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educacao ambiental cap 2

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CAPÍTULO 2
EVOLUÇÃO SOCIOAMBIENTAL E 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Compreender o processo evolutivo das relações entre sociedade e a natureza.
  Verifi car como o conceito de natureza foi sendo produzido, principalmente 
a partir dos avanços da ciência, resultando em signifi cativas rupturas 
nas relações sociais e na relação sociedade-natureza.
  Identifi car as razões que contribuíram para o surgimento da Revolução Industrial.
  Identifi car a relação existente entre o desenvolvimento industrial, o crescimento 
exponencial do uso dos recursos naturais e a degradação ambiental.
  Analisar as transformações socioambientais aliadas ao desenvolvimento econômico. 
  Perceber as razões que conduzem as empresas e o setor público a 
investirem em gestão ambiental e responsabilidade socioambiental. 
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DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 
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 Capítulo 2 
CONTEXTUALIZAÇÃO
Antes de tentar compreender o desenvolvimento do ser humano, faremos 
primeiramente, algumas considerações sobre a formação do nosso planeta. 
 
 A idade da Terra, como já sabemos, é calculada em cerca de 4,5 
bilhões de anos. Se compararmos o tempo de existência do ser humano, 
aproximadamente 1,5 milhões de anos, com a idade da Terra, verifi caremos 
que a nossa presença, no que tange ao tempo geológico é “insignifi cante”. Por 
outro lado, ambientalmente falando, as ações promovidas pelo ser humano, 
ao longo de seu processo evolutivo, são indubitavelmente signifi cativas. 
Precisamos ter em mente que o espaço geográfi co que conhecemos 
atualmente é resultado de um longo e intenso processo de transformações que 
ocorreram e continuam ocorrendo. Você saberia identifi car algumas? Pense 
um pouco sobre as transformações. Agora vejamos. 
O planeta Terra, ao longo da sua idade geológica, sofreu várias 
transformações e/ou acontecimentos. Podemos citar, por exemplo, as 
mudanças climáticas, as atividades vulcânicas, a presença de terremotos, 
alteração do nível do mar, glaciações, separação dos continentes, entre outras. 
Na verdade, são ocorrências cíclicas, que acontecem de “tempos em tempos” 
(bilhões, milhões e/ou milhares de anos), as quais evidenciam que o planeta 
Terra é um planeta dinâmico, ou que a “Terra é viva”. 
Esses acontecimentos, sem dúvida, interferiram na formação e/ou 
transformação da superfície terrestre, como também infl uenciaram a origem e 
a distribuição dos seres vivos. Assim, ao longo do processo evolutivo da Terra, 
muitas espécies surgiram, se transformaram, se adaptaram às mudanças 
climáticas ou simplesmente desapareceram. Por outro lado, apesar de 
sabermos da ciclicidade natural do nosso planeta, não podemos negligenciar 
a ação antrópica (ação do homem), que também infl uencia na antecipação e/
ou intensidade de determinados fenômenos, como é o caso do aquecimento 
global. 
A ciência geológica, para obter uma melhor compreensão dos 
acontecimentos e/ou transformações que ocorreram no planeta, divide a 
história da Terra em eras geológicas, que correspondem a grandes intervalos 
de tempo divididos em períodos que, por sua vez, são subdivididos em épocas 
e idades. Cada uma dessas subdivisões corresponde a algumas importantes 
alterações ocorridas no processo evolutivo da Terra. 
A ciência geológica, 
para obter uma melhor 
compreensão dos 
acontecimentos e/ou 
transformações que 
ocorreram no planeta, 
divide a história da Terra 
em eras geológicas, 
que correspondem 
a grandes intervalos 
de tempo divididos 
em períodos que, 
por sua vez, são 
subdivididos em épocas 
e idades. Cada uma 
dessas subdivisões 
corresponde a algumas 
importantes alterações 
ocorridas no processo 
evolutivo da Terra. 
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Na sua opinião, a atuação do ser humano enquanto agente modifi cador e/
ou transformador é recente? 
O DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO
 A partir do momento que o ser humano estabeleceu-se no planeta, há 
aproximadamente 1,5 milhões de anos, passou a interferir na natureza de forma 
completamente diferente das demais espécies. Como vimos anteriormente, 
a presença do homem no planeta é muito recente, representando 
aproximadamente 0,001% do tempo geológico. 
Todavia, os seres humanos geraram impactos signifi cativos na natureza, 
principalmente quando deixaram de ser nômades e tornaram-se sedentários; 
ou seja, fi xaram território. Enquanto nômades, não geravam impactos 
signifi cativos no ambiente, pois se alimentavam principalmente de raízes, 
sementes, caça e pesca; ademais, estavam em constante processo migratório. 
Contudo, a descoberta das técnicas de cultivo e a domesticação de alguns 
animais possibilitaram sua sedentarização e ampliação da produção do 
espaço geográfi co. Vejamos. 
 
 Os pôlderes, encontrados na Holanda, podem ser considerados um 
dos casos mais conhecidos de domesticação e/ou dominação da paisagem 
natural. Para você ter uma ideia, em meados do século XI, diques e canais 
de escoamento da água foram construídos na região. Inicialmente, o intuito 
era proteger as áreas litorâneas dos efeitos das inundações durante o período 
de maré alta. Séculos depois, principalmente a partir do século XIX, vários 
pôlderes, cercados por diques, foram construídos, visando também à formação 
de planícies de terra seca e fértil, o que ampliaria a área cultivável da região. 
Este processo continua até os dias atuais.
De acordo com o dicionário Geológico-Geomorfológico de Guerra e 
Guerra (1997), pôlderes é a denominação dada aos solos lamacentos da costa 
baixa da Holanda, que foram conquistados ao mar.
Através das descobertas de fósseis, chegou-se a uma provável teoria 
de que a origem e a disseminação dos grupos humanos iniciaram na África 
Oriental (ver fi gura 6) e, a partir daí, tenham migrado para outras regiões. As 
migrações ocorreram em várias direções, associadas a vários fatores, como 
as secas prolongadas e as glaciações. 
Aproximadamente 9,5 ou 10 mil anos atrás, os oceanos se elevaram, 
atingindo níveis similares aos atuais (POP, 2004). Assim, muitas populações 
fi caram isoladas. Neste período, a disseminação dessas populações já tinha 
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atingido a Europa, Ásia, Oceania e América. O isolamento das populações 
ocasionou não só um desenvolvimento muito diferenciado das demais 
espécies, mas também, possibilitou uma diferenciação cultural. Observe no 
mapa as rotas de migração do Homo sapiens. Veja que da África o Homo 
sapiens migra para o continente europeu, continente asiático e a Oceania. 
Figura 6 - Rotas de migração do Homo Sapiens desde a 
África e a migração máxima do Homo Erectus.
Fonte: Gassós (2007, p.12)
Gradativamente as populações nômades tornaram-se sedentárias; 
podemos dizer que foi uma fase de transição “cultural”. Segundo alguns 
historiadores, esta fase corresponde à passagem do período Paleolítico 
(caracterizado pelas sociedades nômades) para o período Neolítico 
(caracterizado pelas sociedades sedentárias). Neste último período, o homem 
passou a interferir decisivamente no meio ambiente. Diversas mudanças 
ocorreram, entre as quais se destaca a concentração de algumas inovações, 
o que caracterizou a chamada Revolução Neolítica (GASSÓS, 2007). Neste 
período, o homem conseguiu controlar melhor o uso do fogo (ver fi gura 7), 
assim como aprendeu a transformar argila em cerâmica. Mais tarde, aprendeu 
a fundir metais e a utilizá-los como ferramentas mais resistentes e efi cientes 
para a realização de possíveis tarefas que asseguravam a sua sobrevivência. 
A agriculturae a domesticação dos animais também foram gradativamente 
aprimoradas.
