRAY. 
"'' olt lttll "'' ''''' '''li/'" f, • • ~ pt't.·•~ 'l'p.~t.HI.I~ .~:u> de scguic.la ajustadas, 
'"''''' • uh t • 1pu · ~~til"' 1 'lw..u,,to t tll rt dn, l' a -.ua reconstrução, em parti­
UII.II • 111 1c '"'"" ,h• IIH't.tni,ulo~ de defesa. A Ji~tinção entre procedimentos e 
llH t ' '"' tllll~ d,• dllt''<l c, por vezes, delicada, na medida em que algumas 
~.:ond•·"~"'''l'' Jc: procedimentos no seio de uma palavra, ou de uma sequência, 
revd.tm, Jc •mediam, a operação defensiva como tal. Aliás, é o agrupamento 
de vários procedimentos presentes em diferentes momentos que autoriza a 
referência a um dado mecanismo. 
No Rorschach, a tradução defensiva aparece, muitas vezes, ao nível das 
corações que traduzem a codificação do conteúdo manifesto. A análise dos meca­
nismos de defesa é simultaneamente mais fácil e mais difícil: mais fácil, na medida 
em que o desvio entre procedimentos c mecanismos de defesa se determina mais 
claramente, e em que o trabalho de transposição se impõe com maior rigor; 
mais difícil, porque é necessário aprufuuuar consideravelmente o estudo dos 
factores, para neles descobrir as operações defensivas que aí se escondem. 
São possíveis muitas formas de abordagem; podemos partir dos mecanis­
mos de defesa e classificá-los por categorias: defesas neuróticas, defesas psicó­
ticas, defesas de carácter. Estas modalidades defensivas sustêm as principais 
organizações psicopatológicas: nos protocolos, a investigação foca liza-se em 
elementos significativos, que permitem dar conta de urn outro ripo de defesa. 
Um out ro processo consiste em ordenar os procedimentos utilizados na 
elaboração do discurso, sem lhes dar, de imediato, uma qualificação nosográfica 
ou psicopatológica determinante, reservando esta apreciação diagnóstica para 
a síntese dos dados. Foi esta a orientação escolhida inicialmente por V. 
SHENTOUB, para a realização da ficha de análise do TAT, apesar de as referên ­
cias às grandes entidades psicopatológicas pesarem na classificação das diver­
sas categorias de procedimentos. Esta influência parece-nos, aliás, inevitável. 
Os procedimentos da série «rigidez,. foram inicialmente inspirados pelos me­
canismos obsessivos, os procedimentos da série «labilidade>> pelos mecanis­
mos histéricos, os procedimentos da série «inibição» pelos mecanismos fóbi­
cos e os procedimentos que relevam de emergências em processos primários 
pelo modo de funcionamento psicótico. 
No decurso dos últimos quinze anos, o aperfeiçoamento e desenvolvimento 
das categorias reconheceu-se como necessário, tendo em conta as aberturas da 
psicopatología e a atenção dada aos modos de funcionamento psíquico tais 
como os funcionamentos limites e narcísicos (F. BRELET), bem como aos que 
são específicos dos doentes somáticos (R. D EBRAY). 
Distinguimos guatro grandes categorias de procedimentos de elaboração 
do discurso: rigidez, labilidade, inibição, processos primários. Esta primeira 
diferenciação permite definir e identificar o leque das condutas mobilizadas 
no Rorschach e abre-se numa interpretação dos mecanismos de defesa em ter­
mos psicopatológicos (neurose obsessiva, histeria, funcionamentos narcísicos, 
funcionamentos limites, psicoses). 
}. / ( I () fl <lll~~IIM 11 NA ( 11"'11 A 1>1' 4\ 1111 111 
Estes diferentes mcc,wis mos v.to ll.tdlltll ··• , IIHI'HII•• h" h ,,tlldVl''~ d1• trt•s 
tipos de dados. Os procedimento~ ptHI<-11t , • 11111 • I• 1111 , 'JI·"• • • 1: • 
1) quer fora da resposta cotável, thl vct h .tht.ll, .ll t u11 111 \ c..ll .lc. t l' rt'>liCa s 
qualitativas não verbais que acompanham a pwdu~ ,111 ~ ~ ~· nll, t g~· ~~ ~; . 
2) quer na própria resposta, no seio de uma SellliCIILI.t .t:.:.m.l<lliV:1 csllgma­
tizada por uma cotação; . . 
3) quer, por fim, através de um ou vários factores combmados CUJOagru­
pamento permite determinar um mecanismo de defesa específico. 
Eis três exemplos que ilustram estas três situações. 
- Primeira eventualidade: por exemplo, aparecimento frequente do tipo de 
comentário «Não sei ... não vejo realmente o que pode ser, não, realmente 
isto não me diz nada». A insistência sobre o não-saber dá conta, nos 
protocolos citados, de mecanismos de recalcamento, essencialmente 
manifestos na verbalização. 
-Segunda eventualidade: por exemplo, no cartão III_sur~e «Dois_senhores 
que se cumprimentam, têm um ar educado». Logo a pn.me1ra le1tura de~­
cobrimos nesta resposta uma reversão da pulsão agress1va no seu contra­
rio {formação reactiva). 
-Terceira eventualidade: o exemplo é quantitativo. Confrontados com um 
F% =80% colocamos a hipótese (tendo em conta a sua associação com 
um G% ele~ado, um TRI introversivo e um F+%= 70%) da utilização de 
procedimentos rígidos, que testemunham um recurso à realidade formal 
exterior para lutar contra a emergência das preocupações internas e, em 
particular, dos afectos (mecanismo de isolamento provável).Os procedimentos rígidos 
São agrupados nesta categoria todas as manifestações qu: dão con~a. da_ utili­
zação dos dados perceptivos do material, quer para ~v1tar ou nu~1~1zar o 
aparecimento de elementos em relação com a realidade mterna do suJeitO quer 
para lhe permitir exprimir-se graças a uma estratégia de justificação e de raci­
onalização «objectivantes». 
Os procedimentos rígidos 
Manifestações fora das respostas 
Jntegramos aqui todas as reacçõcs qualitativ~s, ver~ais ou não, ~ue traduzem 
a preocupação do sujeito em ajustar ao máx1mo a tmagem assoctada que for­
nece à realidade perceptiva do cartão. 
- As precauções verbais 
«Isto poderia ser»; •Se olharmos com muira a tenção ... • ; •Rigorosamente, poder-se-ia 
ver aqui ... • ; erc. 
- A dúlltda 
«Niio tenho o certeza que seja isto efectivarnenre ... »; «Não é exaccnrnente assim »; 
«Cla ro, pode r-se-ia ver tarnbérn ... • 
- As ruminações, muitas vezes próximas da dúvida: 
«Se tirarmos a parte esquerda, e ao o lharmos sobretudo a parte central, poder-se-ia talvez 
ve r com rigor. .. mas isso não é exactamenre ... » 
Estes três procedimentos dão à verbalização um aspecto muito específico, 
pesado e embaraçado, caracterizado pelos ir-e-vir, a sobreposição e a ausência 
de posição clara e conferem à produção uma abundância enganadora, na me­
dida em que o aspecto denso dos comentários esconde o evitamento das repre­
sentações significativas para o sujeito. 
- A denegação aparece também na verbalização. Refere-se, ao nível do 
discurso manifesto, ao aspecto externo da percepção (e não à representa­
ção associada): <<Não é claro>>; «Não vejo bem». 
-O apego aos pormenores pode traduzir-se nos comentários, independen­
temente do modo de apreensão: o sujeito descreve minuciosamente as 
diferentes partes do engrama percebido, mesmo que este seja apreendido 
globalmente. 
-As precisões numéricas são raras, mas podem aparecer na discriminação 
escrupulosa de alguns elementos do material. 
-As formações reactivas, por fim, para além do «Obrigado» no princípio 
do cartão, surgem em comentários do tipo «Está muito bem desenhado, 
muito ordenado, muito claro... » 
Respostas ou sequências de respostas 
Esta categoria compreende as manifestações defensivas que se evidenciam no 
seio de uma resposta ou de uma sequências de respostas. Aparecem os proce­
dimentos, mas também as combinações de procedimentos, cuja condensação 
revela a operação defensiva propriamente dita, no sentido de que aí se desven­
dam num duplo movimento, a representação e/ou o afecto e a defesa mobiliza­
da pelo seu encontro. 
- Denegação: 
I «Isto não é, apesar de tudo, uma águia ... não, não é uma ave de rapina, qualquer 
coisa menos agressiva ... 
- Formação reactiva: 
11 1 	 «Dois mordomos que se cumprimentam ... 
- Dúvida traduzida principalmente pela hesitação entre duas imagens, ou 
entre duas interpretações no seio de uma mesma resposta: 
11 1 	 «Duas personagens ... não sei se são dois homens ou duas mulheres ... o nariz 
faria pensar em personagens do sexo masculino, mas ... eles trazem sapatos de 
tacão alto ... portanto seriam mulheres ... 
11 
2/o'/ ll lt11ilol IM• 11 N,\ I 111'11 A'''' \ititljll 
Factores especificas 
- A descriçim, a foca hzac;..HI IH I'> liiiiH 11111 ''• L 11 1111 1 ' 11 " H 111 1 \t', .ll llll.l 
de tudo, pela elevação Jo f % ( lll''>H'l,l'•ll '1111111111 11 h~''u), qllt d.t U)ll (,l 
de uma formalização exccs<>iva de que o pro\t•d uut tlln .,, 1:111111c c, IIIUit.l'; 
vezes, corolário. 
