Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAESA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA E BACHARELADO EM QUÍMICA RELATÓRIO EXPERIMENTAL DE FÍSICO-QUÍMICA I DETERMINAÇÃO DA TENSÃO SUPERFICIAL PELO MÉTODO DA GOTA ALAN REINKE PEREIRA VITÓRIA 2014 1 – INTRODUÇÃO As ligações químicas são classificadas de acordo com a natureza dos elementos que estão a se ligar. Quando há uma ligação entre não-metais, chamamos essa ligação de ligação covalente, onde se baseia no compartilhamento de elétrons a fim de adquirir estabilidade (atingir o octeto na camada de valência). Dentro das ligações covalentes, ainda, existe o que chamamos de momento dipolo elétrico, influenciado pela criação de cargas parciais de algum átomo da ligação covalente. Eletronegatividade é uma propriedade periódica que mede a força de um átomo para atrair os elétrons do átomo a quem se liga. Existe uma escala de eletronegatividade que dita os elementos mais eletronegativos: F > O > N > Cℓ > Br > I > S > C > P > H Como se pode observar, o Flúor é o mais eletronegativo dessa escala, atraindo fortemente os elétrons do átomo a quem está se ligando. Portanto, quanto maior a diferença de eletronegatividade, maior a carga parcial gerada. A diferença pode ser tão grande que podemos classificá-la como interações, no lugar de ligações. É o caso da água. A água tem fórmula H2O, ou seja, formado por um átomo fortemente eletronegativo (oxigênio) e um fracamente eletronegativo. Quando se estabelece esse tipo de interação, chamamos de ligação de hidrogênio (para casos em que H se liga a elementos muito eletronegativos: F, O e N) ou também chamado de ponte de hidrogênio. Além desse tipo de interação, também existem outros, como a Tabela 1 indica. Tabela 1: Interações intermoleculares de forma crescente de força[³]. Como podemos ver, a interação íon-íon (ligação iônica) é a interação mais forte, seguido justamente das ligações de hidrogênio, caso citado acima com a água. Por ser uma ligação forte, necessita de muita energia para desfazê-la. Imaginemos um copo com água. O que realmente acontece naquele líquido são as interações por ponte de hidrogênio entre as moléculas de água (Ver figura 1). Figura 1: Distribuição de forças nas moléculas de água[5]. A essa força da interação das moléculas da superfície com as moléculas mais abaixo recebe o nome de tensão superficial. Em outras palavras, a tensão superficial pode ser conceituada como o trabalho necessário para criar uma nova superfície de tamanho unitário[4]. Entretanto, a tensão superficial também se conceitua como uma força contrária a gravidade, decorrente das interações fortes entre as moléculas do fluido. De acordo com CASTELLAN, G. (1986, p. 439) “tensão superficial atua como uma força que se opõe ao aumento da área do líquido”. Para a tensão superficial, a unidade no SI é o N/m, que é numericamente igual a razão do aumento da energia de Gibbs superficial com a área, em joules por metro quadrado. A grandeza da tensão superficial dos líquidos comuns é da ordem da dezena de milinewtons por metro [1]. Tabela 2: Tensão superficial de líquidos a 20ºC Líquido γ (10-3N/m) Líquido γ (10-3N/m) Acetato de etila Acetona Água Álcool etílico Álcool metílico 23,9 23,70 72,75 22,75 22,61 Benzeno Éter etílico n-Hexano Tetracloreto de carbono Tolueno 28,85 17,01 18,43 26,95 28,5 Fonte: CASTELLAN, G. (1986). Existem vários métodos para se calcular a tensão superficial de um líquido, uma delas é o método da gota. O método da gota, assim como todos os métodos que envolvem separação, depende da suposição de que a circunferência vezes a tensão superficial é a força que mantém juntas as duas partes de uma coluna líquida[¹]. Figura 2: Forças que atuam sobre a gota de um líquido[²]. As forças atuando na gota é justamente a força peso (P) e força capilar (Fc). Para líquidos a massa será: m = Vg . ρ Equação 1.0 Onde Vg é o volume da gota e ρ a densidade. A equação 1.1 expressa a força peso: P = m . g Equação 1.1 Substituindo a Equação 1.0 em Equação 1.1, temos: P = Vg . ρ . g Equação 1.2 A Fc é proporcional a tensão superficial γ e à L (linha de contato entre a gota e o tubo). Da definição de tensão superficial, tem-se que: γ = L Fc Equação 1.3 Sendo: L = 2πr Equação 1.4 Substituindo a Equação 1.4 na Equação 1.3: γ = r2 Fc Equação 1.5 Para que a gota se desprenda do tubo, é necessário que as forças atuando sobre ela sejam iguais, para isso: Fc = P Equação 1.6 Substituindo as Equação 1.2 e 1.5 em 1.6, temos: γ2πr = Vg . ρ . g γ = r Vg 2 Equação 1.7 No método da gota, usa-se, como base, a tensão superficial de um líquido (da água, no caso). É feita a medida do número de gotas (n) que é formado em certo volume, que é constante. Sendo assim, o volume de cada gota será: V = n Vt Equação 1.8 Em que V é o volume da gota e Vt é o volume total utilizado na análise. O mesmo também é feito para outro líquido que queira se saber a tensão superficial pelo método da gota. Sendo assim, temos, substituindo a Eq 1.8 em 1.7, nós encontramos o valor da tensão superficial para a água (γa) e para o líquido de interesse (γl) , Equação 1.9 Se