Buscar

Teletrabalho monografia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 
O presente estudo tem como objetivo analisar o teletrabalho e as modificações ocorridas na prestação de serviços, advindas deste instituto. Fruto da revolução tecnológica, se configura como uma tendência que, cada vez mais, está presente nas relações empregatícias, uma vez que as empresas buscam formas mais flexíveis de trabalho. 
Como ainda carece de regulamentação específica, a pesquisa aborda, principalmente, o entendimento doutrinário e jurisprudencial acerca do tema e trata do teletrabalho, no âmbito legislativo. 
No segundo capítulo, será estudada a história do surgimento do teletrabalho, o conceito deste instituto, sob diferentes prismas e as modalidades existentes, na atualidade. Alguns casos concretos, presentes na jurisprudência, também serão analisados, demonstrando como o teletrabalho acontece na prática e de que forma os direitos trabalhistas são garantidos aos teletrabalhadores. 
Nessa perspectiva, o terceiro capítulo apresenta temas que ainda são conflitantes, como por exemplo, a subordinação, a pessoalidade, a jornada de trabalho e a flexibilidade de horários, o controle de horas extras, bem como as diferentes maneiras em que este controle ocorre, na prática. Destaca-se, ainda, o estudo acerca da saúde, da segurança e da higiene do teletrabalhador, sob o ponto de vista do meio ambiente laboral e das doenças ocupacionais, decorrentes dessa modalidade de trabalho, tendo em vista que tais fatores devem ser sempre observados, independentemente da forma em que o trabalho é realizado. 
No quarto capítulo, será analisada a busca em positivar a nova modalidade de trabalho, no Direito brasileiro, em especial, com relação às determinações do Projeto de Lei nº 4.505/2008 e da Lei nº 12.551/2011, a qual introduziu o artigo 6º na Consolidação das Leis do Trabalho. 
Serão demonstradas as vantagens para o empregado, para o empregador e para o Estado, dentre as quais, a melhoria da qualidade de vida em geral e a menor rotatividade no quadro de funcionários da empresa. 
As suas desvantagens também são referidas, especialmente, as dificuldades na fiscalização do ambiente de trabalho, resultando no impedimento da garantia à obediência de determinadas normas. 
Por fim, promove-se uma abordagem sobre a aplicabilidade das diferentes modalidades do teletrabalho, em especial, na administração pública brasileira, além de uma análise das perspectivas do teletrabalho, no cenário das relações de emprego. 
2. O INSTITUTO DO TELETRABALHO
Na atual conjuntura da economia mundial, os países precisam de agilidade e de demanda de qualidade, para evitar as altas taxas de desemprego. Dessa forma, o teletrabalho surge como uma nova forma de atividade e como uma resposta à evolução das tecnologias, possibilitando que se trabalhe a distância, contudo, sem a necessidade de o serviço ser prestado no domicílio do trabalhador.[1: DARCANCHY, Mara Vidigal. Teletrabalho para pessoas portadoras de necessidades especiais. São Paulo: LTr, 2006. p. 38.]
Com o avanço tecnológico e o surgimento da sociedade de informação, a telecomunicação e a informática influenciaram as novas relações de trabalho, de forma a propiciar que o teletrabalho se desenvolva, em qualquer lugar.[2: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p. 22.]
A implementação de novas tecnologias, em especial, a informática e as telecomunicações, proporcionou o surgimento de diferentes formas de trabalho, o que implicou na redução dos custos para as empresas e no crescimento da competitividade.
Além disso, com o emprego destes meios tecnológicos na rotina dos trabalhadores, verificou-se que as tarefas poderiam ser realizadas na residência do empregado, ou em outros locais, com o posterior envio à empresa, sem a necessidade de comparecer diariamente ao trabalho, originando, nesse contexto, o teletrabalho.[3: MAÑAS, Christian Marcello. A externalização da atividade produtiva: o impacto do teletrabalho na nova ordem socioeconômica. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, v. 39, n. 0, p. 128, 2003. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/ direito/article/viewArticle/1750>. Acesso em: 23 out. 2016.]
2.1 HISTÓRIA DO TELETRABALHO
Não é possível precisar a origem do teletrabalho, no entanto, em 1857, J. Edgard Thompson, proprietário da estrada de ferro Penn, percebeu que era viável utilizar o sistema privado de telégrafo de sua empresa, para gerenciar o pessoal que estava distante do escritório central. Para isso, seria necessário delegar aos funcionários o controle no uso de equipamento e na mão de obra. Dessa forma, a empresa transformou-se num complexo de operações descentralizadas.[4: PINEL, Maria de Fátima de Lima. Teletrabalho: o trabalho na era digital. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Disponível em: http://www.teletrabalhador. com/conceituacao.html>. Acesso em: 20 out. 2016.]
Nos anos de 1950, com os estudos de Norbert Wiener sobre a cibernética, surgiram as primeiras experiências com o trabalho a distância - ou teletrabalho. Wiener utilizou, hipoteticamente, o caso de um arquiteto que vivia na Europa e supervisionava a distância, por meio de um fac-símile, a construção de um prédio nos Estados Unidos.[5: WINTER, Vera Regina Loureiro. Teletrabalho: uma forma alternativa de emprego. São Paulo: LTr, 2005. p. 63.]
A partir da Revolução Industrial, no início do século XIX, os países em processo de industrialização tinham como tendência centralizar os locais de trabalho, uma vez que indústrias, fábricas e unidades de montagem precisavam de centralização.[6: NILLES, Jack M. Fazendo do teletrabalho uma realidade: um guia para telegerentes e teletrabalhadores. São Paulo: Futura, 1997. p. 21.]
Em 1960, ressurgia o trabalho em domicílio, que se encontrava quase extinto desde os finais do século XIX, quando, inicialmente, ocorrera na produção de vestuário, têxteis e calçados. Já na década de 1970, era exercido para embalar e montar artigos elétricos, alimentação industrial, bebidas, detergentes, plásticos e cosméticos.[7: WINTER, Vera Regina Loureiro. Teletrabalho: uma forma alternativa de emprego. São Paulo: LTr, 2005. p. 63.]
Conforme explica Carla Carrara da Silva Jardim,
O teletrabalho, na realidade, foi iniciado quando não existia o computador pessoal nem a massificação da internet. Nas décadas de 60 e 70, quando o teletrabalho despertou a atenção da sociedade, ele era realizado de outro modo – utilização de fac-símile, correio, telefone convencional, telex e telégrafo.[8: WINTER, Vera Regina Loureiro. Teletrabalho: uma forma alternativa de emprego. São Paulo: LTr, 2005. p. 63.]
Nos anos setenta, a crise do petróleo desencadeou a elevação dos preços dos combustíveis e dos transportes. Em decorrência disso, as empresas tinham como prioridade reduzir os custos de produção.[9: LOTTERMANN, Daniela Rodrigues. A parassubordinação no teletrabalho. Disponível em: http://www.telework2010.tic.org.ar/papers/6RODRIGUEZ%20LOTTERMAN%20PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 23 out. 2016.]
Considerado o inventor da expressão ‘teletrabalho’, Jack Nilles, em meio à crise petrolífera, no ano de 1973, ao buscar uma solução para reduzir o consumo do petróleo, sugeriu que as pessoas não mais se deslocassem ao local de trabalho, mas que, ao contrário, a atividade se dirigisse aos trabalhadores. Assim, Nilles definiu o método como “[...] qualquer forma de substituição de deslocamentos relacionados com a atividade laboral por tecnologias de informação”.[10: MAÑAS, Christian Marcello. A externalização da atividade produtiva: o impacto do teletrabalho na nova ordem socioeconômica. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, v. 39, n. 0, p. 130-131, 2003. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/ viewArticle/ 1750>. Acesso em: 23 out. 2016.]Em seguida, decorrente do avanço acelerado das tecnologias, começou a descentralização das formas de trabalho, de maneira que o trabalho passou a ir ao encontro do trabalhador, diferentemente do que ocorria com a prestação de serviços tradicional. (grifo do autor).[11: NILLES, Jack M. Fazendo do teletrabalho uma realidade: um guia para telegerentes e teletrabalhadores. São Paulo: Futura, 1997. p. 21.]
Foi na década de 1980 que teve início o modelo da deslocalização, o qual se assenta
[...] nos conceitos da não-concentração da atividade assalariada, nas ações que visem à redução do impacto ambiental, na melhor organização territorial, na redução de custos de mão-de-obra e de mobiliário, na motivação social. Todos esses fatores estão sintetizados na equação ‘desenvolvimento tecnológico mais política de acomodação implicam capacidade de desenvolver uma nova organização empresarial’. (grifo do autor).[12: JARDIM, Carla Carrara da Silva. O teletrabalho e suas atuais modalidades. São Paulo: LTr, 2003. p. 38.]
Considerado, até metade do século passado, como uma forma pouco usual e inadequada de emprego, o trabalho em domicílio era associado à informalidade e à marginalidade, nas sociedades desenvolvidas.[13: WINTER, Vera Regina Loureiro. Teletrabalho: uma forma alternativa de emprego. São Paulo: LTr, 2005. p. 52.]
Desde então, foram criadas novas formas de aplicação do trabalho em domicílio, as quais resultaram em diferentes modalidades, que deram origem ao teletrabalho. No início, se limitava ao setor industrial, entretanto, com o tempo, atingiu, também, o setor de serviços: na publicidade, na tradução de textos, na informática, dentre outros.[14: NILLES, Jack M. Fazendo do teletrabalho uma realidade: um guia para telegerentes e teletrabalhadores. São Paulo: Futura, 1997. p. 21.]