-A expressão de afectos a mínima: o tipo de re!>sonânu.t llllllll<l coan.:raJo 
ou introversivo e as respO!>tas sensoriais pouco numerosa:. são testcmu­
nho da luta contra a emergência das emoções e dos afectos; 
-A dúvida traduz-se nesta categoria pela elevação do número de respostas 
F±, que mostram o receio do compromisso c da tom ada de posição clara 
e determinada. 
- A preocupação de domfnio do material no que diz respeito às configura­
ções perceptivas evidencia a necess idade de manter os desejos e de con­
trola r as eme rgênc1as puls1onais conside radas perigosas. Na centraliza­
ção da realidade externa, é a contenção dos movimentos internos que é 
procurada, em particular no es forço de apreender o ma terial global­
mente (aumento do G%). 
- O apego aos pormenores, já ex plicitado na verbalização, confi rma-se na 
ut ilização do D e sob retudo do Dd, e toma o mesmo significad o do acor­
da do ao G% elevado (procura de domínio do material na sua exter­
nalid ade, que corresponde ao esfo rço de controlo dos desejos). 
- A in telectualização apoia-se na combinação de vários factores: presença 
de G organizados, determinantes cinestésicos, associados eventualm ente 
a conteúdos específicos, artísticos. 
-A negação das ligações, quer entre representação e afectos, que se traduz 
pelo aumento do F% e pela escassez dos determinan tes sensoriais (IC 
mui to baixo), quer entre duas representações, que se traduz pela frag­
mentação das respostas apreendidas em O ou Dd, em que se acentua a 
ausência de relação entre as sucessivas respostas. Falamos aqui de isola­
mento perceptivo: 
«Dois animais, dois cãesque... não. não vejo .....;•O vermelho, manchas de... de 
sangue... 
É de restabelecer a ligação entre a evocação de animais e as manchas de 
sangue: o corte entre as imagens foi imposto pela necessidade de não 
evocar a relação, agressiva em particular, entre os dois protagonistas. 
- As fo rmações reactiuas através da multipl icação da p resença frequente de 
respostas FC1 • 
1 Ver supra o capítulo 5 cons~t:raJo ,H rc~P""'J" 'cmsmiais. 
1\ ÁP.o,II~IIA I il'l J\lt 1 Mll'o~ll ' > 111 11111 '~ ,'/, } !) 
Os mecanism os de defesa de tipo obsessivo 
Os procedimentos citados no parágrafo precedente podem ter influência na 
utilização de defesas neuróticas de tipo obsessivo. Claro está- e isso será ilus­
trado no próximo capítulo - que é o conjunto dos factores em interacção que 
orientará a apreciação diagnóstica, mas a interpretação dos procedimentos 
evidenciados, na sua prevalência rígida, já autoriza a hipótese de uma organi­
zação defensiva obsessiva. 
O formalismo excessivo (F% elevado) associado a um controlo med iana­
mente eficaz, que está condenado em parte ao insucesso pelo aparecimento de 
engramas F- com significado dinâmico, mostra a utilização preferencial do 
recurso à realidade externa como defesa contra uma realidade interna que, no 
enta nto, se infiltra através do aparelho defensivo (retorno do recalcado). Esse 
formalismo excessivo, quando é explorado como barreira contra o su rgir das 
pulsões - que aparecem sob a forma de fugas muitas vezes explosivas- e con­
tra a expressão de a fectos, é testem unha de mecanismos de isolamento entre 
afecto e represe ntação . Esse formalismo, por fim, em conjunto com um recorte 
perce pti vo q ue ignora os laços e as relações entre as imagens, remete pa ra 
mecanismos de iso lamento entre represe ntações. 
Estes critérios parecem-nos preencher as condições de a plicação da noç;ão 
de isola mento: citemos como apoio a definição proposta por LAPLANCH:E e 
PONTALIS no Vocabulaire de la Psychanalyse (p. 215): 
• ls~lamenro: mecanismo de defesa sobretudo típico da neurose obsessiva e que consiste 
em 1solar um pensamento ou um comportamento, de tal maneira que as suas conexões 
com ourros pensamentos ou com o resto da existência do SUJCltO se encontram rompidas.
E_nrre os proce~m~ntos de isolamento, citemos as pauças no decurso do pensamento, as 
formulas, os nruats e, de um modo geral, todas as mediJas que pennirem estabelecer 
hiatos na sucessão temporal dos pensamentos ou dos actos.• 
A hesitação entre imagens diferentes, opostas, mesmo contraditórias, a pre­
sença importante de respostas vagas (F±}, :1 ruminação na verbalização, o ir -e­
-vir entrl' representações contrastadas, evidenciam a existência de mecanismosde anu lação retroactiva, cuja definição retomamos (lbid ., p. 29): 
«Anulação (rerroactiva): é um mecanismo psicológico através do qual osujeito se esforça 
por f~zer com que pensamentos, palavras, gestos, acros passados, não surjam: ele utiliza 
par:~ •sso um pensamento ou um comportamen10 qut tem um significado oposro. Trata­
-se aqut de uma compulsão de aspecto mágico, particularmencccaracterística da neurose 
obsessiva. 
Vej amos dois exemplos retirados de do is pro tocolos de Rorschach: 
11 «Duas manchas de sangue[ ...). Mais manchas de tinta vermelha... 
VIII "Dois animais ferozes, com ar de se precipitarem sobre..... 
"Não, finalmente, as cores são ternas, é mais um animaldoce, um felino 
temo... 
}.J_ () tllt1111\oll ~l ll NA I ti NI• A 1111 i\1111 111 
As (orm(/çoes rt'cJ Clllta :; tlll.. <tllll.llll 111111111• ,, "•'" ol l\1 1 1' 'I"' 1•' , fl ,tnto.., , 
aliás, nos comentá rios, n;l'. n..: spo~t.l '> p.11 t11111.11t • , 111 o I " ' ' 11 1~ ,, ·P''' ti H..O \. 
A dificuldade de análise destas mod.tl1d.1d(' dtlnt-.IVotli t'MII ltg.HI,, '' do1~ 
argumentos. Por um lado, à generalidad<.' de um.1l lllldllt.l mu·,.., 1n.1l.1mbcm 
na vida social. A presença de formações reactiva~ no p1utollllo 1 normal, desde 
que o seu aparecimento não se multiplique e não sobrccant·guc o funciona­
mento psíquico. A este propósito, põe-se a questão - tão fundamental - do 
carácter normal ou patológico de uma operação defensiva. Por outro lado, está 
ligada à qualidade dos critérios que permitem interpretar um comentário, uma 
resposta ou um factor com o significativo de formação reactiva, isto é, como 
«atitude ou hábito psicológico de sentido oposto a um desejo recalcado e consti­
tuído em reacção contra ele» (Ibid., p. 169). 
Correndo o risco de nos repetirmos - uma vez mais - diremos que, ainda 
aqui, são os outros elementos do protocolo que permitirão decidir (para a lém, 
claro, do caráctcr iterativo das manifestações deste tipo), e, sobretudo, os que 
se relacionam com o manejo pulsiona l. 
A referência a mecanismos de tipo formação reactiva é possível quando 
somos confrontados com traços convergentes do estilo: dificuldades na inte­
gração e/ou expressão da agressividade (ou da atracção libidinal) no compor­
tamento face ao clínico, representações de relações (respostas K) muito centra­
das na delicadeza, na conveniência ou na negação do carácter conflitual 
agressivo ou libidinal dessas relações, em que os suportes perceptivos de tais 
respostas afastam a dimensão cromática do estímulo (sobretudo o vermelho). 
A denegação- «processo através do qual o sujeito, apesar de formular um 
dos seus desejos, pensamentos ou sentimentos a té então recalcado, continua a 
defender-se dele, negando que ele lhe pertence» (Ibid., p . 112)- aparece atra­
vés de comentários ou no seio de respostas ou de sequências de respostas. Por 
outro lado, ela não constitui uma modalidade defensiva exclusivamente rígi­
da, dado que a encontramos noutras organizações neuróticas para além da 
neurose obsessiva. Ela é, no entanto, característica tal como o recalcamento 
(ver o parágrafo consagrado aos mecanismos de defesa lábeis), de funciona­
mentos psíquicos de tipo neurótico, na medida em que ela supõe a existência 
de um campo psíquico interno do sujeito, através do qual se manifesta um 
sistema de representações e de afectos. 
As defesas rígidas de carácter 
A distinção entre as defesas r ígidas de carácter e os mecanismos neuróticos 
elabora-se a partir de verificações de duas ordens. 
Ausência de articulação 
Os procedimentos rígidos estão presentes, claro, mas não articulados entre si: 
nos protocolos que ilustrnm csrc tipo de funcionamento, não observamos 
i\ 1\ l'lo l l~ fli\ I l 1\ f\. f lo ANI\MII\ 111 1)1l i \o\ 22 J 
n lll l''>lll.t ~ ""):r·ll t' IILra entre manrfcstaçõcs fo ra das respostas, associações 
fornecidas e lacrores específicos. 
