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MATERIAL DIDÁTICO AS TIC APLICADAS NO ENSINO SUPERIOR CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Impressão e Editoração ‘2 SUMÁRIO OBJETIVOS DA DISCIPLINA .................................................................................... 3 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 4 UNIDADE 2 – AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) APLICADAS NO ENSINO SUPERIOR ....................................................................... 5 2.1 - TIC: CONCEITO E HISTÓRICO ............................................................................... 5 2.2 - EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (E-LEARNING) NO ENSINO SUPERIOR ............................... 8 2.3 – A UTILIZAÇÃO DAS TIC NO ENSINO SUPERIOR ................................................... 10 2.2.2 Tutores Inteligentes ................................................................................... 12 UNIDADE 3 – O USO DAS TIC E OS NOVOS PARADIGMAS EDUCACIONAIS: A INTERNET E O ENSINO SUPERIOR ....................................................................... 15 3.1 - O USO DAS TIC E A COMPETÊNCIA NO ENSINAR ................................................... 16 UNIDADE 4 - AS TIC E O FAZER DOCENTE NA MODALIDADE EAD .................. 21 UNIDADE 5 - O ENSINO SUPERIOR E A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA ATRAVÉS DAS TIC .................................................................................................................... 25 5.1 A COMUNICAÇÃO DOCENTE EM TEMPOS DE TIC ..................................................... 32 5.2 - GERAÇÕES DE EAD: MÍDIAS E MULTIMÍDIAS NA MEDIAÇÃO DO CONHECIMENTO NA CONCEPÇÃO DE HACK (2004) ................................................................................... 35 5.3 – PERFIL DO PROFESSOR PARA O USO DAS TIC ..................................................... 38 UNIDADE 6 - USO DAS TIC NAS LICENCIATURAS: PUBLICAÇÕES ACERCA DO TEMA ........................................................................................................................ 43 6.1 - REFLEXÕES SOBRE O EAD NO ENSINO DE FÍSICA ............................................... 43 6.2 - FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA: USO PEDAGÓGICO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO ...................................................... 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 57 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58 ANEXOS ................................................................................................................... 66 ‘3 OBJETIVOS DA DISCIPLINA A utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC), no sistema educativo, deve visar um horizonte de atuação dos professores que não se limita a simples melhoria da eficácia do ensino tradicional ou à mera utilização tecnológica escolar através dos meios informáticos. As TIC têm um papel profundo na educação. Em sendo, a criação desta disciplina objetiva: Entender os novos paradigmas educacionais que emergem dessa sociedade da informação e da comunicação, bem como, da necessidade de exercer uma cidadania participativa, crítica e interveniente; Analisar as novas concepções acerca da natureza dos saberes, valorizando o trabalho cooperativo; Descrever as novas vivências e práticas no ensino superior, através do desenvolvimento de interfaces entre as instituições de ensino e os grandes centros de pesquisa do mundo, através da utilização da rede mundial de computadores: a Internet; Analisar a aplicação das TIC nos cursos de licenciatura; Debater sobre as novas investigações científicas em desenvolvimento no ensino superior, a partir do uso das TIC. ‘4 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Contemporaneamente, a realidade está centrada em um modelo de comunicação descentralizado e plural, que permite modificar e recompor as mensagens por intervenção dos mais diferentes meios tecnológicos, bem como, dos diversos atores do processo educacional. Essa nova realidade exige dos professores uma revisão dos processos de autoria que utiliza para construir conhecimento e dos alunos uma mudança no modo de construir o conhecimento. Neste cenário, torna-se fundamental o intercâmbio entre alunos e professores, de modo que ambos aprendam e ensinem. Em sendo, é necessário que se estabeleça uma relação de mão dupla, em que o professor vá construindo, de forma dinâmica, o processo de aprendizagem e o seu fazer pedagógico, enquanto o aluno elabora e concretiza seu próprio conhecimento. Para tanto, tornar possível a transformação de informações em conhecimento, através das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), exige grande investimento em alternativas pedagógicas, além de esforços no sentido de despertar o aluno para a mudança no processo de ensino e aprendizagem, levando- o a desafiar a sua inteligência e incentivando as relações interpessoais e o diálogo entre todos: professores e alunos; alunos e alunos; alunos, professores e instituição; professores e professores. Pretendemos oferecer a perspectiva para essas discussões, preparamos este material, objetivando analisar a aplicação das TIC no Ensino Superior, a partir do debate acerca do uso dessas tecnologias na educação e os novos paradigmas trazidos e criados por este novo fazer pedagógico. Esperamos proporcionar o debate e a busca de novas alternativas para a construção do conhecimento, através da utilização das ferramentas possibilitadas pelas TIC e, em sendo, contribuir para o desenvolvimento educacional do país. Bons estudos, Professora Msc. Náuplia Lopes ‘5 UNIDADE 2 – AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) APLICADAS NO ENSINO SUPERIOR Vivemos tempos de total quebra de paradigmas, em todos os setores da vida humana. Tecnologicamente, jamais tivemos tão providos de tantas ferramentas que nos permitem quase tudo. Entre essas ferramentas, existem aquelas que, apesar de não terem sido desenvolvidas para este fim, tornaram-se ferramentas educacionais, fundamentais para o crescimento e desenvolvimento educacional de diversos países, em especial, o Brasil. E porque o Brasil, em especial? Devido à nossa condição de continentalidade, que torna as distâncias enormes e, com isso, alijam algumas pessoas do mercado educacional. No entanto, com o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC, essas questões de ordem geográfica tenderam a se minimizarem, haja vista que o uso das TIC permite uma aproximação, antes impossível, entre o aluno e a instituição educacional. Em sendo, faz-se necessário conhecer essas tecnologias e sua aplicação, principalmente, no ensino superior. Iniciaremos, então, com os conceitos e o histórico do que vem a ser as TIC. 2.1 - TIC: conceito e histórico TIC é a sigla que se afere à expressão Tecnologias de Informação e Comunicação, como já pudemos perceber, desde o título dessa unidade, sendo este o nome dado às ferramentas que permitem a melhoria nas comunicações e distribuição das informações entre todos e para todos. Entre elas, podemos destacar as ferramentas computacionais, como o próprio computador, a Internet e todas as possibilidades que ambos oferecem; o telefone e suas diversas versões; o rádio; a TV; os satélites; etc. Todavia, nem sempre foi essa a expressão utilizadapara definir essas tecnologias. Nos anos de 1980, por exemplo, o que encontramos na literatura sobre este tema é a sigla NTI de Novas Tecnologias da Informação, por serem, naquele momento, novas, e também porque ainda prevalecia a clara distinção entre aquilo que se denominava “informação grupal”, feita através do rádio e da TV, ‘6 denominados então, mass media, e outra área, denominada “Novas Tecnologias” ligada à área da Informática. (LÉVY, 2002). Porém, com o advento da rede mundial de computadores, a web ou Internet que, de acordo com Primo (2007), veio estabelecer uma ligação entre estas duas áreas, o que fez surgir a denominação Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, as NTIC, que envolviam em seu âmago de influência, todos os conceitos acerca do tratamento da informação digital, não importando qual fosse o aspecto abordado, podendo ser um texto, um som, uma imagem, um vídeo, ou outro tipo que viesse a ser desenvolvido. Recentemente, conforme Primo (2009), o N de Novas foi retirado da sigla, ficando, somente TIC, para designar as redes informáticas e suas variáveis, bem como, todo e qualquer tipo de interação mediada, seja pelo computador, rádio, TV, satélite ou celular. Em sendo, as TIC podem ser denominadas como um conjunto de conhecimentos, advindos de ferramentas e programas informacionais, sua criação, desenvolvimento e utilização, quer seja, a nível pessoal, empresarial ou institucional, destacando-se o computador, posto que, essa é, sem dúvida, a melhor ferramenta de interação entre o homem e a máquina e entre o homem e o homem (PRIMO, 2009). Não obstante, uma das principais características das TIC, consiste no fato de que, um único meio eletrônico de comunicação, o computador, conectado à rede mundial de computadores, suporta e acessa todo tipo de informação digitalizada ou que seja possível digitalizar, o que inclui desde os mais simples documentos de texto, até as mais complexas análises matemáticas e financeiras, passando por todo o tipo de imagens, áudios, vídeos, etc. (LÉVY, 