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Figura 7 - Veja o que aconteceu quando o homem controlou o fogo
Fonte: Gassós (2007, p.10)
O período Neolítico é comumente demarcado entre 8.000 e 3.700 a.C. 
(GASSÓS, 2007). 
 A fi gura a seguir procura explicar os vários fatores que permitiram a 
Revolução Neolítica. Observe.
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Figura 8 - Fatores que favoreceram a Revolução Neolítica
Fonte: Gassós (2007, p.14)
 Não podemos deixar de ressaltar que a invenção da cerâmica surgiu 
como consequência direta do desenvolvimento da agricultura, pois os 
excedentes das colheitas necessitavam ser armazenados em recipientes. As 
técnicas para a produção da cerâmica exigiam um tempo maior para a secagem 
do material, e as sociedades nômades não dispunham desse tempo; ademais, 
era difícil o transporte dos alimentos nesses recipientes, pois eram passíveis 
de se quebrar e pesados para serem levados em seus deslocamentos. 
 No que concerne à agricultura, acreditamos que as atividades tenham 
surgido nos vales e várzeas, principalmente do rio Nilo, no Egito, nos rios Tigre 
e Eufrates, na Mesopotâmia, nos rios Amarelo e Azul, na China e nos rios Indo 
e Ganges, na Índia. (POINTING, 1995). Aliás, as civilizações estabelecidas 
nestas áreas eram denominadas de civilizações fl uviais (ARANHA, 2006). 
Essas áreas eram consideradas privilegiadas para a fi xação do homem e 
o consequente desenvolvimento da agricultura, visto que as inundações 
frequentes auxiliavam na fertilidade do solo. 
Podemos concluir que a sedentarização de grupos humanos está 
diretamente associada ao desenvolvimento da agricultura. Assim, o ser 
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humano passou a ampliar a produção do seu espaço, necessitando cada vez 
mais de áreas para o cultivo de produtos agrícolas e também para a criação de 
animais e/ou o desenvolvimento da pecuária. 
Dessa forma, a natureza selvagem, ou natureza primeira, formada por 
objetos naturais, foi sendo substituída ou transformada pelas novas técnicas 
que surgiram com a evolução do ser humano, fazendo emergir a natureza 
artifi cial e/ou natureza segunda. Neste contexto:
a promoção do homem animal a homem social deu-se 
quando ele começou a produzir. Produzir signifi ca tirar da 
natureza os elementos indispensáveis à reprodução da vida. 
A produção, pois, supõe uma intermediação entre o homem 
e a natureza, através das técnicas e dos instrumentos de 
trabalho inventados para o exercício desse intermédio. 
(SANTOS, 2004, p.202).
É claro que, a partir do momento em que os grupos humanos evoluíram 
em suas formas de produção, ocorreu também uma mudança na relação da 
sociedade com a natureza. Esta era vista de maneira diferenciada em cada 
período histórico. Para você ter uma ideia, as sociedades nômades viam a 
natureza como algo sagrado, na qual todos os seres vivos pertenciam ao 
mesmo mundo; não havia separação entre espírito e matéria, entre natureza 
animada e inanimada (POINTING, 1995). De acordo com este autor, essa ideia 
corresponde ao que denominamos, hoje, de visão sacralizada da natureza. 
Algumas dessas sociedades, ainda que submetidas ao ritmo da natureza, 
provocaram uma mudança fundamental na maneira de se relacionarem com 
ela. Isso signifi cou uma mudança no modo de pensar, e assim, uma outra ideia 
de natureza passou a ser construída, a partir, principalmente, do momento em 
que se tornaram sedentários.
Assista ao fi lme “A guerra do fogo”, dirigido por Jean-Jacques Annaud, 
1981. O fi lme refere-se a dois grupos de hominídeos pré-históricos: um que 
cultuava o fogo como algo sobrenatural e outro que dominava a tecnologia de 
fazer o fogo. 
 A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E S U A R E L A Ç Ã O 
C O M A NATUREZA
 As sociedades primitivas viam a natureza como algo sagrado. À medida 
que estas evoluíam e, principalmente. com o avanço das técnicas de produção 
utilizadas, a relação com a natureza também era alterada. 
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 Capítulo 2 
O perído do Renascimento pode ser considerado um exemplo de 
mudança sócio-cultural e econômica de algumas sociedades. Caso você não 
lembre, o Renascimento é o nome que se dá a um movimento e/ou período de 
grande mudanças culturais e científi cas, que se intensifi cou na Europa. entre 
os séculos XIV e XVI. 
Não podemos deixar de ilustrar algumas obras de arte magnífi cas de 
grandes pintores italianos do Renascimento, como Michelangelo Buonarroti, 
Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio e Sandro Botticelli. Antes, é importante 
destacar que as cidades italianas, a exemplo de Gênova, Veneza e Florença, 
durante os séculos XIV e XVI, acumularam grandes riquezas oriundas do 
comércio. Os ricos comerciantes italianos começaram a investir nas artes, 
incentivando o desenvolvimento artístico e cultural. Posteriormente este 
movimento cultural espalhou-se por vários países da Europa, como por 
exemplo, a Inglaterra, Espanha, Portugal, França e Países Baixos. 
Contemple algumas das obras de arte do Renascimento. 
Figura 9 - Nascimento de Vênus. Obras de Sandro Botticelli
Fonte: Obras do Renascimento. 
Disponível em: <http://www.grupoescolar.com/a/b/981ED.jpg>. Acesso em: 17 set. 2009.
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Figura 10 - À esquerda, temos o quadro de Mona Lisa de Leonardo da 
Vinci. À direita a obra de Michelangelo, escultura de Pietá.
Fonte: Disponível em: <http://www.girafamania.com.br/artistas/personalidade_leonardo.html>. 
e <http://1.bp.blogspot.com/_fvMmtgX9Xf0/Se1LywjuBmI/
AAAAAAAAEzg/UC5MXBUNd_c/s400/Michelangelo+-+Piet%C3as %A1.jpg>. Acesso em: 17 
set. 2009.
Gostou? Pesquise outras obras, e saiba mais sobre estes e outros grandes 
pintores do Renascimento, acessando o site: 
http://www.suapesquisa.com/renascimento/pintores_renascentistas.htm
Dando continuidade ao que falávamos sobre o Renascimento, este 
período é caracterizado pela retomada dos valores da cultura greco-romana, 
ou seja, da cultura clássica. O Renascimento é considerado um importante 
período de transição, envolvendo as estruturas feudo capitalistas.
De acordo com Aranha (2006), o retorno às fontes da cultura greco-
romana, sem a intermediação dos comendadores medievais, foi uma maneira 
de secularizar o saber, ou seja, desvinculá-lo da parcialidade religiosa, para 
torná-lo mais humano. Assim:
o olhar humano desvia-se do céu para a terra, ocupando-se 
mais com as questões do cotidiano. A curiosidade, aguçada 
para a observação direta dos fatos, redobrou o interesse pelo 
corpo e a natureza circundante. Nos estudos de medicina, 
ampliaram-se os conhecimentos de anatomia com a prática 
de dissecação de cadáveres humanos, até então proibidos 
pela Igreja. O sistema heliocêntrico de Copérnico construiu 
uma nova imagem de mundo. Nas artes em geral [...] houve 
criação intensa, e a Itália se destacou como centro irradiador 
da nova produção cultural. Ainda quando persistiam assuntos 
religiosos, a visão adquiria um viés humanista, prevalecendo 
temas tipicamente burgueses (ARANHA, 2006, p.124).
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Na Renascença, acentuou-se a busca pela individualidade, caracterizada 
pela confi ança no poder da razão para estabelecer os próprios caminhos. 