Por conseguinte, se o trabalhador fizer uso de algum instrumento que o mantenha conectado com a empresa, sua atividade se denomina teletrabalho. Amauri Mascaro Nascimento defendeu, já em 1991, a ideia de que o trabalho em domicílio exerceria um importante papel na economia e explicava que:[15: BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 5. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2009. p. 321.]
Nossa lei prevê o ‘contrato de trabalho a domicílio’. Vai voltar com a tecnologia, a cibernética que permite alguém trabalhar em sua própria residência, agora com computador, recebendo ou transmitindo instruções e se adaptando a elas. De modo que o trabalho a domicílio, na nova era que se apresenta, tende a se firmar ou a se reafirmar, não mais como apenas o trabalho da costureira, do marceneiro, mas de outros tipos de profissão. (grifo do autor).[16: NASCIMENTO, 1991 apud WINTER, Vera Regina Loureiro. Teletrabalho: uma forma alternativa de emprego. São Paulo: LTr, 2005. p. 55.]
Ainda nesse sentido, Denise Pires Fincato entende que o teletrabalho é “[...] fenômeno decorrente dos arranjos econômicos laborais, com forte influxo dos movimentos globalizatórios e visceral relação com as tecnologias de informação e comunicação [...]”.[17: FINCATO, Denise Pires. Acidente do trabalho e teletrabalho: novos desafios à dignidade do trabalhador. Direitos Fundamentais e Justiça, Porto Alegre, v. 2, n. 4, 2008, p. 147. Disponível em: <http://www.dfj.inf.br/Arquivos/PDF_Livre/4_Doutrina_7.pdf>. Acesso em: 23 out. 2016.]
Alguns fatores - como a implementação de novas tecnologias, em especial, a informática e as telecomunicações e o constante crescimento do setor de serviços - resultaram no desenvolvimento de novas formas de trabalho, possibilitando, assim, reduzir os custos de produção das empresas e aumentar a competitividade. Com a utilização destes meios tecnológicos, o deslocamento diário ao trabalho para executar as tarefas não é mais necessário, pois, podem ser realizados na residência do empregado ou em diferentes locais - que não, necessariamente, a sede da empresa - e enviados, posteriormente. Esse contexto permite deduzir que o teletrabalho, de forma funcional, limita-se ao domínio da informação.[18: MAÑAS, Christian Marcello. A externalização da atividade produtiva: o impacto do teletrabalho na nova ordem socioeconômica. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, v. 39, n. 0, p. 128-129, 2003. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/viewArticle /1750>. Acesso em: 23 out. 2016.]
Assim, o teletrabalho é decorrente da flexibilização do Direito do Trabalho,
[...] ajustando-se às necessidades da realidade econômica, e o fenômeno da globalização, acarretando as transformações tecnológicas e, por consequência, os desequilíbrios no mercado de trabalho. Os altos índices de desemprego, decorrentes do custo da mão-de-obra (sic), ocasionam a necessidade da correção da rigidez das relações formais de trabalho, com revisão do modelo tradicional do contrato laboral, abrindo espaço a novas formas de trabalho, como o trabalho a distância ou teletrabalho.[19: WINTER, Vera Regina Loureiro. Teletrabalho: uma forma alternativa de emprego. São Paulo: LTr, 2005. p. 13.]
Na medida em que essas tecnologias foram inseridas nas atuais relações laborais, surgiram novas modalidades de trabalho. Uma delas é o teletrabalho, que está em constante evolução e adquirindo espaço no mercado.[20: LOTTERMANN, Daniela Rodrigues. A parassubordinação no teletrabalho. Disponível em: <http://www.telework2010.tic.org.ar/papers/6RODRIGUEZ%20LOTTERMAN%20PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 23 out. 2016.]
O teletrabalho surgiu com o objetivo de solucionar as dificuldades que nasceram ao longo dos anos, principalmente, com os fenômenos da globalização e das tecnologias da informação e da comunicação.
2.2 CONCEITO DE TELETRABALHO
A palavra teletrabalho tem origem grega e latina, uma vez que é a reunião de telou (longe) e tripaliare (trabalhar). Possui diversos sinônimos, de acordo com o local. Nos Estados Unidos é chamado de teledeslocamento (telecommuting), trabalho com rede (networking) e trabalho em casa (homeworking), enquanto que, na Europa, é conhecido como telework, ou seja, trabalho a distância. Também as expressões téletravail, telearbeit, teleavoro e teletrabajo são comuns.[21: LOTTERMANN, Daniela Rodrigues. A parassubordinação no teletrabalho. Disponível em: <http://www.telework2010.tic.org.ar/papers/6RODRIGUEZ%20LOTTERMAN%20PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 23 out. 2016.]
O teletrabalho é assim definido, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT): “[...] a forma de trabalho efetuada em lugar distante do escritório central e/ou do centro de produção, que permita a separação física e que implique o uso de uma nova tecnologia facilitadora da comunicação”.[22: DARCANCHY, Mara Vidigal. Teletrabalho para pessoas portadoras de necessidades especiais. São Paulo: LTr, 2006. p. 40.]
Fruto da moderna tecnologia, o teletrabalho é realizado no domicílio do trabalhador, ou em centros satélites distantes do estabelecimento patronal, em contato com este, ou em outro lugar, de forma a transcender os limites territoriais, podendo ser transregional, transnacional e transcontinental. Pode ser executado por trabalhadores de diferentes qualificações, que fazem uso de informática ou da telecomunicação, para exercerem suas atividades.[23: BARROS, Alice Monteiro de. Contratos e regulamentações especiais de trabalho: peculiaridades, aspectos controvertidos e tendências. 5. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2012. p. 460.]
Além de possibilitar o alcance extraterritorial, por meio das Tecnologias da Informação e da Comunicação, exerce importante função, ao inserir trabalhadores que não estão nos grandes centros urbanos, visto que pode ocorrer nas áreas rurais e urbanas. Sendo assim, se configura como uma fonte geradora de empregos, atingindo até trabalhadores que estão fora do mercado de trabalho.[24: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p. 16.]
Não existe, ainda, na doutrina, um consenso sobre o conceitode teletrabalho, pois, existem divergências se é uma espécie de trabalho em domicílio ou de trabalho a distância e quanto aos seus requisitos essenciais. Entretanto, a maioria dos doutrinadores considera que se trata de uma evolução do trabalho em domicílio. Apesar de semelhantes, se diferenciam por ser necessário, no caso do teletrabalho, fazer uso de recursos tecnológicos e meios telemáticos, para ser realizado.[25: DARCANCHY, Mara Vidigal. Teletrabalho para pessoas portadoras de necessidades especiais. São Paulo: LTr, 2006. p. 39.]
Nesse sentido, Christian Marcello Mañas faz importante observação, a respeito do teletrabalho:
Normalmente o termo ‘teletrabalho’ tem sido empregado para expressar situações que não refletem adequadamente o fenômeno. Equivocam-se aqueles que afirmam que se trata simplesmente de trabalho em domicílio, pois em que pese muitas vezes tal mister ser realizado na residência do empregado, o mesmo pode ser realizado em telecentros ou mesmo de forma nômade, podendo o trabalhador laborar alguns dias da semana em casa e, outros, na empresa; além do que, há um diferencial que é a utilização de tecnologia das telecomunicações e informática. (grifo do autor).[26: MAÑAS, Christian Marcello. A externalização da atividade produtiva: o impacto do teletrabalho na nova ordem socioeconômica. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, v. 39, n. 0, p. 130, 2003. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/viewArticle/ 1750>. Acesso em: 23 out. 2016.]
Sérgio Pinto Martins entende que o trabalho a distância é considerado gênero que abrange o trabalho em domicílio e o teletrabalho. Além disso, refere que o trabalho a distância é considerado uma espécie de flexibilização da relação de emprego, uma vez que as tarefas são prestadas fora do âmbito da empresa.[27: MARTINS, Sérgio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.81.]
Em contrapartida, Alice Monteiro de Barros explica que, no seu entendimento, o teletrabalho não deriva do trabalho a domicílio; é fruto da moderna tecnologia, a qual subverte a relação de trabalho clássica, gerando novos tipos de atividades descentralizadas.[28: BARROS, Alice Monteiro de. Contratos e regulamentações especiais de trabalho: peculiaridades, aspectos controvertidos e tendências. 5. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2012. p. 460]
O teletrabalho distingue-se do trabalho a domicílio tradicional não só por implicar, em geral, a realização de tarefas mais complexas do que as manuais, mas também porque abrange setores diversos como: tratamento, transmissão e acumulação de informação; atividade de investigação; secretariado, consultoria, assistência técnica e auditoria; gestão de recursos, vendas e operações mercantis em geral; desenho, jornalismo, digitação, redação, edição, contabilidade, tradução, além da utilização de novas tecnologias, como informática e telecomunicações, afetas ao setor terciário.[29: BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 5. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2009. p. 327.]
Jack M. Nilles define o teletrabalho como o substituto, através das telecomunicações e/ou da informática, do trajeto de ida e volta do local de trabalho. O trabalho é executado, geralmente, no domicílio do trabalhador, distante do local onde se aguarda o resultado, porém, para que seja considerado como tal, é necessário que sejam utilizadas técnicas da informática e/ou das telecomunicações.[30: NILLES, Jack M. Fazendo do teletrabalho uma realidade: um guia para telegerentes e teletrabalhadores. São Paulo: Futura, 1997. p. 135.][31: BRANDOLINO, Enrique Ricardo. Teletrabalho In: VARGAS, Luiz Alberto de; FRAGA, Ricardo Carvalho (Coord.). Avanços e possibilidades do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2005. p. 139.]
