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Caderno penal II - Gamil

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DIREITO PENAL II 
Gamil 
 
Por Mariana Sampaio 
 
ÍNDICE 
 
1- Teoria do Delito (Aula -1) ................................................................................................... 2 
2- Tipicidade (Aulas 01 a 07) ................................................................................................... 8 
3- Ilicitude (Aulas 07 a 09) .................................................................................................... 39 
4- Culpabilidade (Aulas 10 a 12) ........................................................................................... 55 
5- Tratamento jurídico-penal do erro (Aulas 12 a 14) .......................................................... 70 
6- Iter criminis (Aulas 14 a 16) .............................................................................................. 80 
7- Concurso de pessoas (Aulas16 a 18) ................................................................................ 93 
8- Aplicação da pena (Aulas 18 a 21) .................................................................................. 107 
9- Concurso de crimes (Aulas 21 e 22) ............................................................................... 123 
10- Extinção de punibilidade (Aulas 22 a 24) ...................................................................... 129 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
2 
 
17/05/13 
Aula 01 
 
TEORIA DO DELITO 
 
Cezar Roberto Bitencourt: Evolução da teoria geral do delito 
1- Considerações preliminares 
A dogmática jurídico-penal é a disciplina que se ocupa da sistematização do conjunto de 
valorações e princípios que orientam a própria aplicação e interpretação das normas 
penais. O conhecimento dos temas abrangidos pela teoria geral do delito é 
extraordinariamente importante, pois somente através do entendimento dos elementos 
que determinam a relevância penal de uma conduta, e das regras que estabelecem quem, 
quando e como deve ser punido, estaremos em condições de exercitar a prática do D. 
penal. A teoria geral do delito não foi concebida como uma construção dogmática acabada, 
pelo contrário, é fruto de um longo processo de elaboração que acompanha a evolução 
epistemologia do direito penal e apresenta-se, ainda hoje, em desenvolvimento. 
2- O modelo positivista do século XIX 
O conceito clássico de delito foi produto de um pensamento característico dessa época que 
valorizava apenas o positivismo científico, desconsiderando assim, as contribuições da 
psicologia, filosofia e sociologia. Assim, a ação, concebida de forma naturalística – apenas – 
estruturava-se com um tipo ojetivo-descritivo (problemas com a omissão, a tentativa e os 
crimes culposos), a ilicitude era puramente objetivo-normaiva e a culpabilidade 
apresentava-se subjetivo-descritiva. Então o conceito clássico delito era o movimento 
corporal que produz uma modificação no mundo exterior. Então o aspecto objetivo era a 
tipicidade e a ilicitude a o subjetivo era a culpabilidade. O que ligava a ação ao resultado 
era o nexo de causalidade. A maior crítica que se faz ao positivismo é a sua incapacidade de 
considerar invalida uma lei formalmente produzida, mas materialmente incompatível com 
o ordenamento vigente. 
3- O modelo neokantista 
Ofereceu uma fundamentação metodológica que permitiu uma melhor compreensão dos 
institutos jurídico-penais como conceitos valorativos, sem por isso renunciar à pretensão de 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
3 
 
cientificidade. Denominou-se de conceito neoclássico, por ser uma reinterpretação do 
conceito clássico. Correspondia a influencia neokantiana que priorizava o normativo 
axiológico. Agora, o conceito de delito era voltado aos fins pretendidos pelo direito penal e 
pelas perspectivas valorativas que o embasam. À tipicidade foi reconhecida elementos 
subjetivos, à antijuridicidade foi concebido um aspecto material – exigindo uma 
determinada danosidade social. Esse novo entendimento permitiu graduar o injusto de 
acordo com o dano, então, onde não há dano, lesão de interesse algum, não há ilicitude. A 
culpabilidade também passou por transformações, recebendo a “reprovabilidade”, pela 
formação da vontade contrária ao dever. 
4- O ontologismo do finalismo de Welzel 
Sustenta a formulação de um conceito pré-jurídico de pressupostos materiais, dentre os 
quais a conduta humana, precedentes a qualquer valoração jurídica. A significação 
valorativa dos fatos é o ponto de partida de Welzel que diz que o caráter valorativo de um 
fato não está no fato em si, mas naquilo que lhe é atribuído pelos homens. A ação, aqui, é 
um acontecer final e não causal, a finalidade baseia-se e que o homem pode prever, dentro 
de certos limites, as consequências possíveis de seus atos. Retirou também todos os 
elementos subjetivos da culpabilidade, nascendo uma concepção puramente normativa. O 
finalismo deslocou o dolo e a culpa para o injusto, ou seja, levou a finalidade para seu 
centro (resolvendo o problema dos crimes omissivos, culposos e da tentativa). Concentrou 
na culpabilidade as circunstâncias de reprovabilidade. 
5- Pós-finalismo: os modelos funcionalistas 
Tendeu a normativizar os conceitos, ou seja, elaborar os conceitos com base em juízos de 
valor. O normativismo teleológico de Roxin preocupa-se com os fins do direito penal – 
norteia-se por finalidades político-criminais, priorizando valores e princípios garantistas. O 
normativismo sistêmico de Jakobs se satisfaz com os fins da pena – leva em consideração 
somente as necessidades sistêmicas e o direito penal é que deve se ajustar a elas. 
 
AULA 
1- Introdução 
Uma infração penal pode ser conceituada de três formas: 
• Conceito formal de crime: é o que a lei define como tal, se confunde com sua 
definição legal. 
• Conceito material: é o comportamento lesivo a bens jurídicos. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
4 
 
OBS: a dimensão material das infrações penais ganhou corpo com Claus Roxin em 1972. 
A partir daí crime deixou de ser analisado simplesmente pelo seu aspecto formal, por 
que ele defende que em certos casos a lesão é tão ínfima, tão insignificante que mesmo 
a pena mínima é desproporcional à lesão. Nessas hipóteses, a absolvição se impõe. 
OBS2: O conceito formal de crime atende à exigência da legalidade penal, o conceito 
material atende à exigência da ofensividade. 
• Conceito analítico: crime é definido pelos elementos que o compõem. No Brasil, 
desde 84, prevalece o entendimento de que o crime é composto por três elementos: 
- Tipicidade: Para a maioria da doutrina brasileira é a adequação de um fato a uma 
norma. 
- Ilicitude: Ou antijuridicidade ou injuricidade. É um juízo de valor que recai sobre um 
fato típico a fim de examinar se este fato está ou não autorizado pelo direito. 
OBS: A análise de um comportamento no direito penal não pode ser feita somente pela 
observação do resultado exterior. A análise do comportamento leva em consideração o 
resultado e principalmente o elemento vontade. 
- Culpabilidade: É um juízo de valor sobre o autor do fato a fim de analisar se ele é ou 
não merecedor de pena criminal. 
O principal defensor disso no Brasil foi Francisco de Assis Toledo. Que foi presidente do 
STJ responsável pela estrutura da parte geral do código. 
OBS: Uma parte da doutrina brasileira liderada por Rene Ariel Doti, Celso Demanto e 
Damasio Evangelista de Jesus que defende que o crime só tem dois elementos: 
tipicidade e ilicitude. 
OBS2: Já existe no Brasil corrente doutrinária sustentando que o crime é composto por 
um único elemento qual seja tipicidade. É a opinião do professor Paulo Queiroz 
OBS3: César Roberto Bittencourtdefende que o crime tem quatro elementos: Conduta, 
tipicidade, ilicitude e culpabilidade. Ele tira a conduta que está dentro da tipicidade e da 
autonomia a ela, isto por que ele diz que ha certas excludentes de responsabilidade que 
são próprias, que são inerentes à conduta. 
Modernamente o crime pode ser definido como um injusto penal. Injusto é marcado 
por dois elementos: uma conduta típica e ilícita (tipicidade e ilicitude). Menores e 
loucos praticam atos típicos e ilícitos, porém não praticam atos culpáveis. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
5 
 
Há ainda os que definem crime como fato punível. Como tal, o crime tem cinco 
elementos: conduta, tipicidade, ilicitude, culpabilidade e punibilidade. 
- Punibilidade: É a possibilidade de aplicação de uma sanção. E está possibilidade não 
pode ser eterna. Há fatos que afastam a punibilidade, a maioria deles (não todos) está 
submetida ao percurso do tempo. 
OBS: O professor Luis Flávio Gomes inaugura uma divergência sustentando que fato 
punível só tem quatro elementos. Ele tira a culpabilidade como elemento de fato 
punível. O faz por que a fatos que são puníveis praticados por pessoas não culpáveis. 
Exemplo: menor pratica fato punível, embora não pratique crime. 
IMPORTANTE! Dogmática penal tem função de garantia. É a dogmática que estabelece 
os elementos que um fato precisa preencher para que possa ser punido. 
O Brasil é adepto do sistema bipartido de classificação das infrações penais. Existem 
crimes, que são sinônimos de delito, e existem as contravenções penais. A diferença 
está prevista no art. 1º da Lei de Introdução do Código Penal. Essa diferença é que os 
crimes são punidos com pena de reclusão ou detenção; já as contravenções penais são 
punidas com pena de prisão simples. 
OBS: O anteprojeto de reforma do CP, que está no Senado, propõe a revogação de 
quase todas as contravenções (ficarão só duas que serão tratadas como crime) e não 
haverá mais contravenções no Brasil. A diferença de crime para contravenção é de 
valor, as condutas mais graves são tratadas como criminosas, as não tão graves assim 
como contravenosas. 
OBS2: O art. 28 da lei 11343/06 ainda é tratado pelo Supremo como crime. O sujeito 
que é preso, portanto, substância entorpecente para consumo pessoal não é mais 
preso. 
 