Segundo Aranha (2006, p. 164), “o espírito de liberdade e crítica opunha-se 
ao princípio da autoridade”. Este maior senso crítico, exigido pelo humanismo, 
possibilitou ao homem uma observação mais detalhada dos fenômenos 
naturais, ao invés de renegá-los à interpretação da Igreja. “O individualismo,como nova forma de viver, deu um vigoroso impulso à oposição sociedade-
natureza.” (BRÜGGER, 1994, p. 57).
As transformações econômicas que vinham ocorrendo, desde o fi nal da 
Idade Média, com o desenvolvimento das atividades artesanais e comerciais 
dos burgueses, infl uenciaram a maneira de pensar do humanismo (ARANHA, 
2006). Segundo a mesma autora, a Revolução Comercial do século XVI 
caracterizou-se pelo novo modelo de produção capitalista, o que alavancou 
a decadência do feudalismo (riqueza baseada na posse de terras) e, de certa 
forma, alterou a relação homem-natureza. De acordo com Aranha (2006, 
p.124-125):
por exemplo, ao destruir as fortalezas do castelo, a pólvora 
fragilizou ainda mais a nobreza feudal; a imprensa e o papel 
ampliaram a difusão da cultura; a bússola permitiu aumentar 
as distâncias com maior segurança: o caminho para as 
Índias e a conquista da América, no século XV, alargaram 
o horizonte geográfi co e comercial e possibilitaram o 
enriquecimento da burguesia. 
O período do Renascimento é marcado pelas invenções e viagens 
ultramarinas, decorrentes da grande necessidade de ampliar os negócios da 
burguesia europeia. Observe, no mapa, o percurso das viagens ultramarinas. 
Veja que o Brasil era uma das rotas das viagens ultramarinas. 
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Figura 11 - Viagens Ultramarinas.
 Fonte: Disponível em: <http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_
estudos/imagens/re_500anos_1.jpg>. Acesso em: 17 set. 2009.
É claro que, com as conquistas de novos horizontes e a ampliação das 
riquezas, o espaço geográfi co gradativamente sofreu alterações nas suas 
paisagens, ou seja, a natureza foi sendo substituída pela paisagem cultural e/
ou humanizada. 
É preciso considerar ainda que as inovações durante o período do 
Renascimento infl uenciaram até mesmo a religião, com a crítica à estrutura 
autoritária da Igreja, centrada no poder papal. “Interesses políticos 
nacionalistas e de natureza econômica sustentavam os movimentos de 
ruptura representados pelo luteranismo, pelo calvinismo e pelo anglicanismo”. 
(ARANHA, 2006, p. 125). 
Para muitos, a obra de Nicolau Copérnico (século XVI), foi considerada 
um impulso para a Revolução Científi ca. Em sua obra, Copérnico defende 
matematicamente um modelo de cosmo, em que o Sol é o centro do universo 
(teoria Heliocêntrica) e a Terra, um astro que girava em torno do Sol. A teoria 
Heliocêntrica de Copérnico rompeu com a teoria Geocêntrica de Cláudio 
Ptolomeu do século II, para quem a Terra era o centro do universo. Tal 
mudança representou uma das rupturas mais marcantes daquele período, o 
que culminou com o início da modernidade, pois a nova teoria estabelecida 
era contrária a uma teoria que reinava, aproximadamente, há vinte séculos e 
constituía a maneira do homem medieval pensar e ver o mundo. 
A fi gura a seguir ilustra as duas teorias, observe-as.
É preciso considerar 
ainda que as 
inovações durante 
o período do 
Renascimento 
infl uenciaram até 
mesmo a religião, 
com a crítica à 
estrutura autoritária 
da Igreja, centrada 
no poder papal. 
“Interesses políticos 
nacionalistas e de 
natureza econômica 
sustentavam os 
movimentos de 
ruptura representados 
pelo luteranismo, 
pelo calvinismo e 
pelo anglicanismo”. 
(ARANHA, 2006, p. 
125).
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 Capítulo 2 
Figura 12 - Teoria Geocêntrica e Teoria Heliocêntrica 
Fonte: Obras do Renascimento. Disponível em:
<http://www.escolas.trendnet.com.br/sjosesbc/renascimento/
obras.htm>. Acesso em: 17 set.2009.
Foi o astrônomo grego Aristarco de Samos que apresentou pela primeira 
vez, no século III a.C., a teoria Heliocêntrica. Foi o astrônomo Nicolau 
Copérnico ( século XVI) e, posteriormente, Galileu Galilei ( século XVII), que 
desenvolveram e deram sustentação científi ca para a teoria heliocêntrica. 
Muitos foram os pensadores, astrônomos, teólogos, fi lósofos, 
matemáticos, que contribuíram com várias e diferentes ideias, responsáveis 
por profundas mudanças, no que tange à visão científi ca do séc. XVII. 
Podemos dizer que duas grandes transformações determinaram a Revolução 
Científi ca: a primeira pode ser relacionada à cosmologia, com a qual Galileu 
conseguiu provar a teoria heliocêntrica de Copérnico, graças às observações 
feitas com o uso do telescópio; bem como a ideia de um universo infi nito 
(de Nicolau de Cusa e Giordano Bruno) e a concepção de que os corpos 
celestes estão em movimento, inclusive, que a Terra gira em torno do Sol. A 
segunda transformação refere-se à ideia de ciência prática, ativa, oposta à 
ciência observadora dos antigos. Nesta, a matemática se fazia presente como 
linguagem da física, proposta por Galileu sob inspiração de Platão e Pitágoras, 
e contrária à concepção de Aristóteles. Posteriormente, Isaac Newton 
“aprimora” uma ciência físico-matemática em um sistema mais teórico. Assim, 
muitas das teorias revolucionárias infl uenciaram e representaram profundas 
modifi cações na forma do homem “ver” a natureza.
No período do Renascimento Cultural e Científi co (séculos XVI e 
XVII), a Igreja Católica ainda controlava a produção cultural e científi ca, e 
defendia a teoria do Geocentrismo. Galileu Galilei, por defender a teoria do 
Foi o astrônomo grego 
Aristarco de Samos 
que apresentou 
pela primeira vez, 
no século III a.C., a 
teoria Heliocêntrica. 
Foi o astrônomo 
Nicolau Copérnico 
( século XVI) e, 
posteriormente, Galileu 
Galilei ( século XVII), 
que desenvolveram 
e deram sustentação 
científi ca para a teoria 
heliocêntrica.
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Heliocentrismo, foi condenado à Inquisição. Para se livrar da morte, Galileu 
negou o Heliocentrismo diante do tribunal. Porém, não deixou de defender 
essa teoria e continuou fazendo suas pesquisas. 
Para você ter uma ideia, o antropocentrismo (homem é o centro e modelo 
do mundo) infl uenciou a ciência nos séculos XVI e XVII. Para os renascentistas, 
o homem era a mais bela e perfeita obra da natureza. Podemos exemplifi car 
tal concepção a partir da fi gura do “Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vinci, 
que representa a divina proporção através do raciocínio matemático, sendo 
considerado um modelo ideal para todo o ser humano. As proporções do 
“Homem Vitruviano” são perfeitas e inserem o conceito clássico e divino de 
beleza. Leonardo da Vinci procurou unir, nesta fi gura, a ciência e a arte. Atente 
para os detalhes da fi gura do “Homem Vitruviano”. 
Figura 13 – Homem Vitruviano.
Fonte: Disponível em:<http://hugolapa.fi les.wordpress.
com/2009/07/vitruviano.jpg>.Acesso em: 17 set. 2009.
No período do 
Renascimento Cultural 
e Científi co (séculos XVI 
e XVII), a Igreja Católica 
ainda controlava a 
produção cultural e 
científi ca, e defendia a 
teoria do Geocentrismo. 
Galileu Galilei, por 
defender a teoria do 
Heliocentrismo, foi 
condenado à Inquisição. 
Para se livrar da 
morte, Galileu negou o 
Heliocentrismo diante 
do tribunal. Porém, não 
deixou de defender 
essa teoria e continuou 
fazendo suas pesquisas. 
