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3 PR OA MI SE MC AD PROAMI PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM MEDICINA INTENSIVA ORGANIZADO PELA ASSOCIAÇÃO DE MEDICINA INTENSIVA BRASILEIRA Diretores acadêmicos Cleovaldo T. S. Pinheiro Werther Brunow de Carvalho Artmed/Panamericana Editora Ltda. SISTEMA DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA A DISTÂNCIA 2 Estimado leitor É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. E quem não estiver inscrito no Programa de Atualização em Medicina Intensiva (PROAMI) não poderá realizar as avaliações, obter certificação e créditos. Os autores têm realizado todos os esforços para localizar e indicar os detentores dos direitos de autor das fontes do material utilizado. No entanto, se alguma omissão ocorreu, terão a maior satisfação de na primeira oportunidade reparar as falhas ocorridas. A medicina é uma ciência em permanente atualização científica. Na medida em que as novas pesquisas e a experiência clínica ampliam nosso conhecimento, modificações são necessárias nas modalidades terapêuticas e nos tratamentos farmacológicos. Os autores desta obra verificaram toda a informação com fontes confiáveis para assegurar-se de que esta é completa e de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. No entanto, em vista da possibilidade de um erro humano ou de mudanças nas ciências médicas, nem os autores, nem a editora ou qualquer outra pessoa envolvida na preparação da publicação deste trabalho garantem que a totalidade da informação aqui contida seja exata ou completa e não se responsabilizam por erros ou omissões ou por resultados obtidos do uso da informação. Aconselha-se aos leitores confirmá-la com outras fontes. Por exemplo, e em particular, recomenda-se aos leitores revisar o prospecto de cada fármaco que planejam administrar para certificar-se de que a informação contida neste livro seja correta e não tenha produzido mudanças nas doses sugeridas ou nas contra-indicações da sua administração. Esta recomendação tem especial importância em relação a fármacos novos ou de pouco uso. Associação de Medicina Intensiva Brasileira Rua Domingos de Moraes, 814. Bloco 2. Conjunto 23 04010-100 – Vila Mariana - São Paulo, SP Fone/fax (11) 5575-3832 E-mail: cursos@amib.com.br http://www.amib.com.br SISTEMA DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA A DISTÂNCIA (SEMCAD®) PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM MEDICINA INTENSIVA (PROAMI) Artmed/Panamericana Editora Ltda. Avenida Jerônimo de Ornelas, 670. Bairro Santana 90040-340 – Porto Alegre, RS – Brasil Fone (51) 3321-3321 – Fax (51) 3333-6339 E-mail: info@semcad.com.br http://www.semcad.com.br 11 PR OA MI SE MC AD SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA (SARA) INTRODUÇÃO Ao deparar-se com um quadro de SARA você estará diante de um paciente com uma condição inflamatória, devastadora e freqüentemente fatal, que se caracte- riza por um quadro de insuficiência respiratória hipóxica aguda. A existência da síndrome foi inicialmente contestada, mas firmou-se de forma defini- tiva, baseada nas características peculiares tanto na apresentação clínica, como na fisiopatologia e alterações estruturais do pulmão. Mais de uma terminologia têm sido usadas para nomear a síndrome: ■■■■■ síndrome da distrição respiratória aguda; ■■■■■ síndrome do distresse respiratório agudo; ■■■■■ síndrome da angústia respiratória aguda (SARA). Preferimos, por uma questão de comodidade e tradição, adotar a última terminologia. OBJETIVOS Neste trabalho, objetiva-se capacitar o médico a: ■■■■■ reconhecer e diagnosticar um paciente comum com quadro de SARA; ■■■■■ diagnosticar um quadro de SARA; ■■■■■ iniciar um tratamento racional. Professor adjunto do Departamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutor em Medicina - Pneumologia (UFRGS). Especialista em Terapia Intensiva (AMIB). Chefe do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Editor-chefe da Revista Brasileira de Terapia Intensiva. CLEOVALDO T. S. PINHEIRO 12 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) LPA/SARA Definição Epidemiologia Fisiologia e patologia Diagnóstico Tratamento Eliminação ou controle do fator causal Suporte geral ao paciente Oxigenação Indicações aos casos: hemodinamicamente estáveis hemodinamicamente instáveis hemodinamicamente instáveis com complicações cardíacas e pulmonares de desmame do ventilador mecânico Prognóstico ESQUEMA CONCEITUAL DEFINIÇÃO A primeira descrição do quadro foi feita em 1967 por Ashbaugh e colegas1, que a caracteriza- ram como uma forma aguda de insuficiência respiratória, cujas principais características seriam: ■■■■■ a hipoxemia refratária; ■■■■■ a presença de infiltrados pulmonares bilaterais e difusos; ■■■■■ a diminuição da complacência pulmonar. Você já pode notar que as duas primeiras premissas do diagnóstico: a hipoxemia e os infiltrados pulmonares são perfeitamente reconhecíveis na clínica diária. A hipoxemia pode ser suspeitada pelo trabalho respiratório aumentado, denotado pelo au- mento da freqüência respiratória e pelos demais sinais, como tiragem e exaustão para respi- rar em um paciente com uma condição predisponente, como veremos a seguir. 13 PR OA MI SE MC ADOs infiltrados podem ser facilmente reconhecidos em um estudo radiológico de tórax. Toda- via, a complacência pulmonar não é uma variável mensurável à beira de leito. O processo diagnóstico, portanto, necessitava de uma adaptação mais prática. Em 1998, sob o patrocínio da American Thoracic Society e da European Society of Intensive Care Medicine, foi proposta uma definição de consenso para a SARA2. A definição perpassa um conceito maior, o da lesão pulmonar aguda (LPA). Segundo este conceito, LPA seria uma síndrome expressa por uma insuficiência respiratória de início agudo, com a apresentação de infiltrados pulmonares difusos bilaterais ao radio- grama de tórax e hipoxemia. A LPA caracteriza-se por uma relação PaO2/FiO2 igual ou menor do que 300 (independente- mente do nível de PEEP usado), na ausência de uma pressão de oclusão da artéria pulmo- nar elevada (<18mmHg), ou em casos em que as pressões da artéria pulmonar não estejam monitorizadas, na ausência de sinais de hipertensão venocapilar pulmonar. Não sendo suspeitada a presença de insuficiência cardíaca esquerda, não se faz necessária a monitorização das pressões da artéria pulmonar para o diagnóstico. A SARA seria uma forma mais severa de LPA, onde a oxigenação está mais comprometida, sendo evidenciada por uma relação PaO2/FiO2 igual ou menor do que 200 (tabela 1). Tabela 1 DEFINIÇÃO DE SARA DO CONSENSO AMERICANO-EUROPEU Início agudo Infiltrados pulmonares difusos e bilaterais Pressão de oclusão da artéria pulmonar < 18mmHg, ou ausência de sinais de hipertensão venocapilar pulmonar LPA: PaO2/FiO2 ≤ 300 SARA: PaO2/FiO2 ≤ 200 PaO2/FiO2 = relação entre a pressão parcial de oxigênio arterial e a fração inspirada de oxigênio. Concluindo, LPA é uma síndrome inflamatória aguda persistente com aumento da permeabilidade capilar pulmonar, caracterizada clinicamente pelos três itens an- tes descritos. SARA é uma forma mais grave de LPA, caracterizada por uma hipoxemia maior. Portanto, a distinção ou ponto de corte entre LPA e SARA é totalmente arbitrário. A LPA e a SARA costumam se instalar entre 4 e 48 horas depois do mecanismo indutor.3,4 Doen- ças pulmonares subagudas ou crônicas, tais como sarcoidose e fibrose pulmonar idiopática de- vem ser excluídas no diagnóstico diferencial, embora dividam com a LPA e SARA algumas carac- terísticas clínicas. 