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GEsTÃo eLiDErANÇA EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE Curso LiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇALiDErANÇA EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISEEMPREENDER EM TEMPOS DE CRISEEMPREENDER EM TEMPOS DE CRISEEMPREENDER EM TEMPOS DE CRISEEMPREENDER EM TEMPOS DE CRISEEMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE Trabalho à Distância: produtividade e gestão em home office EDuArDo NETo morEirA DE souZA 4 FAsCÍCuLo Apresentação 1. A crise do emprego e o futuro do trabalho em tempos disruptivos 2. Trabalho à Distância e os desafios à Produtividade 2.1. O teletrabalho na perspectiva de empregados e empregadores 2.2. O trabalho em casa: a condição de profissionais autônomos e empreendedores em regime de home office Referências 51 36 39 59 43 45 sumário 51 APrEsENTAÇÃo O ano é 2020. De repente, todo o mundo é atingido pela disseminação de um vírus chamado de novo coronavírus, cuja doen- ça transmitida é denominada de covid-19. Para além de afetar os sistemas mundiais de saúde, em virtude de sua alta taxa de transmissibilidade, letalidade e pouco co- nhecimento de seus efeitos por parte das ciências médicas, o vírus, assim como faz nos sistemas computacionais, afetou to- dos os demais sistemas da vida coletiva, especialmente a forma como nos relacio- namos, convivemos e trabalhamos. Retirou do tecido social aquilo que move a vida humana, as relações face a face. Isolar-se e distanciar-se passaram a ser as regras de convivência necessárias à nossa existência, até que a onda de disseminação e contágio diminua e, enfi m, se encerre. As economias dos países foram atingi- das no seu coração, com menos consumo, diminuição da produção em várias áreas, aumento do desemprego e recessão. Tra- ta-se de uma crise com dimensões globais, que não está relacionada a um setor ou país específi co. Todos estamos envolvidos nesse grave contexto de crise sanitária e econômica, até que uma vacina seja viabili- zada e acessada por todos. É nesse cenário que, ainda ao escrever este texto, estamos todos nós, inclusive você, meu amigo cursista e trabalhador. De alguma maneira, fomos atingidos. A esco- la, por exemplo, foi para nossa casa, assim como boa parte dos trabalhadores passou a realizar suas atividades de forma remota, à distância, ou em sistema de teletrabalho ou home off ice. Também muitos perderam seus empregos, no mundo inteiro, mais ainda no Brasil de maneira particular. Os espaços de nossas vidas, que eram bem segmentados, passaram a ser com- partilhados. É difícil identifi car o horário do trabalho, da escola, do lazer. O tempo de- dicado ao ócio ou à convivência social está tudo junto e misturado. Nossa sociabilida- de, antes fundamentalmente presencial, baseada em relações sociais que se davam APrEsENTAÇÃo por meio de trocas afetivas e laborais fi r- madas no contato físico, foi relegada, em larga escala, ao mundo virtual, por meio das diversas tecnologias de comunicação à distância, com destaque para as chamadas redes sociais virtuais de relacionamento e plataformas de comunicação remota. Essa nova sociabilidade, que antes mesmo da crise pandêmica, já começava a despontar como tendência na vida das sociedades no mundo inteiro, agora cres- ce rapidamente e já se constitui em pro- pensão de comportamento generalizado, em escala mundial. No que se refere à Educação, os cursos em formatos à distân- cia já vinham em consideradas taxas de crescimento, tanto os chamados cursos livres quanto os de nível superior de gra- duação e pós-graduação. No mesmo ca- minho está o mundo do trabalho. Muitas categorias de profi ssionais desenvolvem suas atividades em home off ice, seja por necessidade, seja por opção individual, seja por política das empresas. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE52 É comum o uso dos termos “empre-go” e “trabalho” de forma indistinta. Embora relacionados ao campo produtivo, econômico e distribui- ção de riquezas, sob os aspectos jurídicos e sociológicos apresentam variações. No caso da legislação brasileira, a relação de empre- go ocorre quando estão presentes os requi- sitos do art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), quando há a prestação de serviços de natureza não eventual ao em- pregador, mediante uma remuneração que denominamos de salário. Ainda segundo a CLT, a relação de trabalho ocorre quando algum dos requisitos previstos na legisla- ção brasileira não é preenchido. Se a pres- tação dos serviços é eventual, temos a rela- ção de trabalho, e não de emprego. No entanto, sob o olhar de uma socio- logia do trabalho e da cultura, ou na pers- pectiva da produção e do campo da gestão, a expressão supera o aspecto normativo e se dissemina como componente da vida coletiva. O sentido do trabalho compõe a nossa forma de estar no mundo, produzin- do bens e serviços, gerando valor individual e social, enquanto o emprego diz respeito a vínculos legais estabelecidos na forma de prestação de serviços contratuais entre partes. Ou seja, o emprego é uma forma moderna de exercício legalmente remune- rado do trabalho. Esses processos de transformação im- plicam que as características que o traba- lho assume em qualquer paí s depende não só de qual setor é considerado, mas tam- bém das especifi cidades da cadeia global de valor (CGV) na qual se insere. Conforme Leite (2018), “as cadeias globais de valor constituem conjuntos de empresas que permitem incrementos de produtividade, diminuição dos custos do trabalho e redu- ções do tempo de circulação do capital, vi- sando a favorecer o lucro e a acumulação A CrisE Do EmPrEGo E o FuTuro Do TrABALHo Em TEmPos DisruPTiVos 1 EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 53 No campo dos negócios, a disrupção é uma forma de inovação em que um novo mercado é criado, derrubando um mercado existente e as empresas que operam dentro dos moldes convencionais. Hoje o termo é utilizado em muitas outras áreas para iden- tifi car momentos de rupturas inovadoras. Uber, Airbnb, Netfl ix, Wikipédia, Blockchain, impressão em 3D e inteligência artifi cial são alguns exemplos de tecnologias ou mod- elos de negócios disruptivos. SAIBA MAIS de capital”. Quando se trata de cadeias glo- bais de valor, o conjunto de etapas pode ser desempenhado dentro de uma mesma empresa ou por mais de uma organização. Se o conjunto de empresas encadeadas se situar em mais de um país, então tere- mos uma cadeia de valor que é global. São exemplos de cadeias de valor: confecção e vestuário, produtos e componentes eletrô- nicos e indústria automobilística. Esse conjunto de disrupções implica uma quebra de vínculos do capital e do trabalho, que agora pode ser realizado de qualquer lugar, por meio de plataformas móveis, em empresas parceiras ou em ne- gócios sem empregados. O conceito de indústria 4.0 se expande como lógica para outros segmentos de negócios, especial- mente nos serviços. Implica menos contra- tados, menos trabalhadores, mais automa- ção. Atividades que podem ser substituídas por máquinas ou programas/aplicativos EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE54 digitais desempregam uma massa de tra- balhadores em todo o mundo. O conheci- mento, a inteligência e a criatividade são os valores que passam a demarcar a diferen- ça entre quem pode ou não ser valorizado nesse novo cenário de mercado. Trata-se de mudanças que implicam a vida de cada indivíduo, inclusive nas rela- ções com coisas e pessoas. Vida pessoal e profi ssional passa a estabelecer conexões cada vez mais próximas. Gradativamente o movimento das pessoas é alcançado pelos algoritmos; o que se compra, aonde se vai ou o que se come, tudo é acompanhado pelas plataformas virtuais. O ensino será cada vez mais virtual, mediado por plata- formas de aprendizagem colaborativas. Encontrar amigos, ouvir música, assistir a fi lmes, tudo isso pode ser feito em plata- formas de streaming ou redes sociais, e o consumode produtos que são concebidos em um país e confeccionado em outro já faz parte do dia a dia. Nesse tempo de transformações, de fl exibilidade, polivalência e conexão viabi- lizada pela internet e pelo conjunto de tec- nologias digitais disponíveis, intensifi ca-se a substituição de trabalhadores por má- quinas ou aplicativos e ferramentas digitais que podem ser manuseadas pelo próprio consumidor ou substituídas por robôs. Ocorre a migração de trabalhos manuais para atividades que exigem capacidade intelectual e inteligência. Esse processo já ocorria na terceira revolução industrial, e nos tempos atuais se acelera em velocida- de