2002). Assim, podemos considerar as TIC como sendo elementos de concepção e suporte de todo e qualquer tipo de comunicação individual, empresarial, institucional e social, em diversificados ramos de atividades que vão, desde o simples arquivamento de dados até a utilização de complexos programas de Office Automation, bem como o uso de correios eletrônicos, publicidades, ou possibilidades de trabalho, estudo e ensino a distância, entre outros. Muitos ainda confundem Informática com TIC, porém elas diferem, e muito. A Informática é tida como a ciência do tratamento lógico de conjuntos de dados, que de acordo com Souza (2003, p. 27), “utiliza um conjunto de técnicas e equipamentos ‘7 que possibilitam a sua transformação em informações (processamento) e consequente armazenamento e transmissão”. Já as TIC, contabilizam estes e outros equipamentos, bem como, todas as ciências envoltas direta ou indiretamente na comunicação e na confecção e distribuição de informações de toda ordem. Contemporaneamente, podemos afirmar que as TIC estejam presentes em quase todas as atividades do nosso cotidiano, seja em um contexto pessoal ou profissional, direta ou indiretamente, posto que, utilizamos a todo momento, componentes e ferramentas ligadas às TIC, como por exemplo, os telefones celulares, os GPS, a TV, o rádio, a Internet, entre tantos outros, e, para os mais variados meios e atividades, desde o lazer, até o trabalho, passando pelos esportes e pela saúde. É consenso entre as instituições e teóricos, que as áreas demonstradas na figura a seguir, fazem parte do que se denomina: área das TIC: Ilustração 1 representação esquematizada das áreas da TIC. E como não poderia deixar de ser, elas estão presentes na educação, em todos os níveis de ensino, porém, principalmente no Ensino Superior e, mais ainda na Educação a Distância (EAD). Conforme Silva (2006), nesse modelo educacional, encontramos diversas disciplinas que utilizam as TIC como ferramentas, ou, até mesmo, com disciplinas na área das TIC, contemplando a utilização e vantagens na utilização dos meios permitidos e possibilitados por elas, para a melhoria da educação e, principalmente, aumentando o seu alcance, chegando assim, àqueles que, em tempos idos, estariam alijados do processo educacional, por conta das ‘8 distâncias geográficas constantes de um país continental como o Brasil e tantos outros. Assim, o uso das TIC penetrou nas escolas, permitindo um maior e melhor aproveitamento do tempo e do espaço, na busca pela otimização da capacidade de aprender e ensinar. Não obstante, alguns questionam se a utilização massiva de computadores limitaria a capacidade de raciocínio do indivíduo? Pensamos que esse é mais um dos muitos mitos que cercam a informatização, posto que, a utilização de computadores e da Internet permitem que o homem reduza ou, até mesmo, abandone de vez, as tarefas mais repetitivas, podendo, enfim, dedicar-se completamente às atividades que exijam maior índice de criatividade (SILVA, 2006). Sendo assim, podemos afirmar que, a utilização de processadores de texto e folhas de cálculo, de programas educativos e a própria Internet, permitem, não a limitação da capacidade de raciocínio, mas sim possibilitam a conquista de novos conhecimentos e de desenvolvimento pessoal e profissional. Nesse contexto de utilização das TIC, ganhou força e se desenvolveu, nas últimas décadas, o ensino parcial ou totalmente a distância, que até então, era feito através de envio postal, rádio e TV. Com o advento do computador e desenvolvimento das tecnologias permitidas por ele, desenvolveu-se a Educação a Distância (EAD), também chamada e-learning, modelo totalmente a distância e através das TIC, como veremos a seguir. 2.2 - Educação a Distância (e-learning) no Ensino Superior A Educação a Distância (EAD) ou e-learning, denomina e representa uma grande variedade de modelos de ensino que têm como referencial comum, entre si, a separação física entre professores e alunos. Assim, os vários modelos de Educação a Distância são construídos com base em diversos componentes, imprescindíveis para o desenvolvimento do processo instrucional, a saber: a forma de apresentação do conteúdo; a interação mediada entre o aluno e o programa, com as suas vantagens, dificuldades e recursos; a aplicação prática daquilo que é ofertado; e a avaliação de todo esse processo educativo. Para Primo (2009), cada modelo de ensino, então, usa as várias benesses proporcionadas pela tecnologia desenvolvida no momento para fazer a mediação dessa separação física, através da ‘9 utilização dos seus mais variados meios, objetivando incluir todos, ou pelo menos, parte destes componentes. Em sendo, o e-learning utiliza-se dos meios mais modernos, tecnologicamente falando, para atingir um maior número de alunos, principalmente, os adultos, dando a eles uma segunda chance de educação superior. Isso porque, a EAD ultrapassa os limites e as desvantagens da falta de tempo, da distância, da impossibilidade física, bem como, permite a atualização das bases de conhecimento dos trabalhadores nos seus respectivos locais de trabalho (LOPES, 2010). Cabe aqui, uma pequena análise dos resultados obtidos com a falta da presença física do professor, tradicional no ensino presencial. Neste contexto, pesquisas realizadas pelos autores Lopes e Carrão (2009) e demais autoridades no assunto, comparando o ensino a distância com os tradicionais métodos de ensino presencial ou semipresencial, indicam queensinar e estudar a distância pode ser tão efetivo e qualificado como o ensino tradicional, desde que, os métodos e estratégias usadas sejam apropriados ao ensino, haja vista que, dentro da perspectiva de utilização das TIC, existe uma interação professor-aluno e aluno-aluno, mediada por essas TIC, principalmente o computador e a Internet, no que se refere às possibilidades de perguntas e respostas, dúvidas e esclarecimentos (PRIMO, 2009) e (SILVA, 2006). Em sendo, os diversos modelos de ensino superior a distância atendem às necessidades dos prováveis alunos dessa modalidade, nas suas mais variadas necessidades e perfis. Para tanto, utiliza-se dos mais variados métodos de ensino que, diferem entre si, não só nos tipos de tecnologia utilizados, mas, também no formato de controle da disponibilização do conhecimento. Assim, em alguns modelos de ensino, analisados a seguir, a aprendizagem é tradicional, partindo de um controle inicial, feito pelo professor, como é o caso de um ambiente de ensino realizado em uma sala de aula, independente da tecnologia utilizada como mediadora: o computador; a Internet; os satélites para vídeo-conferências e vídeo- aulas; o rádio; a TV; etc. em outra perspectiva, mesmo utilizando de todas as ferramentas listadas anteriormente, o controle é feito pelo aluno e, neste caso, exige autoestudo e autodisciplina. ‘10 2.3 – A Utilização das TIC no Ensino Superior Dentre as muitas possibilidades de utilização das TIC pelas instituições de Ensino Superior para o desenvolvimento educacional, relacionaremos algumas já bastante aplicadas e com resultados passíveis de análise. O Ensino mediado por Computador surgiu na década de 1950 a partir da criação de programas lineares, através da utilização do computador. Consisti na utilização de um programa de computador que apresentava ao aluno um texto que o auxiliava no passo-a-passo em direção ao objetivo e comportamento esperado. Esses programas tinham, como inspiração, as teorias psicológicas, da época. Essas teorias argumentavam que, se a concorrência de um operant for seguida por um estímulo ou reforço, a sua intensidade é aumentada. Ou seja, se o aluno é incentivado através de um texto contendo orientações de como se proceder, ele se sentirá mais seguro e confiante, tendo então, as suas perspectivas potencializadas, permitindo um maior e melhor aproveitamento na aprendizagem. (SILVA, 2006). Esse mesmo modelo é utilizado ainda hoje, por muitas instituições, como por exemplo, a Fundação Getúlio Vargas (FGVonline, 2011), na oferta de cursos a distância. Neste caso, o aluno responde baseado no que está nos textos, documentos e vídeos ofertados, anteriormente, às questões propostas. Porém, nem sempre foi assim. No início da utilização desse modelo, o aluno respondia a partir do que sabia, por tentativa e erro. Em seguida, o programa respondia se estava certo ou errado. Por convenção, determinou-se que essa sequência de passos se chamaria: programa linear. Assim, nesse modelo, o aluno vai evoluindo ao longo do curso, a partir do acerto das questões e, em sendo, cada grupo de respostas corretas acende o aluno a outro nível do curso, até a sua conclusão final. Nesta fase, chegou-se à conclusão de que se poderiam usar as respostas dadas pelo aluno para controlar a informação a ser apresentada em possíveis fases posteriores. Nesse contexto, os alunos poderiam realizar uma aprendizagem mais completa e dinâmica e, ainda, personalizada, pois estariam tentando resolver problemas com uma dificuldade apropriada ao seu nível de conhecimento, em vez de seguirem uma sequência, predeterminada, rígida e sistemática. Além disso, como fator positivo, estes programas possuíam um feedback imediato e corretivo, através das respostas dos alunos, podendo assim, adaptar o ensino às respostas recebidas, criando uma motivação maior no aluno. ‘11 Posteriormente, a este modelo de ensino, foram acrescentadas, novas