Juarez Cirino dos Santos: Fato punível 
A teoria do fato punível é o segmento principal da dogmática penal. A dogmática penal 
é a sistematização de conceitos extraídos de um programa de política criminal 
formalizado em lei, e todo programa legislado de política criminal depende de uma 
dogmática específica para racionalizar e disciplinar sua aplicação. 
Definição de fato punível: a) real: explica a gênese d criminalidade, importante para 
delimitar o objeto da Criminologia, divide-se em duas: 1) o modelo etiológico – 
criminalidade como realidade ontológica; 2) o modelo político – criminalidade como 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
6 
 
criminalização; b) material: fato punível como lesão do bem jurídico; c) formal: fato 
punível como violação da norma legal; d) operacional: fato punível como conceito 
analítico. 
O crime é analisado de formas diferentes a depender de onde se esteja: de forma 
bipartida ou tripartida. 
- Modelo bipartido de crime: concebe o tipo de injusto como uma unidade conceitual 
formada pelo tipo legal e pela antijuricidade. O tipo legal é a descrição da lesão do bem 
jurídico e a antijuricidade é um juízo de valoração do comportamento descrito no tipo 
legal. Portando para o modelo bipartido, o crime seria dividido em tipicidade e 
culpabilidade. 
- Modelo tripartido de crime: Considera que a tipicidade e a culpabilidade/ 
antijuricidade como sendo coisas distintas; apesar de reconhecer o tipo de injusto. Teria 
então três elementos: tipicidade, culpabilidade e ilicitude. Diferencia da seguinte forma 
a tipicidade (1) da culpabilidade (2). 1- descreve ações proibidas sob ameaça de pena e, 
portanto representa realização técnica do princípio da legalidade; 2- permite preceitos 
permissivos que excluem a contradição da ação típica com o ordenamento jurídico. 
Existem três modelos sucessivos de fato punível: 
1- Clássico: ação é o movimento corporal causador de um resultado no mundo exterior. 
Tipicidade é a descrição objetiva do acontecimento. Culpabilidade é um conceito 
psicológico, sob as formas do dolo e da culpa, que concentra todos os elementos 
subjetivos do fato punível. 
2- Neoclássico: ação é comportamento humano voluntário. A tipicidade admite 
elementos normativos e subjetivos (intenção). A ilicitude seria a danosidade social, 
admitindo graduação do injusto conforme a gravidade do interesse lesionado. A 
culpabilidade psicológica incorpora o significado normativo. 
3- Finalista: ação é o conceito central de fato punível e estrutura final da ação humana. 
Por ser ação final, introduziu aí o dolo e outros elementos subjetivos; manteve a 
consciência do injusto como elemento central da culpabilidade; instituiu a disciplina 
do erro de tipo e erro de direito, entre outros. 
- O modelo adotado define que há o tipo de injusto e a culpabilidade. No qual o primeiro é 
compreendido pela ação, tipicidade (objetiva e subjetiva) e a antijuridicidade (subjetiva e 
objetiva). E o segundo como sendo juízo de reprovação pela realização do tipo injusto não 
justificado, compreendido pela imputabilidade, consciência da ilicitude e exigibilidade de 
comportamento diverso. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
7 
 
Cezar Roberto Bitencourt: Conceito de crime 
1- Antecedentes da moderna teoria do delito 
Para Bitencourt o delito é quadripartido: ação, típica, antijurídica e culpável, mas aceita que 
pode ser tripartida, considerando-se apenas os predicados da ação. 
WELZEL: A dogmática do direito penal tentou compreender, primeiro, o conceito do injusto, 
partindo da distinção: objetivo-substantivo. Ao injusto deviam pertencer, exclusivamente, 
os caracteres externos objetivos da ação, enquanto que os elementos anímicos subjetivos 
deviam constituir a culpabilidade. 
2- O conceito clássico de delito 
Teoria de Von Liszt e Beling. Esse conceito era representado por um movimento corporal, 
produzindo uma modificação no mundo exterior. Conceito de ação naturalístico, que 
vinculava a conduta ao resultado pelo nexo de causalidade. Nesse conceito, a tipicidade e a 
ilicitude eram conceitos objetivos e a culpabilidade, subjetivo. Foi produto do positivismo 
que afastava as contribuições da psicologia, filosofia e sociologia. Dessa forma, a ação era 
um conceito puramente descritivo, naturalista e causal, valorativamente neutro, não se 
preocupando com o conteúdo da vontade (problemas com os crimes culposos, omissivos e 
com a tentativa); a ação seria uma inervação muscular advinda de impulsos elétricos 
cerebrais, que conforme as leis da natureza, provocariam transformações no mundo. A 
tipicidade representava o caráter externo da ação, compreendendo apenas o aspecto 
objetivo do fato descrito na lei; todos os elementos subjetivos pertenceriam à 
culpabilidade; é considerada um indício de ilicitude, visto que toda ação típica deve ser 
ilícita, a não ser que exista uma causa de justificação. A ilicitude por sua vez, é um elemento 
objetivo, valorativo e formal que implica um juízo de desvalor, ou seja, uma valoração 
negativa da ação; mas essa valoração só recai sobre o aspecto objetivo, sendo assim, um 
juízo valorativo puramente formal. A culpabilidade era o aspecto subjetivo do crime, mas 
continha um caráter puramente descritivo, pois se limitava a comprovar que existia um 
vínculo entre o autor e o fato, essa diversidade é que faria existir o dolo e a culpa. 
3- O conceitoneoclássico de delito 
Chama de NEO por ter transformado o conceito clássico sem abandonar completamente 
seus princípios fundamentais. Corresponde à influência da filosofia neokantiana, com suas 
ideias e normativismo e axiologia. Tendo um conceito de delito voltado para os fins 
pretendidos pelo direito e por suas teorias. A tipicidade passa a encerrar um conteúdo de 
valor e reconhece os elementos subjetivos do tipo, por conta da descoberta dos elementos 
normativos. A ilicitude passou a ser concebida sob um aspecto material, exigindo a 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
8 
 
danosidade social, dessa forma, onde não houver lesão de interesse, não há ilicitude; essa 
teoria da ilicitude material permitiu o desenvolvimento de novas causas de justificação. A 
culpabilidade recebe a reprovabilidade pela formação da vontade contrária ao dever. 
4- O conceito de delito no finalismo 
Welzel procurou conduzir a ação humana ao conceito central da teoria do delito. A teoria 
final da ação tem o mérito de eliminar a injustificável separação dos aspectos objetivos e 
subjetivos da ação e do próprio injusto, transformando, assim, o injusto naturalístico em 
injusto pessoal. O finalismo deslocou o dolo e a culpa para a tipicidade, retirando-os de sua 
tradicional localização: a culpabilidade, levando dessa forma a FINALIDADE para o centro do 
injusto. A culpabilidade ficou com a reprovabilidade. As principais consequências que o 
finalismo trouxe foram: distinção entre dolo e culpa, criação de uma culpabilidade 
puramente normativa e dolo e culpa como elementos do injusto. 
5- Conceito analítico de crime 
Além do conceito formal – toda ação ou omissão proibida por lei, sob ameaça de pena –; e 
do conceito material – crime é a ação ou omissão que contraria os valores ou interesses do 
corpo social, exigindo sua proibição com ameaça de pena –; há também o conceito analítico 
de crime. Esse conceito seria composto por uma força física e uma força moral. Na primeira 
estaria a ação executora do dano material do delito, e na segunda, a culpabilidade e o dano 
moral da infração penal. 
6- Classificação das infrações penais 
São classificadas tripartidamente ou bipartidamente. A divisão tripartida classifica as 
infrações em crime, delito e contravenções. A adotada pelo Brasil é a divisão bipartida, que 
classifica em crimes ou delitos (sinônimos) e contravenções. 
 
AULA 
TIPICIDADE – 1º ELEMENTO DO CRIME 
IMPORTANTE! Tipicidade é a materialização da legalidade e da ofensividade. É a 
ferramenta pela qual elas se materializam. 
A tendência da tipicidade penal é de incorporar cada vez mais juízo de valor, novos 
elementos. Elementos estes que para alguns autores estavam na ilicitude, para outros 
estavam na culpabilidade. Isso por que a função de garantia da dogmática é mais 
facilmente cumprida quando se traz mais carga de valor para a tipicidade. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
9 
 
O juízo de tipicidade é objetivo e subjetivo. Tipicidade objetiva é saber o que cada 
palavra de um crime significa. Ex. objetos de furto, como uma estátua chumbada no 
chão; domicílio para o D. penal é o que o D. civil chama de residência. Tipicidade 
subjetiva é a análise do elemento vontade. 
A tipicidade pode ser direta, também chamada de tipicidade imediata; ou indireta, 
também chamada de mediata. A direta é quando a adequação típica é feita somente 
com base em um crime em espécie – quando está em um artigo da parte especial. A 
tipicidade será indireta quando ela for resultante da fusão de um crime em espécie com 
uma regra constante da parte geral do código, o que ocorre, por exemplo, com a 
tentativa. Também existe tipicidade indireta nas regras atinentes ao concurso de 
pessoas. 
A tipicidade é composta por quatro elementos: 
- Conduta: a conduta que interessa ao d. penal é a humana, que deve ser livre e 
consciente. Se a conduta não foi livre nem consciente, o ato é atípico. Os estados de 
inconsciência, os atos reflexos e a coação física irresistível excluem a conduta e por isso 
afastam a responsabilidade penal. Dentro da conduta volta a ser discutida a questão da 
responsabilidade da pessoa jurídica. 
- Resultado 
- Tipo 
- Nexo de causalidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
10 
 
