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A Assistência Jurídica Gratuita na Cooperação Internacional (TCC)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” 
 
 
 
CAMILA FÁVARO LEME BASTOS 
 
 
 
 
 
A ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA NA COOPERAÇÃO 
INTERNACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2016 
 
 
 
CAMILA FÁVARO LEME BASTOS 
 
 
 
 
 
A ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA NA COOPERAÇÃO 
INTERNACIONAL 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de 
Mesquita Filho”, como pré-requisito para 
obtenção do Título de Bacharel em Direito. 
Orientador: Prof. Dr. Daniel Damásio Borges 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bastos, Camila Fávaro Leme 
A Assistência Jurídica Gratuita na Cooperação Internacional 
/ Camila Fávaro Leme Bastos. - Franca : [s.n.], 2016 
70 f. 
 
Trabalho de conclusão (bacharelado - Direito). Universidade 
Estadual Paulista. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. 
Orientador: Daniel Damásio Borges 
 
1. Assistência jurídica gratuita. 2. Cooperação jurídica 
internacional. 3. Acesso à justiça. I. Título. 
 
CDD - 342.3
 
 
 
CAMILA FÁVARO LEME BASTOS 
 
 
 
A ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA NA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Humanas e 
Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito 
para obtenção do Título de Bacharel em Direito. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
Presidente:________________________________________________________ 
Prof. Dr. Daniel Damásio Borges 
 
1º Examinador:_________________________________________________ 
 
 
2º Examinador:_________________________________________________ 
 
 
 
Franca, 30 de novembro de 2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, pelo apoio incondicional 
e por sempre acreditarem em mim. 
 
 
 
BASTOS, Camila Fávaro Leme. A assistência jurídica gratuita na cooperação 
internacional. 2016. 70 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) – 
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita 
Filho”, Franca, 2016. 
 
RESUMO 
Com a facilidade de envolvimento em situações jurídicas transnacionais, ocasionada pela 
globalização, o Direito Internacional Privado está cada vez mais em voga. Entre as situações 
que este ramo do Direito se propõe a regular, a questão do litigante hipossuficiente em 
processos que apresentam elemento de estraneidade ganha destaque no contexto da 
internacionalização do cotidiano. A Constituição Federal e diversas leis dispõem acerca da 
proteção daquele que não pode litigar sem o prejuízo de seu próprio sustento e de sua família, 
oferecendo a este a assistência jurídica gratuita, mas esta abrange apenas os brasileiros e 
estrangeiros residentes no Brasil. Os hipossuficientes estrangeiros que pretendem litigar no 
Brasil e os hipossuficientes brasileiros que pretendem litigar no exterior dependem da 
cooperação jurídica internacional para obterem alguma assistência. O presente trabalho se 
propõe a analisar a maneira pela qual se dá a concessão da assistência jurídica gratuita a estes 
sujeitos, bem como os instrumentos pelos quais se realiza. Para atingir este objetivo, são 
analisados relatórios de organizações internacionais, os principais tratados sobre o assunto e a 
bibliografia relacionada a este. Também é feita análise jurisprudencial com a finalidade de 
verificar como o Judiciário tem interpretado as normas internacionais e se as decisões estão de 
acordo com os objetivos buscados pelo Brasil e demais Estados ao firmarem a cooperação. 
Palavras-chave: assistência jurídica gratuita. cooperação jurídica internacional. acesso à 
justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................7 
CAPÍTULO 1 DA ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA.............................................10 
1.1 Disposições Gerais.............................................................................................................10 
1.2 Benesses da Assistência Jurídica Gratuita......................................................................17 
1.2.1 Taxa Judiciária................................................................................................................18 
1.2.2 Emolumentos....................................................................................................................18 
1.2.3 Honorários.......................................................................................................................19 
1.2.4 Caução.............................................................................................................................20 
1.2.5 Ônus de Sucumbência......................................................................................................20 
1.3 Requisitos...........................................................................................................................21 
CAPÍTULO 2 DA COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL..............................26 
2.1 Relevância do Estudo da Cooperação Jurídica Internacional......................................26 
2.2 Disposições Gerais.............................................................................................................32 
2.3 Instrumentos......................................................................................................................33 
2.3.1 Cartas Rogatórias............................................................................................................33 
2.3.2 Homologação de Sentenças Estrangeiras........................................................................37 
2.3.3 Auxílio Direto...................................................................................................................38 
2.4 A Assistência Jurídica Gratuita na Cooperação Internacional....................................39 
2.4.1 O Acesso à Justiça no Âmbito Internacional...................................................................39 
2.4.2 Os Tratados sobre Assistência Jurídica Gratuita............................................................43 
2.4.3 Ausência de Tratado........................................................................................................49 
2.4.4 A Convenção de Haia sobre o Acesso Internacional à Justiça.......................................50 
CAPÍTULO 3 ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO PARA A CONSOLIDAÇÃO DA 
ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA NA COOPERAÇÃO 
INTERNACIONAL................................................................................................................54 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................66 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................68 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
INTRODUÇÃO 
Responsável por solucionar o conflito de leis, o Direito Internacional Privado “é a 
disciplina que cuida, por excelência, dos aspectos relativos à determinação do direito 
aplicável aos fatos, situações e relações jurídicas com conexão internacional”1. 
Tradicionalmente, era visto como um ramo do Direito reservado a uma minoria elitista, umavez que a possibilidade de envolvimento com situações além das fronteiras nacionais nem 
sempre esteve ao alcance da população em geral. O processo de globalização, entretanto, tem 
contribuído com a alteração deste quadro. Atualmente, é possível se envolver em uma 
situação jurídica transnacional sem sequer sair de casa, como se observa, por exemplo, nas 
compras em sites estrangeiros
2
. Desta forma, nota-se que “a sociedade atual é fortemente 
internacionalizada, e marcada pelo deslocamento das massas”3. 
Como consequência deste fenômeno, a preocupação dos Estados com relação ao 
Direito Internacional Privado se voltou para as questões de competência e jurisdição. Ambas 
estão relacionadas ao alcance do Poder Judiciário, matéria intimamente ligada à questão da 
soberania estatal. Assim, buscando uma maneira de resolver os conflitos surgidos destas 
relações internacionalmente conectadas que não ofendesse a soberania dos Estados, surgiu o 
instituto da cooperação jurídica internacional. Através deste mecanismo, um Estado pode 
requisitar a outro a prática de atos judiciais em seu território sem estender sua jurisdição a ele. 
As legislações internas e os tratados internacionais preveem diversos instrumentos que 
possibilitam a cooperação internacional, dos quais se destacam as cartas rogatórias, a 
homologação de sentenças e o auxílio direto. Embora sejam de suma importância para a tutela 
dos direitos pleiteados em demandas nas quais se manifesta o elemento de estraneidade, a 
tramitação dos pedidos de cooperação através destes instrumentos é onerosa, podendo 
comprometer o acesso à justiça para aqueles que possuem poucos recursos financeiros. 
A concepção de acesso à justiça utilizada na atualidade é recente. Até o final do século 
XIX, era garantido aos litigantes um direito de acesso meramente formal ao Judiciário, 
segundo o qual ninguém poderia ser privado da possibilidade de propor ou contestar ação
4
. 
 
1
 POLIDO, Fabrício Bertini Pasquot. Direito Processual Internacional e o Contencioso Internacional 
Privado. Curitiba: Juruá Editora, 2013 (Coleção Para Entender). 
2
 ARAUJO, Nadia de. Direito Internacional Privado: teoria e prática brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2011. p. 34. 
3
 Ibidem. 
4
 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Nothfleet. Porto 
Alegre: Fabris, 1988. p. 9. 
8 
 
 
Somente no século XX, com a Constituição Francesa e as reformas do welfare state, é que 
este direito começou a ganhar feições mais contemporâneas, com a imposição da atuação 
positiva do Estado para assegurar o exercício dos direitos sociais e busca de mecanismos para 
efetivar o direito de acesso à justiça
5
. Finalmente, entendeu-se que o acesso à justiça vai além 
do ingresso no judiciário, compreendendo também a resolução da demanda em tempo 
razoável, um julgamento imparcial, a inafastabilidade da jurisdição, o fornecimento de 
condições materiais para o litigante, entre outros fatores. Tamanha é a importância deste 
direito, que Mauro Cappelletti afirma que ele consiste no “ponto central da moderna 
processualística”6. 
O acesso à justiça é garantido de diversas maneiras no âmbito do Direito Processual 
Civil, seja por meio de princípios, seja por meio de outros instrumentos previstos em lei. 
Entre estas maneiras, merece destaque a assistência jurídica gratuita. Prevista no art. 5º, 
LXXIV da Constituição Federal (CF), é a forma que o Estado encontrou de equiparar 
materialmente os hipossuficientes aos demais litigantes, garantindo seu ingresso e 
permanência no Judiciário até o fim da demanda. Esta assistência - que envolve tanto a 
gratuidade judiciária como consultoria extrajudicial e representação em juízo gratuitos - é 
prestada pela Defensoria Pública e, além da previsão constitucional, encontra-se sacramentada 
na lei n. 1060/50. Todavia, cabe observar que a proteção do referido art. 5º, conforme 
disposto em seu caput, se estende somente aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no 
país. 
Já a questão da prestação de assistência jurídica gratuita tanto aos estrangeiros não 
residentes no Brasil que pretendem litigar aqui quanto aos brasileiros que pretendem litigar no 
exterior não encontra soluções tão simples quanto a do dispositivo constitucional. São 
situações que não podem ser resolvidas somente com a legislação interna brasileira, sendo 
necessário ao aplicador do Direito buscar apoio no Direito Internacional Privado. Entra em 
cena a questão da cooperação jurídica internacional. 
Se a assistência jurídica gratuita consiste em um tema adicionado há pouco tempo aos 
ordenamentos jurídicos, é evidente que a questão é ainda mais recente no âmbito 
internacional. Não obstante, verifica-se a existência de tratados internacionais sobre o assunto, 
 