possibilidades em algumas áreas específicas, como a Matemática e a aritmética, graças à possibilidade do próprio sistema gerar o seu material de ensino. Para tanto, bastava fornecer, a estes sistemas, algumas estratégias gerais de ensino, para que eles produzissem uma miríade de possíveis interações com um número infinitamente grande de opções de ensino. Além disso, estes sistemas podiam, também, alterar o grau de dificuldade de uma certa tarefa ou exercício. A esses sistemas deu-se o nome de geradores. (SILVA, 2006). Porém, e, apesar de todas as melhorias e avanços nesta área, através do aumento do feedback e do grau de individualização oferecido, continuava-se a verificar, o que se pode chamar de: o empobrecimento do conhecimento contido nestes sistemas. Isto porque, em sistemas geradores verifica-se uma defasagem entre os processos internos do programa e os processo cognitivos do aluno (regras e tabelas). De acordo com Kass (1987, p. 56), “nenhum destes sistemas conseguia um conhecimento do domínio semelhante ao de um humano, tampouco conseguiam responder às questões do aluno, como as de ‘por que’ e ‘como’”. Ou seja, questões relativas aos porquês e ao como fazer alguma atividade, não obtinham respostas, posto que, as mesmas somente referiam-se ao que estava posto, sem explicar como foi realizado. Em vias disso, desenvolveram-se os programas adaptativos, ou seja, capazes de utilizar a informação recolhida durante a interação com o aluno, mediada pelo computador, para orientar a escolha dos problemas a serem apresentados. Tais sistemas podiam usar de técnicas bem simples, através das quais, fazia-se uma estimativa da experiência do aluno. Ainda de acordo com Kass (1987, p. 59), alguns destes sistemas, mais elaborados, usam uma estrutura de árvore para direcionar o processo de ensino, em que a resposta do aluno a uma dada questão vai decidir qual dos ramos disponíveis que nesse nível vai ser seguido. E acrescenta que, “de início, todos os ramos devem ser previstos pelo autor do sistema, cobrindo todas as possíveis incorreções que o aluno eventualmente possa produzir. (Id ib, p. 60). ‘12 Por fim, embora os sistemas adaptativos possam ser considerados melhores que os geradores, ambos os sistemas não dispõem de conhecimento sobre o conteúdo e sobre a informação fornecida através de um formato predeterminado. 2.2.2 Tutores Inteligentes Chamamos de Tutores Inteligentes aqueles sistemas de ensino que têm como característica, fundamental, adaptarem-se aos alunos e às suas necessidades, bem como, ao seu ritmo de aprendizagem e suas preferências, não obstante, também preocupando-se com o nível de conhecimento desse aluno e suas perspectivas educacionais e profissionais. Conquanto, devido às limitações existentes nos sistemas de ensino, esse modelo desenvolveu-se para beneficiar, sobremaneira, a área da Inteligência Artificial, objetivando, principalmente, a própria representação do conhecimento em um sistema inteligente, passível de diálogo com o usuário final. Para tanto, utilizou-se do ajuntamento de várias disciplinas tais como: a Inteligência Artificial, a Educação, as Ciências do Conhecimento e a Multimídia, para possibilitar a confecção de um método que atenda a tanta diversidade e com muita qualidade. De acordo com Silva (2006), através do uso de Tutores Inteligentes, abriram- se novas perspectivas para os métodos de ensino, principalmente, aqueles totalmente a distância, possibilitando a existência de um ensino mais flexível e mais polivalente, além de ser democrático, ao mesmo tempo em que, o mesmo, requer menos assistência por parte dos administradoresdo novo conhecimento. Assim, o objetivo da existência dos Tutores Inteligentes foi o de criar um sistema que possuísse, de acordo com o mesmo autor: • Informações sobre o conhecimento atual do aluno e sua evolução; • Conhecimento do domínio que pretende ensinar; • Técnicas de transmissão do conhecimento, armazenado na sua base de conhecimento. Este sistema deve ainda ser capaz de se adaptar a uma dada sessão de ensino, em função do conhecimento didático nele contido (SILVA, 2006, p. 48). Além dos objetivos, é possível descrevermos as características inerentes a esse modelo ou técnica de ensino: ‘13 • A adaptação dinâmica ao aluno que requer um conhecimento profundo do seu comportamento numa situação de aprendizagem, principalmente na fase de resolução de problemas; • A flexibilidade destes sistemas de ensino permite vários tipos de aconselhamento, dependendo da sessão ou da fase de evolução, de modo a prestar ajuda a pedido do aluno ou de forma automática. Estes podem ser apresentados com diferentes níveis de profundidade; • Permite um ensino individualizado, de acordo com as preferências e ritmo de aprendizagem de cada aluno; • Independência relativamente ao local de ensino ou ambiente de aprendizagem e até da interface usada para comunicar com o aluno. O mesmo conhecimento pode ser representado nas mais variadas formas, dependendo do tipo de aluno; • Utilização de modelos de alunos; • A representação do conhecimento faz-se através de estruturas próprias, como são exemplo, em certos casos, as usadas nos sistemas periciais. Só depois o tutor poderá utilizar o conhecimento do domínio contido nestas estruturas; • A melhoria na qualidade do ensino e ainda na rapidez de aprendizagem, comparando com métodos de ensino tradicionais (Estudos efetuados por Carnegie-Mellon (apud ANDERSON, 1993, p. 62), apontam para uma melhoria de 43%). Como vantagens, esses modelos de sistemas permitem a utilização de diversos mecanismos na elaboração de diagnósticos ou para a disseminação de experiências de um tutor para um grande número de alunos. Têm a vantagem, ainda, dos alunos poderem compreender a sequência lógica de pensamento do tutor, além de apreender o conhecimento, visto que, é possível acompanhar o raciocínio do programa. Para tanto, deve-se levar em conta os planos e objetivos dos alunos, o seu conhecimento prévio sobre o tema do curso, bem como as concepções equivocadas que os alunos possam ter sobre questões referentes ao tema proposto ou disciplina. Neste contexto, tendo as características e perfis dos alunos, o tutor inteligente poderá, de acordo com Silva (2006, p. 78): • Evitar ensinar algo que o aluno já saiba; • Adaptar as explicações dadas ao nível de compreensão do aluno; • Usar o conhecimento do passado do aluno para melhor interpretar as suas respostas ou pedidos; • Detectar incompreensões; • Detectar a falta de informações cruciais para a compreensão do aluno. Todavia, os sistemas Tutores Inteligentes continuam sua evolução, sendo que, alguns autores os classificam de acordo com o nível de conhecimento embutido. Além de exemplos clássicos desenvolvidos no meio acadêmico, podemos incluir, também, na categoria dos Tutores, sistemas que fornecem auxílio ao usuário, ‘14 tais como tutores para linguagens de programação, para línguas, manuais online, etc. Em fim, a tecnologia computacional ligada ao desenvolvimento das TIC tem mudado o modo de fazer de quase todas as atividades, das científicas, às de negócio, às empresariais e, como não poderia deixar de ser, os conteúdos e práticas educacionais também seguiram essa linha ou tendência de mudança. Nas atividades econômicas evidencia-se o uso das TIC, objetivando melhorias significativas na produtividade, automatizando atividades rotineiras e, obviamente, aumentando os lucros. Paralelamente, pensa-se que, caso coloquemos as habilidades cognitivas dos professores nos computadores, estes tornar-se-íam professores. Ora, ledo engano, e, em hipótese alguma, essa analogia em muito simplifica a realidade, posto que, como vimos, mesmo a utilização de tutores inteligentes, não dispensa a figura do professor e sua função. Isto porque, conforme Demo (2008), o professor é a tecnologia das tecnologias e, as TIC são somente ferramentas do fazer pedagógico. ‘15 UNIDADE 3 – O USO DAS TIC E OS NOVOS PARADIGMAS EDUCACIONAIS: A INTERNET E O ENSINO SUPERIOR Conforme dissemos anteriormente, as TIC são somente ferramentas e, em sendo, a aplicação delas nos cursos presenciais, por si só, trazem em seu âmago, uma revolução nos paradigmas educacionais atuais, posto que, à medida em que, possibilitam a integração e enriquecimento de cursos, disciplinas e materiais instrucionais. Não obstante, é preciso concretizar a gestão do conhecimento e, de acordo com Freire (2006), aprender a construí-lo coletivamente. Nesse sentido e de acordo com pesquisas realizadas na Cornell University, a Internet insere novas funcionalidades na transmissão de informações aos estudantes e fornece a possibilidade de troca de informações através de grupos de discussão. A Internet está revolucionando algumas áreas de estudo através da ampliação das oportunidades de aprendizado e de formatos alternativos para a transmissão de informações. (DWYER, BARBIERI, e DOERR, 1995, p. 57). Portanto, introduzir as TIC na educação não é, simplesmente, um modismo “modernoso” (sic). Esse mito tem provocado uma mudança, somente na ferramenta e não no modelo educacional, haja vista que, o professor, ao utilizar o projetor não faz nenhuma revolução se o mesmo é utilizado para a exposição de um texto que deverá ser copiado pelos alunos. Ou seja, o projetor fazendo o papel de quadro negro. Assim, presencia-se uma subutilização do potencial destas ferramentas, que além de caras, nesse contexto de