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RESUMO Etnografia

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Resumo do 1º texto - Etnografias
	2016/2017
Etnografia
Objectivo desta UC – apresentar e analisar, usando uma perspetiva teórica e aplicada, obras etnográficas do desenvolvimento da antropologia em geral, dando especial enfoque à antropologia portuguesa.
Etnografia:
enquanto produto - é apresentado em textos pelos antropólogos, como resultado da sua investigação no terreno.
enquanto processo – corresponde ao método associado à fase de trabalho de campo, à observação participante, ao contacto, à relação existente entre o antropólogo e o seu alvo de estudo e os colaboradores.
Percurso da antropologia
Séc. XIX
Foi reconhecida como disciplina académica no século XIX, até aqui englobava a dimensão físico-biológica e pré-histórica, associada à história natural da humanidade. 
Na sociedade, adquire relevância à medida que os autores evolucionistas exploram os domínios da linguagem, da organização social, em particular do parentesco, do religioso, do político e económico, usualmente disseminados nas diversas tradições nacionais da altura à etnologia (etno, povo/etnia; logos, discurso) e etnografia (etno, povo/etnia; grafia, descrição).
A etnografia é assumida como a atividade de recolha de dados do terreno.
Podendo ser objecto de uma interpretação numa perspetiva comparativista com o objetivo de elaborar leis científicas (a ambição da antropologia evolucionista mas, agora, não de forma especulativa mas assente em dados recolhidos em primeira mão). 
Sanjek (2004) refere que a etnografia pode ser interpretada simultaneamente como um produto e como um processo. 
São poucos os que se deslocam ao terreno para estudar os povos distantes, sobre os quais elaboram teorias para fazer a componente etnográfica, pelo que dependem de terceiros, usualmente não antropólogos: viajantes, militares, missionários. Esta etnografia feita por não antropólogos é a fonte substancial da produção antropológica do século XIX (Pels e Salemink 1999).
Instrumentos de recolha etnográfica
Notes and Queries on Anthropology, editadas pela primeira vez em 1874, pela British Association for the Advancement of Science, e revistas por um comité da Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, no qual participam, entre outros, Edward Tylor e James Frazer.
Investigadores que desenvolveram o seu próprio trabalho de terreno
Frank Hamilton Cushing - índios Zuni na década de 1880.
Alice Fletcher - na mesma década desenvolve um trabalho de campo assinalável entre as mulheres Sioux no Dakota. No Sudeste asiático a expedição às Torres Straits, em 1889. Empreendimento multidisciplinar coordenado por Alfred Haddon da Universidade de Cambridge e onde participaram William Rivers e C.G. Seligman.
O trabalho de campo e a observação 
Franz Boas (1852-1942) EUA - sendo a sua abordagem designada de particularismo histórico, é uma forma de difusionismo moderado e assenta em trabalho de terreno. 
e Bronislaw Malinowski (1884-1942) Inglaterra - mentor do funcionalismo, realizou o trabalho de campo nas ilhas Trobriand, entre 1914 e 1918. Em 1922, publica o resultado do seu trabalho: Os Argonautas do Pacifico Ocidental, que se estabelece como o produto paradigma do trabalho etnográfico na antropologia.
Juntos vão fundar escolas teóricas que se afastam dos pressupostos evolucionistas.
O trabalho etnográfico passou a conjugar, a estadia no terreno e a observação participante assente no pressuposto de uma estadia prolongada no campo, junto de uma comunidade ou região, com objetivo da aprendizagem da língua local e a obtenção de informações de forma direta junto de informantes, os atores sociais, com os quais interage, observando e participando na vivência diária, de forma informal ou formal, com recurso a entrevistas, usualmente abertas e semiestruturadas.
Na época, nos EUA, existiu uma preocupação na aplicabilidade dos conhecimentos antropológicos na compreensão e resolução dos problemas consequentes da incorporação da população nativa na agenda política americana. Resultando numa área de conflito entre os antropólogos e os políticos, cujos objetivos imediatos se contrapunham à necessidade de tempo e às visões dos antropólogos.
Na Europa, a relação da antropologia com o colonialismo é incontornável.
