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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Pesquisas Hidráulicas Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental Hidrologia I Precipitação Aluno: Márcio Hofheinz Giacomoni Christopher Freire Souza (dos itens 4.6 ao 4.9.2) Carlos Ruberto Fragoso Júnior Professor: Carlos E. M. Tucci Texto preparado com base nas anotações de aula da disciplina de Hidrologia I Porto Alegre, maio de 2003. SUMÁRIO 4. PRECIPITAÇÃO ....................................................................................................... 3 4.1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 4.2 – MECANISMOS DE FORMAÇÃO .................................................................... 3 4.3 – CLASSIFICAÇÃO.............................................................................................. 4 4.3.1 – Chuvas Frontais ou ciclônicas ..................................................................... 4 4.3.2 – Chuvas Convectivas ..................................................................................... 4 4.3.3 – Chuvas Orográficas ..................................................................................... 4 4.4 – PLUVIOMETRIA ............................................................................................. 5 4.5 - ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................... 6 4.5.1 Método de ponderação regional ..................................................................... 6 4.6 ANÁLISE DE CONSISTÊNCIA DE SÉRIES PLUVIOMÉTRICAS ................. 7 4.7 PRECIPITAÇÃO MÉDIA ESPACIAL ................................................................ 9 4.8 PRECIPITAÇÕES MÁXIMAS ............................................................................ 12 4.8.1 Tempo de Retorno......................................................................................... 13 4.9 DETERMINAÇÃO DE CURVAS I-D-F ............................................................ 13 4.9.1 Determinação das curvas em locais com dados ............................................ 13 4.9.2 Determinação das curvas em locais sem dados pluviográficos ..................... 17 4.10 Distribuição Temporal ......................................................................................20 4.11 Distribuição Espacial ........................................................................................24 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................25 4. PRECIPITAÇÃO 4.1 – INTRODUÇÃO “A precipitação é entendida em hidrologia como toda água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre” (TUCCI, 1997). É a parte de entrada (“input”) da umidade no ciclo hidrológico. A precipitação possui diversas formas: neblina, chuva, granizo, saraiva, orvalho e geada, sendo a chuva o tipo de precipitação mais importante uma vez que possui capacidade de produzir escoamento. A precipitação é caracterizada por meio de três grandezas: altura, duração e intensidade. A altura pluviométrica é o volume da chuva precipitado medido em milímetros (mm). No entanto, esse valor não tem significado se não estiver relacionado a uma duração. Logo, quando uma precipitação é medida, esta é relacionada a um período de tempo (ex. 100 mm/mês ou 10 mm/hora). A intensidade é a grandeza que visa caracterizar a variabilidade temporal. Geralmente é medida em mm/h ou mm/min. A intensidade é muito importante para estudos de erosão do solo e inundação. A precipitação é expressa em milímetros (unidade linear) que representa um decímetro cúbico (dm³) por metro quadrado (l/m²). Logo, para se calcular o volume de água precipitada em determinado local (geralmente bacia hidrográfica), multiplica-se a sua área (km² ou hectare) pela altura pluviométrica. Os devidos cuidados devem ser tomados com a ordem de grandeza das unidades. Por exemplo: Considerar uma bacia hidrográfica com 2 km² ou 200 ha em que determinado mês recebeu uma precipitação média mensal de 200 mm. Logo o volume precipitado foi: 35 433 3 353 6233 323 10410200200V 1010(m V 10(m V 104102200V 1010(m V 10(m V m )ha(A)mm(H) )ha(A)mm(H) ou m )km(A)mm(H) )km(A)mm(H) 4.2 – MECANISMOS DE FORMAÇÃO A precipitação é formada por um conjunto de mecanismos, que possuem componentes locais e globais. As precipitações estão relacionadas ao crescimento das gotículas formadoras das nuvens. Quando essas gotículas adquirem um volume suficiente que seu peso seja superior às forças verticais que as mantém em suspensão, essas adquirem velocidade vertical descendente. A condensação do vapor atmosférico dá-se normalmente nos chamados núcleos de condensação. Os núcleos de condensação mais ativos são partículas de sais procedentes do mar, cristais de gelo e produtos de combustão contendo ácidos nítrico e sulfúrico. 