14 SÍN DROM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) Etiologia Trauma Aspiração gástrica Sepse Pneumonia Pancreatite aguda Eclampsia Overdose de drogas Total Mortalida- de N (%) 5 (29,4) 5 (38,4) 7 (63,6) 3 (33,3) 3 (75,0) - 1 (100) 24 (42,9) Total N 17 13 11 9 4 1 1 56 LPA não- SARA N 13 8 3 5 1 1 - 31 Mortalida- de N (%) 3 (23,1) 3 (37,5) 1 (33,3) - - - - 7 (22.6) Mortalida- de N (%) 2 (50) 2 (40) 6 (75) 3 (75) 3 (100) - 1 (100) 17 (68) SARA N LEMBRAR Disserte sobre a definição da SARA e sua relação com a LPA. ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ EPIDEMIOLOGIA Na clínica diária você pode se deparar com inúmeras situações clínicas que podem gerar um quadro de LPA/SARA. Dentre as mais comuns, pode-se citar: ■■■■■ sepse; ■■■■■ trauma; ■■■■■ aspiração gástrica; ■■■■■ pneumonias; ■■■■■ pancreatite aguda; ■■■■■ eclampsia; ■■■■■ overdose de drogas. A etiologia da LPA/SARA influencia o prognóstico destes pacientes (tabela 2 e figura 1). Tem-se afirmado que os pacientes com SARA não morrem pela insu- ficiência respiratória, mas pelo descontrole do quadro basal e pela disfunção múltipla de órgãos, da qual a SARA pode ser um componente. Tabela 2 CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS COM O DESENVOLVIMENTO DE LPA/SARA 4 5 8 8 3 - 1 25 15 PR OA MI SE MC ADFigura 1 Em 1994, a Conferência de Consenso Americano-Europeu definiu duas vias patogênicas causadoras de SARA: ■■■■■ lesão direta (“primária” ou “pulmonar”), que afeta diretamente o parênquima pul- monar, ■■■■■ lesão indireta (“secundária” ou extrapulmonar), que resulta de uma agrewssão in- direta por resposta inflamatória sistêmica.5 A diferenciação entre as duas formas pode ser fácil em algumas situações, como na aspiração de gases aquecidos (lesão direta) e sepse abdominal (lesão indireta); todavia, em outras situações, o mecanismo pode ser questionado, como no trauma e na cirurgia cardíaca. A diferença poderia ser apenas especulativa, não fosse a publicação de Gattinoni e colegas6 relatando diferenças entre os dois grupos no que se refere: ■■■■■ à patologia, ■■■■■ à mecânica respiratória; ■■■■■ à resposta à ventilação com pressão expiratória final positiva (PEEP = positive end expiratory pressure). Em nosso meio, Fialkow e colegas7 estudaram prospectivamente 1.301 pacientes internados em uma UTI geral, tendo encontrado uma freqüência de 3,8 % de pacientes com lesão pulmonar aguda (LPA), sendo 2,3 % de pacientes com SARA e 1,5 % de pacientes com LPA não-SARA. A mortalidade geral da UTI foi de 20,7 %, enquanto no grupo com LPA foi de 44,0 %, (40,0 % para os com LPA não-SARA e 46,7 % nos pacientes com SARA, P = 0,43). Pacientes com LPA - SARA ou não-SARA - apresentaram uma taxa de mortalidade pelo menos duas vezes maior do que a taxa de mortalidade dos pacientes sem LPA (P < 0,001). Em outro estudo, realizado na Escandinávia8, encontrou-se uma taxa de incidência de SARA de 13,5 casos para cada 100.000 habitantes por ano, taxa que tem sido considerada mais próxima da realidade. Acredita-se que cerca de um milhão de pessoas por ano sejam acometidas de SARA Figura 1 - Fatores de risco mais comuns em 56 pacientes com os critérios da definição de LPA e SARA6 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Trauma Aspiração Pneumonia Sepse LPA SARA 16 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) LEMBRAR LEMBRAR A mortalidade de pacientes com SARA parece estar relacionada à gravidade do quadro geral do paciente, principalmente à coexistência de outras disfunções or- gânicas e ao grau de alteração da troca gasosa que pode ser avaliado pela relação PaO2/FiO2. 9 Outros estudos, todavia, não têm encontrado uma relação direta entre as anormalidades das variáveis respiratórias e a mortalidade. Essa última observação vai ao encontro da percepção, já citada, de que pacientes com SARA não morrem de insuficiência respiratória, mas de disfunções orgânicas, choque e sepse. Fatores outros como alcoolismo estão relacionados com uma maior predisposi- ção do paciente a desenvolver SARA, com um aumento da mortalidade. Com base no texto e em sua observação clínica, que elementos seriam relevantes na distinção entre a lesão direta e a indireta enquanto vias patogências causadoras de SARA? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ FISIOPATOLOGIA E PATOLOGIA A disposição básica da barreira alvéolo-capilar consiste em duas diferentes estruturas: o epitélio alveolar e o endotélio vascular com suas respectivas estruturas associadas. Acredita-se que a LPA e a SARA decorrem de dano alveolar difuso (DAD), resul- tante de uma agressão inflamatória aos pulmões. Esse evento, todavia, é um evento final. O que não se sabe é se, nos primeiros estágios, as agressões pulmo- nares e extrapulmonares apresentam os mesmos mecanismos. Alguns modelos experimentais têm estudado a seqüência de eventos na lesão direta. A pri- meira estrutura lesada é o epitélio alveolar, o que causa uma ativação dos macrófagos alveolares com subseqüente liberação da cascata inflamatória, levando ao processo infla- matório intrapulmonar. A predominância do dano epitelial determina a localização das anormalidades patológicas com edema e inundação alveolar, depósitos de fibrina e colágeno e agregados neutrofílicos, descritos em conjunto como consolidação pulmonar. 17 PR OA MI SE MC AD LEMBRAR Nos modelos experimentais de lesão indireta, a lesão pulmonar decorre dos produtos infla- matórios oriundos de uma ativação extrapulmonar. Neste caso, o endotélio pulmonar é o primeiro a ser atingido. Ao que tudo indica, os pulmões são particularmente sensíveis a esse tipo de agressão, uma vez que recebem todo o débito cardíaco e, portanto, toda a quantidade de mediadores inflama- tórios despejados na corrente sangüínea. Nesses casos, as alterações patológicas se ini- ciam com uma congestão vascular e edema, poupando-se os espaços aéreos. Esses estudos sugerem que as lesões precoces, quando diretas, são responsáveis por alterações no espaço aéreo, enquanto que, quando indiretas, por edema intersticial. Entretanto, no caso de uma pneumonia, por exemplo, podemos ter o concurso de mecanismos diretos e indiretos causando a lesão pulmonar. As citoquinas pró-inflamatórias, como fator de necrose tumoral alfa (TNFα), interleucina-1 (IL-1), interleucina-6 (IL-6) e interleucina-8 (IL-8), são liberadas por estímulos, sejam eles pulmonares ou extrapulmonares, que podem ser produtos bacterianos ou de outros parasitas, debris celula- res e outras citoquinas. Os neutrófilos são recrutadosaos pulmões e, ativados, liberam radicais livres e proteases que danificam o endotélio vascular e o epitélio alveolar. Uma diminuição da apoptose neutrofílica no início do quadro pode amplificar o fenômeno. Embora os neutrófilos desempenhem uma função importante na geração da LPA/SARA, pacientes neutropênicos também são capazes de desenvolver a síndrome, o que demonstra que outros mecanismos são também importantes.10 A seguir, a barreira alvéolo-capilar é rompida, o líquido escapa do espaço vascular e o gradiente de reabsorção dos líquidos é perdido. O líquido transborda para