5
 CAPPELLETTI, op. cit., p. 10-11. 
6
 Ibidem, p. 13. 
9 
 
 
além da existência de normas internas de Direito Internacional Privado que disciplinam a 
matéria. 
Apesar da relevância da assistência jurídica gratuita no âmbito internacional, são 
poucas as pesquisas acerca deste tema. Assim, este trabalho se propõe a realizar um estudo 
sobre a concessão desta assistência e os instrumentos de cooperação jurídica internacional que 
a tornam possível. O estudo se estrutura da seguinte forma: primeiramente, é traçado um 
panorama da assistência jurídica gratuita no ordenamento brasileiro, abordando-se suas 
principais características, seu alcance e os requisitos para sua concessão. Posteriormente, é 
apresentado o tema da cooperação jurídica internacional, apontando-se a importância do seu 
estudo, suas características gerais, seus instrumentos e analisando-se os principais tratados 
sobre assistência jurídica gratuita, bem como os roteiros de tramitação de pedidos de 
cooperação. Por fim, é analisada a atuação do Judiciário brasileiro com relação ao assunto por 
meio do estudo de algumas decisões judiciais, em especial aquelas que versam sobre a 
cooperação jurídica internacional passiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
CAPÍTULO 1 DA ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA 
1.1 Disposições Gerais 
A partir do momento em que o Estado tomou para si o poder de resolver conflitos de 
interesses dos cidadãos, retirando-lhes a possibilidade de exercer a autotutela, tornou-se 
responsável pela prestação da tutela jurisdicional
7
 
8
. Do latim juris e dicere, cujo significado é 
“dizer o direito”, jurisdição é: 
uma espécie de atividade privativa do Estado, prestada por órgão 
regularmente investido na função que, quando provocado, substitui a 
vontade das partes e, de forma heterônoma, põe fim às lides que lhes são 
submetidas de forma definitiva, tornando concreta a opção abstrata feita pelo 
legislador.
9
 
O art. 5º, XXXV da CF consagrou o princípio da inafastabilidade da jurisdição, 
garantindo a todos os brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a prestação desta tutela 
nos casos de ameaça ou lesão a direito. Com o art. 8º da Convenção Americana de Direitos 
Humanos, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, da qual o Brasil é signatário, a 
questão do acesso à justiça adquiriu, inclusive, o status de Direito Humano
10
. 
Para os autores que consideram a jurisdição uma figura mais próxima dos direitos 
fundamentais dos indivíduos do que de direitos ínsitos à soberania do Estado
11
, as partes em 
um processo “deixam de ser simplesmente jurisdicionados passivos, para integrarem a 
categoria de “titulares de direitos fundamentais de base jurisdicional””12. 
Embora a igualdade inerente ao direito ao acesso à justiça esteja previstaconstitucionalmente, é evidente o fato de que nem todos a quem ele é garantido possuem 
condições materiais de litigar. Conforme o art. 19, §1º do Código de Processo Civil (CPC) de 
 
7
 ASSIS, Araken de. Benefício da gratuidade. Revista da Ajuris, Porto Alegre, v. XXV, n. 73, p. 162-200, jul. 
1998. p. 162. 
8
 Quanto a este poder de resolver conflitos de interesses, Azambuja ressalta que já se encontrava concentrado nas 
mãos de figuras políticas desde antes do surgimento dos Estados. Nas sociedades primitivas, por exemplo, os 
chefes desempenhavam a função de juízes, enquanto no período medieval, eram os príncipes que o faziam. Com 
o advento do Estado moderno, a função de julgar foi delegada ao Poder Judiciário, mas sem deixar de ser 
atribuição do Estado (AZAMBUJA, Darcy. Introdução à Ciência Política. 2. ed. São Paulo: Editora Globo, 
2008. p. 206-209). 
9
 BARRETO JÚNIOR, Edvaldo Costa Barreto. Jurisdição. In: FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho (org.). 
Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2011. p. 34-35. (Série Advocacia Pública). 
10
 Art. 8º: “1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um 
juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer 
acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, 
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza”. 
11
 Cf. MILLS, Alex. Normative individualism and jurisdiction in public and private international law: 
toward a ‘cosmopolitan sovereignty’? Londres: 2012. Disponível em: 
<http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2055295>. Acesso em: 3 out. 2015. 
12
 POLIDO, op. cit., p. 42. 
11 
 
 
1973, todo ato do processo tem um custo, que deve ser suportado pela parte que o pratica. 
Assim, além do próprio custo do processo em geral, seria inviável àqueles com poucos 
recursos financeiros o próprio ingresso no sistema judiciário. Visando eliminar a possibilidade 
de cerceamento do acesso à justiça provocada pela desigualdade de condições econômicas e 
confirmando sua qualidade de garantidora do exercício pleno da cidadania, e, 
consequentemente, dos direitos e garantias individuais, intrínseca ao Estado Democrático de 
Direito
13
, a CF impôs, no art. 5º, LXXIV, a obrigatoriedade da prestação de assistência 
jurídica integral e gratuita pelo Estado àqueles que comprovarem a insuficiência de recursos. 
Cabe ressaltar que o referido inciso LXXIV solucionou não somente o problema 
relativo ao custo do processo como também assegurou ao litigante hipossuficiente a 
consultoria extrajudicial e a representação em juízo gratuita. No entanto, não trouxe uma 
especificação de como deveria ser prestada essa assistência, delegando à legislação 
infraconstitucional a sua regulamentação. Entre as leis que trazem dispositivos acerca do 
assunto podem ser destacadas as constituições estatais, a lei n. 1060/50 (lei da assistência 
judiciária), o CPC de 1973 (lei n. 5869/73) e o novo CPC (lei n. 13105/15), a lei n. 9099/95 
(lei dos juizados especiais), que prevê a gratuidade judiciária em todos os seus processos, e 
alguns tratados internacionais relacionados à cooperação jurídica internacional. 
Apesar de a CF falar em assistência jurídica integral e gratuita, a legislação 
relacionada à proteção do hipossuficiente que queira litigar traz mais dois termos: a 
gratuidade judiciária e a assistência judiciária gratuita. Vários doutrinadores divergem com 
relação a estas expressões, havendo quem as considere sinônimas, como Humberto Theodoro 
Júnior, Antônio José de Souza Levenhagem, Pedro Batista Martins, Alcides de Mendonça 
Lima e Eliézer Rosa, enquanto outros veem nelas institutos distintos, como Pontes de 
Miranda, Hélio Márcio Campo, José Maria Rosa Teisheiner, José Cretella Júnior, Luís 
Alberto Thompson Flores Lenz, Celso Ribeiro Bastos, Ives Gandra Martins, Eduardo Bezerra 
de Medeiros Pinheiro
14
 e Araken de Assis
15
. Quanto ao emprego dos termos pelo judiciário, 
nota-se o dissenso novamente: predomina o entendimento de que ambas consistem na mesma 
figura, sendo confundidas, inclusive, com a assistência jurídica gratuita
16
, mas também há 
 
13
 CAMPO, Hélio Márcio. Assistência Jurídica Gratuita: assistência judiciária e gratuidade judiciária. São 
Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2002. p. 53. 
14
 Ibidem, p. 54 e 119-120. 
15
 ASSIS, op. cit., p. 163. 
16
 Neste sentido: RE 205.746/RS, AI 649.283/SP–AgR, RE 550.202-AgR/DF e REsp 1.082.376/RN. 
12 
 
 
quem entenda o contrário
17
, sendo que, para estes, os dois institutos são englobados pela 
assistência jurídica gratuita, mas não se confundem com ela. As próprias leis deixam espaço 
para dúvidas nesta questão, pois diversas vezes a assistência judiciária foi mencionada em 
situações em que, na verdade, seria cabível a gratuidade judiciária, como se observa no art. 13 
da lei n. 11636/07
18
, que dispõe sobre as custas devidas no âmbito do STF, e em toda a lei n. 
1060/50. Com relação a esta última, é interessante notar que teve alguns artigos revogados 
pelo novo CPC, cabendo aqui destacar a revogação do art. 3º, que continha as hipóteses de 
isenção compreendidas pela assistência judiciária. O novo CPC tratou destas hipóteses no art. 
98, §1º, atualizando-as às necessidades contemporâneas, como situações compreendidas pela 
gratuidade da justiça. Esta alteração pode simplesmente decorrer de uma tentativa de manter a 
expressão parecida com aquela utilizada no CPC de 1973, a justiça gratuita (arts.19 e 687, 
§1º), como pode ser também uma sutil indicação de que gratuidade e assistência judiciária não 
são sinônimos. 
Em manual elaborado pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação 
Jurídica Internacional (DRCI) da Secretaria Nacional de Justiça, afirma-se que a assistência 
jurídica gratuita abrange a isenção de despesas inerentes à demanda circunscritas ao processo, 
atividade consultiva e auxílio extrajudicial e, por fim, a representação em juízo
19
. Embora o 
manual não indique seu posicionamento com relação à distinção entre assistência jurídica, 
assistência judiciária e justiça gratuita, é possível entender que, de certa maneira, admitiu a 
sua existência. Isto porque afirmou que as três situações juntas constituem a assistência 
jurídica, mas não excluiu a possibilidade do hipossuficiente requerê-las separadamente 
 