4.3 – CLASSIFICAÇÃO As precipitações são classificadas como chuvas frontais, chuvas orográficas e convectivas, definidas segundo o mecanismo fundamental pelo qual se produz a ascensão do ar úmido. 4.3.1 – Chuvas Frontais ou ciclônicas São chuvas de duração média e longa, provenientes do choque de massas de ar quente e frio. O ar frio, mais denso, empurra a massa de ar quente para cima, que se resfria e condensa o vapor de água. Possuem intensidades médias e atingem grandes áreas, produzindo assim efeitos mais significativos em médias e grandes bacias hidrográficas. Esse tipo de precipitação é característica do sul do Brasil, caracterizando os verões secos e invernos úmidos. Já em regiões de clima equatorial esses mecanismos geram invernos secos e verões úmidos. Fenômenos como o “El Niño” possuem grande influência sobre esse tipo de precipitação. Nesse caso específico, se verificou um aumento das chuvas na região sul da América do Sul. 4.3.2 – Chuvas Convectivas As chuvas convectivas são também chamadas de chuvas de verão. Devido às altas temperaturas, o solo se aquece e sobe, resfriando rapidamente e condensando o vapor atmosférico. Essas precipitações são características de regiões equatoriais, onde os ventos são fracos e os movimentos de ar são essencialmente verticais. São precipitações de alta intensidade e reduzida área de influência, gerando impactos sobre pequenas bacias hidrográficas. 4.3.3 – Chuvas Orográficas As chuvas orográficas ocorrem devido à influência do relevo (ver Figura 4.1). Ventos com grande umidade provenientes do oceano encontram barreiras montanhosas no continente, elevando-se e resfriando-se, gerando a condensação do vapor atmosférico. São chuvas concentradas, normalmente de pequena intensidade e de grande duração. Figura 4.1 – Esquema da formação da precipitação orográfica 4.4 – PLUVIOMETRIA Basicamente, existem três meios básicos de se medir a precipitação em forma de chuva: pluviômetros, pluviógrafos e radares meteorológicos. No Brasil, a grande maioria das estações de medição de precipitação utiliza pluviômetros. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia (OMM/UNESCO, 1997; in:ENEEL/ANA, 2001) a rede hidrométrica mundial possui aproximadamente 194.000 estações de medição de pluviosidade. O Brasil, em 1999, possui 2.260 dessas estações operadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), hoje sob responsabilidade da Agência Nacional de Águas (ANA). O pluviômetro é o aparelho mais utilizado. Trata-se de um aparelho dotadode uma superfície de captação horizontal delimitada por um anel metálico e de um reservatório que acumula a água recolhida. O tipo de pluviômetro mais difundido no Brasil é o “Ville de Paris”. Esse aparelho possui uma área de captação de 400 cm², de modo que um volume de 40 ml corresponde a 1 mm de precipitação. A água acumulada no aparelho é tirada por meio de uma torneira, em horários prefixados, normalmente às 7:00 e 21:00 hs. Mede-se normalmente a altura pluviométrica utilizando-se uma proveta calibrada. Quando não se dispõe de uma proveta calibrada, calcula-se a precipitação da seguinte forma: A V P 10 (4.1) onde: P – precipitação em mm; V – volume recolhido em cm³ ou ml; e A – área de captação do anel em cm². Ventos quentes e úmidos Deve-se observar que as precipitações acumuladas em 24 horas e observadas antes do meio dia devem ser atribuídas ao dia anterior, pois a maior parte do período transcorrido entre as observações ocorreu nesta data. A ausência de precipitação também é um valor observado e não pode ser confundido com falha de observação. O local escolhido para a instalação do pluviômetro deve ser, de preferência, um terreno plano e livre de obstáculos como árvores, casas, muros etc. Recomenda-se uma distância mínima do obstáculo igual ao dobro de sua altura. As normas da ANEEL recomendam que o aro que delimita o pluviômetro esteja a uma altura de 1,50 metros do solo. Os pluviógrafos são aparelhos que registram continuamente a precipitação. Existem vários tipos que armazenam a informação de forma analógica ou digital. Os