18/05/13 
Aula 02 
 
TIPICIDADE 
 
- Evolução histórica das teorias da conduta 
A 1ª teoria que explicou a conduta humana ficou conhecida como causalismo, em 1906, 
proposto por Liszt, Beling, Rodbruch. Causalismo ainda foi influenciado pelo positivismo 
científico e o causalista buscava explicar a conduta de forma que ela pudesse ser 
comprovada em laboratório, daí por que ele não prestigia o elemento subjetivo da conduta. 
O causalista dizia que a conduta era o resultado de uma enervação muscular. São chamados 
de causalistas por valorizarem a causalidade, a relação de causa e efeito. Os causalistas 
tiveram um mérito, pois foi a partir deles que se passou a ter uma preocupação com a 
explicação da conduta. Mas existem diversas críticas que pode ser feitas a eles: 1) O 
causalista não explica adequadamente a diferença entre dolo e culpa; 2) O causalista não 
consegue explicar o fenômeno da tentativa; 3) O causalista não tem como explicar a 
existência de crimes omissivos; 4) O causalistas também não tem como explicar a existência 
de crime em que existe o chamado dolo específico. 
[Dolo específico é quando o crime exige que a vontade tenha um objetivo específico.]. 
5) Não explica tipos penais onde existem elementos normativos. 
A 2ª teoria é o finalismo, de 1932, fundamentada por Welzel. A conduta passa a ser 
encarada como um querer agir livre e consciente voltado a um fim. O finalismo teve o 
mérito de considerar o elemento vontade. Críticas: 1) O finalismo não conseguiu explicar o 
crime culposo, pois nesse tipo de crime não existe um querer agir livre e consciente voltado 
a um fim, pois se houvesse o crime seria doloso, essa é a primeira crítica ao finalismo; 2) O 
finalismo continua explicando a conduta de maneira formal. 
Em 1936 surgiu a chamada de Teoria Social da Ação, que é um complemento do finalismo, 
ou seja, não tem autonomia. O autor foi Eb. Schimidt. Ele diz que a análise meramente 
formal da conduta está errada, que é preciso analisar a conduta valoradamente. Ele começa 
a dizer que condutas socialmente adequadas não podem ser criminosas. Condutas 
socialmente adequadas são certos comportamentos que são previstos em lei como crime, 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
11 
 
mas que, diante de uma determinada circunstância, de um determinado contexto, a 
sociedade deixa de enxergar o comportamento como reprovável. Isso não tem nada a ver 
com perda de efetividade de normas penais. Quando uma norma penal perde eficácia não 
significa que a conduta passa a ser socialmente adequada. 
Em 1940 Welzel reformula o finalismo passando a incorporar o princípio da adequação 
social. E em relação ao crime culposo ele afirma que a conduta em si é lícita, a finalidade é 
lícita, mas a má escolha, a eleição errada dos meios faz com que a conduta se torne ilícita. A 
maioria dos autores no Brasil ainda é finalista, o CP, em sua parte geral é finalista, mas na 
parte de contravenções é causalista. 
Em 1980 surgem Funcionalismos no qual houve uma ruptura no que diz respeito o fato de 
que até antes disso analisava-se a conduta pela conduta, e a partir daí a conduta passa a ser 
analisada pela função que será atribuída a uma eventual pena para aquele comportamento. 
Chama-se Funcionalismo por que a pena vai funcionar para alguma coisa. Ao D. penal 
podem ser atribuídas diversas funções, por isso o nome Funcionalismosno plural. Existem 
duas correntes dos Funcionalismos: 1) Teleológico racional (Roxin): para ele o D. penal 
serve para proteger bens jurídicos, então a conduta para Roxin é uma conduta que ofende 
bem jurídico. Essa proteção aos bens jurídicos é subsidiária; 2) Sistêmico (Jacobs): para ele 
o D. penal não serve para proteger bens jurídicos, pois ao invés de limitar a atuação do D. 
penal, vai expandir. O bem jurídico, diz ele, é uma desculpa metodológica para justificar o 
aparecimento de novos crimes. Ele afirma que o D. penal serve para assegurar a 
expectativa de vigência de uma norma. 
De nada adianta dizer que o D. penal serve para a proteção dos bens jurídicos se a criação 
dos bens jurídicos for arbitrária. Um tipo penal deve obedecer aos princípios constitucionais 
para que possa ser aceito como tipo penal. Por isso que o D. penal serve sim para a 
proteção dos bens jurídicos e isso tem o objetivo de limitar o D. penal. 
Desde a década de 80 fala-se no mundo de uma Teoria Constitucionalista do Delito. Ela 
significa analisar o D. Penal, inclusive a conduta, a partir da CF. 
 
Juarez Cirino dos Santos: Teorias da ação 
1- Modelo causal de ação 
Define ação como modificação causal do mundo exterior por um comportamento humano 
voluntário – mutilada da vontade consciente – que determina o resultado como uma forma 
sem conteúdo. Desenvolvido pelos mesmos elaboradores do sistema clássico de fato 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
12 
 
punível. A voluntariedade da ação, para esse modelo é apenas para excluir a coação física 
absoluta. 
2- Modelo final de ação 
Define ação como realização de atividade final. Surge como crítica ao modelo causal: o 
saber causal, adquirido pela experiência e preservado como ciência, permite prever as 
consequências possíveis da ação, propor diferentes fins e dirigir a atividade para a 
realização do fim. Esse modelo de ação parte da distinção entre fato natural e ação 
humana: o fato natural é fenômeno determinado pela causalidade, um produto mecânico 
de relações causais cegas; a ação humana é acontecimento dirigido pela vontade 
consciente do fim. A finalidade dirige a causalidade para configurar o futuro conforme o 
plano do autor. Na teoria final da ação a vontade consciente do fim é a espinha dorsal da 
ação. Compreende: a) a proposição do fim – como conteúdo principal da vontade 
consciente; b) a seleção dos meios de ação para realizar o fim – determinados 
regressivamente pela natureza do fim proposto; compreende também secundariamente: c) 
a representação dos efeitos colaterais – necessários ou possíveis. Sendo assim, a teoria final 
da ação reconhece: dolo direto de 1º grau, dolo direto de 2º grau, dolo eventual, culpa 
consciente e culpa inconsciente. A estrutura final da ação humana seria constitutiva para o 
direito penal, cujas proibições ou mandados não se dirigem a processos causais cegos, mas 
à vontade humana capaz de configurar o futuro. Embora reconheça a culpa, sua explicação 
não é consistente: ação culposa é definível como execução defeituosa de ação permitida: o 
defeito da ação reside no modo concreto de sua realização, lesivo do dever de cuidado ou 
do risco permitido em ações socialmente perigosas, porque o autor confia na evitação de 
consequências sociais indesejáveis, ou simplesmente não pensa nelas. A teoria final 
também não explica a omissão. Então, a teoria final da ação permite compreender as ações 
dolosas como execução de ações proibidas, as ações culposas como execução defeituosa de 
ação permitida e a omissão da ação como inexecução de ação mandada, dolosa ou culposa. 
3- Modelo social da ação 
Uma espécie de tentativa de conciliação dos modelos causal e final, define ação como 
comportamento humano socialmente relevante. O modelo social da ação é uma moldura 
preenchível, às vezes, pelo conceito causal de ação, como causação de resultados 
socialmente relevantes e, às vezes, pelo conceito final de ação, como fator formador de 
sentido da realidade social, ambos incluídos no conceito social de ação. O atributo 
relevância social designa uma propriedade necessária para valorar o injusto, porque 
existem ações socialmente relevantes e aços socialmente não relevantes – ou seja, a 
relevância social é uma propriedade que a ação pode ter ou pode não ter e, ausente essa 
propriedade, não desaparece a ação, mas somente sua significação social. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
13 
 
Existem hipóteses que não atingem o status de ação: a) acontecimentos da natureza; b) 
ataques de animais ferozes – que podem ser utilizados como instrumento; c) atos de 
pessoas jurídicas; d) pensamentos, atitudes e emoções como atos psíquicos sem 
objetivação; e) movimento do corpo como massa mecânica sem controle – estados de 
inconsciência como desmaios e ataques epilépticos. 
Há hipóteses, porém que geram contraversões: a) movimentos reflexos – pela teoria da 
personalidade da ação, há ação, pela teoria final não há ação; b) ações automatizadas ou de 
curto circuito; c) reações instintivas de afeto; d) ações sob hipnose. 
 
AULA 
- Tipicidade subjetiva: análise do dolo 
No Brasil o dolo é composto por dois elementos: 1) Consciência: se o sujeito sabe o que faz; 
2) Vontade. Falta-se dolo, falta tipicidade dolosa. 
O dolo pode ser: 1) Direto: é regido pela teoria da vontade. É quando o sujeito quer, ele 
persegue o resultado. Pode ser de 1º ou de 2º grau (necessário). Dolo de 2º grau ocorre 
quando um sujeito, para provocar um resultado necessariamente precisará causar outros 
tantos, ou seja, não é uma mera probabilidade, ele sabe que os outros resultados serão 
produzidos; 2) Indireto: É regido pela teoria do consentimento. Haverá dolo indireto 
quando o sujeito prevê o resultado e o aceita. Pode ser 3) eventual: age apesar do 
resultado; 4) Alternativo: qualquer dos resultados interessa. 
Pode ser ainda 5) Comum: quando basta a intenção de agir; 6) Específico: há também a 
finalidade específica na ação. 
 