17
 Hélio Márcio Campo, em sua supracitada obra, traz alguns julgados da época em que a lei n. 1060/50 entrou 
em vigor (p. 119-120). Apesar de seu texto trazer expressamente a intenção de estabelecer as normas para 
concessão da assistência judiciária, suas disposições se adequam mais à noção de gratuidade judiciária, razão 
pela qual alguns dos primeiros juízes a interpretarem a lei trataram desde já estabelecer a diferença entre as 
expressões. Neste sentido também há julgado do TJRS: “APELAÇÃO CÍVEL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA 
GRATUITA. O fato de as partes constituírem advogado particular não significa que detenham condições para 
arcar com os encargos processuais sem prejuízo da própria mantença, não servindo tal fato, por si só, para 
contrariar a alegação de pobreza juntada aos autos, que goza de presunção relativa de veracidade, que somente 
cede ante prova em contrário. Ao constituir advogado, as partes não abriram mão da gratuidade, visto que 
assistência judiciária e benefício da Justiça gratuita são coisas distintas. PROVERAM. UNÂNIME. (Agravo de 
Instrumento Nº 70010316669, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,Relator: Luiz Felipe Brasil 
Santos, Julgado em 22/12/2004)”. 
18
 “Art. 13. A assistência judiciária, perante o Superior Tribunal de Justiça, será requerida ao presidente antes da 
distribuição, e, nos demais casos, ao relator. 
Parágrafo único. Prevalecerá no Superior Tribunal de Justiça a assistência judiciária já concedida em outra 
instância”. 
19
 BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica 
Internacional. Manual de cooperação jurídica internacional e recuperação de ativos: cooperação em matéria 
civil / Secretaria Nacional de Justiça, Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica 
Internacional (DRCI). – 3. ed. Brasília : Ministério da Justiça, 2012. p. 57. 
13 
 
 
conforme sua necessidade. Ao tratar da isenção de despesas, indicou a necessidade de 
pleitear-se a gratuidade judiciária e, apesar de não explicitar que a representação em juízo é 
objeto da assistência judiciária, distinguiu-a da atividade consultiva e auxílio extrajudicial, os 
quais seriam elementos privativos da assistência jurídica. Assim, pode-se dizer que o manual 
corrobora, mesmo que indiretamente, a ideia de que a gratuidade e a assistência judiciária são 
espécies, enquanto a assistência jurídica é o gênero. 
Apesar daquele a quem a assistência jurídica gratuita é concedida ser chamado de 
beneficiário, deve ficar claro que este instituto é mais que um benefício. Segundo Hélio 
Márcio Campo, trata-se de pretensão irrenunciável, imprescritível e renovável, cabendo 
demanda contra o Estado, caso indeferida a assistência
20
. Irrenunciável ou não, o fato é que 
este é um direito assegurado constitucionalmente, previsto no rol dos direitos e garantias 
fundamentais e qualquer obstáculo à sua concessão consiste em uma afronta ao direito de 
ação do hipossuficiente. 
São legitimados a requerer a assistência jurídica gratuita os brasileiros e estrangeiros 
residentes no país, conforme se depreende da leitura do caput do art. 5º da CF. Note-se que a 
CF não faz distinção entre nacionais e estrangeiros com relação à garantia dos direitos 
fundamentais, exigindo apenas que residam no Brasil; assim, entendendo-se que, nesta 
situação, os direitos dos estrangeiros são equiparados aos dos brasileiros com base no critério 
residência, a garantia também deve se estender, portanto, aos apátridas
21
 que preencherem 
este requisito. Em decorrência de parceria firmada entre o Ministério das Relações Exteriores 
e a Defensoria Pública da União, é possível ao brasileiro residente no exterior a concessão de 
assistência jurídica gratuita quando este pretender litigar no Brasil ou precisar resolver 
qualquer outra pendência jurídica no país, podendo, ainda, contar com o auxílio consular para 
a formulação do pedido de assistência, fornecimento de informações referentes aos seus 
serviços que tenham alguma relação com a demanda e encaminhamento do pedido à 
Defensoria Pública da União. 
Assim como as pessoas físicas, as pessoas jurídicas têm legitimidade ativa, a qual está 
prevista na súmula 481 do STJ, que dispõe que: “Faz jus ao benefício da justiça gratuita a 
pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com 
os encargos processuais”. No caput de seu art. 98, o novo CPC previu a gratuidade judiciária 
 
20
 CAMPO, op. cit., p. 63-64. 
21
 Ibidem, p. 58. 
14 
 
 
para pessoas físicas e jurídicas, tanto brasileiras como estrangeiras, quando houver 
insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários 
advocatícios. Embora não haja menção, levando-se em conta a exigência com relação à 
residência das pessoas físicas, é possível inferir que estas pessoas jurídicas devem estar 
sediadas no Brasil. 
A assistência jurídica gratuita aos hipossuficientes estrangeiros sem residência no país 
não é vedada. Seria, inclusive, absurdo estabelecer tal vedação, visto que a própria CF, em seu 
art. 3º, IV, estabelece como um dos princípios da República Federativa do Brasil a promoção 
do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas 
de discriminação. Portanto, seria incabível a denegação
22
 de um instrumento necessário para o 
exercício do direito fundamental do acesso à justiça a um indivíduo pelo simples fatos deste 
ostentar o status de estrangeiro e não residir no país. No intuito de coibir esta prática, diversos 
países, entre eles o Brasil, têm firmado tratados que estabelecem a igualdade de condições de 
acesso à justiça, inclusa aí a assistência jurídica gratuita, entre os nacionais, residentes ou 
domiciliados em algum dos Estados signatários. A concessão da assistência prevista em tais 
acordos se faz cumprir por meio da cooperação jurídica internacional, conforme será estudado 
adiante. Ademais, nota-se que estes tratados são uma via de mão dupla, sendo estas 
disposições aplicadas também ao brasileiro que queira litigar no exterior, uma vez que o órgão 
encarregado da assistência jurídica aos necessitados no Brasil é a Defensoria Pública e esta 
não pode atuar perante a Justiça estrangeira, cabendo aos órgãos do Estado contratante ao qual 
foi endereçado o pedido de cooperação fazê-lo. 
Com relação à legitimidade passiva, a prestação da assistência jurídica gratuita pela 
Defensoria Pública está prevista no art. 134 da CF, segundo o qual, a esta instituição 
permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, incumbe a “orientação jurídica, a 
promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos 
direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados”, o que deve ser 
feito na forma do art. 5º, inciso LXXIV. Tal comprometimento com a função atribuída 
constitucionalmente se expressa em um dos princípios da instituição: a unidade; como ensina 
Hélio Márcio Campo, “por unidade há que se entender que a proposta da Defensoria Pública é 
 
22
 Cf. POLIDO, op. cit, p. 43-44, na qual o autor estabelece conexão entre o princípio do acesso à justiça ao 
princípio da proibição da denegação de justiça, indicando a existência de duas vertentes de aplicação deste 
último: a primeira se refere ao conflito negativo de jurisdição, no qual dois ou mais órgãos de prestação 
jurisdicional declinam da competência para apreciar o litígio; enquanto a segunda diz respeito à “violação de 
direitos fundamentais no contexto da adjudicação das controvérsias” (p. 43). 
15 
 
 
uma só, dirigida para um único fim, qual seja, proteger os interesses dos necessitados”23. A 
atual redação do referido art. 134 se deve à Emenda Constitucional 80/2014, igualando-a à 
definição trazida pelo art. 1º da Lei Complementar n. 80/94, responsável por organizar a 
Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios e prescrever normas gerais 
para sua atuação nos estados. O art. 4º desta mesma lei reforça a vocação da Defensoria para a 
proteção dos hipossuficientes, principalmente nos incisos I, VII, X e XIX
24
; além de trazer 
expressamente no §5º que “a assistência jurídica integral e gratuita custeada ou fornecida pelo 
Estado será exercida pela Defensoria Pública”. No que tange às despesas com o processo, o 
defensor público conta com a facilidade de poder requisitar de qualquer autoridade pública e 
de seus agentes certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, 
informações, esclarecimentos, entre outras providências, sem precisar recolher qualquer 
espécie de taxa. Excepcionalmente, pode haver legitimidade passiva por parte do Ministério 
Público
25
, o qual pode prestaresta assistência nas localidades em que não houver unidade da 
Defensoria Pública ou no âmbito da Justiça Federal, nesta última somente quando for cabível 
sua atuação. 
Ademais, a legitimidade para prestação de assistência jurídica gratuita não está adstrita 
a órgãos públicos, podendo se dar por advogado indicado pela Ordem dos Advogados do 
Brasil (OAB) ou escolhido pelo juiz ou pelo próprio litigante, na forma do art. 5º da lei n. 
1060/50. Assim como ocorre com o Ministério Público, estas situações só são cabíveis 
quando não houver unidade da Defensoria Pública próxima ao local em que tramita a 
demanda; entretanto, diferentemente das hipóteses anteriores, esta forma de assistência pode 
ser requisitada apenas no curso do processo. Só poderá o advogado ser indicado pelo juiz ou 
pelo demandante, dando-se preferência à escolha deste, se não existir subseção da OAB no 
 