utilização, trazem pouco ou nenhum resultado benéfico para o desenvolvimento intelectual do aluno. Contudo, a concretude de um processo educativo parte da necessidade de tradução das mensagens pedagógicas. Em sendo, ao aprofundar no desenvolvimento das metodologias e tecnologias pedagógicas, torna-se mais efetivo, dentro de uma Instituição de Ensino Superior, a partir da instalação de um sistema integrado de gestão educacional, juntamente com uma política de investimento para adoção de tecnologias educacionais no sistema de ensino vigente definida por um plano de investimento. Para tanto, pesquisas e revisões de modelos pedagógicos e metodológicos devem ser realizadas temporalmente, aliadas ao desenvolvimento e aplicação de recursos de tecnologia educacional mais atuais e ‘16 menos obsoletos, aplicando, para isso, novas políticas de ensino, colaboração e de gestão do conhecimento na instituição de Ensino Superior, catalisando a comunidade docente e discente, possibilitando uma inovada experiência no processo de ensino e de aprendizagem superior. Isto porque, é quase consenso entre os educadores que pesquisaram a relação entre a cognição e o aprendizado, tais como Freire (2006) e Feuerstein (1985), quanto à importância da interação social no desenvolvimento intelectual do ser humano, que apesar de ser um ser aprendente, o faz muito mais em comunidade que só. Nesse quesito, Freire enfatizou o papel da comunidade na construção do conhecimento, através de um processo sócio-histórico. Não obstante, o ser humano possua potenciais inatos de conhecimento e cognição, as funções psicológicas superiores decorrem, em sua maior parte, de um processo de aprendizagem e desenvolvimento social. (LOPES, 2010). Conquanto, utilizaras TIC no Ensino superior é uma tarefa fácil se comparada à mudança dos processos de ensino, tarefa mais complexa e difícil de promover nos meios educacionais. Isto porque, para promover as mudanças necessárias à Educação, deve-se concentrar esforços nos sujeitos mais importantes desse processo: os professores. 3.1 - O uso das TIC e a competência no ensinar Não é novidade a existência de inúmeros cursos na modalidade EAD, por todo o Brasil e em inúmeras instituições. Conquanto, a legislação sobre a EAD traz uma definição que vai além da simples entrega de conteúdos mediada pelas TIC (LOPES, 2009). Ao analisarmos o Decreto 5.622/2005, que regulamenta a educação a distância no Brasil, vemos a caracterização dessa modalidade educacional como aquela em que a mediação didático–pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização das TIC, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares e tempos diversos. Em seu parágrafo primeiro, o decreto determina ainda que a “educação a distância organiza- se segundo metodologia, gestão e avaliação peculiares” (MEC, 2009). Não obstante, o MEC iguala os títulos de todos os modelos educacionais, seja presencial, semipresencial ou a distância. Portanto, é permitida uma enorme ‘17 variedade na organização metodológica e na avaliação de cursos na modalidade EAD. Todavia, as necessidades de planejamento e organização de atividades educacionais, mediadas pelas TIC, são totalmente diferentes. A utilização de diferentes tecnologias em cursos presenciais, requerem novas habilidades e estratégias dos docentes para a apresentação de suas aulas (SILVA, 2006). Já nos cursos oferecidos pela modalidade EAD, o aluno aprende a desenvolver competências, habilidades e hábitos de estudo, preparando-se para a vida profissional, no tempo e local que lhe são adequados (MEC, 2003). As diversas atividades são geridas por professores e tutores, mediante estudos dirigidos como chats, fóruns, aulas e palestras, via videoconferências, webcasts ou podcasts, mescladas a aulas presenciais. Há também uso de materiais didáticos elaborados e veiculados através dos diversos meios de comunicação. (LOPES, 2009). Ou seja, a presença do professor não é suprimida. Ao contrário, é fundamental nesta modalidade de ensino e seus conhecimentos podem ser aprimorados, isto porque, fora a exigência de todas as competências didáticas, o professor deve dominar as TIC e ser capaz de se comunicar, através delas, atuando mais como um facilitador da aprendizagem, orientador acadêmico e estimulador da interação coletiva, do que meramente, um desafiador de temas ou expositor de conteúdos. É necessário afirmar que, nenhuma tecnologia irá resolver os problemas da educação, pois, o aprendizado depende muito mais da forma como a tecnologia é aplicada e da metodologia de ensino do curso, do que do tipo de tecnologia utilizada. (LÉVY, 2004). Em sendo, percebemos que as formas de interação e suporte aos alunos, através da tutoria, também, são elementos essenciais e, em certos casos, determinantes para o sucesso do aluno e do curso. Para tanto, a montagem de uma equipe formada por pessoas que entendam de tecnologia e de pedagogia, com especializações nessas áreas e que trabalhem uniformemente, sem dúvida, garantirão resultados positivos e um melhor desempenho dos alunos. E para a instituição, o ganho está na minimização da evasão, a partir da tomada de tais cuidados. Todavia, a utilização da Internet como uma ferramenta em potencial, para a educação e para a sociedade do conhecimento, estimula e fomenta o ‘18 desenvolvimento de novos cursos e a modernização e atualização dos já existentes. Estas mudanças supõem grandes desafios para as instituições e para os professores, pois, esses novos paradigmas educacionais e pedagógicos, trazem consigo a necessidade de se desvelar novas posições e metodologias didáticas e pedagógicas, cujas ferramentas tecnológicas são inseridas nesse contexto, devido a pressões sociais, políticas e comerciais. Portanto, faz-se necessário a pesquisa e o estudo acerca destas ferramentas e sua utilização na educação, haja vista que, as mesmas impactam o processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, é necessário quantificar o quanto e como estas já foram assimiladas nos processos de interação dos alunos, dentro e fora do ambiente acadêmico e suas reais consequências. Na verdade, por terem sido criados dentro de um mundo tecnologicamente moderno, os alunos de hoje chegam ao Ensino Superior com altas expectativas em relação à tecnologia moderna e o uso delas, através das TIC. Isto porque, eles consideram essa tecnologia atual como possíveis veículos para a interação social, educacional e profissional, que ocorre através de MSN, celulares, smartfones, wikis, blogs, pois, grande parte deles tem seu próprio notebook e estão conectados à rede mundial de computadores (Internet ou web). Assim, torna-se imprescindível o estudo acerca do desenvolvimento do aluno no processo de aprendizagem através das TIC e, em especial, responder a questões sobre, quais os procedimentos mais adequados para o uso instrumental das TIC, com destaque para a Internet, ou seja, analisar e avaliar os valores didáticos mais relevantes a serem adotados e aplicados, os cuidados e limites que essas aplicações têm no processo de aprendizagem e sua receptividade por parte do aluno. Para tanto, capacitar os professores é fundamental, porém, não significa simplesmente promover treinamentos com relação ao uso das TIC, mas, orientar e capacitar no sentido da condução de um processo, articulado, de mudança de mentalidade perante a educação. Não é somente operar a máquina. É, antes de tudo, entender as possibilidades que ela traz para a educação. Ora, deve haver, portanto, uma mudança do currículo e dos conteúdos das disciplinas, além de uma mudança dos materiais a serem trabalhados, haja vista, a mudança nas ferramentas, posto que, as mesmas (TIC) devem ser utilizadas como recursos que auxiliem na construção de conhecimento. ‘19 Na prática, as formas de aplicação podem vir através da oferta de modelos educativos, pelas próprias instituições de ensino ou, do desenvolvimento de projetos colaborativos entre alunos e professores ou, atividades planejadas sobre determinados temas, ou ainda, modificações na aplicação dos conteúdos didáticos de uma disciplina. Na prática, os alunos podem elaborar seus trabalhos utilizando softwares de simulação, das próprias instituições ou qualquer um do pacote MS-Office, associados a recursos da web 2.0 (ex: blogs e wikis) ou até mesmo jogos com simulações, como o second life. Para buscar informações podem utilizar os diversos recursos disponíveis online, a saber: a Internet; bibliotecas virtuais; bancos de dados; listas de discussão; vídeo-aulas; teleaulas; fóruns; chats; webcast, diretamente no iPod; etc. E não estamos falando somente de cursos a distância. A utilização das TIC aplicadas a cursos presenciais possibilita o simular, praticar ou vivenciar situações fundamentais para a compreensão e construção de um conhecimento ou modelo a ser aplicado e assimilado. Para tanto, essas tecnologias educacionais a serem utilizadas em cursos presenciais ou a distância, devem ser planejadas com propósitos diversos para cada público e cada tipo ou metodologia de ensino. Posto que, ao lado das TIC, transformações socioeconômicas, políticas e culturais das últimas duas décadas, colocam em xeque a estabilidade e concretude dos currículos e das prioridades educacionais, bem como, os estilosde pedagogia e andragogia e a própria institucionalização do ensino (quem detém o poder de ensinar e validar a aprendizagem), impelindo-nos a