exponencial. Os tempos de pandemia anteciparam o uso de recursos e fez gerar necessidade por causa do isolamento e do distanciamento social. Aplicativos de deli- very ganharam força assim como o comér- cio eletrônico e o uso de plataformas cola- borativas em nuvem, de aprendizagem pela internet, de encontros e reuniões remotas. É diante desse contexto de rápidas transformações que se insere a intensifi ca- ção do teletrabalho, do home off ice e suas derivações, assim como o fomento às prá- ticas empreendedoras, seja por vocação, seja por necessidade. EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 55 2 TrABALHo À DisTÂNCiA E os DEsAFios À ProDuTiViDADE As rotinas foram profundamente alteradas e, de repente, o traba-lho estava dentro das residências, confundindo-se com as rotinas domésticas. Tudo passou a ser misturado, perdeu-se a noção de onde começava e ter- minava o trabalho e o tempo para a família. Milhões de pessoas se viram nessa realidade, em todo o mundo, e rapidamente todos tive- ram de se adaptar a esse tempo. Não se trata de uma novidade; o traba- lho em casa, home off ice ou teletrabalho já era uma realidade para muitas empresas e profi ssionais e estava em processo de ex- pansão. O que a pandemia do novo coro- navírus fez foi dar celeridade a essa tendên- cia na forma e no lugar de desempenhar as atividades profi ssionais. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE56 trabalhador que oferecem postos de traba- lho a empregados ou vá rias organizaç õ es ou serviç os telemá ticos a clientes remotos; d) trabalho mó vel: fora do domicí lio ou do centro principal de trabalho, compreen- dendo viagens de negó cios ou trabalho de campo ou em instalaç õ es do cliente; e) trabalho em empresas remotas ou off -shore: call-centers ou telesserviç os por meio das quais fi rmas instalam seus escritó rios-saté lite ou subcontratam em- presas de telesserviç os de outras zonas do globo com mã o de obra mais barata; f) trabalho informal ou teletrabalho misto: arranjo com o empregador para que se trabalhe algumas horas fora da empresa. Será usado o termo home off ice para as situações que envolvem o trabalho na casa do profi ssional, sem necessariamente estar vinculado a alguma organização. É o caso de profi ssionais autônomos, profi ssionais libe- rais, como advogados, professores de cursos livres, analistas de TI, dentre tantos outros. Assim como os empreendedores, profi ssio- nais que comercializam ou produzem seus negócios nas suas próprias casas. Nessas situações, não se aplicam as relações de trabalho tipifi cadas na legislação brasileira. SAIBA MAIS Rosenfi eld e Alves (2011), em estudo re- alizado nos anos 2000, destacam 6 catego- rias principais de teletrabalho, que é o ter- mo comumente utilizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). a) trabalho em domicí lio: també m identi- fi cado com o termo small off ice/home off ice (SOHO), trata-se do trabalho realizado na casa do trabalhador; b) trabalho em escritó rios-saté lite: os trabalhadores executam o trabalho em pe- quenas unidades espalhadas de uma em- presa central; c) trabalho em telecentros: o trabalho é realizado em estabelecimentos normal- mente instalados pró ximo ao domicí lio do A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência multilateral da Orga- nização das Nações Unidas, especializada nas questões do trabalho, especialmente no que se refere ao cumprimento das normas internacionais. Tem por missão promover oportunidades para que todos possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segu- rança e dignidade humanas. FONTE: https://pt.wikipedia.org SAIBA MAIS EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 57 Fica a Dica Possíveis vantagens do teletrabalho ou home off ice: • Flexibilidade de jornada para o trabalhador. • Melhor gestão do tempo. • Menos deslocamento urbano. • Maior tempo do trabalhador com a família. • Para as empresas, pode signifi car menos custos e maior produtividade. • Aumento da motivação do trabalhador. • Menos problemas administrativos e de relacionamentos para as organizações. • Foco da empresa no que pode agregar mais valor como inovação e tecnologia. Fica a Dica Possíveis vantagens Uma difi culdade para mensurar o que o teletrabalho signifi ca na economia é que há poucas pesquisas acerca desse