Juarez Cirino dos Santos: O tipo de injusto doloso 
Dolo é a vontade consciente de praticar um crime. Sendo assim o dolo é formado por dois 
elementos: 1) Elemento intelectual: consiste no conhecimento atual das circunstâncias de 
fato do tipo objetivo, como representação ou percepção real da ação típica; 2) Elemento 
volitivo: consiste na vontade informada pelo conhecimento atual – de realizar o tipo 
objetivo de um crime. Para que a vontade constitua elemento do dolo ela precisa de dois 
requisitos: a) a vontade tem que ser incondicionada, como decisão de ação já definida; b) a 
vontade deve ser capaz de influenciar o acontecimento real, permitindo definir o resultado 
típico como obra do autor, e não como mera esperança ou desejo deste. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
14 
 
Há várias espécies de dolo: 1) Dolo direto de 1º grau: tem por conteúdo o fim proposto pelo 
autor, esse fim pode ser representado pelo autor como certo ou possível, desde que exista 
uma chance mínima de produzi-lo, excluídos resultados acidentais; 2) Dolo direto de 2º 
grau: compreende os meios de ação escolhidos para realizar o fim e, de modo especial, os 
efeitos secundários representados como certos ou necessários, segundo Roxin; 3) Dolo 
eventual: é diferente da culpa consciente, o dolo eventual constitui decisão pela possível 
lesão do bem jurídico protegido no tipo, ou seja, ele age apesar dos possíveis resultados; 4) 
Dolo alternativo: nessa espécie de dolo, qualquer dos resultados interessa ao agente, ex. a) 
A atira em B para matar, ou simplesmente, ferir; b) A atira para matar B ou, pelo menos, 
matar seu cachorro; c) A atira para matar o cachorro de B, mas consente na possibilidade 
prevista de matar B, próximodo animal. 
 
AULA 
- Tipicidade subjetiva: análise da culpa 
IMPORTANTE! O D. penal não aceita a responsabilidade objetiva. Responsabilidade objetiva 
não analisa dolo nem culpa, ele pune pelo resultado atingido. No direito penal a 
responsabilidade está ligada ou a presença do dolo ou a presença da culpa. 
O crime culposo é uma exceção. Isso quer dizer que só existe crime culposo quando houver 
previsão expressa. Ele tem quatro elementos, se faltar um desses quatro falta culpa. 1) 
Previsibilidade do resultado: o resultado deveria ser previsível. Se o resultado é imprevisível 
há apenas a responsabilidade objetiva; 2) Violação a um dever de cuidado objetivo: se você 
toma todos os cuidados o resultado se torna imprevisível; 3) Resultado; 4) Nexo de 
causalidade que prenda a conduta com o resultado. 
Classificação da culpa: 1) Consciente: é uma modalidade excepcional. É aquela em que o 
sujeito prevê o resultado, mas não adere ao resultado, ele afasta o resultado mentalmente. 
O sujeito afasta resultado porque ele acredita em uma habilidade especial que ele possui 
(ex. o atirador de elite); 2) Inconsciente: o sujeito não prevê algo que seria perfeitamente 
previsível. 
Modalidades de culpa: 1) Negligência: descuido, desleixo, falta de cuidado; 2) Imprudência: 
precipitação; 3) Imperícia: falta de habilidade, ausência de conhecimento técnico. Uma 
modalidade de culpa não exclui a outra, é possível, por exemplo, alguém cometer um crime 
pelas três modalidades de culpa. 
OBS: No direito penal não se aceita compensação de culpas, pode haver concorrência de 
culpas. No direito CIVIL existe a compensação, no PENAL não. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
15 
 
 
Juarez Cirino dos Santos: O tipo de injusto imprudente 
1- Introdução 
Constituem a exceção a regra, do ponto de vista da definição legal, visto que para 
caracterizar um crime como imprudente precisa-se da previsão expressa em lei. Porém, na 
prática, os crimes imprudentes são os mais comuns, são os que mais ocorrem. Segundo a lei 
penal, crie culposo é aquele que tem seu resultado causado por imprudência, negligência 
ou imperícia. A imprudência é composta por dois conceitos: a) o conceito de dever de 
cuidado, próprio da posição dominante, que define imprudência como lesão de dever de 
cuidado objetivo exigido; b) o conceito de risco permitido, relacionado a teria da elevação 
do risco, que define imprudência como lesão de risco permitido. Esses dois conceitos se 
complementam: o risco permitido, definido pelo ordenamento jurídico, constitui moldura 
típica primária de adequação do dever de cuidado, de modo que a lesão do dever de 
cuidado aparece sob a forma de criação ou de realização de risco não permitido. 
2- O desvalor da ação: lesão do dever de cuidado ou do risco permitido 
O dever de cuidado é delimitado principalmente por normas jurídicas, que definem o risco 
permitido em ações perigosas pra bens jurídicos na circulação de veículos, na indústria, no 
esporte, meio ambiente, etc. A infração de uma norma jurídica isolada constitui, em regra, 
a criação de risco não permitido, caracterizando a lesão do dever de cuidado, mas existem 
situações em que essa infração não será suficiente para caracterizar isso. A doutrina criou 
certos requisitos: 
a) O modelo de homem prudente: é o homem capaz de reconhecer ou avaliar situações de 
risco permitido e de lesão de dever de cuidado, mediante observações das condições de 
realização da ação e reflexão sobre os processos subjacentes de criação e de realização do 
perigo. 
b) O dever de informação sobre riscos e de abstenção de ações perigosas: a realização de 
ações perigosas, especialmente em certas áreas ou setores especializados das atividades 
humanas, impõe o dever de informação sobre riscos para os bens jurídicos, com omissão da 
ação perigosa no caso de impossibilidade de informação, ou de informação indicadora de 
risco excessivo ou de incapacidade pessoal de controle desse risco: dirigir veículo com 
defeito de visão, experiência insuficiente, em estado de cansaço excessivo, etc. 
c) A correlação risco/utilidade na avaliação de ações perigosas: se o risco tem utilidade 
social, então maior risco pode ser permitido; se o risco tem utilidade meramente individual, 
então o menor risco é proibido. Ex. a utilização de meios de transporte rápidos – risco 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
16 
 
permitido, a prioridade de trânsito livre para ambulâncias – ação fora do limite normal de 
risco permitido que é autorizada por conta de sua significação social. 
d) O princípio da confiança: significa a expectativa, por quem se conduz nos limites do risco 
permitido, de comportamentos alheios adequados ao dever de cuidado, exceto indicações 
concretas em contrário. 
3- O desvalor de resultado: lesão do bem jurídico protegido 
O resultado nos crimes de imprudência é a lesão do bem jurídico protegido no tipo legal. A 
regra dos crimes de imprudência é o resultado de dano. O dever de cuidado é definido para 
evitar determinados resultados típicos; o resultado deve ser o produto específico da lesão 
do dever de cuidado; o resultado deve ser previsível no momento da ação; o resultado 
determina, se, porque e como o autor deve ser punido. 
a) Imputação do resultado ao autor: tem como pressuposto a relação de causalidade entre 
a ação lesiva do dever de cuidado ou do risco permitido e o resultado de lesão do bem 
jurídico e tem com fundamento a realização do risco criado pela ação lesiva do dever de 
cuidado ou do risco permitido e como condição – pelo menos para um setor importante da 
teoria – a previsibilidade do resultado. 
- Relação de causalidade: é regida ela teoria das equivalências das condições, válida para os 
crimes dolosos e imprudentes. O resultado deve ser o produto específico da lesão do 
cuidado objetivo exigido ou a realização concreta de risco na permitido, para ser definido 
como obra do autor e, assim, poder ser imputado ao autor. 
- Realização do risco: quando aparece como produto específico da lesão do dever de 
cuidado ou – o que é a mesma coisa sob outro ângulo – como realização concreta de risco 
não permitido. 
b) Exclusão da imputação do resultado: existem hipóteses que excluem a imputação do 
resultado, são elas: 
- Fatalidade do resultado: resultados de lesão produzidos pela fatalidade ou por 
acontecimentos infelizes não podem ser definidos como realização do risco imputável ao 
autor. Ex. criança que ao usar força para se separar da mãe acaba caindo na rua e é 
atropelada. 
- Resultados incomuns: mesmo que o resultado tenha sido causado por conta da lesão do 
dever de cuidado, esse resultado é incomum e, por conta disso, seu resultado não pode ser 
definido como realização do risco permitido. Ex. Carro da fechada em outro e o motorista, 
por conta do susto tem um ataque cardíaco. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
17 
 