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 Capítulo 2 
O ser humano já não era igual à natureza, mas, oposto a ela, ou seja, 
passou a dominá-la, principalmente com o uso de técnicas e máquinas, como 
sugere o pensamento do fi lósofo Francis Bacon: 
[...] se os homens tivessem empreendido os trabalhos 
mecânicos unicamente com as mãos, sem o arrimo e a 
força dos instrumentos, do mesmo modo que, sem vacilação 
atacaram as empresas do intelecto, com quase apenas 
as forças nativas da mente, por certo muito pouco se teria 
alcançado, ainda que dispusessem para seu labor de seus 
extremosrecursos. (BACON, 1979, p.6). 
Na verdade, Francis Bacon defende o uso de máquinas e técnicas para a 
dominação da natureza, o que, sem esses meios, para ele seria praticamente 
impossível.
 A natureza existia para servir o ser humano, e, com o desenvolvimento da 
ciência, este poderia dominá-la. Descartes (1998, p. 80) considerava que:
[...] conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, 
dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos 
cercam, tão distintamente como conhecemos os diversos 
misteres de nossos artífi ces, poderíamos empregá-los 
da mesma maneira em todos os usos para os quais são 
adequados, e, assim, tornar-nos como que senhores e 
possuidores da natureza.
As revoluções científi cas não se limitaram às ciências aplicadas, mas 
também atingiram várias outras ciências, como por exemplo, a Biologia 
(seleção das espécies), Geologia (idade da Terra), Astronomia (o Sol é o 
centro do universo), entre outras. 
De acordo com Perri (2002), a Revolução Científi ca substituiu a cosmologia 
medieval e estabeleceu o método (a observação e experimentação rigorosa 
e sistemática) como uma maneira essencial de “revelar” os segredos da 
natureza. “No Ocidente, um número crescente de pensadores sustentava que 
a natureza era um sistema mecânico, governado por leis que podiam ser 
expressas matematicamente.” (PERRI, 2002, p. 282). 
Podemos dizer que, a partir do renascimento, “se consolidaram mais do 
que nunca as ‘leis da natureza’, que existem independentemente das paixões 
humanas. A natureza pode ser então tratada com objetividade e o homem se 
tornou o sujeito absoluto, em oposição à natureza, o objeto”. (BRÜGGER, 
1994, p. 57).
É importante destacar que, no século XVIII, uma nova corrente de 
pensamento começou a tomar conta da Europa. Esta corrente defende 
As revoluções científi cas 
não se limitaram às 
ciências aplicadas, mas 
também atingiram varias 
outras ciências, como 
por exemplo, a Biologia 
(seleção das espécies), 
Geologia (idade da 
Terra), Astronomia (o Sol 
é o centro do universo), 
entre outras. 
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novas formas de conceber o mundo, a sociedade, a ciência e as instituições. 
O chamado movimento iluminista aparece, nesse período, como um 
desdobramento de concepções já desenvolvidas no Renascimento, quando os 
princípios de individualidade e razão ganharam espaço, nos séculos iniciais da 
Idade Moderna.
Assim, a noção de natureza foi se alterando nas diferentes culturas 
e períodos. Na verdade, a relação entre a sociedade e a natureza são 
construções sociais e históricas. 
Atividade de estudo:
Após este estudo, como você justifi caria a mudança da relação entre a 
sociedade e a natureza?
 No início do capítulo, vimos que, a partir do momento em que o 
homem deixou de ser nômade e se tornou sedentário, passou a ocasionar 
transformações signifi cativas na natureza. Estudaremos agora outros 
momentos que ocasionaram profundas mudanças no espaço geográfi co. 
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A SUBORDINAÇÃO DA 
NATUREZA
O espaço geográfi co, produzido e organizado pela sociedade humana, 
estabelece relações sociais, culturais, políticas e econômicas. Três momentos 
importantes modifi caram profundamente o espaço geográfi co natural no 
decorrer da história humana. O primeiro, já mencionado anteriormente, 
quando o homem desenvolveu a agricultura e a domesticação dos 
animais, abandonando o nomadismo, tornando-se sedentário, estabelecendo 
novas relações sociais (você acompanhou esta alteração no início do capítulo). 
O segundo momento deu-se com a Revolução Industrial, marcada por 
profundas transformações no espaço, pois, próximo às fábricas, surgiram 
bairros operários, abertura de ruas para o escoamento de matérias-primas 
e mercadorias. E um terceiro momento, associado ao segundo, quando 
acontece o desenvolvimento de novas tecnologias disponíveis no mercado 
mundial nas diversas atividades econômicas, alterando assim, cada vez mais, 
as relações sócio-espaciais. A partir disso:
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 Capítulo 2 
[...] a sociedade se transforma em espaço através de sua 
redistribuição sobre as formas geográfi cas, e isto ela o faz 
em benefício de alguns e em detrimento da maioria; ela 
também o faz para separar os homens entre si, atribuindo-
lhes um espaço segundo um valor comercial: e o espaço-
mercadoria vai aos consumidores como uma função de seu 
poder de compra. (SANTOS, 2004, p.262).
 
A distribuição e a redistribuição da sociedade no espaço geográfi co 
exigem cada vez mais estudos que possibilitem compreender e reconhecer 
os agentes transformadores e transformados no contexto sócio-espacial. Essa 
mesma sociedade pode, então, identifi car “o lugar que cabe a cada um, seja 
como organizador da produção e donos dos meios de produção, seja como 
fornecedor de trabalho” . (SANTOS, 2004, p.262).
O modo de produção capitalista, segundo Mamigonian (1982) teve início 
com a manufatura, cujos prenúncios ocorreram por volta dos séculos XIV e XV, 
nas cidades italianas e, posteriormente, fl amengas; porém, a era capitalista 
data do século XVI, com o surgimento das manufaturas, na Inglaterra. De 
acordo com o autor, o que diferenciava a manufatura do artesanato era a 
organização do processo de produção, que consistia na divisão do trabalho 
manual. Por alguns séculos, a manufatura manteve-se como único fator de 
progresso econômico. 
Observe as duas fi guras abaixo. 
Figura 14 – Artesões confeccionando violinos.
Fonte: Disponível em: <http://s3.amazonaws.com/lcp/palyndrome/myfi les/lutheria.jpg>. 
Acesso em: 17 set. 2009.
A distribuição e a 
redistribuição da 
sociedade no espaço 
geográfi co exigem 
cada vez mais estudos 
que possibilitem 
compreender e 
reconhecer os agentes 
transformadores 
e transformados 
no contexto sócio-
espacial. Essa mesma 
sociedade pode, então, 
identifi car “o lugar que 
cabe a cada um, seja 
como organizador da 
produção e donos dos 
meios de produção, 
seja como fornecedor 
de trabalho”. (SANTOS, 
2004, p.262).
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 Fundamentos da Educação Ambiental
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Figura 15 – Tecelões confeccionando tecidos.
Fonte: Disponível em: <http://www.planetaeducacao.com.br/novo/imagens/artigos/
historia/revolucao_industrial_03.jpg>. Acesso em: 17 set. 2009.
Observou as fi guras? O que diferencia uma imagem da outra? Na primeira 
imagem, temos o trabalho puramente artesanal e, na segunda imagem, a 
manufatura.
Posteriormente, com “a maciça expropriação de camponeses 
independentes, a acumulação interna e externa de capital e a abertura de 
mercados mundiais (século XVI e XVIII) permitiram ao capitalismo inglês 
realizar a revolução industrial” .(MAMIGONIAN, 1982, p.38-39). 
Os camponeses transformados em operários, embora recebendo salários, 
eram submetidos a regimes de exploração extremada, trabalhando em média 
16 por dia.
O que você sabe e/ou lembra sobre a primeira Revolução Industrial? 