Kuper (1996, 2005) - na antropologia social britânica existiu um comprometimento com o projeto colonial inglês, com o interesse em legitimar a antropologia e sedimentar a sua posição, na academia e na sociedade. Nem sempre o alinhamento dos antropólogos coincidiu com o das autoridades coloniais, promovendo a defesa dos “nativos”, que estudavam e sendo objeto de indiferença (em alguns casos mútua) por parte de administradores coloniais.
Holanda
Importante para o seu desenvolvimento da antropologia, foram as Índias Orientais (futura república da Indonésia), que pertencia à Holanda.
Bŏsković (2008) - a institucionalização da antropologia ocorre na Holanda em 1830. 
Tendo um papel relevante na preparação de futuros funcionários coloniais quer como campo de pesquisa e produção de etnografias que promoveram o desenvolvimento da antropologia na Holanda.
Portugal
O desenvolvimento da antropologia metropolitana foi limitado e a sua relevância colonial tardia.
Leal (2000) e Schouten (1998- 2001) - caracterizaram a antropologia portuguesa, na esteira da tradição filológica e etnológica romântica, como “etnológica‐folclorista” fazendo parte da chamada “antropologia de construção da nação” (Stocking 1982).
Congresso de Antropologia Colonial de 1934 - institui formalmente a antropologia colonial. Privilegiando a antropologia física e a classificação das características somáticas das populações colonizadas (Roque 2001, 2006).
Com o fim dos impérios
A prática antropológica alterou-se, recentrando-se nas sociedades de origem dos antropólogos, obrigando-os a olhar de novo para o que lhes é familiar, ao mesmo tempo que se renovam os interesses pelos vestígios dos outros, nativos e antropólogos.
Dos primeiros a sua presença impõem-se num contexto museológico sobre os segundos, e os segundos abrem os arquivos que o tempo permitiu desvendar.
Às ex-metrópoles chegam igualmente os “nativos” com um papel de migrante de trabalho ou até forçado, passando a constituir novos campos de investigação.
Escrita etnográfica - vai ser objeto de acérrimos debates, questionando o contexto e a forma da sua produção. O antropólogo passa a ser igualmente um objeto.
Writing Culture (Clifford e Marcus, 1986) - um dos primeiros textos pós-modernistas, reúne os textos resultantes de uma conferência realizada em 1984.
As ideias centrais são: a antropologia desloca-se do campo (ou devia-se deslocar) da etnografia científica para o estudo dos próprios textos etnográficos (a sua desconstrução – no caso dos antigos – e a sua elaboração), a contextualização e reflexibilidade face à metanarrativa (a ideia da grande teoria), a tensão relativa ao papel do antropólogo face às suas lealdades. 
Trabalho do antropólogo 
Criticas ao seu trabalho:
A escrita antropológica é objeto de crítica, se a recolha dos dados é subjetiva estes não podem ser analisados de forma objetiva. No limite esta é considerada uma ficção, e como tal é analisada pelos pós-modernistas. 
A validade da interpretação é questionada pelo facto de, no terreno, o antropólogo trabalhar com um conjunto limitado de informantes, colocando-se assim a questão de saber até que ponto as suas ideias são representativas de toda a sociedade.
O trabalho de campo revela uma relação assimétrica de poder que medeia antropólogo e os seus sujeitos, revelando igualmente as posições particulares das suas sociedades, que em contexto colonial se posicionam como dominante e a dominada.
Houve a necessidade da consciencialização das condições e mutualidade existente entre antropólogo e informantes, comunidades, as pessoas com quem trabalha, assim como uma reflexão sobre as políticas, estatais, corporativas e académicas, em presença na produção de material etnográfico.
Princípios de um métodoObservação participante: a característica essencial resulta do facto de o conhecimento etnográfico resultar de uma experiência pessoal do etnógrafo. 
Holismo: o etnógrafo sintetiza observações díspares para elaborar um constructo holístico da “sociedade” ou “cultura” em estudo.
Contextualização: a imersão num determinado local permite ao etnógrafo ligar os diferentes dados de forma compreensiva (permitindo comparações). 
Descrição sociocultural: a descrição detalhada e análise das relações sociais e culturais. 
Conexões teoréticas: o papel da teoria antropológica no trabalho etnográfico é objeto de debate, há quem defenda que não é possível fazer etnografia sem uma orientação teórica mas também há quem considere o contrário.