uma nova lógica de ensino. (LITTO, 1997; KENSKI, 1998). Assim, ao utilizarem mais ou menos ferramentas tecnológicas, bem como, a disponibilização das mesmas para o aluno, em mais ou menos números, as instituições estarão obtendo, ou não, o reconhecimento público, no que tange à modernidade, transmitindo uma imagem de vanguarda e qualidade de ensino ofertado por ela. Isto posto, presenciamos uma intensa revolução, nos paradigmas educacionais atuais, que poderá levar a uma evolução na metodologia do ensino superior presencial, caracterizando-se, portanto, numa oportunidade ímpar para as instituições de ensino e os professores repensarem a prática pedagógica. ‘20 Não obstante, a proposta pedagógica que se faz neste novo ambiente de aprendizagem, objetiva a promoção da autonomia e a reflexão crítica de todos os sujeitos do processo educativo. Afinal, ensinar e aprender utilizando TIC, exige paciência e preparo de professores e alunos, posto que, os objetivos pedagógicos devem estar associados a uma lista de métodos agregados a atividades presenciais, bem como, aos possíveis métodos associados a atividades a distância. Em fim, a chave para o sucesso da instituição, dos professores e dos alunos, no uso das TIC no ensino superior, é a infraestrutura do curso no âmbito pedagógico (desenho do curso, apresentação, formas de interação e ambiente de aprendizagem e a qualidade do material didático). E além do Ensino Superior, já que aprender tornou-se uma atividade a ser prolongada por toda a vida, é preciso buscar desenvolver ambientes que permitam a criação, construção e compartilhamento de experiências entre todos os envolvidos neste processo, a fim de criar comunidades de aprendizagem que permeiem e conectem as teorias do mundo acadêmico com a prática do mundo profissional. ‘21 UNIDADE 4 - AS TIC E O FAZER DOCENTE NA MODALIDADE EAD O mundo tem tido mudanças fantásticas em todas as formas e setores da sociedade. No setor educacional, não poderia ser diferente. A atividade do trabalhador docente, frente a este fenômeno de mudança generalizada, de globalização do capital e suas estratégias de exploração econômica, política e cultural, vem sofrendo as mesmas mudanças, em todas as suas esferas. Não obstante, a esfera de maior mudança é, sem dúvida, a Educação a Distância, alavancado pelo desenvolvimento das TIC. Portanto, faz-se mister, verificar como essas tecnologias atuam sobre o processo educativo e as condições de trabalho docente nessa modalidade de ensino. O presente texto baseia-se numa pesquisa feita em instituição privada de Ensino Superior (IES) de Minas Gerais, bem como, na comparação com outras IES, de todo o território nacional. É nesse sentido que as instituições pesquisadas se encontram num campo e situação, oportunos, para a análise das novas configurações das relações entre capital e trabalho no setor educacional, particularmente no que concerne à análise dos seus efeitos para o processo de trabalho docente. Em sendo, o que há de diferente nesse processo é o fato de que as TIC são tecnologias capazes de transformar esta dimensão imaterial da força de trabalho do docente, em matéria prima, em insumo do processo de produção. Ou seja, na modalidade EAD, os softwares se apropriam da informação e do conhecimento do trabalhador docente, através de aulas gravadas, procedimentos didáticos diversos, entre outros, transformando o modo de trabalho docente. Isto porque, a mesma aula preparada por um professor, no modelo vídeo- aula, pode ser assistida por um número ilimitado de estudantes, tanto em tempo real como através de uma “biblioteca digital”, onde as aulas ficam armazenadas, para uso exclusivo dos alunos da Instituição à qual pertençam, podendo ser acessadas a qualquer momento, desde que dentro do calendário escolar estabelecido pela Instituição e dentro das especificidades de cada curso. Podem, também, dependendo da instituição, baixar do you tube, acessar no site da instituição, etc, ou seja, o trabalho do professor perde a possibilidade de quantificação e, o valor se perde, posto que, não há um número determinado de ‘22 turmas nem de alunos, para garantir o valor real e justo do trabalho docente. (SIMPRO, 2011). Com isso, eliminam-se uma infinidade de postos de trabalho, bem como, um mesmo professor ou tutor, orienta uma infinidade de alunos. De acordo com Freyssenet (1989) a eliminação desses postos de trabalho, tem a ver com o desenvolvimento da “automação sob a produção capitalista”, a qual torna possível a padronização das “normas de produção nas tarefas produtivas mediante a incorporação, e consequente substituição, das atividades complexas na e pela maquinaria”. (p. 59). Neste contexto, a utilização das TIC, na educação, levou ao limite esta questão ao agregar uma dimensão organizacional em seu maquinário, estendendo esses efeitos para as atividades de gerência, coordenação e educação. (WOLFF, 2004). Não obstante, no processo de EAD, a utilização das TIC, como meio de automação e de produção de matéria prima para a transmissão do conhecimento, apropria-se e reproduz, por meio de gravações do conteúdo através da elaboração de vídeo-aula, das funções docentes que, assim, passam a ser subordinadas ao manuseio do aparato tecnológico. Além da diminuição de mão-de-obra acima mencionada, a consequência deste tipo de automação foi uma simplificação e desvalorização do trabalho vivo e ao vivo do docente, o que nos remete à análise de Marx sobre os efeitos da aplicação capitalista da maquinaria nos processos produtivos, sejam quais foram, até mesmos da produção do conhecimento: Quando a máquina passa a manejar a ferramenta, o valor de troca da força de trabalho desaparece ao desvanecer seu valor de uso. O trabalhador é posto fora do mercado como o papel-moeda retirado da circulação. A parte da classe trabalhadora que a maquinaria transforma em população supérflua, não mais imediatamente necessária à auto-expansão do capital, segue uma das pontas de um dilema inarredável: ou sucumbe na luta desigual dos velhos ofícios e das antigas manufaturas contra a produção mecanizada, ou inunda todos os ramos industriais mais acessíveis, abarrotando o mercado de trabalho e fazendo o preço da força de trabalho cair abaixo do seu valor (MARX, 1985, p. 492-3). Assim, nas instituições de Ensino Superior, onde ocorre a implantação da metodologia da EAD, numa primeira fase, os professores especialistas são demandados para elaborar e concluir conteúdos. Já numa segunda fase, quando esses conteúdos foram selecionados e definidos como parâmetros para conceber os programas didáticos, tal demanda tende a diminuir significativamente, haja vista a ‘23 sua incorporação no sistema, reduzindo o montante de habilidades docentes requeridas. A partir de então “qualquer um” pode tutoriar, orientar e até coordenar o processo educativo. Nesse sentido, Freyssenet (1989) aponta como próprio da introdução do automatismo na produção o “fenômeno da inversão da requalificação” (p. 109). Posto que, se em um primeiro momento, exigem-se novas e específicas qualificações para lidar com as TIC, concluída esta etapa, o trabalho torna-se tão simplificado, que quase descaracteriza o fazer docente. Não obstante, ocorre um redirecionamento das capacidades específicas, exigidas para o trabalho docente, redefinido em termos de polivalência no manejo das TIC nos moldes do trabalho operário, em detrimento do trabalhoartesanal, de pesquisa e reflexão, próprio da elaboração de aulas e de todo o trabalho docente. Surge então o piloto da ferramenta em lugar do professor. Isto porque, em uma modalidade de ensino cujo alvo principal é a quantidade de alunos em detrimento da qualidade do ensino, tal padronização e simplificação das atividades docentes, representa uma estratégia de ampliação do número de alunos por professor (se é que se pode chamar este profissional de professor). Nesse sentido, padroniza-se até a correção dos trabalhos e, assim, qualquer um corrige (sic). Ou seja, a qualidade tão defendida na educação fica em terceiro ou quarto plano. Essa valoração da quantidade em detrimento da especialização é analisada por Coriat (1976) que a denomina como a chave do sistema taylorista: a expropriação do saber-fazer pela padronização dos procedimentos de trabalho. Isto, claro, em novas bases metodológicas, tendo em vista que, remete-se a uma dimensão de padronização das capacidades cognitivas do trabalho do professor. E em sendo, a redução do saber complexo exigido para docência, aos seus elementos mais simplistas, detona o que conferia autonomia sobre os procedimentos do trabalho docente, com graves consequências à sua criatividade e, até mesmo, uma falsa identificação desse fazer e da própria profissão. Em outras áreas, provavelmente, seria denominado: exercício ilegal da profissão. De resto, essa simplificação permite dispensar o trabalhador docente ou trocá-los à base de salários inferiores; o que é apresentado como um “incentivo” por um coordenador do EAD, ao afirmar que são oferecidas oportunidades a novos ‘24 profissionais ou a antigos, que serão, então, incentivados a buscarem qualificação nestas áreas. Contudo, embora o modo operatório seja imposto ao tutor eletrônico e ao professor especialista, o processo de expropriação do conhecimento não se esgota. Em sendo, Bianchetti (2001) afirma que, para os trabalhadores envolvidos nesse processo, “se não explicitam seu