Embora semelhantes, o teletrabalho apresenta, como diferencial do trabalho realizado a distância, a ênfase no emprego de recursos de informática e de comunicação.[32: GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 230.]
Assim, o trabalho se desenvolve com uso de tecnologia moderna, sendo prestado à distância, enviado de uma sede ou de uma cidade para outra, sem exigir a presença física do trabalhador na empresa. Tem como proposta ser uma nova forma de laborar, em resposta ao avanço tecnológico, viabilizando que o serviço seja realizado a distância, com a utilização de equipamentos de comunicação e de tecnologia. Não será, necessariamente, prestado no domicílio do empregado, embora, na maioria das vezes, ocorra na casa do prestador do serviço.[33: NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 37. ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 139.][34: DARCANCHY, Mara Vidigal. Teletrabalho para pessoas portadoras de necessidades especiais. São Paulo: LTr, 2006. p. 39.]
De acordo com os ensinamentos de Denise Pires Fincato, acerca do instituto teletrabalho, conclui-se que:
Por ele, empregado e patrão não ocupam o mesmo espaço físico (e às vezes têm entre si até mesmo diferenças temporais – fuso horário), mas podem estar interligados, de maneira síncrona, via tecnologia (internet, webcams, etc.). O uso desta (a tecnologia), aliás, é a nota de toque do teletrabalho: sem ela, não há teletrabalho, em qualquer de suas modalidades.[35: FINCATO, Denise Pires. Acidente do trabalho e teletrabalho: novos desafios à dignidade do trabalhador. Direitos Fundamentais e Justiça, Porto Alegre, v. 2, n. 4, 2008, p. 147. Disponível em: <http://www.dfj.inf.br/Arquivos/PDF_Livre/4_Doutrina_7.pdf>. Acesso em: 23 out. 2016.]
O trabalho é executado a distância, mas, não necessariamente em casa, a domicílio; é aquele que ocorre de forma descentralizada, podendo ser realizado em diversos locais, como telecentros, centro satélite e, inclusive, no domicílio.[36: LOTTERMANN, Daniela Rodrigues. A parassubordinação no teletrabalho. Disponível em: <http://www.telework2010.tic.org.ar/papers/6RODRIGUEZ%20LOTTERMAN%20PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 23 out. 2016.]
Denise Pires Fincato conceitua o instituto como “[...] modalidade de trabalho, a partir da qual alguém presta serviços por meio das ferramentas de comunicação e informação (notoriamente internet), distante geograficamente de seu tomador de serviços”.[37: FINCATO, Denise Pires. Meio ambiente laboral e teletrabalho. In: IV CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 40.]
Segundo Carla Carrara da Silva, o teletrabalho é, principalmente, direcionado às atividades administrativas, que podem ser exercidas longe da empresa. É preciso que as tecnologias de informação e de comunicação sejam inseridas e disseminadas, com a finalidade de melhorar o funcionamento das telecomunicações do país, no intuito de estimular esta modalidade de labor. Assim:[38: JARDIM, Carla Carrara da Silva. O teletrabalho e suas atuais modalidades. São Paulo: LTr, 2003. p. 53.]
No Brasil, apesar de estar presente nos setores de ponta da economia, envolvendo profissionais geralmente qualificados, o teletrabalho, devido à pouca pesquisa, divulgação e iniciativa na implementação de projetos, não está sendo utilizado para atividades que demandam menor especialização de mão de obra, deixando de fora um grande contingente de trabalhadores pouco especializados, mas com capacidade suficiente para desenvolver algumas atividades ligadas ao teletrabalho.[39: REMIÃO, Daniela Ervis. Análise juslaboral do teletrabalho nos países do Mercosul e União Européia – e a discriminação aos teletrabalhadores. In: BARZOTTO, Luciane Cardoso (Coord.). Trabalho e igualdade: tipos de discriminação no ambiente de trabalho. Porto Alegre: Livraria do Advogado; Escola Judicial do TRT da 4ª Região, 2012. p. 325.]
Da mesma forma, é a atividade realizada pelo teletrabalhador em casa, ou na sede da empresa, longe da organização contratual, de forma que o serviço é prestado para terceiros, sob sua subordinação.[40:DARCANCHY, Mara Vidigal. Teletrabalho para pessoas portadoras de necessidades especiais. São Paulo: LTr, 2006. p. 42.]
Sérgio Torres Teixeira entende que a ideia de dependência hierárquica do trabalhador à entidade patronal é subvertida com o teletrabalho, já que a figura do estabelecimento, como espaço físico, desaparece. Nessa modalidade, assim como ocorre no trabalho em domicílio, não há um contato direto entre as partes, pois, as orientações que o telempregado segue se originam dos programas de computação dos quais se utiliza. Na prática, o empregador tem o controle sobre o telempregado, limitado a uma avaliação da sua produção, que ocorre posteriormente e, em alguns casos, acontece de forma indireta, por meio dos sistemas de telecomunicações, ocasionando a telessubordinação.[41: TEIXEIRA, 1995 apud WINTER, Vera Regina Loureiro. Teletrabalho: uma forma alternativa de emprego. São Paulo: LTr, 2005. p. 85-86.]
Para Christian Marcello Mañas, o teletrabalho se distingue das demais formas de prestação de serviços, pelas seguintes características diferenciadas: utilização de novas tecnologias, principalmente, de telecomunicações e de informática, com seus respectivos instrumentos, como telefone, secretária eletrônica, fax, dentre outros; desenvolvimento das atividades, na maioria das vezes, na residência do teletrabalhador, mas, também, em telecentros ou de forma nômade, sem haver um local específico, sendo que o teletrabalhador poderá cumprir uma parte da jornada na empresa e a outra parte distante do empregador; troca de informações constante, entre os sujeitos da relação, sem obrigar, assim, o contato direto e pessoal, visto que grande parte dos serviços prestados se executa por meio da internet ou, até mesmo, por telefone.[42: MAÑAS, Christian Marcello. A externalização da atividade produtiva: o impacto do teletrabalho na nova ordem socioeconômica. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, v. 39, n. 0, p. 129, 2003. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/ viewArticle/1750>. Acesso em: 23 out. 2016.]
Existe, na Convenção n. 177 da OIT, de 20 de junho de 1996, a previsão acerca da modalidade de trabalho a distância, a qual é denominada de trabalho em domicílio e que se aplica ao teletrabalho, conforme segue:
Artigo 1
Para os fins da presente Convenção:
O termo trabalho em domicílio refere-se ao serviço que o trabalhador em domicílio executa:
em casa ou em outros locais de escolha, diferentes do local de trabalho do empregador;
(II) em troca de pagamento;
(III) para fazer um produto ou prestar um serviço conforme especificado pelo empregador, independentemente de quem forneça os equipamentos, materiais ou outros insumos utilizados para a prestação do serviço, a menos que essa pessoa tenha o grau de autonomia e de independência econômica necessária para ser considerado um trabalhador autônomo sob as leis nacionais ou decisões judiciais;
[...]
Nesse sentido, a Convenção dispõe, em seu artigo 4º que:
1. Na medida do possível, a política nacional sobre o trabalho em domicílio deve promover igualdade de tratamento entre trabalhadores domésticos e outros assalariados, tendo em conta as características específicas do trabalho em domicílio e, se for o caso, condições aplicáveis a um tipo de trabalho idêntico ou semelhante realizado em uma empresa.
2. A igualdade de tratamento deve ser promovida, em particular quanto:
aos direitos dos trabalhadores em domicílio de formar ou filiar-se de organizações de sua escolha e participar de suas atividades;
a proteção contra a discriminação no emprego e na ocupação;
a proteção da segurança e saúde no trabalho;
a remuneração;
a proteção da segurança social para os trabalhadores;
o acesso à formação;
a idade mínima para admissão no emprego ou trabalho;
a proteção da maternidade. (tradução nossa).[43: ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL DEL TRABAJO – OIT. C177 - Convenio sobre el trabajo a domicilio, 1996 (núm. 177). Convenio sobre el trabajo a domicilio (Entrada en vigor: 22 abril 2000). Ginebra, 1996. Disponível em: <http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=1000:12100:0:: NO:: P12100_INSTRUMENT_ID:312322>. Acesso em: 23 out. 2016 ]
Embora a Convenção da Organização Internacional do Trabalho – OIT – seja aplicável ao teletrabalho, o Brasil ainda não a ratificou. Cabe ressaltar que é acompanhada pela Recomendação 184, a qual determina que as condições de segurança e de saúde no trabalho devem ser garantidas, sendo necessário nomear autoridades incumbidas de definir a política nacional, com relação ao trabalho em domicílio.[44: LOTTERMANN, Daniela Rodrigues. A parassubordinação no teletrabalho. Disponível em: <http://www.telework2010.tic.org.ar/papers/6RODRIGUEZ%20LOTTERMAN%20PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 23 out. 2016.]
Apesar de não estarem atualizadas, seguem as estatísticas referentes ao ano de 2008, disponibilizadas na página da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividade (SOBRATT):
A partir de dados gerais sobre o acesso dos brasileiros a computadores e a Internet levantados por diferentes pesquisas de diferentes instituições (PNAD/IBGE, TIC Domicílios, TIC Empresas, Painel IBOPE/NetRatings), a SOBRATT tem realizado alguns cruzamentos que permitem fazer uma estimativa também genérica de que o Brasil, hoje (2008), conta com aproximadamente 10 milhões e seiscentos mil teletrabalhadores.