23
 CAMPO, op. cit., p. 113. 
24
 “Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: 
I – prestar orientação jurídica e exercer a defesa dos necessitados, em todos os graus; 
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos 
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de 
pessoas hipossuficientes; 
X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos 
individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações 
capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela; 
XIX – atuar nos Juizados Especiais; 
Quanto ao inciso XIX, cabe destacar a atuação do defensor público nos Juizados Especiais Cíveis, que consiste 
na postulação em nome do autor hipossuficiente na forma do art. 14 da lei n. 9099/95, na defesa do réu 
hipossuficiente e na defesa de uma das partes quando a outra estiver acompanhada de advogado ou trouxer 
defesa escrita assinada por advogado”. 
25
 Pode-se dizer que esta possibilidade remonta ao surgimento da figura do defensor público que, 
originariamente, integrava o quadro funcional do Ministério Público do Distrito Federal (localizado no Rio de 
Janeiro nesta época), constituindo o degrau inicial do referido órgão, conforme disposto na lei n. 216/48. 
16 
 
 
município. Além da designação, o advogado se torna responsável pelo encargo da defesa 
somente se declarar aceitá-lo. Pode motivar a recusa por parte do advogado qualquer um dos 
itens previstos no art. 15 da lei mencionada. Hélio Márcio Campo entende que estes motivos 
elencados no art. 15 podem ser alegados não só pelo advogado indicado, como também pelo 
litigante que será assistido, com vistas a afastá-lo; defende ainda a aplicação analógica das 
proibições aos juízes constantes nos arts. 134, I, II e IV (hipóteses de impedimento) e 135, I, 
II e III (hipóteses de suspeição) do CPC/73
26
 aos advogados, tomando-as como casos que 
igualmente justificam a recusa
27
. Os motivos alegados são analisados pelo juiz, estando o 
advogado sujeito à multa do art. 14 da lei n. 1060/50 caso a recusa seja tida como injusta e à 
sanção disciplinar consistente em censura por parte da OAB, prevista no art. 36, I da lei n. 
8906/94 (Estatuto da OAB). Segundo o supracitado estatuto, o Estado está incumbido de 
pagar os honorários advocatícios do patrono indicado, sendo esta disposição, no entendimento 
de Araken de Assis, uma forma de punir sua omissão na organização da Defensoria Pública
28
. 
Em contraste com o âmbito civil, a Justiça Trabalhista reserva a primazia na prestação 
da assistência jurídica gratuita ao sindicato da categoria profissional do trabalhador que a 
pleiteia, conforme preceitua o art. 14 da lei n. 5584/70. Nesta seara, a legitimidade do 
Ministério Público e da Defensoria Pública está condicionada à inexistência do referido 
sindicato na localidade. O próprio trabalhador pode optar por apresentar sua Reclamação 
Trabalhista sem assistência de qualquer profissional em razão do jus postulandi estabelecido 
pelo art. 791 da CLT e confirmado pela súmula 425 do TST, podendo neste caso, se 
preenchidos os requisitos, ser-lhe deferida uma das facetas da assistência jurídica gratuita: a 
gratuidade judiciária. 
Também é adotado o jus postulandi nos Juizados Especiais Cíveis. A lei n. 9099/95, 
responsável por instituir os juizados mencionados, é um importante instrumento para o acesso 
à justiça, visto que se preocupou tanto com a rapidez do processo, adotando o procedimento 
 
26
 “Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário: 
I – de que for parte; 
II – em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério 
Público, ou prestou depoimento como testemunha; 
IV – quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, 
consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;” 
“Art. 135. Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando: 
I – amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes; 
II – alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na 
colateral até o terceiro grau; 
III – herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;”. 
27
 CAMPO, op. cit., p. 86 e 87. 
28
 ASSIS, op. cit., p. 192. 
17 
 
 
sumaríssimo, como com o seu custo, isentando o litigante - necessitado ou não- do pagamento 
de qualquer despesa processual e facultando a representação por advogado nas causas cujo 
valor seja de até vinte salários mínimos. No entanto, não é pelo fato de a atuação do advogado 
ser dispensável que há qualquer incompatibilidade da lei com o instituto da assistência 
jurídica gratuita nem com as disposições da lei n. 1060/50. Assim, o litigante que atender aos 
requisitos estabelecidos pela Defensoria Pública poderá contar com a assistência de defensor 
público para apresentação do pedido nos termos do art. 14 da lei n. 9099/95; apresentação da 
defesa; auxílio em audiência quando a parte contrária comparecer acompanhada de advogado, 
trouxer contestação assinada por advogado, for pessoa jurídica ou firma individual; quando o 
magistrado alertar as partes da conveniência da representação por advogado ou quando a 
causa o recomendar (art. 9º, §2º). O defensor público não precisa de procuração para exercer 
estas funções, conta com a vantagem de ter seus prazos contados em dobro e deve ser citado e 
intimado por meio de correspondência com aviso de recebimento em mão própria, na forma 
dos arts. 18 e 19 da lei em questão. Com relação aos recursos, diferentemente do litigante 
comum, que depende do pagamento das custas judiciais referentes à primeira instância e ao 
próprio recurso para que sua pretensão seja conhecida, aquele que estiver assistido por 
defensor público fica isento de qualquer despesa, com exceção de possível multa por 
litigância de má-fé. É possível, ainda, que o pedido de assistência seja feito em sede de 
recurso. 
1.2 Benesses da Assistência Jurídica Gratuita 
Feitas algumas considerações acerca das disposições gerais, passa-se a um breve 
comentário acerca do alcance objetivo da assistência jurídica gratuita, explicando os efeitos da 
sua concessão sobre os gastos com o processo. Antes, porém, cabe informar que as benesses 
tratadas adiante são todas personalíssimas e somente se extinguem com a revogação da 
assistência jurídica ou com a morte do beneficiário (o que não impede novo requerimento do 
benefício dentro do mesmo processo no caso de os sucessores do litigante se encontraremem 
situação de hipossuficiência). Embora, em regra, a concessão abranja todos os atos 
processuais, inclusive os que se referem a ações incidentais
29
, é possível o deferimento parcial 
do benefício, devendo o juiz arbitrar a porcentagem do valor das despesas a ser paga pelo 
litigante necessitado. 
 
29
 Cf. DEMO, Roberto Luis Luchi. Assistência Judiciária Gratuita. Revista Jurídica Virtual/ Presidência da 
República, Brasília, v. 3, n. 31, dez 2001. Disponível em: 
<https://revistajuridica.presidencia.gov.br/index.php/saj/article/view/896/882>. Acesso em: 11. mar. 2016. 
18 
 
 
1.2.1 Taxa Judiciária 
Taxa judiciária é “uma contribuição calculada sobre o valor da demanda que deve ser 
paga, à Fazenda Pública, logo na propositura da ação ou no encerramento do feito”30. 
Conforme o art. 98, §1º, I do novo CPC, é compreendida pela gratuidade judiciária. 
1.2.2 Emolumentos 
Segundo Donaldo J. Felippe, emolumento é a “remuneração especial por ato praticado 
no exercício de ofício ou função pública, ou judicial”31. Compreende dois tipos de gastos: as 
custas e as despesas processuais. 
O art. 98 do novo CPC prevê a gratuidade de ambos. Todavia, da leitura dos incisos 
deste mesmo artigo, é possível notar que o legislador se confundiu com relação ao significado 
de custas, tratando-as como sinônimo de taxa judiciária no inciso I. Hélio Márcio Campo 
conceitua custas como “as remunerações pagas aos serventuários da Justiça e aos Cofres 
Públicos, pela prática de ato processual, conforme dispuser a tabela constante no respectivo 
regimento”32. Fica claro, portanto, que, apesar de ambas possuírem natureza tributária, 
referem-se a objetos diferentes, sendo a taxa calculada sobre a demanda inteira e as custas 
sobre cada ato processual. Assim, apenas o inciso VIII, que garante a gratuidade para “os 
depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para propositura de ação e para a 
prática de outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório”, 
refere-se verdadeiramente às custas. 
Já as despesas processuais são todos os gastos decorrentes da prática de ato processual 
não compreendidos pelas custas. Estas despesas podem ser judiciais ou extrajudiciais. As 
primeiras são elencadas pelo novo CPC no art. 98, incisos II a VII. O inciso II trata dos selos 
postais
33
, embora, com o avanço do processo eletrônico, a tendência seja que esta despesa caia 
no desuso. Em seguida, está prevista a gratuidade das publicações na imprensa oficial, 
estando o beneficiário, inclusive, dispensado da publicação em outros meios. O inciso IV 
versa sobre a indenização devida às testemunhas que, para Hélio Márcio Campo, não só não 
 