saberes, objetivando-os em criações, não são contratados ou são demitidos; se os explicitam, serão expropriados em seus saberes”. (p. 189). Conquanto, este é o novo quadro paradigmático da profissão docente, travestida de novas formas de organização do trabalho onde se mesclam velhos padrões e a otimização das potencialidades das TIC, relegando aos trabalhadores docentes a vil tarefa de cumprirem “funções prescritas, que são saberes tácitos objetivados em softwares” e “dar respostas singulares frente a eventos imprevistos” (BIANCHETTI, 2001, p.195). ‘25 UNIDADE 5 - O ENSINO SUPERIOR E A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA ATRAVÉS DAS TIC O desenvolvimento de diversas teorias pedagógicas que coloca o aluno no cerne da ação e da prática educativa, valorizando o processo de construção do conhecimento, pede um novo professor, um mediador da aprendizagem. Também chamada de mediação pedagógica, essa prática já vem sendo valorizada, desde o final do século XX, através dos estudos de Gutierrez e Prieto (1994). Tais autores definem como mediação pedagógica “o tratamento de conteúdos e formas de expressão dos diferentes temas, a fim de tornar possível o ato educativo” (p. 08). Ou seja, “a mediação é uma ponte entre as áreas do saber, a prática humana e os aprendizes, os interlocutores e os participantes num processo educativo” (idem). Nesse sentido, destacamos o papel do interlocutor, neste caso, o professor, como personagem principal na busca e na construção do sentido da educação. Em sendo, os mesmos autores, acima citados, têm como norte do sucesso educacional, os modelos de aprendizagem voltados para o sentido educativo e, não somente para o ensino, onde, de acordo com eles, a mediação pedagógica “procura abrir caminho para novas relações do estudante: com os materiais, com o próprio contexto, com outros textos, com seus colegas de aprendizagem, incluído o docente, consigo mesmo e com seu futuro” (GUTIERREZ e PRIETO, 1994, p.9). Assim, a mediação pedagógica demanda do professor abertura para o novo, flexibilidade, atitude reflexiva e crítica sobre sua prática pedagógica, principalmente, em tempos de TIC. Sobre este aspecto, Shön (2000) destaca a relevância da prática reflexiva na formação de educadores, com base em três ideias centrais: o conhecimento na prática, a reflexão da prática e a reflexão sobre a prática. A primeira trata do conhecimento utilizado para solução de problemas no cotidiano das organizações educacionais. Ou seja, no momento propício, o educador faz uma reflexão da ação, ou seja, concretiza a segunda ideia. Se tal reflexão se dá a posteriori, o educador reflete sobre a ação, isto é, realiza a terceira ideia. Isto posto, entende-se que a reflexão sobre a prática envolve o ato de compreender, interpretar e criar novas soluções para ações já concretizadas. A reflexão da prática representa o saber fazer; e a reflexão sobre a prática representa o saber compreender. ‘26 Não obstante, quando os ambientes de aprendizagem, mediados pelas TIC, dinamizam as relações entre professor e aluno, surgem situações propícias para o desenvolvimento de estratégias de mediação que envolvem pesquisa e dão significado à aprendizagem, no todo. Assim, a mediação pedagógica pode se valer do ciclo que envolve o fazer, o refletir, o depurar e o fazer novamente. Porém, esta não é a única abordagem acerca da mediação pedagógica. Masetto (2000) apresenta outra concepção visualizando-a como a atitude do professor no sentido de facilitar e incentivar a aprendizagem através das TIC, mesmo que longe. Assim, constrói-se uma espécie de ponte móvel entre o aluno e a aprendizagem. Nesse sentido, Masetto (2000) entende que a mediação deve orientar-se por princípios educacionais e se concretizar com apoio de constantes recriações de estratégias de ensino-aprendizagem, tendo nas TIC fortes aliadas para desenvolver suas propostas. Em sendo, para o professor do século XXI, atuar como mediador pedagógico em ambientes virtuais de aprendizagem não é uma tarefa simples, mas necessária, posto que, exige competências e habilidades que devem possibilitar: a compreensão de que o sujeito da ação educativa é o aluno e o foco a aprendizagem; a construção de uma comunidade de aprendizagem, baseada na confiança e no espírito de colaboração e apoio mútuo; a proposição de estratégias cooperativas de aprendizagem; estabelecer uma relação dialógica com os alunos, evidenciando conhecimento da área, criatividade, empatia, abertura ao novo; a oferta de um feedback, de forma ágil; o incentivo ao trabalho autônomo, o desenvolvimento da reflexão e da crítica e a resolução de problemas. Portanto, as competências exigidas são aquelas que potencializam a ação pedagógica, de modo que alunos e professores aprendam a executar novas tarefas, ressignificando as antigas, produzindo, assim, seus conhecimentos. Em sendo, podemos afirmar que as TIC promovem uma rede de comunicação na sociedade e na escola, permitindo a circulação do conhecimento e sua construção, independente do espaço e tempo, haja vista que, as TIC devem ‘27 deixar de ser apenas uma ajuda didática ou ferramenta, para se transformar em mediação cultural, estabelecendo novas relações com o conhecimento. Todavia, o uso das TIC significa um novo modo de produzir conhecimento, associado a um novo modo de comunicar, que converte a informação em conhecimento. Neste ínterim, enquanto a mediação tecnológica da comunicação deixa de ser meramente instrumental, torna-se mais densa e converte-se em mediação estrutural. Nestecontexto, a cultura muda de lugar, tornando-se muito mais proeminente na sociedade. Neste movimento se expandem as diversidades culturais e a riqueza das nações. No âmago dessa transformação surgem novas formas de aprender que não se atrelam mais à racionalidade horizontal e linear dualista, no momento em que usufruem de uma pluralidade de racionalidades que tomam como fundamentos as abstrações e os símbolos. Nesse sentido, ao apropriar-se das TIC, a educação passa a utilizar, em conjunto, os sons, as imagens, o texto escrito e o hipertexto, acabando por produzir novos modos de fazer e pensar, que ligam razão e emoção. Isto, porque, a estrutura em rede da internet, aumenta e enriquece a forma de se obter informações e construir conhecimentos, bem como, provoca o diálogo entre os navegantes desse novo mundo paralelo e virtual que, de acordo com Lévy (2004) na Internet emergiu e se faz constante, uma nova inteligência, dita coletiva, fruto de diversificadas e inesperadas relações humanas que fomentaram novas formas de pensar. Daí a questão: qual é o papel do professor nesse contexto? Na perspectiva de Amaral (2008), o processo de aprendizado individual é intencional e passa por quatro etapas: conscientização da necessidade de mudar; compreensão do que é preciso mudar; ação para a mudança; e análise dos resultados alcançados. Em sendo e, de acordo com a visão do autor, cabe ao professor, prever seus desafios e ameaças e fazer com que os aprendizes sejam flexíveis e ágeis no trato com a incerteza. Todavia, aquele papel de transmissor de conhecimentos que, por séculos, bastou ao professor, hoje, não se interliga com a disseminação do conceito de aprendizagem, sendo fruto da ação do sujeito sobre o objeto de estudo (PIAGET, 1973) e das relações sociais vividas no contexto de uma dada cultura (VYGOTSKY, 1984). ‘28 Enfim, de acordo com as abordagens, McLuhan (1964, p. 37) fecha com chave de ouro o debate, ao afirmar que, “ninguém informa ninguém; o indivíduo informa-se. [...] O processo de compreender, persuadir, ensinar não depende das habilidades do ‘agente’, mas da atividade do ‘paciente’ [...]”. Portanto, não basta, como supõem os devotos da comunicação de massa, saturar o ambiente de informação, pois, se o aluno não estiver mobilizado para recebê-la, é como se a informação não existisse. Assim, conjugando a dialética da educação com a perspectiva do que se irá ensinar e aprender, com quem ensina e aprende, a função do professor se encerra na mediação da aprendizagem, ou seja, o professor auxilia o educando a superar suas dificuldades, dado que o campo da aprendizagem nada mais é do que a combinação entre o que precisa ser aprendido e quem precisa aprender. Em sendo, a mediação pedagógica assume seu papel de instigar o aluno para aprender, articulando as condições mais adequadas para essa aprendizagem, intervindo quando necessário, e orientando nas formas de condução do pensamento reflexivo de modo a consolidar a autonomia crítica desse aluno. Assim a mediação se projeta para a formação do sujeito capaz de pensar com independência crítica, mas não obstante, com coerência e atitude assertiva. Para tanto, compete ao professor formador, como mediador da aprendizagem, fomentar o debate e a reflexão crítica, observando atentamente a participação dos alunos nas atividades e a forma como buscam a solução dos problemas propostos. Dessa maneira, torna-se mister, intervir no momento adequado, porém, tomando-se o cuidado de não interromper os processos de interação entre os alunos e a sua criação individual ou coletiva. No entanto, muitas dificuldades são percebidas e devem ser destacadas, a saber: a resistência em refletir e rever as práticas educacionais usualmente utilizadas, alicerçadas na sala de aula tradicional; a aquisição de conteúdos, em detrimento de outros saberes, relacionados ao ‘fazer’ (prática) e ao ‘ser’ (atitudes); a repetição automática dos conhecimentos (memorização), limitadora da expressão criativa e autoral; e a fragmentação do processo ensino-aprendizagem, estruturado a partir de disciplinas isoladas, que não leva em conta a interdisciplinaridade, com sérias implicações para o processo de criação. (trecho adaptado, MACHADO, 2002, p 27). ‘29 E acrescentarmos a essa resistência a forte tendência da cultura da oralidade ao contrário do desenvolvimento da escrita e, da possibilidade de materializar o pensamento e a construção de processos de autoria, o fato complica- se. Isto porque, na sociedade contemporânea, não basta saber ler, escrever e contar, é preciso ter alta competência em leitura e escrita, posto que, estar à margem do mundo digital, em especial da oportunidade de poder pensar mediada por plataformas informacionais, constitui, hoje, outra face do analfabetismo: o chamado analfabetismo funcional. Hoje, a Internet materializou-se como um novo caminho que leva à informação e à comunicação, criando, com isso, um novo paradigma educacional, posto que, ela consegue aglomerar e fundir a telefonia, a radiodifusão, os sistemas televisivos, a mídia impressa e tantas outras formas de comunicação, fazendo com que, a informação circule democraticamente, por todos os meios e por todos os lugares. Além disso, a Internet possibilita a manifestação daqueles que outrora apenas recebiam a comunicação emitida pela mídia, haja vista, as rebeliões que estão ocorrendo, em 2011, em todo o mundo árabe, alavancadas pela rede mundial de computadores. Agora, o cidadão comum também pode midiatizar o conhecimento e utilizá-lo a seu favor e a favor do seu povo e da humanidade. Contudo, ao mesmo tempo em que as TIC permitem a mediação do conhecimento, elas também aumentam as dificuldades, pois, antes de utilizá-las, é preciso sabê-lo e, para tal, exige-se muito daqueles que não nasceram com elas, como é o caso dos adolescentes. Se estamos falando de ensino superior, não podemos esquecer daqueles que não tiveram oportunidade de estudar no tempo correto e, em vista disso, estão fora desse contexto das novas tecnologias, que, nesse caso, ao invés de ajudarem, elas criam problemas a serem sanados. Portanto, não devemos pensar que as TIC são a solução para todos os problemas, posto que, como BELLONI (2001), as características essenciais das TIC, tais como, a simulação, a virtualidade, a acessibilidade à superabundância e extrema diversidade de informações e tantas outras perspectivas, são novas e demandam concepções metodológicas diferentes das tradicionais. Em sendo e de acordo com Negrotponte (2005), pensar em mediação multimidiática do conhecimento implica em se ter noção das mudanças necessárias para se passar de um meio para outro, dizendo a mesma coisa de maneiras ‘30 diversas, invocando um ou outro dos sentidos humanos. É como se a máquina dialogasse com o usuário e possibilitasse múltiplas formas de explicitação de um mesmo conteúdo, até o seu entendimento (NEGROPONTE, 2005). A passagem de um meio para outro, chamada aqui de mediação multimidiática ou midiatização, pode incluir filmes, histórias em quadrinhos, textos mais complexos, exercícios interativos, utilização da Internet, entre outras possibilidades: Dentre os recursos educacionais oferecidos pelas novas tecnologias de comunicação, a multimídia aparece como a forma mais completa de organizar as informações e combiná-las de forma não seqüencial. O sistema permite criar e manter conjuntos de textos, fotografias, filmes, animação, voz ou música, conectados em forma de rede, na qual cada nó contém um trecho de informações e cada elo entre doisnós representa um relacionamento entre a informação neles contida. O monitoramento por computador de toda essa gama de materiais é possível pelas diferentes formas de organização de documentos, representando as necessidades de distintos públicos a que se destinam. A grande vantagem em relação aos sistemas lineares de organização é a facilidade que tem o usuário de ‘folhear’ os diversos documentos e ‘navegar’ entre os elementos da rede. Usando as ligações de multimídia, podemos configurar nosso conhecimento em um conjunto coerente e conjugar idéias que melhor representem a realidade. (NOGUEIRA, 1993, p.40). Assim, parece que esse crescimento e desenvolvimento das TIC criaram o que THOMPSON (1999) chamou de uma “historicidade mediada”, posto que, o que era passado se torna dependente dos diversos formatos de mediação em crescente expansão no presente. Portanto, é possível afirmar que, a informação chega a todos e a todo momento, sem barreiras e no momento que ocorrem, porém, isso não significa conhecimento. Contudo, Thompson afirma que, dizer que a apropriação das mensagens da mídia se tornou um meio de autoformação no mundo moderno não é dizer que ele é o único meio: claramente não é. Há professores e alunos, entre pares, que continuarão a desempenhar um papel fundamental na formação pessoal e social. Os primeiros processos de socialização na família e na escola são, de muitas maneiras, decisivos para o subseqüente desenvolvimento do indivíduo e de sua autoconsciência. Mas não devemos perder de vista o fato de que, num mundo cada vez mais bombardeado por produtos das indústrias da mídia, uma nova e maior arena foi criada para o processo de autoformação. É uma arena livre das limitações espaço-temporais da interação face a face e, dado o alcance da televisão em sua expansão global, se torna cada vez mais acessível aos indivíduos em todo o mundo (THOMPSON, 1998, p.46). Concordamos com o autor, posto que, ter acesso à informação não é o mesmo que construir conhecimento, haja vista que, a comunicação e a informação ‘31 estão aí e, chegam a todos da mesma forma, porém, a construção do conhecimento depende da bagagem trazida pelo sujeito receptor, e, neste caso, não há democracia ou igualdade. Cada um é cada um. Em sendo, a teoria de THOMPSON (1998) também ressalta que ao alterar a compreensão de lugar e passado, o desenvolvimento das mídias modificou o sentido de pertencimento dos indivíduos, que passam a ser cosmopolitas – ou cidadãos do mundo. Porém é possível contestar essa afirmação do autor, haja vista que, mesmo com as possibilidades de redes e comunidades mundiais, sem barreiras geográficas ou culturais, os indivíduos se juntam em comunidades que lhe são próximas, peculiares, reconhecíveis e culturalmente próximas àquilo em que ele acredita e é. Portanto, voltamos ao mesmo passado e lugar (agora virtual) das possibilidades de análise do conceito de pertencimento. Os lugares anteriormente remotos estão agora ligados a redes globais e com o desenvolvimento das TIC, a velocidade da comunicação se torna virtualmente instantânea. O mundo se parece um lugar cada vez menor. Porém, a educação não comunga da mesma singularidade. Isto porque, o acesso a esses recursos midiáticos, pertence a poucos privilegiados e, em sendo, a educação não atinge a todos e nem permite o alcance de um grande número de pessoas e grupos ao conhecimento. Portanto, a utilização das TIC como recursos didáticos, que tiveram início com o ensino por correspondência, programas de rádio e TV, até a propagação da Internet, permitem a construção do conhecimento pela mediação multimidiática, somente para aqueles que têm acesso a elas. Nesse sentido, Moran (2003) destaca que essa construção do conhecimento pelo processo multimidiático, é mais ‘livre’, menos rígida, com conexões mais abertas, que passam pelo sensorial, pelo emocional e pela organização do racional. Uma organização provisória, que se modifica com facilidade, que cria convergências e divergências instantâneas, que precisa de processamento múltiplo instantâneo e de resposta imediata. (p. 19). Nesta mesma linha de percepção Lévy (2006) acrescenta que a Internet subverte a clássica noção da comunicação de massa em que há um emissor da mensagem e um receptor apenas e amplia as possibilidades de mediação multimidiática do conhecimento. ‘32 Ou seja, com a Internet, esse processo de conhecimento e de ensino- aprendizagem acaba fazendo parte de um sistema de trocas onde os sujeitos aprenderão entre si e produzirão uma concorrência dos diferentes pontos de vista. Prova disso são os movimentos que estão ocorrendo no Oriente Médio, já citados anteriormente. Não obstante, além do conhecimento assistemático, a escola, como local de ensino sistemático, deve adaptar-se às TIC, como ferramentas de ensino, muito além de somente ferramentas de escrita, confrontado com um desenvolvimento sem precedentes, que leva cada vez mais a um aumento de sua utilização na busca pelo conhecimento e sua construção. Nesse aspecto, Peters (2001) admite que, aqui não se trata apenas de uma inovação técnica, mas, sim, de uma série de desenvolvimentos simultâneos, que atualmente convergem e assim se potenciam: primeiro, o desenvolvimento do computador com sua possibilidade de armazenar informações e a possibilidade de chamá-las novamente à tela, num piscar de olhos, ou de oferecer programas de ensino interativos; segundo, o melhoramento da telecomunicação, que põe à disposição tecnologias mais desenvolvidas de áudio e vídeo, bem como de maior desempenho; terceiro, o desenvolvimento da tecnologia da multimídia, que revoluciona tanto a produção quanto a apresentação de seus programas polivalentes por meio do uso do computador; e, quarto, a criação de grandes, e abrangentes bancos de dados e sua ligação com redes globais de computadores de vários países. (PETERS, 2001, p.229). Considera-se então que, a utilização das TIC como mediadoras do ensino superior é um fato e, como tal, não há o que se discutir sobre a questão acerca da sua utilização ou não. Deve-se discutir o processo de comunicação entre o docente e o discente, nesta nova era paradigmática do conhecimento e da sua aquisição. 