Essa estimativa não diferencia regiões ou estados do país, e inclui todos os setores e áreas, bem como todos os tipos de teletrabalhadores: formais, informais, empregados ou por conta própria, autônomos, liberais, em tempo integral, parcial, complementar e eventual, numa ampla faixa etária que vai dos 18 aos 60 anos, com utilização de acesso à Internet de 1 vez por semana a 1 vez por dia, considerando-se a utilização de desktops, notebooks, handhelds, smartphones, com acesso discado e/ou banda larga, para trabalhos completos ou atividades parciais. Ou seja, são cerca de 5% da população brasileira, sem considerar regiões específicas.
No mês de junho deste ano, o instituto Market Analysis divulgou dados da pesquisa realizada sobre teletrabalhadores no Brasil que apontam que pelo menos 23,2% da população adulta em atividade no país (cerca de um em cada quatro brasileiros) adota ao longo do mês alguma forma de teletrabalho, sendo que, entre todos, o trabalho em casa é a modalidade mais comum (52%). (grifo nosso).[45: SOCIEDADE BRASILEIRA DE TELETRABALHO E TELEATIIVIDADES – SOBRATT. Quantos teletrabalhadores há no Brasil? São Paulo, 2008, Disponível em: <http://www. sobratt.org.br/faq.html#p10>. Acesso em: 05 nov. 2016. Texto postado no hiperlink FAQ.]
O Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (CETIC) realizou uma pesquisa, com cinco mil empresas, entre setembro e dezembro de 2010, em que
[...] mapeou o acesso remoto dos trabalhadores aos computadores da empresa, e das 4.857 empresas que responderam a esse item da pesquisa, os percentuais mais elevados foram obtidos por aquelas empresas com maior número de empregados. Segundo apurado, em 2010, entre as empresas com número igual ou superior a 250 empregados, 58% informaram disponibilizar acesso remoto, com destaque para os empreendimentos nas áreas de atividades imobiliárias, atividades profissionais, científicas e técnicas; atividades administrativas e serviços complementares.[46: SILVA, Rosane Leal da. Cyberbullying e teletrabalho. In: IV CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 197-198.]
Assim, é possível concluir que, apesar de recente, os números comprovam a importância dessa modalidade de trabalho; eis que muitos trabalhadores – por diversos motivos – estão adotando o teletrabalho, no seu cotidiano.
O teletrabalho tornou-se uma atividade cada vez mais presente, em todo o mundo, conforme demonstra a pesquisa realizada pela Ipsos Global Public Affairs, em que 11.383 profissionais de vinte e quatro países foram entrevistados.O resultado final revelou que um de cada cinco trabalhadores mundiais, principalmente na América Latina, no Oriente Médio e na Ásia, trabalha a distância. Nos Estados Unidos, 18% da força de trabalho é formada por teletrabalhadores.[47: MENDES, Tânia. Senhores de seu tempo. Revista Brasileira de Administração, Brasília, DF, ano 21, n. 90, p. 18, out. 2012.]
Dessa forma, o teletrabalho tende a se tornar uma opção, para vários tipos de empresas e uma importante possibilidade, para grandes centros urbanos, com problemas de poluição e de engarrafamento.[48: DARCANCHY, Mara Vidigal. Teletrabalho para pessoas portadoras de necessidades especiais. São Paulo: LTr, 2006. p. 49.]
Alguns fatores, tais como a descentralização laborativa, a globalização e a tecnologia, favorecem a criação de novos cargos, em que não é necessário haver maior controle, em relação ao trabalhador. Nessa perspectiva, o teletrabalho, por ser uma forma laborativa em expansão mundial, exige, da legislação trabalhista brasileira, adequações iminentes.[49: VILLATORE, Marco Antônio César; DUTRA, Silvia Regina Bandeira. Controle de horário no teletrabalho – Análises jurídicas, sociais e econômicas. In: IV CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 150.]
Embora o Brasil não tenha ratificado a Convenção n. 177 da OIT e não exista, em seu ordenamento jurídico, uma legislação específica para regulamentar o teletrabalho, a Lei nº 12.551, de 15 de dezembro de 2011, veio ao encontro dos interesses dessa nova modalidade de prestação, uma vez que alterou e acrescentou o parágrafo único ao artigo 6º da CLT, que preconiza:
Art. 6º Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego. (Redação dada pela Lei n. 12.551, de 2011)
Parágrafo único. Os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio. (Incluído pela Lei nº 12.551, de 2011). (grifo do autor).[50: BRASIL. Decreto-Lei nº 5.542, 01 de maio de 1943 [CLT]. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452 compilado.htm>. Acesso em 05 nov. 2016.]
O art. 7º, inciso XXVII, da Constituição Federal, refere que deve existir, com relação aos trabalhadores, a “[...] proteção em face da automação, na forma da lei”. Assim, tendo em vista o caráter inovador do teletrabalho, é preciso regulamentar esse tipo de relação. Essa indicação da Constituição de 1988, acerca da necessidade de leis específicas sobre temas relacionados à proteção, em face da automação, motivou o Projeto de Lei nº 4.505/08, de autoria do deputado Luiz Paulo Velloso Lucas, com vistas a regulamentar a matéria.[51: BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 10 nov. 2016.][52: LUCAS, Luiz Paulo Velloso. Projeto de Lei nº de 16 de dezembro de 2008. Regulamenta o trabalho a distância, conceitua e disciplina as relações de teletrabalho e dá outras providências.p.4. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrar integra;jsessionid= 3ECB9969A1FAC09A9B239ABCB13E275.node2?codteor=631003&filename=Avulso+PL+4505/2008>. Acesso em: 05 nov. 2016.]
O artigo 1º do Projeto de Lei nº 4.505/08 entende como teletrabalho:
[...] todas as formas de trabalho desenvolvidas sob controle de um empregador ou para um cliente, por um empregado ou trabalhador autônomo de forma regular e por uma cota superior a quarenta por cento do tempo de trabalho em um ou mais lugares diversos do local de trabalho regular, sendo utilizadas para realização das atividades laborativas tecnologias informáticas e de telecomunicações.[53: LUCAS, Luiz Paulo Velloso. Projeto de Lei nº de 16 de dezembro de 2008. Regulamenta o trabalho a distância, conceitua e disciplina as relações de teletrabalho e dá outras providências.p.4. Disponível em:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=3ECB9 969A1FAC09A9B239ABCB13E275.node2?codteor=631003&filename=Avulso+PL+4505/2008>. Acesso em: 05 nov. 2016.]
Para que haja teletrabalho, por conseguinte, é necessária a utilização de meios telemáticos, ou seja, de recursos de informática e de telecomunicação que permitam tanto o contato do teletrabalhador com a empresa, como o exercício do poder de direção do empresário, de forma a propiciar a descentralização da atividade laboral e a diversificação do lugar de trabalho.[54: REMIÃO, Daniela Ervis. Análise juslaboral do teletrabalho nos países do Mercosul e União Européia – e a discriminação aos teletrabalhadores. In: BARZOTTO, Luciane Cardoso (Coord.). Trabalho e igualdade: tipos de discriminação no ambiente de trabalho. Porto Alegre: Livraria do Advogado; Escola Judicial do TRT da 4ª Região, 2012. p. 325.]
No teletrabalho, a atividade é executada fora do perímetro em que os resultados são esperados e não há um controle físico da execução da função por aquele que ordena; assim, o controle é realizado por resultados. As atividades precisam de computadores e outros meios de informática e de telecomunicação, para serem desenvolvidas.[55: BRAMANTE, Ivani Contini. Teledireção, telessubordinação e teledisposição. Revista LTr, São Paulo, ano 76, n. 04, p. 395-396, abril 2012.]
Manuel Martín Pino Estrada explica o que não significa teletrabalho, buscando esclarecer e definir de que forma o trabalho é realizado:
Teletrabalho não significa informática. O trabalhador que, em vez de trabalhar no escritório, põe os trabalhos na pasta, leva-os para casa e estuda, executa para todos os efeitos um trabalho à (sic) distância. Quando sente a exigência ou necessidade de consultar os chefes, colegas, a secretaria, pode sempre recorrer ao telefone ou à rede de telecomunicações. Quando é preciso que os trabalhos feitos em casa cheguem ao escritório, basta um fax ou uma mensagem de correio eletrônico. A telecomunicação, portanto, não é mais do que um suporte extra à disposição do progresso tecnológico, às vezes supérfluo, muitas vezes útil, e em alguns casos torna-se indispensável.[56: ESTRADA, Manuel Martín Pino. Panorama juslaboral do teletrabalho no Brasil, na OIT, Venezuela e Espanha, Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, ano 32, n. 123, p. 102, jul.-set. 2006.]
Como visto, é imprescindível a utilização das telecomunicações e da informática, que, ao serem unidas, deram origem à telemática, que trata da comunicação realizada a distância, por um grupo de “[...] serviços informatizados fornecidos através de uma rede de comunicações”.[57: LUCAS, Luiz Paulo Velloso. Projeto de Lei nº de 16 de dezembro de 2008. Regulamenta o trabalho a distância, conceitua e disciplina as relações de teletrabalho e dá outras providências. p. 5. Disponível em: <http://www.camara.gov. br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsession id=3ECBF9969A1FAC09A9B239ABCB13E275.node2?codteor=631003&filename=Avulso+PL+4505 /2008>. Acesso em: 05 nov. 2016.]
Esse tipo de comunicação possibilita processar, compreender e armazenar grandes quantidades de dados, de diferentes formatos, em um curto espaço de tempo, podendo ocorrer entre usuários, em diferentes locais do mundo.[58: LUCAS, Luiz Paulo Velloso. Projeto de Lei nº de 16 de dezembro de 2008. Regulamenta o trabalho a distância, conceitua e disciplina as relações de teletrabalho e dá outras providências. p. 5. Disponível em: <http://www.camara.gov. br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsession id=3ECBF9969A1FAC09A9B239ABCB13E275.node2?codteor=631003&filename=Avulso+PL+4505 /2008>. Acesso em: 05 nov. 2016.]