aparelhos analógicos registram graficamente a chuva acumulada (nas ordenadas) contra o tempo (abscissas). Os três tipos de pluviógrafos mais comuns são: o de bóia, o de balança e o de cubas, que podem armazenar chuva acumulada ou em papel fixado sobre um tambor giratório ou em gráficos na forma de bobina. Em geral os gráficos em tambor possuem autonomia diária ou semanal. Já as bobinas possuem autonomia maior (1 a 6 meses). A Organização Mundial de Meteorologia (OMM) preconiza que devem existir 10 pluviômetros para cada pluviógrafo. Os radares são sistemas que operam em comprimentos de onda que são refletidos pelas precipitações. O princípio é que a intensidade da onda refletida guarda relação com a intensidade da chuva. Logo, pode-se estabelecer a distribuição espacial da chuva em cada instante e dentro de um raio de até 200 km. Observa-se, no entanto, que a precisão do radar em relação aos valores medidos em pluviógrafos deixa bastante a desejar, além de serem equipamentos caros. 4.5 - ANÁLISE DOS DADOS Antes dos dados de chuva de determinada região serem utilizados, deve-se fazer uma análise dos mesmos de forma a se identificar possíveis erros. Dentro dessa análise, séries de observações podem conter falhas, que devem ser preenchidas por métodos estatísticos. Os métodos mais comuns de prenchimento de falhas são o Método de ponderação regional e o Método de regressão linear. 4.5.1 Método de ponderação regional O método de ponderação regional é utilizado para preenchimentos de falhas de séries mensais e anuais de precipitação. O preenchimento de falhas de precipitações diárias é muito difícil de se fazer, não sendo recomendado aplicação desse método. m mmm y] x x x x x x [y 3 3 2 2 1 1 3 1 (4.2) onde: y é a precipitação do posto Y a ser estimada; x1, x2 e x3 as precipitações correspondentes ao mês (ou ano) que se deseja preencher, observadas em três estações vizinhas; ym a precipitação média do posto Y e xm1, xm2 e xm3 as precipitações médias nas três estações circunvizinhas. A escolha dos postos a serem utilizados no método de ponderação regional deve levar em consideração um intervalo mínimo de série (usualmente 30 anos), e, comportamento climatório semelhante. Portanto, deve-se analisar posto por posto, escolhendo preferencialmente, postos com mesmo tamanho do intervalo de série. Nos casos onde o intervalo de análises é pequeno, ou estes apresentem uma quantidade de falhas considerável (valor limite = 35 a 40%) No Brasil normalmente não existe problema quanto à existência de grandes discrepâncias climatológicas devido à proximidade dos postos. A concentração populacional deve ser fator provável de certas regiões possuírem uma maior (ou menor) quantidade de postos (Ex.: Sul do Rio Grande do Sul, com relação ao planalto) A utilização de softwares, como o Surfer, deve ser efetuada com cuidado, sendo de grande necessidade, compreender como estes aplicativos preenchem falhas, para que não seja realizada nenhuma ação sem o consentimento do usuário. 4.6 ANÁLISE DE CONSISTÊNCIA DE SÉRIES PLUVIOMÉTRICAS Após o preenchimento da série é necessário analisar a sua consistência dentro de uma visão regional, isto é, comprovar o grau de homogeneidade dos dados disponíveis num posto com relação às observações registradas em postos vizinhos. No Brasil, é prática comum a utilização do método da Dupla Massa, válido apenas para séries mensais ou anuais. O método consiste em acumular os valores mensais (se for o caso) para cada posto selecionado, plotando os valores a consistir nas ordenadas de um plano cartesiano, e os valores de um outro posto confiável (base de comparação) nas abcissas. Um aprimoramento do método consiste em obter os valores médios das precipitações mensais acumuladas em vários postos da região, utilizando essa série como base de comparação. Se os valores do posto a consistir forem proporcionais aos observados, os pontos devem se alinhar segundo uma única reta, como pode ser observado na Figura 4.2.a. A declividade da reta determina o fator de proporcionalidade entre as séries. A possibilidade de não alinhamento dos pontos segundo uma única reta existe e pode apresentar as seguintes situações: a) mudança na declividade, determinando duas ou mais retas. Constitui o exemplo típico derivado da presença de erros sistemáticos, mudanças graduais ou pontuais, alteração de localização ou a existência de uma causa física real. Para que se possa considerar a