cenário no Brasil. Algumas foram realizadas nesses últimos anos, mas com caráter amostral, não dando conta em números absolutos do tamanho desse universo de teletraba- lhadores e de empresas que adotam esse modelo. No entanto, em levantamento rea- lizado pela Sociedade Brasileira do Teletra- balho e Teleatividades (Sobratt), em 2018, setores como serviços, especialmente nas áreas mais técnicas e de gestão, como TI e telecomunicações, recursos humanos, áreas jurídicas, marketing e projetos são a maioria entre os praticantes do teletraba- lho. Quanto às empresas, estão predomi- nantemente no Sudeste e Sul do País. No Estado do Ceará ainda existe muito espaço para avançar; possivelmente as próximas pesquisas pós-pandemia já venham a indi- car essa transformação. Um levantamento realizado pelo Ins- tituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) em julho de 2020 mostrou que, dos 8,4 milhões de trabalhadores remotos do Brasil, praticamente a metade, 4,9 milhões, estava no Sudeste, região que concentra profi ssionais mais qualifi cados e a geração de Produto Interno Bruto (PIB). Apenas 252 mil estavam no Norte, fatia mais pobre do País. Os números estão na Pnad Covid-19 do IBGE, que é a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio, dedicada a me- dir os efeitos econômicos da covid-19. Vale destacar as três situações mais co- muns que envolvem o teletrabalho ou o home off ice aqui no Brasil. São eles: a) O tipo de trabalho realizado por em- pregados de empresas privadas ou públi- cas; b) Os profi ssionais liberais e freelancers; c) Os empreendedores. O teletrabalho é defi nido pela Organizaç ã o Internacional do Trabalho (OIT) como aquele “efetuado distante dos escritó rios centrais ou do chão das empresas” e no qual os trabalha- dores se mantê m conectados com alguns de seus colegas por meio das novas tecnologias. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE58 Fica a Dica Teletrabalho e home off ice: possíveis desvantagens • Aumento de custos com estrutura para o trabalhador. • Horas extras não pagas. • Risco de mistura entre o trabalho e a vida familiar- social e o tempo livre. • Risco de menor crescimento na estrutura da empresa. • Risco de precarização nas relações de trabalho. • Empregados podem perder vínculos com a cultura organizacional. • Desmotivação do trabalhador por falta de reconhecimento. • Estresse em virtude de possível aumento das metas e controle excessivo por parte da empresa. Fica a Dica Teletrabalho e home EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 59 Fica a Dica Como ser mais produtivo e gerir melhor o tempo em home off ice • Organize sua rotina com horários defi nidos para as atividades que precisa entregar. • Crie um ambiente na sua casa adequado ao trabalho, separado das demais atividades que ocorrem na sua vida doméstica. • Crie uma estrutura com os equipamentose soft wares necessários ao seu bom desempenho no trabalho. • Mantenha rotinas de comunicação com os demais membros da equipe ou clientes, de modo a não se isolar da sua rede de relacionamento. Manter networking é fundamental. • Dedique um tempo para alimentar suas redes sociais digitais e contatos comerciais. • Preferencialmente, estabeleça horários pré-defi nidos para reuniões virtuais e atividades externas. • Estabeleça acordos de convivência com os demais membros da família, especialmente os fi lhos. O fato de você estar em casa não signifi ca que estará sempre disponível. Nesse caso, aproveite pequenas pausas para um café ou lanche para alimentar essa convivência. • Não deixe o trabalho tomar conta das 24 horas da sua vida. A vida é trabalho, família, lazer, ócio e tempo para você. Cuide da sua saúde física e mental. Fica a Dica Como ser mais produtivo 2.1. O teletrabalho na perspectiva de empregados e empregadores A emergência da pandemia da covid-19 colocou milhares de empregados para rea- lizarem seus trabalhos em sistema de home off ice, mesmo aqueles que estavam am- parados nas condições estabelecidas pela CLT, comuns a todos os trabalhadores. Para regulamentar essa condição, o Governo Fe- deral emitiu uma medida provisória, a MP nº 927 de 2020, que tem vigência e aplica- ção somente enquanto perdurar o estado de calamidade pública decretado, mas mantendo os princípios já defi nidos nos artigos 75-A a 