30
 CAMPO, op. cit., p. 79. 
31
 FELIPPE, Donaldo J. Dicionário Jurídico de Bolso. 12. ed. Campinas: Bookseller, 1997. p. 152. 
32
 CAMPO, op. cit., p. 80. 
33
 Cabe observar que a atual cobrança da despesa com selos postais não guarda relação com o antigo imposto do 
selo, revogado pelo art. 15 da lei n. 5143/66. Enquanto o selo postal se destina à comprovação do pagamento da 
prestação de um serviço postal (art. 47, lei n. 6538/78), imposto do selo se referia à tributação sobre algumas 
operações de crédito e de câmbio; seguro e capitalização; transferência de bens, créditos e direitos; arrendamento 
ou locação; empreitada; constituição de sociedades; obrigações diversas e serviços públicos. 
19 
 
 
se trata de despesa processual, como consiste em uma disposição superada, visto que o 
depoimento testemunhal é considerado serviço público e, portanto, não pode acarretar 
prejuízo de ordem trabalhista para quem o presta
34
. Também há previsão de gratuidade para 
os exames de DNA e outros exames considerados essenciais
35
. No inciso VI são mencionados 
os honorários advocatícios e periciais e as remunerações de intérprete e de tradutor, que serão 
abordados de forma mais completa em tópico posterior. Por fim, há o custo com a elaboração 
de memória de cálculo, dispositivo este que consiste na maior inovação com relação à lei n. 
1060/50. 
Apesar de não haver previsão legal, diversos tribunais, em especial tribunais 
superiores, incluem a dispensa do pagamento da taxa de porte de remessa e retorno entre os 
direitos do beneficiário da assistência jurídica gratuita
36
. 
Ainda em se tratando de despesas judiciais, interessa mencionar as multas. No novo 
CPC esta figura é a exceção à gratuidade das despesas processuais, pois devem ser pagas ao 
final do processo independentemente do deferimento do benefício, conforme dispõe o art. 98, 
§4º. Tal medida visa desencorajar a propositura de lides temerárias, algo que fica claro com a 
reprovação da litigância de má-fé expressa no parágrafo único art. 100. 
As despesas extrajudiciais se referem aos gastos em cartório e registros públicos 
efetuados na forma do art. 98, §1º, IX. Mesmo que estas despesas são se deem no âmbito 
judicial, são englobadas pela assistência jurídica gratuita por serem essenciais para o 
andamento do processo. 
1.2.3 Honorários 
Embora previstos no mesmo inciso, o honorários advocatícios são disciplinados de 
forma diversa dos honorários devidos a peritos, intérpretes e tradutores. 
Honorário advocatício é um pagamento que a parte sucumbente deve ao advogado da 
parte contrária. Distingue-se das demais despesas devido a sua natureza alimentar. Não se 
confunde com a remuneração paga pelo litigante ao seu próprio advogado, pois esta é 
estabelecida em contrato em momento prévio à ajuização da demanda. Os honorários 
 
34
 CAMPO, op. cit., p. 81 e 82. 
35
 Nas ações que tramitam em âmbito federal, a Resolução n. 305/2014 do Conselho da Justiça Federal (CJF) 
prevê o encaminhamento do litigante para o Sistema Único de Saúde (SUS) para a realização de exames 
laboratoriais ou radiológicos (art.5º, parágrafo único). 
36
 Neste sentido: Resp 245.663/MG, Resp 429.216/RS, Resp 445.904/PI, AG 351.360-STF. 
20 
 
 
advocatícios são arbitrados pelo juiz segundo os parâmetros estabelecidos pelo art. 85, §§2º e 
3º do novo CPC. Mesmo quando deferida a justiça gratuita, não está isento o litigante 
hipossuficiente do pagamento desta verba, há apenas sua inexigibilidade, a qual cessa com 
eventual melhora na situação econômica do sucumbente. 
Os honorários periciais e a remuneração do intérprete e do tradutor são disciplinados 
com maiores detalhes em portarias expedidas pelos tribunais. Diferentemente dos honorários 
advocatícios, estas remunerações possuem um teto definido por cada tribunal, cuja fixação 
independe do valor da causa. O recebimento dos honorários se dá por meio de precatório ou, 
conforme o caso, requisição de pequeno valor. Só há pagamento de honorários advocatícios 
desta maneira quando se tratar de advogado dativo. 
1.2.4 Caução 
A questão da caução na assistência jurídica gratuita é controversa. Hélio Márcio 
Campo argumenta a seu favor, afirmando que a ausência da necessidade de prestação de 
garantia seria um estímulo a atos temerários e conduta de má-fé
37
. Em contrapartida, muitos 
autores veem na imposição da caução uma forma de dificultar o acesso à justiça
38
. Embora a 
legislação tenha sido omissa nesse ponto, a segunda corrente se mostra mais próxima do que 
preceitua a CF. Aliás, a própria omissão se revela desfavorável à primeira tese, pois, caso o 
legislador tivesse a intenção de estabelecer a obrigatoriedade da caução, teria feito 
expressamente. 
No judiciário persiste a controvérsia. O único ponto em que as decisões judiciais 
entram em consenso é com relação à inexigibilidade de cauçãodos brasileiros e estrangeiros 
residentes no exterior quando existir tratado neste sentido
39
; todavia, nestes casos não há a 
necessidade de se tratar de litigante hipossuficiente. 
1.2.5 Ônus de Sucumbência 
Restando vencedor na demanda o hipossuficiente, é imposto à parte contrária o ônus 
da sucumbência, passando-se à fase do cumprimento de sentença. Caso seja vencido, também 
há a condenação, mas sua exigibilidade fica suspensa enquanto persistir a hipossuficiência do 
 
37
 CAMPO, op. cit., p. 90. 
38
 Cf. ASSIS, op. cit., p. 167 e DEMO, Roberto Luis Luchi, op. cit. 
39
 Neste sentido: AI 1.093.446-6/PR, AI 28.582-83/RJ, AI 70.047.903.018/RS 
21 
 
 
sucumbente. Além do critério material, a exigibilidade do ônus da sucumbência se encerra 
com o prazo prescricional de cinco anos, conforme prevê o art. 98, §3º do novo CPC. 
As redações do CPC de 1973 e do art. 3º da lei n. 1060/50, ambas revogadas pelo novo 
CPC, eram dúbias no tocante aos efeitos das benesses da assistência jurídica gratuita quanto 
às despesas processuais, podendo-se discutir se as regras dos dispositivos significavam a 
isenção das despesas ou apenas a desnecessidade de adiantá-las. Hélio Márcio Campo aponta 
a si mesmo, além de Francesco Carnelutti, João Bonumá, Moacyr Amaral Santos e Pontes de 
Miranda como defensores da segunda hipótese
40
, embora na prática seja pouco provável que a 
parte reverta sua situação econômica em tão pouco tempo. O novo CPC, por sua vez, dirimiu 
a dúvida e ratificou o entendimento destes autores no seu art. 98, §§2º e 3º, prevendo a 
responsabilidade do beneficiário tanto pelas despesas processuais quanto pelos honorários 
advocatícios decorrentes de sua sucumbência, ficando estes créditos sob condição suspensiva 
de exigibilidade. Outra questão, levantada pela Escola Superior de Advocacia da OAB/RS, 
refere-se à dificuldade que a parte vencedora tem em acompanhar a situação econômica do 
sucumbente, entendendo “recomendável outorgar-se ao interessado os meios legais para 
averiguar a situação patrimonial daquele”41. 
1.3 Requisitos 
A legislação brasileira estabelece como principal requisito para a concessão da 
assistência jurídica gratuita a comprovação da condição de necessitado, conforme o art. 5º, 
LXXIV da CF. Ressalte-se que esta etapa ocorre em momento prévio à demanda judicial, 
situando-se em âmbito administrativo, pois a análise das provas apresentadas cabe à 
Defensoria Pública. A Deliberação do Conselho Superior da Defensoria Pública (CSDP) nº 
89, em seu art. 2º, traz os parâmetros adotados pelo órgão para a aferição da hipossuficiência, 
os quais consistem no auferimento de renda mensal não superior a três salários mínimos 
federais por parte da entidade familiar do postulante, exceto quando verificados fatores que 
evidenciem exclusão social (entidade familiar composta: por mais de cinco membros; por 
pessoa com deficiência ou transtorno global do desenvolvimento; por pessoa idosa ou egressa 
do sistema prisional, desde que a entidade seja constituída por quatro ou mais membros; bem 
como gastos mensais com tratamento médico por doença grave ou aquisição de 
medicamentos, conforme o §4º deste mesmo artigo), casos em que o limite é de quatro 
 