existência de mudança na declividade, é prática comum exigir a ocorrência de pelo menos cinco pontos sucessivos alinhados segundo a nova tendência. Figura 4.2 Casos típicos relativos ao método de Dupla Massa Para se corrigir os valores correspondentes ao posto sob análise, existem duas possibilidades: corrigir os valores mais antigos para a situação atual ou os mais recentes para a condição antiga. A escolha da alternativa de correção depende das causas que provocaram a mudança de declividade. Por exemplo, se forem detectados erros no período mais recente, a correção deve ser realizada no sentido de preservar a tendência antiga, acumulando os dados do passado para o presente. Caso se deseje ajustar dados do passado, deve se acumular do presente para o passado (ordem cronológica inversa). Os valores inconsistentes podem ser corrigidos de acordo com a expressão 4.3 (ver Figura 4.2.b). Pc = Pa *+ Ma/Mo*Po (4.3) onde Pc = precipitação acumulada ajustada à tendência desejada, Pa * = vaor da ordenada correspondente à interseção das duas tendências, Ma = coeficiente angular da tendência desejada, Mo = coeficiente angular da tendência a corrigir e Po = Po-Pa *, sendo Po = valor acumulado a ser corrigido; b) alinhamento dos pontos em retas paralelas: ocorre quando existem erros de transcrição de um ou mais dados ou pela presença de nos extremos em uma das séries (ver Figura 4.2.c). O comportamento das retas segundo alinhamentos verticais (ou horizontais) pode ser a evidência da comparação de postos com diferentes regimes pluviométricos; c) distribuição errática dos pontos: geralmente é resultado da comparação de postos comdiferentes regimes pluviométricos, sendo incorreta toda associação que se deseje fazer entre os dados dos postos plotados (ver Figura 4.2.d). Podem existir casos, como em áreas de planície, onde a vazão pode sofrer redução, devido ao volume “perdido” em cheias, sendo sensível a variação de tendência dos pontos onde este fato ocorre. Como exemplo, podemos citar o aumento de volume no rio Paraguai a partir de 1973, onde os dados saltaram de 150 mm em média, para 600 mm. Uma vez finalizada a análise de consistência, pode ser necessária uma revisão dos valores previamente preenchidos. O preenchimento das séries deve ser novamente efetuado caso forem observadas modificações de tendências. 4.7 PRECIPITAÇÃO MÉDIA ESPACIAL Para calcular a precipitação média numa superfície qualquer, é necessário utilizar as observações dentro dessa superfície e nas suas vizinhanças. Aceita-se a precipitação média como sendo uma lâmina de água de altura uniforme sobre toda a área considerada (ver Figura 4.3.a), associada a um período de tempo dado (como uma hora, dia, mês, ano), muito embora se saiba que a chuva real obedece a distribuições espaciais e temporais variáveis (ver Figura 4.3.b). O risco de utilização dos dados de precipitação média espacial reside na aplicação dos mesmos para projetos de irrigação. Existem diversos métodos para determinar a precipitação média numa área, conforme a ponderação que se faz das observações pontuais disponíveis (ver Figura 4.3.c). A seguir são descritos os métodos mais usuais. Figura 4.3 – Conceito de precipitação média Média Aritmética: Consiste em obter uma média aritmética de todos os valores de precipitação conhecidos para a região. Este método ignora as variações geográficas da precipitação, sendo aplicada apenas em regiões planas com concentração razoável de postos para o local estudado, além de variação gradual e suave do gradiente pluviométrico. Thiessen: Considera a não-uniformidade da distribuição espacial dos postos, não levando em conta o relevo da bacia, dando bons resultados em terrenos levemente acidentados, quando a localização e exposição dos pluviômetros são semelhantes e as distâncias entre eles não são muito grandes. A metodologia é a seguinte (ver Figura 4.4): a) ligue os postos por trechos retilíneos; b) trace linhas perpendiculares aos trechos retilíneos passando pelo meio da linha que liga os postos; c) prolongue as linhas perpendiculares até encontrar outra. O polígono é formado pela interseção das linhas, correspondendo à área de influência de cada posto; d) a precipitação média é calculada por: Pm = 1/A * ∑Ai*Pi (4.4) onde Ai = área de influência do posto i; Pi = precipitação registrada no posto i e A = área total da bacia. Figura 4.4 – Método de Thiessen Isoietas: Trata-se de linhas de igual precipitação