Assim, a telemática pode ser entendida como a área do conhecimento capaz de reunir um grupoe o produto dos elementos combinados de tecnologias, que se associam “[...] à eletrônica, informática e telecomunicações aplicadas aos sistemas de comunicação e sistemas embarcados [...]”. Sua característica é estudar as técnicas que gerem, tratem e transmitam informações, de forma a manter suas particularidades, porém, mostrando produtos novos, que são derivados destas técnicas.[59: LUCAS, Luiz Paulo Velloso. Projeto de Lei nº de 16 de dezembro de 2008. Regulamenta o trabalho a distância, conceitua e disciplina as relações de teletrabalho e dá outras providências. p. 5. Disponível em: <http://www.camara.gov. br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsession id=3ECBF9969A1FAC09A9B239ABCB13E275.node2?codteor=631003&filename=Avulso+PL+4505 /2008>. Acesso em: 05 nov. 2016.][60: LUCAS, Luiz Paulo Velloso. Projeto de Lei nº de 16 de dezembro de 2008. Regulamenta o trabalho a distância, conceitua e disciplina as relações de teletrabalho e dá outras providências. p. 5. Disponível em: <http://www.camara.gov. br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsession id=3ECBF9969A1FAC09A9B239ABCB13E275.node2?codteor=631003&filename=Avulso+PL+4505 /2008>. Acesso em: 05 nov. 2016.]
Além disso, a comunicação digital e a tecnologia das comunicações, possibilitam que, cada vez mais, novos serviços sejam oferecidos a usuários comerciais e residenciais, como por exemplo, identificação de chamadas, discagem automática, serviços bancários eletrônicos, videoconferência, dentre outros que já existem, além dos que surgem, constantemente.[61: NILLES, Jack M. Fazendo do teletrabalho uma realidade: um guia para telegerentes e teletrabalhadores. São Paulo: Futura, 1997. p. 25.]
Sob essa perspectiva, é comum encontrar muitos tipos de trabalhos que estão ligados à informação e que precisam, para viabilizar o teletrabalho, de um ou de alguns desses serviços de telecomunicação. Assim, a cada novo acréscimo realizado na tecnologia, seguido de uma nova redução no custo da tecnologia, há o estímulo para que surja mais teletrabalho e, consequentemente, mais teletrabalhadores.[62: NILLES, Jack M. Fazendo do teletrabalho uma realidade: um guia para telegerentes e teletrabalhadores. São Paulo: Futura, 1997. p. 26.]
2.3 MODALIDADES DE TELETRABALHO 
É importante ressaltar que algumas empresas não podem utilizar o teletrabalho, pois: 
[...] possuem como atividade-fim as denominadas ‘personalíssimas’, com manipulação direta da força física do trabalhador, como cabeleireiro, oficina mecânica, confeitaria, rede hoteleira, posto de combustível, transporte de mercadorias, dentre outras, que impossibilitam a realização das tarefas a distância. [63: VILLATORE, Marco Antônio César; DUTRA, Silvia Regina Bandeira. Controle de horário no teletrabalho – Análises jurídicas, sociais e econômicas. In: IV CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 156. ]
Mas, com a constante expansão tecnológica no mercado mundial, cada vez mais as relações de trabalho tradicionais dão espaço a novas modalidades de prestação de serviço resultantes da prática do teletrabalho. 
Assim, os doutrinadores referem diferentes classificações ou formas de teletrabalho. No entanto, Márcia Regina Pozelli Hernandez, baseada em um estudo da OIT, realizado no ano de 1990, classifica o teletrabalho em quatro modalidades, que são: o teletrabalho em domicílio, o teletrabalho em telecentros, o teletrabalho nômade e o teletrabalho transnacional. [64: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011.]
2.3.1 Teletrabalho em domicílio 
Esta modalidade é a forma mais genuína de teletrabalho e possibilita ao trabalhador a execução das suas atividades em sua residência, ou em qualquer local de sua preferência, tornando desnecessário o seu deslocamento até o escritório ou ao centro de trabalho da empresa. [65: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p.38. ]
É o trabalho praticado na residência do trabalhador, que permanece ligado a uma base de dados, trabalha em sua casa e comunica-se com o escritório, por meio de fax ou de computador. Neste sentido, é a jurisprudência: [66: PINEL, Maria de Fátima de Lima. Teletrabalho: o trabalho na era digital. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Disponível em: <http://www.teletrabalhador.com/ conceituacao.html>. Acesso em: 22 jan 2017. ]
EMENTA: RELAÇÃO DE EMPREGO. A prestação de serviços na residência do empregado não constitui empecilho ao reconhecimento da relação de emprego, quando presentes os pressupostos exigidos pelo artigo 3º da CLT, visto que a hipótese apenas evidencia trabalho em domicílio. Aliás, considerando que a empresa forneceu equipamentos para o desenvolvimento da atividade, como linha telefônica, computador, impressora e móveis, considero caracterizada hipótese de teletrabalho, visto que o ajuste envolvia execução de atividade especializada com o auxílio da informática e da telecomunicação. (grifo nosso). [67: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (3. Região). Recurso Ordinário nº 00977-2009-129-03-007, 7ª Turma. Recorrente: Fernanda de Souza Fonseca. Recorrido: Ouro Minas Turismo Ltda. Relator: Des. Jesse Claudio Franco de Alencar. Belo Horizonte, 19 de novembro de 2009. Disponível em: <https://as1.trt3.jus.br/juris/consultaBaseSelecionada.htm;jsessionid=2931E69356 78F7102DE8ABFB18351DB6>. Acesso em: 22 jan. 2017. ]
O teletrabalhador instala, em um local de sua residência, uma estação de trabalho, para acessar os meios de comunicação, utilizando uma estrutura própria ou cedida pela empresa, para prestar os serviços contratados. Esse também é o entendimento da Terceira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, conforme ementa que segue: [68: FINCATO, Denise Pires. Meio ambiente laboral e teletrabalho. In: IV CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 41. ]
	CONTRATO 	DE 	EMPREGO. 	TRABALHO 	NO 	DOMICÍLIO. 
TELETRABALHO. É empregado e não trabalhador autônomo o técnico em contabilidade que trabalha, com habitualidade e mediante remuneração, em seu próprio domicílio (teletrabalho) e nos estabelecimentos da empresa. [69: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (8. Região). Recurso Ordinário nº 0120400-41.2001.5. 08.105, 3ª Turma. Recorrente: Alberto Aldir de Moraes Castro. Recorrido: Loja Jomóveis Ltda. Relator: Des. José Maria Quadros de Alencar. Belém, 24 de abril de 2002. Disponível em: <http://www.trt8.jus.br/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=338>. Acesso em: 22 jan. 2017. ]
Destarte, é necessário que o teletrabalhador tenha, em seu domicílio, determinada área, que será considerada seu local de trabalho, no qual devem ficar todos os equipamentos e os acessórios necessários para executar suas atividades. [70: NILLES, Jack M. Fazendo do teletrabalho uma realidade: um guia para telegerentes e teletrabalhadores. São Paulo: Futura, 1997. p. 27. ]
No entanto, essa modalidade não pode ser adotada para todas as tarefas; somente para aquelas que podem ser descentralizadas, por razões técnicas, organizacionais e humanas. Pode ser limitado a alguns dias da semana, ou ainda, algumas semanas, por mês. Álvaro Mello conclui que: [71: ESTRADA, Manuel Martín Pino. Panorama juslaboral do teletrabalho no Brasil, na OIT, Venezuela e Espanha, Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, ano 32, n. 123, p. 102, jul.-set. 2006. ]
Existe diferença fundamental entre o trabalho no domicílio e o Teletrabalho no domicílio. O trabalho no domicílio pode ser entendido como a produção de bens ou serviços realizada em local não vinculado à empresa empregadora ou ao contratante. 
[...] 
Já o Teletrabalho no domicílio ocorre quando o empregado ou empregador trabalha em sua residência, pelo menos uma vez por semana,ao invés de se deslocar para a sede da empresa para a qual presta serviços. [72: MELLO, Alvaro. Desmistificando o trabalho virtual (teletrabalho) no Brasil. In: IV CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011,p. 30. ]
Há, ainda, a opção do teletrabalho alternativo, adotado pela maioria das empresas em que os empregados, pela sua atividade, precisam se deslocar constantemente. Nesses casos, o trabalho é realizado, em parte do tempo, no domicílio e o restante da jornada no escritório, sendo, assim, possível conciliar a comunicação entre a empresa e o empregado. [73: BRANDOLINO, Enrique Ricardo. Teletrabalho In: VARGAS, Luiz Alberto de; FRAGA, Ricardo Carvalho (Coord.). Avanços e possibilidades do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2005. p. 141. ]
O teletrabalho alternativo foi demonstrado, em recente julgamento do Tribunal do Trabalho da 2ª Região: 
01. CARGO DE CONFIANÇA. NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO SUPERIOR PARA A CONCRETIZAÇÃO DO PODER DISCIPLINAR. DESCONFIGURAÇÃO. O poder que não pode ser exercido é um poder inexistente. Neste sentido, os depoimentos são concordes em dizer que o autor não usava deste poder de demitir e admitir. Pelo contrário, as decisões eram tomadas em conjunto com a gerência. As funções descritas pelas testemunhas não nos parecem suficientes para caracterizar aquela fidúcia legalmente prevista, apta a afastar o controle de jornada. O Reclamante não tinha poderes de mando e gestão, mas mera liderança sobre um setor específico da empresa. É menos do que a lei requer. No que tange ao Teletrabalho, não obstante as precisas colocações do prolator da sentença, não nos parece suficiente para configurar o alegado cargo de confiança. O fato de o trabalhador realizar suas tarefas também de casa, especialmente no presente caso, evidencia mais a sobrejornada do Reclamante que a especial confiança que lhe era depositada. A farta documentação juntada, especialmente a comunicação eletrônica havida entre Autor e Ré, emprestam veracidade à jornada descrita na petição inicial. Em outras palavras, é nítido que o autor atuava em dupla jornada: Na sede da empresa e em sua residência. Por tal razão, o número de horas extras mensais indicado na inicial é bastante coerente (45 horas). (grifo nosso). [74: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (2. Região). Recurso Ordinário nº 026480043.2009.5. 02.0071, 12ª Turma. Recorrente: Orlando Silveira Filho. Recorrido: HP-Hewlett Packard Brasil LTDA. Relator: Des. Francisco Ferreira Jorge Neto. São Paulo, DF, 24 de agosto de 2012. Disponível em: <http://www.trtsp.jus.br/Geral/Consulta/Jurisprudencia/Ementas/ 020120949991. html>. Acesso em: 22 jan. 2017. ]
Caracteriza-se pelo trabalho em domicílio, todavia, com uma nova roupagem, que exige profissionais mais qualificados e novos modos de organização e de conexão com a empresa. [75: JARDIM, Carla Carrara da Silva. O teletrabalho e suas atuais modalidades. São Paulo: LTr, 2003. p. 56.]