Texto 1: 
Urpi Montoya Uriarte, « O que é fazer etnografia para os antropólogos », Ponto Urbe [Online], 11 | 2012, posto online no dia 14 Março 2014, consultado o 20 Agosto 2016. URL : http://pontourbe.revues.org/300 ; DOI : 10.4000/pontourbe.300 
Na etnografia, a teoria as evidências empíricas e os dados adquiridos estão de tal maneira interligados que se chega à conclusão de que a Teoria e a Prática são inseparáveis.
Quando o pesquisador vai para o campo, está sujeito as alterações à sua teoria, pelo conhecimento adquirido através da prática, pois a realidade irá sempre superar a teoria, a teoria volta a manifestar-se quando o pesquisador coloca todos os conhecimentos no papel.
Para que o pesquisador faça um bom trabalho em campo, há a necessidade de se preparar previamente, fazer um estudo aprofundado do povo que vai estudar e acompanhar, ser isento de senso comum e acima de tudo ter “vocação” para este tipo de trabalho que existe da parte dele um “desenraizamento crónico”.
A etnografia é um método próprio da Antropologia do século XX
A antropologia do Sec. XIX, era especialista na análise de estudos feitos em documentos elaborados pelos viajantes, missionários… estes antropólogos trabalhavam essencialmente em gabinetes, deduzindo e especulando sobre o que eram estes povos. 
Como uma resposta critica a este método de estudo surge a antropologia do séc. XX, com o objectivo de reconstituir a história dos povos, explicar como alguns tinham evoluído em detrimento de outros. Com o tempo foi-se tornando menos etnocêntrica, acabando por se descobrir a importância de conviver e ouvir quem se pretende conhecer. Os antropólogos começam a integrar as expedições científicas.
Em 1914 Bronislaw Malinoswski, foi para as ilhas Trobiand, ficando lá 3 anos, vivendo com os povos e aprendendo a língua nativa. Em 1922, edita o livro “Os Argonautas do Pacífico ocidental”, apresentando o “método” etnográfico. 
Esta vivência no terreno fez com que entendesse de maneira diferente os povos, propondo 3 tipos de informação: numérica e genealógica, quotidiano e as interpretações nativas, denominando estas informações como o esqueleto, corpo e alma.
A antropologia do séc. XX passou a ter como objecto não os povos primitivos, mas as sociedades humanas, incluindo os povos desconhecidos e todos aqueles que já faziam parte da cultura do antropólogo.
Passando o método etnográfico a ser parte integral da antropologia, considerado por Goldman como o estudo das experiências humanas a partir de uma experiência pessoal.
O método etnográfico
Método etnográfico poder ser considerado como a aproximação da realidade do que nos propomos estudar e entender.
Pode ser dividido em:
Método de estudo de caso – estudar um grupo de uma determinada comunidade;
Método biográfico – estudo da trajectória familiar e o seu percurso na comunidade;
Método comparativo – quando se estudam vários casos e são alvo de os comparação;
Método do urbanismo errante – quando se percorre um local de uma forma lenta e à deriva.
Método etnográfico – estudo profundo e pormenorizado de um povo que se quer entender e compreender, trabalhando e dialogando com eles.
Método etnográfico – pode ser composto por várias fases
Estudo da teoria- recolhendo informações e interpretações sobre o povo a ser alvo de estudo, pode ser considerado como a “bagagem indispensável para ir a campo”.
Trabalho de campo – viver com o povo, conhecer o seu dia-a-dia, os seus costumes, tradições, a língua, a cultura, em resumo estabelecer relações com as pessoas.
Escrita – trabalho a ser realizado depois das duas primeiras fases, ou seja documentar o trabalho realizado em campo, ordená-lo de uma maneira legível para que outros o entendam. Esta fase é tida por alguns tão difícil quanto a permanência em campo, pelo facto de transcrever factos em texto numa maneira honesta e interessante. Por muito perto que o antropólogo tenha estado do povo estudado, a escrita é sempre do antropólogo e este não é um nativo.
Viveiros de Castro diz que “a voz do antropólogo não é a voz do nativo porque uma coisa é o que o nativo pensa e outra, o que o antropólogo pensa que o nativo pensa”. 
A escrita é tida como uma mistura de autoridade e fragilidade. Autoridade advém de quem testemunha e produz o relato, a fragilidade de que num amanhã, a escrita que hoje é correcta será corrigida por outro etnólogo.