Encontramos raramente a configuração defensiva acima evocada, que com­
porta o isolamento, as formações reaccivas e a anulação retroactiva, sustentada 
pelo recalcamento, mas encontramos, sobretudo, mais mecanismos isolados, 
erigidos em condutas comportamentais, cuja dimensão agida se traduz no 
Rorschach pelo excesso ou caricatura do traço: por exemplo, o F% é muito 
elevado, superior ao que caracteriza o funcionamento neurótico (entre 80% e 
90%); ou então as formações reactivas não se contradizem de uma ponta à 
outra do protocolo. Isto deve-se à inexistência do retorno do recalcado, que 
aparece sistematicamente nos protocolos neuróticos, que mais não seja atra­
vés das emergências primárias em pequenas quantidades e as respostas simbó­
licas que servem de compromisso entre a defesa e a expressão pulsional. A 
anulação retroactiva, por outro lado, não se encontra neste tipo de protocolo, 
na medida em que o pôr em causa e a dúvida não são permitidos, pela extrema 
rigidez e pelos mecanismos de isolamento próximos da clivagem. 
Por fim, não observamos qualquer ligação entre as operações defensivas e 
os conflitos, dado que estes não estão propriamente representados: o acesso à 
simbolização parece, de facto, difícil de atingir, parece mesmo vedado. 
Eficácia muito relativa dos procedimentos 
e dos mecanismos de defesa 
Esta segunda característica constitui o corolário da precedente: não existe for­
mação de compromisso. As representações não são recalcadas, e depois defor­
madas pelas defesas, a fim de permitir, apesar de tudo, a sua expressão. Não 
há, portanto, uma formação que permite satisfazer, ao mesmo tempo, o desejo 
inconsciente e as exigências defensivas. É por isto que as emergências em pro­
cessos primários podem estar totalmente ausentes, ou serem particularmente 
cruas e directas, cortadas, evidentemente, de qualquer operação defensiva. As 
produções são, então, niveladas ou, pelo contrário, muito heterogéneas, com 
rupturas bruscas, quedas brutais do controlo ou elevação máxima das barrei­
ras defensivas. 
Por fim, os mecanismos rígidos citados coexistem com outros que lhes acen­
tuam, ainda mais, o carácter não neurótico: observamos um acoplamento com 
mecanismos de inibição consideráveis (ver o parágrafo consagrado a estes 
mecanismos), ou então uma associação de proced imentos rígidos com meca­
nismos cuja dimensão psicótica está patente (clivagem, recusa, projecção para­
nóica). 
Nesta última eventualidade, o controlo formal é muito medíocre, as emer­
gências em processos primários maciças c iterativas, a projecção sobrepõe-se à 
carapaça adaptativa construída sobre o vazio, num sistema que testemunha a 
clivagem do Ego. 
22.! I I 1\t!ll'•' IIAI ti N.\ \.111~11 .\ t u o Atol I IH 
As defesas rígidas de tipo nnrci!>IC(I 
Os funcionamentos narcísicos opresctll.ltll Jll ""''~'" ., toiiiiLl ~ v1 ,,., lh· terogé­
neas. No entanto, observam-se reg uhlrnlctll l' . tl gtllll .t~> 1 11 ' '''' ''" '''-il~ Jc tipo 
rígido. 
- A centração na simetria e as referências ao eixo m ediano s5o utilizadas 
ao nível mais manifesto como um recurso às características objectivas do 
material, e aparecem como tal nas observações críticas que as acompa­
nham. Mas, para além disso, a centração na simetria serve de suporte a 
respostas especulares, especialmente nos cartões com configuração bila ­
teral, em cenários relacionais que implicam duas personagens (ou dois 
animais) numa relação narcísica, de reflexo ou de duplo: esta tem em 
vista o evitamento de uma relação entre dois seres diferentes, o que pode­
ria provocar uma conflimalidade impossível de admitir. 
Trata-se, assim, de negar o movimento projectivo através de uma con­
duta de objectivação; trata-se, sobretudo, de negar a diferença através de 
um sobreinvestimento na simetria compreendida como porta-voz do 
mesmo. 
- Valores elevados do F% e do F+%, que se referem à qualidade particular 
da relação com o real. Relembremos que, no Rorschach, o F% e o F+%permitem apreender em que medida o sujeito é capaz de dar às coisas um 
contorno, ao estabelecer fronteiras estáveis entre dentro e fora (ver o 
capítulo sobre os determinantes}. 
O aumento frequente do F% nos protocolos de personalidades narcisicas, 
associado a um F+% quase sempre de excelente qual idade, dá conta do estabe­
lecer de barreiras muito investidas entre dentro e fora e mostra, ao mesmo 
tempo, a necessidade do recurso a condutas de objectivação que tentam afas­
tar os elementos projectivos, para se manter no registo de uma percepção 
«pura». 
Neste quadro de uma atitude formal que valoriza as fronteiras e os limites, 
algumas respostas revelam-se muito típicas das personalidades narcísicas. Trata­
·se de respostas a que chamaremos respostas «pele» (0-IABERT, 1987), para as 
quais propomos a definição seguinte: entendemos por respostas <<pele» todas 
aquelas cujo conteúdo se refere a um envelope ou a um continente; pode tra­
tar-se de respostas H, A ou Objecto, mas, qualquer que seja o conteúdo, o 
interesse reside no facto de elas evocarem uma superfície que limita dentro e 
fora. C laro que nos referimos aqui aos trabalhos de Didier ANZJEU ( 1974, 1981, 
1985' 1994). 
No Rorschach, entram nesta categoria todas as respostas significativas para 
o índice de Barreira-Penetração de FISHER e CLEVELAND (1958). Por exemplo: 
- conteúdos <<A»: animais com carapaça, tais como escaravelhos, tartaru­
gas, crustáceos; pêlo de animais ou pele específica; ursos, serpente; 
1 ""''·ud1'' ·• OhJcCtO»: roup as, tec idos, máscaras, propostos, quer ele 
llll' llli l po~itiva («vestidos sedutores», «manro real>>) quer negativa ( «far­
rapo~:~» , cctrapOS» ); 
- conteúdos «H»: respostas humanas, cinestésicas ou não, caracterizadas 
pela função ou pelo papel consignado (investido como envelope, ou como 
máscara protectora, como em <<palhaços», «advogados>>, «marionetes», <<rei, 
rainha»). 
Resumindo, as formas constituem os envelopes perceptivos das imagens e 
o contorno continente das representações que nelas figuram; de igual modo, 
as respostas <<pele» remetem para envelopes corporais e psíquicos dos quais 
traduzem, ao mesmo tempo, o valor diferenciador e as lacunas que elas tentam 
colmatar. 
As faltas das defesas rígidas narcísicas 
As faltas das defesas ríg idas narcísicas estão ilustradas nalguns protocolos de 
funcionamentos-limite: estes mostram, também, um esforço para estabelecer 
fronteiras entre dentro e fora, susceptíveis de preservar, quer as intrusões ex­
ternas, quer as emergências pulsionais internas. Dupl a defesa, portanto, em 
relação ao fora e ao dentro, que se revela muitas vezes insuficiente para domi­
nar a hipersensibilidade aos estímulos externos e a extrema violência dos 
movimentos internos. 
Os func io namentos-limite associam ao Rorschach um F% elevado e um 
F+% médio, e mostram sequências de funcionamento muito heterogéneas: tão 
depressa o controlo formal funciona muito correctamente, e dá testemunho de 
capacidades de integração efectivas das experiências, co mo o controlo é exce­
dido pela invasão de uma fantasmática deformante ou pela irrupção emocio­
nal. Assistimos, então, a um duplo processo de funcionamento: um adapta­
tivo, e um outro desconectado, relativamente ao precedente, arrastado por 
descargas explosivas e desorganizantes. Estas modalidades de condutas psí­
quicas interpretam-se em termos de clivagem do Ego (ver capítulo consagrado 
à inibição), que assinala a existência, no se io de um mesmo sujeito, de «duas 
atitudes psíquicas diferentes, opostas e independentes uma da outra» (FREUD, 
1938). 
Os procedimentos lábeis e as defesas 
pelo recurso à fantasia e aos afectos 
Os procedimentos lábeis 
Manifestações fora das respostas 
Integramos aqui todos os comentários referentes à dimensão subjectiva da 
vivência. A atenção já não é dada à exterioridade do estímulo, mas ao que o 
:.!.J.• / I I 1(1111\< 11~• 11 N-' I IINI• \ I•« \1•<•1 lU 
sujeito senlc fa~c ;1 cs~l' t'Slllllltlo: 11 o11.1 .,, ••1g• " 11 .J, 1 111 111 • 1 1 ,dgllll'> l'llllll' lltos 
da rea Iidade interna (em pa tll t:u l.1 r 11' .1 kd n s), 1 • ''"" .J, lt 1li 11111 .1 .1 l'llll.' l 1.\l'll 
cia de outros elementos dessa rcalid,tdt• IIHI' IIl . t (,,, 11 I"' Wlll.l~m·o,): 
- Comentários regulares, gerais, itera llvm que 'liiHl' lll tk•,dt• .1 Jprcscnta 
ção dos cartões, que dão a impressão Jc unt.t IC.1tl1VIdadc imediata às 
estimulações: permitem, com efeito, afastar as representações incómo­
das, enquanto são expostas referências pessoais que as mascaram. 
-Dramatização, o carácter excessivo e exagerado da verbalização, a ênfase 
dada à expressão do prazer ou do desprazer, em particular nos qualifica ­
tivos: «É horrível o que me está a mostrar»; «Oh! Isto, então, é, de facto, 
infinitamente mais bonito, agradável, maravilhoso, como cores>>. 