2.3.2 Teletrabalho em centros de teletrabalho ou telecentros 
O serviço é prestado em locais de trabalho situados fora da sede central da empresa, em que são disponibilizados recursos e instalações de informática e de telecomunicações necessárias à realização das atividades. Assim, o teletrabalhador se desloca ao centro que foi preparado para o desenvolvimento do trabalho e, para aproximar o local ao trabalhador, são construídos nas periferias das grandes cidades e nas zonas rurais. São unidades situadas distantes da empresa, mas, em conexão eletrônica permanente com ela e que “Caracterizam-se pela deslocalização da mão-de-obra (sic) assalariada do interior da empresa para pequenas unidades”. [76: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p.38.][77: JARDIM, Carla Carrara da Silva. O teletrabalho e suas atuais modalidades. São Paulo: LTr, 2003. p. 56. ]
Os telecentros dividem-se em três modalidades, quais sejam: os telecentros satélites, telecabanas e telecottage, ou centros compartilhados ou comunitários. 
2.3.2.1 telecentros satélites 
Estas unidades localizam-se geograficamente distantes da sede da empresa, porém, em conexão eletrônica permanente com a referida. Sua característica principal é que a mão de obra assalariada é deslocada do interior da empresa, para pequenas unidades. [78: JARDIM, Carla Carrara da Silva. O teletrabalho e suas atuais modalidades. São Paulo: LTr, 2003. p. 56-57. ]
Trata-se de uma modalidade específica de telecentro, em que há uma unidade separada da sede principal, entretanto, em comunicação contínua. São localizados em pontos de fácil acesso, em que o trabalhador se dirige de seu domicílio ao centro, sem necessidade de deslocamento até a empresa central. A implantação destes centros visa harmonizar a geografia da cidade com a localização das residências dos teletrabalhadores. [79: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p.38-39. ]
Maria de Fátima de Lima Pinel apresenta, em seu livro, um exemplo de telecentros satélites: 
[...] empresa americana, com sede em Los Angeles, transferiu seu pessoal de escritório, que trabalhava na matriz, para uma operação satélite. Estes centros se diferem dos escritórios tradicionais, pois existe uma preocupação com a localização das residências dos seus TeleTrabalhadores, que trabalham juntos, não porque exercem uma mesma função dentro da Empresa e, sim, porque moram próximos. (grifo nosso). [80: PINEL, Maria de Fátima de Lima. Teletrabalho: o trabalho na era digital. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Disponível em: <http://www.teletrabalhador. com/conceituacao.html>. Acesso em: 22 jan 2017. ]
Neste caso, as empresas utilizam um edifício de escritórios, inteiramente pertencente à uma organização, muito semelhante a um conjunto de escritórios, em que seus funcionários comparecem para trabalhar. No entanto, existe uma diferença entre esse modelo e o tradicional, uma vez que os teletrabalhadores dos escritórios satélites - independentemente dos cargos que ocupam - residem mais próximos destes locais, do que do local de trabalho usual ou principal. [81: NILLES, Jack M. Fazendo do teletrabalho uma realidade: um guia para telegerentes e teletrabalhadores. São Paulo: Futura, 1997. p. 28.]
Os telecentros são locais de trabalho, geralmente compartilhados entre pequenas empresas, que se organizam com instalações específicas e adequadas para essa forma de atividade. São localizados entre o domicílio de seus empregados e a sede principal da empresa. [82: ESTRADA, Manuel Martín Pino. Panorama juslaboral do teletrabalho no Brasil, na OIT, Venezuela e Espanha, Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, ano 32, n. 123, p. 104, jul.-set. 2006. ]
Assim, Denise Pires Fincato explica que
[...] seriam locais de trabalho pertencentes a uma empresa, não consistentes em uma matriz, tampouco em filiais. Não possuem estrutura organizacional (não há pessoal organizado em hierarquia, subordinados e chefias, v.g.), mas pertencem e são explorados unicamente por uma empresa. Seria o local para recebimento e transmissão das informações, por exemplo, de todos os teletrabalhadores de uma empresa, em determinada região. [83: FINCATO, Denise Pires. Meio ambiente laboral e teletrabalho. In: IV CONGRESSO IBEROAMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 41.]
Os telecentros satélites abrigam pessoas que trabalham para o mesmo empregador. Trata-se, portanto, de uma forma de descentralização. [84: PINEL, Maria de Fátima de Lima. Teletrabalho: o trabalho na era digital. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Disponível em: <http://www.teletrabalhador. com/conceituacao.html>.Acesso em: 22 jan 2017. ]
2.3.2.2 telecabanas 
Referem-se às empresas de médio e de grande porte que, individualmente ou em grupo, inauguram centros tecnologicamente avançados de emissão de faturas, de preenchimento de dados e de cartões de crédito, em regiões com mão de obra disponível e salários mais baixos, além de os valores de imóveis e da terra serem mais baratos. Isso ocorre, por exemplo, em áreas rurais carentes de empregos e em locais bem distantes das empresas. [85: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p.39. ]
Essas empresas utilizam este meio para alcançar uma força de trabalho que, de outra forma, não seria contatada. Dentre suas finalidades, ressaltam-se a sua utilização para áreas rurais carentes de empregos, para gerar novos empregos, onde é necessário e para aproveitar o valor mais baixo da mão de obra e da moradia para os empregados. [86: PINEL, Maria de Fátima de Lima. Teletrabalho: o trabalho na era digital. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Disponível em: <http://www.teletrabalhador. com/conceituacao.html>. Acesso em: 22 jan 2017. ]
2.3.2.3 “telecottage” 
São escritórios equipados com conexões informáticas e de telecomunicações, que servem de apoio à coletividade. Situados em áreas periféricas ou economicamente desfavorecidas, têm por objetivo fomentar o desenvolvimento econômico. [87: BRANDOLINO, Enrique Ricardo. Teletrabalho In: VARGAS, Luiz Alberto de; FRAGA, Ricardo Carvalho (Coord.). Avanços e possibilidades do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2005. p.141. ]
Mais voltados à área rural, são criados, muitas vezes, por meio da administração pública ou da comunidade, com o objetivo de proporcionar o acesso ao trabalho, à tecnologia e ao treinamento da comunidade local. Desenvolvem-se com a aquisição de habitações, as quais são transformadas em centros, com equipamentos de comunicação e de informática. [88: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p.39. ]
Denise Pires Fincato assim explica os telecottages: 
Situados em zonas rurais ou região de menor escolaridade, quase se confundindo com os telecentros, não fosse o particular de sua localização. Mesclam iniciativa privada e pública e procuram fixar o trabalhador residente na zona rural (mas que não é um trabalhador rural) em seu espaço, atraindo a mão de obra qualificada, natural praticante do êxodo rural, para a vida interiorana. [89: FINCATO, Denise Pires. Meio Ambiente laboral e teletrabalho. In: IV CONGRESSO IBEROAMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 41. ]
Esta estrutura é criada por iniciativa da administração - pública ou da comunidade - com o intuito de facilitar o acesso ao trabalho, à tecnologia e ao treinamento da comunidade local. [90: PINEL, Maria de Fátima de Lima. Teletrabalho: o trabalho na era digital. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Disponível em: <http://www.teletrabalhador. com/conceituacao.html>. Acesso em: 22 jan 2017.]