75-E e 62, III da CLT, que exi- ge para a condição de teletrabalho, dentre outras coisas, o contrato entre empregado e empregador em que estão previstas as obrigações e os direitos das partes. Quanto ao campo de investigação cien- tífi ca sobre teletrabalho, os debates e as pesquisas acadêmicas foram ampliados nas últimas décadas. Os estudos concentram-se prioritariamente nas áreas da Administração, Sociologia do Trabalho, Direito, Psicologia do Trabalho e Medicina do Trabalho, consti- tuindo em diferentes visões sobre os signifi - cados, aspectos positivos ou consequências negativas para empresas e trabalhadores. O que há de comum entre a maioria des- sas correntes é que o teletrabalho é uma tendência para os próximos anos. Fatores FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE60 de trabalho para que os funcionários, no caso daqueles que estão vinculados a al- gum tipo de organização, possam desem- penhar suas atividades com êxito e manter uma perspectiva de crescimento profi s- sional. Considera-se que há sempre riscos ao adotar o teletrabalho, como a redução de vínculos da equipe ou mesmo o distan- ciamento da cultura organizacional. São situações que empregadores e emprega- dos precisam analisar quando decidirem contratualizar essa relação. Da mesma forma, é preciso considerar os fatores que podem benefi ciar a vida do trabalhador, como possibilidade de maior tempo com a família, fl exibilidade no uso do tempo e na realização das atividades. Deve-se destacar que não há homogenei- dade na percepção do que é benefício ou prejuízo. Isso depende muito de cada em- presa ou como cada empregado desen- volve seu nível de autonomia, sua capaci- dade de disciplina e autogerenciamento, de maneira que essa escolha possa trazer benefícios para as partes contratualmente envolvidas. Um desafi o comum a todos os envolvi- dos nesse novo mundo do trabalho diz res- peito a algumas questões centrais, como o desenvolvimento de lideranças que sejam capazes de conduzir processos de mudan- ças, gerir pessoas à distância, com habilida- de para motivar os grupos para o trabalho produtivo e alinhado com as perspectivas da organização. Da mesma forma, o desafi o está posto aos gestores, de manter equipes alinhadas com o propósito da empresa, com alto índice de produtividade e melho- res alcances fi nanceiros, além de manter um time de pessoas comprometidas com os resultados e alta performance. como acesso mais favorável a equipamen- tos e recursos de tecnologia da informação, redução de custos para empresas e empre- gados, menor necessidade de deslocamen- tos, fl exibilidade na realização de tarefas e uso do tempo, aumento da produtividade e de resultados são alguns dos possíveis pontos positivos no trabalho à distância. Pesquisadores mais ligados ao campo de negócios, administração e ciências apli- cadas tendem a enfocar os benefícios e as condições para o sucesso do teletrabalho, considerando os possíveis resultados para a melhoria da rentabilidade e dos proces- sos empresariais, tais como maior lucrati- vidade com redução de custos, redução de turnover e absenteísmo, aumento da pro- dutividade, atração e retenção de talentos. No entanto, não há consenso quando se amplia o debate. Outra corrente de analistas insere o ad- vento do teletrabalho no processo de pre- carização pelo qual passam as relações la- borais em todo o mundo, que, em nome de uma série de possíveis benefícios para os empregados, estaria a redução de direitos historicamente adquiridos, além da perda de benefícios como horas extras, indisso- ciação do tempo livre e do tempo para o trabalho, invasão da vida privada pela vida profi ssional e um maior controle e monito- ramento dos resultados. Na perspectiva de Costa (2007), trata-se da formatação de um novo sujeito. A ideia é que a própria vida do indivíduo seja vista como um empreendi- mento de si – algo que transcende o víncu- lo circunstancial com a organização para a qual o indivíduo trabalha. Existem inúmeros fatores que precisam ser mais bem avaliados, especialmente as garantias de direitos e condições básicas 61EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA Fica a Dica Ferramentas Para Home Off ice Ou Trabalho Remoto 1. Arquivamento compartilhamento de arquivos em nuvem • Microsoft One Drive: https://onedrive.live.com/ • Google Drive: https://www.google.com.br/ drive/apps.html • Dropbox: www.dropbox.com 2. Gerenciamento de tarefas e atividades • Trello: https://trello.com/ • Wunderlist: https://www.wunderlist.com/ • Asana: https://asana.com/pt • Google Agenda: https://www.google.com/ • Microsoft Outlook: outlook.live.com • Remember the milk: https://www. rememberthemilk.com/ • Basecamp: https://basecamp.com/ • MS Project: https://www.microsoft .com/pt-br/ microsoft -365/project/project- management-soft ware 3. Plataformas de videoconferência, videochamadas e compartilhamento de mensagens • Zoom: https://zoom.us/ • Google Meet: https://meet.google.com/ • Microsoft Teams: https://www.microsoft .com/ pt-br/microsoft -365/microsoft -teams/free • Webex Cisco: https://www.webex.com/pt/ index.html • WhatsApp: https://www.whatsapp.com/ • Facebook Messenger: https://www.facebook. com/messenger/ • Skype: https://www.skype.com/pt-br/ • Telegram: https://telegram.org/ Fica a Dica Ferramentas Para Home Off ice Ou FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE62 2.2. O trabalho em casa: a condição de profi ssionais autônomos e empreendedores O termo home off ice, embora se asse- melhe ao teletrabalho, tem nuances espe- cífi cas. Adapta-se mais propriamente às situações que dizem respeito ao trabalho exercido fora dos escritórios ou de am- bientes externos, como é o caso dos pro- fi ssionais liberais, tais como advogados, analistas técnicos, instrutores, youtubers, artesãos, gestores de projetos, consultores, designers ou outros tipos de trabalhadores que realizam suas atividades produtivas e geram renda em suas próprias residências. Normalmente trabalham para muitos con- tratantes ou vendem para muitos consumi- dores, não havendo vínculos de emprego com alguma outra parte. Inúmeras são as situações que têm fa- vorecido o crescimento do home off ice, tais como a busca por melhor qualidade de vida, o distanciamento do estresse da vida urbana, a possibilidade de dispor de mais tempo para o lazer e para o ócio criativo, o cuidado com a saúde ou necessidade de organizar o próprio tempo e o cuidadocom fi lhos ou mesmo a falta do emprego formal, já que muitas profi ssões estão passando por crises ou deixando de existir. As diversas crises que se apresentam, bem como todo o processo que envolve o “fim do emprego”, têm impulsionado a cultura do empreendedorismo, principal- mente por causa da necessidade de so- brevivência e geração de renda para as fa- mílias. Muitos desses negócios se iniciam dentro de casa, envolvendo os familiares e reestabelecendo outra organização so- EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE: GESTÃO E LIDERANÇA 63 cial, em que fatores como lazer, vida so- cial, ócio, trabalho e convivência familiar se misturam, não se sabendo onde um termina e começa o outro. A transformação digital dos negócios é matéria de primeira hora e deve ser pauta- da como política pública para o desenvol- vimento do País. O acesso universal à inter- net banda larga de alta velocidade é cada vez mais urgente assim como um amplo programa de capacitação para empreen- dedores e profi ssionais liberais com inten- ção de capacitá-los de forma que operem com efi cácia neste mundo digital. As es- tratégias de comercialização, propaganda e marketing estão sendo transformadas e precisam ser acessíveis aos empreendedo- res, pois são eles que geram mais negócios e fazem pulsar a economia nos territórios. A certeza que se tem é: o que nos trouxe até aqui não nos garante o futuro. Em todos esses cenários de teletrabalho ou home off ice, é possível perceber que há ganhos e perdas e que essa transformação não tem mais volta. A Tecnologia da Infor- mação e o acesso a ela ampliado, associada a inúmeros outros fatores, têm levado cada vez mais pessoas e empresas a desenvolver suas atividades em home off ice ou no siste- ma à distância ou teletrabalho. Este é um tempo em que tudo está conectado e acon- tecendo simultaneamente. A forma que cada um vai encarar essas mudanças faz parte de uma escolha individual, está ligada diretamente à maneira que cada um quer conduzir sua caminhada no mundo, do ponto de vista pessoal e profi ssional. Inde- pendentemente da escolha, o empreende- dor precisa se manter atento à necessidade de capacitação contínua e ao processo de