- Resultados fora da proteção do tipo: são algumas as hipóteses, vista abaixo. 
• A autoexposição a perigo: situações em que o resultado e atribuível a vítima e não 
ao colaborador da ação, se aquela conhece o risco existente na ação, mas é 
imputável se a vítima não percebe significado de sua decisão – nesse caso, o 
colaborador cria risco ao permitido coberto pela vontade da vítima. 
• A exposição consentida a perigo criado por outrem: não é imputável ao autor, se 
corresponder à autoexposição a perigo, observado o seguinte: o dano deve ser 
cosequencia do risco consentido e a vítima deve ter a mesma compreensão do e 
responsabilidade pelo perigo que o autor. Ex. A vítima, esclarecida pelo barqueiro 
sobre os perigos do mar agitado, insiste no passeio de barco e morre afogada por 
que o barco emborcasob a violência das ondas. 
• Os perigos situados em área de responsabilidade alheia: tem por objeto geral os 
funcionários públicos – bombeiros, policiais- ou profissionais – médicos –, no âmbito 
de suas funções ou atividades, e incidem sobre cursos causais preexistentes, 
podendo excluir a contribuição do resultado ao autor de anterior lesão do risco 
permitido ou do cuidado objetivo. 
• Os danos psíquico-emocionais sobre terceiros: a proteção típica do homicídio ou das 
lesões corporais não inclui responsabilidades penais cumulativas por distúrbios 
físicos ou psíquicos relacionados a abalo emocional de terceiro – pessoa que entra 
em depressão após pessoa afetivamente próxima ter sofrido um acidente causado 
de forma imprudente. 
• Outras consequências danosas posteriores: não são imputadas ao autor, se 
relacionadas à redução da resistência orgânica ou da capacidade física, determinadas 
por ações lesivas do dever de cuidado ou do risco permitido. 
c) A previsibilidade e a previsão do resultado: a teoria dominante considera a 
previsibilidade do resultado condição para sua atribuição ao autor. Há também quem 
atribua os critérios de criação e realização do perigo: autor tem que ser capaz de criar o 
risco que atinja a vítima (que na prática acaba por ser a previsibilidade, se é possível criar e 
controlar o risco, então é possível prever o resultado). 
• Imprudência inconsciente: define-se pela ausência de representação da lesão do 
dever de cuidado ou do risco permitido – o autor não representa a possibilidade de 
realização do tipo – e constitui a modalidade menos grave de imprudência. A 
imprudência consciente considera que deve haver a possibilidade de conhecimento 
do possível resultado. 
• Imprudência consciente: configura-se pela representação da possibilidade de lesão 
do risco permitido ou do dever de cuidado e pela confiança na evitação do resultado. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
18 
 
Ou seja, o autor tem conhecimento do possível resultado, mas acredita que não vai 
acontecer, seja por sorte, seja por habilidades próprias. 
OBS: Imprudência consciente X dolo eventual 
A imprudência consciente caracteriza-se, no nível intelectual, pela representação da 
possível produção do resultado típico e, no nível da atitude emocional, pela leviana 
confiança na ausência ou exclusão desse resultado, por habilidade, atenção, cuidado, etc. 
na realização concreta da ação. 
O dolo eventual caracteriza-se, no nível intelectual, por levar a sério a possível produção do 
resultado típico e, no nível da atitude emocional, por conformar-se com a eventual 
produção desse resultado – podendo variar para as situações respectivas de contar com o 
resultado típico possível, cuja eventual produção o autor aceita. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
19 
 
 
 
24/05/13 
Aula 03 
 
TIPICIDADE 
 
- Preterdolo 
No direito penal não existe responsabilidade de natureza objetiva. O art. 19, CP prevê a 
estrutura do crime preterdoloso ou preterintencional. É quando possui dolo na conduta 
antecedente e culpa na consequente. O agir foi intencional e doloso, mas aconteceu um 
resultado mais grave e que não era querido, em razão de culpa. O caso clássico é lesão 
corporal seguida de morte. Aí não é homicídio doloso porque a morte não foi provocada a 
título de dolo. No momento da ação a intenção não era matar a vítima, mas causar uma 
lesão. 
OBS: Não confundir crime preterdoloso com crime qualificado pelo resultado (nesse crime 
pode ter dolo + culpa; dolo + dolo; culpa + dolo; culpa + culpa). O resultado mais grave 
tanto pode ser doloso quanto culposo. 
 
Latrocínio: a morte tanto pode ser dolosa, quanto culposa. 
 
Juarez Cirino dos Santos: O tipo de injusto imprudente 
1- Crimes qualificados pelo resultado: combinações dolo/imprudência. 
Nos crimes qualificados pelo resultado, a relação entre ação e resultado também se 
desdobra em causação do resultado e imputação do resultado, como em qualquer crime de 
resultado: o resultado deve ser efeito causal e o produto do risco criado pela ação dolosa 
do autor. Sendo assim, a imputação do resultado mais grave pressupõe – ale da 
imprudência implícita na ação dolosa antecedente – a definição do resultado mais grave 
como produto específico do risco criado pela aça dolosa do autor ou a previsibilidade do 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
20 
 
resultado mais grave como consequência provável da ação, sob pena de absoluta 
inconstitucionalidade. 
Cezar Roberto Bitencourt: Tipo de injusto culposo 
1- Crime preterdoloso e crime qualificado pelo resultado 
Crime preterdoloso ou preterintencional tem recebido significado de crime cujo resultado 
vai além da intenção do agente, isto é, a ação voluntária inicia dolosamente e termina 
culposamente, porque, afinal, o resultado efetivamente produzido estava fora da 
abrangência do dolo. A diferença entre crime preterdoloso e crime qualificado pelo 
resultado é que neste o resultado posterior, mais grave, lesaria um bem jurídico que, por 
sua natureza, não contém o bem jurídico precedentemente lesado. Ex. lesão corporal 
seguida de morte – preterdoloso, por que para se matar alguém é necessário lesar 
corporalmente. Morte de gestante e do feto – crime qualificado pelo resultado, por que pra 
se matar alguém não é necessário fazê-la abortar. 
 
AULA 
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 
 
Tradicionalmente não se admitia: “societas delinquere non potest” = A pessoa jurídica não 
comete crimes. 
Argumentos favoráveis: 
1. Responsabilidade penal não se confunde com prisão, por exemplo, penas de medidas 
alternativas. 
2. A responsabilidade penal da pessoa jurídica evitaria o abuso da denúncia genérica, 
sobretudo nos chamados crimes societários. 
3. É fato que existem pessoas jurídicas criadas deliberadamente para a prática de crimes. 
4. Von Listz. Se a pessoa jurídica tem autonomia para celebrar contratos, ela tem 
autonomia para responder pelos seus crimes. 
5. Nada impediria que o processo penal se adaptasse às peculiaridades da pessoa jurídica, 
que seria apresentada por um preposto. 
6. A responsabilidade penal da pessoa jurídica cumpriria uma missão de prevenção geral, 
quer dizer, seria a forma de evitar que outras pessoas jurídicas, também delinquissem. 
Efeito reflexo da incriminação. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
21 
 
Argumentos contrários: 
1. Responsabilidade penal não se confunde com responsabilidade civil, nem com 
responsabilidade administrativa. Há pressuposto para a responsabilidade penal. Tanto isso 
é verdade que o sujeito pode ter capacidade civil plena e ser inimputável para o direito 
penal. As estruturas de responsabilidade são diferentes. 
2. Pessoa Jurídica não tem nem dolo e nem culpa. Responsabilidade penal da pessoa 
jurídica é responsabilidade objetiva. 
3. Pessoa jurídica não tem culpabilidade (juízo de valor que recai sobre o autor do fato para 
saber se ele é ou não capaz de ser responsabilizado pelo fato). Idade e desenvolvimento 
mental completo. Não tem como analisar isso da pessoa jurídica. 
Zaffaroni: a ótica do verdureiro responsável. 
 
4. A responsabilidade penal da pessoa jurídica viola o princípio da pessoalidade das penas 
(princípio da intranscendência – próprio e exclusivo do direito penal: nenhuma pena 
passará da pessoa do condenado, salvo prestação pecuniária e reparação civil dos danos. 
CF). 
5. No particular, o direito penal está na contramão da história. No direito privado, está se 
desconsiderando a pessoa jurídica para alcançar os sócios. 
6. Nem mesmoa realidade justifica essa responsabilidade penal. No Brasil, por exemplo, 
existe responsabilidade penal da pessoa jurídica desde 1998. Ao longo desse tempo, só 
uma vez a pessoa jurídica foi condenada. Por vezes, a ideia de criar mais punição, ao invés 
de proteger mais, protege menos. Esta responsabilidade penal é meramente simbólica. 
Direito Penal simbólico (alguns chama de legislação álibi) é quando vem de uma falsa 
imagem de controle, de proteção. 
7. Muito melhor seria, até pela natureza das sanções, que esta responsabilidade, ficasse 
limitada ao direito administrativo, ou a um direito da intervenção. 
O fato é que a constituição e 88, no artigo 225, parágrafo 3º, teria consagrado a 
responsabilidade penal da pessoa jurídica. São favoráveis à responsabilidade da pessoa 
jurídica todos os professores de direito penal da USP: Miguel Reale Júnior, Ada Pelegrini, 
Maria Celeste Cordeiro dos Santos... O professor Luís Luizzi entende que a constituição não 
consagrou a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Ele diz que o art. 173, §5º, CF, 
impediria tal responsabilidade. “Sanções compatíveis com a sua natureza”. Sanções penais 
são incompatíveis com a natureza da pessoa jurídica. Eros Roberto Grau diz que não se 
interpreta o direito em tiras. São contrários à responsabilidade penal da pessoa jurídica os 
professores Luís Luizzi, Paulo Queiroz, Luís Flávio Gomes. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
22 
 