40
 CAMPO, op. cit., p. 78. 
41
 ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Novo Código de Processo Civil Anotado. Porto Alegre: OAB 
RS, 2015, p. 125. 
22 
 
 
salários mínimos federais; não ser proprietário, titular de aquisição, herdeiro, legatário ou 
usufrutuário de bens ou direitos cujo valor ultrapasse cinco mil Unidades Fiscais do Estado de 
São Paulo (UFESPs); nem possuir aplicações ou investimentos financeiros de valor superior a 
doze salários mínimos federais. 
A Defensoria Pública também presta assistência jurídica gratuita às entidades civis 
sem fins lucrativos cujo objeto social seja a tutela do interesse dos necessitados, desde que 
estas não tenham como custear a contratação de advogados. Enquanto a finalidade da entidade 
é comprovada através do contrato social, a carência é presumida quando cumpridas as 
condições do art. 3º da Deliberação CSDP nº 89, as quais são: a não remuneração de 
empregado, prestador de serviços autônomo, sócio ou administrador com valor bruto mensal 
superior a três salários mínimos federais; não ser proprietária, titular de aquisição, herdeira, 
legatária ou usufrutuária de bens ou direitos cujo valor ultrapasse cinco mil UFESPs; e não 
possuir aplicações ou investimentos financeiros de valor superior a doze salários mínimos 
federais. 
Em ambas as hipóteses, a Defensoria Pública exige a assinatura da declaração de 
necessitado e o preenchimento da avaliação da situação econômico-financeira do pleiteante, 
além da carteira de trabalho, comprovante de rendimentos ou declaração do empregador ou 
tomador de serviços em caso de pessoa física, e balanço patrimonial e demonstração de 
resultados em caso de entidade civil, na forma do art. 6º da CSDP nº 89. Entretanto, se não for 
possível a exibição destes documentos, bastam as informações alegadas na avaliação da 
situação econômico-financeira, as quais devem ser presumidas verdadeiras segundo o §4º 
deste mesmo artigo. 
Concedida a assistência jurídica, não há a necessidade de ser comprovada a 
hipossuficiência em juízo, bastando que esta seja alegada na petição inicial, como dispunha o 
art. 4º da lei n. 1060/50 e está previsto atualmente no art. 99, §3º do novo CPC. 
É importante ressaltar que a prova da necessidade exigida constitucionalmente só se 
aplica aos casos em que se busca representação em juízo e/ou consultoria jurídica. Quando a 
parte requer somente a gratuidade, sem procurar o auxílio da Defensoria Pública, a mera 
alegação de que não possui recursos para arcar com as custas, despesas processuais e 
honorários advocatícios sem prejuízo próprio e de sua família é suficiente (art. 98, novo CPC 
e art. 4º, lei n. 1060/50). Note-se que para a concessão da gratuidade não é requerida situação 
tão grave quanto aquela exigida pela Defensoria Pública dos que aspiram à assistência jurídica 
23 
 
 
gratuita, sendo permitido, inclusive, que a parte seja assistida por advogado particular. Hélio 
Márcio Campo afirma que a comprovação de carência não deve estar endereçada ao processo, 
mas sim à Defensoria Pública, pelo fato de que é esta que possui verdadeiro interesse nestas 
informações, uma vez que é a encarregada da postulação do pedido de gratuidade judiciária 
aos necessitados
42
. Araken de Assis, por sua vez, apresenta uma leitura ainda mais literal da 
CF, entendendo que: 
A par de outros elementos dignos de registro, inexiste dúvida maior de que a 
distinção entre o benefício da justiça gratuita e o da assistência jurídica, 
contemplada no art. 5º, LXXIV, da Constituição, se baseará na 
desnecessidade de qualquer prova para fazer jus àquele. O texto 
constitucional apresenta sentido unívoco: o Estado prestará assistência 
jurídica somente àqueles que comprovarem a necessidade deste serviço.
43
 
Todavia, cabe registrar que a presunção de veracidade da alegação de pobreza é 
relativa, sendo que o magistrado pode indeferir o pedido se houver evidências nos autos de 
que não foram preenchidos todos os pressupostos para a concessão da gratuidade, desde que, 
conforme dispõe o art. 99, §2º do novo CPC, tenha dado à parte a oportunidade de comprovar 
seu preenchimento
44
. 
Também vale pontuar que a desnecessidade de prova se aplica somente às pessoas 
físicas
45
. Com relação às pessoas jurídicas, a súmula 481 do STJ estabelece que, com ou sem 
fins lucrativos, a concessão da gratuidade depende da demonstração deimpossibilidade de 
 
42
 CAMPO, op. cit., p. 67. 
43
 ASSIS, op. cit., p. 176. 
44
 Mesmo antes do novo CPC prever expressamente a relatividade da presunção da declaração de insuficiência 
de recursos, a jurisprudência já apontava para este caminho. Neste sentido: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. 
NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. GRATUIDADE JUDICIÁRIA. A 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL REFORÇOU E NÃO REVOGOU A PRESUNÇÃO DE POBREZA DA LEI DA 
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. PRESUNÇÃO, CONTUDO, DE NATUREZA RELATIVA. 
INDEFERIMENTO. MANUTENÇÃO DA DECISÃO. O Supremo Tribunal Federal tem decidido que a regra 
do art. 5º, LXXIV da CRFB - assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de 
recursos - não revogou, antes reforçou, a norma da LAJ de que, para o convencimento do juízo, pode bastar a 
declaração pelo próprio interessado, de que a sua situação econômica não permite vir a juízo sem prejuízo da sua 
manutenção ou de sua família, presunção legal, contudo, que ostenta caráter relativo, e não absoluto, em razão 
do que não se afasta a possibilidade de o Magistrado, quando considerar necessário, determinar à parte que 
demonstre que efetivamente necessita do benefício. Caso dos autos em que a determinação de juntada de 
comprovante de pagamento de imposto de renda não restou atendido, inexistindo demonstração da necessidade 
do beneplácito perseguido ao juízo de origem. Manutenção da decisão de indeferimento do benefício que se 
impõe, a qual pode - e deve - ser revista a qualquer tempo, alteradas as premissas fáticas que ora impedem a sua 
não concessão, uma vez demonstrada, pela parte autora, a sua alegada necessidade. AGRAVO DE 
INSTRUMENTO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. (Agravo de Instrumento Nº 70066188863, Vigésima 
Terceira Câmara... Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Paula Dalbosco, Julgado em 25/08/2015) (TJ-
RS - AI: 70066188863 RS, Relator: Ana Paula Dalbosco, Data de Julgamento: 25/08/2015, Vigésima Terceira 
Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 27/08/2015)”. 
45
 Cf. RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado: teoria e prática. 17. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2015. p. 365. 
24 
 
 
arcar com os encargos processuais. Entretanto, há julgados que contrariam esta disposição no 
que tange às pessoas jurídicas sem fins lucrativos, sob o argumento de que, em razão de seu 
caráter filantrópico, presume-se que não têm condições arcar com as custas do processo
46
. 
Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que visa instituir 
novos requisitos para a concessão da gratuidade judiciária. O PL 717/2011, de autoria do 
deputado Vicente Cândido, entende como necessária a revogação da lei n. 1060/50, 
objetivando critérios mais rigorosos para a obtenção das isenções compreendidas pelo 
instituto da gratuidade e restringindo-as às pessoas físicas, pessoas jurídicas sem fins 
lucrativos e microempresas. Caso o projeto se torne lei, a pessoa física pleiteante deverá 
comprovar possuir no mínimo dois dos seguintes requisitos: ter renda familiar de até dois 
salários mínimos, pertencer a programa de assistência social governamental ou ser isento da 
apresentação da declaração de ajuste anual do imposto de renda (art. 5º, §2º). Também será 
estendida a isenção aos assistidos pela Defensoria Pública. Notadamente contrário à 
jurisprudência majoritária, o projeto busca reduzir a abrangência da gratuidade judiciária, 
dificultando o acesso à justiça em favor de uma maior arrecadação de receita por parte do 
Judiciário. Outro ponto do documento que merece destaque é a proposta do parcelamento das 
custas, que ameniza as restrições impostas pelas disposições anteriores, mas não é suficiente 
para compensar o retrocesso que estas representam. 
Diferentemente do Brasil, juntamente à necessidade de prova da hipossuficiência, 
algumas legislações estrangeiras adotam o critério da perspectiva de êxito da demanda. Um 
exemplo é o § 114 do Título 7 do ZPO, o Código de Processo Civil alemão, que atrela a 
concessão da assistência jurídica gratuita à prova de que a causa possui perspectiva razoável 
de sucesso e que não constitui lide temerária, além de que a parte é submetida a uma 
avaliação, que pode incluir peritos e a oitiva de testemunhas e do próprio pleiteante se o juiz 
entender necessário, para a constatação da veracidade da situação alegada, sendo deferido o 
benefício somente depois de ouvida a parte contrária (§ 118). Apesar de este critério possuir 
seus defensores no país, os quais o consideram necessário em razão dos altos custos 
processo
47
, jamais poderia ser adotado pela legislação pátria, visto que restringiria o direito de 
ação e representaria uma afronta aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla 
defesa. 
 