Qual a relação da Primeira Revolução Industrial com as questões ambientais? 
Pense um pouco.
A primeira Revolução Industrial deu-se por volta de 1750, e teve como 
emblemas a máquina a vapor, a indústria têxtil e as ferrovias. Com o surgimento 
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EVOLUÇÃO SOCIOAMBIENTAL E 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 
47
 Capítulo 2 
das fábricas, ocorreram profundas modifi cações nas relações de produção e 
de trabalho, assim como, nas relações sócio, econômico-ambientais. Com a 
invenção da máquina a vapor, as fábricas, que se situavam anteriormente às 
margens dos rios (força hidráulica), passaram por um novo estágio, deixaram 
de ser uma simples fábrica de manufatura, para se tornarem maquinofaturas. 
São as chamadas indústrias, cuja produção sofreu uma grandeampliação, 
assim como a localização industrial ganhou novos horizontes. 
 Para você ter uma ideia, a atividade industrial iniciada na Inglaterra 
difundiu-se por outros países europeus, atingindo, posteriormente, os EUA 
e o Japão. Esta fase do capitalismo foi marcada pela indústria e a livre 
concorrência. “A concorrência entre as empresas capitalistas, as lutas 
operárias por aumentos salariais, a escassez de mão de obra assalariada 
(como nos EUA até a guerra civil), as guerras entre os países capitalistas 
determinaram os avanços tecnológicos.” (MAMIGONIAN, 1982, p.39). Neste 
processo, a natureza primeira e/ou natural, como diria Milton Santos (2004), 
vai gradativamente sendo substituída pela natureza segunda e/ou cultural. 
 Para Milton Santos (2004), a mecanização possibilitou que a ciência 
assumisse a feição de força produtiva, separada do trabalho e a serviço do 
capital. Ademais, de acordo com o mesmo autor, à medida que a indústria foi 
descobrindo que a ciência podia ser cada vez mais uma força produtiva, foi 
submetendo a produção de conhecimentos à mesma divisão de trabalho a que 
estava sujeita a produção de mercadorias. Para Rosenberg (2006), o papel 
da ciência foi determinante no ritmo do progresso técnico. Nesse contexto, a 
natureza passou a ser vista como um “objeto” de exploração capitalista. 
No que concerne ainda ao período da primeira Revolução Industrial, 
Rosenberg e Birdzell Júnior (1986) destacam que, entre 1750 e 1880, 
ocorreram mudanças revolucionárias na indústria e nos transportes 
ocidentais, e estas foram atribuídas a um fenômeno organizacional e a 
dois fenômenos tecnológicos. Perceba que o primeiro foi a mudança na 
organização da produção, da ofi cina do artesão para a fábrica, assumindo 
formas diferentes, conforme a indústria. Com relação aos dois fenômenos 
tecnológicos, o primeiro “foi o aumento enorme do uso do vapor e da energia 
hidráulica na produção fabril e a aplicação do transporte em terra e na água” 
(ROSENBERG; BIRDZELL, 1986, p.154). Nas indústrias de ferro e tecido, a 
Revolução Industrial foi marcada pela produção de bens, com emprego de 
energia tirada do carvão e aplicada através de motores e maquinaria movida 
a vapor. A segunda mudança tecnológica “foi a substituição da madeira pelo 
ferro e o aço na fabricação de maquinaria e outros produtos. Essa substituição 
mudou o tamanho, duração, precisão e complexidade mecânica de larga 
variedade de produtos, desde máquinas de costura a navios” (ROSENBERG; 
BIRDZELL, 1986, p.154).
Nas indústrias de ferro 
e tecido, a Revolução 
Industrial foi marcada 
pela produção de 
bens, com emprego 
de energia tirada do 
carvão e aplicada 
através de motores e 
maquinaria movida a 
vapor
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 Fundamentos da Educação Ambiental
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Como você pode perceber, realmente foram mudanças revolucionárias na 
indústria e nos transportes ocidentais, e, consequentemente, na sociedade em 
geral.
 
Por outro lado, à medida que a manufatura cedia lugar às fábricas, estas 
eram organizadas de acordo com os princípios empresariais. Os produtos 
desenvolvidos nas fábricas abasteciam um extenso mercado, por vezes 
incerto, fi rmando livremente contratos a longo prazo, exigindo investimentos 
pesados de capital fi xo e usando dinheiro emprestado em escala liberal. 
Assim, as difi culdades fi nanceiras tornavam-se cada vez maiores no 
círculo das empresas afetadas. À medida que a Revolução Industrial e as 
modifi cações concomitantes na organização do comércio e transporte se 
espalhavam para outros países, estes passaram a apresentar o fenômeno dos 
ciclos econômicos, já familiar na Inglaterra. Além do mais, à medida que as 
indústrias e o comércio se tornavam dependentes dos mercados fi nanceiros 
e de investimentos, as crises começavam a ser seguidas de períodos de 
liquidação nos círculos industriais e mercantis (MITCHELL, 1984). 
O processo de industrialização ocasionou um aumento da população 
urbana, e as cidades foram gradativamente sofrendo modifi cações. A mão 
de obra operária amontoava-se em quartos e porões desconfortáveis, em 
subúrbios sem condições sanitárias. As cidades tornavam-se cada vez mais 
sujas e envoltas numa atmosfera “cinzenta”. Tente imaginar essa situação 
deprimente.
Os problemas não param por aí. Veja que, em decorrência da 
industrialização, o processo de urbanização foi intenso, o que resultou num 
“caos social”. Doenças como a peste negra e a cólera alastraram-se por toda 
Inglaterra, oriundas da poluição das águas dos rios e do ar. A expectativa de 
vida variava muito nas cidades industrializadas do século XVIII, na Inglaterra e 
França. Para Perry (2002), a proliferação das doenças era tão intensa, devido 
aos esgotos a céu aberto, à fumaça das fábricas, à água poluída e à sujeira 
nas ruas, que muitas crianças não chegavam aos 5 anos de idade. Para muitos 
adultos, a expectativa de vida era em média de 36 anos. A fi gura que segue 
ilustra a pobreza de um dos bairros de Londres, no século XVIII. Observe-a.
49
EVOLUÇÃO SOCIOAMBIENTAL E 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 
49
 Capítulo 2 
Figura 16 – Rua de um Bairro pobre de Londres.
Fonte: Benévolo (1999). Disponível em:
<http://urbanidades.arq.br/imagens/2007/46ababa5573c_8E67/
LondresRevolucaoIndustrial.jpg>.
Acesso em: 17 set. 2009
Assim, emergem as primeiras preocupações com as transformações do 
espaço geográfi co e as questões ambientais. 
Um exemplo típico de poluição, oriundo da Revolução Industrial, foi a 
poluição do rio Tâmisa, que atravessa Londres (Inglaterra). Até o começo do 
século XX, o Tâmisa era um dos rios mais poluídos do mundo. Atualmente, é 
um modelo de despoluição. O processo de despoluição teve início em 1952. 
Nesse contexto de desenvolvimento industrial, não só o meio ambiente 
passou por profundas transformações, mas também afetou a própria 
população. A falta de políticas de urbanização e a falta de um modelo 
econômico (capitalismo) justo comprometiam a dignidade dos trabalhadores e 
sua possibilidade de uma vida digna.
O fi lósofo Aristóteteles (IV a.C.) afi rmou que no dia em que as máquinas 
trabalhassem sozinhas não precisaríamos de escravos. Contudo, o desejo 
de que a tecnologia libertaria o ser humano da exploração do trabalho não 
ocorreu. Na sua opinião, que motivos justifi cam tal fracasso?
Continuando nosso estudo, não podemos deixar de falar que a agricultura, 
segundo Perry (2002), gradativamente tornou-se uma empresa capitalista, 
Um exemplo típico de 
poluição, oriundo da 
Revolução Industrial, 
foi a poluição do rio 
Tâmisa, que atravessa 
Londres (Inglaterra). 