o interstício, ultrapassando a capacidade de drenagem dos linfáticos. Como resultado, os espaços aéreos se enchem com líquido proteináceo, sanguinolento, repleto de debris celulares. Ocorre alteração do surfatante e os espaços aéreos colapsam. Rouby e colaboradores11, estudando 69 pacientes com SARA (49 com forma pulmo- nar e 20 com forma extrapulmonar), classificaram os achados radiológicos em três grupos: ■■■■■ padrão “lobar”, em que o aspecto radiológico seria o de uma concentração de consolidações em um ou mais lobos. ■■■■■ padrão “difuso”, no qual apareceriam lesões difusamente distribuídas; ■■■■■ padrão “patchy”, as lesões ficariam como numa colcha de retalhos, uma forma híbrida entre os dois tipos anteriores. Nesse estudo, os pacientes com SARA pulmonar apresentaram mais o padrão difuso e patchy, e os pacientes com SARA extrapulmonar, mais o padrão lobar. A quantidade de pulmão aerado e 18 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) LEMBRAR das áreas de consolidação variam enormemente entre esses tipos de lesões, sendo a perda de aeração mais comum nas bases pulmonares. Nos pacientes com padrão lobar, as manobras de recrutamento alveolar pelo uso de PEEP são menos eficazes, causando muito mais hiperinflação dos alvéolos normais. No caso de paciente com lesões difusas, o processo de recrutamento é mais eficaz e apresenta menos hiperinflação. Com respeito à mecânica respiratória, a SARA de origem pulmonar também se comporta de maneira diferente da SARA extrapulmonar. Tradicionalmente, as alterações mecânicas do sistema respiratório observadas na SARA são atri- buídas ao pulmão, uma vez que a elastança da parede torácica estaria supostamente normal. Gattinoni e colaboradores12 têm chamado a atenção de que em SARA pulmonar, primariamente por pneumonia difusa, a elastança da parede torácica está real- mente normal, enquanto que na SARA extrapulmonar, primariamente por doen- ça intra-abdominal, ela estaria aumentada secundariamente devido a um au- mento da pressão intra-abdominal. Para o mesmo aumento da elastança do sistema respiratório na SARA pulmonar, 80% era causada por aumento da elastança pulmonar, enquanto na SARA extrapulmonar, 55% por uma elastança da parede torácica, causada por aumento da pressão intra-abdominal. Achados semelhantes são encontrados em pneumonia por P. carinii, que usualmente apre- senta histopatologia semelhante à da SARA pulmonar. Essas diferenças talvez expliquem o diferente comportamento dessas duas formas de SARA frente aos procedimentos ventilatórios invasivos e, no futuro, apontem maneiras diferentes de abordagem. 1. Sintetize a fisiopatologia da SARA, mencionando as diferentes atuações dos meca- nismos diretos e indiretos de causa da síndrome. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ 19 PR OA MI SE MC AD O paciente costuma apresentar-se disfuncionado, mostrando importante distresse respiratório - nesse particular, a observação do aumento da freqüência respiratória é um dado que chama a atenção, costumando estar acima de 30 movimentos respi- ratórios por minuto (mpm). O exame físico pode ser pouco expressivo no início, excetuando-se pelos achados de aumento do trabalho respiratório descritos. A lesão desencadeante pode dominar o cenário. Estertores pulmonares podem estar presentes, mas não raramente a ausculta pode ser surpreendentemen- te pouco expressiva principalmente na SARA extrapulmonar. A presença de hipoxemia refratária é a marca registrada tanto da LPA/SARA me- nos grave como na SARA. Saturações da hemoglobina arterial inferiores a 70%, com o paciente respirando em ar ambiente, não são inusitadas. Taquicardia, hipotensão e outras podem ser achadas, mas não são características. A cianose é infreqüente, pois os pacientes gravemente enfermos costumam estar anêmicos e não atingem as 4g de hemoglobina reduzida para produzi-la. Outros achados característicos de disfunção orgânica da síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) grave podem acompanhar o quadro de SARA. 2. Distinga os diferentes padrões de achados radiológicos encontrados por Rouby e colaboradores e os relacione aos tipos de SARA, pulmonar e extrapulmonar, bem como à elastança da parede toráxica. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ DIAGNÓSTICO O diagnóstico precoce da SARA depende de seu grau de suspeição. A história clínica costuma revelar um mecanismo agressor dentro das 48 horas antecedentes ao aparecimento da LPA, seja ela já com critério de SARA ou não. 20 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) Em B, observa-se uma disposição mais central (centrípeta), caracterizando o padrão “asa de borboleta” mais encontrado no edema cardiogênico, que mostra ainda distribuição cranial da circulação pulmonar, com distensão dos vasos nos lobos superiores e linhas septo-linfáticas (linhas B de Kerley) não encontradas no edema não-cardiogênico. O estudo radiológico de tórax (figura 2) classicamente mostra infiltrados bilaterais e difusos de edema pulmonar com uma característica, nem sempre muito aprecia- da, de distribuição menos central e sem a presença de linhas septo-linfáticas e diversão cranial da vasculatura pulmonar mais aparente no edema cardiogênico. Figura 2 - Estudo radiológico de tórax de dois pacientes com edemas pulmonares de diferentes fisiopatologias. Em A, temos um quadro típico de um edema não-cardiogênico ou edema de baixas pressões resultante de aumento de permeabilidade, como ocorre na SARA. Observe que o padrão do edema é mais difuso. A B A cardiomegalia, por aumento global do coração ou por aumento de câmaras cardíacas isoladas, não costuma estar presente, exceto na concomitância de doença cardíaca associada. O derra- me pleural significativo é infreqüente. Todavia, existe uma grande variabilidade na interpre- tação destes radiogramas, principalmente entre os intensivistas sem treinamento radiológico específico. A tomografia computadorizada helicoidal permite uma medida acurada do volume de muitos órgãos humanos e provê a possibilidade de calcularvolumes de gás e tecido nos pulmões para investigação. Poderia ser um bom exame para avaliação do recrutamento pulmonar e da hiperinflação alveolar pelo uso da PEEP, além de ser extremamente ilustrativa na extensão do comprometimento pulmonar. O uso da tomografia, entretanto, é muito limitado devido às condições de gravidade dos paci- entes e às inerentes dificuldades de remoção para o centro de radiologia. Aparelhos mais sofis- ticados deverão ser desenvolvidos para uso rotineiro em medicina intensiva (figura 3). 21 PR OA MI SE MC ADO diagnóstico clínico, em suma, baseia-se, independentemente da causa, nos critéri- os do consenso da American Thoracic Society e da European Society of Intensive Care Medicine (tabela 1). Figura 3 - Tomografia computadorizada de tórax de um paciente com SARA. Observe que as consolidações pulmonares não se distribuem de forma homogênea, concentrando-se nas zonas dependentes. O volume final do pulmão aerado é bastante reduzido, fato que criou o conceito de “baby lung”. Quando ventilamos pulmões como esse, o ar tende a ser direcionado para as áreas mais sadias, que apresentam complacências maiores. Esse fenômeno tende a hiperdistender essas zonas, causando mais dano pulmonar. As manobras de recrutamento tentam, por isso, abrir os alvéolos fechados pelo líquido contido em seus interiores. Dentre as manobras de recrutamento conhecidas, a de uso mais comum é a PEEP (positive end-expiratory pressure). Quais seriam os elementos relevantes para o diagnóstico de SARA? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ TRATAMENTO DA LPA/SARA O tratamento da LPA/SARA baseia-se em um tripé: ■■■■■ eliminação ou controle do fator causal; ■■■■■ suporte geral do paciente; ■■■■■ oxigenação. 22 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) ELIMINAÇÃO OU CONTROLE DO FATOR CAUSAL Na maioria dos casos, você não terá dificuldades em identificar um fator desencadeante do quadro de SARA, o tratamento deste fator é que resume o maior problema; entretanto, a identi- ficação e o tratamento adequado do fator causal é determinante da evolução. A maioria dos pacientes que apresenta a síndrome é portadora de sepse, de trauma ou de grandes queimados. Em termos de tratamento, são medidas importantes: ■■■■■ remoção incontinente de focos infecciosos com drenagem cirúrgica ou por punção, guiada por exames de imagem. ■■■■■ escolha correta e precoce dos antibióticos a serem usados empiricamente até a obtenção de resultados de testes de sensibilidade aos antibióticos. ■■■■■ desbridamento das lesões, pois estas podem se constituir em realimentadores de mediadores inflamatórios. 13 O controle da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), da qual a SARA costuma ser uma das resultantes, dentro do contexto da síndrome da disfunção múltipla de órgãos (SDMO) é, pois, fundamental. A esse respeito, em se tratando de SIRS secundária a uma infecção (sepse), alguns progressos recentes têm sido promissores: 1- controle precoce da hemodinâmica e dos parâmetros respiratórios podem, potencial- mente, evitar ou atenuar o desenvolvimento de uma SARA secundária à sepse;14 2- utilização de proteína C ativada e o tratamento do choque séptico com baixas doses de corticosteróides podem também atenuar as taxas de mortalidade nesses pacientes quan- do em choque resistente aos vasopressores, devido a eventual presença de insuficiên- cia adrenal relativa. 15 Os corticosteróides teriam algum papel na SARA tardia (com mais de uma semana de dura- ção), e são administrados na tentativa de diminuir a fibrose pulmonar. Quais seriam as orientações gerais na eliminação ou controle do fator causal da SARA? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ SUPORTE GERAL AO PACIENTE Preste atenção aos cuidados gerais do paciente, que incluem: ■■■■■ nutrição; ■■■■■ balanço hídrico e controle hemodinâmico; ■■■■■ profilaxia das hemorragias digestivas; ■■■■■ higienização; 23 PR OA MI SE MC AD■■■■■ controle das infecções secundárias (principalmente da pneumonia associada à ventilação mecânica), com o manejo adequado da antibioticoterapia; ■■■■■ sedação; ■■■■■ controle metabólico; ■■■■■ transfusões para o controle da anemia, quando indicado; ■■■■■ profilaxia da trombose venosa profunda (TVP) e o tromboembolismo pulmo- nar (TEP). Suporte nutricional Inicie o suporte nutricional tão logo seja possível. Isso significa que, uma vez esta- bilizada a hemodinâmica do paciente e seja adequadamente resolvido o acesso da via aérea, a nutrição deve entrar em consideração. Dietas especiais não têm mostrado evidências que fundamentem uma recomenda- ção. A via digestiva normal deve ser preferida, seja ela por via nasogástrica ou nasoenteral; por gastrostomia ou jejunostomia. A nutrição parenteral fica reservada para casos em que o paciente não tenha a via digestiva em condições de uso. O aporte calórico deve ser conservador. Esquemas hipercalóricos não adicionam vantagens, além de aumentarem a necessidade ventilatória por aumento da produção de CO2. Balanço hídrico O balanço hídrico deve ser mantido o mais próximo possível da normalidade. Caso não haja contra-indicações, o paciente deve ser mantido “seco”. A obtenção de parâmetros supranormais não aufere benefícios, podendo piorar a situação pulmonar. O controle hemodinâmico com o uso de cateter de Swan-Ganz tem sido questio- nado, embora seja útil em situações especiais. Pacientes cujos dados clínicos e hemodinâmicos possam ser avaliados por métodos não-invasivos devem ser poupados de um procedimento de risco. Todavia, considere a inserção de um cateter pulmonar nos casos em que o paciente tenha uma concomitância com uma doença cardíaca ou em que o manejo dos líquidos seja difícil. Sintetize as considerações importantes com relação ao suporte nutricional e ao balanço hídrico no âmbito dos cuidados gerais ao paciente com quadro de SARA. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ LEMBRAR 24 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) LEMBRAR Profilaxia das hemorragias digestivas Nem todos os pacientesinternados em uma UTI apresentam o mesmo risco de sangramento digestivo; entretanto, a ventilação mecânica constitui-se em um risco primário para esse evento. O risco de sangramento franco é estimado em 5% em pacientes críticos. O entendimento da fisiopatologia dos eventos responsáveis pela doença de mucosa relaciona- da ao estresse, ao sangramento clinicamente relevante e da necessidade de supressão ácida na prevenção do sangramento digestivo por úlcera de estresse, provê uso racional de agentes supressores de secreção ácida. Estudos de pH intragástrico têm demonstrado que, enquanto agentes que produzem um pH de 4 podem ter a habilidade de prevenir a doença de mucosa relacionada ao estresse, somente agentes que conseguem um pH > 6 são capazes de manter o coágulo após ter ocorrido o sangramento. O objetivo da terapêutica seria a elevação do pH acima de seis. O controle do pH intragástrico conseguido com omeprazol (inibidor da bomba de prótons), administrado intermitentemente a cada seis horas ou como infusão contínua, mostrou-se marcadamente superior ao conseguido com ranitidina (antagonista H2). Além do que, a ranitidina pode desenvolver tolerância no segundo ou terceiro dia, tornando-a menos adequada para uso em UTI. Higienização A higienização do paciente adiciona conforto e reduz a possibilidade de infec- ções secundárias. O cuidado com a via aérea e com os tubos nela inseridos é fundamental. A utilização de sistemas de aspiração fechada é atualmente preconizada sem uma motiva- ção racional maior. Em nossa opinião aplicam-se mais para evitar a despressurização dos pulmões de pacientes com manobras de recrutamento como a PEEP, do que para efetivamente diminuir a taxa de infecção respiratória. Alguns respiradores apresentam problemas nos transdutores quando esses sistemas são utilizados com pressões elevadas, pondo em risco a segurança dos pacientes. Os sistemas de aspiração fechada são, portanto, úteis em evitar que pacientes sob ventila- ção com pressão positiva contínua sejam despressurizados e percam o recrutamento alveolar. 25 PR OA MI SE MC ADOutra vantagem da higienização seria proteger o pessoal assistencial de contaminação com as secreções dos pacientes. Cuidados com a formação de escaras evitam complicações infecciosas adicio- nais e devem ser perseguidos. A traqueostomia indicada corretamente evita com- plicações tardias na laringe e traquéia. Nunca esqueça que a melhor e mais efetiva manobra de controle de infecção hos- pitalar, e a mais barata de todas, é a adequada lavagem de mãos da equipe assistencial, incluindo os médicos. Esse procedimento deve se associar a descontaminação sistemática de equipamentos que entrem em contato com o paciente, como os estetoscópios. O procedimento deve ser realiza- do a cada contato do profissional com qualquer outra pessoa ou material, como o painel de controle de respiradores e monitores. Que fatores são relevantes quanto à profilaxia das hemorragias digestivas e à higieniza- ção, no âmbito dos cuidados gerais ao paciente com quadro de SARA. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ Controle das infecções secundárias e manejo dos antibióticos. A Pneumonia associada à ventilação mecânica usualmente origina-se da microbiota da orofaringe do paciente. Para seu controle, foi proposta a descontaminação digestiva seletiva, na qual antibióticos tópicos são aplicados à orofaringe e ao estômago para a prevenção da pneumonia e outras infecções. O método é defendido pela possibilidade de reduzir a mortalidade relacionada à pneumonia e para a prevenção de infecções derivadas do trato digestivo em pacientes com pancreatite necrotizante e transplantes de fígado. Apesar de inúmeros ensaios clínicos, o procedimento permanece controverso. A redução da incidência de pneumonia é aceita, mas a magnitude dessa redução é assunto de debate. O uso dos antibióticos pode forçar a emergência de germes multirresistentes; e a mortalidade não foi reduzida na maioria dos estudos - esse dado foi calcu- lado em metanálises, de forma que a metodologia pode ser criticada. LEMBRAR 26 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) Em nosso meio, a descontaminação seletiva do trato digestivo não é um procedimento freqüentemente usado. Depois de uma avaliação de riscos e benefícios de várias intervenções possíveis na prevenção da pneumonia associada à ventilação mecânica, é possível recomendar-se: ■■■■■ posição semi-sentada em todos os pacientes elegíveis; ■■■■■ aspiração das secreções subglóticas; ■■■■■ camas oscilantes em populações selecionadas de pacientes. Infelizmente muitas das propostas são impraticáveis na maioria dos hospitais brasileiros. A recomendação de sucralfate no lugar de antagonistas H2 em pacientes com baixo ou moderado risco de sangramento gastrointestinal, pelo temor de um aumento da incidência de pneumonia, não parece justificada depois do estudo de Cook e colaboradores. 16 Esse estudo, multicêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado mostrou superioridade da ranitidina no controle do sangramento, em comparação com o sucralfate, além disso, não detectou aumento da incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica. O controle constante dos cateteres e sondas deve ser realizado na busca de sinais inflamatórios que sugiram infecção. O manejo deve ser precoce e ade- quado.17 O uso adequado dos antibióticos é crucial em uma UTI. Nossos hospitais apresentam altas taxas de resistência bacteriana, pressionada pelo uso descontrolado de antibióticos. Os germes mais importantes são: ■■■■■ o estafilococo resistente à oxacilina, conhecido como MASA; ■■■■■ o enterococo resistente à vancomicina; ■■■■■ bactérias Gram-negativas resistentes à ceftazidima, em especial as do gênero Klebsiella e Enterobacter, e a P. aeruginosa e o Acinetobacter baumanii, resistentes aos carbapenêmicos. Uma política de controle de infecção hospitalar bem executada deve ser endereçada a esse problema. Pacientes em ventilação mecânica por mais de cinco dias e com uso de antibióti- cos de largo espectro são suscetíveis a apresentarem pneumonia associada à ventilação mecânica por esses germes, o que aumenta substancialmente as taxas de mortalidade. Em suma, o uso abusivo de antibióticos é um problema sério que contribui para um aumento de prevalência de germes multirresistentes nas UTIs, com risco de superinfecções. Os clínicos dividem-se quanto aos méritos da antibioticoterapia empírica, uma vez que não há evidências rigorosas para guiar o tratamento. Dado os riscos potenciais associados com o uso irrestrito de antibióticos, por um lado, e os riscos de um tratamento inadequado ou tardio da infecção, por outro lado, estaria mais do que justificada a realização de mais estudos sobre o assunto. 27 PR OA MI SE MC ADQuais seriam suas considerações, com base na clínica diária, referente ao procedi- mento de descontaminação digestiva seletiva e ao uso de antibióticos nas UTIs? ....................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ Sedação O paciente em ventilação mecânica deve estar confortável e isto, na maioria das vezes, só é possível pela sedação e, eventualmente, até que se realize relaxamento muscular. A sedação deve ser individualizada. Drogas com efeitos cumulativos e meias-vidas longas devem ser evitadas. Utilizando-se a escala de Ramsay, níveis de sedação de 3 a 4 estariam indicados durante o dia e de 5 a 6 no período da noite. A associação de midazolan e fentanil tem sido uma escolha bastante freqüente em nosso meio, por prover uma sedação adequada e analgesia, embora o lorazepan injetável (não disponível no Brasil) apre- sente uma relação custo/benefício muito mais conveniente. Todavia, drogas como o diazepan e a morfina não devem ser esquecidos. Quando o paciente iniciar o pro- cesso de desmame, um nível de sedação de 2 é mais indicado e o uso de drogas como o propofol torna- se atraente. A utilização de miorrelaxantes sempre merece algumas considerações. A inadequação do paciente ao ventilador deve ser criteriosamente avaliada antes de se lançar mão de relaxantes musculares. Uma relação desarmônica pode estar indicando “fome de ar” devido a uma regulagem inadequada às necessidades do paciente; pode significar dor. Neste caso, a droga a ser utilizada seria um analgésico. Por outro lado, o uso simultâneo de miorrelaxantes com outras drogas pode ter efeitos deletérios: ■■■■■ com os aminoglicosídeos pode haver potencialização do efeito miorrelaxante; ■■■■■ com os corticosteróides podemos ter o aparecimento de uma miopatia severa, que perturbará o desmame e o desfecho do paciente. Nunca é demais lembrar que pacientes sedados profundamente e miorrelaxados devem ter acompanhamento constante pela enfermagem. Uma extubação acidental ou uma pane no sistema poderá ter conseqüência fatal se não testemunhada e prontamente atendida. 28 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) Quais seriam suas considerações acerca da sedação em um quadro de SARA? ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ Controle metabólico O controle metabólico dos pacientes gravemente enfermos tem recebido grande enfoque nos últimos tempos. Em 2001, Van den Berghe e colaboradores18 publicaram um trabalho demonstrando que o con- trole estrito da glicemia em pacientes em tratamento intensivo, mesmo nos não-diabéticos - taxas glicêmicas mantidas entre 80 e 110mg/dl -, através de infusão endovenosa contínua de insulina, apresentava uma taxa de mortalidade menor do que naqueles em que a insulinoterapia só era administrada quando a glicemia excedia 215mg/dl (taxas de mortali- dade 4,6 % e 8,0 %, respectivamente, P < 0,04). O benefício foi atribuído à marcante diferença nos pacientes com internação superior a cinco dias (10,6% e 20,2%, P = 0,005). A grande redução de mortalidade envolveu disfunção múl- tipla de órgãos com um foco séptico comprovado. A insulinoterapia promoveu também diminuição de: ■■■■■ mortalidade hospitalar em 34%; ■■■■■ hemoculturas positivas em 41%; ■■■■■ mediana de transfusões em 50%; ■■■■■ polineuropatias em 44%; ■■■■■ uma menor necessidade de ventilação mecânica. O trabalho mencionado não foi dirigido especificamente para pacientes com SARA e o mecanismo desse fenômeno ainda não está explicado, mas enfatiza a necessidade de um controle metabólico intensivo em pacientes críticos. As transfusões e o controle da anemia O valor das transfusões de eritrócitos na prática clínica permaneceu sem questionamento durante a maior parte do último século. Entretanto, a partir dos anos 1980, essa prática começou a ser melhor avaliada. A preocupação inicial era com as reações transfusionais e doenças potencialmente transmitidas pelo procedimento (hepatites e fundamentalmente HIV). Atualmente, a questão suscita outro tipo de preocupa- ção: os benefícios do procedimento. LEMBRAR 29 PR OA MI SE MC ADHá muito pouco para justificar a transfusão de rotina em pacientes severamente enfermos. O estudo de Herbert19 sugere que, na maioria dos pacientes graves, a estratégia de manter-se uma taxa de hemoglobina entre 7 e 9g/dl seria ao menos equivalente, se não mais benéfica, do que a de se obter uma taxa de 10 a 12g/dl. Uma exceção seriam os pacientes com cardiopatia isquêmica, nos quais uma concentração maior teria vantagens. A concentração ótima para o paciente crítico necessita ainda ser determi- nada. A partir do texto e da observação da clínica diária, aponte as questões relevantes acer- ca do controle metabólico, das tranfusões e do controle da anemia em casos de LPA/ SARA. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ OXIGENAÇÃO Volume corrente A ventilação mecânica é a pedra fundamental no manejo da hipoxemia em pacien- tes afetados por LPA/SARA. Nos anos 1970, volumes correntes de 10 a 15ml/kg eram aplicados como estratégia ventilatória. Exceto hipocapnia, nenhum outro efeito era reconhecido naqueles tempos. Muito precocemente observaram-se os efeitos benéficos da PEEP no recrutamento alveolar e na otimização da mecânica ventilatória e trocas gasosas. Altos volumes correntes (VC) propiciavam uma adequada oxigenação arterial com níveis mais baixos de PEEP e baixas frações inspiradas de oxigênio (FiO2). Nessa época, a lesão pulmonar descrita como secundária ao respirador (ventilator lung) era mais atribuída à toxicidade do oxigênio. 20 Já nos anos 1980, alguns autores passaram a chamar a atenção de que, em modelos animais, as lesões causadas pelo aumento da pressão na via aérea (barotrauma) eram em tudo similares às lesões do ventilator lung. Estudos posteriores identificaram a pressão de distensão transalveolar (volutrauma) como um possível mecanismo para a ruptura pulmonar, fratura do epitélio e da membrana basal. Os efeitos da lesão causada pelo ventilador vão além dos pul- mões. Os pacientes evoluem para disfunção múltipla de órgãos. 30 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) O mecanismo é multifatorial, mas há evidências de que a lesão induzida pelo ventilador estimule a liberação de citoquinas pró-inflamatórias (biotrauma). Além das citoquinas, já fo- ram descritas translocação bacteriana e endotoxina bacteriana dos pulmões para a circula- ção sistêmica. Dentro deste cenário, Hickling e outros sugeriram que a ventilação limitada à pressão com baixos VCs poderia aumentar a sobrevida por diminuição de lesãopulmonar e que a hipercapnia seria bem tolerada pelos pacientes (hipercapnia permissiva). 21 Uma série de estudos controlados e randomizados foram então desencadeados, culminando com o estudo ARDS Network,22 que mostrou que pacientes ventilando a um VC de 6ml/kg de peso ideal tinham uma taxa de mortalidade 22% menor do que pacientes ventilando com VC de 12ml/kg de peso ideal. A pressão de platô Ao lado da lesão decorrente da alta pressão de distensão transalveolar, outra determinante maior da lesão induzida pela ventilação mecânica é a abertura e fechamento alveolar cíclico, causado por uma pressão expiratória final mais baixa do que a pressão de fechamento crítico. Desta forma, o pior tipo de ventilação seria aquela usando altos VCs e baixos valores de PEEP. Estima-se que a aplicação de uma pressão transpulmonar de 30cmH2O eleve as forças de distensão pulmonar a níveis perigosos, por este motivo a pressão de platô máxima a ser permitida é de 30 a 35cmH2O, enquanto se mantêm os pulmões abertos pela aplicação de níveis suficientes de PEEP. A PEEP Dentro da estratégia acima discutida, foram Amato e colegas, no Brasil, quem primeiro utiliza- ram esses conceitos, usando baixos VCs associados a PEEP elevado (16,4 ± 0,4cmH2O) e manobras de recrutamento prolongadas demonstrando redução de mortalidade. Embora a redução de mortalidade associada aos baixos VCs tenha sido reproduzida, no estudo ARDS Network, os efeitos da PEEP não foram demonstrados. Uma recente análise sugeriu que a falta de diferença nos resultados decorreria da presença de PEEP intrínseco, causado pelas altas freqüências respiratórias no grupo de pacientes com bai- xos volumes correntes, contaminando os resultados do estudo ARDS Network no tocante aos resultados da PEEP. 23 Os valores de PEEP ideal ainda são motivo de acalorado debate. Não se sabe ainda se todos os pacientes se beneficiariam de valores elevados, se todo o alvéolo doente pode ser recrutado. LEMBRAR 31 PR OA MI SE MC AD LEMBRAR Existe uma possibilidade que pacientes com padrão lobar de SARA (SARA pulmo- nar) apresentem mais hiperinflação do que recrutamento e, portanto, não sejam indicados para o uso de PEEPs elevados. Nesses pacientes, a PEEP seria aplicada apenas para se obter uma FiO2 mais baixa com uma melhor oxigenação. Os pacientes com padrão difuso de SARA (SARA extrapulmonar) seriam os mais beneficia- dos com as manobras de recrutamento e PEEPs altas. Esses trabalhos são contestados e estudos futuros necessitam esclarecer melhor o assunto. A metodologia de calcular a PEEP “Pflex ideal” é outro problema. As curvas de pressão- volume (P-V), utilizadas por Amato e colegas, para a determinação do ponto de inflexão no braço inspiratório, são dificilmente disponíveis e alguns pacientes não apresentam uma morfologia clássica para a determinação do Pflex. Pacientes com radiologia mostrando zonas de atelectasia e parênquima de pulmão aeradas nos lobos superiores apresentam curva P-V com Pflex pouco visível ou inexistente. Outros métodos estão sendo estudados, mas utilizam metodologias não disponíveis ainda para uso corrente. Rouby24 sugere uma abordagem pragmática e não-dogmática para a determina- ção da PEEP correta para cada paciente, baseada numa avaliação realística dos riscos de hiperinflação e hiperinflação dos pulmões. Em outras palavras, a tentativa de se recrutarem alvéolos, mantendo o pulmão completamente “aberto” não deveria ser aplicada em pacientes com diminuição da aeração focal, pelo risco de se causar hiperinflação e lesão pulmonar induzida pela ventilação mecânica. Esses pacientes deveriam permanecer com PEEPs ao redor de 10cmH2O, combi- nadas com posição prona em caso de necessidade de uma melhor troca gasosa. À beira do leito, você deve tomar suas próprias decisões, baseado em três aspectos: ■■■■■ o padrão morfológico dos pulmões; ■■■■■ a forma da curva P-V (quando disponível); ■■■■■ as mudanças na troca gasosa resultante nos diferentes níveis de PEEP. O recrutamento Na era do recrutamento, os dois métodos mais usados são o uso de uma pressão elevada sustentada na via aérea, aplicada com CPAP (30-60cmH2O) por 20 a 40 segundos e o aumento periódico da pressão da via aérea através de suspiros (tabela 3). 