O estilo da escrita também tem um papel relevante: O realismo etnográfico – importante na descrição dos detalhes, do quotidiano e principalmente na maneira como é exposta usando sempre o sujeito “eu estive lá”, dando a parecer ao leitor que a narrativa é o mais próximo do real.
Marcus e Cushman, dividem o realismo etnográfico em: clássico e experimental.
Clássico – abuso de uso da terceira pessoa – “eles fazem”, “eles pensam”, existindo uma ausência total da pessoa concreta e um tratamento marginal das condições de trabalho.
Experimental – o etnógrafo já faz parte do texto, os nativos passam a ter voz, os pontos de vista quer do nativo ou do pesquisador são distintos, as condições do trabalho de campo são descritas ao pormenor.
Malinoswski é um dos nomes a apontar a esta fase (escrita), sendo tido como um antropólogo que criou empatia com nenhum nativo, passando por situações quer físicas ou psicológicas menos boas, não se ter adaptado à vida em campo… 
O diário de Malinoswski nas Ilhas Trobriand é publicado por iniciativa da sua viúva, com introdução de um discípulo Raimond Firth, onde ele revela…
“ódio dos mosquito e pulgas, seu desconforto de conviver com porcos e crianças barulhentas, as chantagens dos nativos para falar, seus desejos sexuais, o descompromisso dos informantes (chamados de estúpidos, insolentes, atrevidos), a saudade da Europa, das duas mulheres que amava, etc.”
As fases do trabalho de campo
No trabalho de campo não existem factos etnográficos a serem recolhidos, o antropólogo parte à descoberta.
Ao longo da permanência em campo, surgem informações a que se dá o nome de dados. Estas informações começam por ser recolhidas através do ver e ouvir. Este ouvir, é um ouvir do que os povos têm a dizer, e não ouvir o que o antropólogo deseja. É necessário que exista diálogo, este só é possível com a relação de observador-participante.
Na primeira fase, existe a colecta de descrições detalhadas, através de perguntas assertivas e cuidadosamente elaboradas de maneira que possam ser respondidas pelos povos.
 Na segunda fase, ao fim de um tempo de permanência com estes povos, as ideias começam a fazer sentido e as informações recolhidas tornam-se importantes para a pesquisa, dá-se o nome de “sacada”.
Texto 2: 
Cornelia Eckert, Ana Luiza Carvalho da Rocha, Etnografia: Saberes e Práticas. Iluminuras v. 9, n. 21 (2008) http://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/9301
Método etnográfico? Técnicas de pesquisa etnográfica?
O método etnográfico é um método específico da pesquisa antropológica, e no qual se apoia o antropólogo. 
Composto por: técnicas e procedimentos de colectas de dados associados ao trabalho de campo e à vivência do pesquisador no grupo social que pretende estudar.
O pesquisador tem a tarefa de através da inter-relação entre ele e o sujeito a ser estudado, recorrer às técnicas de pesquisa: Observaçãodireta de conversas informais e formais, e de entrevistas….
A pesquisa é constituída pelo olhar e escutar, tem que existir um distanciamento da cultura de origem do pesquisador para que se possa integrar e participar ativamente no meio social que pretende investigar.
Tem que existir uma preparação prévia para o trabalho de campo, a construção do próprio tema e objeto de pesquisa desde a adoção de determinados recortes teórico-conceituais do próprio campo disciplinar e suas áreas de conhecimento (Antropologia rural, Antropologia urbana, etc.).
A observação direta
Observação directa – técnica usada para investigar os saberes e as práticas na vida social e reconhecer as ações e as representações coletivas do grupo.
O pesquisador tem a necessidade de se envolver no meio social, absorvendo os contrastes sociais, culturais, e históricos.
Saídas exploratórias – primeiras inserções no mundo desconhecido, e que têm o objectivo de um olhar atento ao espaço que o rodeia e a tudo o que acontece.
A curiosidade dá lugar a questões sobre como a realidade social é construída.
O pesquisador terá sempre a tendência de comparar o que lhe é conhecido com o que está agora a descobrir, tendo também a noção de que mesmo ele está a ser objecto de estudo. Cabe ao pesquisador a conquista da confiança do grupo que está a estudar, existindo assim a Interação considerada como a condição da pesquisa.
Observação participante - após o consentimento do grupo a ser estudado, o pesquisador passa a fazer parte e a participar do quotidiano do grupo. Estudando e pesquisando a vida social, os valores éticos e morais, as emoções… de uma determinada sociedade.