que podem ser traçadas para um evento ou para uma duração específica. Para uma bacia hidrográfica, deve-se analisar os postos das redondezas. O traçado destas ser efetuado da seguinte forma (ver Figura 4.5): a) localize os postos no mapa da região de interesse, escrevendo o total precipitado ao lado de cada um deles; b) esboce linhas de igual precipitação; c) ajuste estas linhas por interpolação entre os pontos; d) utilize um mapa topográfico e superponha com o de isoietas. Faça um ajuste destas com o relevo (podem existir picos ou depressões); e) para se obter a precipitação, planimetra- se a área entre isoietas, Ai,i+1, multiplique pela média das precipitações das respectivas isoietas, (Pi+Pi+1)/2, e divide-se pela área total: Pm = 1/A * Ai,i+1* (Pi+Pi+1)/2 (4.5) Figura 4.5 – Método das isoietas 4.8 PRECIPITAÇÕES MÁXIMAS A precipitação máxima pode ser definida como a ocorrência extrema de precipitação com duração, distribuição temporal e espacial crítica para uma área ou bacia hidrográfica. A importância de seu estudo reside no fato desta levar ao conhecimento da vazão de enchente de uma bacia. Além desta, pode-se salientar a atuação em erosão do solo, inundações em áreas rurais e urbanas, obras hidráulicas, entre outros. As precipitações máximas são retratadas pontualmente (abrangência máxima aceitável de 20 a 25 km2) pelas curvas de intensidade, duração e freqüência (i-d-f) e através da Precipitação Máxima Provável (PMP), método mais utilizado para grandes obras, onde o risco de rompimento deve ser mínimo. As características da distribuição temporal (hietograma) e espacial são importantes para a caracterização da vazão na bacia. Antes de apresentar como se determinam as curvas i-d-f, vê-se a necessidade de definir o tempo de retorno ou recorrência de uma determinada precipitação. 4.8.1 Tempo de Retorno Trata-se do tempo médio em que dado evento, ou para este caso, dada precipitação, probabilisticamente, acontecerá novamente. A seguir será apresentado o roteiro para cálculo do tempo de retorno (Tr) de uma precipitação com base numa série de dados: 1 - Ordenar de forma decrescente a série (para análise de cheias). Obs.: Para o caso de analisar estiagens, analisar a probabilidade complementar. 2 - Calcular a probabilidade (Pr) de ocorrência com base na ordem (i) e no total de dados da série (n). Pr = i/(n+1) (4.6) 3 - Obter o tempo de retorno (Tr), dado pelo inverso da probabilidade (Pr). Tr=1/Pr (4.7) 4 - Plotar o gráfico Precipitação x Tempo de Retorno 4.9 DETERMINAÇÃO DE CURVAS I-D-F A necessidade de se conhecer as três grandezas que caracterizam as precipitações máximas (intensidade, duração e freqüência) é encontrada para projetos de obras hidráulicas, tais como vertedores de barragens, sistemas de drenagem, galerias pluviais, dimensionamento de bueiros, entre outros, tendo em vista a correlação existente entre chuva e vazão. A relação entre intensidade, duração e freqüência varia entre largos limites, de local para local e só pode ser determinada empiricamente através da análise estatística de uma longa série de observações pluviográficas locais, não havendo possibilidade de estender os resultados obtidos em uma região para regiões diversas. Os resultados dessas análises estatísticas podem ser apresentados graficamente, através de uma família de curvas (uma para cada período de recorrência) que ligam as intensidades médias, máximas às durações (GARCEZ, 1967). A intensidade pode ser substituída pela precipitação total na duração, denominando-se curvas p- d-f. Correlacionando intensidade e duração verifica-se que quanto mais intensa for a precipitação, menor será sua duração. A relação das maiores intensidades para cada duração pode ser obtida de uma série de registros pluviográficos de tormentas intensas do local em estudo, ou estimada com base nos dados dos postos vizinhos. 