Até o começo do 
século XX, o Tâmisa 
era um dos rios 
mais poluídos do 
mundo. Atualmente, 
é um modelo 
de despoluição. 
O processo de 
despoluição teve início 
em 1952.
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 Fundamentos da Educação Ambiental
50
cuja produção passou a ser destinada ao mercado (agricultura empresarial), 
e não mais ao consumo da família (agricultura de subsistência). Uma nova 
estrutura econômica formava-se: as terras não eram mais “comunais”, 
o que ocasionou um exército de desempregados dependentes (PERRY, 
2002). Segundo o mesmo autor, o crescimento populacional e o aumento da 
produtividade agrícola também auxiliaram no desenvolvimento do processo 
de industrialização. O enorme crescimento populacional da Europa no século 
XVIII forneceu à indústria mais consumidores e também mão de obra para o 
trabalho. 
O uso comunal da natureza remonta às origens do homem. Ninguém era, 
no sentido jurídico da palavra, dono da terra. O homem retirava dela tudo o que 
necessitava (produtos da caça, pesca, coleta, etc) sem que se considerasse 
seu proprietário. As terras comunais eram de uso comum, ou seja, não existia 
dono, todos podiam fazer uso dela. 
Como sabemos, a fase pré-industrialé caracterizada pelo equilíbrio 
demográfi co, ou seja, elevadas taxas de mortalidade e de natalidade (nasciam 
muitos e morriam muitos). A fase transicional (Revolução Industrial) é marcada 
pela redução da mortalidade devido principalmente ao avanço da medicina, 
que favoreceu a diminuição das epidemias e as melhores condições de 
higiene e saúde. A fase evoluída ou chamada de terceira fase é um período 
de transição (pós Revolução Industrial), com a retomada do equilíbrio 
demográfi co, principalmente nos países desenvolvidos, com baixas taxas de 
natalidade e mortalidade.
Atividade de estudo:
Agora que você já sabe um pouco mais sobre a Primeira Revolução Industrial, 
descreva algumas das mudanças ocorridas no espaço geográfi co e suas 
respectivas consequências ao meio ambiente. 
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 Capítulo 2 
Será que tais consequências ambientais poderiam ter sido evitadas? 
Indicamos a leitura do texto intitulado “Transição demográfi ca e o 
crescimento populacional” disponível no site: http://educacao.uol.com.br/
geografi a/ult1701u12.jhtm, para que você possa estudar um pouco mais sobre 
as fases demográfi cas ao longo dos últimos séculos (atreladas principalmente 
ao processo de industrialização), assim como a teoria de Thomas Malthus. 
A partir da metade do século XIX, novas tecnologias e formas de 
produção foram sendo rapidamente descobertas e incorporadas pelos países 
industrializados, marcando a segunda Revolução Industrial. A produção 
industrial passou a crescer em ritmo acelerado, a fi m de atender os prósperos 
mercados consumidores em expansão, nos centros urbanos, assim como a 
demanda por recursos naturais, fonte de matéria-prima para os diferentes 
segmentos industriais que começavam a emergir. O surgimento do automóvel, 
no fi nal do século, foi outro elemento importante, criando uma nova cultura 
industrial, social e ambiental.
Outro momento importante para a economia global e expansão do 
capitalismo foi a chamada Revolução Técnico-científi ca, que corresponde 
ao período de maior índice de modernização da atividade industrial pós-
Segunda Guerra Mundial. Na década de 1950, americanos e russos lançaram 
uma verdadeira corrida espacial. Esta, por sua vez, induziu à busca de novas 
tecnologias, muitas delas criadas para fi ns militares. Foram adaptadas ao setor 
civil, desencadeando uma proliferação de produtos desenvolvidos em outros 
setores, como a biotecnologia, microeletrônica, química fi na e informática. 
A Revolução Técnico-científi ca acentuou o processo de modernização 
da produção calcada nas inovações. É importante ressaltar que a expansão 
do capitalismo, com as chamadas revoluções industriais, ocorreu de maneira 
diferenciada em todo o mundo, como também em períodos diferentes. A 
consolidação da Revolução Industrial e do sistema capitalista no mundo 
ocidental constituiu, assim, a imposição de novas relações entre ser o humano, 
natureza e produção. Para Polanyi (1985, p. 180):
a produção é a interação do homem e da natureza; se este 
processo deve ser organizado pela intermediação de um 
mecanismo regulador de troca, é necessário então que o 
homem e a natureza acompanhem este funcionamento; 
eles devem ser submetidos à oferta e à demanda, isto é, 
52
 Fundamentos da Educação Ambiental
52
eles devem ser tratados como mercadorias, como bens 
produzidos para a venda. Do homem (sob o nome de 
trabalho), da natureza (sob o nome de terra) tudo poderia ser 
feito para ser negociado.
 
Nesse contexto de industrialização, a natureza deveria seguir o ritmo 
da produção, e não o contrário. Com os avanços em todas as áreas de 
conhecimento, foi possível consolidar, no plano econômico, a ideia de 
que natureza era aquilo que seria útil e passível de ser transformado pelos 
diferentes processos de produção. No fi m do século XIX, as críticas ao modo 
industrial de exploração deram origem ao que hoje conhecemos como Ecologia 
(você estudou no capítulo 1). 
Não deixe de assistir ao fi lme “Tempos modernos” do diretor Charlin 
Chaplin.
O fi lme refere-se à vida na sociedade industrial e urbana dos Estados 
Unidos, nos anos 1930, caracterizada pela produção, com base no sistema de 
linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à “modernidade” 
e ao capitalismo, representado pelo modelo de industrialização, em que o 
operário é engolido pelo poder do capital, cujo objetivo é o lucro. O fi lme trata 
também das desigualdades entre a vida dos pobres e da burguesia. Procura 
mostrar que uma sociedade capitalista, que explora o proletariado, alimenta 
também todo conforto e diversão para burguesia. É uma ótima crítica ao 
sistema capitalista e ao seu respectivo modelo de produção.
Qual o seu posicionamento sobre os avanços técnico-científi cos e sua 
relação com a natureza? É possível que haja um desenvolvimento econômico 
sem comprometer a natureza?
A SOCIEDADE PÓS-MODERNA: GLOBALIZAÇÃO E 
MEIO AMBIENTE
 Você conseguiu entender e compreender o estudo que fi zemos até o 
presente momento com relação à produção e/ou transformação do espaço 
geográfi co? 
Lembre-se de que o espaço geográfi co contemporâneo é resultado, 
principalmente, das transformações promovidas pela Revolução Industrial em 
suas diferentes etapas, assim como o modo de vida atual é refl exo direta e 
indiretamente das inovações tecnológicas. 
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EVOLUÇÃO SOCIOAMBIENTAL E 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 
53
 Capítulo 2 
 A indústria foi responsável pelas grandes transformações urbanas, pela 
multiplicação de diversos ramos de serviços que caracterizaram a sociedade 
moderna e pelo desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação, 
que atualmente interligam o espaço mundial. Também foi responsável pelo 
aumento da produção agrícola. Com a Revolução Industrial, criou-se um novo 
modo de vida, com novos hábitos de consumo, ocorrendo assim uma nova 
estratifi cação da sociedade e uma mudança signifi cativa de sua relação com a 
natureza.
 Neste contexto, emerge o chamado processo de globalização, que trouxe 
diversas mudanças de paradigmas para as sociedades contemporâneas 
e provocou transformações nos diversos segmentos da vida humana e na 
economia mundial. 
 Mas, a fi nal, o que é a globalização. Você saberia conceituá-la? Tente.