Mais uma vez se afirma que o antropólogo, não se pode transformar em nativo, mas tem uma necessidade de conhecer mais do que a sua própria cultura.
O trabalho de conhecer
Para que este conhecimento possa existir, tem que existir a prática do olhar o OUTRO para que o pesquisador possa conhecê-lo, acabando também por se conhecer um pouco melhor, vencendo obstáculos epistemológicos (necessidade de justificar o que vê usando o senso comum).
Quando o pesquisador de desloca para o trabalho em campo, tem de estar preparado para novas emoções, colocar de parte o conceito de que a realidade é mensurável ou visível, numa atitude individual. 
A pesquisa passa pela aprovação de um projecto e pela orientação de um professor/pesquisador ou antropólogo.
Para a realização do trabalho em campo, existe sempre a negociação entre ambas as partes e quando o pesquisador se desloca, será acompanhado por alguém do grupo alvo de estudo que o acompanha e apresenta aos restantes elementos do grupo social – interlocutor principal ou padrinho/madrinha de iniciação. 
Nem sempre os estudos são feitos a povos nativos, o antropólogo americano William Foote Whyte (2005) fez um trabalho de campo nas ruas da cidade, esta iniciação também foi mediada por um trabalhador que conhecia o chefe do grupo de jovens que ele pretendia estudar. 
A escuta atenta
Com a permanência do pesquisador no terreno, pela conquista de confiança do grupo e para que o pesquisador possa participar ativamente nas conversas, aprende a língua nativa, com o tempo reconhece os sotaques, as gírias, os gestos…
Escutar o outro não é tarefa fácil para o pesquisador, exige da parte deste uma aprendizagem e uma conquista de cada vez que é realizada uma entrevista e cada experiência de observação, superando assim as dificuldades existentes pelo desconhecimento.
O universo de pesquisa, o contexto estudado
O pesquisador tem que previamente estruturar o seu projecto de maneira que possa responder as questões fulcrais, tais como as dificuldades ou impedimentos que irá encontrar.
O grupo tem que saber quais as intenções do pesquisador, e só com a disponibilidade e cumplicidade destes a pesquisa tem continuidade.
O pesquisador através de um estudo prévio de outros estudos que foram realizados anteriormente, realiza a sua matriz tendo em atenção que um dia o seu trabalho, também será alvo de estudo para outros.
O exercício da escrita e a ipseidade
Ipseidade – O que faz com que um ser seja ele próprio e não outro.
Registo escrito – notas, diários ou relatos das experiências observadas ou escutadas no quotidiano da investigação.
É este registo que serve de ponto de partida para que outros investigadores iniciem os seus projectos.
Com a escrita, os investigadores criam narrativas onde recriam a sua vivência com outros povos e fazem-no de tal modo que conseguem dar vida aos seus escritos. 
Acabando por existir pontos em comum entre o método etnográfico e o romance aproximando-se da Antropologia da Literatura.
Entre o investigador e o grupo acaba por existir uma dualidade de conhecimento o “EU e o OUTRO”, começando pela desconfiança e preconceito, posteriormente irá resultar numa aprendizagem e experiencia única.
Margareth Mead (1979), num artigo diz que uma das características da antropologia é ser uma disciplina de palavras, e que a prática etnográfica traduz-se na memorização de acontecimentos orais complexos (cerimónias, conversas, relatos, comentários, interações verbais, etc.), que necessitam ser registados, classificados, comparados, e retomados pelos etnólogos como forma de estudos monográficos, através do uso de conceitos teóricos e metodológicos.
Conhecer a trajetória da antropologia como campo de ideias disciplinares
Bronislaw Malinowski e Franz Boas foram os pais fundadores deste método ao explorarem a distância que separava as suas sociedades daquelas que eles estudaram. 
Com as obras “Os argonautas do pacífico ocidental” e “A alma primitiva”, respectivamente, mostram o exemplo da sua experiência e do seu estudo de campo, tão necessário à formação de um antropólogo, mesmo nos dias de hoje. 
“Se um homem embarca em uma expedição decidido a provar certas hipóteses e se mostra incapaz de modificar sem cessar seus pontos de vistas e de abandoná-los em razão de testemunhos, inútil de dizer que seu trabalho não terá valor algum. (Malinowski, 1976, p. 65)”
No séc. XX existiu uma revolução epistemológica, pela forma como a pesquisa etnográfica era realizada, tendo como fundamento o trabalho de campo junto das sociedades ditas primitivas, que provocou uma metodologia na investigação antropológica nas sociedades modernas.