2.3.2.4 centros compartilhados ou comunitários 
Os centros compartilhados podem agrupar diferentes empresas e profissionais autônomos, que formam parceria para estruturar e manter as instalações de trabalho remoto, exercendo suas atividades no mesmo local. Nestes centros, podem ocorrer problemas de segurança, uma vez que as informações confidenciais ficam mais vulneráveis. [91: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p. 40. ]
O trabalho é realizado em locais descentralizados, aparelhados pela própria empresa, servindo ao teletrabalhador, juntamente com uma ou mais empresas, ou ainda, organizados por empresas, que oferecem as instalações informáticas e de telecomunicações que, mediante aluguel, podem ser divididas entre vários usuários, tais como empresas e autônomos, dentre outros. [92: PEDREIRA, Pinho. O teletrabalho. Revista LTr, São Paulo, ano 64, n. 5, p. 584, maio 2000. ]
Oferecem espaço e recurso para trabalhadores, de diferentes empregadores, que, através de um acordo, mantêm as instalações de trabalho remoto. Nestes casos, o problema da segurança de informação, na Suécia, gerou a proibição da participação de duas empresas do mesmo ramo, no mesmo centro, ao mesmo tempo. [93: PINEL, Maria de Fátima de Lima. Teletrabalho: o trabalho na era digital. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Disponível em: <http://www.teletrabalhador.com/ conceituacao.html>. Acesso em: 22 jan. 2017. ]
2.3.3 Teletrabalho nômade 
O teletrabalho nômade é realizado por trabalhadores que ficam a maior parte de sua jornada de trabalho fora da empresa, mas, sem um local fixo para a prestação do trabalho. [94: WINTER, Vera Regina Loureiro. Teletrabalho: uma forma alternativa de emprego. São Paulo: LTr, 2005. p. 59. ]
Christian Marcello Mañas define o teletrabalho nômade como “[...] aquele realizado pelos trabalhadores que não possuem local fixo e apropriado e na maior parte do tempo se encontram nas ruas, assumindo a feição de atividade itinerante”. [95: MAÑAS, Christian Marcello. A externalização da atividade produtiva: o impacto do teletrabalho na nova ordem socioeconômica. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, v. 39, n. 0, p. 130, 2003. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/viewArticle/1750>. Acesso em: 22 jan. 2017. ]
Os trabalhadores conseguem desempenhar suas funções, sem que exista uma localidade específica, em que “[...] laboram por um curto espaço de tempo em outras empresas a quem não estão subordinados, é o caso dos teletrabalhadores que implantam e supervisionam tecnologia ou mesmo certificam qualidade”. [96: LOTTERMANN, Daniela Rodrigues. A parassubordinação no teletrabalho. Disponível em: <http://www.telework2010.tic.org.ar/papers/6RODRIGUEZ%20LOTTERMAN%20PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2017. ]
Não há um local determinado para que o trabalhador preste seus serviços. Entretanto, são disponibilizados equipamentos telemáticos, os quais permitem que as atividades sejam executadas em qualquer lugar do mundo. Esta modalidade possui como subespécies, o trabalho em escritórios virtuais, o hoteling, o trabalho móvel e os escritórios turísticos. [97: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p. 40. ]
2.3.3.1 escritórios virtuais 
Possuem recursos telemáticos e colocam à disposição do trabalhador a estrutura lógica de um escritório, que pode ser fixo ou móvel. [98: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p. 40. ]
2.3.3.2 escritórios turísticos 
Utilizados, principalmente, por empresas japonesas e canadenses, localizam-se em áreas destinadas às férias. Estrategicamente instalados em áreas turísticas, são utilizados para abrigar profissionais por duas a quatro semanas. As atividades são misturadas com recreação. [99: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p. 40. ][100: PINEL, Maria de Fátima de Lima. Teletrabalho: o trabalho na era digital. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Disponível em: <http://www.teletrabalhador. com/conceituacao.html>. Acesso em: 22 jan. 2017.]
2.3.3.3 “hoteling” 
Neste caso, o teletrabalho é executado com a ideia de reserva de um quarto em hotel, ou seja, os empregadoslocam um espaço na workstation de um escritório tradicional, uma mesa ou uma sala de reunião. [101: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p.40-41. ]
É muito utilizado por empresas de auditoria externa e consultoria, pois, permite que os empregados reservem espaços de um escritório tradicional. [102: PINEL, Maria de Fátima de Lima. Teletrabalho: o trabalho na era digital. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Faculdade de Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998. Disponível em: <http://www.teletrabalhador.com/ conceituacao.html>. Acesso em: 22 jan. 2017. ]
2.3.3.4 trabalho móvel 
É o trabalho realizado por recursos telemáticos móveis, tais como notebooks, telefone celular, dentre outros, em curtos períodos de tempo, em locais, muitas vezes, móveis, como, por exemplo: bicicletas, carros, hotéis e aviões. [103: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p. 41. ]
Caracteriza-se pela ausência de um local determinado, em que o teletrabalhador prestará serviços. [104: FINCATO, Denise Pires. Meio Ambiente Laboral e Teletrabalho. In: IV CONGRESSO IBEROAMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 42. ]
2.3.4 Teletrabalho transnacional 
Nesta modalidade, 
[...] o trabalho é desenvolvido em parte por trabalhadores de outros países, como a Austrália que utiliza trabalhadores das Filipinas ou Cingapura. Ocorre, com maior incidência, em países em vias de desenvolvimento, acarretando prejuízos para as relações de emprego, pois os custos salariais nesses países são menores, restando desprotegidos os trabalhadores locais em relação aos que são trazidos com a empresa que se instala. [105: WINTER, Vera Regina Loureiro. Teletrabalho: uma forma alternativa de emprego. São Paulo: LTr, 2005. p.58. ]
Possibilita que, através de ligações eletrônicas, empresas contratem serviços de processamento de dados de trabalhadores, de diferentes países. Algumas tarefas, como a programação e a análise de sistemas, a digitação e a fotocomposição, são realizadas em locais, como Índia, China, Filipinas, Jamaica e Malásia, em que os custos são menores, porém, com mão de obra bem qualificada. [106: HERNANDEZ, Márcia Regina Pozelli. Novas perspectivas das relações de trabalho: o teletrabalho. São Paulo: LTr, 2011. p. 41. ]
É possível visualizar uma hipótese de teletrabalho transnacional, na ementa da decisão, prolatada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, que segue: 
RELAÇÃO DE EMPREGO. REQUISITOS. PROVA. ÔNUS. TELETRABALHO. 1. Negada a relação de emprego, mas reconhecida a prestação pessoal e remunerada de serviços, incumbe às reclamadas o ônus da prova (art. 333, inciso II, do CPC). 2. Hipótese em que a autora, única pessoa que trabalhava para empresas estrangeiras no país, o fazia de forma subordinada. Inocuidade da circunstância da direção dos serviços ser realizada de forma remota, por meio eletrônico, porquanto o denominado teletrabalho é espécie do gênero regulado no art. 6º, da CLT. 3. Por evidenciada a presença dos pressupostos de seu art. 3º, impõe-se o reconhecimento do vínculo de emprego entre as partes, bem como as parcelas deles decorrentes. (grifo nosso). [107: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (10. Região). Recurso Ordinário nº 01321-2007-020-1000-6, 2ª Turma. Recorrente: Paula Santos de Abreu. Recorrido: Kaplan Aspect. Relator: Des. João Amílcar. Brasília, DF, 31 de março de 2009. Disponível em: <http://www.trt10.jus.br/search?q= cache:wwwdev3.trt10.jus.br/consweb/gsa_segunda_instancia.php%3Ftip_processo_trt%3DRO%26no_processo_trt%3D2009%26num_processo_trt%3D262%26num_processo_voto%3D170753%2 6dta_publicacao%3D17/04/2009%26dta_julgamento%3D31/03/2009%26embargo%3D%26tipo_pu blicacao%3DDEJT+teletrabalho&access=p&output=xml_no_dtd&client=default_frontend&proxystyl esheet=metas>. Acesso em: 23 jan. 2017. ]
Como visto, a autora laborava, de forma remota, todavia, com o controle das empresas sobre as tarefas que realizava. Nesse sentido, é a fundamentação da referida decisão: 
A submissão, às empresas, de pedidos ocasionais de afastamento, indica a efetiva direção sobre a sua força de trabalho. A ela não era dado gerir a forma de seu emprego, que estava sob o crivo permanente do tomador. Pontuo que a contratação para intermediação de negócios mercantis, visando à venda de programas e serviços educacionais para brasileiros que pretendem estudar no exterior, poderia ocorrer por meio de meros atos de mediação, que são inerentes à figura do prestador de serviços, nos moldes disciplinados pela lei civil. Mas na hipótese em exame o relacionamento entre as partes era marcado pelo controle das tarefas realizadas pela recorrente. O ponto nuclear da controvérsia, não está assentado na localidade de prestação de serviços, notadamente sob o ângulo da distância física entre os representantes das empresas e a obreira. Esse elemento, inclusive, há muito foi afastado como óbice à existência da relação de emprego, como revela o art. 6º, da CLT. (grifo nosso). [108: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (10. Região). Recurso Ordinário nº 01321-2007-020-1000-6, 2ª Turma. Recorrente: Paula Santos de Abreu. Recorrido: Kaplan Aspect. Relator: Des. João Amílcar. Brasília, DF, 31 de março de 2009. Disponível em: <http://www.trt10.jus.br/ search?q=cache:wwwdev3.trt10.jus.br/consweb/gsa_segunda_instancia.php%3Ftip_processo_trt %3DRO%26ano_processo_trt%3D2009%26num_processo_trt%3D262%26num_processo_voto%170753%26dta_publicacao%3D17/04/2009%26dta_julgamento%3D31/03/2009%26embargo% 3D%26tipo_publicacao%3DDEJT+teletrabalho&access=p&output=xml_no_dtd&client=default_fron tend&proxystylesheet=metas>. Acesso em: 23 jan. 2017. ]
Observa-se que o teletrabalho transnacional faz parte de uma nova perspectiva. É fruto de avançadas tecnologias, especialmente na área de comunicação e na ausência de fronteiras físicas. [109: FINCATO, Denise Pires. Meio ambiente laboral e teletrabalho. In: IV CONGRESSO IBEROAMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 43. ]
Neste sentido, o teletrabalho se apresenta como uma forma de tornar flexíveis o tempo e o espaço de trabalho. Possibilita, pois, de forma inovadora, um alcance extraterritorial, que atende às exigências da globalização. [110: LIMA FILHO, Francisco das Chagas. O reconhecimento legal da relação de emprego do teletrabalhador. São Paulo, 15 ago. 2012. Disponível em: <http://www.sintese.com/ doutrina_integra.asp?id=1224>. Acesso em: 23 jan. 2017. ]
Como visto, atua, ainda, como um fator de inserção de trabalhadores que estão fora de grandes centros urbanos, além de transpor barreiras, que são comuns ao mercado tradicional de trabalho, tais como a deficiência física ou o local onde o trabalhador se encontra. [111: REMIÃO, Daniela Ervis. Análise juslaboral do teletrabalho nos países do Mercosul e União Européia – e a discriminação aos teletrabalhadores. In: BARZOTTO, Luciane Cardoso (Coord.). Trabalho e igualdade: tipos de discriminação no ambiente de trabalho. Porto Alegre: Livraria do Advogado; Escola Judicial do TRT da 4ª Região, 2012. p. 330. ]
O teletrabalho é caracterizado pelos instrumentos de trabalho telemáticos, empregados para executar - dentre eles, o computador, o tablet, a webcam, as redes de área local, os satélites, os sistemas de áudio, o vídeo, o correio eletrônico, dentre outros. Assim, é indispensável fazer uso dos instrumentos da telemática, considerando-se que todo o teletrabalho precisa utilizar a tecnologia; no entanto, nem todo trabalho realizado com o uso da telemática é teletrabalho, uma vez que o uso desta não é privativo deste instituto. [112: BRAMANTE, Ivani Contini. Teledireção, telessubordinação e teledisposição. Revista LTr, São Paulo, ano 76, n. 04, p. 397, abril 2012. ]
Desta forma, observados os conceitose a importância que a tecnologia de comunicação e de informática representa no cotidiano dos teletrabalhadores, faz-se necessário analisar as peculiaridades existentes na relação de emprego destes empregados, consoante restará demonstrado, no capítulo que segue. 