Conseguiu? Vamos tentar conceituar. A globalização é um fenômeno social 
que atinge a escala global. Consiste principalmente na integração econômica, 
social, cultural e política entre vários países. Sua origem é atrelada às várias 
transformações e/ou evoluções dos modos de produção. Os avanços dos 
meios de transporte e as telecomunicações contribuíram para a “redução” de 
distâncias entre pessoas e o acesso às mercadorias ou produtos, bem como 
a rapidez ao acesso das informações no mundo todo, estreitando as relações 
comerciais entre os países e as empresas. As multinacionais ou transnacionais 
contribuíram fortemente para a efetivação do processo de globalização, por 
ampliarem o desenvolvimento de atividadesem diferentes territórios, como por 
exemplo, a Coca-Cola, NiKe, McDonald´s, Citröen, entre outras. 
Mas, será que a globalização abarca todas as classes sóciais? Preste 
atenção na charge.
Figura 17 – Festa da Globalização. 
Fonte: Disponível em: <http://portaldoestudante.fi les.wordpress.com/2008
/07/louisarmstrong1.jpg>. Acesso em: 16 set. 2009.
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 Fundamentos da Educação Ambiental
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A que conclusão você chegou?
Podemos dizer que a globalização é uma fase avançada do capitalismo. E, 
como sabemos, o capitalismo visa lucros. A globalização emergiu justamente 
para atender e ampliar as necessidades do sistema capitalista, principalmente 
nos países desenvolvidos, nos quais o consumo interno já estava saturado. 
Uma característica importante da globalização é a busca pelo 
barateamento do processo produtivo pelas indústrias. Muitas delas produzem 
suas mercadorias em vários países, com o objetivo de reduzir os custos. As 
indústrias instalam-se em países onde a mão de obra, a matéria-prima e a 
energia são mais baratas. Um tênis, por exemplo, pode ser projetado nos 
EUA, mas produzido na China, com matéria-prima do Brasil, e comercializado 
em diversos países do mundo.
Atualmente, vivemos em uma sociedade extremamente consumista, 
onde todos (ou quase todos) têm acesso a tudo (quase tudo). Quando você 
realizar o estudo do caderno de Gestão Ambiental, conhecerá sobre a Pegada 
Ecológica, que trará uma abordagem sobre o quanto de área (hectares) o ser 
humano precisaria para produzir e processar o que ele consome e descarta. 
Será que a globalização ocasiona consequências negativas ao meio 
ambiente? Pense um pouco. 
Os efeitos da globalização no meio ambiente, sem dúvida, são muitos. A 
ampliação da economia mundial tem causado à natureza sérias consequências, 
como por exemplo, a super exploração dos recursos naturais renováveis e não 
renováveis, o aumento de todo tipo de resíduos, a perda da biodiversidade e 
um aumento do consumo energético devido ao sistema de transporte a longas 
distâncias levando bens e mercadorias, a poluição dos rios, o aquecimento 
global (você verá no próximo tópico), entre outros.
A problemática ambiental acrescenta novos e importantes elementos para 
a análise crítica dos efeitos da globalização. Daly (apud ROMEIRO,1999, 
p.148) chama a atenção para:
duas ordens de problemas: a primeira se refere aos 
impactos sócio-ambientais locais (degradação ambiental e/
ou esgotamento precoce de recursos naturais) que podem 
resultar das diferenças entre países em termos do grau de 
internalização dos custos sociais e ambientais. Países com 
baixo grau de internalização desses custos teriam vantagens 
comparativas inaceitáveis, o que justifi caria a introdução de 
tarifas protetoras compensatórias. As multinacionais, por seu 
turno, escaparam das obrigações comunitárias, tornando-
se internacionais o que, dado a inexistência de uma 
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EVOLUÇÃO SOCIOAMBIENTAL E 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 
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 Capítulo 2 
comunidade internacional, as torna praticamente isentas 
de qualquer compromisso comunitário. Seria necessário, 
portanto, criar um governo internacional capaz de controlá-
las ou renacionalizar o capital, colocando-o novamente sob 
controle das comunidades nacionais. A segunda ordem 
de problemas provocada pela expansão excessiva do 
comércio internacional diz respeito à escala das atividades 
econômicas, além dos limites geográfi cos de cada país.
 Contudo, à medida que ocorrem os avanços tecnológicos e a ampliação 
da economia mundial, mais se fará necessário produzir em nosso espaço 
geográfi co para, assim, atingir as necessidades da economia mundial. Isso 
signifi ca que a natureza vai se transformando em natureza segunda e/ou 
natureza cultural, como já mencionamos anteriormente. Não há dúvida de que 
as inovações tecnológicas, uma das condições da globalização, possibilitam 
uma constante renovação e também inovação de produtos no mercado 
mundial. Isso desperta o desejo das pessoas para o novo - o produto moderno. 
É claro que o mesmo avanço tecnológico que produz conforto e praticidade 
à sociedade global (principalmente para quem dispõe de maiores recursos 
fi nanceiros) também produz a degradação ambiental, a ponto de comprometer 
a sociedade vigente e as sociedades futuras. 
Veja alguns exemplos que podem ser citados em decorrência das 
profundas transformações ocorridas no meio ambiente, associadas ao intenso 
processo de globalização: a poluição da atmosfera e o aumento da liberação 
de gás carbônico (CO2), oriundo principalmente dos combustíveis fósseis, a 
exemplo do petróleo, que ainda hoje é a principal fonte energética utilizada no 
mundo; o chamado aquecimento global, que está associado à emissão dos 
combustíveis fósseis; o acentuado desmatamento para ampliação das áreas 
urbanas e a ampliação das atividades agropecuárias, como ó caso da Floresta 
Amazônica; as enchentes, os deslizamentos, associados à ocupação irregular 
do solo, e as áreas impróprias para moradia, entre vários outros exemplos. 
Para refl etir sobre a questão do consumismo, do mercado global, a 
formação de identidade e o marketing, leia o poema de Carlos Drummond de 
Andrade “Eu, etiqueta”. Você pode conferir o poema no site: http://projetos.
educacional.com.br/paginas/pp/47080001/3854/t132.html
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 Fundamentos da Educação Ambiental
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Atividade de estudo:
Verifi que na sua região e/ou cidade a ocorrência de problemas ambientais. 
Investigue a gênese dos problemas, as consequências, as ações que têm sido 
realizadas no intuito de amenizá-los. 
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A GESTÃO AMBIENTAL E A RESPONSABILIDADE 
SOCIOAMBIENTAL
Você sabe o que é responsabilidade socioambiental? 
A responsabilidade surge como derivação de uma obrigação anterior, 
que o responsável deixou de observar. É noção peculiar a todas as relações 
jurídicas. Visa assegurar a observância de alguma obrigação existente, seja 
porque se assumiu tal obrigação, ou em decorrência de um fato ocorrido ou 
praticado. (AGNOL, 2009).
Etimologicamente, o termo responsabilidade deriva de responsável, que 
se origina do latim responsus, particípio passado do verbo respondere, que 
signifi cava na época responder, afi ançar, prometer e pagar (AGNOL, 2009).
Ainda, de acordo com o autor, num contexto geral, a responsabilidade 
exprime a obrigação de responder por alguma coisa, revelando o dever 
jurídico em que se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato, seja em face 
de fato ou omissão que lhe sejam imputáveis, para satisfazer a prestação 
convencionada ou para suportar as sanções legalmente previstas.
Etimologicamente, o 
termo responsabilidade 
deriva de responsável, 
que se origina do latim 
responsus, particípio 
passado do verbo 
respondere, que 
signifi cava na época 
responder, afi ançar, 
prometer e pagar 
(AGNOL, 2009).
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EVOLUÇÃOSOCIOAMBIENTAL E 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 
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 Capítulo 2 
Com a percepção de que os recursos naturais poderiam se esgotar com a 
ação predadora do ser humano, emerge a Responsabilidade socioambiental. 