- Labilidade das reacções emocionais, muitas vezes contrastadas, em rela­
ção estreita com a qualidade cromática dos cartões, o que sublinha a 
sugestionabilidade, a vulnerabilidade e a sensibilidade ao meio envolven­
te: os cartões negros suscitarão comentários negativos, ansiosos e depres­
sivos, enquanto os cartões pastel arrastarão associações mais positivas. 
- A acentuação do desconhecido, o não-saber, a a usência de imaginação e 
de inspiração, sob a forma de denegações sucessivas: «Não, não vejo o 
que isto poderia ser ... não tenho ideias, aliás, não tenho qualquer imagi­
nação >> . 
-Manipulação lábil da linguagem, discurso precipitado, rapidez dos ten:­
pos de latência, associações por contiguidade ou consonância, trocadt­
Jhos. 
Respostas ou sequência de respostas 
- O recalcamento pode aparecer, em particular, na recusa ou incapacidade 
em fornecer associações nos cartões muito saturados em simbolismo 
sexual (cartões IV e VI). 
- A denegação pode, então, ser utilizada, quando é evitada uma representa­
ção cuja dimensão simbólica é evidente e é então investido um determina­
do tipo de conteúdo (nevoeiro, fumo) que serve de ecrã a essa representa­
ção: 
VI «Não vejo nada, na verdade... um véu opaco através do qual nada se pode
adivinhar... 
- A erotização das relações aparece através das encenações cinestésicas: 
«Uma mulher a dançar entre dois homens.» 
11 «Um casal que se abraça ... 
111 «Duas personagens que dançam... 
A i\ Nt, 11q1A 1 m M11 ANI\Mn\ 111 1>111 '" 225 
- Realce da reactividade emocional, no seio de uma sequência de respos­
tas, pelo privilégio dado às cores na determinação das respostas. Este 
modo de funcionamento aparece, com frequência, nos cartões pastel, 
enquanto as respostas cinestésicas são as menos frequentes. 
Factores específicos 
- Cuidado em se manter à distancia dos cartões, pelo recurso a uma abor­
dagem global, vaga ou impressionista: esta conduta evi~a, em ~articular, 
o confronto com a reactívação de preocupações ma1s prec1sas. Esta 
ausência de <<curiosidade», de «penetração» do material está em relação 
estreita com o recalcamento'. 
- Recurso intenso às manifestações sensoriais, por vezes sustentadas pelas 
emoções ou afectos: o TRl extratensivo é então suportado por defesas 
que consistem em realçar os afectos para evitar a emergência das repre­
sentações. . . 
- Sugestionabilidade e vulnerabilidade, que se traduzem pela grande sensibi­
lidade às variações do estímu lo e em particular às mudanças cromáticas: 
observamos uma grande variedade de respostas sensoriais (C, C, E, Clob). 
-A prevalência atribuída à reactividade subjectiva aparece na diminuição 
do interesse dado ao formal e ao objectivo (F% baixo). 
- O simbolismo transparente, e, em particular, as referências simbólicas 
sexuais, caracterizam os conteúdos2• 
- O confronto entre desejos contraditórios pode surgir através do carácter 
contrastado das associações (representações e/ou afectos muito opostos). 
Sempre na categoria dos procedimentos lábeis,mas em referência com con ­
dutas defensivas de uma outra ordem, aparecem: 
- Uma fuga para a frente na interpretação, uma certa precipitação na multi­
plicação de respostas. . , , 
- Flutuações muito importantes no regtsto das respostas, o que da a pro­
dução um aspecto descontínuo. 
- Manifestações emocionais muito intensas, traduzidas p or um T RI 
extratensivo muito dilatado. 
- Uma perda de controlo sobre a realidade objectiva (F+% muito baixo): 
o subjectivo domina sobre a preocupação de adaptação mínima ao mun­
do exterior. 
- Conteúdos muito crus (com valência sexual e regressiva). 
Enquanto a primeira série de procedimentos remete para mecanismos de 
recalcamento, a segunda evidencia, sobretudo, o insucesso de tais mecanis­
mos. 
1 Ver a esre propósiro o capírulo 3. . • . .. 
2 Ver a este propósito os exemplos dados no capaulo 7 sobre os conreudos stmbohcos. 
..!21> \1 1~1111\t 11•1' 11 N•l I IINII I [HI ,\jtltlt I 
Os mecanismos de defesa histórict> 
O recalcamento 
Torna-se necessário retomar a dcfinH,;Ill dc'>lt llll'<..tttt>IIHI, t.d ~u111o d;l c prn 
posta por LAPLANCHE e PONTALIS (O{J. Clt., p. 391), wrn o l1111 dt• hl'lll nu~ enten­
dermos sobre os significados deste conceito. 
~A) No sentido próprio: operação pela qual o sujeito procrua rcpcltr, ou manter no 
inconsciente, representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas a uma pulsão. 
O recalcamento produt.-se nos casos em que a satisfação de uma pulsão -susceptível de, 
por si mesma, proporcionor prazer - ameaçaria provocar desprazer relativamente a 
outras exigências. O recalcamenro é e~pecialmenre manifesto na histeria, mas desempe­
nha também um papel primacial nas o utras afecções mentais, assim como na psicologia 
normal. Pode ser considerado um processo psíquico universal, na medida em que estaria 
na origem da construção do inconsciente como domínio separado do resto do psiquismo. 
B) Num sentido mais va~o: u termo recalcamenro é por vezes tomado por FREUD numa 
acepção que o aproxima do de «defc~a,., por um lado, como a operação do recalcamcnto 
romado no sentido A que se cnconrra, pelo menos como uma etapa, em numerosos 
processo~ defensivos complexos (a parte é então romada pelo todo) e, por outro lado, 
como modelo teórico <;:m que o rccalcamcnto é utilizado, por Fru;uo, como protótipo de 
outras operações defensivas» . 
O evidenciar o reca lcamento nos protocolos de Rorschach é muito impor­
tante, porque pt:rmite orientar a apreciação diagnóstica de forma determi­
nante: mecanismo neurótico por exce lência, o recalcamento define, de facto, 
um campo de funcionamento mental que vai claramente do normal ao patoló­
gico, cantonando-se, no entanto, no registo da neurose. ~testemunho de uma 
organização psíquica elaborada, na qual o jogo das instâncias pode ser apreen­
dido: a capacidade de conflirualizar as relações inrrapsíquicas e interpessoais 
num sistema de representações define a existência de uma cena mental que 
autoriza a dramatização de uma vida fantasmática efectiva. 
Clarificar os mecanismos que participam do recalcamenro constitui, então, 
um desafio essencial: os erros de avaliação têm consequências graves, dado 
que ordenam o diagnóstico e a orientação terapêutica. 
O recalcamento aparece de forma muito mais clar a nos protocolos lábeis, o 
que corresponde, ao mesmo tempo, às suas manifestações clínicas- são muitas 
vezes as personalidades histéricas que o mostram quase de imediato - e à sua 
definição proposta pela teoria psicanalítica. Ligar-nos-cmos, então, à sua análi­
se nos protocolos lábeis, sem esquecer que ele serve de contraforte fundamental 
a outras organizações defensivas de tipo neurótico (está, em particular, subja­
cente a rodos os mecanismos obsessivos que atrás evocámos). 
Os meios e as condições que permitem destacar a existência do recalca­
mento relevam dos procedimentOs lábcis que já citámos, pela articulação e a 
presença em força que eles manifestam. Falaremos de recalcamento sempre 
que os seguintes critérios se observem, em simultâneo: 
-qualidade geral da prnduçõo de facrura lábil: comentários, teatralismo, 
dramatização ... ; 
\ IP11,11 jf,l I 11 f\11• IN[.\111\ ltl f l111 ,\ 1.27 
- 11 ""''" • ~ ~~~ \;1ft1 1\ .Hl'o 1.<\1 roe:. de .,imbolismo sexual (recusa, agrava-
me 11111 d,•, P'"~l·dtménros labcis); 
t'"JW.,.,IIt.l 'unhulíca dos conteúdos, que demonstra o impacte fantasmá­
ttco J(l C!>tímulo; 
-oscilação entre defesa e retorno do recalcado, que evoca o conflito intra­
psíquico, mesmo se este é metaforizado por intermédio de relações inter­
pessoais. 
Como já sublinhámos, os protocolos lábeis do tipo histérico constituem 
o melhor protótipo do predomínio do recaleamento: mostram, de forma 
espectacular, a luta intensa contra o aparecimento de representações incómo­
das, através da acentuação de uma viva sensibi lidade ao meio ou da utiJização 
de representações-ecrãs. 
Mas o que nos autoriza a inferir a existência destas representações? O que é 
que nos permite não confundir recalcamenro e clivagem? A presença de conteú­
dos, que, nos casos em que o recalcamento é actuante, cumprem as suas funções 
de continentes de conteúdos latentes - conteúdos que nós dizemos serem 
fantasmaticamente consistentes- a par da manutenção de um controlo suficiente, 
garante de uma adaptação de base à realidade exterior, parcialmente mal sucedida 
nas respostas cujos significados dinâmicos assinalam o retorno do recalcado. 
Estas duas características permitem colocar a hipótese de um duplo registo 
de funcionamento, fantasmático e adaptativo, cuja suficiente diferenciação 
evidencia uma distinção efectiva entre mundo interno c mundo externo, entre 
imaginário e real, oferecendo um campo de relação onde passam as correntes 
pulsionais, fanrasmáticas e afectivas. Se as barreiras constituem, de facto, uma 
membrana limitadora, conservam também uma flexibilidade c penetrabilidade 
mínimas: permeabilidade entre dentro e fora, permeabilidade também tópica 
que permite trocas, mais ou menos fáceis, entre as instâncias. É preciso não 
esquecer que o recalcamento consiste numa operação inconsciente, interna e 
que ele se refere às representações e não à realidade externa. 