4.9.1 Determinação das curvas em locais com dados Na análise estatística das séries de precipitações podem ser seguidos dois enfoques alternativos: séries anuais ou séries parciais. A escolha depende do tamanho da série e do objetivo do estudo. Segundo WILKEN (1978), citado por TUCCI (1993) o método de séries parciais é utilizado quando o número de dados é pequeno (< 12 anos) e os tempos de retorno que serão utilizados inferiores a 5 anos. Para séries anuais, devem ser selecionadas as maiores precipitações anuais de uma duração escolhida. A escolha destas durações depende da discretização dos dados e da representatividade que se deseja alcançar. Em geral, são escolhidas as seguintes durações: 5, 10, 15, 30, e 60 min, 1, 2, 4, 6, 12, 18 e 24 horas. O ajuste destes valores deve ser realizado seguindo uma distribuição estatística de extremos a escolher (Gumbel, Log-Normal, Log- Pearson III, são as mais comumente utilizadas). Dividindo a precipitação pela sua duração, obtém-se aintensidade, resultando nas curvas i-d-f (ver Figura 4.6). Figura 4.6 – Curvas i-d-f Com a finalidade de facilitar os cálculos, procura-se ajustar as curvas a equações matemáticas genéricas, embora haja possibilidade de encontrar erros, da seguinte forma (pode- se utilizar regressão múltipla): b dct Tra i )( (4.8) onde i = intensidade, geralmente expressa em mm/h; Tr = tempo de retorno, em anos; t = duração da chuva, em minutos, e a, b, c e d são parâmetros que são determinados para cada local. O ajuste pode ser realizado, linearizando esta equação através do uso de logaritmos. Na literatura existem várias equações determinadas para diferentes cidades do país (ver Tabela 4.1). Tabela 4.1 Valores de Duração Duração Duração 5 min 0,108 15 min 0,122 30 min 0,138 1h 0,156 2h 0,166 4h 0,174 8h 0,176 14h 0,174 24h 0,170 48h 0,166 3d 0,160 4d 0,156 6d 0,152 Curvas i-d-f foram estabelecidas por PFASTETTER (1957), segundo TUCCI (1993), para 98 postos localizados em diferentes regiões do Brasil. Fazendo uso da plotagem das curvas p-d-f em escala bilogarítmica, o autor ajustou para cada posto a seguinte equação empírica: )]1log([ tcbtaRP (4.9) onde P = precipitação máxima em mm, t = duração da precipitação em horas, a, b e c constantes para cada posto e R = fator de probabilidade, definido como: )/( TrTrR (4.10) sendo Tr = tempo de retorno em anos, α e β valores que dependem da duração da precipitação e γ adotada igual a 0,25 para todos os postos. O fator )]1log([ tcbta fornece a precipitação em mm para um tempo de recorrência de 1 ano; o fator R permite calcular a estimativa para outros tempos de retorno. Na Tabela 4.2 serão apresentados os valores de α para as durações entre 5 min e 6 dias. Tabela 4.2 – Valores de , a, b e c para algumas cidades brasileiras Postos Valores de Duração a b c 5 min 15 min 30 min 1h-6d Aracaju - SE 0,00 0,04 0,08 0,20 0,6 24 20 Belem - PA -0,04 0,00 0,00 0,04 0,4 31 20 B. Horizonte - MG 0,12 0,12 0,12 0,04 0,6 26 20 C. do Sul - RS 0,00 0,08 0,08 0,08 0,5 23 20 Cuiabá - MT 0,08 0,08 0,08 0,04 0,1 30 20 Curitiba - PR 0,16 0,16 0,16 0,08 0,2 25 20 Florianópolis - SC -0,04 0,12 0,20 0,20 0,3 33 10 Fortaleza - CE 0,04 0,04 0,08 0,08 0,2 36 20 Goiania - GO 0,08 0,08 0,08 0,12 0,2 30 20 Rio de Janeiro - RJ -0,04 0,12 0,12 0,20 0 35 10 João Pessoa - PB 0,00 0,00 0,04 0,08 0,6 33 10 Maceió - AL 0,00 0,04 0,08 0,2 0,5 29 10 Manaus - AM 0,04 0,00 0,00 0,04 0,1 33 20 Natal - RN -0,08 0,00 0,08 0,12 0,7 23 20 Niterói - RJ 0,08 0,12 0,12 0,12 0,2 27 20 Porto Alegre - RS 0,00 0,08 0,08 0,08 0,4 22 20 Porto Velho - RO 0,00 0,00 0,00 0,04 0,3 35 20 Rio Branco - AC -0,08 0,00 0,04 0,08 0,3 31 20 Salvador - BA -0,04 0,08 0,08 0,12 0,6 33 10 São Luiz - MA -0,08 0,00 0,00 0,08 0,4 42 10 São Carlos - SP -0,04 0,08 0,08 0,12 0,4 29 20 Uruguaiana - RS -0,04 0,08 0,08 0,12 0,2 38 10 Os valores de β (função da duração) e de a, b e c correspondentes a cada um dos 98 postos serão mostrados na Tabela 4.3. Tabela 4.3 – Coeficientes da equação das curvas i-d-f para algumas cidades brasileiras. Cidade a b c d Observ. P. Alegre (Redenção) 1265 0,052 12 05,0/88,0 Tr P. Alegre (IPH) 509,859 0,196 10 72,0 P. Alegre (Aeroporto) 748,342 0,191 10 803,0 P. Alegre (8º D. Met.) 2491,78 0,192 16 1,021 Lages SC 170 0 465,0 Tr = 5 anos; min20t Curitiba PR 5950 0,217 26 1,15 São Paulo SP 29,13 0,181 15 0,89 em mm/min São Paulo SP 27,96 0,112 15 0144,0 86,0 r T 0,82 min60t min60t 42,23 0,15 0,82 min60t Rio de Janeiro RJ 1239 0,15 20 0,74 min60t Quando há a necessidade, interpola-se os valores para durações intermediárias. 