Nos anos 30 um grupo de sociólogos da Escola de Chicago desenvolveu um método e conceitos pertinentes para tratar do fenómeno urbano e industrial. Com as suas descobertas da compreensão da sociedade moderna, amplificaram os efeitos das questões no campo de pesquisa em ciências sociais. 
Após as crises dos anos 30, cientistas sociais começaram a participar em instituições públicas ou privadas, tendo como ação o trabalho com jovens ou indivíduos que viviam em situações de crise social. Conseguindo realizar a passagem da participação para a observação das situações vividas pelos grupos, numa tentativa de reuni-los no interior de um mesmo procedimento metodológico.
Pierre Bourdieu (1999) – outra forma de produzir conhecimento em ciências sociais, é a ruptura epistemológica. 
Aprender a etnografia lendo etnografias
Para que tal aprendizagem se dê, há a necessidade de ler bons trabalhos de técnica de pesquisa etnográfica, os diários, crónicas de viagens, relatos de campo… associados ao estudo sistemático de abordagens teóricas. Tomando consciência do que foi a vivência do pesquisador com o grupo pesquisado, os rituais, cerimonias, conflitos….
Este aprendiz de pesquisador, ao ler os relatos começa a formular as suas próprias questões.
As implicações de ser um etnógrafo: a vigilância epistemológica
O método etnográfico é definido pelas técnicas de entrevista e observação participante, dando origem a que por vezes que o investigador devido à sua preocupação, transforme a estrutura de uma entrevista num questionário, originando um distanciamento do entrevistado, o que pode em antropologia levar o pesquisador a um desencontro etnográfico, ou até ao desinteresse por parte do grupo.
Mesmoque existam dias mais produtivos do que outros, se existirem relações de reciprocidades, há sempre um resultado positivo, transformando-se as entrevistas, em entrevistas livres e trocas de conhecimento.
Importante é a escrita do diário, trabalho que deve ser sempre realizado pelo antropólogo, para que nada seja esquecido, quer sejam os medos, os preconceitos… são anotações diárias do que ele vê e ouve entre o grupo com quem ele compartilha o seu dia.
Posteriormente este diário será o ponto de partida para a sua própria avaliação em campo.
Caderno de notas: caderno onde o antropólogo regista os dados, gráficos, anotações do convívio diário e da observação do grupo e que dará origem ao Diário de campo.
Ambos servem para transpor os relatos orais e poderão ser usados por alguns pesquisadores, no estudo de dialectos diferentes entre o povo estudado.
A tendência monográfica e a grafia da luz
Monográfica – trata só de um assunto
A escrita dos artigos relacionados com o estudo etnográfico tem servido como ponto fulcral do trabalho do pesquisador, os trabalhos monográficos têm sido importantes para que seja reconhecido pelo mundo académico.
Com a modernidade dos tempos, estes trabalhos escritos começaram a ser alvo de tendências mais atuais, tais como os recursos audiovisuais, como o caso da adoção da máquina fotográfica pelo Malinowski, Margaret Mead e Gregoire Bateson.
David MacDougalll (2006) diz que a imagem quer seja fotográfica ou em filme, permite a quem as manipula verificar as semelhanças e diferenças existentes entre as culturas.
Etnografia e as novas tecnologias 
Com a fotografia e o cinema, deixou de existir apenas a possibilidade de tomar conhecimento através dos registos de trabalho de campo. 
Passou a existir um novo conceito de escrita etnográfica - uma Antropologia do cyberspace. Tem originado uma maior reflexão em torno do processo do que era a representação etnográfica e a desmaterialização dos escritos etnográficos no âmbito das ciências sociais.
Após a leitura dos 2 textos: 
Devemos conseguir responder
Quando e como emerge a etnografia; 
Qual a especificidade do método? 
Quais as caraterísticas do método etnográfico? [momentos/passos] 
Quem está envolvido no contexto etnográfico? Quem são os atores em presença e como interagem? Como se constitui o ato de escrita como parte do processo etnográfico? 
Em que consiste a reflexibilidade, que lugar tem esta na pesquisa?
Custódia	Página 1

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