32 Tabela 3 ESTUDOS INVESTIGANDO O USO PERIÓDICO DE SUSPIRO EM LPA/SARA: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SUSPIRO As vantagens do recrutamento sobre a mecânica respiratória e a troca gasosa em pacientes com LPA/SARA estão suficientemente demonstradas. Faltam ain- da estudos que meçam seu impacto sobre a mortalidade. Sintetize os apontamentos do autor com relação à oxigenção, mencionando especificida- des da ventilação mecânica, da PEEP e dos manejos de recrutamento. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ NORMAS PARA A VENTILAÇÃO MECÂNICA Sumarizo a seguir as normas do Consenso Brasileiro de Sepse (2003)26, no tocante à orienta- ção, baseada em evidências, para ventilação mecânica em pacientes com comprometimento pul- monar. Paciente estável hemodinamicamente Lógica fisiopatológica para instituição do suporte ventilatório: Este tipo de paciente geralmente apresenta pneumonia grave associada à sepse e deverá ser ventilado com níveis de PEEP para manter a FiO2 < 50% e níveis de VC de 6 a 8ml/kg de peso ideal, com freqüência respiratória ao redor de 20mpm. Grau de recomendação: E SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) Ventilação de base CPPV CPPV PSV Manobra de suspiro CPPV Aumentos de PEEP BiPAP/APRV Duração do suspiro (s) 2,5 ± 1,1 Dois movi- mentos res- piratórios consecutivos 3,6 ± 0,7 Pressão de platô (cmH2O) 45 ± 1,1 24,8 ± 6,4 38 ± 3,2 Freqüência do suspiro (mpm) 3 consecutivos 2 1 PEEP (cmH2O) 12 ± 2 9,4 ± 3 10 ± 4 LEMBRAR 33 PR OA MI SE MC ADPaciente instável hemodinamicamente Lógica fisiopatológica para instituição do suporte ventilatório: Este tipo de paciente deverá ser mantido sedado e monitorizado hemodinamicamente. Deverá ser realizado o ajuste volêmico e de drogas vasoativas (ajuste de noradrenalina) na tentativa de ressuscitar o paciente o máximo possível para manutenção de níveis de SvO2 > 75% e lactato arterial e/ou venoso central os mais baixos possíveis. Este paciente deverá ser ventilado com níveis de VC de 6 a 8ml/kg de peso ideal (de preferência, no modo pressão controlada com tempo inspiratório ao redor de 1 se- gundo), freqüência respiratória de 20mpm e PEEP necessária para manutenção dos alvéolos abertos (em geral entre 15 e 25cmH20) para manter FiO2 abaixo de 50%. Grau de recomendação: C Nos centros em que houver disponível tomografia computadorizada de tórax, ela deverá ser realizada para observação do grau e da distribuição do comprometimento pulmonar. Mano- bras de recrutamento alveolar com PEEPs até 40cmH20 poderão ser utilizadas assim como a posição prona nos casos de hipoxemia refratária. (A posição prona parece ser mais vantajosa em pacientes com cardiomegalia. O peso do coração aumentado sobre o parênquima pulmonar seria atenuado na posição prona.) Grau de recomendação: E Paciente instável hemodinamicamente com comprometimento cardíaco e pulmonar Lógica fisiopatológica para instituição dosuporte ventilatório: Este tipo de paciente deverá ser mantido sedado e monitorado. Deverá ser realizado o ajuste volêmico e de drogas vasoativas (ajuste de noradrenalina) na tentativa de ressuscitar o paciente o mais rápido e o máximo possível. Neste tipo de paciente deverá ser medido o índice cardíaco (IC) assim como a relação trabalho do ventrículo esquerdo/pressão de oclusão da artéria pulmonar (ITVE/POAP). Deverá ser utilizada a ressuscitação volêmica e dobutamina para manutenção de níveis de SvO2 > 75 %, IC > 3.5, e ITVE/POAP > 5 e/ou lactato arterial e ou venoso central os mais baixos possíveis. Este paciente deverá ser ventilado com níveis de VC de 6 a 8ml/kg de peso ideal (de preferên- cia, no modo pressão controlada com tempo inspiratório ao redor de 1 segundo), freqüência respiratória de 20mpm e PEEP necessária para manutenção dos alvéolos abertos (em geral entre 15 e 25cmH20) para manter FiO2 abaixo de 50%. Grau de recomendação: C Nos centros em que houver disponível tomografia computadorizada de tórax, ela deverá ser realizada para observação do grau e da distribuição do comprometimento pulmonar. Manobras 34 de recrutamento alveolar com PEEPs até 40cmH20 poderão ser utilizadas assim como a posi- ção prona nos casos de hipoxemia refratária. SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) LEMBRAR Grau de recomendação: E Desmame do ventilador mecânico Lógica fisiopatológica para instituição do suporte ventilatório: O desmame do paciente deverá ser iniciado assim que ele estiver estável hemodinamicamente, necessitando de FiO2 < 40%. A partir deste momento a sedação deverá ser ajustada para que o paciente inicie a ventilação espontânea com a ajuda de níveis adequados de pressão de suporte (níveis pressóricos para manutenção de VC acima de 350ml e FR < 28mpm ) e manter-se confortável e sem dor. Os níveis de PEEP deverão ser mantidos até o paciente atingir níveis de suporte pressórico ao redor de 10cmH20 quando então poderá ser iniciada a diminuição dos níveis de PEEP. Quando os níveis de suporte pressórico estiverem ao redor de 7cmH20, com o paci- ente mantendo o VC > 350ml e FR< 28mpm e níveis de PEEP ao redor de 5 a 6cmH20 com FiO2 < 40% e SpO2 > 95%, deverá ser feita avaliação da função da musculatura respiratória (medida de Pimáx). (Pressão respiratória negativa na via aérea obtida pela manometria do fluxo respiratório espontâneo do paciente quando desconectado do ven- tilador. Valores absoluotos de pressão negativa maiores que 20cmH2O são considera- dos adequados.) Se todos os parâmetros estiverem adequados poderá ser realizada a extubação. Nível de recomendação: C Nos pacientes ventilados mecanicamente e sedados continuamente há evidên- cias que, se a sedação for interrompida uma vez ao dia, para avaliação do nível de consciência e da possibilidade de progressão do desmame do suporte ventilatório, tal progressão ocorrerá mais rapidamente. Nível de recomendação: B Nos casos dos pacientes com fraqueza muscular (comum nos pacientes portadores de polineuropatia da sepse) deverá ser verificada a dose do corticosteróide administrada e mantida a menor possível, ajustado o aporte nutricional e iniciada a reabilitação da muscu- latura respiratória através de treinamento progressivo da musculatura respiratória com Threshold. Estes pacientes deverão ser sempre extubados com o auxílio da ventilação não- invasiva, a qual deverá ser mantida pelo menos 24-48 horas após a extubação. 35 PR OA MI SE MC ADNível de recomendação: E Nos casos em que se verifica a não-melhora da força muscular com a reabilitação (Pimáx menor que 20cmH20) deverá ser indicada traqueostomia e continuação da reabilitação respiratória, com treinamento progressivo da musculatura respirató- ria e períodos de descanso com pressão inspiratória positiva. Com o passar do tempo e a melhora da força muscular respiratória este paciente deverá permanecer por períodos progressivos em ventilação espontânea, até a total retirada da pressão positiva e posterior fechamento da traqueostomia. Nível de recomendação: E Elabore um quadro comparativo entre as normas de ventilação mecânica para os casos: a) pacientes hemodinamicamente estáveis; b) pacientes hemodinamicamente instáveis; c) pacientes hemodinamicamente instáveis e com comprometimento cardíaco e pul- monar; d) pacientes em situação de desmame do ventilador mecânico. ....................