Isso, porque ocorriam com frequência muitos acidentes industriais, cuja 
intensidade não só colocava a vida dos trabalhadores em risco, como, também, 
gerava degradação dos recursos naturais, que eram fontes de matéria-prima 
para a própria indústria. Estudos revelaram a nocividade de gases poluentes e 
seu efeito sob as condições de vida da população. 
Podemos citar vários exemplos de acidentes industriais e/ou ambientais, 
tais como: o acidente nuclear de Chernobyl (1986), na Ucrânia; o acidente de 
Bophal (1984), na Índia; o acidente de Cubatão (1984), em São Paulo; e o 
acidente com o Césio -137 (1987), em Goiânia; e outros. 
Você provavelmente já ouviu falar do maior acidente nuclear da história, 
o acidente de Chernobyl, ocorrido em 26 de abril de 1986, por falha humana. 
O acidente produziu uma gigantesca nuvem radioativa, que atingiu a antiga 
União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido. Saiba mais 
sobre este acidente nuclear acessando o seguinte site: 
http://www.oarquivo.com.br/portal/index.php/polemica/historia/52-o-
acidente-nuclear-de-chernobyl 
Acesse também o site: http://www.library.com.br/Filosofi a/acidindu.htm, 
cujo artigo aborda alguns dos acidentes industriais signifi cativos na história da 
humanidade.
Outra indicação de leitura é o livro Acidentes industriais: o custo do 
silêncio, de Michell LLory. O autor faz uma análise inovadora dos maiores 
acidentes industriais dos últimos anos.
Atividade de estudo:
Propomos que você pesquise e descreva (tipo, origem, consequências, área 
de abrangência, etc) algum tipo de acidente industrial ocorrido na sua região 
e/ou estado. Se não houver, você pode optar por algum tipo de acidente 
industrial nacional e/ou internacional. 
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 Fundamentos da Educação Ambiental
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Assim, a responsabilidade socioambiental corresponde a um compromisso 
de empresas que atuam na vanguarda, atendendo à crescente conscientização 
da sociedade, principalmente nos mercados mais sólidos e/ou desenvolvidos. 
Diz respeito à necessidade de revisar os modos de produção e padrões 
de consumo vigentes, de tal modo que o sucesso empresarial não seja 
alcançado a qualquer preço, mas ponderando-se os impactos socioambientais 
decorrentes da atuação administrativa de cada indústria e/ou empresa.
Para melhor entendermos o conceito de responsabilidade socioambiental, 
precisamos compreender os conceitos de responsabilidade social (lembra 
do caderno de Responsabilidade Social?) e responsabilidade ambiental, 
pois foi da junção destes dois conceitos que emergiu a Responsabilidade 
Socioambiental. Sendo assim, a Responsabilidade Social é entendida como 
aquela que cuida dos interesses das pessoas em sentido amplo. 
Comumente, essa responsabilidade tem a forma de distribuição de renda 
feita como fi lantropia. As motivações que levam os sócios das empresas a 
praticar a fi lantropia são suas convicções morais ou religiosas. 
A responsabilidade ambiental se originou com a percepção de que os 
recursos naturais podem se esgotar com a ação devastadora do ser humano. 
O Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCDS ou 
CEBDS, no Brasil – www.cebds.org.br), primeiro organismo internacional 
puramente empresarial com ações voltadas à sustentabilidade, em 1998, 
defi niu responsabilidade socioambiental como o compromisso permanente 
dos empresários em adotar um comportamento ético e contribuir para o 
desenvolvimento econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade 
de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da 
sociedade como um todo (LEME, 2006). Pode também ser entendida como um 
sistema de gestão, adotado por empresas públicas e privadas, cujo objetivo é 
promover a responsabilidade social e a preocupação com a responsabilidade 
ambiental.
Com a internacionalização do capital, as indústrias passaram a utilizar 
intensamente os recursos naturais, sem a menor preocupação com as eventuais 
consequências. A partir dos anos 1970, surgem os movimentos ambientalistas 
(veremos no capítulo 4), na tentaviva de evitar essa excessiva exploração dos 
recursos naturais. Algumas indústrias, no intuito de continuar competitivas no 
mercado e ganhar a credibilidade da população mundial, procuraram adaptar-
se às novas exigências ou tendências de responsabilidade socioambiental, 
implantando programas de Gestão Ambiental. A exemplo disso, muitas 
delas optaram pela escolha de programas, como a ISO 14001, ou a norma 
britânica BS 7750, que têm, como um dos principais objetivos, a busca pelo 
“desenvolvimento sustentável”.
Comumente, essa 
responsabilidade 
tem a forma de 
distribuição de renda 
feita como fi lantropia. 
As motivações que 
levam os sócios das 
empresas a praticar 
a fi lantropia são suas 
convicções morais ou 
religiosas.
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EVOLUÇÃO SOCIOAMBIENTAL E 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 
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 Capítulo 2 
Ei, vejam, novamente eu preciso aparecer... É muita informação, certo? 
Então, para você não ter dúvidas, entenda um pouquinho mais sobre as 
normas ISO 14001 e BS 7750.
A Norma BS 7750 especifi ca os requisitos para o desenvolvimento, 
implantação e manutenção de sistemas de gestão ambiental, que visem 
garantir o cumprimento de políticas e objetivos ambientais defi nidos e 
declarados.
A ISO 14001 é uma norma, internacionalmente aceita, que defi ne os 
requisitos para estabelecer e operar um Sistema de Gestão Ambiental.
O programa BS 7750 ou ISO 14001, após implantado, concede à empresa 
um selo de padrão internacional (ISO 14001) e designa várias normas de 
Gestão Ambiental, que devem ser rigidamente seguidas pelas empresas que, 
de tempos em tempos, são auditadas pelos órgãos competentes. Podemos 
citar, como exemplo, o caso da empresa Electrolux do Brasil, que substituiu 
a pintura líquida (de seus refrigeradores e lavadoras) para a pintura a pó 
(para não agredir a camada de ozônio). Desenvolveu também um projeto de 
recuperação de um lago que pertence ao seu parque fabril. Outras empresas 
também podem ser citadas, como a Boticário, que desenvolve projetos 
ambientais; a Petrobrás, que investe no desenvolvimento de programas 
ambientais; a Vale do Rio Doce, entre tantas outras.
Atividade de estudo:
Você conhece e/ou já ouviu falar de alguma empresa e/ou instituição que 
desenvolve a responsabilidade ambiental? Descreva a mudança adotada pela 
empresa e/ou instituição.
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 Fundamentos da Educação Ambiental
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Compreender a “produção” do espaço geográfi co mundial signifi ca 
entender as formas de organização econômica, política e social, que orientam 
as relações da sociedade com a natureza e as relações entre os homens. 
No mundo contemporâneo, nenhum elemento da natureza fi cou imune à 
interferência das atividades humanas. A degradação ambiental tornou-se cada 
vez mais evidente ao longo do processo evolutivo do ser humano, principalmente 
a partir das revoluções industriais. A dicotomia entre o meio ambiente e a 
economia é cada vez maior, ou seja, a economia tem pressa e a natureza 
necessita de paciência. Assim, temos assistido recentemente à incorporação, 
por parte de diversas empresas, da responsabilidade socioambiental, a fi m 
de evitar tragédias, como as que exemplifi camos anteriormente. Na verdade, 
a responsabilidade socioambiental deve ser um compromisso permanente, 
não somente dos empresários, mas de toda a sociedade, no que tange à 
adoção de um comportamento ético, que contribua para o desenvolvimento 
sócioeconômico, o qual, por sua vez, garanta qualidade de vida para todos, 
inclusive para o meio ambiente.
REFERÊNCIAS
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<//www.advogado.adv.br/artigos/2005/alencarjoaodallagnol/
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EVOLUÇÃO SOCIOAMBIENTAL E 
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 
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 Capítulo 2 
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 Fundamentos da Educação Ambiental
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