Buscar

PROCESSO PENAL - LIDE

Prévia do material em texto

Centro Universitário Newton Paiva
DIREITO PROCESSUAL PENAL II
Prof. Alexandre Auad 
Turma: 7N1 - 807
Camila Barbosa de Souza – 11221529
Jeniffer Oliveira – 11622628
Flavia Nonato da Silva – 11613071
Luciana Marcelino da Costa Leal - 11220456
Rane Karan Salim – 11310654
Belo Horizonte, 1º de setembro de 2017.
O Conceito de Lide, conforme primitivamente formulado por Carnelutti para o Processo Civil é adequado ao Direito Processual Penal?
Carnellutti deu a lide uma conceituação de: “o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou contestada”.
Humberto Theodoro Jr. (2001 p.31) explica o que seria o interesse e a pretensão dita por Carnellutti como:
[...] interesse é a “posição favorável para a satisfação de uma necessidade assumida por uma das partes” e pretensão, “a exigência de uma parte de subordinação de um interesse alheio a um interesse próprio”.
Assim conseguimos vislumbrar sem dúvidas sua aplicação no Direito Processual Civil; Porém quanto ao Processo Penal não há nitidez quanto à sua aplicação, havendo diversas divergências sobre a existência ou não da lide neste processo. 
Inicialmente no campo penal, havendo necessidade de subordinação do interesse do autor do suposto delito penal ao interesse da sociedade Estatal, nasce a exigência punitiva. Seguindo assim, haverá a pretensão de uma parte em oposição à outra, ficando caracterizada a lide. 
Faz-se necessário lembrar que o sistema do Processo Penal segue o sistema acusatório, sendo-lhe intrínseco a presença do “conflito de interesses” e da “pretensão resistida”, características da lide clássica. 
Fernando Costa Tourinho como um dos defensores da existência da lide no Processo Penal, por esta ser inerente a todas as formas de ação diz que: “Processualmente, não há diferença entre ação penal e ação civil, salvo no que respeita à pretensão que lhe serve de suporte fático. Se a pretensão é de natureza penal, ação penal; ação civil, se extrapenal a pretensão.” Tourinho (2001 p.100)
O conceito de lide apresentado por Carnelutti, não encontra subsistência dentro do processo penal, pois conforme versa Afrânio Silva Jardim, "Não é incomum haver consenso entre as partes e o processo ser necessário por imposição da própria lei... O desejo do réu de submeter-se à pena é irrelevante... Não se pode negar que o processo é uma das formas mais comuns de composição do conflito de interesses. Entretanto, urge admitir que a lide não lhe é essencial, podendo o processo ser concebido sem uma efetiva oposição do réu à pretensão do autor. " 
O princípio basilar da propositura da ação penal, onde se apura os fatos apresentados e verifica a veracidade para, somente ao final, estabelecer conclusivamente a existência ou não do crime tipificado. Ou seja, até o momento não existe uma lide. Um exemplo é quando o réu é citado tem a possibilidade de confessar a autoria do fato criminoso, não existindo assim um conflito de interesse entre as partes, pois a pretensão não foi resistida. No processo penal, acusação e defesa conjugam esforços para a descoberta da verdade. 
A lide é o conteúdo do Processo Penal?
Lide, que vem do latim lis, litis, quer mesmo significar contenda, questão, luta, mas deve, juridicamente, cair no entendimento vulgar de “briga, mas por meio da Justiça”. Roberto Barcellos de Magalhães considera a lide como objeto principal do processo civil; Já no processo penal o grande desiderato não é a composição do litígio e sim desvendar, demonstrar e encontrar a verdade dos fatos. Encontrada, fica fácil a aplicação do Direito, seja prevalecendo o jus puniendi do Estado, seja prevalecendo o jus libertatis do réu, os dois modos dependem da verdade final ao fim do processo. 
O grande interesse do Estado é, sem dúvida, ver a Constituição Federal ser efetivada, é ver os objetivos estabelecidos no art. 3º, incs. I, II, III e IV se realizarem. Evidente que, se o Estado quer alcançar os objetivos, principalmente - o que nos interessa no momento -, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, com promoção de todos sem preconceitos e qualquer forma de descriminalização, claro que a consequência lógica é o estabelecimento do estado de inocência da pessoa humana, como sensivelmente adotado pelo próprio povo, via legislador constitucional, CF/88. art. 5º, inc. 57. Assim, o Estado respeita, e deve ser o primeiro a respeitar, a presunção de que todos são inocentes. Se o Estado respeita o princípio da presunção de inocência, ele, logicamente, não terá interesse em condenar ninguém, já que será vantajoso para ele perceber que as normas de eficácia limitada de princípio programático da Constituição Federal estão sendo realizadas e que, por isso, ninguém terá o desejo de cometer crimes, ou agir em desacordo com os mandamentos inseridos nos preceitos normativos, as leis.
O Ministério Público, tão grandiosamente inserido na Constituição que chega a levar doutrinadores a considerá-lo um verdadeiro Poder, não pode intentar uma ação penal visando, única e exclusivamente, a condenação do réu, pois a ele cabe, acima de tudo, a defesa da ordem jurídica (art. 127, CF), e defende-se a ordem jurídica aplicando-se o Direito ao caso concreto, depois que descoberta a verdade real. E mais: o processo penal para a aplicação do direito de punir do Estado, é um serviço de relevância pública, e o direito de liberdade, dignidade, o princípio da presunção de inocência, são direitos assegurados na Constituição e, defendendo o serviço de relevância pública e os direitos assegurados na Magna Carta de 1988, o Ministério Público poderá promover as medidas necessárias para a sua garantia (cf. art. 129, inciso II, in fine, CF/88), não sendo vedado ao Ministério Público recorrer em favor do réu, e muito menos impetrar a ação popular constitucional de Habeas Corpus em seu benefício.