As defesas «lábeis» narcísicas 
Manifestações clínicas 
Alguns índices de funcionamento narcísico são susceptíveis de aparecer na 
qualidade da relação estabelecida com o clínico. As atitudes do sujeitO podem 
caracterizar-se por condutas de extrema sedução, que têm como objectivo apa­
gar qualquer diferença entre os dois protagonistas. O psicólogo e a situação 
são valorizados em movimentos de idealização que englobam o próprio sujei­
to. Pelo contrário, uma desqualificação global, e também excessiva, do teste e 
da situação clínica, evidenciam mecanismos de projccção que tentam expulsar 
as representações negativas do sujeito (identificação projectiva). 
2.!.8 0 Jtnll\t IIAt 11 NA I IINh l•t t\111'11 
O esrud o J a vc rbali:t,:lçtio cv•dt• ••~ 111 "qt11 I lltit 1 1 1 (I''" I ) ,j, 11 111 11 1111'l't\T 
em termos de «Centração so bre a v i w11 ~ 1 . 1 'ltl hJ•, lt \ ,, " ''I' 11" t \'1 ') li c·, nos ~eu !. 
comentários e respostas, a auto-rcferênc l.ll> llt't,tll v,l\ 11 qtw ,.,, , vtVt'llLtn, <> qu e 
sente, a sua forma de ver as co isas, as suas lendli .IIH,. t'l, A ·· •t uo~~,.to t' ut iliza da 
num sentido único, como lugar de ostentação tk: um:l :.ulltn 11 vui.Hk qtiC cha ma 
a atenção do outro, ao mesmo tempo que recusa a sua i111porl ft ncin. 
Por fim, o conjunto do protocolo evidencia wna certa ê nfase na uti lização 
excessiva de qualificativos positivos ou negativos, apoiada, se m dúvida, em 
mecanismos de idealização ou de desva lorização. Esta qualificação indispen­
sável, que é testemunho do investimento maciço dos juízos de valor, traduz a 
força da subjectividade e a necessidade da afirmação narcísica, descurando as 
modulações de umponto de vista relativizado. 
O tratamento da cor 
- Os cartões vermelhos: a negação dos movimentos pulsionais aparece no 
modo de reacção aos cartões vermelhos. Os protocolos de s ujeitos narcí­
sicos mostram: 
-quer a ausência de utilização ou de integração do vermelho; pelo que 
todas as respostas são tratadas em F ou, por vezes, em K; 
- quer uma exploração do vermelho como referência descritiva, para 
delimitar o contorno da imagem. Não há associação ao vermelho com 
conteúdos pulsionais. 
Estes procedimentos não remetem para o recalcamento histérico, na me­
dida em que nunca aparecem índices de retorno do recalcado. Não há 
compromisso entre pulsão e defesa, mas exclusão dr ástica dos movi­
mentos pulsionais e dos seus representantes simból icos. 
- Os cartões pastel p õem habitualmente em evidência a extrema d ific ulda­
de em comprometer-se n um movimento regressivo. Encontramos as duas 
modalidades de reacções evocadas nos cartões vermelhos, isto é, quer a 
ausência de respostas C, quer a utilização da cor como sinal dos contor­
nos e dos limites. Mas o impacte desorganizante do estímulo cromático 
revela-se, por vezes bruscamente, na emergência de respostas mui to me­
nos controladas, que mostram a falta pontual das condutas de controlo 
ou de domínio do material ou da situação. 
As respostas C perdem o seu valor de expressão de afectos, na medida em 
que demonstram o impacte do meio sobre o sujeito. O q ue supõe uma acei­
tação das marcas do objecto em si, e, portanto, de uma tomada de consciên­
cia da sua existência como fonte de excitação, de desejos, ou de vivências. 
- A sensibilidade ao cinzento, ao negro e ao branco\ constitui uma carac­
terística essencial dos protocolos na rcísicos: as respostas sensoriais do 
' Ver p. 1 80. 
l'P''' (I• 1 t 1,' 1 l"''v.11 nn rt·u •rso ,1 Sl'IISat.;rl(l co1no ddc~., f.tct aoo, 
'""' '"'' "'" JHdQIIIII ""' ,••1-; '•llllS •·c p••escntaçnc~ . O so lwcin vesri •ncnlll d :ts 
·'" 1\11• \1 "'" '"''''>JH'l' l:l l («u ma luz brn nca» , «llll1<l lâ mpndn») adqu i­
, , . •' .., 111 " ' '' dt ll ll l.lt'll lt': lll'gia defensiva lá bil , na medida em que este npq~o 
. 1 ·. trpt•d 11 •t• t'l lll '>ll llll um ccrã, uma protecção que sustém o evita mento das 
rq1rcsc nlações inconscientes de que, desta vez ainda, são excluídos even­
tuais sinais (em termos de retorno do recalcado). Enquanto nos protocolos 
histéricos os afectos permanecem e oferecem modos de tradu ção das repre­
sentações e dos fantasmas, as sensações, nos protocolos narcísicos, apa re­
cem cortadas do mundo fantasmático . 
As defesas maníacas e a luta antidepressiva 
Os procedimentos lábeis, quando têm aspecto excessivo e caricatura!, dos quais 
daremos as características, podem contribuir para a descoberta de defesas 
maníacas contra a angústia, em particular a angústia Hgada à perda de objecto. 
É necessário referirmos aqui a noção de posição depressiva introduzida po r 
Melanie KLEIN\ que defini u as modalidades de relações de objecto q ue se ins­
tituem por volta do quarto mês: a criança apreende a mãe como objecto total, 
a clivagem entre bom e mau objecto atenua -se, as pulsões libidinais e agressi­
vas tendem a referir-se ao mesmo objecto. <<A angústia refere-se en tão ao peri­
go fantasmático de destruir e de perder a mãe graças ao sadismo do su jeito; 
esta angúst ia é com batida por diversos modos de defesa (defesas maníacas2 , 
ou defesas mais adequadas, como a reparação e a ini bição da agressividade), e 
é superada quando o objecto amado é introjectado de forma estável e securi­
zante» (LAPLANCHE e PoNTALIS, op . cit., p. 316). 
As defesas maníacas desenham-se claramente no Rorschach, através dos 
procedi mentos lábeis típicos: há uma grande produção (logorreia), maciça e 
confusa, o sujeito parece literalmente esvaziar-se: não há tempo de latência, 
não há silêncio, não há espaço de reflexão. O menor desvio deve ser preenchi­
do, as lacunas são insuportáveis, à semelhança do lugar deixado pelo objecto 
ausente ou perdido; a sucessão é entrecortada como os dentes de uma serra, as 
associações heterogéneas procedem por contiguidade ou consonância; a preci­
pitação é flagrante. Qua lquer elemento do material é sentido como hipersig­
nificativo, o que assinala a extrema reactividade do sujeito e a s ua dependên­
cia ao meio (aumento considerável de respostas cor). 
A excitação é dominante e mostra a impossibilidade em elaborar a perda. 
As emergê ncias em processos primários são frequentes, os afectos maci­
çamente projectados, as capacidades de controlo invadidas pelo fluxo asso­
ciativo. Ao contrário do exemplo precedente, a insuficiência, ou melhor, a 
ausência de recalcamento é patente. 
1 Ver bibliografia desta aurora. 
2 Sublinhado nosso . 
:li() li J(,.t 'I 11~• 11 NA I I""' lo 1<t 1\t I I I 
A luta antide pressiva nos funcionut~umln•• lltull u 
Os funcionamentos-limite procluzcl11 pn111 tt nl"ij d1 J( "' l1 11l1 'I'''' '•I' diferen­
ciam segtmdo as suas característica!. bbl'l'> ou "•'ul1' \Inum 11tv1 , l l'lll prefe­
rencialmente uma rigidez fortemente conot.td.t '""' 1 unlll\•11' (vu utpttulo 
consagrado à inibição). Outros, que iremos CVOC.I r olll'll dt• 1111111:1 breve, são 
mais marcados por características lábeis: manifestam-se, co111o :H.:abámos cle 
ver, através de uma extrema excitabilidade em relação ao material do te!>tc. 
-É mobilizada toda a gama de determinantes sensoriais, quer se trate do 
vermelho, elos pastel ou do negro, do branco e do cinzento. Através 
desta permeabilidade o sujeito mostra uma forte dependência do meio, 
que o rorna tributário das suas modificações ao longo dos cartões. 
-As configurações dos cartões d eterminam os modos de apreensão: os 
cartões compactos dão lugar a respostas globois impr.essionistas ou vagas; 
os cartões bilaterais comprometem associações cinestésicas, por vezes, mas, 
com mais frequência, fo rmais, com insistência no que serve de suporte ou 
de ligação. 
De facto, o material oferecido serve de apoio ou de suporte, sem, no emamo, 
permitir uma contenção das reacções emocionais ou um enquadramento per­
ceptivo suficientemente sólido. As produções são marcadas pelo entusiasmo 
de uma produção psíquica que tenta, por este meio, colmatar os sentimentos 
de incerteza ou clt: vazio interio res. 