 
 
3 A RELAÇÃO LABORAL NO TELETRABALHO 
Nas relações de trabalho, verifica-se que, em alguns casos, os elementos que caracterizam a relação de emprego ficam frágeis, quando estão sob influências decorrentes da inserção de tecnologias de comunicação e de informação. Entretanto, devem existir, simultaneamente. [113: FINCATO, Denise Pires. Teletrabalho: uma análise juslaboral. Justiça do Trabalho, Porto Alegre, ano 20, n. 236, ago. 2003. Disponível em: <http://www.amdjus.com.br/doutrina/trabalhista/386.htm>. Acesso em: 23 jan. 2017. ]
Por ser fruto do emprego de tecnologias da informação e das telecomunicações, o teletrabalho surge como uma opção de flexibilidade, na organização e na gestão empresarial, pois, possibilita a autonomia, a descentralização e a mobilidade do trabalho. Nesse sentido, Carla Carrara da Silva Jardim explica que “Os vários tipos de teletrabalho podem apresentar peculiaridades que ora o qualificam como trabalho subordinado, ora como trabalho autônomo, parassubordinado ou no domicílio”. [114: JARDIM, Carla Carrara da Silva. O teletrabalho e suas atuais modalidades. São Paulo: LTr, 2003. p. 63.]
3.1 REQUISITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO 
Inicialmente, é importante estabelecer a distinção entre relação de trabalho e relação de emprego, em que esta é espécie onde a relação de trabalho é gênero, estando presente no contrato laboral, com os seus elementos e requisitos, cuja ausência afasta o reconhecimento de vínculo de emprego. Assim, a relação de trabalho compreende todas as relações de trabalho existentes, ao passo que a relação de emprego é voltada à relação laboral com vínculo de emprego. [115: VILLATORE, Marco Antônio César; DUTRA, Silvia Regina Bandeira. Controle de horário no teletrabalho – análises jurídicas, sociais e econômicas. In: IV CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 150. ]
Os elementos que caracterizam a relação de emprego são aqueles constantes do artigo 3º da CLT, merecendo destaque para uma melhor compreensão.[116: FINCATO, Denise Pires. Teletrabalho: uma análise juslaboral. Justiça do Trabalho, Porto Alegre, ano 20, n. 236, ago. 2003. Disponível em: <http://www.amdjus.com.br/doutrina/trabalhista/386.htm>. Acesso em: 23 jan. 2017.]
O artigo supramencionado estabelece que “Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. [117: BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, 01 de maio de 1943 [CLT]. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm>. Acesso em: 22 jan. 2017. ]
O contrato de trabalho pode ser definido como “[...] o negócio jurídico em que o empregado, pessoa natural, presta serviços de forma pessoal, subordinada e não eventual ao empregador, recebendo, como contraprestação, a remuneração”. Desta forma, se um dos requisitos da relação de emprego não estiver presente, não há vínculo empregatício e, tampouco haverá relação jurídica de natureza diferente desta. [118: GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 145. ][119: FINCATO, Denise Pires. Teletrabalho: uma análise juslaboral. Justiça do Trabalho, Porto Alegre, ano 20, n. 236, ago. 2003. Disponível em: <http://www.amdjus.com.br/doutrina/trabalhista/386.htm>. Acesso em: 22 jan. 2017. ]
Em decisão proferida pela Sétima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, é possível verificar a obrigatoriedade dos requisitos do artigo 3º da CLT, para ser reconhecida a relação de emprego. 
VÍNCULO EMPREGATÍCIO – TRABALHO EXECUTADO NO DOMICÍLIO DO EMPREGADO. À luz do disposto no art. 6º. da CLT não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento de empregador e o executado no domicílio do empregado, desde que esteja caracterizada a relação de emprego. E a relação de emprego se configura, quando o trabalho é executado por conta do empregador, de modo pessoal, com habitualidade, mediante subordinação e remuneração (art. 3º. da CLT). No caso em exame, restou comprovado o vínculo empregatício entre as partes litigantes, através da prova produzida nos autos. (grifo do autor). [120: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (9. Região). Recurso Ordinário nº 008010050.2003.5. 09.0069, 4ª Turma. Recorrentes: Vera Lucia Borges Maia e E’Cortes e E’Hoffmann Costuras. Recorridos: Os mesmos: Des. Arnor Lima Neto. Curitiba, 28 de abril de 2004. Disponível em: <http://www.trt9.jus.br/internet_base/processoman.do?evento=Editar&chPlc=AAAS5SABaAACxmI AAD>. Acesso em: 23 jan. 2017. ]
Logo, os elementos: pessoalidade, subordinação, onerosidade e não eventualidade estão presentes na relação de emprego tradicional, em que o empregado desempenha suas atividades no interior do estabelecimento do empregador. Porém, essa forma tradicional está em constante evolução, sofrendo transformações decorrentes da “[...] chegada de novas tecnologias, descentralização das atividades, internet, transmissão de dados e imagens em tempo real, deixando de exigir a presença física do empregado na sede da empresa”. [121: VILLATORE, Marco Antônio César; DUTRA, Silvia Regina Bandeira. Controle de horário no teletrabalho – análises jurídicas, sociais e econômicas. In: IV CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE TELETRABALHO E TELEATIVIDADES. Anais... Porto Alegre: Magister, 2011. p. 153. ]
3.1.1 Pessoalidade, não eventualidade, subordinação e onerosidade 
Uma vez que o texto consolidado ressalva que o empregado será pessoa física, fica estabelecido, assim, que uma pessoa jurídica, ou um animal, não possam ser considerados empregados. A pessoalidade deve ser compreendida como a ocasião em que a pessoa física, de forma pessoal, irá prestar serviços a seu empregador. [122: FINCATO, Denise Pires. Teletrabalho: uma análise juslaboral. Justiça do Trabalho, Porto Alegre, ano 20, n. 236, ago. 2003. Disponível em: <http://www.amdjus.com.br/doutrina/trabalhista/386.htm>. Acesso em: 22 jan. 2017. ]
Significa que os serviços serão prestados pelo próprio trabalhador, de forma que não ocorra a sua substituição constantemente por terceiros, já que o empregador contratou especificamente a sua pessoa. Cabe destacar que o contrato de trabalho é intuitu personae, embora seja permitida a substituição do empregado ocasionalmente, desde que observada a anuência do empregador. [123: GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 145. ]
Mas, no caso do teletrabalho, nem sempre é possível ter a mesma certeza de que o empregado que foi contratado é o mesmo que está prestando o serviço à empresa. Entretanto, quando se trata de um emprego presencial convencional, existe essa ciência. Cabe ressaltar que, em muitas situações de teletrabalho, inclusive, o contrato é feito eletronicamente, sem que ocorra contato físico entre as partes. [124: FINCATO, Denise Pires. Teletrabalho: uma análise juslaboral. Justiça do Trabalho, Porto Alegre, ano 20, n. 236, ago. 2003. Disponível em: <http://www.amdjus.com.br/doutrina/trabalhista/ 386.htm>. Acesso em: 23 jan. 2017. ]
Geralmente, o contrato de trabalho costuma ocorrer de forma expressa, com a assinatura que exterioriza a vontade das partes. No entanto, atualmente, o contrato de trabalho pode ser realizado por intermédio de correspondência eletrônica. [125: LOTTERMANN, Daniela Rodrigues. A parassubordinação no teletrabalho. Disponível em: <http://www.telework2010.tic.org.ar/papers/6RODRIGUEZ%20LOTTERMAN%20PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2017. ]
Dessa forma, não há como evitar o questionamento de como será garantida a pessoalidade. Neste caso,

Outros materiais