Da mesma forma, a defesa, mesmo influenciada pelos interesses do réu, não pode tentar valer esses interesses, e sim os direitos. A defesa técnica só poderá fazer valer os direitos do acusado, nunca seus interesses, que certamente não estarão tutelados pela lei e, por certo, como de regra, ultrapassarão e desviarão a intenção e a efetivação da lei, não querendo vê-la aplicada. O Ministério Público, sim, poderá fazer valer seus interesses, pois estes sempre estarão protegidos pela lei, uma vez que ele só existe para que a lei seja efetivada, que o ordenamento jurídico seja respeitado e que, precipuamente, os direitos e garantias estejam sempre presentes. Se, em determinado momento processual, houver um interesse, não protegido, ficando o Representante do Parquet em posição desfavorável, essencialmente, não estaremos diante da atuação ministerial, e sim de um Representante isolado querendo fazer valer seus interesses pessoais. No entanto, caberia a indagação de que existiria lide porque a defesa do réu é obrigatória, havendo, assim, uma pretensão resistida; Essa argumentação não pode prosperar, porque a defesa não é obrigatória.Para que o réu receba a punição do Estado, é-lhe devido um processo penal, e este processo penal só será válido se houver uma defesa, de um lado, e a acusação, de outro, com um juiz previamente competente para julgá-lo - juiz natural -, justamente para formalizar o "due process of law" garantido na Constituição Federal. Assim, a defesa que é obrigatória é a defesa técnica, como injunção legal, para formalizar o processo. O réu, se assim quiser, pode deixar de se defender, pessoalmente. É que a autodefesa é facultativa, tanto é assim que o processo penal poderá correr sem a sua presença, se citado pessoalmente e não comparecer na audiência para seu interrogatório, art. 367 do CPP.
Outra indagação que não se pode colimar ao ostracismo é o fato que a palavra lide sempre foi e sempre deverá ser empregado no caso de Justiça Privada, em que uma parte, mediante esforço particular, debate com outra parte, criando a contenda perante o Poder Judiciário, o que não ocorre noprocesso penal, cujo dano decorrente do crime reveste-se de sociabilidade, de interesse público. No Superior Tribunal de Justiça, o Ministro Vicente Cernicchiaro faz questão de deixar clara a inexistência da lide no processo penal, alegando, entre outros motivos, a prioridade, já destacada, pela busca da verdade real, sem presença de conflito de interesses, assim como pela descaracterização do processo penal como Justiça Privada. Não podemos olvidar que não se pode afirmar que no processo penal não há lide, sem exceções. Estamos nos referindo, até o momento, às ações penais em que cabe única e exclusivamente ao Ministério Público, mediante representação ou mesmo de forma incondicionada. A ação penal privada e a exclusivamente privada, é característica da existência da lide, pois, no caso, o Querelante não quer, na verdade, ver um interesse protegido pela lei - direito - sendo aplicado, e sim um interesse geral de condenação, não importando ao Querelante se o Querelado tem ou não interesses ou direitos, pois o Querelante, diferentemente do Ministério Público, não tem o dever de defender o ordenamento jurídico, as garantias constitucionais ou a descoberta da verdade real.
Entre os elementos estabelecidos legalmente para o aperfeiçoamento da denúncia, estão a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas, cf. art. 41, CPP, e não aparece a necessidade do pedido de condenação. Na verdade, se houvesse a lide, o legislador teria inserido mais outro requisito, que seria o pedido de condenação, sob pena de falta de interesse na causa. Não pode ser rejeitada ou não recebida a denúncia se não for pedido a condenação, por tudo quanto dito. O Direito, na sua divisão penal, está em constante ebulição doutrinária, jurisprudencial e, até, legislativa e, conforme havíamos dito no início deste trabalho, é necessário o aperfeiçoamento constante do processo penal, cada vez mais dando força, autonomia e independência aos órgãos competentes para a acusação, para a defesa e para o julgamento, chegando-se a uma época em que, com a consciência de que o crime sempre fará parte da sociedade, a punição para os desvios de conduta seja célere, justa, com um mínimo de caráter nemésico, e com o máximo de caráter ressocializador.
CONCLUSÃO
O nosso entendimento é que será proporcional a inexistência da lide no processo penal com a proximidade da realidade de que a pena terá, acima de tudo, um caráter ressocializador e, mesmo que o caráter vingativo não possa ser extirpado, que ao menos exista dentro do mínimo, pois, acima do interesse da vítima em sacrificar seu algoz, está o da sociedade em vê-lo ressocializado, não somente com tom romântico, mas também porque não se deseja o alto custo de mantê-lo em prisões eternamente.
Acreditamos que a falta de lide no processo penal só vem a ratificar e fazer, mediante corolário lógico, com que o Direito Criminal enfraqueça a falta de caráter vingativo da pena, e que fortifique o seu lado ressocializador.
Bibliografia:
THEODORO JUNIOR. Humberto. 
Curso de direito processual civil. 37 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 31.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
JESUS, Damásio E. De. Código de Processo Penal Anotado. Editora Saraiva. São Paulo. 2005. 22ª Edição.
PONTES, Bruno Cezar da Luz. O processo penal sem lide. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 3, n. 25, 24 jun. 1998. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/1064>. Acesso em: 1 set. 2017.

Continue navegando