Ainda não abordámos uma dimensão determinante, cuja articulação com 
a organização defensiva permite, por si só, avaliar os significados psicopatoló­
gicos: o registo dos conflitos é, sem dúvida, essencial e ajuda a ju lgar a quali­
dade das defesas. A ilustração é-nos fornecida pelos procedimentos lábeis: na 
ordem neurótica, os procedimentos lábeis, que constituem a trama do recalca­
mento, são acompanhados por uma problemática focalizada em torno da an­
gústia de castração, enquanto as defesas maníacas são utilizadas para lutar 
contra a angústia de perda de objecto. Sempre que se emite uma hipótese q uanto 
ao tipo de defesas utilizadas, esta deve ser confrontada com os dados que 
remetem para o regisro conflirual do sujeito. 
A Inibição 
Procedimentos que marcam a inibição 
Manifestações fora das respostas 
A restrição observa-se na produção (o número de respostas é restrito), na par­
ticipação subjectiva (o anonimato domina) e na verbalização (os comentários 
são quase ausentes). As latências iniciais são longas, os silêncios numerosos 
e as recusas de ca rtões não são rarns. Todos estes elementos assinalam a 
11111'• 111 "" 1 1 d11:t 1111 • o llll~lllll~ ljlll'll'llll.OIIIO ohJl'l...liVO lulllr, ao máxitnu, con­
11 11 1 ""!'lu'' ''" li"'lnttv.t s~11tidn t.:omo p~rigosa. Ao mesmo tempo, é acen­
1llolllll, li I oi H' d1• .tfgum t.:OI11CI1tartOS que Ornamentam OS prOtOCOlOS, 0 blo­
<1111111,1\\ill t.ttevo: «L tudo... » , «Não vejo ... » 
Por lttn, as manifestações de ansiedade são, por vezes, muito visíveis ao 
nível do comportamento: mímicas, rictos de a ngústia,sudação, ati tude petrifi­
cada, em que o conjunto testemunha uma sideração relativa que desaparece, 
por vezes, pelo encorajamento e o apoio que o clínico fornece; a não ser que 
seja dominante uma atitude geral de indiferença e de bana lização da situação. 
Respostas ou sequências de respostas 
- Anonimato das personagens humanas em que, em particular, a identida­
de sexual não é dada: «Duas pessoas•• , «Personagens>>, << Homenzinhos•>. 
- Tmpreciso, vago, indeterminação ou ausência de precisão d as acções 
projectadas. As repressões cincstésicas são frequentes, a inibição torna 
impossível a evocação de qualquer referência a uma qualquer acção: «Duas 
pessoas» (cartão nT). 
- Minimização dos movimentos projectivos: a r edução das cargas pulsio­
nais aparentes traduz-se atr:tvés de fórmulas do estilo «um pouco», «quan­
do muitO>>, ou, ainda, pela utilização de verbos cujo alcance e intensida­
de é menor, relativamente à reactividade espontânea. 
- Evita mento perceptivo, no seio de cartões específicos, de localizações par­
ticulares, seja pelas suas características cromáticas {as partes vermelhas 
dos cartões II e rii) seja pela sua evidência simbólica (evitamento das 
lacunas intermaculares ou de certos apêndices) . 
- Banalização, colagem a imagens estereotipadas que servem de ecrã à 
expressão mais espontânea. 
Factores específicos 
Os modos de apreensão remetern, quer para uma abordagem global superfi ­
cial, tocando ao de leve o estímulo, quer para um recorte extremo do material. 
Nos dois casos, trata-se de procedimentos que permitem evitar uma confron­
tação, considerada perigosa, com os elementos do material susceptíveis de 
reactivar aspectos angustiantes da realidade interna. 
Os determinantes são dominados pelo apa recimento de respostas formais 
(F% elevado), comportando muitos F± que revelam as dificuldades de impli­
cação e os receios de envolvimentos nas tomadas de posição afirmadas. O TRI 
é, em geral, coarctado assim como a fórmula complementar, pondo em evi­
dência o freio posto na expressão fantasmática e afectiva. 
No entanto, podemos verificar a emergência de acessos de angústia, que se 
traduzem, em particular, por uma rcactividade sensorial específica ao negro (Ciob, 
C , E), ou, ainda, por cinestesias isoladas com temática de queda ou de vertigem. 
) 1 1 li ll 1111\ lll\oll f.iA I IINh " 1•11 '"'' ' ' 
Os conteúdo~ devem !.C I . 11 1 , tl1 ~.ulo., .1, JIP. tlt '• 1" 11 l lll " 111 poli .ulun ' do• 
significações diferenciais: 
-primeiro tipo: conteúdos " robH.O\ " , ptll I "lllf'lll li ~P"'"" .1111111,11'> 
ansiogénicas (lobos, aves de mptna ou .Hnd.t 111'n '"' dt '-tgt .td.wt'"); 
- segundo tipo: conteúdos carregados de angustl<t, em p.lllllltbr, de natu­
reza hipocondríaca que revelam inquietações corporat~; 
- terceiro tipo: conteúdos banalizados a todo o custo, factua is, concretos 
e é acentuado o aspecto quotidiano das preocupações. O contraste com 
os dois tipos precedentes é flagrante, na medida em que estas 
respostas são despojadas de qualquer dimensão imaginária ou fantas­
mática. 
Os mecanismos de defesa de tipo fóbico 
A projecção no real do perigo pulsional, tal corno ela aparece clinicamente nas 
fobias, pode ser destacada em certos protocolos de Rorschach. É assim, com 
efeito, que FREUD (1915) define a construção fóbica: << Pelo conjunto dos meca­
nismos de defesa utilizados, obteve-se uma projecção do perigo pulsional para 
o exterior. O Ego comporta-se como se o perigo a um desenvolvimento da 
angústia não viesse de uma moção pulsional, mas de uma percepção, c ele é, 
portanto, levado a reagir contra este perigo exterior através de tentativas de 
fuga que são os cviramentos fóbicos. » 
Um tal mecanismo de projccção intervém na evocação de imagens 
ansiogénicas que pertencem a um fabulário relativamente típico (animais 
potentes, geradores de medo, ou ainda inscctos que inspiram repulsa ou repugnân­
cia). As representações inconscientes carregadas de angústia são projcctadas e 
deslocadas sobre objectos externos, sentidos como perigosos e que provocam 
inibição e/ou evitamento. 
Em geral, tais imagens aparecem num contexto muito restritivo: as l::ttências 
são longas, a verbalização limitada, as manifestações de ansiedade fora do 
protocolo numerosas; a resposta é dada sem desenvolvimentos, o conjunto 
dos comportamentos releva de um estado em que a angústia domina, mas é 
explorada também em benefício do recalcamento. 
O evitamento e a fuga manifestam-se, quer através do comportamento, 
por exemplo, pelo aparecimento de uma sidcração face ao material que para­
lisa literalmente o sujeito, quer de reacçõel. de angústia que arrastam uma 
forte inibição e a incapacidade de associar. O cvitamenro e a fuga manifestam­
se, também, através de condutas perceptivas c associativas que utilizam os 
procedimentos defensivos citados no parágra fo precedente. 
A dificuldade na análise isolada dos mecanismos fóbicos remete para o 
facto de estes aparecerem r:lramcnll' i~olodos , em estado puro. Eles são, em 
geral, acompanhados por outra' l;Onfigur~I ÇÕes defensivas, obsessivas ou 
/\11 11 ~ I ti ~ I IIM;t ~111·111 lltt i\A 2 i1 
lu 1t 11 1 11 l JIH .I, ll""l"ll' t1111' • ttlllph- " ' 111.\' m.u, f,ln' l ' de dc~c.:m.ltfica r, 
111 "" d1d 1 r. n 1 q 11c 1 lll f ll l 1 m ·u rolltl d.t<> dde"·'' .1 que de., estão associados 
. 1 ' •"' dt 1 ~ ~~ 1 I" 11 1"1 1 ~. 1 .1 ~·,t t' rrgt\CU de funcionamento . 
<l 1111'< ·"""11o t \ scncta l que carncteriza a fobia, o deslo camento, constitui 
um;t opL·r.u,:.ll> psíquica clas~ica das neuroses, por um lado, c do sonho, por 
outro. Na fobia, o deslocamento sobre o objecto fobogénico permite 
objectivar, localizar e circunscrever a angústia; é esta função do deslocamento 
que é mais facilmente reconhecida no teste de Rorschach, na repetição da 
sequência projecção/deslocamento/evitamemo, nos cartões em que o impacte 
é ansiogénico. 
A inibição nos funcionamentos-limite 
Quando não há deslocamento, quando a angústia não é manifesta, quando o 
estimulo é investido como objccto real e não como fonte de rcactividade ima­
ginária, os procedimentos que assinalam a inibição orient::11n-nos para modos 
de funcionamento bem diferentes. 
A pobreza das produções c a não implicação associativa não estão liga­
das a condutas defensivas de ordem neurótica, havendo o esforço por evitar 
as representações inconscientes ansiogénicas; aparece, sobretudo, uma espé­
cie de vazio ideativo, difícil de preencher a não ser pelo recurso a imagens de 
objectos concretos, cuja dimensão realista é dominante: este tipo de imagens 
parece desprovido de referências latentes. Elas tomam o lugar de uma activi­
dade fantasmárica ausente, como se a realidade interna do sujeito fosse 
inexistente, vindo a realidade externa substituir-se a ela, para mascarar o 
vazio. 