comunicação, pois isso pode defi nir sua ca- pacidade de produzir e entregar resultados. Afi nal, isso é o mais importante. Fica a Dica A Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017, alterou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A reforma trabalhista criou o Capítulo II-A da CLT, abordando o tema nos artigos 75-A e seguintes. Dentre as alterações, destaca-se a nova disciplina do teletrabalho, por meio da criação do Capítulo II-A. O art. 75-B a CLT passa a considerar como teletrabalho “a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo”. Fica a Dica A Lei nº 13.467, de 13 de julho de REFERÊNCIAS ADERALDO, Igor Leal; LIMA, Afonso Carneiro; ADERALDO, Car- los Victor Leal. Aspectos crí ticos do teletrabalho em uma companhia multinacional, Cad. EBAPE.BR, V.15, Edição es- pecial, Artigo 8, Rio de Janeiro, Set, 2017. ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamor- foses e a centralidade do mundo do trabalho. 11 ed. Sã o Pau- lo: Cortez, 2006. BARROS, A. 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Colaboraram para este fascículo: Michelle Lima Ribeiro (mi- chelleribeiro@outlook.com) e Francisco Antônio Ferreira de Almeida (fransociologo@gmail.com) DICAS DE SITES PARA CONSULTA http://www.portaldoempreendedor.gov.br/ http://www.sobratt.org.br/ https://endeavor.org.br/ https://ebape.fgv.br/ https://www.ipea.gov.br/portal/ http://www.portaldaindustria.com.br/cni/ http://www.cnc.org.br/ SAIBA MAIS Patrocínio Realização Correalização Apoio EDuArDo NETo morEirA DE souZA (autor) Sociólogo, formado pela Universidade Estadual do Ceará, Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Executivo de educação, atuando há mais de 18 anos na gestão e em funções de docência e assessoria em instituições de educação superior. Desenvolveu e implantou unidades educacionais, planejamento estratégico e criação de departamentos, dentre eles: centros de empreendedorismos, programas de formação de estudantes empreende- dores, elaboração de projetos pedagógicos de cursos, avaliação institucional, responsabilidade social e programas de educação à distância. Detém expe- riência em educação básica e em Escolas de Governo. Atuou em instituições como Fiec, Governo do Estado do Ceará, Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e Câmara Municipal de Fortaleza, em projetos especiais. Tem se dedicado mais recentemente ao campo da Ciência de Dados e Business Intelligen ce, estabelecendo conexões entre educação e gestão estratégica da informação com foco no alcance de melhores resultados. Tem como propósito ajudar a transformar pessoas pela educação e em todas as ações que realiza. rAFAEL LimAVErDE (ilustrador) Nascido em Belém/PA, naturalizado cearense, formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE), é xilogravurista e ilustrador. Possui mais de 40 livros ilustrados em diversas editoras do país. É um dos organizadores do “Festival de Ilustração de Fortaleza”, evento que já está em sua quarta edição e é realizado dentro da Bienal do Livro do Ceará. Um ano de atividades e conteúdos para você criar ou impulsionar o seu negócio. webcontentsLives webinar podcasts programas de TV programas de rádio CONHEÇA MAIS EM SEMINARIOEMPREENDER.COM.BR2020 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidente: João Dummar Neto Diretor Administrativo-Financeiro: André Avelino de Azevedo Gerente Geral: Marcos Tardin Gerente Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Analistas de Projetos: Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Pedagógica: Viviane Pereira Coordenadora de Cursos: Marisa Ferreira Designer Educacional: Joel Bruno | CURSO GESTÃO E LIDERANÇA: EMPREENDER EM TEMPOS DE CRISE Coordenador Técnico: Nazareno Albuquerque Coordenadora Executiva: Valéria Xavier Coordenadora de Conteúdo: Flávia Chagas Coordenadora Editorial e Revisão: Daniela Nogueira Projeto Gráfico: Andrea Araújo Editores de Arte: Andrea Araújo e Welton Travassos Designer Gráfico: Welton Travassos Ilustrador: Rafael Limaverde Coordenadora de Marketing: Natercia Melo Designer (campanha): Jansen Lucas Webdesigner (campanha): Clemilson Souza Editora Criativa de Marketing: Renata Viana Analista de Marketing: Fernando Diego Sioli Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. 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