A L9605/98 consagrou expressamente no art. 3º a responsabilidade penal da pessoa 
jurídica. Essa lei só cuida de crimes contra o meio ambiente. Pessoa jurídica, hoje no Brasil, 
só pode ser responsabilizada por crime contra o meio ambiente. 
OBS1: o art. 3º da lei, de acordo com entendimento amplamente dominante do STJ, 
consagrou o sistema da dupla imputação necessária, ou seja, a responsabilidade penal da 
pessoa jurídica não exclui a responsabilidade das pessoas físicas, e mais do que isso, pessoa 
jurídica só pode ser denunciada se forem denunciadas também pessoas físicas. Assim, é 
inepta uma denúncia oferecida somente em desfavor de uma pessoa jurídica. 
OBS2: O Anteprojeto de reforma penal consagra a responsabilidade penal da pessoa 
jurídica para os crimes contra o meio-ambiente, contra a administração pública e ordem 
econômica. E no anteprojeto existe uma proibição de dar baixa na empresa enquanto ela 
responder por um crime ambiental. 
Pontos específicos: cabe habeas corpus para proteger pessoa jurídica? Existe 
responsabilidade penal da pessoa jurídica de direito público? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
23 
 
 
 
 
 
25/05/13 
Aula 04 
 
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 
 
- Cabe habeas corpus no caso de pessoa jurídica? 
O habeas corpus se justifica quando há um abuso ou injustiça, quando a pessoa sofre ou há 
ameaça de sofrer coação física ou moral ilegal e se fundamenta na liberdade de ir e vir do 
indivíduo. No habeas corpus a prova é necessariamente documental, ou seja, não há 
testemunhas. Habeas corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa, não somente por 
advogados. Existem quatro tipos de habeas corpus: 
1- Repressivo: é quando a coação ilegal já foi decretada e produziu efeitos. Visa-se anular 
um ato ilegal que já produziu efeitos. É um alvará de soltura 
2- Preventivo: há uma iminência de uma coação ilegal. O ato ilegal ainda não foi decretado, 
mas está na proximidade de ser. É a expedição de um salvo conduto. 
3- Suspensivo: é quando a ordem já foi decretada, mas não produziu efeitos. É um meio 
termo entre os anteriores. O pedido é de contra mandado de prisão. Tem o objetivo de 
reverter a ordem de prisão dada. 
OBS. Nenhum desses três HC pode ser impetrado em favor da pessoa jurídica. 
4- Trancativo: O sujeito espera trancar, finalizar uma ação penal pendente que não tenha 
suporte probatório mínimo. Trancar uma ação penal que careça de fundamento. Trancar 
ação penal significa extinguir a ação penal. 
IMPORTANTE! Não há responsabilidade penal objetiva 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
24 
 
Portanto, de antemão, não cabe o habeas corpus à pessoa jurídica, pois este é uma ficção 
jurídica e não um ente corpóreo, sendo assim sequer tem como gozar do direito de ir e vir, 
quanto mais de alegá-lo em juízo com objetivo de impetração de habeas corpus. A dúvida 
que existe é em relação ao HC trancativo. O entendimento dominante e que está errado 
(segundo Gammil) é de que não cabe HC por que não está em jogo o direito de ir e vir. 
Porém, em situações nos quais houver uma ação penal sem fundamento contra pessoa 
jurídica deve-se entrar com mandato de segurança (segundo a doutrina). Só que mandato 
de segurança tem exigências, requisitos e pressupostos que o HC não tem, por exemplo, 
somente o advogado pode impetrar e existe um prazo de 120 dias para caber o mandato de 
segurança. Para os outros três tipos de HC não cabe pessoa jurídica e não há discussão. 
OBS: Pessoa jurídica pode ser impetrante de HC. A discussão é se ela pode ser paciente de 
HC. Impetrante é quem pede o HC, paciente é aquele que é beneficiado por ele. 
- Cabe ou não responsabilidade penal para pessoa jurídica de direito público? 
O Brasil, em tese, tentou seguir o modelo de responsabilidade francês. A lei francesa 
impede, categoricamente, que as pessoas jurídicas de direito público não serão 
responsabilizadas penalmente. O problema é que nossa lei não diz isso. Há autores que 
dizem que quando a lei não veda expressamente pode caber responsabilidade, pois a 
pessoa jurídica de direito público é pessoa jurídica lato sensu. Porém esse argumento pode 
ser rebatido, pois a responsabilidade penal da pessoa jurídica de direito público seria uma 
responsabilidade penal especialíssima. 
Na verdade, para haver essa responsabilidade a lei precisaria dizer expressamente. O 
argumento é o contrário, não é por que não diz que pode, é por que não diz que não pode. 
Até por que o próprio estado não pode ao mesmo tempo, acusar, ser acusado, julgar e ser 
julgado ele por ele mesmo. Os sistemas de responsabilidade – civil e criminal - são distintos, 
pois os fundamentos são distintos. 
 
- Tipo penal – segundo elemento da tipicidade 
O tipo penal tem as seguintes características: precisam ser escritos, precisam ser prévios, 
ser abstratos e precisam ser taxativos. Tipo penal é a exteriorização do princípio da 
legalidade, é o que o materializa. Não a crime sem TIPO (lei) anterior que o defina. O 
princípio da legalidade é uma moeda de duas faces, uma fusão dos princípios da 
taxatividade e da anterioridade. 
Um tipo precisa conter com clareza o comportamento que o legislador que proibir. Os tipos 
podem conter elementos: 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
25 
 
1) objetivos: são aqueles invariáveis, não mudam nem no tempo e no espaço; 
2) normativos: são elementos que encerram juízo de valor, é um elemento que muda no 
tempo e no espaço e que precisa ser valorado em cada caso concreto. 
OBS: Existe uma preocupação moderna em conter limites para os elementos normativos. É 
dizer que a doutrina se preocupa com elementos normativos que sejam estruturantes dos 
tipos. Ou seja, a doutrina começa a dizer que o tipo penal não pode ter como elemento 
principal o elemento normativo, isso por que estes são mutáveis no tempo e no espaço. 
3) Os tipos ainda podem conter elementos subjetivos especiais: são aqueles que 
caracterizam o chamado dolo específico. 
Classificação dos tipos. Os tipos penais podem ser: 
1) Explicativos: é um tipo que define, conceitua um instituto. 
2) Complementares: é um tipo que é dirigido para o juiz fixando um procedimentoque 
deve ser observado. 
3) Incriminadores: é o tipo que define um crime e a sua pena correspondente. Eles têm 
dois preceitos: a) primário: que é aquele que estabelece a conduta proibida; b) 
secundário: estabelece a pena. 
4) Justificantes ou descriminantes: é aquele que considera lícito um comportamento. 
5) Exculpantes: é um tipo que retira a culpabilidade do comportamento. 
 
Juarez Cirino dos Santos: Teoria do Tipo 
O tipo pode ser definido de três formas: 
a) como tipo legal constitui a descrição do comportamento proibido, com todas as suas 
características objetivas, subjetivas, descritivas e normativas; 
b) como tipo de injusto compreende a realização não justificada do tipo legal com a 
descrição da conduta proibida e as causas de justificação; 
c) como tipo de garantia realiza as funções político-criminais atribuídas ao princípio da 
legalidade e ao princípio da culpabilidade, compreendendo, também, as condições 
objetivas de punibilidade e os pressupostos processuais. 
Existem pressupostos que afastam a tipicidade, a adequação social é um deles: condutas 
que são aceitas socialmente mesmo que tecnicamente sejam típicas, perdem a tipicidade 
por conta da aceitação social, por exemplo, dar pequenos presentes a funcionários públicos 
em época de natal não configuram corrupção pela sua adequação e aceitação social. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
26 
 
 
AULA 
- Resultado – terceiro elemento da tipicidade 
O resultado no D. penal pode ser naturalístico. Isso significa que é o resultado que altera a 
realidade circundante. É o resultado palpável, tangível. É o resultado que só se comprova 
por meio de laudo pericial. Caracterizam aquilo que a doutrina chama de crimes materiais. 
O resultado pode ter também natureza jurídica. É dizer que não muda a realidade. Não é 
palpável nem tangível e por isso, ordinariamente, não é periciado. Caracteriza o que a 
doutrina chama de crime formal ou crime de consumação antecipada. Crime formal não 
exige resultado naturalístico para se consumar, ele pode ter ou não esse resultado, mas o 
resultado comum é o exaurimento. 
OBS: A doutrina tradicional costumava dizer que os tipos de mera conduta são crimes sem 
resultado. Modernamente, com base no princípio da ofensividade, não se pode dizer que 
há crime sem resultado. Nessa situação a diferença entre crime formal e de mera conduta 
deixa de existir. Porém para a maioria dos autores o crime de mera conduta não tem 
resultado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
27 
 
 
 
 
 
 
31/05/13 
Aula 05 
 
TIPICIDADE 
 
- Nexo de causalidade – quarto elemento da tipicidade 
É o vínculo, o elo entre conduta e resultado. Para alguém ser punido, necessário se faz que 
a conduta do sujeito tenha sido responsável pelo resultado. Não é todo crime que tem 
relação de causalidade física – que é uma característica de crimes materiais comissivos. Os 
crimes formais e os crimes de mera conduta não tem relação de causalidade física. A 
causalidade é normativa. É por isso que nos crimes materiais comissivos a relação de 
causalidade ganha singular importância. E para explicar tal relação há duas teorias 
(relacionada à causalidade física): 
1) Teoria da causalidade adequada: de acordo com esta teoria seria verificado de 
acordo com as regras de experiência, de acordo com o bom senso qual a causa seria 
apta e seria idônea a provocar o resultado. Esta causa, chamada de causa adequada, 
excluiria todas as outras. A causalidade adequada não é aceita pelo D. penal. Isso por 
que no D. penal não se admite uma exclusão ex ante, uma exclusão em tese, de 
nenhuma das causas. 
2) Teoria da equivalência dos antecedentes causais: diz que as causas não se excluem. 
Elas podem concorrer por que as causas se equiparam. A equivalência dos 
antecedentes causais é baseada no juízo hipotético de eliminação. Isso é, para saber 
se um comportamento é ou não causa este comportamento deve ser suprimido 
mentalmente e indaga-se o seguinte: sem aquele comportamento, o resultado teria 
ocorrido tal e qual ocorreu? Se o resultado deixar de acontecer tal e qual aconteceu é 
por que aquele comportamento é causa. Porém se após a supressão desse 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
28 
 
comportamento o resultado continua igual a tal e qual aconteceu é por que esse 
comportamento é indiferente. É a teoria usada pelo direito penal. A equivalência dos 
antecedentes causais recebe algumas críticas: 
a) Se ela for adotada de forma irrestrita ela pode representar responsabilidade objetiva. 
É por isso que só se analisa causalidade se tiver havido tipicidade subjetiva. É dizer, 
se tiver havido dolo ou culpa. 
b) Ela pode representar um regresso ao infinito. E é por isso que mais uma vez é 
necessário frisar que só se discute causalidade se tiver havido dolo ou culpa. 
 