Os procedimentos que assinalam a inibição estão presentes, por vezes asso­
ciados a a lguns factores rígidos (em particular o elevado valor da percentagem 
de respostas formais), muitas vezes estão acompanhados de emergências cruas 
que vêm bruscamente quebrar a planura das respostas. Trata-se, com efeito, 
de respostas no sentido estrito e não de associações: aqui os conteúdos perten­
cem ao terceiro tipo citado; a sua falta de espessura simbólica, o seu carácter 
colado e factual assinalam as carências de ressonância fantasmática nos indi­
víduos que as fornecem. 
A dupla orientação dos procedimentos de inibição obriga-nos à formula­
ção de questões essenciais sempre que os encontramos. Esta pobreza fantas­
mática será apenas aparente, película banalizante que tende a esconder os 
ecos perigosos de um imaginário angustiante ou, pelo contrário, é autêntica 
na revelação de um vazio ideativo, de uma mentalização nula? A inibição, 
posta a claro pelos procedimentos típicos, releva de uma organização defen­
siva cuja elaboração se apoiana existência de um espaço psíquico próprio, 
investido como cena mental, no seio da qual representações c afectos se 
podem manifestar, ou a ausência de imagens interiorizadas é ligeiramente 
compensada pelos substitutos que constituem os objectos reais? 
1. I I 
As emergências em procoasoa prlmllrlo• 
e as defesas psicóticas 
Emergências em processos primários 
Manifestações fora das respostas 
A desconfiança, a vigilância extrema e a reticência do sujeito que ev1ta entre­
gar-se são argumentadas por advertências típicas, que trazem à luz do dia uma 
vivência persecutória. A diferença entre as produções espontâneas e o inqué­
rito, que deixa aparecer elementos interpretativos, vai no mesmo senrido. 
A prolixidade, a multiplicação de respostas, a verbalização abundante, com 
muitos pormenores, confusa, deixam aparecer extravagâncias, discordâncias. 
A produção pode ser, então, muito importante, mal ordenada, fornecida com 
precipitação, c o discurso leve, vago e indeterminado. 
Respostas ou sequências de respostas 
-Presença de localizações a rbitrárias, mal definidas e pou<:_o coerentes, em 
particular respostas g lobais mal organizadas, ou imensos Dd em recortes 
raros ou extravagantes. 
-Presença d e respostas F- que aclaram a qualidade medíocre do controlo 
formal, o resvalar das p ercepções. 
-Presença de respostas cinestésicas com valor interpretativo ou delirante. 
-Presença de respostas C que são testemunho de ausência de contenção 
dos movimemos pulsionais, que se escapam através de imagens mórbi­
das. 
- Aparecimento de conteúdos específicos que assinalam a ausência de inte­
gridade corporal (Hd, Anat, Sang) e a confusão dos reinos (respostas 
H/A ou H/Obj). 
Factores específicos 
Estes retomam as manifestações isoladas citadas no parágrafo precedente. Mas, 
o que lhes dá o seu peso patológico, que orienta gravemente o diagnóstico, é 
justamente o seu peso. Com efeito, algumas emergências em processos primá­
rios assinalam apenas os pontos de fragilidade, por vezes rapidamente com­
pensados, de um modo d e funcionamento que pode ser, noutros aspectos, 
perfeitamente normal; as emergências primárias não constituem o único apa ­
nágio dos processos psicóticos! 
A sua repetição, que invalida todo um registo de condutas psíquicas, repre­
sentado por um facto r específico, assinala, pelo contrário, um estado mórbido 
muito mais alarmante. É, portanto, útil prestar uma grande atenção à dimen ­
são quantitativa das emergências em proce~;so~; primários. 
A má qualidade da ancoragem na realidade objectiva aparece no baixo 
F+%. A maioria das respostas com determinante formal é constituída por 
c' IIJ'' 111 1 1 (oltlllt•llllllllll'• 111,tl d,•luudo•. c• ~olnc·ludo ,11 hrlr.írios. O I·+'Yo, nes­
11 '11 1 , , " , 11 '" 1 '' '"IJ'I 'II\,Ido plln 1: t % .1l.n~.1do. O b.tixo va lor do D% mos­
li .1 o tlc 1111 1 r "•'-l pdo ~OIIl.I'C ill, o n:a l. O Tipo de Res~onância lntima é muito 
dd.11.ulo: ~~'• ll>fl<~Ma:. Kcom valêncra interpretativa, desrealizante ou delirante 
<;iio n1111Wro~as e evidenciam as invasões fantasm:iticas, ou, então, a soma das 
respo!>tas cor é muito elevada, com uma dominância de C puro que assinala o 
p eso dos afecros, a invasão emocional e a fragilidade das barreiras internas. 
O Tipo de Ressonância Íntima pode, a contrario, ser coarctado: as incidên­
cias projectivas e emocionais são totalmente limadas, dando toda a aparência 
de morte psíquica, numa apresentação uniforme de determinantes. 
Os conteúdos, por fim, pertencem a registos específicos: 
- diminuição significativa das Banalidades, pondo a descoberto a fragili­
dade da inserção na realidade perceptiva socializada; 
- múltiplas referências ao corpo em imagens mutiladas, fragmentadas ou 
em respostas anatõmicas ósseas, mas mais frequenremente viscerais; 
-aparecimento frequente, nas respostas humanas, de personagens irreais 
(bruxas, diabos) cuja conotação persecutória é considerável (no mesmo 
movimento, alguns Hd como <• olhos» acentuam a sensibilidade para­
nóica ou paranóide, sendo particularmente importante o investimento 
do olhar sobre a forma de intrusão por um mau objecto}; 
- os conteúdos A ou objcctos são contaminados pela parcialização e frag­
mentação: à imagem do corpo próprio, os objectos do mundo exterior 
não podem ser apreendidos na sua unidade; 
- os conteúdos A podem pertencer a um mundo animal arcaico, dominado 
pela perigosidade, a omnipotência, a destrutividade. 
A compulsão de repetição aparece, enfim, na ausência de reactividade 
especifica aos cartões. Estes podem arrastar maciçamente sequências seme­
lhantes, apesar das suas variações manifestas: esre tipo de conduta assinala as 
d ificuldades de diferenciação, mas também o desinvesrimento da realidade 
exterior e a falência dos processos adaptativos. 
Os mecanismos de defesa psicóticos 
Os procedimentos que acabam de ser evocados acentuam os desvios nas 
relações com a realidade exterior. São estes procedimentos que sustêm os 
mecanismos psicóticos, tais como a recusa, a clivagcm ou, ainda, a projecção, 
quando esta implica uma desconexão dos processos de adaptação perceptiva e 
uma confusão do dentro e do fora, em que um toma o lugar do outro. 
A projecção : referimo-nos, aqui, não à acepção corrente e normal do con­
ceito, mas aos seus mais graves significados psicopatológicos. A exteriorização, 
o pôr fora as pulsões perigosas do sujeito, constitui, então, uma defesa com­
pulsiva que não tem mais em conta os limites impostos pela realidade. 
2 U! \) l {l•t•··•l l \• li N~ I il tlll " IH) lt •lllll 
- N um con texto de d no~MH.. i.l~auo • ·~qll ttniH • tt h ' • 11 tltNf't ill.l dt• dt :-. lll liv:w 
entre interno e ex terno, entre d l' t\lro l' i llt .t, · IJ ~> Ht '• ,. 11.1 pt"Ít'~\ • t O di rcct::t 
de uma vivência corporal fragmcntaJn t' l rotgllll'tt l 11t 1.1. A irtadcqunção 
perceptiva das respostas está ligada ao Hno rctllnltc-. tii K'Il tO do objectivo 
como tal: o estímulo serve apenas de supo rw rnntcri:\1n expressão das 
representações de si, ou ainda à projecção das preocupações delirantes.. 
-Num contexto paranóico, pelo contrário, a distinção entre dentro e fora 
é fortemente defendida: a projecção consiste em colocar no exterior as 
pu lsões agressivas destrutivas, que o sujeito recusa serem suas; é o exte­
rior que se torna mau, persecutório e ameaçador para o sujeito.. 
A recusa, que consiste na rejeição, pelo sujeito, em reconhecer a realidade 
de uma percepção traumatizante, caracteriza as condutas fetichistas e as psi­
coses. A recusa é difícil de reconhecer como tal nos protocolos de Rorschach, 
na medida em que o estímulo não é figurativo.. 
- A recusa da castração pode eventualmente descobrir-se em respostas muito 
precisas, localizadas em espaços habitualmente interpretados como refe­
rências à identidade sexual, ou mesmo como representações anatómicas 
do sexo feminino. Podemos, assim, falar de recusa da castração quando, 
no D mediano da cartão I, habitualmente interpretado como «corpo de 
muli1er>>, aparece a resposta <~um homem>>. A recusa da castração pode, 
por outro lado, ser deduzida do conjunto de uma problemática, quando 
emerge a negação da diferença dos sexos associada a. mecanismos de 
clivagem. Mas, neste domínio, a prudência é importante! 
- No que concerne mais globalmente a recusa da realidade, este mecanis­
mo pode ser evocado a partir do conjunto dos procedimentos utilizados 
num protocolo: eles acentuam maciçamente a rejeição em perceber a 
realidade exterior como tal. 