46
 Neste sentido: AI 70054740832/RS; AI 70041287202/RS 
47
 ASSIS, op. cit., p. 163. 
25 
 
 
Ao estrangeiro residente no exterior são acrescentados ainda mais requisitos conforme 
dispuser o tratado de cooperação jurídica internacional que este utilizar para requerer o 
benefício no Brasil. Já com relação ao brasileiro residente no país que pretende litigar no 
exterior, não se aplicam os requisitos aqui apresentados, mas sim os que estiverem elencados 
no tratado de cooperação e os requisitos que a própria Justiça do país estrangeiro estabelecer. 
O capítulo a seguir analisará estas situações e os referidos tratados de cooperação jurídica 
internacional com mais detalhes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
CAPÍTULO 2 DA COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL 
2.1 Relevância do Estudo da Cooperação Jurídica Internacional 
Como já mencionado anteriormente, o Estado tomou para si a responsabilidade de 
prestar a tutela jurisdicional aos cidadãos. Esta atividade é limitada internamente pelo próprio 
Estado de várias maneiras, seja através de princípios, como a inércia, que vincula sua atuação 
à provocação por uma das partes, ou através da separação dos poderes, instituída pelo art. 2º 
da CF, segundo a qual Judiciário, Executivo e Legislativo não podem interferir nas funções 
uns dos outros, trabalhando de forma harmônica e independente entre si. Há algumas 
situações, no entanto, em que estes limites podem ser relativizados. Um exemplo é a 
possibilidade de revisão judicial dos atos dos demais poderes, uma forma de controle de 
constitucionalidade repressivo
48
. Neste caso, a invasão da competência dos poderes se 
justifica pela própria configuração da República Federativa do Brasil, que, como definido no 
preâmbulo constitucional, é um Estado democrático, destinado a assegurar um extenso rol de 
direitos, sendo a revisão judicial uma forma de garantir este constitucionalismo democrático
49
. 
Do mesmo modo, as limitações externas, concernentes à abrangência da jurisdição, 
devem ser relativizadas. Isto porque, como afirma Caio Gonzalez de Babo, a jurisdição é 
emanação da soberania estatal
50
, soberania esta que é una, significando que: 
internamente, caracteriza-se por esse por esse poder único e supremo sobre os 
indivíduos que habitam seu território; externamente, caracteriza-se pela ausência de 
subordinação e dependência entre os Estados, colocando-os numa posição de 
igualdade.
51
 
Assim, teoricamente, o único limite ao alcance da jurisdição seria o seu caráter 
territorial. Todavia, em um mundo globalizado, marcado pela movimentação de pessoas e 
bens entre diferentes países, é frequente que o sucesso da prestação jurisdicional dependa da 
prática de atos em outro Estado. Por esta razão, tornou-se necessária a criação de um48
 Cf. AGUIRRE, Lissandra Espinosa de Mello; KOZICKI, Katya. O Amparo da Revisão Judicial na 
Constituição Brasileira. In: XXII Encontro Nacional do CONPEDI, 22., 2013, Curitiba. Teoria do Estado e da 
Constituição (recurso eletrônico online). Florianópolis: FUNJAB, 2013, p. 514-529. p. 516, segundo as quais 
as formas de controle de constitucionalidade podem ser preventivas, como o veto presidencial e a atuação das 
Comissões de Constituição e Justiça e Cidadania do Congresso Nacional, realizados, respectivamente, pelos 
poderes Executivo e Legislativo; ou repressivas, realizadas pelo poder Judiciário. 
49
 TASSINARI, Clarissa. Jurisdição e Ativismo Judicial: limites da atuação do Judiciário. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado Editora, 2013. p. 26. 
50
 BABO, Caio Gonzalez de. As Cartas Rogatórias como Meio de Efetividade da Cooperação Jurídica 
Internacional. 2010. 75f. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em Direito)- Faculdade de Ciências 
Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2010. p. 11. 
51
 Ibidem, p. 12. 
27 
 
 
mecanismo que permitisse a prática destes atos de maneira a ofender o mínimo possível a 
soberania dos países. 
Neste contexto, a discussão acerca de dois institutos ganhou extrema importância: a 
jurisdição internacional e a competência internacional. Para Beat Walter Rechsteiner 
o Estado não é totalmente livre na sua decisão de exercer jurisdição no seu território. 
A lide em relação à qual reivindica jurisdição tem de ter pelo menos uma certa 
analogia com ele, embora os limites da extensão de jurisdição estatal, prescritos no 
direito internacional público, não sejam ainda claramente delineados pela doutrina 
internacional. 
52
 
Com esta conceituação da jurisdição internacional, são estabelecidos novos limites ao 
alcance da jurisdição. Além dos limites gerais, relacionados ao território, há os específicos, 
ditados pelo Direito Internacional Público, exemplificados pelo autor com a imunidade de 
jurisdição
53
. Já a competência internacional 
tem o seu fundamento no direito interno. Por consequência disso, determina apenas 
em que medida um Estado pretenda exercer o seu poder de jurisdição em 
consonância com o direito internacional público no seu território quando existe uma 
conexão internacional de uma lide submetida ao julgamento de um juízo nacional. 
54
 
Esta não se confunde com a competência interna, que consiste em uma delimitação da 
prestação jurisdicional conforme critérios de matéria, foro, valor, função ou território, 
instituída pela lei processual
55
. Isto não quer dizer, porém, que a competência internacional 
não possui suas próprias classificações. Assim, pode ser direta, quando se tratar de processo 
instaurado no país, ou indireta, quando a causa já tiver sido apreciada anteriormente por juízo 
estrangeiro (geralmente, trata-se de homologação de sentença estrangeira); 
concorrente/relativa/alternativa/cumulativa, quando mais de um Estado for competente para 
apreciação da demanda, ou exclusiva/absoluta, quando apenas um Estado for competente; 
com relação ao foro, pode ser geral, estabelecido por cada Estado, sendo que no Brasil é o 
domicílio do réu, conforme dispõe o art. 46 do novo CPC, ou especial, quando houver 
disposição legal neste sentido ou quando for admitida eleição de foro
56
. 
 
52
 RECHSTEINER, op. cit., p. 271. 
53
 Ibidem. 
54
 Ibidem. 
55
 O novo CPC dispõe sobre competência interna nos arts. 42 a 69. 
56
 Cf. RECHSTEINER, op. cit, p. 277-278, segundo o qual, além destas classificações, há que se falar em foros 
exorbitantes “quando é suficiente, para fixar a competência internacional, uma conexão mínima dos fatos com a 
lex fori”, e em perpetuatio fori, quando “uma vez determinada a competência, as modificações do estado de fato 
ou de direito ocorridas posteriormente são irrelevantes”. 
28 
 
 
Também não se confunde com a competência legislativa, visto que atua no plano 
jurisdicional, embora ambas advenham do Direito interno e sejam formas de expressão da 
soberania do Estado. 
Sinteticamente, nas palavras de Jacob Dolinger, a questão do conflito de jurisdições 
“gira em torno da competência do Judiciário na solução de situações que envolvem pessoas, 
coisas ou interesses que extravasam os limites de uma soberania”57. Estas situações surgem 
quando nem todos os elementos de um caso levado à apreciação judicial estão ligados 
diretamente ao Estado julgador, verificando-se elemento de estraneidade e, portanto, uma 
relação jurídica com conexão internacional
58
. Os Estados encontraram duas soluções para 
estes conflitos: a uniformização das normas de competência internacional e a criação de 
acordos de cooperação jurídica internacional. 
As normas de competência internacional, em regra, emanam de leis processuais 
internas. No Brasil, a questão está disciplinada, principalmente, no novo CPC e na Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), a lei n. 4657/42
59
. Entretanto, há uma 
crescente busca da sociedade internacional
60
 pela uniformização do Direito Processual 
Internacional, o qual engloba a questão da competência internacional. Esta uniformização é 
promovida por organizações internacionais e pode ter como alvo um grupo específico de 
países, como ocorre com o MERCOSUL, a União Europeia e a OEA (por meio das CIDIP), 
ou pode visar o maior número possível de países, como ocorre com a Conferência de Haia de 
Direito Internacional Privado, a UNCITRAL e a UNIDROIT. 
Segundo Jacob Dolinger, a uniformização do Direito pode se dar de quatro formas
61
: 
por meio do Direito Uniforme (ou uniformizado)
62
, consistente em normas internas que, 
espontânea ou intencionalmente, recebem o mesmo tratamento por sistemas jurídicos 
 