4.9.2 Determinação das curvas em locais sem dados pluviográficos Freqüentemente é necessário determinar curvas i-d-f para locais onde não existem postos em sua proximidade. Para tanto, podem ser aplicadas metodologias como as descritas a seguir. Método de Bell – Baseado em dados de vários continentes, Bell ajustou a seguinte equação: 60 2 25,0 )5,054,0()76,0)(ln35,0( PtTrP tT (4.11) onde t em minutos e Tr em anos. A equação é válida para 1205 t minutos e 1002 Tr anos. Assim, partindo da chuva de 2 anos e 60 minutos se pode chegar às outras. Na existência de um posto com série curta, a análise por séries parciais permite a estimativa desta precipitação. Para o cálculo de 60 2P utiliza-se a seguinte equação, segundo BELL (1969), citado por TUCCI (1993): 33,0360 2 1069,6 nMP (4.12) para 8,500 M mm e 801 n , onde M é a média das precipitações máximas anuais com duração diária, em mm e n o número médio de dias de tormentas. Para o intervalo 3,1148,50 M e 801 n , a expressão é: 33,067,0360 2 1027,8 nMP (4.13) Este método permite que seja possível estimar a relação entre intensidade, duração e freqüência para um local onde existam somente dados de pluviômetro. Método das relações de duração - Permite determinar uma curva que relaciona a intensidade (i) em função da duração (t) e da probabilidade de sua ocorrência ( Tr p 1 1), estimada a partir de dados disponíveis na região, e assim, estimar estas relações no local de interesse. Características do Método: a) considera que existe tendência das curvas de probabilidade de diferentes durações manterem-se paralelas entre si (quando graficadas no papel log-log) de acordo com a figura 4.7. Figura 4.7 – Tendência de paralelismo entre as curvas de probabilidade de diferentes durações para um determinado posto. b) para diferentes locais existe uma grande similaridade nas relações entre precipitações médias máximas de diferentes durações. As relações entre duração são obtidas através da equação 4.14, conforme descrito abaixo: 2, 1, 2/1 2 1 tT tT tt P P tduraçãodeãoprecipitaç tduraçãodeãoprecipitaç r (4.14) Os valores médios destas relações obtidos para o Brasil e para os Estados Unidos são apresentados segundo a tabela 4.4. 1 Tr é o tempo de retorno, interpretado como o número médio de anos durante o qual espera-se que a precipitação analisada seja igualada ou superada. t2 t1 PT1,d2 PT2,d2 PT1,d1 PT2,d1 T1 T2 Tr P Tabela 4.4 – Relações entre durações (CETESB, 1979) Relação Brasil Estados Unidos U.S.W. Bureau Estados Unidos Dever 5min/30min 0,34 0,37 0,42 10min/30min 0,54 0,57 0,63 15min/30min 0,70 0,72 0,75 20min/30min 0,81 0,84 25min/30min 0,91 0,92 30min/1h 0,74 0,79 1h/24h 0,42 6h/24h 0,72 8h/24h 0,78 10h/24h 0,82 12h/24h 0,85 24h/1dia 1,14* 24h/1dia 1,10** *valor da cidade de São Paulo **Taborga (1974) A precipitação de duração diária corresponde ao valor compreendido entre os horários de observação pluviométrica, enquanto que a precipitação de 24 horas é o maior valor de chuva correspondente a um período consecutivo de 24 horas (não necessariamente coincide com o período de observação). A figura 4.8 apresenta, graficamente, a diferença entre essas precipitações máximas. Figura 4.8 – Diferença entre as precipitações máximas diárias e de 24 horas. Metodologia Empregada: a) Selecione as precipitações máximas anuais do posto com precipitações diárias; b) Ajuste uma distribuiçãode probabilidade e obtenha as precipitações de 1 dia para os riscos desejados -> P(1dia,T); c) Escolha um posto na vizinhança (aproximadamente 100 Km de distância, caso não disponha, utilizar fatores nacionais) que disponha de curvas i-d-f; d) Determine as relações entre as durações para as durações que se deseja determinar a i-d-f -> r(d1,1dia). e) Determine a T,diaPdia,drdia,dP 11111 ; 4.10 Distribuição Temporal Estudos realizados mostram que a precipitação varia dentro de sua duração, i.e., existe grande variabilidade da distribuição temporal das chuvas. Para esta variação, não existe um padrão definido e o processo é totalmente aleatório, ao contrário do registro do pluviômetro onde se lê o total precipitado em um determinado período, conforme a figura 4.9. dia 1 Horário de observação P Pmax de 1 dia Pmax de 24 horas dia 2 dia 3 dia 4 ... horast 3 (a) (b) Figura 4.9 – Apresentação da distribuição temporal de uma chuva (a) e a medida do pluviômetro (b). Ao conhecer este fato alguns padrões foram desenvolvidos (curvas adimensionais), para as condições mais desfavoráveis ou que produzem maiores hidrogramas, com a finalidade de representar a distribuição temporal das chuvas. Hershfield (1962) obteve estatisticamente uma curva expressa em percentagem do total precipitado versus percentagem da duração da tempestade para todas as durações, enquanto Soil Conservation Service (1976) desenvolveu uma curva semelhante, válida para a duração de 6 horas. As curvas são apresentadas na figura 4.10. Figura 4.10 – Curvas de 50% de probabilidade de ocorrência para os quatro quatis Huff (1970). Huff (1970) classificou as tempestades inicialmente em quatro grupos. Cada precipitação intensa teve sua duração total dividida em quatro partes (quartis) e as mesmas P t 1 hora P t 1 hora Padrão Aleatório (Real) Medida do Pluviômetro foram classificadas de acordo com a parte em que a precipitação máxima caiu. As curvas para a probabilidade de 50% dos quatros quartis estão apresentadas na figura 4.11. Figura 4.11 – Distribuição temporal, Hershfield (1962) e SCS (1976). Hietogramas de projeto baseados nas curvas i-d-f (Método de Chicago) Hietograma de projeto (Figura 4.12) é uma seqüência de precipitações capaz de provocar a cheia de projeto. Este método utiliza as equações das curvas i-d-f do local de interesse para estabelecer a distribuição de uma precipitação de projeto no tempo. Este foi desenvolvido, inicialmente, para a cidade de Chicago e é utilizado para drenagem urbana com duração da ordem de até 3 horas. As equações das curvas do hietograma, que mostram a variação da intensidade em função do tempo de duração da chuva, podem ser escritas como: nA b bna i 1 1 , bt0 (antes do pico) (4.15) nD b bna i 1 1 , at0 (depois do pico) (4.16) onde i = intensidade média máxima, em mm/h; a,b e n são constantes para o local de medição de acordo com a tabela 4.5; tb e ta representa o tempo anterior e posterior, respectivamente, ao pico, tb + ta = tc (tempo de recorrência); cb tt é uma medida do adiantamento do padrão de chuva, i.e., permite o posicionamento do pico da distribuição de intensidade, conforme a tabela 4.6; é a duração da chuva em min. A área sob o hietograma define a lâmina precipitada (P), em mm, dado por: 2 1 )( 60 1 diP (4.17) Logo, para o cálculo da precipitação antecedente (região hachurada da figura 4.12), pode-se utilizar a equação 4.18. Usa-se a função de intensidade antes do pico. bb bt A bt A tPtPdiditA * 0 * 0 )()( 60 1 (4.18) Analogamente, o cálculo do volume precipitado no período de máxima, em mm, é dado por: ab at D bt Aprecmáx tPtPdidiV 00 , )()( 60 1 (4.19) Figura 4.12 – Características do hietograma definido pelo método de Chicago. 0 TEMPO (min) I (mm/h) Precip. Antec. = A(t) tb ta tc tb* ta* t* Volume precipitado no período de máxima. Volume total precipitado IM = Intensidade média durante o período de máxima Tabela 4.5 – Coeficientes da equação das curvas i-d-f para algumas cidades brasileiras. Cidade a b N Observ. P. Alegre (Redenção) 0,0521265 Tr 12 05,0/88,0 Tr P. Alegre (IPH) 0,196859,509 Tr 10 72,0 P. Alegre (Aeroporto) 0,191342,748 Tr 10 803,0 P. Alegre (8º D. Met.) 0,19278,2491 Tr 16 1,021 Lages SC 0 465,0 Tr = 5 anos; min20t Curitiba PR 0,2175950 Tr 26 1,15 São Paulo SP 0,018113,29 Tr 15 0,89 em mm/min São Paulo SP 0,11296,27 Tr 0,1523,42 Tr 15 0144,0 86,0 r T 0,82 min60t min60t 0,1523,42 Tr 0,82 min60t Rio de Janeiro RJ 0,151239 Tr 20 0,74 min60t Tabela 4.6 – Valores de . Local ou autor Chicago (83 postos) 0,37 Winnipeg (60 postos) 0,31 Montreal (22 enchentes) 0,50 Hershfield (50 postos) 0,53 SCS 0,37 Los Angeles 0,56 Cleveland 0,50 Sidney 0,50 São Paulo (1 posto) 0,36 Porto Alegre (1 posto) 0,44 4.11 Distribuição Espacial A variabilidade espacial de chuvas é aleatória, ou seja, sem padrões definidos, assim como na distribuição temporal. Estas informações são raras dentro da realidade brasileira. Esta variabilidade levou a dois procedimentos básicos: a) padronização de isoetas que produzem as condições mais desfavoráveis; b) determinação da curva altura pluviométrica-área-duração, que permite transferir o resultado pontual para o espacial. Adota-se cerca de 10 milhas2 ou cerca de 25 km2 onde os valores pontuais de intensidade médias máximas não se reduzem. À medida que a intensidade aumenta estes valores podem ser reduzidos. REFERÊNCIAS GARCEZ, L.N. 1967. Hidrologia. Editora Edgard Blücher. Editora da Universidade de São Paulo. SANTOS, et al. Hidrometria Aplicada. 1 ed. Curitiba: Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento, 2001; 372p. SETTI, ARNALDO AUGUSTO. Introdução ao Gerenciamento de Recursos Hídricos. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica; Agência Nacional de Águas, 2001; 328p. TUCCI, Carlos E.M.(org). Hidrologia Ciência e Aplicação. 2 ed. Porto Alegre: Editora da Universidade: ABRH, 1993. – (Coleção ABRH de Recursos Hídricos; v.4) 943p. EXERCÍCIOS
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