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ ........................................................................................................................................................ PROGNÓSTICO A mortalidade da SARA relatada varia de cerca de 30% a mais de 70 %, em diferen- tes estudos, com diferentes abordagens ventilatórias. A mortalidade por SARA de origem pulmonar tem declinado nos últimos 15 anos. Acredita-se que o fato se deva às novas estratégias de ventilação protetoras (baixos volumes e limitação de pressão). No caso da SARA de origem extrapulmonar, a melhora depende de fatores muito mais complexos. Todavia, o próprio manejo da sepse e do choque séptico têm passado por mudanças e auferido um ganho de sobrevida. Algumas co-morbidades são definitivas na determinação de um desfecho desfavorável no paciente com insuficiência respiratória grave por SARA. Dentre elas, destacam-se: presença de insuficiência renal aguda, doença hematológica maligna e SARA desenvolvendo-se no contexto de um transplante de medula. Alguns autores chegam a preconizar que a ventilação mecânica, em alguns contextos, seria uma medida fútil, uma vez que a mortalidade alcança 100%. No passado, acreditava-se que a SARA seria uma situação que, uma vez resolvido o quadro agudo, curaria sem seqüelas. Recentemente, Herridge e colegas28 publi- caram um esclarecedor estudo, avaliando pacientes sobreviventes de SARA até um ano após a condição patológica. LEMBRAR 36 SÍN DR OM E D A A NG ÚS TIA RE SP IRA TÓ RIA AG UD A( SA RA ) A maioria dos pacientes, após um ano, apresenta alterações funcionais persistentes, que são, na maioria, alterações extrapulmonares, sendo diminuição de massa muscular e de força muscular mais proeminentes. O volume pulmonar e os achados espirométricos normaliza- ram aos seis meses, mas a difusão de monóxido de carbono permaneceu alterada após um ano do evento. Nenhum paciente necessitou oxigenioterapia após 12 meses, mas 6% dos pacientes apre- sentaram saturação da hemoglobina arterial abaixo de 88%. Já observamos alguns casos, raros é verdade, em que os pacientes, após quadro prolongado de ventilação mecânica (na era pré-ventilação protetora), evoluíram para grave disfunção pulmonar, necessitando de as- sistência ventilatória com couraça. CONCLUSÃO A LPA/SARA é uma síndrome complexa com altas taxas de mortalidade, cuja solução ainda está longe de ser encontrada. Seu melhor manejo ainda se encontra no tripé formado pela ventilação mecânica protetora, pelos cuidados gerais e pelo controle da causa básica. A prevenção deve ser dirigida a seus desencadeantes e o reconhecimento precoce bem como o manejo adequado podem ter algum impacto sobre o prognóstico do paciente. Um paciente de 42 anos, 1,72m, 95kg, previamente hígido, dá entrada na sala de emer- gência com uma lesão penetrante de abdome. Na laparotomia observa-se conteúdo fecal na cavidade. O paciente é adequadamente manejado cirurgicamente, mas no se-gundo dia pós-operatório encontra-se francamente séptico, embora mantenha hemodinâmica estável ainda. O radiograma de tórax mostra infiltrado pulmonar difuso e uma relação PaO2 < 200. PERGUNTAS: 1. Você indicaria a colocação de um cateter de Swan-Ganz para fazer o diagnóstico de SARA? Por quê? 2. Você intubaria esse paciente no primeiro momento? Por quê? 3. Você optaria por ventilação mecânica? 4. Imaginando que você optou em ventilar mecanicamente, prescreva a ventilação mecânica que você iniciaria (modos ventilatórios, volume corrente, etc). 5. Exceto antibióticos e esquema nutricional, quais drogas você prescreveria inicialmente? 37 PR OA MI SE MC ADCITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 1. Ashbaugh DG, Bigelow DB, Petty TL, Levine BE. Acute respiratory distress in adults. Lancet 1967;2:319. 2. Artigas A, Bernard GR, Carlet J, et al. The American-European Consensus Conference on ARDS, Part 2. Intensive Care Med 1998;24:378. 3. 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Avenida Jerônimo de Ornelas, 670 – Bairro Santana 90040-340 – Porto Alegre, RS Fone (51) 3321-3321. Fax (51) 3333-6339 E-mail: info@semcad.com.br http://www.semcad.com.br Capa e projeto: Tatiana Sperhacke Diagramação: Ethel Kawa Editoração eletrônica: João Batysta N. Almeida e Barbosa Coordenação pedagógica: Claudia Lázaro Processamento pedagógico: Evandro Alves, Luciane Ines Ely e Michelle Freimüller Revisões: Israel Pedroso Coordenação-geral: Geraldo F. Huff Diretores acadêmicos: Cleovaldo T. S. Pinheiro Professor adjunto do Departamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutor em Medicina pela UFRGS. Especialista em Terapia Intensiva, titulação pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Chefe do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Coordenador do Programa de Residência em Medicina Intensiva do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Werther Brunow de Carvalho Professor livre-docente do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Medicina Intensiva Pediátrica, titulação pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Chefe das Unidades de Cuidados Intensivos Pediátricas do Hospital São Paulo, Hospital Santa Catarina e Beneficência Portuguesa de São Paulo. P964 Programa de Atualização em Medicina Intensiva (PROAMI) / organizado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. – Porto Alegre : Artmed/Panamericana Editora, 2004. 17,5 x 25cm. (Sistema de Educação Médica Continuada a Distância (SEMCAD) 1. Medicina intensiva – Educação a distância. I. Associação de Medicina Intensiva Brasileira. II. Título. CDU 616-084/-089:37.018.43 Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023 PROAMI. Programa de Atualização em Medicina Intensiva ISSN 1679-6616 5 PR OA MI SE MC AD Presidente Jairo Constante Bitencourt Othero Vice-Presidente JeffersonPedro Piva 1º Secretário Luiz Alexandre Alegrretti Borges 2º Secretário José Maria da Costa Orlando 1º Tesoureiro Marcelo Moock 2º Tesoureiro Odin Barbosa da Silva Associação de Medicina Intensiva Brasileira Diretoria 2001/2003 Associação de Medicina Intensiva Brasileira Rua Domingos de Moraes, 814. Bloco 2. Conjunto 23 04010-100 – Vila Mariana - São Paulo, SP Fone/fax (11) 5575-3832 cursos@amib.com.br www.amib.com.br SÍNDROME DA ANGÚSTIARESPIRATÓRIA AGUDA (SARA) INTRODUÇÃO OBJETIVOS ESQUEMA CONCEITUAL DEFINIÇÃO EPIDEMIOLOGIA FISIOPATOLOGIA E PATOLOGIA DIAGNÓSTICO TRATAMENTO DA LPA/SARA ELIMINAÇÃO OU CONTROLE DO FATOR CAUSAL SUPORTE GERAL AO PACIENTE Suporte nutricional Balanço hídrico Profilaxia das hemorragias digestivas Higienização Controle das infecções secundárias e manejo dos antibióticos. Sedação Controle metabólico As transfusões e o controle da anemia OXIGENAÇÃO Volume corrente A pressão de platô A PEEP O recrutamento NORMAS PARA A VENTILAÇÃO MECÂNICA Paciente estável hemodinamicamente Paciente instável hemodinamicamente Paciente instável hemodinamicamente com comprometimento cardíaco e pulmonar Desmame do ventilador mecânico PROGNÓSTICO CONCLUSÃO PERGUNTAS: CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
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