Cezar Roberto Bitencourt: Relação de causalidade 
1- Considerações gerais 
No CP há previsão de infrações chamadas de crime de mera atividade ou de mera conduta, 
os quais se consumam com a simples realização de um comportamento, comissivo ou 
omissivo, não se dando importância às suas eventuais consequências. Ouras vezes, ao 
contrário, o CP engloba, na sua descrição, a conduta humana e a consequência por ela 
produzida, isto é, o resultado, de tal forma que ó haverá crime consumado quando esse 
resultado se concretizar. Essa relação de causalidade enquanto categoria geral, é elemento 
da ação, visto que toda ação utiliza-se do processo causal, de natureza ôntica. 
2- Teoria da equivalência das condições ou conditio sine qua non 
Art. 13, CP: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a 
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não 
teria ocorrido. 
A primeira parte do dispositivo está afirmando que a relação de causalidade limita-se aos 
crimes de resultado (materiais). A segunda parte consagra a adoção da teoria da 
equivalência das condições para determinar a relação de causalidade. É uma teoria que não 
distingue como prevalente ou preponderante nenhum dos diversos antecedentes causais 
de um determinado resultado. Todo fator que contribui, de alguma forma, para a 
ocorrência do evento é causa desse evento. Para que se posse verificar se determinado 
antecedente é causa do resultado, deve-e fazer o chamado juízo hipotético de eliminação 
que consiste em excluir o comportamento analisado e verificar se o resultado teria ocorrido 
tal e qual, ou se ele deixaria de existir; se o resultado ocorreria mesmo se excluindo o 
comportamento, então ele não é causa, porém se ao excluir esse comportamento o 
resultado deixa de acontecer, então claro é a relação de causa e efeito entre os dois. Essa 
teoria recebe uma crítica bem contundente que é o regresso ao infinito, buscando causas 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
29 
 
para determinado resultado; os critérios utilizados para se evitar tal coisa são: imputação 
subjetiva, a imputação objetiva e as concausas. 
3- Outras teorias da causalidade 
A teoria da causalidade adequada ou teria da adequação fundamenta-se originalmente no 
juízo de possibilidade ou de probabilidade da relação causal. Ela parte do pressuposto de 
que a causa adequada para a produção de um resultado típico não é somente a causa 
identificada a partir da teoria da equivalência das condições, mas, sim, aquela que era 
previsível ex ante, de acordo com os conhecimentos experimentais existentes e as 
circunstâncias do caso concreto, conhecidas ou cognoscíveis pelo sujeito cuja conduta se 
valora. Essa teoria apresenta a inconveniência do alto graude indefinição acerca dos 
parâmetros valorativos necessários para medir algo como previsível ou imprevisível. 
Já para a teoria da causa juridicamente relevante ou da relevância típica, a relevância 
jurídica de uma determinada conduta, considerada inicialmente como causa de um 
resultado nos ermos da teoria da equivalência das condições, deve ser abordada pela 
interpretação do tipo penal de que se trate. Essa ideia, entretanto, não foi desenvolvida, 
deixando apenas indicada a necessidade da utilização de critérios valorativos de imputação 
para a delimitação da tipicidade. 
 
AULA 
São necessários filtros para a relação de causalidade, para evitar esse regresso ao infinito. O 
primeiro filtro é justamente a imputação subjetiva (dolo e culpa). Existe também um 
segundo filtro para o nexo de causalidade que é a teoria da imputação objetiva. A 
imputação objetiva veio para dar novas respostas para velhos problemas que já tinham 
solução, mas as respostas são melhores. Isso por que a imputação objetiva filtra o nexo de 
causalidade, e se ela faz isso ela limita o alcance da tipicidade. 
Segundo Luis Greco se a teoria da imputação objetiva fosse tudo aquilo que as pessoas 
dizem que ela é nós não teríamos sobrevivido tantos anos sem ela. 
A chamada teoria da imputação objetiva, segundo Luis Flávio Gomes não é teoria, não é de 
imputação e não é objetiva. Não é teoria por que ela não trabalha com um método único, 
exclusivo. Na verdade a imputação objetiva trabalha com um conjunto de casos, ela resolve 
os exemplos dentro de conduta de caso. A imputação objetiva é um filtro para evitar o 
regresso ao infinito e por isso ela é usada para excluir a responsabilidade. NADA TEM A VER 
COM RESPONSABILIDAE OBJETIVA, É UMA TESE DE DEFESSA, USADA PARA AFASTAR A 
RESPONSABILIDADE E NÃO INCREMENTÁ-LA. E não é objetiva por que ela trabalha com um 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
30 
 
conceito essencialmente subjetivo que é o conceito de risco permitido e risco proibido. 
Para a imputação objetiva só há crime quando houver criação ou incremento de um risco 
proibido. Mais simples: não há crime se o risco é permitido. O risco é permitido quando: 1) 
é socialmente adequado; 2) se for insignificante; 3) caso o sujeito aja para evitar um risco 
maior; 4) se ele foi aceito. 
 
 
 
01/06/13 
Aula 06 
 
TIPICIDADE 
 
- Nexo de causalidade – quarto elemento da tipicidade 
Imputação Objetiva (continuação): 
- Fala-se em risco aceito ou em autocolocação em perigo quando o bem jurídico for 
DISPONÍVEL e houver razoabilidade naquela lesão. 
Ex: Liberdade sexual é um bem disponível. 
Ex2: Integridade Física tem esferas de disponibilidade. Eu não posso vender um rim, mas 
posso doá-lo. E quanto mais grave a lesão, menor há o espaço para o consentimento. (ex: 
Lutador de MMA) 
Falei sobre isso em excludentes da imprudência/culpa. 
Se não fosse o princípio da imputação objetiva, teríamos como resolver essas questões. 
Mas a discussão estaria na culpabilidade não na tipicidade. 
OBS: Nos casos de mulheres estupradas dentro de um motel, a questão não é de vítima 
dogmática, mas de gestão de prova, pois muito difícil provar que foi estupro e não com 
consentimento. 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
31 
 
- O risco é permitido ainda quando o implemento do risco não depender diretamente da 
vontade do agente. Quando o agente não tiver controle sobre a situação do risco. 
OBS: Ao contrário do que defende Damasio, a imputação objetiva NÃO veio para substituir 
a relação de causalidade. A relação de causalidade é limitada, é filtrada pela teoria da 
imputação objetiva. 
OBS2: A teoria da Sine Qua Non (Condição sem a qual não). 
 
O terceiro filtro – da teoria da equivalência dos antecedentes causais – diz respeito a 
eventual existência de CONCAUSAS. Estas são causas concorrentes. Elas podem ou não 
excluir a relação de causalidade, inaugurando uma nova causalidade. 
EX: Rodrigo dá facadas, Gammil envenena. 
As concausas podem ser absolutamente (1) ou relativamente (2) independentes. 
1- Quando as concausas são absolutamente independentes, há rompimento de causalidade 
e aquele que teve a causalidade rompida vai responder pelo CRIME TENTADO. Excluiu 
imputação. 
2- Quando elas têm um ponto de interseção. Um ponto de toque. 
ART 13: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem 
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria 
ocorrido 
Superveniência de causa independente 
Parágrafo 1: A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação 
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a 
quem os praticou. 
Ex: No caso das facadas e do envenenamento, se o sujeito morreu envenenado, Rodrigo vai 
responder por ter esfaqueado, tentado matar, homicídio tentado. 
Nas concausas relativamente independentes a REGRA é que não há exclusão de imputação. 
A regra é que a causalidade não é rompida. O sujeito responde por crime consumado. 
Ex: Minha sogra tem alergia a um medicamento, mas eu minto para o médico. Eu respondo 
por crime consumado. (Pré-existente) 
Artigo 13, parágrafo 1 é uma exceção. Concausas supervenientes relativas. 
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32 
 
A pergunta que deve ser feita: FOI POR SI SÓ? 
Se for, exclui-se a imputação, ou seja, o sujeito responde por crime tentado. 
Mas se não foi por si só, não houve rompimento de causalidade. O sujeito responde por 
crime consumando. Nesse caso o resultado é um desdobramento natural da conduta. 
Ex: o sujeito baleado com 3 tiros está na ambulância que é imprensada pela ambulância. E 
ele morre pelo acidente. Quem deus os tiros responde por homicídio tentado. 
Ex2: O sujeito está perdendo muito sangue devido as facadas. Ele morre de falência 
múltipla de órgãos. Esse efeito é da facada. 
QUANDO HOUVER ROMPIMENTO DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE, O CRIME É TENTADO. 
 