A clwagem, mais facilmente reconhecível, acompanha regularmente a re­
cusa. Retomemos a definição proposta por LAPLANCHE e PO!\'TAUS (op. cit.. , 
p .. 67): 
<<Ciivagem do Ego: termo empregue por FREUD para designar um fenômeno bem 
particular que ele vê operar sobretudo no fetichismo e nas psicoses. A coexistência, no 
seio do Ego,de duas atitudes psíquicas para com a realidade exterior enquanto esta vem 
contrariar uma exigência pulsional: uma tem em conta a realidade, a ourra recusa a 
reolidade em causa e coloca no seu lugar tuna produção do desejo. Estas duas atitudes 
persistem lado a lado sem se influenciarem reciprocamente.» 
A recusa por si só não permite, com efeito, da r conta da clínica das psico­
ses. Em O Homem dos Lobos, F REUD ( 19 18) escreve: <<O problema da psicose 
seria simples e claro se o Ego se pudesse separar totalmente da realidade, mas 
isso é uma coisa que se produz raramente, talvez até nunca .. >> 
\ ~~ • I li~ 1 l' 1\[to INt• Ih>'• 1>1 I h H '-~ .! 17 
I ''' ill dt"' 1 I' h o •t't'llt •!fl l t' iillltiN ,1 ~ du.1~ ntlt udcs cvoc:~dus, uma que tem 
1 t lt , ""',,. ".dtd.nh•, .t m ttt•n qll\.' separa o Ego dessa rea lidade e produz uma 
11o v.t 11 .li h l.tdt dtl 11 .\11lü. (No Ro rschach, este fenómeno traduz-se em particu­
l.tr' tH'In f.a.to do F+% ser baixo, mas ra ramente inferior a 30 % : se a realidade 
fosse cnrnplctamente inexistente para o sujeito, então o F+% deveria ser nulo 
ou quase.) 
É aqui que se vem inscrever uma distinção determinante entre funciona­
mento neurótico e funcionamento psicótico: ao descrever uma divagem do 
Ego (intra-sistémica) e uma clivagem entre instâncias (entre o Ego e o Id), 
FREUD evidencia (1938-1939, pp.. 3-38) um processo novo, relativamente ao 
modelo do recalcamento e do retorno do recalcado. Este processo não conduz, 
com efeito, a uma formação de compromisso entre as duas atitudes coexistentes; 
estas duas atitudes mantêm-se simultaneamente, sem que se estabeleça entre 
elas relação dialéctica. 
No entanto, é necessário assinalar que quando se reconhece a clivagem 
numa organização psicótica, ela é o sinal de uma actividade defensiva, que 
permite uma diferenciação efectiva e assegura um mínimo de vitalidade aos 
processos de pensamento. 
Nos protocolos de esquizofrénicos cronicizados, a clivagem parece deixar 
de funcionar e é substituída por mecanismos dissociativos . No Rorschach, a 
dissociação aparece primeiro no discurso, pelas extravagâncias e o maneirismo, 
que conferem um aspecto artificial e «pseudo>> à linguagem, na inadequação 
entre as palavras e as coisas. Mas é sobretudo a dissociação da imagem do 
corpo que constitui um sinal essencial do funcionamento psicótico. A dis­
sociação manifesta-se nas respostas fragmentadas, desmembradas, que exi­
bem a falta de integração da representação do corpo: respostas humanas intei­
ras muito raras, respostas anatõmicas muito numerosas, que são testemunho 
da extrema fragilidade, mesmo da inexistência de envelopes continentes. 
O desdobramento evidencia a divisão do sujeito e a falta considerável da 
constituição de uma unidade da identidade. 
Estas representações dissociativas acompanham-se de condutas de pensa­
mento específicas: evidenciam a impossibilidade de figurar os pensamentos 
através das representações psíquicas e o recurso forçado a imagens corporais 
desconectadas e fragmentadas, à semelhança de um aparelho de pensar frag­
mentado.. 
A prisão topográfica mostra a ausência de diferenciação entre dentro e 
fora, o que conduz à hipótese de uma falta de continente psíquico que permi­
tiria ao pensamento manifestar-se e constituir-se como tal, isto é, liberto das 
contingências corporais que alienam as potencialidades do raciocínio abstracto. 
Este resumo permite-nos compreender agora muitos fenómenos que se 
maniJestam no Rorschach: a manutenção lado a lado, nalguns protocolos, 
de um sistema adaptativo impermeável e de emergências em processos pri­
mários que surgem sem e lo dialéctico com esse sistema; a persistência de um 
.!.IH 11 ltnlt\tll~•lt f'j~ I 11111 \ '"' \tttoll I 
reconhecimento 111111i11111 d.1 ·~·. IIHI.IIIt 1 h'tt"l '"' l'"''"u'l"' 111.11'1 Jll'tlut ­
bados. 
Conclusão: organização defensiva 
e registo dos conflitos 
A articulação entre a avaliação da organização defensiva e os conflitos essen­
ciais que a mobilizam, constitui, sem dúvida, a chave da apreciação diagnós­
tica. Se a orientação defensiva deve ser evidenciada, se a qualidade dos seus 
arranjos deve ser medida, é a congruência entre as modalidades defensivas e o 
registo dos confli tos que autoriza o diagnóstico. 
O trabalho de reconstrução necessá rio no momento da síntese prende-se, 
com efeito, com a necessidade de situar o sujeito numa dinâmica conflitual 
dominante. A qualificação da natureza da angústia já orienta para entidades 
psicopatológicas diferenciadas. A distinção dos procedimentos em termos de 
defesas neuróticas, defesas de carácrer, defesas psicóticas ... , permite-nos, igual­
mente, isolar os elementos susceptíveis de confirmar uma hipótese diagnós­
tica. Mas, é claro, o nível da problemática intervém de forma determinante na 
avaliação dos modos de funcionamento psíquico: 
Nos protocolos neuróticos, a problemática reenvia para a angústia de cas­
tração. Os conflitos aparecem nas dificuldades de identificação sexual e do 
manejo pulsional, libidinal e/ou agressivo, sem que esteja perdida, no entanto, 
a consciência de sujeito. Neste sentido, a relação com o real mantém-se de 
qualidade suficiente, os limites entre a realidade e o imaginário mantêm-se, as 
fronteiras entre mundo interno e mundo externo subsistem sem intromissões 
excessivas. Os conflitos são susceptíveis de ser dramatizados, quer no seio de 
cenários interpessoais quer em termos de rumjnação inrrapsíquica, mas geral­
mente referem-se à luta entre os desejos e os interditos, num sistema de repre­
sentações interiorizado. 
Nos protocolos de estados-limite, a problemática remete para a perda de 
objecto, em contextos que evidenciam a impossibilidade de elaborar a posição 
depressiva. Se a relação com o real se mantém suficiente, o investimento da 
realidade toma conotações particulares: nalguns casos, observamos um 
sobrcinvestimento da realidade exterior e objectiva que serve de ecrã às mani­
festações subjectivas, o u ocupa-lhes o lugar, pelas actividades fantasmáticas 
em falta ou aparentemente nulas; noutros casos, verificamos urna inflação 
narcísica que apaga uma realidade objectal considerada incómoda pelas limi­
tações e constrangimentos que impõe. 
O essencial dos conflitos centra-sc na luta contra o reconhecimento da 
depressão e da perda de objecro, que conduz ao insucesso os assentos narcí­
sicos demasiado frágeis. A ~alta de tantas marização parece patente nalguns. 
N 111 ptui{JIH• I d 11, • 11111n, dt• dl\tlllt,.IOl'tllrc rt'al e ttnngin::íriu, já que esre 
ullltttll r '" ''"'' '~ 1.1 po1 um.l.Hlscncia dc rcprcscnraçõcs, por ve:r.es colmatada 
'"'' • ••• 1111111 .1 c•ll••Hcntos concretos ou factuais, que tem com objectivo recu­
'·" 'I"·' hp1cr JllLidência latente nas produções. Se as possi bi I idades de 
con flnuali.lação são restritas, não observamos, no entanto, um dano grave 
na identidade, no sentido em que a distinção entre o sujeito e o objecto é 
firmemente mantida. 
Nos protocolos psicóticos, a problemática remete para a perda de identi­
dade. Nas personalidades dissociadas (esquizofrenia) é a angústia de fragmen­
tação e de desintegração que sustêm as produções. Nas personalidades 
interpretativas (paranóia) é o perigo de destruição e aniquilamento pelo objecto 
persecutório que domina. Quer as barreiras entre dentro e fora estejam des­
moronadas ou ameaçadas de estrago, elas caracterizam-se pela sua extrema 
fragilidade. De igual modo, a distinção entre imaginário e real está constante­
mente minada pela confusão, a carga dos meca nismos projectivos e a insufi­
ciência de ancoragem na realidade objectiva. Os excessos fantasmáticos e pul­
sionais assinalam a inconsistência de um Ego que deixou de cumprir as suas 
ftmções reguladoras. 
O esquema que acabamos de expor, como qualquer resumo, é restritivo. 
Para perceber finamente o registo dos conflitos,é necessário voltar à análise 
dos factores e questionar os seus significados: para cada um deles, com efeito, 
propusemos interpretações diversas, que cobrem diferentes modos de funcio­
namento psíquico. Num mesmo movimento, o confronto das produções do 
sujeito com as solicitações latentes do material c as hipóteses que ela permite 
quanto aos conteúdos das representações, situam o nível da problemática. 
Em conclusão, a síntese dos dados releva de um trabalho de diferenciação, 
de elaboração e de articulação, que se refere aos factores mobilizados no pro­
cesso associativo, como resposta a estimulações específicas de que se conhe­
cem as características.

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