dividirmos γa por γl, teremos: 2 – RESULTADOS E DISCUSSÕES No experimento, o método da gota foi realizado com o auxílio de uma bureta de 10 mL, ou seja, a quantidade de gotas da Equação 1.91 é proveniente da quantidade de gotas presentes em 10 mL de amostra. Como se sabe, nesse método utiliza-se a tensão superficial de um líquido para determinar outro. Utilizamos a tensão superficial da água, mas para isso precisamos saber a temperatura da mesma. Com o auxílio de um termômetro, mediu-se 20ºC, então, analisando a Tabela 2, podemos usar a tensão superficial igual a 72,75 dyn/cm. Para tanto, ainda existem incógnitas para a Equação 1.91, como a densidade. Com a ajuda de picnômetro foi medida a densidade da água e também dos líquidos em análise: Tabela 3: Valor das densidades das amostras utilizadas. Substância ρ (g/mL) Água 1,009 Álcool etílico 0,878 Tensoativo (alquil benzeno sulfanato de sódio) 1,008 Cloreto de sódio 1,026 Sabendo a densidade dos líquidos em análise e sabendo a tensão superficial da água a 20ºC, as únicas incógnitas restantes, para calcular a tensão do líquido, são as quantidades de gotas em determinado volume da água e do líquido em análise. Usando a bureta de 10 mL, calculamos, através de triplicata, o número de gotas que continha na amostra de 10 mL. Equação 1.91 Tabela 4:Quantidade de gotas de cada líquido em uma amostra de 10 mL. Substância n (número de gotas) Água 248,66 Álcool etílico 540 Tensoativo (alquil benzeno sulfanato de sódio) 463,33 Cloreto de sódio 216,66 Eliminando as incógnitas, pode-se utilizar a Equação 1.91 a fim de calcular a tensão superficial do álcool etílico, tensoativo e também do cloreto de sódio. Tabela 5: Tensões superficiais dos líquidos em análise. Substância γ (10-3N/m) Álcool etílico 29,15 Tensoativo (alquil benzeno sulfanato de sódio) 39 Cloreto de sódio 84,90 Em função dos resultados apresentados acima, foi questionado a diferença entre as amostras. Para isso, basta analisarmos as estruturas dos compostos em relação a água. Ainda analisando os valores das tensões superficiais, foi pesquisado na literatura o mesmo, e constatou-se que a tensão do álcool etílico, nessa mesma temperatura, é de 22,75, como se observa na tabela 2. A diferença nos valores se dá pelo método experimental, onde não há exatidão na contagem de gotas no volume de amostra, mesmo que por triplicata. Aproximações no cálculo de densidade também são válidos na interferência no valor da tensão superficial. Em relação a estrutura das amostras, podemos colocá-las em ordem decrescente de polaridade, sendo assim: Cloreto de sódio > Tensoativo > Álcool etílico Para melhor análise, observe a tabela abaixo expondo as estruturas dos compostos: Tabela 6: Estruturas dos compostos em análise. Substância Estrutura Álcool etílico Tensoativo (alquil benzeno sulfanato de sódio) Cloreto de sódio Ao analisar as estruturas, podemos concluir as interações que as moléculas do composto fazem entre si. Pelo fato do cloreto de sódio ser o mais polar, ele tem uma interação muito forte, pois há, também, uma grande diferença de polaridade entre sódio e cloro. Seguindo a mesma linha de raciocínio, o tenso ativo tem uma pequena cadeia polar seguido de uma enorme extensão apolar, não sendo uma interação tão forte quanto a de cloreto de sódio. O etanol, por último, tem uma cadeira praticamente toda apolar, interação fraca entre suas moléculas. Sendo o cloreto de sódio, por sua vez, o composto mais polar dentre os três em análise, ele irá aumentar a tensão superficial, ou seja, a interação cloreto de sódio-cloreto de sódio será muito forte. As moléculas irão interagir de maneira que dificulte a caída das gotas da bureta. O raciocínio é válido para os demais compostos. O etanol tem uma cadeia muito apolar, pouco interativa, então é esperado que a tensão superficial diminua consideravelmente e a quantidade de gotas seja relativamente maior, em comparação aos demais compostos. Isso é provado, como explícito na tabela 4. 3 – CONCLUSÃO Quando analisamos estruturas químicas, observamos partes polares e apolares presentes. Justamente essas partes apolares e polares que fornecem ao composto a capacidade de interagir com outras moléculas que tenham polaridade semelhante, em outras palavras, moléculas com polaridades semelhantes são miscíveis, seja polar-polar ou apolar-apolar. Essa interação fornece a molécula o que chamamos de tensão superficial. Quanto maior a interação de compostos, maior será a tensão superficial criada. 4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] CASTELLAN, G. Fundamentos de Físico-Química. Rio de Janeiro. LTC, 1986. [2] SANTOS, V. M. – Guia de Prática Físico-Química I – FAESA, 2014 [3] BRAGA. W. M. Caderno de Laboratório de Química Orgânica I. 2013 [4] NETZ, P. A.; ORTEGA, G. G.; Fundamentos de Físico-Química: Uma abordagem conceitual para as ciências farmacêuticas. Porto Alegre. ArtMed, 2002. [5] A química do corpo humano: tensões superficiais nos pulmões. Disponível em: http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarConceito.php?idConceito=42 Acesso em: 09 de novembro de 2014.
Compartilhar