Cezar Roberto Bitencourt: Relação de causalidade 
1- Limitações do alcance da teoria da conditio sine qua non 
Essas limitações servem para impedir o regresso ao infinito, de forma que a teoria dos 
antecedentes causais não seja inutilizada. 
a) Localização do dolo e da culpa no tipo penal 
A cadeia causal, aparentemente infinita, será sempre limitada pelo dolo ou pela culpa Toda 
conduta que não for orientada pelo dolo ou pela culpa estará na seara do acidental, do 
fortuito ou da força maior – condutas atípicas –, não podendo configurar crime, situando-se 
fora, portanto, do alcance do D. penal material. A relevância típica das contribuições 
causais ao resultado depende da existência de, pelo menos, previsibilidade ex ante da 
produção do resultado e da corespondente possibilidade de evitar que o mesmo seja 
produzido. Com esse efeito, uma pessoa pode ter dado causa a determinado resultado, e 
não ser possível imputar-lhe a responsabilidade por esse fato, por não ter agido nem dolosa 
nem culposamente. 
b) Concausas absolutamente independentes 
São concausas preexistentes aquelas que ocorrem antes da existência da conduta, isto é, 
antes da realização do comportamento humano; concomitantes, quando ocorrem 
simultaneamente com a conduta; e superveniente quando se manifesta depois da conduta. 
As concausas podem ser constituídas por outras condutas ou simplesmente por um fato 
natural. Qualquer que seja a concausa, poderá produzir o resultado de forma 
absolutamente independente do comportamento que examinamos. Nesses casos, fazendo-
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
33 
 
se o juízo hipotético de eliminação, verificaremos que a conduta não contribuiu em nadapara a produção do evento, nessas circunstâncias há o rompimento na relação de 
causalidade e o crime é tentado. 
- Concausas relativamente independentes 
São concausas que auxiliam, ou reforçam, o processo causal iniciado com o comportamento 
do sujeito. Nessa situação há uma soma de esforços que produz o resultado. O exemplo 
mais clássico é o que duas pessoas que sem saber uma da ação da outra ministram em uma 
vítima comum dose de veneno que, isoladamente não seria fatal – mas com a intenção de 
matar – e após a autópsia, revela-se que a vítima morreu por conta da quantidade de 
veneno somada. Nessa situação, há a concausa relativamente independente. Independente 
por que não há o concurso de pessoas, não há coautoria, visto que um não sabia da 
conduta do outro. E relativamente por que caso exerça o juízo hipotético de eliminação 
verificar-se-á que a morte da vítima não teria ocorrido sem que ambos os agente 
ministrasse a dose do veneno. Nessa situação cada um dos agentes, isoladamente irá 
responder pelo crime de homicídio doloso consumado. 
c) Superveniência de causa relativamente independente que, por si só, produz o 
resultado. 
As concausas absolutamente ou relativamente independentes podem sem preexistentes, 
concomitantes ou supervenientes, mas a hipótese a ser analisada se refere apenas as 
concausas supervenientes. Essa concausa relativamente independente que, por si só, 
produz o resultado pode Sr interpretada da seguinte forma: quando alguém coloca em 
andamento determinado processo causal pode ocorrer que sobrevenha, no decurso deste, 
uma nova condição que, em vez de se inserir no fulcro aberto pela conduta anterior, 
provoca um novo nexo de causalidade. Pode-se dizer que essa segunda conduta determina 
a ocorrência de resultado como se tivesse agido sozinha, pela sua anormalidade, por ser 
inusitada, pela sua imprevisibilidade. Para verificar sua existência, retoma-se o juízo 
hipotético de eliminação, o qual vai confirmar que a segunda causa está ligada à primeira; 
porém, em se tratando de causa superveniente, há que se fazer uma segunda indagação: 
essa causa superveniente se insere no fulcro aberto pela conduta anterior, somando-se a 
ela para a produção do resultado? Se a resposta for sim, então não se excluirá o nexo de 
causalidade e as duas causas somaram forças para a ocorrência do resultado; se a resposta 
for não, então o fluxo causal da primeira conduta é interrompido e a segunda ação causou, 
isoladamente, o resultado. Nesse caso, o autor da conduta responderá apenas pelos seus 
atos praticados, que podem ser lesão corporal, tentativa de homicídio, etc. 
d) A teoria da imputação objetiva e âmbito de aplicação 
Penal II – Gamil – 2013.1 Mariana Sampaio 
34 
 
A teoria da imputação objetiva não tem a pretensão de resolver a relação de causalidade, 
tampouco substituir ou eliminar a função da teoria da conditio sine qua non. Objetiva não 
mais que reforçar, do ponto de vista normativo, a atribuição de um resultado penalmente 
relevante a uma conduta. Em outros termos, não pretende fazer prevalecer um conceito 
jurídico de imputação sobre um conceito natural de causalidade, mas acrescentar-lhe 
conceitos normativos limitadores de sua abrangência. Enfim, a relação de causalidade não é 
suficiente nos crimes de ação, nem sempre necessária nos crimes de omissão e é 
absolutamente irrelevante nos crimes de mera conduta. Portanto a teoria da imputação 
objetiva tem espaço e importância reduzidos. 
Somente é possível a imputação objetiva do fato se o resultado tiver sido causado pelo 
risco não permitido criado pelo autor. A teoria objetiva estrutura-se sobre um conceito 
fundamental: risco permitido. Permitido o risco, não cabe a imputação; não permitido o 
risco, cabe a imputação. 
ROXIN: Um resultado causado pelo agente somente pode ser imputado ao tipo objetivo se 
a conduta do autor criou um perigo para o bem jurídico não coberto pelo risco permitido, e 
se esse perigo também se realizou n resultado concreto. 
Na concepção de Roxin, a teoria da imputação objetiva estabelece três requistos básicos 
para a imputação objetiva do resultado, que representam, em realidade, três grandes 
grupos de problemas: a) a criação de um risco jurídico-penal relevante, não coberto pelo 
risco permitido; b) a realização desse risco no resultado; e c) que o resultado produzido 
entre no âmbito de proteção da norma penal. 
 
CASOS: 
 
1- JG é uma pessoa muito querida e um aluno A seu com a intenção de mata-lo coloca 
dois mL de veneno no seu mingau. O aluno B, sem saber de A, coloca mais 2 mL de 
veneno. JG morre e o laudo pericial constata que a morte se deveu a ingestão de 
veneno em dose superior a 3 ml. 
Tratar das condutas de A e de B usando o princípio da eventualidade. 
(Vai cair uma parecida na prova) 
2- JG toma 40 facadas e é levado no hospital. Em lá chegando, os médicos tentam 
estancar os ferimentos, mas ele contrai uma infecção hospitalar e morre. Como 
responde o sujeito que deu as facadas? 
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3- O sujeito A envenena B que desmaia. Imagine: O prédio que B estava pega fogo e ele 
morre carbonizado. Como é que A responde? 
 
 
 
 
 
 
 
01/06/13 
Aula 07 
 
TIPICIDADE 
 
Nexo de causalidade – quarto elemento da tipicidade 
- Relevância causal na omissão 
Os crimes podem ser comissivos, quando praticados com ação; ou omissivos, quando 
praticados com omissão. Ainda existem os chamados comissivos por omissão, que são os 
crimes omissivos impróprios. 
Crimes omissivos próprios ou 
puros 
Crimes omissivos impróprios 
ou impuros 
A tipicidade é feita 
diretamente com base no 
crime em espécie. Ex. omissão 
de socorro. 
A tipicidade é indireta ou 
mediata. Quer dizer que a 
adequação típica é formada 
pela fusão de um crime em 
espécie com uma regra da 
parte geral. Art. 13 § 2º 
São uni subsistentes. Isso quer São pluri subsistentes, sendo 
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dizer que a execução não pode 
ser fracionada, não pode ser 
dividida, logo os crimes 
omissivos próprios não 
admitem tentativa. 
assim, admitem tentativa. 
O sujeito só tem o dever legal 
de agir. 
O dever mais além. O dever é 
de impedir o resultado. O nexo 
é de não impedimento. 
Significar dizer que não 
impedir o resultado é igual a 
causar o resultado. 
 
A relevância causal na omissão é tratada no art. 13 § 2º, CP: A omissão é penalmente 
relevante quando o agente podia e devia agir para impedir o resultado. O dever de agir 
incube a quem: 
Se o agente não podia ou se o agente não devia, contrario sensu, não é penalmente 
relevante. Só se fala em tipicidade na omissão quando o agente podia – quando era 
possível – e devia – estava obrigado a – agir para impedir o resultado. Se não era possível 
ou ele não era obrigado a agir, a omissão não é penalmente relevante. Ex. Salva-vidas, 
bombeiro, policial, são garantidores. O garantidor que se omite quando podia e quando 
devia agir para evitar o resultado vai responder pelo crime material consumado. A lei prevê 
três figuras de garantidor. 
a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
É o garantidor legal. Ex. Pai em relação aos filhos. 
b) De outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
É aquele que voluntariamente aceitou figurar como garantidor. Ex. professor de alpinismo. 
c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
É o sujeito que com seu comportamento anterior assumiu o risco de provocar o resultado. 
Quem cria uma situação de risco para as vítimas tem a obrigação de evitar que o risco se 
materialize. 
Esse artigo é um tipo

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