57
 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: parte geral. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 20. 
58
 BABO, op. cit., p. 16. 
59
 O novo CPC dispõe sobre a questão nos arts. 21 a 25. No antigo CPC, a questão estava disciplinada no livro 
IV, capítulo II, intitulado “Da Competência Internacional”, que compreendia os arts. 88 a 90. Já a LINDB trata 
do assunto no art. 12. Outros diplomas também dispõem sobre a competência, só que de modo mais específico, 
como, por exemplo, a CLT, que traz no seu art. 651 sua delimitação no âmbito do Direito do Trabalho. 
60
 Cf. BEVILAQUA, Clovis. Princípios Elementares de Direito Internacional Privado. Campinas: RED 
Livros, 2002, p. 56, para quem a sociedade internacional “não é formada por um agrupamento de Estados e sim 
pela aproximação de indivíduos que se vinculam por interesses privados, sejam econômicos, familiares ou 
espirituaes”. Para o autor, esta sociedade surgiria de forma espontânea e se realizaria pela adoção de um sistema 
harmônico de soluções de conflitos entre as legislações. Vide também DOLINGER, op. cit., p. 30, segundo o 
qual a sociedade internacional é composta pelo encontro de elementos de várias sociedades nacionais. 
61
 DOLINGER, op. cit., p. 171. 
62
 O autor critica o uso pelas doutrinas da expressão Direito Uniforme para as situações em que as regras são 
uniformizadas intencionalmente, afirmando que a expressão correta seria Direito Uniformizado. Vide 
DOLINGER, op. cit., p. 164. 
29 
 
 
diferentes; do Direito Internacional Uniformizado, que cria leis uniformes visando 
uniformizar regras jurídicas disciplinadoras de matérias específicas; do Direito Internacional 
Privado, no qual cada país determina a lei aplicável ou a jurisdição ou tribunal competente 
para apreciação da demanda a partir de regras de conexão; ou do DireitoInternacional 
Privado Uniforme, no qual são criados tratados estabelecendo as regras de conexão a serem 
utilizadas pelos países. As normas estabelecidas pelas organizações internacionais 
mencionadas se concentram no âmbito do Direito Internacional Uniformizado e do Direito 
Internacional Privado Uniforme. Enquanto as duas primeiras formas fazem parte do sistema 
uniformizador, que visa eliminar o conflito, as demais integram o sistema harmonizador, que 
tem por objetivo resolver o conflito através da indicação da lei aplicável. Apesar de existirem 
esforços internacionais para a concretização de todas estas formas, Jacob Dolinger atenta para 
o fato de que o funcionamento do sistema uniformizador sozinho é utópico, tendo em vista as 
diferentes tradições e necessidades de cada país; portanto, defende a adoção supletiva de 
ambos os sistemas, aplicando-se regras harmonizadoras quando a operacionalização do 
sistema unificador for impossível
63
. 
A cooperação jurídica internacional, por sua vez, diz respeito a situações em que não 
há problemas com a competência internacional. Ocorre, no entanto, que, devido aos 
elementos de conexão internacional existentes na demanda, faz-se necessária a prática de 
diligência ou de ato não executório em território estrangeiro. Os acordos de cooperação 
jurídica internacional são firmados com o intuito de permitir a prática destes atos sem que seja 
desrespeitada a soberania do Estado estrangeiro, regulando a forma pela qual isto deve 
ocorrer. Outras situações que também podem ser objetos destes acordos são os pedidos de 
reconhecimento e execução de sentenças estrangeiras e os pedidos de informação acerca do 
direito estrangeiro. 
O crescimento da importância destes institutos é tamanho, que pode ser afirmado que, 
contradizendo importantes autores tradicionais como Haroldo Valladão e Pimenta Bueno
64
, 
constituem o novo foco do Direito Internacional Privado. Segundo Haroldo Valladão, o 
Direito Internacional Privado “é o ramo da ciência jurídica que resolve os conflitos de leis no 
espaço, disciplinando os fatos em conexão no espaço com leis divergentes e autônomas”65. O 
Supremo Tribunal Federal (STF) também possui julgados antigos que se posicionam neste 
 
63
 DOLINGER, op. cit., p. 166-169. 
64
 VALLADÃO, Haroldo. Direito Internacional Privado. 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1970. 
p. 41. 
65
 Ibidem, p. 38. 
30 
 
 
sentido, como se vê no voto do Ministro Costa Manso no Conflito de Jurisdição 1128/1936, 
segundo o qual: “A função do direito internacional privado é, dada a diversidade de 
legislações, apontar qual o estatuto que deva reger a espécie em exame. Depois disto, a 
missão do juiz é aplicar o direito privado, como nos casos normais”. Também neste sentido, 
podem ser apontados o Recurso Extraordinário 113/1895 e o Conflito de Jurisdição 
1118/1936. 
Nota-se que os posicionamentos tradicionais apresentados gravitam em torno do fato 
de que se trata de um Direito que lida com conflitos de leis; todavia, em decorrência, 
principalmente, da atual dinâmica de mobilidade entre países, alguns dos estudiosos mais 
recentes deste ramo jurídico têm entendido que seu objeto compreende mais do que a questão 
da lei aplicável a casos que apresentem conexão internacional. Enquanto para Haroldo 
Valladão, adepto da escola alemã, o objeto do Direito Internacional Privado abrange somente 
“os conflitos de leis no espaço, ou as relações jurídicas conectadas espacialmente com leis 
autônomas e divergentes”66, podendo estas leis serem de qualquer natureza, para a corrente 
francesa, a concepção é muito mais ampla, envolvendo, além do conflito de leis, as questões 
de nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro e o conflito de jurisdições
67
. À vertente 
francesa, Antoine Pillet adiciona um quinto objeto: os direitos adquiridos na dimensão 
internacional, os quais se referem a relações jurídicas surgidas em uma jurisdição e cujos 
efeitos repercutem em outra, a qual apresenta legislação diversa
68
. Já Jacob Dolinger 
acrescenta o reconhecimento das sentenças proferidas no exterior
69
. 
Oscar Tenório, baseando-se nas ideias do francês Etienne Adolphe Bartin, afirma que 
o objeto do Direito Internacional Privado compreende, “independentemente do estudo 
preliminar da nacionalidade e da condição civil dos estrangeiros, os conflitos de legislação e 
os conflitos de jurisdição, no espaço e no tempo”70, concentrando-se no campo das leis civis. 
Outra corrente de destaque é a anglo-saxônica, endossada por Nadia de Araujo, 
segundo a qual o entendimento do Direito Internacional Privado está ligado à resposta de três 
perguntas nucleares: em que local acionar (relacionada à competência internacional), qual a 
lei aplicável e como executar atos e decisões estrangeiras (relacionada à cooperação jurídica 
 
66
 VALLADÃO, op. cit., p. 42. 
67
 DOLINGER, op. cit., p. 19. 
68
 Ibidem, p. 20. 
69
 Ibidem. 
70
 TENÓRIO, Oscar. Direito Internacional Privado. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1976. p. 
16. 
31 
 
 
internacional)
71
. Beat Walter Rechsteiner, por sua vez, sem se filiar especificamente a 
nenhuma corrente, defende a existência de um Direito Internacional Privado stricto e lato 
sensu
72
. Stricto sensu, este ramo jurídico se refere apenas ao conflito de leis. Lato sensu, trata-
se do Direito Processual Internacional. 
Mesmo entre os autores tradicionais há quem se oponha em parte à concepção do 
conflito de leis como objeto único, como Clovis Bevilaqua, para quem os fundamentos 
lógicos e sociais deste ramo do Direito são a diversidade de leis e o comércio internacional. 
Quanto a este último, afirma que é função do Direito Internacional Privado a criação de 
normas especiais que regulem o comércio entre os países, formuladas de comum acordo entre 
as nações
73
. Assim, à dimensão da resolução dos conflitos de leis, é adicionada a 
uniformização desta área do Direito. Entretanto, apesar da visão avançada para a época, ao 
discorrer sobre o objeto do Direito Internacional Privado o autor se mostrou pouco inovador, 
afirmando, com base na teoria de Antoine Pillet, que consistia na condição jurídica dos 
estrangeiros, no conflito de leis e no exercício em um país de direitos legitimamente 
adquiridos em outro
74
. 
Várias são as razões que motivam a mudança do foco do Direito Internacional 
Privado. Caio Gonzalez de Babo, baseando-se nas ideias de Diego P. Fernández Arroyo, 
afirma que isto ocorre pelo fato de que a questão da lei aplicável deixou de ser a maior 
preocupação, uma vez que a escolha dos elementos de conexão relacionados ao assunto 
apresenta certa uniformização, além de que já há grande número de tratados resolvendo os 
conflitos através de normas materiais, dispensando o uso das normas indiretas deste ramo do 
Direito
75
. Com a quantidade de demandas relacionadas à competência e à cooperação jurídica 
internacional, é natural que este ramo jurídico tenha voltado sua atenção para esta direção. 
Também deve ser observado que estes institutos estão ligados ao acesso à justiça, um direito 
fundamental de extrema relevância tanto para o Direito interno como para o internacional. 
Ademais, é visível o esforço da sociedade internacional para a uniformização do Direito 
Internacional Privado, sendo que Nadia de Araujo atenta especialmente para a importância 
que tem sido atribuída à cooperação jurídica internacional
76
. 
 
71
 ARAUJO, op. cit., p. 36. 
72
 RECHSTEINER, op. cit., p. 29. 
73
 BEVILAQUA, op. cit., p. 10. 
74

Outros materiais