5.1 A comunicação docente em tempos de TIC A comunicação docente é fundamental, no processo de ensino aprendizagem. Porém, para começarmos essa discussão, faremos uso das percepções de Bordenave (1998) acerca do que vem a ser comunicação: um processo natural, uma arte, uma tecnologia, um sistema e uma ciência social. Em sendo, a comunicação docente é uma tecnologia, pois, o professor é tido, por Demo (2010) como “a tecnologia das tecnologias”. Nesse aspecto, entendemos que a comunicação torna-se um instrumento legitimador das estruturas ‘33 sociais, ao mesmo tempo em que se torna uma força contestadora e transformadora. Nesse sentido, o processo de comunicação pode ser instrumento de expressão pessoal ou grupal, bem como, de relacionamento pacífico entre as pessoas e grupos, não obstante, tornar-se-á um recurso de opressão psicológica e moral, quando utilizado incorretamente e para tal. Contudo, Berlo (1999) define todo esse processo de interação como algo benéfico desde que, haja o feedback que, para o autor é o que de fato vale, posto que, em sua análise, com a qual concordamos, a comunicação somente se efetiva quando há um receptor ativo e atuante, que permite a melhoria dessa comunicação e seu acontecimento de fato. Nesse aspecto, Berlo (1999) afirma que, quando duas pessoas interagem, põem-se no lugar da outra, procuram perceber o mundo comoa outra o percebe, tentam predizer como a outra responderá. A interação envolve a adoção recíproca de papéis, o emprego mútuo de capacidades empáticas. O objetivo da interação é a fusão da pessoa e do outro, a total capacidade de antecipar, de predizer e comportar- se de acordo com as necessidades conjuntas da pessoa e do outro. Podemos definir a interação como o ideal da comunicação, a meta da comunicação humana” (BERLO, 1999, p.136). Neste ínterim, concordamos com os autores (BORDENAVE, 1998 e BERLO, 1999) quanto ao processo comunicacional, e a importância do feedback, ao que acrescentamos as ideias e afirmações de Freire (2006), que utiliza a expressão comunicar-se como sendo o “entendimento de uma filosofia educacional voltada para a comunicação entre as pessoas envolvidas no processo educacional e inspirada nas experiências culturais”. (p. 65). Porém, diferente do pensamento freireano, para Niskier (2000, p.388), o “processo de ensino e aprendizagem, independente da modalidade adotada, envolve três aspectos fundamentais” e dois deles intimamente ligados com o processo comunicacional, a saber: 1. as concepções teóricas do docente e a relação com a sua prática; 2. as relações interpessoais que surgem na aula (presencial ou a distância); 3. a transmissão (ou midiatização) dos conteúdos culturais e a relação com a metodologia educativa. (Idem). Portanto, ao tratarmos do processo comunicacional docente entendemos que a atuação do profissional da educação transcende ao fato primeiro da realização ‘34 de ações que permitam prever, ordenar, dirigir, coordenar e controlar todos os processos e produtos relacionados, indo além, através da abordagem sistemática de todas as questões que emergem dessa postura e para tanto, lançando mão da comunicação. Isto posto, podemos afirmar que a educação continua sendo um processo complexo que utiliza meios de comunicação para complementar ou apoiar a ação do docente em sua interação com os estudantes. Na educação presencial, o quadro negro, o giz, o livro, o projetor, são instrumentos pedagógicos que fazem a ponte entre o conhecimento e o aluno. No ensino a distância, a interação se faz, mediada pelas TIC e a combinação de suas mais diversas possibilidades. Em vista disso, é essencial discutirmos a questão das redefinições paradigmáticas, no processo educacional, haja vista que, os profissionais da educação deverão aprender, urgentemente, a utilizar as TIC como ferramentas pedagógicas, posto que, o professor precisará aprender a midiatizar o conhecimento e trabalhar em conjunto com uma equipe multidisciplinar. Ou seja, “a atuação do docente tenderá a passar do processo comunicacional baseado no monólogo da sala de aula para o diálogo interativo” do laboratório de informática, sala de bate-papo virtual, fórum virtual, email, telefone e outras mídias e multimídias. (PRIMO, 2005). Para que o professor consiga atingir esses e outros objetivos, precisará repensar, continuamente, seu processo de ensino para a otimização dos momentos de troca dialogal com o estudante. Afinal, conforme Moran (2000), ao se participar de processos de comunicação dialogais, aprende-se não somente os fatos, mas as suas relações com o todo: Se nos movemos num sistema fechado, procuraremos o controle, a segurança, a repetição, o passado, enquanto no sistema aberto buscaremos mais o que poderemos ser, procuraremos novas informações, novas formas de expressar-nos, de sentir e de agir. Participar de processos abertos de comunicação ajuda a flexibilizar o nosso pensamento, a buscar novos caminhos, a buscar novas opções, a melhorar a nossa auto-estima, a desenvolver a fluência, a desenvolver o conhecimento sinérgico, a busca do conhecimento integral, da integração cérebro-mente-corpo. (MORAN, 2000, p.153). Portanto e em fim, não se está falando em substituição do professor, mas sim, em repensar a sua prática e a sua postura com relação às metodologias de ‘35 ensino utilizadas, até então, em concomitância com as novas exigências do mercado educativo mundial. Nesse sentido, a comunicação docente que era voltada, exclusivamente, para a oratória do professor, tido como o repassador de informações, em via de mão única, passa a ser realizada de uma forma guiada por uma via de mão dupla, onde o diálogo interativo entre as partes ocorre o tempo todo, que pode inclusive ser mediado multimidiaticamente, onde o professor é o agente organizador, dinamizador orientador da construção do conhecimento através do auxílio crítico e criativo na seleção das inúmeras informações às quais o aluno é submetido cotidianamente. (ALVES e NOVA, 2003). Podemos então afirmar que, o papel do professor é outro, em tempos de TIC. O paradigma educacional e comunicacional mudou. Portanto, exige-se uma redefinição do papel do professor para a função de mediador no ensino e auxílio aos alunos para a busca e exploração dos dados existentes nas mídias e multimídias. Isto porque, nestes novos tempos, o distanciamento entre docentes e discentes findou-se, tornando a educação ainda mais democrática e participativa, possibilitando, de fato a construção do conhecimento. 5.2 - Gerações de EAD: mídias e multimídias na mediação do conhecimento na concepção de Hack (2004) De acordo com Hack (2004) em sua tese de doutoramento, atualmente, existe uma vasta possibilidade de utilização das TIC na EAD. São as múltiplas mídias à disposição dos interlocutores no processo de ensino e aprendizagem. Assim, a EAD tem liberado as pessoas da frequência cotidiana a uma sala de aula, pois a educação tem chegado aonde o aluno quiser estudar e quando lhe for mais conveniente. Entretanto, para a execução de uma EAD com qualidade, RUMBLE (2000, p.50-51) afirma que as pesquisas demonstram a importância do feedback rápido para os alunos, aspecto já destacado anteriormente como primordial no processo comunicacional docente nos cursos a distância. Para o autor, a pressão para se adotar TIC na EAD surge, então, de três fatores gregários intimamente ligados à comunicação necessária entre os interlocutores: 1. proporcionar o diálogo interativo instantâneo; 2. criar oportunidades para o diálogo e a interatividade; 3. incrementar a velocidade de troca das mensagens. ‘36 Rumble (2000, p.46-49) enuncia que o desenvolvimento tecnológico da EAD passou basicamente por quatro fases ou gerações, descritas na sequência: 1ª Geração de EAD – baseada no meio texto, impresso ou escrito à mão. Distingue- se principalmente pelo termo “educação por correspondência”. A 1ª Geração de EAD dispunha de uma indústria gráfica relativamente barata, mas apenas pôde se desenvolver após o barateamento dos serviços postais, principalmente a partir de 1840, momento em que o transporte ferroviário trouxe confiabilidade e agilidade ao correio. A utilização do transporte rodoviário e aéreo foi um incremento do século XX à 1ª Geração de EAD, que em alguns países foi impulsionada para além dos limites da nação. Atualmente os avanços continuam com a revolução causada pela informatização da indústria gráfica e o aumento de tecnologias de impressão nas residências dos usuários, que pode inclusive servir de estímulo a uma futura substituição de determinados serviços pela impressão eletrônica particular. 2ª Geração de EAD – baseada nos meios televisão e rádio. As leituras ao vivo na sala de aula onde se encontrava o professor eram captadas e transmitidas, por meio da televisão ou do rádio, a grupos de alunos em uma sala de aula distante. Em alguns casos existiam linhas telefônicas à disposição do aluno para se comunicar
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